Língua portuguesa: ultrapassar fronteiras, juntar culturas
(Eds.) Mª João Marçalo & Mª Célia Lima-Hernandes, Elisa Esteves, Mª do Céu Fonseca, Olga Gonçalves, Ana
LuísaVilela, Ana Alexandra Silva
© Copyright 2010 by Universidade de Évora ISBN: 978-972-99292-4-3
SLG 4 – Novas fronteiras? Estudo contrastivo da produtividade lexical e padrões de formação de palavras em PB e
PE sob a ótica da lingüística cognitiva.
BOLSAS E CABEÇAS DE TODOS OS TIPOS: A PRODUTIVIDADE DOS
PADRÕES DE COMPOSIÇÃO EM PB
Maria Lucia Leitão de ALMEIDA1
RESUMO
O presente trabalho revisita o conceito de composição e propõe que seja ele
considerado processo regular de formação de palavras, possuidor de padrão de
formação ao lado de processos como prefixação e sufixação. Para tal observa e
analisa palavras que têm como núcleo tanto lexias que expressam elemntos
culturais, como bolsa como aquelas que se ligam a aspectos perceptuais, como
cabeça. A proposta se baseia em pressupostos teóricos da Lingüística Cognitiva.
PALAVRAS-CHAVE: estudos lexicais, compostos, Linguística Cognitiva
Palavras iniciais:
O presente trabalho revisita o conceito de “composição” e pretende mostrar que, ao
lado de outros processos morfológicos de criação de palavras (como, por exemplo, a
derivação por sufixação ou por prefixação), é possível determinar-se padrões de
formação.
1
Universidade Federal do Rio de Janeiro. Faculdade de Letras, Departamento de Letras Vernáculas.
Setor de Língua Portuguesa. Pesquisadorado do Núcleo de Estudos morfossemânticos do Português (
NEMP- www.nemp.com.br ) que coordena ao lado do Prof Dr Carlos Alexandre
[email protected]
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PE sob a ótica da lingüística cognitiva.
Tal intento baseia-se em conjunto de estudos recentes (SWEETSER, 1990,
BATORÉO, 2006, SILVA, 2006, LAKOFF, 1987, LANGACKER, 1987, 1991,
2000, dentre outros). Essa reunião de lingüistas que, à primeira vista, pode parecer
heterogênea, tem, entretanto, em comum o fato de que suas investigações
proporcionaram elementos para a fundamentação da presente proposta.
Suas contribuições podem ser assim resumidas: de Sweetser, a verificação da
contribuição da etimologia para o percurso das palavras, assim como a tendência
pragmaticizante da deriva; Batoréo e Silva, com seus estudos cuidadosos sobre a
produtividade da polissemia e descrição de suas redes de significados; Lakoff, com
a hipótese de corrporificação (embodiment) dos processos conceptuais e Langacker
por sua constatação de que a propriedade cognitiva mais básica ser a de projeção (
que tanto pode ser metafórica ou metonímica) e também por sustentar a base
cognitiva da gramática ( e do léxico).
Assim é que procuraremos demonstrar que a formação dos compostos deriva da
polissemia de itens lexicais associados ao fato de existir padrão de composição na
língua que autoriza a instanciação dessas formações. Para tal analisamos conjunto de
recentes palavras que têm em comum “bolsa” e “cabeça”. Propomos ainda a
existência de tais padrões morfossintáticos que proporcionam a formação de
compostos. Esses padrões teriam a forma X-y ou X-de-y em que X é a constante, a
palavra matriz, que serve de gatilho para o processo e y, as variáveis a ela
associadas.
A reforçar a hipótese de que é possível a determinação de um padrão para esse tipo
de formação, que é cognitivamente motivado, verificaremos ainda palavras
compostas que são formadas a partir de nomeações de outras partes do corpo, a
saber “mão” e “pé”.
Para tal, adotaremos a referencial teórico da Linguística Cognitiva.
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É, pois, na vertente de investigação sobre processos de categorização e
mecanismos cognitivos de conceptualização que se inscreve o presente trabalho.
As motivações para o início da pesquisa, há algum tempo atrás, deveram-se a
dois distintos fatos: a conferência de Batoréo (2006), na UFRJ, sobre a polissemia
dos vocábulos, formados a partir de “pé” em Português Europeu e a observação da
proliferação na imprensa de novas expressões compostas a partir de “bolsa”.
Formações com base em “bolsa” e “cabeça”: novos aspectos para formação de
compostos
As noções de orientação estruralista tratam os compostos como união fortuita de
duas bases que se juntam para formar uma significação nova (cf. MATTOSO, 1977;
LEMOS DE MONTEIRO, 1986,BASÍLIO,1987), um processo que utiliza estruturas
sintáticas para fins lexicais, mas sem nenhuma regularidade de formação. Basílio
(2000), mais recentemente, volta ao assunto, ressaltando a importância do critério
semântico, no tocante à relação referente e significado, para o estatuto de palavra
formada por composição. A esses estudos acrescentam-se outros, de inflexão
gerativista, como o de Lee (1997) que discute critérios para especificação: se os
compostos seriam formações lexicais ou pós-lexicais e outros ainda da área da
Linguística Computacional, para
a qual importa tal definição com fins de
automação da linguagem. Nada tem sido dito para motivação de suas formações e,
como são tratados, de um modo geral, como formações ad hoc, não se justifica a
possibilidade de formação de padrão para a composição.
A observação, entretanto, da produção escrita midiática (Jornal do Brasil, O Globo)
nos últimos dois anos aponta a produtividade de formação de compostos a partir do
vocábulo “bolsa”: bolsa ditadura ( indenização para pessoas que sofreram no período
miliar); bolsa blindagem ( ajuda governamental para aumento de proteção); bolsa
eleição ( ajuda dada ao candidato não eleito aos seus correligionários) ; bolsa-floresta (
ajuda governamental para que habitantes da Amazônia não a desmatem), ao lado das já
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estabelecidas: bolsa de estudo, bolsa de valores, bolsa de alimentos, bolsa de futuros,
bolsa de feira, entre outras.
A análise dessas formações indica que o significado da palavra “bolsa” é fluido,
ocorrendo ora como indenização, ora como ajuda pecuniária, com ou sem continuidade,
ora como lugar de operações de valores e como lugar onde se carrega algo.
Essa observação nos conduz a constatar, com Evans (2006), portanto, que os
valores semânticos associados às palavras são flexíveis, abertos e altamente
dependentes de contexto no qual estão encaixados. A questão fundamental é fazer uma
distinção básica entre conceitos lexicais e significado para que possamos dar conta, de
um lado, da ocorrência da mesma palavra ( reconhecendo-a como tal, e não como
homonímia entre formas) e do outro, de sua polissemia.
Enquanto conceitos lexicais constituem as unidades semânticas convencionalmente
associadas com itens lingüísticas, e formam uma parte integrante da gramática mental
do usuário da linguagem, o significado é propriedade de eventos de uso, mais do que
das palavras. Isto é, o significado não é uma função da linguagem per se, mas nasce do
e a partir do uso da língua. Se o significado é, então, dependente de contexto, os
Modelos Cognitivos Idealizados (MCIs) desenvolvem papel crucial para a criação
/interpretação dos siginificados. Assim, num determinado momento histórico em que
um país adota política marcadamente assistencialista, com formação de novas ajudas
sociais ( bolsa escola, bolsa família...) é natural que a palavra “bolsa” emerja como
candidata para enquadre de novas “ajudas” (bolsa-floresta; bolsa-ditadura, etc...)
Tradicionalmente, considera-se ser o significado das palavras estáveis e estáticos,
com sentido convencionalizado, não sendo possível prever relevância desse ou daquele
aspecto, a não ser pela dicotomia sentido literal x sentido figurado.Entretanto, as
palavras em uso não se comportam exatamente como previsto nesta visão (EVANS &
GREEN, 2006; SWEETSER, 1999). A Lingüística Cognitiva entende o conceito
lexical, de modo fillmoreano, como relacionado a frames- conjunto de cenários
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convencionalmente associados ao item. O significado de uma palavra numa
determinada locução parace ser, sobretudo, a resultante de um contexto lingüístico
particular no qual a palavra está encaixada e não só de sua informação potencial. Posto
de outro modo, o que se quer dizer é que o siginificado das palavras é escorregadio, sua
contribuição semântica é sensível e dependente de contexto no qual ele se desenvolve .
Dessa forma, a observação dos usos que a palavra bolsa têm tido no PB atual mostra
diferentes focalizações proporcionadas pela combinação com os complementos que lhes
serve de modificador. Está sendo considerada, então, agora, também a noção de ajuste
focal, tal como proposto por Langacker (1987): parte de nossos mecanismos
perceptuais, que permitem que ajustemos a atenção para o fator relevante em
determinado momento. Assim é que em bolsa-família tem-se a noção de contribuição
regular e mensal do governo às famílias de baixa renda mas em bolsa-ditadura, a doação
pecuniária resume-se a um único pagamento, realizado à guisa de ressarcimento por
danos físicos ou moraris decorrentes do período militar. Vê-se, então, que o frame
associado é ajustado quando à palavra núcleo adjungem-se os modificadores.
Fato similar ocorre com as formações que tem como núcleo cabeça. Se cabeça-decoco é a designação para pessoa sem conteúdo, cabeça-de- nego indica bombinha de
festa junina.
Sugere-se aqui, portanto, que o processo de formação de palavras por composição é
relativamente motivado, seus produtos constituem padrão de formação e caracterizamse por instanciarem idiomas semi-abertos, em que o primeiro elemento (X) é constante e
se associa a outros sintagmas (preposicionais ou nominais,o elemento Y) que
funcionarão como determinante. X, nesses padrões, é sujeito aos processos de
polissemia, metáfora e metonímia como quaisquer outras formações lexicais. Então,
com base em Evans (2006), considera-se que a flexibilidade do valor semântico é
dependente de contexto e que isto caracteriza o significado das palavras.
Então, propõe-se, neste trabalho que os compostos:
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a) similarmente a outros processos de formação de palavras a partir de palavras
básicas (como os processos derivacionais), formam padrão regular que
proporciona renovadas atualizações ( em outras palavras, novas gerações);
b) podem ser produtivos como idiomas semi-abertos em função da motivação
proporcionada por X.
A hipótese (b) se apóia, por sua vez, em duas diferentes premissas:
i.
Palavras que expressam práticas valorizadas numa determinada comunidade
motivam formações que têm nelas seu núcleo, com base no MCI que se forma.
ii.
Palavras relativas a partes do corpo estão sempre disponíveis para motivar novas
formações, com base na esquematicidade espacial que sugerem dada a sua
posição no corpo.
A relevância do estudo dos compostos numa perspectiva duplamente contrastiva (
palavras de motivação social X palavras de motivação no corpo- e ocorrências no PE X
no PB) se baseia na seguinte afirmação de Batoreo (2006b:171-172):
“as línguas naturais diferem de um modo estruturado e previsível não apenas ao
nível estritamente gramatical, mas também ao nível do seu léxico, bem como da
conceptualização da realidade em que vivem seus falantes”.
Compostos formados a partir de palavras relacionadas ao corpo.
As duas hipótese relacionam-se ao trabalho de Evans, especificamente quando a
autora demonstra o postulado cognitivista de que o significado é compreendido via
experiências reais e que a pesquisa em categorização mostra claramente que
categorias humanas são bastante amarradas às experiências do ser humano, tanto
sociais quanto perceptuais, e qualquer tentativa de abordá-las desvicunladas de tais
experiências está fadada ao fracasso.
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Em seu trabalho referenciado na introdução, de base igualmente experiencial,
Batoréo (2006a) , usando extenso conjunto de dados do PE, além da evidência para
a hipótese da “corporificação” (embodiment)
da conceptualização, apresenta e
analisa expressões com ‘pé’ cujo significado não existe em PB ( como “ por o pé
em ramo verde”).
Esses duas pesquisas influenciaram o presente trabalho. Na ótica teórica aqui
escolhida, palavras são manisfestação de atividade de categorização e assim, em
função desses resultados apresentados pela lingüista, iniciamos pesquisa no PB não
só sobre “cabeça”, como também sobre “mão” e “pé”, em suas ocorrências simples
e compostas.
O rastreamento eletrônico das três primeiras palavras e suas combinações mostrouse extremanente produtivo, alcançando os astronômicos números de 468000000
(para pé), 57500000 ( para cabeça) e 26200000 (para mão), quando usada a
ferramenta de busca Google. Deste universo, foram retirados conjuntos de dados
que se referissem a objeto, espaço e qualidade, com base em critério de ocorrência
do mais concreto ao mais abstrato. Exemplos de tais ocorrências são:
Objetos: pé-de-moleque, buca-pé, pé- de –cabra, etc; mão francesa, ...; cabeça- denego, etc...
Espaço: pé-atrás, cabeça de área e mão-dupla.
Qualidade: pé de valsa, cabeça de vento, mão de vaca.
Os problemas que surgem da amostragem vão dos morfológicos aos semânticos, que
tentaremos sistematizar..
Formas de conceptualização: as expressões metafóricas e metonímicas2
2
Cabe registrar que os exemplos aqui utilizados foram coletados e tratados pelos mestrandos Rosângela
Ferreira, Neide Higino e Mateus Odorizi, cujas dissertações sobre o assunto encontram-se em
andamento, orientadas por mim e pelo Dr Carlos Alexandre Gonçalves.
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Como em PE, esses compostos partem dos seus sentidos mais prototípicos, ou na
conceituação aqui feita, de seus conceitos lexicais: “pé”, parte inferior, suporte do
corpo; “cabeça”, parte superior, “lugar” do raciocínio; “mão”, extensão final do
braço, com função utilitária.
As extensões metafóricas se dão quando é estabelecida relação de similaridade entre
referentes de domínios diferentes. É assim, por exemplo, em
1
-
Felipão
comanda
Portugal
com
mão
de
ferro.
(http://www.swissinfo.org/por/capa/Felipao_comanda_Portugal_com_mao_de_
ferro.html?siteSect=109&sid=8877394&cKey=1212349622000&ty=st
Nesse caso, a expressão foi projetada do domínio físico para o social, constituindose numa metáfora. Claro está que a representação do condutor por “mão” é um
processo metonímico, a expressão toda em seu uso, não.
2- Globalização: uma via de mão única?
(http://avoltadosquenaoforam.wordpress.com/2008/03/11/globalizacao-uma-via-deduas-maos/)
Neste caso, a expressão “mão única” refere-se, num primeiro momento, por metonímia,
à possibilidade da “mão” exprmir direção e ao ser usada com relação a rodovias,
trnsforma-se por similaridade, numa expressão metafórica.
Vale notar ainda que, como dissemos anteriormente, embora o conceito lexical se
mantenha (extensão final do braço, com função utilitária), os significados são
diferentes: em (1), “mão” é tomada na sua possibilidade de segurar e dirigir, que
somada ao modificador “de ferro”, ganha o valor final de “firmeza”; já em (2), dada
a sua possibilidade de apontar, significa a direção de origem /destino..
O exemplo 3, igualmente, parte inicialmente de uma relação metonímica já que o
indivíduo é referenciado por parte do corpo ( cabeça). Veja-se a seguir:
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3- Ter a cabeça no seu lugar é um dom inestimável. Pelo contrário, se é um cabeça
de
vento,
ao
sabor
do
vento
anda”
N.Pereira
in:
http://www.mensageirosantoantonio.com/messaggero/pagina_articolo.asp?IDX=166
IDRX=32
Entretanto, vale notar que o modificador “de vento” promove a metáfora,
Nos
casos
abaixo
(4)
e
(5),
(ambos
extraídos
do
sítio
http://www.dicionarioinformal.com.br/definicao.php?palavra=cabe%E7a+de+minho
ca&id=7273) , temos , primeiramente, um processo metafórico ( cabeça de porco
criada metonimicamente para referência a “cortiço” pois os historiadores narram
que havia uma grande cabeça de porco no primeiro cortiço que surgiu na cidade do
Rio de Janeiro) ) e em (5) referência metonímica, como a ocorrência de (3), para
exprimir, metaforicamente, aquele “que não tem nada na cabeça”.
4- “Coitado do fulano, tem que morar naquela cabeça-de-porco”.
5-“Não dá atenção para esse cabeça de minhoca”.
Já ( 6) tem uso claramente metafórico. Observe-se:
6-
“Mulher
usa
pé-de-cabra
para
matar
policial”.(
http://www.orm.com.br/amazoniajornal/interna/default.asp?modulo=831&codigo=4
21354 )
A expressão pé-de-cabra é formada metaforicamente pela similaridade da ponta (
pé) da ferramenta com os pés bifurcados do animal.
Do exame feito até o momento verifica-se que :
1) como previsto por Evans(op.cit), os conceitos lexicais são mantidos e
2) as novas instanciações dos itens em compostos criam novos significados em
função não só do contexto de uso mas também dos elementos a que são
associados na formação de nova palavra.Ambas as constatações só afirmam que
o significado é dependente de contexto.
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3) os significados que emergem de cada combinação são possíveis por causa da
polissemia inerente às palavras das línguas naturais.
4) as extensões polissêmicas são decorrentes de procesos metafórios e
metonímicos.
Se, entretanto, por meio do site Linguateca (http://www.linguateca.pt/), buscarmos
várias das palavras que qualquer falante brasileiro identifica como se referindo a
elemento do mundo (objeto, espaço ou qualidade) como, por exemplo, “cabeça de
bagre” e
“cabeça de minhoca”, nenhuma expressão é achada. Já à pesquisa com
“cabeça de porco” e “mão de vaca”, são trazidos exemplos de ocorrência, mas somente
como partes dos animais ou em receitas culinárias. Tal fato não somente ratifica a
conclusão (2) como também sugere que
5) dado o fato de criações lexicais serem expressão de categorização de uma
determinada comunidade, mesmo que se tenha produtividade lexical de um
determinado item, como o caso das formações com palavras que expressam
partes do corpo, nem todos os falantes da mesma língua partilharão os mesmo
significados, nem enquadrarão referentes com a mesma modura lexical.
Discussão de aspectos do trabalho:
Alguns aspectos devem ser relevados antes que se encaminhem algumas conclusões.
Em primeiro lugar, enfatiza-se que os números extraordinários encontrados pela
ferramenta de busca Google no que diz respeito ao esquadrinhamento de dados de PB
existentes na Internet são corroborados pelos resultados da pesquisa realizada no
Corpógrafo, da Linguateca. As procuras e concordâncias solicitadas para as palavras
“mão”, “pé” e “cabeça” trouxeram sempre milhares de dados em contexto, e , nos três
casos, com o aviso de que só estavam disponíveis para análise 8000 dados,
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considerando-se o número excessivo de achados. Tais fatos apontam inequivocamente
para a produtividade do uso de tais palavras em ambas as variantes.
Dados os critérios aqui usados de separar conceitos lexicais de significado, é lícito
supor que a quantidade de significado que emerge é bastante grande. Entretanto, a
pesquisa restringiu seu foco de observação a sintagmas nominais com comportamento
morfossintático de compostos ( conforme anteriormente exposto) centrando seu estudo
ao PB. O fato é que se encontra conjunto representativo de palavras que podem ser
incluídas no tradicional rótulo de “palavras compostas por justaposição” em que se
verifica estabilidade do elemento à esquerda , que chamamos de matriz ( bolsa, mão, pé,
cabeça), e variação de elementos à direita, que os determinam, fornecendo-lhes as
molduras de onde surgem novos significados a serviço de categorização da realidade ( e
não de rótulo para algo pré-existente no mundo). Essas combinações mais lexacalizadas
passam necessariamente por processos metonímicos ou metafóricos, expressando
semântica não composicional.
Escolhemos chamar o elemento mais fixo de matriz porque é ele que fornece
primeiramente o aporte linguístico-conceitual para a categorização. Visto desta maneira,
o comportamento polissêmico de tais matrizes em nada difere do comportamento
polissêmico de outros formativos como, por exemplo, sufixos de diversos tipos ( cf
Silva,2006; Gonçalves & Almeida,2008 ) .
Vale ainda ressaltar que os padrões mais produtivos dentre os que se ofercem para
formar compostos em Português são os: substantivo+substantivo (bolsa-ditadura);
substantivo+ adjetivo ( mão boba); substantivo+ de+substantivo ( pé- de- moleque), que
então podem ser resumidos como X-y, nos dois primeiros casos ( em que y pode ser
substantivo ou adjetivo) e /ou X-de-y.
Palavras finais:
Essa pesquisa estabeleceu como seu objetivo rever a noção de composto que, grosso
modo, é vista como idiossincrática e arbitrária. Para tal valeu-se de conjunto de
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resultados expressivos oriundos de trabalhos vinculados à agenda de estudos que se
convencionou chamar de Lingüística Cognitiva, destacadamente a polissemia, os
processos figurativos, metáforas e metonímias,a corporificação da conceptualização e a
noção de modelo cultural.
Este trabalho, que constitui etapa inicial de investigação maior , permite concluir que :
a) os compostos são motivados cognitiva e culturalmente;
b) há um padrões específicos que autorizam sua instanciação;
c) o comportamento das matrizes é similar aos de outros formativos;
d) os usos das palavras matrizes e suas formações em compostos diferem nas duas
variantes, evidenciando, como Batoreo 2006 já apontara, que as línguas diferem
também no léxico.
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a produtividade dos padrões de composição no PB - SIMELP