A presença do verbo é o que caracteriza o sintagma verbal. Além do verbo, outros termos podem fazer parte
do SV, dependendo do verbo que funciona como núcleo. Esses outros elementos são, por sua vez, sintagmas
- nominais ou preposicionados. Esses sintagmas desempenham diferentes funções no SV: complementos
diretos, indiretos, ajuntos adverbiais, agentes da passiva …
Leia o poema de Vinícius de Moraes, O anjo das pernas tortas.
Texto 1
O anjo das pernas tortas
A um passe de Didi, Garrincha avança
Colado o couro aos pés, o olhar atento
Dribla um, dribla dois, depois descansa
Como a medir o lance do momento.
Vem-lhe o pressentimento; ele se lança
Mais rápido que o próprio pensamento
Dribla mais um, mais dois; a bola trança
Feliz, entre seus pés --- um pé-de-vento!
Num só transporte a multidão contrita
Em ato de morte se levanta e grita
Seu uníssono canto de esperança.
Garrincha, o anjo, escuta e atende: --- Gooooool!
É pura imagem: um G que chuta um O
Dentro da meta, um L. É pura dança!
(Vinícius de Moraes)
Comentário sobre o texto 1
Vinícius, nesse poema, conta um pouco da arte de Garrincha, lendário jogador de futebol brasileiro.
Com as pernas tortas, Garrincha era considerado um gênio do futebol, driblando todos os seus
adversários.
O futebol é o esporte mais amado pelos brasileiros. Para narrar seus jogos, os locutores esportivos
usam diversas palavras estrangeiras, inventam novas palavras, criam apelidos para os jogadores e
para as jogadas. Tudo isso para atrair a atenção do público e tornar a narração do jogo mais
interessante.
No poema que você leu, encontramos vários verbos que exigem a presença de sintagmas nominais
para completarem seu sentido.
sintagma nominal
verbo
sintagma nominal
Garrincha
dribla
um jogador
A multidão
grita
um canto de esperança
Garrincha
escuta
o grito
driblar => quem? = um jogador
medir => o quê? = o lance
escutar => o quê? = o grito
fazer => o quê? = um gol
gritar => o quê? = um canto
Todos os termos que serviram para responder as perguntas quem?, o quê? vieram acrescentar uma
informação aos verbos driblar, medir, escutar, fazer, gritar, completando o sentido do verbo. Repare
ainda que todos esses complementos ligaram-se diretamente ao verbo, isto é, não foi usada nenhuma
preposição entre o verbo e seu complemento. São sintagmas nominais que funcionam como objeto
direto. E o verbo é transitivo direto.
Há no poema vários verbos que não exigem qualquer sintagma para completar seu sentido. Veja só:
avançar => Garrincha avança.
descansar => Garrincha descansa.
gritar => A multidão grita.
Dizemos que os verbos que não precisam de nenhuma espécie de complemento são os verbos
intransitivos.
Leia o texto Plantas Carnívoras, retirado de uma revista de Divulgação científica.
Texto 2
Plantas Carnívoras
Uma joaninha aproxima-se inocentemente da planta. Dá umas rodeadas e pousa. A
planta é um tanto peluda, e nos pêlos há gotas que parecem de orvalho, brilhando à luz
do sol. As cores são bonitas e a joaninha acha lindos os pêlos. Mas o que a joaninha não
sabe é que eles soltam uma substância viscosa na qual ela vai ficar presa. A joaninha
pousou numa 'planta carnívora'.
Diferentemente das que aparecem no cinema, as plantas carnívoras de verdade são
pequenas e delicadas. Elas têm em média 15 centímetros. As maiores podem chegar a
medir dois metros de altura. Só têm capacidade de capturar e digerir animais miúdos,
em geral insetos. Por isso, os pesquisadores preferem chamar essas plantas de
insetívoras.
As plantas carnívoras não dependem somente dos insetos para se alimentar: elas
também fabricam seu próprio alimento. Mas como vivem em locais úmidos, em
terrenos pantanosos, o alimento que produzem não é suficiente para suprir suas
necessidades vitais. Os insetos que elas capturam e digerem com auxílio de uma
substância viscosa são um complemento alimentar.
Existem, no mundo, 450 espécies de plantas carnívoras, divididas em seis famílias
diferentes. No Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, existe uma estufa de plantas
insetívoras. Lá estão exemplares das seis famílias dessas plantas que, na estufa, são
cultivadas em condições especiais para se adaptarem ao clima carioca.
(por Vera L.G.Klein e L.Massarani, Revista Ciência Hoje das Crianças)
Comentário sobre o texto 2
Neste texto, as autoras procuram explicar, numa linguagem bastante acessível, o que são plantas
carnívoras, quais são suas características, por que podem ser chamadas de plantas insetívoras,
quantas espécies existem de plantas carnívoras.
Agora vamos observar melhor a estrutura de algumas frases do texto. Encontramos verbos que
exigem a presença de um substantivo para completar seu sentido. É uma relação diferente entre o
verbo e o substantivo que funciona como núcleo do SN.
sintagma nominal
verbo
sintagma nominal
as plantas carnívoras
capturam
os insetos
as plantas maiores
medem
dois metros de altura
o Jardim Botânico
coleciona
plantas carnívoras
capturar => quem? = os insetos
produzir => o quê? = uma substância viscosa
colecionar => o quê? = plantas carnívoras
Esses verbos pertencem a um grupo de verbos que, como vimos anteriormente, têm seu sentido
complementado por sintagmas nominais que funcionam como objeto direto.
Vamos ler agora as seguintes frases:
sintagma nominal
verbo
prep + sintagma nominal
uma joaninha
aproxima-se
da planta
as plantas carnívoras
não dependem
dos insetos
as plantas carnívoras
se adaptam
ao clima carioca
aproximar-se => de quem? = da planta
depender => de quem? = dos insetos
adaptar-se => a quê? = ao clima
Esses verbos têm seu sentido complementado por sintagmas preposicionados (sintagmas nominais
introduzidos por preposição) que funcionam como objeto indireto. Dizemos, neste caso, que o
verbo é transitivo indireto.
Vamos agora observar com cuidado estas outras frases retiradas do texto:
sintagma nominal
verbo
sintagma nominal
as plantas
são
insetívoras
as plantas carnívoras
são
pequenas e delicadas
os insetos
são
um complemento alimentar
Essas frases têm a mesma estrutura:
sintagma nominal
verbo ser
sujeito
cópula
sintagma nominal
predicativo do sujeito
Texto 3
A televisão
O homem da rua
Fica só por teimosia
Não encontra companhia
Mas pra casa não vai não
Em casa a roda
Já mudou, qua a roda muda
A roda é triste a roda é muda
Em volta lá da televisão
No céu a lua
Dá uma volta graciosa
Pra chamar as atenções
O homem da rua
Que da lua está distante
Por ser nego bem falante
Fala só com seus botões
O homem da rua
Com seu tamborim calado
Já pode esperar sentado
Sua escola não vem não
A sua gente
Está aprendendo humildemente
Um batuque diferente
Que vem lá da televisão
No céu a lua
Que não estava no programa
Cheia e nua, chega e chama
Pra mostrar evoluções
O homem da rua
Não percebe o seu chamego
E por falta doutro nego
Samba só com seus botões
Os namorados
Já dispensam o seu namoro
Quem quer riso, quem quer choro
Não faz mais esforço não
E a própria vida
Ainda vai sentar sentida
Vendo a vida mais vivida
Que vem lá da televisão
O homem da rua
Por ser nego conformado
Deixa a lua ali de lado
E vai ligar os seus botões
No céu a lua
Encabulada e já minguando
Numa nuvem se ocultando
Vai de volta pros sertões.
(Chico Buarque de Holanda)
Comentário sobre o texto 3
Na música A televisão, Chico Buarque critica o enorme espaço que a televisão vem ocupando, cada
vez mais, na vida das pessoas: afasta-as da música, das conversas, da natureza, das relações sociais.
As conversas, o namoro, a dança, atividades que exigem mais de uma pessoa, são substituídas pela
tela da televisão, numa atividade isolada e solitária.
Encontramos inúmeras formas verbais no texto . Elas podem ser agrupadas, de acordo com o tipo de
sintagma com que se combinam:
Grupo 1 : verbos que têm seu sentido complementado por sintagmas nominais.
encontrar => o quê?
O homem da rua não encontra companhia.
ligar => o quê?
O homem da rua vai ligar os seus botões.
perceber => o quê?
O homem da rua não percebe o seu chamego.
Grupo 2 : verbos que têm seu sentido complmentado por dois tipos de sinagmas: nominais e
preposicionados.
ganhar => o quê ? => de quem?
A garota ganhou um livro de seu padrinho
vendeu => o quê ? => para quem?
O comerciante vendeu muitas bandeiras do Brasil para os torcedores
Grupo 3: verbos que têm seu sentido complementado por preposicionados.
falar => com quem?
O homem da rua fala com seu botões.
ansiar => pelo quê?
Estamos todos ansiando por um Brasil mais justo.
Grupo 4 : verbos que não precisam de complemento.
chegar A lua, encabulada, chega.
dormir O bebê fechou os olhos e dormiu.
gemer O acidentado não parava de gemer.
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A presença do verbo é o que caracteriza o sintagma verbal