se ficou c h a m a n d o o «fontismo», m a r c a o limite m á x i m o a t é o n d e p o u d e ir a classe q u e fez a revolução de 1820-1834. T o d o o período c o m p r e e n d i d o entre 1851 e 1891 c o r r e s p o n d e ao ascenso económico e político dos h o m e n s que h a v i a m triunfado definitivamente em Almoster e Aceisseira, e q u e c r i a m a r d e n t e m e n t e no p r o g r e s s o material e m o r a l da nacionalidade, p o r q u e julgavam inexgotável a cornucópia d o lucrativismo. M a s a p a r t i r de 1891 essa confiança n o futuro começa a d e s v a n e c e r - s e ; as p r i m e i r a s n u v e n s p r e c u r s o r a s da t e m p e s t a d e final told a m o h o r i z o n t e ; a crise económica instala-se no país c o m o em casa s u a , e c o m o ela e após ela, muitas ilusões se d e s v a n e c e m e p e r d e m . O Realismo nascido com a célebre q u e s t ã o de C o i m b r a em i 8 6 5 c o r r e s p o n d e , pelo n a s c i m e n t o , ao p e r í o d o mais p r ó s p e r o da nova classe t r i u n f a n t e , e pela m a t u r a ç ã o , a o período em q u e as p r i m e i r a s dissonâncias s u r g e m , de q u e é u m eco b e m significativo certa forma de literatura realista, (certo a s p e c t o «demolidor»), e t a m b é m , c o m o v e r e m o s , a sua historiografia. C o m o realismo a historiografia toma u m a nova forma, e m b o r a m a n t e n h a m u i t a s d a s características d o p e r í o d o romântico-lib e r a l , pois e n q u a n t o esta é p r o f u n d a m e n t e confiante no futuro, aquela d e s c r ê n a s possibilidades que esse futuro p o s s a oferecer aos detentores d o p o d e r , e por isso m e s m o apelidada c o m o demolidora. Se o romant i s m o foi o liberalismo na a r t e , o realismo foi c e r t a m e n t e a d e m o c r a c i a : assim como o liberalismo está e n t r e n ó s e s t r e i t a m e n t e ligado ao R o m a n t i s m o , assim o realismo nos a p a r e c e ligado a u m a c o n c e p ç ã o d e m o crática da vida nacional. M a s n ã o é essa c o n c e p ç ã o p u r a m e n t e d e m o c r á t i c a a nota d o m i n a n t e ; há u m a crítica fustigante, imp i e d o s a , q u e p r o c u r a n o v a s formas de vida social, e p r o f u n d a m e n t e aborrece o m u n d o em q u e vive. « Vimos d o n d e vós estais, v a m o s p a r a o n d e vós n ã o estiverdes» dizia aos b o n s b u r g u e s e s e pacíficos leitores d a s F a r p a s E ç a de Q u e i r o z , e nesta e x c l a m a ç ã o se definia a posição t o m a d a por muitos dos valores mais r e p r e s e n t a t i v o s desta é p o c a , q u e com as célebres conferências do C a s i n o em 1871, alvoroçaram a opinião pública e i n q u i e t a r a m os g o v e r n a n t e s . Não é por acaso q u e os três maiores e x p o e n t e s d o realismo são três g r a n d e s d e m o c r a t a s e três g r a n d e s críticos da vida n a c i o n a l : A n t e r o , E ç a e Oliveira M a r t i n s estão e s t r e i t a m e n t e ligados á política d o seu t e m p o , s o b r e t u d o A n t e r o e Oliveira M a r t i n s , pois foram q u e m , com G n e c o , F o n t a n a e o u t r o s , f u n d a r a m em P o r t u g a l o p a r t i d o socialista. N o realismo é s e m d ú v i d a Oliveira M a r t i n s o mais alto r e p r e s e n t a n t e da historiografia, n ã o p o r q u e fosse u m investigador c o m o H e r c u l a n o , q u e teve de c a r r e a r todos o s m a t e r i a i s p a r a a sua o b r a , m a s sim pela i n t e r p r e t a ç ã o q u e d á á evolução histórica da nacionalidade, pela i n t e n s i d a d e d r a m á t i c a que i m p r i m e ás s u a s p r ó p r i a s concepções, p r o c u r a n d o em c a d a q u a d r o , em c a d a figura representativa d u m a época, sacar pela crítica ou pelo exemplo u m a lição p a r a os h o m e n s d o seu t e m p o . C o m o logo lhe fez n o t a r A n t e r o n u m a carta, a H i s t ó r i a de P o r t u g a l n ã o foi c o m p r e e n d i d a , m a s s o m e n t e a d m i r a d a como o b r a de arte. M a s é s o b r e t u d o no P o r t u g a l C o n t e m p o r â n e o que esta i m e o m p r e e n s ã o se t o r n a mais evidente, p o r aí ser m a i s impiedosa a crítica e se d e r r u b a r e m iconoclásticamente velhos ídolos p o r todos mais ou m e n o s ven e r a d o s . A i n d a hoje esta posição t o m a d a p o r M a r t i n s , a muitos parece incompreensível, e nela n a d a mais q u e r e m ver d o q u e u m a furiosa v o n t a d e de criticar, u m hipercriticismo, como lhe c h a m a r a m , se n ã o estam o s em e r r o , o s s r s . Fidelino de Figueiredo e António Sérgio, quando a verdade é que Oliveira M a r t i n s c o m o H e r c u l a n o , sintetizou n a s páginas admiráveis da sua H i s t ó r i a t o d o o seu p e n s a m e n t o de político e de filósofo. A n t e r o dizia-lhe a propósito da História : « Aproveitará a alguém a l e i t u r a ? » E ' duvidoso p o r q u e o seu p o n t o de vista crítico pode dizer-se por ora inacessível. « E ' aqui que os nossos críticos h o d i e r n o s t r o p e ç a m ; é nesta descrença de M a r t i n s n a s virt u d e s do liberalismo, tal como êle se comp r e e n d i a no seu t e m p o , que os leva a consid e r a r a História de P o r t u g a l » pessimista, e d e resultados funestos a sua leitura». N ó s , p o r q u e d e f e n d e m o s as posições enérgicas, c r e m o s q u e é e x a c t a m e n t e esse o seu m é r i t o : o de não deixar ilusões s o b r e c e r t a s panaceias ou c u r a s de panos q u e n t e s . A historiografia t o m a com Oliveira M a r t i n s u m a certa feição materialista, q u e n ã o é, c o m o alguns q u e r e m , o c h a m a d o m a t e r i a lismo histórico, que r e q u e r e u m a crítica muito s e g u r a , e profundas investigações sob r e c e r t a s d e t e r m i n a n t e s económicas, t r a b a lho por realizar ainda entre n ó s . Oliveira M a r t i n s m a r c a sem d ú v i d a u m a e t a p a mais na evolução da nossa historio-