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Este livro é o resultado do concurso Contando
2014. Os alunos foram estimulados a criar seus
próprios textos a partir das introduções de
belíssimos contos de Milton Hatoum.
As narrativas foram criadas em duplas, e as
melhores estão publicadas neste livro.
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COLÉGIO DANTE ALIGHIERI
Alameda Jaú, 1061 - CEP 01420-001 - SP
Tel.: (11) 3179-4400 - Fax: (11) 3289-9365
Mil
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Os melhores contos do Dante 2014
Colégio Dante Alighieri
Os melhores contos do Dante 2014
São Paulo
2014
5
Para Milton Hatoum, com carinho...
6
7
“
Um sonhador
Aprendi a navegar no escuro antes de
ler e escrever. Meu pai me ensinou a
remar e a encontrar canal em época de
vazante. Isso num tempo em que havia
estações. Em setembro, os rios ficaram
tão rasos que os peixes foram aprisionados em lagos que nunca foram lagos.
Mortos. E um cheiro de cinzas no ar.
Meus pais não viram esse céu de ferrugem que esconde o sol. Velhos, nem
falavam mais no futuro… Agora aparecem juntos e enlaçados, assombrados
que nem fantasmas. Dizem que no Sul
os rios morreram há muito tempo, e
que há guerra e flagelos nas grandes
cidades. Por aqui, de qualquer coisa se
morre, e até malária enterra crianças.
Violência, doenças: quem pode desmentir seu próprio sofrimento?
“
Milton Hatoum
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Agradecemos aos Departamentos de Arte, de Audiovisual,
de Editoração/Gráfica, de Marketing e de Tecnologia da
Informação pela parceria na execução deste projeto.
Agradecemos especialmente ao Presidente, Dr. José de
Oliveira Messina, e à Diretora-Geral Pedagógica, Profa.
Silvana Leporace, a possibilidade da realização desta obra.
Departamentos de Língua Portuguesa e de Tecnologia Educacional
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Caro(a) aluno(a),
Esperamos que você tenha gostado
da experiência e que tenha
percebido a magia que envolve o
mundo da ficção. A palavra pode ser
sua aliada por toda a vida.
Continue fazendo suas leituras e
lembre-se de que o ato de escrever
nos transporta para mundos
maravilhosos onde podemos realizar
nossos sonhos mais secretos.
Professoras de Língua Portuguesa
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Este é o resultado do Contando 2014. O concurso foi
elaborado pelas professoras de Língua Portuguesa em
parceria com os departamentos de Arte e de Tecnologia
Educacional do Colégio Dante Alighieri.
Todos os alunos dos 9os anos de 2014 participaram desta
competição que, neste ano, tem um significado muito
especial. Eles foram estimulados a criar seus próprios
textos a partir das introduções de belíssimos contos de
Milton Hatoum.
Os contos foram criados de forma colaborativa, em
duplas, e os melhores estão publicados neste livro.
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Sum
017 | Prefácio: Caro escritor Milton Hatoum
022 | Dois Tempos - Milton Hatoum
030 | presente do passado
033 | As memórias do amor
036 | Revivendo Lembranças
039 | Quem sabe, algum dia
043 | O Chaminé
046 | Tio Ranulfo
49 | Reencontro de vidas
52 | Saudade
58 | Exílio - Milton Hatoum
61 | Minutos de Esperança
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m ário
65 | Confiança demais
68 | O Encontro
0774 | Um oriental na vastidão - Milton Hatoum
81 | Um tal Sr. Kiichi
0 86 | Ilustrando o Contando
0 90 | Expressando
100 | Milton Hatoum - Breve Biografia
104 | Colégio Dante Alighieri contando...
106 | Ficha técnica
109 | Referências
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Caro escritor Milton Hatoum
É uma honra recebê-lo em nossa Escola, no
Contando 2014. Nossos mais sinceros agradecimentos
por estar aqui e dar-nos o privilégio de poder
conversar com o senhor.
Sua obra, premiadíssima, diga-se, torna-nos
leitores vorazes. Sua produção faz - nos refletir sobre
o que significa ser um escritor. De talento, nem se fala,
porque talento lhe sobra, graças a Deus. Falo de ser
gente, de se enxergar gente, de se reparar em gente.
Gente com conflitos infinitos, com buscas infinitas,
gente. Simplesmente gente. E o senhor vê tudo e
todos. Vê universos familiares que se desintegram,
vê a decadência de princípios convencionais, vê
a globalização engolindo vidas, fragilizando laços.
Desde Manaus, onde o senhor nasceu, até hoje, em
São Paulo. Vê-lo na FLIP, ouvi-lo falar com simplicidade
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na Academia Paulista de Letras, ouvir suas palavras
sobre Proust em sua busca do tempo perdido, em
um programa televisivo sobre Literatura, ler seus
textos no Estadão, tudo nos mostra que uma Escola
que preza a literatura não pode deixar de conhecê-lo
de perto, acolhê-lo com calor e viajar por sua obra
que reinventa a vida. Mostra que tocar o coração
de nossos alunos é a melhor maneira de despertálos para a importância da arte a que as palavras nos
conduzem. E que as suas são para eles um ponto
de referência do que é a boa literatura, aquela que
nos move até as estrelas, parodiando nosso mestre
Dante Alighieri.
Livros inesquecíveis, os seus. Tanto que o
reconhecimento é vasto: prêmios Jabuti indicam o
quão importantes são suas histórias. São obras que
andam o mundo, traduzidas em 12 línguas, publicadas
em 14 países. O reconhecimento de sua grandeza
se deu, inclusive, em Portugal. Como não viajar por
meio de suas palavras? Como não conhecer “Relato
de um certo oriente”, “Dois irmãos”, “Cinzas do
Norte”, só para citar algumas de suas criações? Como
não reinventar vidas que imitam vidas de pessoas
comuns, sonhadoras, desesperadas, que evocam
fantasmas do passado? Como não se perceber na sua
obra as experiências que nos traduzem nesta terra,
neste país, neste mundo?
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Por tudo isso, caríssimo escritor, sentimo-nos
honrados de tê-lo conosco. Ter um escritor pertinho
de nós mostra que, em algum lugar, em alguma
Manaus, há um sonhador que escreve. Que sofre.
Que se alegra. Que luta com as palavras. Que ama.
Que recebe boas influências. Que seja influenciado
por sua obra emocionante.
O senhor é um contador de histórias. Nós as lemos
e para sempre teremos luz em nossos corações: a
luz de suas palavras que inspiraram nossos jovens a
continuar três de seus contos.
Muita gratidão.
Maria Cleire Cordeiro
Coordenadora do Depto. de Língua Portuguesa
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DOIS TEMPOS
Milton Hatoum
Encontrei-a por acaso na noite de um sábado.
Queria fazer uma surpresa para tio Ranulfo, nem me
lembrava quanto tempo ficara sem vê-lo. A porta da casa
dele, trancada. Imaginei que estivesse viajando e me hospedei
numa pensão perto do teatro Chaminé. Jantei no Sereia do
rio e, enquanto comia, me lembrei da voz ansiosa de tio Ran,
antes de suas breves viagens a Rio Preto da Eva.
Saí da zona portuária, caminhando devagar até as ruas
escuras de um quarteirão antigo. Havia lamparinas e velas
nos batentes das janelas abertas, nas estantes e mesas das
salas devassadas, na janela de um sobrado onde demorei
a reconhecer o rosto de uma antiga vizinha e ex-aluna do
conservatório. Aiana saiu do casarão e, na calçada, perguntou:
Não te lembras dela, a Tarazibula Steinway?
Eu tinha uns catorze anos, e morava na casa de meu tio.
Gostava dele, um solteirão estabanado, que me levava para
corricar no paraná do Cambixe. Com ele fui pela primeira vez
ao Varandas da Eva e a outros balneários noturnos. Não se
zangava quando me via sem farda, gazeteando aulas; mas nas
noites de esbórnia no quarto dele, quando me surpreendia
de olho na fechadura, tio Ran me expulsava aos gritos. No dia
seguinte, ele dava um tapa no meu ombro, ria sem jeito, ia
embora.
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Era alto e desengonçado, às vezes se desculpava por ser
atrapalhado e não saber pôr as coisas dele em ordem nem
arrumar a casa. Não sei se gostava da vida de solteiro, acho
que não queria mulher ao lado dele, dia e noite, sem trégua.
Mal suporto a mim mesmo, ele dizia, justificando a solidão.
Na nossa casa era raro sentar à mesa no meio de tanta
bagunça. Comíamos no Sereia do rio, que, além de barato,
tinha uma varanda para o rio Negro e a floresta. Quando
voltava de suas viagens misteriosas, me trazia presentes
embrulhados com desleixo em papel de padaria. Nunca soube
por que ele viajava tanto. Numa sexta-feira incerta, dizia de
supetão: Embarco de noitinha, mas daqui a dois dias estamos
juntos. Não queria que o acompanhasse ao porto, despedidas
solenes dão azar, ele brincava.
Via meu tio segurando uma sacola de lona e pensava que
ele nunca mais ia voltar. Pensava nisso até na presença dele;
na verdade, tinha medo de que ele fosse embora para sempre.
Quando me via triste e calado, querendo saber o motivo de
tanto silêncio, eu mentia: minha cabeça ia queimar de tanta
dor, uma dor lá no fundo. Tio Ran não entendia minha recusa
de ir ao médico. Então, numa segunda-feira, ele me levou ao
conservatório. Ficou observando as janelas fechadas do andar
superior. Depois disse: Entra e fala com a professora. Quem
sabe se as aulas de canto não vão curar tua enxaqueca?
Com a minha voz indecisa, saindo da infância, comecei
a aprender canto com Tarazibula Boanerges. Na minha
cidade, ela era a protagonista do canto e do piano. Eu me
impressionava com o rosto dela, cheio de pontinhos pretos,
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ameaçando formar barba. As pernas eram cabeludas como
os braços, mas a voz, de inflexão melódica, me fazia esquecer
tudo. O sorriso bonachão e a generosidade extremada
participavam dessa magia. Acima de tudo, era professora, e,
para nós, uma artista.
Aprendi tanta coisa com dona Steinway, disse Aiana,
tentando acender uma vela.
Dona Steinway, porque só a professora tinha um desses
pianos em bom estado. O outro pertencia ao teatro Amazonas,
mas, além de desafinado, era um ninho de traças e baratas.
Partituras e livros de música enchiam a estante da sala do
conservatório; na mesa de centro, uma flauta indígena, que
ela soprou uma única vez, e murmurou, como se estivesse
sozinha: Nossa dissonância ancestral.
Ensinava noite e dia, talvez sonhasse com sons. Crianças
dedilhavam as primeiras notas, anos depois interpretavam
um chorinho de Nazareth; algum dia uma ou outra poderia
tocar uma sonata de Schubert ou de Beethoven. Bach, não. O
mais difícil, o quase impossível, o que pede tudo a um artista,
o corpo, a alma, ambos concentrados oito ou dez horas
diárias ao longo de uma vida, tudo, toda a sua força interior
e física, Bach, por exemplo, só ela. E nunca em público, só
para nós, quase às escondidas, no fim da tarde, quando ela se
desculpava pelas notas erradas ou uma saída do andamento,
esbarrões que não percebíamos, nem podíamos perceber.
Na primeira aula ela sondou minha voz. Tocava uma tecla e
me pedia a nota correspondente. Outra, mais aguda, e então
eu perdia a voz, a voz abandonava meu corpo. Uma nota mais
grave, eu grunhia. Ela não se desapontou e teve paciência:
Não é preciso se esgoelar, canta ao natural, como se estivesses
falando.
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Talvez quisesse descobrir em mim um grande tenor, mas
minha voz, meu corpo, claudicava.
O som já está ficando mais puro, mais claro, ela mentia. A
potência virá com o tempo.
Cantou um Lied sombrio, não lembro qual, e me consolou:
Tens que dar tempo ao tempo.
Naquela tarde, percebi: sou incapaz para o canto. A
professora Steinway já devia saber que seu aluno não era
promessa de nada. Mesmo se eu fosse estudar no outro
hemisfério: nada. Uma nulidade, voz para conversa, grito ou
resmungo, nunca para o canto. Ainda assim, ela estimulava
seu único aluno, o único menino. Já és um tenorino talentoso,
ela brincava, quando ouvia meus agudos alarmantes. As
meninas e as pianistas veteranas entediavam-se; muitas
frequentavam o conservatório por obrigação ou para matar
o tempo. Várias alunas cochichavam nos corredores. Pior:
cochichavam quando a professora pedia silêncio, as mãos e
os lábios tremendo, enquanto o olhar repreendia as tagarelas.
Numa tarde, a mãe de uma aluna interrompeu bruscamente
a aula, querendo saber o desempenho da filha; o sonho dela
era ver a filha virtuose dar um recital no teatro Amazonas.
Pagou em dobro o preço das aulas, deixou cédulas altas sobre
o teclado do piano e foi embora sem esperar o troco. Dona
Steinway ficou paralisada, muda. Senti seu hálito quente, vi
suas mãos fechadas, o corpo que ofegava e crescia. Ela tirou
as cédulas, jogou-as na mesa da flauta. Sentou lentamente na
banqueta e as mãos retomaram o chorinho.
No último ano dos meus estudos de canto, já não me
inquietava tanto com a ausência de tio Ran. Na manhã de um
sábado, quando ele estava viajando, fui assistir aos exercícios
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de Aiana no conservatório. Na sala não encontrei minha
amiga; ouvi passos na escada e, quando a professora surgiu,
parecia outra; usava um vestido decotado, brincos e colar; os
lábios vermelhos e o cheiro de perfume davam a impressão
de que a noite a esperava. Ia me despedir, mas ela me abracou
e beijou como se não me visse fazia muito tempo. Disse que
tocaria alguns prelúdios e mazurcas de Chopin. Nos intervalos
enxugava o rosto, concentrava-se, e interpretava com prazer
o que durante a semana martirizava as alunas. Sentado perto
dela, admirava os movimentos ágeis e firmes de suas mãos,
que tocavam só para mim. Quando terminou, cobriu o teclado
com uma faixa de feltro, e me olhou demoradamente antes
de dizer: Conheci tua mãe, uma das primeiras alunas. Estudou
seis anos, gostava dos Prelúdios...
A professora sabia que eu era órfão, mas nunca havia
mencionado o nome de minha mãe. Ficamos em silêncio
por alguns segundos; ela se levantou, me acompanhou até o
portão, fez uma pergunta como se fosse uma despedida: Teu
tio cuida bem de ti?
Pouco tempo depois, quando eu pensava em deixar a
cidade, fui com tio Ran ao teatro Amazonas, onde dona
Steinway daria um recital. Insisti em chegar cedo, queria achar
lugar na primeira fila, bem perto do palco. O teatro estaria
lotado e eu fazia questão de que a professora notasse minha
presença. Quando entramos na sala, havia poucas pessoas.
Aiana, sozinha na primeira fila, nos chamou. Tio Ran apontava
o nome dos músicos, poetas e dramaturgos europeus: os
artistas mais famosos do mundo estavam ali, nos estandartes
de gesso em forma de lira, encardidos e empoeirados. Várias
lâmpadas dos lustres, queimadas; a pintura do pano de boca
parecia enrugada. Sentado, observei com calma o motivo da
pintura: ninfas gordas deitadas em conchas que flutuam no
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encontro das águas. Dona Steinway demorava, esperando
talvez a presença dos convidados. Lentamente a sala foi
escurecendo, e apenas a pintura se destacava, iluminada,
solta no espaço. O calor aumentava, tudo parecia parado, eu
me estiquei na cadeira e me deixei levar por aquelas conchas
com seres mitológicos; pouco a pouco me distanciei daquele
lugar. Os dois rios iluminados pareciam jorrar da pintura e
inundar a sala silenciosa e sombria, cobrir tudo de água, até o
lustre gigantesco e a abóbada do teto, onde a torre parisiense
e as alegorias em seu redor eram grandezas do outro mundo.
Um ruído me despertou. Ao meu lado, Aiana resmungava
ao ver a sala quase vazia. Quando o pano de boca subiu, o
piano preto do conservatório apareceu no centro do palco.
Depois ela entrou, aproximou-se da plateia, foi aplaudida com
entusiasmo. Da primeira fila eu podia ver o rosto em êxtase da
pianista, a alegria incontida, como se fosse uma grande noite.
Depois do recital fomos falar com ela. Não parecia
decepcionada. Esse teatro é grande demais para um recital
de Schubert, a pianista piscou para o meu tio. Hoje em dia,
uma plateia de vinte pessoas é uma multidão. O teu sobrinho
vai continuar a aprender canto?
Ainda voltei algumas vezes ao conservatório. Uns meses
depois do recital, parti.
Longe da minha cidade, cada vez mais longe, ao ouvir uma
sonata de Schubert, um chorinho de Nazareth ou as Bachianas
brasileiras, eu me lembrava da pianista. De seus dedos longos,
de seu rosto suado, tenso ou radiante, todo o corpo atento,
tocando para a pequena plateia. Do na Steinway não buscava
a notoriedade. Ensinava. E sabia escutar.
Pensava nisso quando Aiana, vela na mão, me puxou pelo
braço e me conduziu à escada de ferro. Sem saber por quê,
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hesitei em entrar. Pude ver uma parte da sala espaçosa,
aclarada por lamparinas, cheia de gente bem-vestida. Um
cheiro esquisito, de perfume e flores, se misturava ao bafo
quente da noite. Uma faixa de tecido verde, com palavras
douradas, de luto, cobria livros e partituras; perto da parede,
ex-alunas cochichavam com as mães.
Quando entrei, vi um homem velho e triste, curvado sobre
o rosto da mulher deitada, quieta, as mãos cruzadas. Levei um
susto, tentei pronunciar o nome dele, mas emudeci. Tio Ran
parecia outro, tão diferente, ali em pé, as mãos enleadas no
cabelo da professora.
Quase não vi o rosto da pianista, escondido por outro,
o do meu tio. Mas vi, observei, senti suas mãos que tanto
dedilharam o teclado, agora silencioso, agora fechado sabese lá até quando.
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30
presente do passado
Ana Catharina Konzen Schmidt de Oliveira & Pietra Cipolla de Matos
a partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.
Encontrei-a por acaso na noite de um
sábado.
Queria fazer uma surpresa para tio
Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo
ficara sem vê-lo. A porta da casa dele,
trancada. Imaginei que estivesse viajando
e me hospedei numa pensão perto do
teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio
e, enquanto comia, me lembrei da voz
ansiosa de tio Ran, antes de suas breves
viagens a Rio Preto da Eva.
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Sorri ironicamente. Um homem preconceituoso, esse tio
Ranulfo. Nunca aprovou relações amigáveis entre famílias
ricas e pobres.
É como água e óleo, Ricardo. Rico e pobre não se
misturam! __ ele sempre me dizia.
__
Saí de meus devaneios para chamar o garçom, quando
a vi na entrada do restaurante. Seus chamativos olhos
esverdeados me eram, por alguma razão, familiares. Então,
ela sorriu. Um sorriso lindo, meio maroto, um sorriso que fora
dirigido a mim várias e várias vezes.
Estefânia Cardoso. A lembrança de nossa história veio à
minha mente. Uma bela história. Uma história de amor.
Tinha dezessete anos quando a vi pela primeira vez. No
auge de seus quinze anos, ela era a menina mais bonita que
já havia visto.
Nosso primeiro encontro foi numa sorveteria. Ela estava
chique, com um vestido vermelho de babados brancos, e, eu,
simples como era, com meu traje domingueiro: calça jeans,
camisa azul e sapato de sola gasta. Ela era de família rica e
importante. Já eu morava com tio Ranulfo, de origem humilde.
Ao saber de nosso namoro, ele desaprovou de pronto.
Estou te avisando, Ricardo! __ ele costumava ralhar __ essa
menina não serve para você! Não demora, ela se cansa e, olha,
não venha chorar no meu ombro quando isso acontecer!
__
E, de fato, aconteceu. Mas não da maneira que meu tio
previra. Com a esperada oposição da família dela ao namoro,
fizemos algo digno de um filme bem clichê: fugimos. Claro que
não deu certo. A polícia nos pegou na metade do caminho.
Meu tio me mandou para São Paulo, a fim de manter-me o
mais longe possível de Estefânia e de encrencas. Desde então,
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nunca mais a vi. Até hoje.
De repente, todas aquelas emoções do passado voltaram.
Estava prestes a me levantar e ir até ela, quando vi a expressão
de felicidade e ternura em seu rosto com o olhar em direção a
um homem e duas crianças que iam se aproximando. Melhor
assim.
Chamei o garçom e pedi a conta.
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As memórias do amor
Daniel Mathias Rosenfeld & Fernando Moreira Kanareks
a partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.
Encontrei-a por acaso na noite de um
sábado.
Queria fazer uma surpresa para tio
Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo
ficara sem vê-lo. A porta da casa dele,
trancada. Imaginei que estivesse viajando
e me hospedei numa pensão perto do
teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio
e, enquanto comia, me lembrei da voz
ansiosa de tio Ran, antes de suas breves
viagens a Rio Preto da Eva.
34
Seu rosto me era muito familiar. Ela era uma senhora, de
cabelos brancos, óculos, brincos discretos. Lembrei-me de
uma foto que achei numa escrivaninha na casa do meu tio
Ran. Sim, a foto era dela de muitos anos atrás.
A noite estava muito clara, os postes de luz nem estavam
ligados. Prosseguindo meu caminho em sua direção, pensei:
“Será que é ela a mulher das histórias meu tio Ranulfo?
Me aproximei lentamente e chamei-a:
__
Com licença, você conhece Ranulfo Goldenberg?
Ranulfo Goldenberg? Sim, o conheci muitíssimos anos
atrás na Alemanha __ respondeu a senhora.
__
__
Eu sou sobrinho de Ranulfo. Qual é o seu nome?
__
Me chamo Marta Vanowsky.
Sim, era ela. A mulher de tantas histórias que meu tio
contava quando eu era pequeno.
Ele era um soldado que havia sido designado para uma
missão na Alemanha contra os nazistas. Estava no meio de
uma batalha, quando foi ferido por uma bala na perna e ficou
caído imóvel no frio congelante da Alemanha, em meio ao
calor estonteante da batalha. Pensou na família, nos amigos e
em todos os momentos que iria perder, quando uma mulher o
arrastou para dentro de sua casa e, sem pedir nada em troca,
cuidou de seu ferimento. Depois de vários dias e de muito
conversarem, eles aderiram ao sentimento que já estava
brotando em seus corações, apaixonaram-se.
Depois de um tempo, tio Ranulfo se recuperou de seu
ferimento e já conseguia até andar. Ela havia salvado sua vida,
e havia dado um novo sentido a ela também. Aquele era um
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sentimento tão forte, um sentimento que nunca havia sentido
antes; era um fogo que queimava tão forte que doía só de
pensar em deixá-la. Mas esse dia chegou. Todos os soldados
receberam ordens de voltar. E os dois se perderam no tempo...
Cinquenta anos depois estamos aqui, Marta e eu. Ela fugiu
da Alemanha semanas após tio Ranulfo conseguir voltar
para casa. Falei para Marta que tio Ranulfo morava no Brasil
com sua família, após ser dispensado do Exército. Falei a ela
que ele morava ali perto, mas não estava em casa. Decidida,
falou que sabia onde ele poderia estar. Andamos em direção
ao parque e avistamos um senhor sentado em um banco
dando comida para as pombas, como os dois sonhavam fazer
quando se reencontrassem. Nós nos aproximamos um pouco
e ela gritou:
__
Ranulfo!
Ele virou-se instantaneamente e as lágrimas começaram a
rolar em seu rosto.
__
Marta!
Os dois se abraçaram e tio Ranulfo falou:
__
Dessa vez, ficaremos juntos para sempre!
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Revivendo Lembranças
Luísa Martins de Andrade & Maria Paula de Castro Vanzo Reis
a partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.
Encontrei-a por acaso na noite de um
sábado.
Queria fazer uma surpresa para tio
Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo
ficara sem vê-lo. A porta da casa dele,
trancada. Imaginei que estivesse viajando
e me hospedei numa pensão perto do
teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio
e, enquanto comia, me lembrei da voz
ansiosa de tio Ran, antes de suas breves
viagens a Rio Preto da Eva.
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Estava comendo em paz, meus pensamentos longe dali.
O que aconteceu nos próximos minutos foi algo que não
cogitava. Ela, tão linda como há cinco anos, surgiu em meu
campo de visão. Foi inevitável o filme que passou em minha
mente lembrando-me de nossa juventude juntos. Éramos “o
casal” da escola, digno de filmes americanos. Naquela época,
eu tinha certeza de que era amor. A forma como sofri quando
tivemos que nos separar indica que sim.
O som doce e macio de sua voz é o que me tira de meus
devaneios. Do meu lugar era possível ouvir sua conversa com
o homem a sua frente. Ela o olhava com tanto carinho que
senti um aperto no peito. Ela havia sido meu primeiro amor,
e, é claro, que sempre a terei num lugar especial em meu
coração.
Voltei para a pensão, tomei um café e fui para o meu
pequeno e confortável quarto com as lembranças desse
tempo que não mais voltará, tempo em que minhas únicas
obrigações eram estudar e me divertir. Acordei com uma
manhã tranquila de sol e resolvi dar uma caminhada até o
Mercado Municipal, com a intenção de comer um sanduíche
de mortadela na velha barraca do Senhor Jairo, que existe há
mais de 30 anos no mesmo local. Logo depois que entrei no
movimentado espaço, esbarrei com Marianna e, dessa vez, foi
inevitável, nossos olhares se cruzaram diretamente:
Nossa, há quanto tempo não nos vemos! Deixe-me lhe
apresentar meu irmão Jorge, que você infelizmente não teve
oportunidade de conhecer, pois, na época, ele morava na
Áustria, onde estudava e trabalhava.
___
E, quando olhei para Jorge, vi que era o mesmo homem
que conversava com Marianna no dia anterior; um sentimento
de alegria e alívio tomou conta de mim, juntamente com
38
o pensamento de que eu ainda poderia ter alguma chance
de retomar nossa relação, mas essas emoções foram
interrompidas com o som suave de sua voz novamente:
Ah, aí estão vocês! Gustavo, esse é meu marido Roger
e nossa filha Isabel. Estamos fazendo um passeio em família,
não quer nos acompanhar?
___
E, com isso, vi aquele alívio e alegria indo embora para
bem longe. Uma completa desilusão amorosa acabara de
acontecer da forma mais improvável possível, mas aconteceu.
Estava ciente de que não poderia deixar meu sofrimento
evidente para eles, então aceitei o convite.
O que foram minutos caminhando pareceram horas.
Meu coração pesando como uma pedra. Porém, senti que
aprendera algo durante aquela viagem. Aprendi que preciso
seguir em frente, buscar meu futuro, sem olhar para trás.
39
Quem sabe, algum dia
Gabriela Rodrigues Hissa Amorim & Maria Eduarda Santos dos Reis
a partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.
Encontrei-a por acaso na noite de um
sábado.
Queria fazer uma surpresa para tio
Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo
ficara sem vê-lo. A porta da casa dele,
trancada. Imaginei que estivesse viajando
e me hospedei numa pensão perto do
teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio
e, enquanto comia, me lembrei da voz
ansiosa de tio Ran, antes de suas breves
viagens a Rio Preto da Eva.
40
Posso retirar seu prato?
pensamentos.
___
___
uma voz interrompeu meus
Era ela. Me lembrava bem de seu rosto. Os cabelos ruivos
contrastavam com sua pele pálida, preenchida por sardas, e
seus olhos verdes continuavam belos como sempre foram. Ela
também me reconheceu e abriu um sorriso.
Amanda? ___ perguntei, não acreditando que poderia ser
ela mesma.
___
Jô? Quase não te reconheci! Você mudou muito. ___ ela
respondeu, ainda sorrindo. - Então, como vai a vida? O que
você anda fazendo?
___
Ah, não faço muita coisa. No momento estou tentando
trabalhar com arte. Você sabe, sempre sonhei com isso.
___
Ah, me lembro bem. Você passava as aulas desenhando...
riu novamente. ___ E a família, tem tido notícias do tio Ran?
Sempre gostei dele, sabe...
___
___
Pra falar a verdade, vim aqui para me encontrar com ele.
Mas é uma surpresa, então não o avise!
___
Não vou contar, juro. – ela riu – Mas podemos nos
encontrar de novo, mais tarde? Agora é complicado. Trabalho,
sabe...
___
Pois é ___ respondi ___ Que tal amanhã, no shopping da
cidade, para almoçarmos?
___
___
Claro. Nos vemos lá, então.
Quando voltei para casa, continuei a recordar nossas
aventuras do tempo da escola. Fazíamos de tudo, nunca nos
separávamos. Lembrava-me de que sempre nos disseram que
podíamos ser almas gêmeas, tamanha a nossa proximidade.
Era verdade, em parte. Sempre tive uma “queda” por Amanda,
41
mas nunca contara a ela, ou a ninguém mais. Tinha medo de
estragar nossa amizade e de meus amigos caçoarem de mim.
Porém, vendo minha situação atual (nunca conseguia manterme em um relacionamento), pensei que, talvez, se tivesse
contado à Amanda sobre meus sentimentos em relação
a ela antes, tudo poderia ter sido diferente. Deixei esses
pensamentos de lado e fui deitar-me, pois o dia seguinte seria
cheio.
No domingo, nos encontramos na porta do shopping,
como combinado. Durante o almoço, discutimos sobre nossa
infância, nossas várias aventuras. Eventualmente, caímos no
tão inevitável assunto “de quem você gostava”.
Então, Jô ___ Amanda disse, sorrindo ___ Me conte seus
segredinhos. Quem era seu amor nos tempos de escola?
___
Dei uma risada fraca. Será que deveria contar a ela? Bem,
provavelmente ela ignoraria ou não daria muita importância;
muitas pessoas tinham uma queda por ela naquela época.
Talvez ela pensasse que eu gostava dela por pura influência,
ou até mesmo por ciúmes e medo de substituição. Bem, se
não contasse agora, nunca mais teria a chance. Respirei fundo
e arrisquei.
Pra falar a verdade, Amanda... Eu gostei de você por um
bom tempo.
___
Ela arqueou uma sobrancelha, levemente confusa.
___
Você tá brincando, né? Eu também gostava de você.
Me surpreendi muito com a resposta. Amanda gostava de
mim? Nunca poderia imaginar isso, nem mesmo em meus
sonhos mais loucos. Nos entreolhamos por alguns segundos.
Ela havia me contado que tinha terminado um namoro de
longa data fazia pouco tempo, e ainda estava mal por causa
42
dele. Tanto eu quanto ela estávamos em uma situação
amorosa ruim. Além disso nunca poderíamos começar um
relacionamento, pois eu planejava ir para o exterior estudar
Arte, e ela sempre quis fazer um curso de fotografia na cidade
de São Paulo. Apenas nos encaramos e sorrimos fracamente
sabendo que, talvez, se tivéssemos conversado sobre esses
sentimentos, tudo poderia ser diferente.
Quem sabe, algum dia, ainda poderemos dar certo? A vida
é cheia de possibilidades, e nós preferimos não acreditar nelas
para não arriscar o que já é certo. Talvez nos arrependêssemos
depois, mas se destino realmente existe, terminaremos lado a
lado algum dia. Quem sabe, algum dia.
43
O Chaminé
Camila Min Ji Eum & Mariana Mascaro Yazbek
a partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.
Encontrei-a por acaso na noite de um
sábado.
Queria fazer uma surpresa para tio
Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo
ficara sem vê-lo. A porta da casa dele,
trancada. Imaginei que estivesse viajando
e me hospedei numa pensão perto do
teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio
e, enquanto comia, me lembrei da voz
ansiosa de tio Ran, antes de suas breves
viagens a Rio Preto da Eva.
44
Nunca soube por que ele viajava tanto, mas quando voltava
de suas breves viagens a trabalho, trazia consigo um doce ou
um livro. Gostava de tio Ran. Era alto, com o cabelo cor de mel
sempre desarrumado e com traços do rosto bem definidos.
Saí do Sereia do rio e caminhei pelas ruas estreitas do
antigo bairro, iluminadas por algumas das lamparinas acesas
ao longo das ruas. Era bem pequeno quando passei por
aquelas ruas pela primeira vez, depois de meus pais terem
ido para bem longe para sempre, como meu tio dizia. Passei
a morar com ele, que era solteirão, mas que morava numa
enorme casa.
No começo, não gostei do bairro, cheio de portos, com
barcos de todos os tamanhos e cores, entrando e saindo, e
feiras cheias de frutas e peixes, mas agora, estando longe,
aquele lugar me fazia falta.
Chegando perto da pensão onde me hospedara, escutei
alguém me chamando, uma voz que já escutara anteriormente,
não sei quando. Virei para ver quem era. Era ruiva, tinha olhos
de esmeralda e estava debaixo de uma lamparina acesa, bem
arrumada e vestida de preto. Chorava silenciosamente e, ao
me ver, ficou com uma expressão de alívio e veio em minha
direção.
“Dolores!” exclamei indo em direção ao seu encontro, e
a moça ruiva sussurou um “Pedrinho” perto de meu ouvido,
enquanto algumas lágrimas brotaram de seu rosto ao
pronunciar o meu apelido. Seu nome era Doroteia, a filha fruto
de um relacionamento complicado de tio Ran (que depois de
sua desilusão decidiu viajar e viver a vida de solteiro), a prima
que eu mal via, mas considerava uma irmã.
Lembrei-me de nossa infância naquela cidadezinha pacata,
45
de Doroteia reclamando com tio Ran sobre eu chamá-la de
Dolores, das aventuras no jardim da casa, e de tantas outras
doces lembranças. A vida era boa quando se era jovem.
Não entendi o motivo das lágrimas, até que ela me conduziu
ao Chaminé, as mãos entrelaçadas nas minhas e segurando
o choro. A porta do teatro se abriu e mostrou um caminho
até o palco com todas as cadeiras ocupadas. Não reconhecia
nenhuma das pessoas presentes, todas estavam bem vestidas
e de preto, somente um rosto familiar em meio àquele lugar,
o melhor amigo de meu tio, André.
Ele estava no palco perto de uma caixa coberta por um
pano preto e com várias flores em cima. Uma tontura tomou
conta de mim, era a mesma cena do enterro de meus pais,
mas não, não poderia ser. Até que subi ao palco e lá estava:
uma foto de tio Ran em meio às flores em cima de seu caixão.
“Força, Pedro, força” ___ repetia André apertando o meu ombro
enquanto eu abraçava Doroteia, tentando achar o chão que,
há muito tempo, tinha estado sob meus pés.
46
Tio Ranulfo
Laura Gragnano Puttinato e Marina de Arruda Pinto D´Andrea
a partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.
Encontrei-a por acaso na noite de um
sábado.
Queria fazer uma surpresa para tio
Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo
ficara sem vê-lo. A porta da casa dele,
trancada. Imaginei que estivesse viajando
e me hospedei numa pensão perto do
teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio
e, enquanto comia, me lembrei da voz
ansiosa de tio Ran, antes de suas breves
viagens a Rio Preto da Eva.
47
Ela me disse que estava entrando de férias e que dava
graças a Deus, pois não aguentava mais as reclamações do
velho.
Tio Ranulfo era daqueles senhores rabugentos, reclamava
de tudo: da comida, de suas empregadas que não paravam no
emprego e, principalmente, pelo fato de sua querida mulher,
alguns anos mais nova que ele, ter falecido tão cedo. Isso o
deixava inquieto.
Todo dia, lembrava-se e alertava todos da família de que
queria ir para o céu para encontrar sua amada. Todos nós
sabíamos que ele não ia se matar, pois, na verdade, tinha
medo da morte. Ele nunca havia dito isso, não era preciso,
todos deduzíamos quando ele estava em seus momentos
depressivos e nostálgicos.
Meu tio tinha também seus momentos felizes, quando o
assunto eram viagens, parecia outra pessoa, sua expressão de
desgosto saía de seu rosto amargurado, enquanto a animação
e a felicidade tomavam seu lugar.
Portanto, causou-me estranheza ao chegar a sua casa e
me deparar com a porta fechada, pois, quando ele viajava,
avisava todos da família.
Passados dois dias, voltei à casa do tio Ranulfo e novamente
a porta estava trancada. O que teria acontecido? Há pouco
tempo, tio Ranulfo parecia adoentado, o que não chamou
muito nossa atenção, pois pensamos ser apenas saudade de
sua falecida esposa e não demos importância para sua saúde.
Percebo agora que os males do amor podem fazer mal ao
coração, pois, após arrombarmos a porta, encontramos tio
Ranulfo deitado em sua cama, serenamente dormindo, para
não mais acordar.
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Agora ele deve estar feliz por ter finalmente viajado para
encontrar sua querida esposa.
49
Reencontro de vidas
Anna Carla Travessa Siervo & Rafaela da Conceição Machado
a partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.
Encontrei-a por acaso na noite de um
sábado.
Queria fazer uma surpresa para tio
Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo
ficara sem vê-lo. A porta da casa dele,
trancada. Imaginei que estivesse viajando
e me hospedei numa pensão perto do
teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio
e, enquanto comia, me lembrei da voz
ansiosa de tio Ran, antes de suas breves
viagens a Rio Preto da Eva.
50
Levantei-me, paguei a conta e saí. Andava pelas ruas
sentindo o vento em meu rosto e observando aquela grande
lua. Meu Deus, como estava grande! Tio Ranulfo dizia que nós
dois juntos significávamos algo.
Estava chegando à pensão, quando recebi um telefonema
de algum número desconhecido:
— Alô? Aqui é do hospital. O senhor é João, sobrinho de
Seu Ranulfo?
— Sim, o que aconteceu?
— Desculpe-nos dar-lhe essa informação por telefone, mas
é urgente... ___ instintivamente, prendi a respiração, esperando
o pior ___ Ele sofreu um gravíssimo acidente de carro. Não sei
quanto tempo ainda... sinto muito.
Caí de joelhos na rua, meu coração acelerou e minha
visão começou a embaçar. Nada mais ouvia além de meus
batimentos. Tudo a minha volta começou a girar.
Limpei as lágrimas que se derramavam em meu rosto.
Desesperado, procurei um táxi livre. Em meio ao meu torpor,
peguei o táxi e, vagamente, pedi que fosse o mais rápido
possível para o hospital. Tinha que vê-lo uma última vez.
Necessitava vê-lo, afinal, ele era como um pai para mim.
Nem perguntei ao taxista o valor do trajeto, abri minha
carteira e dei-lhe uma quantia em dinheiro. Saí o mais rápido
possível do carro, entrei no hospital, aproximei-me do balcão
e perguntei sobre a entrada de um paciente chamado Ranulfo
com graves ferimentos. Mandaram-me diretamente à sala do
médico.
Entrei na sala e fixei meus olhos logo à frente. Pronto. Foi
o fim de minhas esperanças. Ali naquela sala encontrava-se o
rosto mais sofrido que algum dia já poderia ter visto.
51
A partir daquele dia, já não vivia mais. Ficava à deriva pelas
ruas, desolado. Lado a lado com lágrimas e solidão. Não falava
com ninguém, não sorria. Começava a preocupar as pessoas
que uma vez me amaram. Aquele não era eu, bem sabia, mas
o que podia fazer? Estava abalado, como nunca pensara que
poderia ficar, mas, às vezes, uma surpresa nos encontra no
meio do caminho.
Era noite, um sábado. Folhas voavam, e a lua iluminava
minha solitária alma. Pensava em desistir da vida. Não tinha
mais razão para viver, não queria passar toda a minha vida
nesse abismo. E foi ali que a encontrei, toda de preto, pairando
à minha frente.
Eu estava fraco, eu não comia direito, não sei se foi
apenas uma ilusão, era linda. Tinha um olhar misterioso, mas
um jeito delicado e doce. Enquanto ela se aproximava, um
arrepio tomava o meu corpo. O seu toque era gelado, mas me
acalmava.
— Feche os olhos ___ disse a Morte ___ , iremos encontrá-lo.
52
Saudade
Giulia Martinelli Casulli & Paloma Lucia Ramirez
a partir da introdução do conto Dois Tempos, de Milton Hatoum.
Encontrei-a por acaso na noite de um
sábado.
Queria fazer uma surpresa para tio
Ranulfo, nem me lembrava quanto tempo
ficara sem vê-lo. A porta da casa dele,
trancada. Imaginei que estivesse viajando
e me hospedei numa pensão perto do
teatro Chaminé. Jantei no Sereia do rio
e, enquanto comia, me lembrei da voz
ansiosa de tio Ran, antes de suas breves
viagens a Rio Preto da Eva.
53
Em meio às boas recordações, uma voz feminina me
chamava. Era ela, minha tia, extrema coincidência. Logo se
aproximou com aquele seu ar todo alegre e inspirado, sempre
com algo novo para contar, perguntando sobre minha vida.
Sem hesitar, levantei-me e a abracei.
— Nossa, tia, quanto tempo! Como foi de viagem?
— Ah, não muito bem. Você sabe como o seu tio não gosta
de distanciar-se da família. Enfim, fiquei sabendo pela sua
prima que viria nos visitar, por que não se hospeda em casa?
Sabe muito bem que será recebido com o maior prazer pela
família. Seu tio comentou sobre você estes dias. Falou que
havia se formado, um orgulho imenso!
— Sim, tia, faz tempo que não nos falamos. Com toda
essa pressão para o vestibular, não tive muito tempo para
encontrar quem gosto. Mas agora, tendo terminado, decidi
fazer uma surpresa, estava com saudade! Só não fiquei em
sua casa, pois, quando cheguei, estava vazia, e logo concluí
que ainda não tinham retornado da viagem. Mas fale sobre
meu tio, onde ele está?
— Conhece o Ranulfo, não é?! Está em casa vendo os seus
antigos filmes nem quis saber de sair para jantar.
Ficamos conversando horas a fio, pagamos a conta e
fomos para a casa da tia Anastácia. O caminho foi silencioso,
seguido por um ar nostálgico, de recordação. Ao chegarmos,
as luzes estavam apagadas. Abrimos a porta com cautela,
imaginando que todos estivessem dormindo por ser quase
meia-noite. Sentei-me no sofá, enquanto minha tia preparava
algumas xícaras de café. Ficaria lá por poucos dias. Mas queria
aproveitar ao máximo nosso tempo juntos.
Depois de alguns minutos, vimos uma luz vindo do
54
corredor. Era tio Ranulfo. Estava muito animado, vinha em
minha direção ansioso, seu sorriso contagiava. Entretanto,
no momento em que levantei do sofá para abraçá-lo, tio Ran
parou. Não se deslocava mais rumo a mim. Estava caindo.
Seu corpo rapidamente encontrou o chão de maneira brusca,
batendo a cabeça e a coluna. Tio Ranulfo sofrera um infarto
súbito. Eu e tia Anastácia estávamos perplexos.
— Ranulfo! Fale comigo, por favor, eu te imploro. Não faça
isso, agora não. Eu preciso de você. RANULFO!— disse minha
tia apavorada.
— Tio, sou eu, seu sobrinho, Tiago. Você não pode partir
sem falar comigo, não pode! Eu preciso ouvir a sua voz. E a
saudade? Por favor, não!
Fui correndo pegar o telefone para chamar a ambulância,
mas era tarde. Minha tia verificou sua pulsação. Não adiantava
mais. Ligamos para seu médico, e este nos informou sobre
uma doença. Tio Ranulfo sabia que tinha um problema
cardiovascular, mas nunca contara a ninguém.
Eu e tia Anastácia estávamos desamparados. Uma noite
agradável e feliz havia se transformado em tristeza sem fim.
Não sabíamos o que fazer, estávamos em prantos. Ficamos
parados, ali, em frente ao seu corpo, pensando nos bons
momentos que havíamos passado juntos. Sua existência foi
marcante.
“A vida tem dessas, nunca sabemos o que poderá acontecer,
o jeito é viver o hoje e não nos preocuparmos com o amanhã,
aproveitar ao máximo enquanto podemos.” Repetia sempre
essa frase e, por isso, não gostava de ficar longe da família ou
de sair de casa, temia morrer sem estar com as pessoas que
amava.
55
Tia Anastácia não tinha dúvida de que ele fora muito feliz.
Partiu com um leve sorriso de satisfação no rosto, tinha visto
a pessoa de quem mais se orgulhava junto à pessoa que mais
amava: eu e minha tia.
56
57
58
EXÍLIO
Milton Hatoum
Dezembro, 1969
M.A.C. decidiu ir a pé até a rodoviária: comeria um pastel
e seguiria para a W3. Numa tarde assim, seca e ensolarada,
dava vontade de caminhar, mas preferi pegar o ônibus uma
hora antes do combinado: saltaria perto do hotel Nacional,
desceria a avenida contornando as casas geminadas da W3.
A cidade ainda era estranha para mim: espaço demais para
um ser humano, a superfície de barro e grama se perdia no
horizonte do cerrado. A Asa Norte estava quase deserta, era
sexta-feira, e só às três da tarde alguns estudantes saíram dos
edifícios mal conservados. Do campus vinham os mais velhos:
universitários, professores, funcionários, a turma escaldada. A
liderança era invisível, os mais perseguidos não tinham nome:
surgiam no momento propício, discursavam, sumiam. Valmor
não quis ir: medo, só isso. Medo de ser preso, disse ele.
Zombavam do Valmor, escarneciam do M.A.C., medroso
como um rato, mas agora até o M.A.C. sairia da toca e quem
sabe se na próxima vez Valmor...
A revolta se irmanava ao medo, às vezes ao horror, mas a
multidão nos protegia e naquela tarde éramos milhares. Os
militares esperaram o tumulto explodir na W3, depois veio o
cerco e quase perfeito: nas extremidades e laterais da avenida,
59
nos dois Eixos e nos pontos de fuga da capital. Às cinco ouvimos
os discursos- relâmpagos, urramos as palavras de ordem,
pichamos paredes e distribuímos panfletos. A dispersão
começou antes de escurecer. Ninguém iria ao Beirute, um
bar visado pela polícia, nem ao Eixo Rodoviário, uma praça
de guerra. No corre-corre saí da W3, passei pelos fundos de
lojas e bares, tentando caminhar sem alarde, assobiando, e o
céu ainda azul era a paisagem possível. Nunca olhar para trás
nem para os lados, nunca se juntar a outros manifestantes,
fingir que todos os outros são estranhos: instruções para
evitar gestos suspeitos. Até então nenhum rosto conhecido,
e a catedral inacabada e o Teatro Nacional não estavam tão
longe. Ficaria por ali à espera da noite, anunciada pela torre
iluminada.
A dispersão e a correria continuavam, e o mais prudente
era ficar sentado no gramado da 302 ou da 307 e assistir ao
bate-bola das crianças. Amanhã um passeio de bote com
Liana no lago Paranoá, domingo a releitura de “Huit-Clos” [de
Sartre] para o ensaio da peça. Se viver fosse apenas isso e se a
minha voz (e não a de outro) gritasse meu próprio nome, duas,
três vezes... Assustado, reconheci a voz de M.A.C., o corpo
cambaleando em minha direção. A rua e a quadra comercial
foram cercadas como num pesadelo, tentar fugir ou reagir
seria igualmente desastroso. Depois de chutes e empurrões,
eu e o meu colega rumamos para o desconhecido. M.A.C. quis
saber para onde íamos, uma voz sem rosto ameaçou: calado,
mãos para trás e cabeça entre as pernas.
O trajeto sinuoso, as curvas para despistar o destino da
viatura, manobras que apenas imaginávamos e agora estava
acontecendo. Pobre M.A.C., era o mais retraído da segunda
série, misterioso como um bicho esquisito. Tremia ao meu
lado, parecia chorar e continuou a tremer quando saltamos
60
da viatura e escutei sua voz fraca: sou menor de idade, e
logo uma bofetada, a escolta, o interrogatório. Ainda virou a
cabeça, o rosto pedindo socorro...
Não o vi mais na noite longa. Eu também era menor de
idade e escutei gritos de dor no outro lado de uma porta
que nunca foi aberta. Em algum lugar perto de mim, alguém
podia estar morrendo, e essa conjetura dissipou um pouco
do meu medo. Na noite do dia seguinte, me deixaram na
estrada Parque Taguatinga-Guará. A inocência, a ingenuidade
e a esperança, todas as fantasias da juventude tinham sido
enterradas.
Na segunda-feira, M.A.C. não foi ao colégio nem
compareceu aos exames. Mais um desaparecido naquele
dezembro em que deixei a cidade. Durante muito tempo a
memória dos gritos de dor trazia de volta o rosto assustado
do colega.
Trinta e dois anos depois, na primeira viagem de volta à
capital, encontrei um amigo de 1969 e perguntei sobre M.A.C.
“Está morando em São Paulo”, disse ele. “Talvez seja teu
vizinho.” “Pensei que tivesse morrido.”
“De alguma forma ele morreu. Sumiu do colégio e da
cidade, depois ressuscitou e foi anistiado.”
“Exílio”, murmurei.
“Delação”, corrigiu Carlos Marcelo. “M.A.C. era um dedoduro. Entregou muita gente e caiu fora.”
Senti um calafrio, ou alguma coisa que lembra o medo do
passado.
61
Minutos de Esperança
Catharina Gaidzinski Rosa e Silva & Lara Del Bianco Alves
a partir da introdução do conto Exílio, de Milton Hatoum.
Dezembro, 1969
M.A.C. decidiu ir a pé até a rodoviária:
comeria um pastel e seguiria para a W3.
Numa tarde assim, seca e ensolarada, dava
vontade de caminhar, mas preferi pegar
o ônibus uma hora antes do combinado:
saltaria perto do hotel Nacional, desceria
a avenida contornando as casas geminadas
da W3. A cidade ainda era estranha para
mim: espaço demais para um ser humano,
a superfície de barro e grama se perdia no
horizonte do cerrado. A Asa Norte estava
quase deserta, era sexta-feira.
62
Eu era um simples jovem adulto metido a escritor, um sem
família que ganhava a vida como “faz-tudo”. Já M.A.C., não. Eu,
na verdade, até aquele ponto nem sabia quem ele era, ou qual
era seu nome real. Nunca o tinha visto pessoalmente. Porém,
falando a verdade, eu nem me preocupava com isso. Ele era
meu aliado, mas apenas contra o governo e suas barbaridades.
Nós simplesmente nos comunicávamos por cartas, e foi assim
que combinamos tudo. Logo eu soube um pouco sobre a vida
dele: era um senhor respeitável, beirando os 50 anos, dono de
uma lanchonete, com dois filhos e esposa. Mas não tínhamos
muitas oportunidades de nos conhecer, a não ser em alguma
manifestação. A única coisa que tínhamos em comum era a
vontade de ter uma voz e podermos ajudar o nosso Brasil. Eu
não queria virar socialista, não, de jeito nenhum. Eu queria
era poder votar, e votar em alguém que não manipularia o
nosso povo. O fato era: talvez, algum dia, a ditadura militar
pudesse acabar. E com isso, sim, eu me preocupava. E então lá
fui eu, rumo a mais uma das manifestações contra a opressão
em que vivíamos..
Cheguei não muito cedo, nem muito tarde. Várias pessoas
já aguardavam, excitadas, pela manifestação. Avistei, de
longe, alguns conhecidos, que acreditei terem abarcado a
minha causa. Estes, por sua vez, convidaram outras pessoas,
que então convidaram outras e mais outras. Mas eu não
tinha tempo para parar e conversar. Eu estava determinado,
não podia perder o foco. Combinamos algumas estratégias e
seguimos passo a passo. Após algum tempo, mais gente aderiu
à passeata. Eu já tinha participado e até mesmo ajudado a
começar algumas manifestações, mas nenhuma até agora
fora tão grande. Isso só aumentou minhas esperanças.
Depois de algum tempo protestando, exibindo meus
olhos brilhantes de orgulho e erguendo cartazes de oposição,
63
eu já tinha esquecido completamente de M.A.C. Eu estava
realizado, minhas correntes elétricas estavam à flor da pele.
Foi aí que, num piscar de olhos, vi muita gente sendo agredida,
arrebatada! Era o nosso pesadelo: os militares haviam entrado
em combate.
Vi cenas aterrorizantes que nunca imaginei que veria
pessoalmente. As pessoas sangravam, muito machucadas,
por resistirem à tentativa dos militares de as levarem.
Outras corriam horrorizadas tentando fugir. Foi aí que tudo
se transformou em breu. Eu não via nada, não sentia nada.
Então acordei numa cela, escura e malcheirosa. Eu estava
acorrentado, não podia me mexer. Sentia muita tontura.
Minha cabeça doída. Presumia que tivesse sido acertado por
um cassetete. Então, logo vi um homem, acorrentado ao meu
lado.
— Boa tarde — disse ele — você também estava na
manifestação na W3?
Respondi positivamente com a cabeça e então pude ver
seu rosto arrebentado.
— Meu nome ém Manuel Armando de Carvalho, a
propósito.
E contou-me de sua vida, talvez na esperança de que
alguém fosse testemunha de sua passagem por ali.
— Nós seremos mortos, sabia?
Fiz que sim com a cabeça novamente.
— Há muito tempo me oponho aos milicos tentando uma
forma que dê resultado. Imagino se agora tenha dado —
terminou, dando leves risadas irônicas.
64
E continuamos a conversa, ou, pela percepção de uns, ele
continuou a conversa.
— Do que gosta?
Eu continuava meio confuso e sem vontade alguma de
falar. Sem resposta, ele continuou:
— Eu gosto de escrever cartas. Escrevo para muita gente.
Mas alguns deles nem sabem quem eu realmente sou. Assino
com as iniciais.
Foi aí que comecei a me dar conta, tudo fazia sentido.
Mulher, dois filhos, cartas, manifestação na W3, M.A.C...
Então ouvi um grunhido. Era a porta da cela abrindo. Dois
militares robustos, sem se manifestarem, tiraram as algemas
de M.A.C , pegaram-no pelos braços e saíram levando-o de
forma grosseira. Seria a primeira e última vez que eu o veria. E
eu sentia culpa por isso. Ele morreria sem nem mesmo saber
que nos conhecíamos já fazia algum tempo. Então, continuei
ali, sozinho, não pensando no que poderia acontecer, mas, no
fundo, eu já sabia, e temia. Até que ouvi o mesmo grunhido
que ouvira quando M.A.C. fora levado. Eram os militares,
prontos para me levar para o meu abate.
Entrei numa sala escura, nada convidativa. Fui amarrado
num pau-de-arara, sabendo que era o meu fim. Ouvia gritos
nas salas ao lado, gritos de horror, de perdão, de pedidos de
piedade. Mas eu não queria gritar. Eu temia morrer, mas não
adiantaria. Eu era só mais um dentre muitos que lutavam
contra as forças militares do país. Havia muitos brasileiros,
mas um só governo. Eu era só mais um, mas um “só mais um”
que morreria tentando abrir o olho do país. Eu sentia minhas
costas quentes, uma dor interminável, o sangue escorrendo
da nuca.
65
Confiança demais
Fernanda Sanchez Bachega & Maria Antonia Kluger de Campos Mello
a partir da introdução do conto Exílio, de Milton Hatoum.
Dezembro, 1969
M.A.C. decidiu ir a pé até a rodoviária:
comeria um pastel e seguiria para a W3.
Numa tarde assim, seca e ensolarada, dava
vontade de caminhar, mas preferi pegar
o ônibus uma hora antes do combinado:
saltaria perto do hotel Nacional, desceria
a avenida contornando as casas geminadas
da W3. A cidade ainda era estranha para
mim: espaço demais para um ser humano,
a superfície de barro e grama se perdia no
horizonte do cerrado. A Asa Norte estava
quase deserta, era sexta-feira.
66
Como adorava comer pastel, pedi uma informação para
um homem que estava na rodoviária, até que bem vestido e
parecia ser uma boa pessoa.
— Com licença, sou novo aqui na cidade e adoraria comer
um bom pastel.
— Somos dois! Estava só esperando o ônibus passar por
aqui para me levar até perto da pastelaria do Zequinha, que
fica do outro lado da cidade!
Confiei no rapaz, pois me parecia um homem honesto.
Entramos juntos no ônibus. Papo vai, papo vem, e, quando
me dei conta, já tinha falado demais sobre minha vida pessoal.
O rapaz se chamava Rogério e continuou me perguntando
discretamente sobre minha vida, só que comecei a ficar
atento e a disfarçar nas respostas e nas minhas feições de
preocupação.
Tentando mudar de assunto, perguntei a Rogério sobre sua
vida. Isso também servia para mostrar que eu não achava nada
demais perguntar sobre a vida pessoal dos outros. Juntando
todas as informações, descobri um pouco da vida dele; não
tinha filhos nem esposa, morava sozinho numa casa afastada
da cidade.
Após um bom tempo, o ônibus parou, olhei pela janela
e parecia um deserto, não tinha nada. Fiquei um pouco
assustado, pois pensei que o ônibus tinha quebrado, mas,
na verdade, era ali a parada. Rogério falou que tínhamos de
descer. Achei muito estranho, mas, mesmo assim, desci, e a
primeira coisa que ele falou foi para eu obedecer-lhe, já que
agora sabia muita coisa sobre minha vida.
No ônibus, já estava amedrontado, no entanto, depois que
ele me falou aquilo, minhas mãos começaram a tremer, e meu
67
coração parecia querer sair pela boca.
Começamos a andar por um bom tempo e chegamos até
um posto de gasolina, onde Rogério me falou para ir até uma
máquina e retirar todo o dinheiro que eu possuía. Para minha
própria segurança, decidi que deveria sacar o dinheiro.
Entreguei-o a Rogério que me arrastou até o banheiro do
posto e lá tirou tudo de mim, tirou minha vida.
68
O Encontro
Ana Carolina Rached Catelli & Lara Carneiro Feres
a partir da introdução do conto Exílio, de Milton Hatoum.
Dezembro, 1969
M.A.C. decidiu ir a pé até a rodoviária:
comeria um pastel e seguiria para a W3.
Numa tarde assim, seca e ensolarada, dava
vontade de caminhar, mas preferi pegar
o ônibus uma hora antes do combinado:
saltaria perto do hotel Nacional, desceria
a avenida contornando as casas geminadas
da W3. A cidade ainda era estranha para
mim: espaço demais para um ser humano,
a superfície de barro e grama se perdia no
horizonte do cerrado. A Asa Norte estava
quase deserta, era sexta-feira.
69
Sentia falta dos velhos tempos, no interior de São Paulo,
onde nasci e cresci. Me sentia num completo exílio, longe
de meus amigos e da minha família. Vim para cá por conta
da ditadura. Sou escritor, e meus livros foram censurados.
Me senti na obrigação de me mudar por causa do medo e
da perseguição com que os escritores censurados lidam.
Era apenas uma passagem, eu logo iria para a Europa, onde
me sentiria seguro. Meu endereço no interior já tinha sido
visitado pelos militares. E parei de me comunicar com minha
família para não prejudicá-la.
Como ia dizendo, as ruas da Asa Norte estavam vazias. O
silêncio dominava. Era quase a hora do almoço, então decidi
tomar um lanche e me encontrar logo com o M.A.C.
Cheguei no horário certo, esperando M.A.C com ansiedade.
Quando ele finalmente chegou, com seus óculos escuros e
seu terno formal, se surpreendeu com o meu short simples
e minha camiseta barata. Eu estava quase sem dinheiro,
e ele era o meu único recurso. Éramos amigos de infância.
Estudávamos na mesma escola. Certa vez chegamos até a
brigar pelo coração de uma garota. Ele estava fino e elegante
e eu... Eu estava desajeitado, de qualquer jeito. Para mim
estava ótimo, mas perto dele me senti envergonhado. M.A.C
continuava o mesmo chato e metido de sempre.
Ele me fez uma proposta de trabalho. Não escutei muito
bem qual era, mas aceitei sem pensar duas vezes, afinal,
estava precisando de um emprego urgente, ou não teria como
sobreviver. M.A.C me mandou assinar um papel, eu queria
tanto o emprego que nem pensei, e assinei mesmo sem ler.
E ele me disse que eu já o tinha conseguido, e meu primeiro
dia seria o seguinte mesmo, às 8h, e me deu um cartão com
o endereço.
70
Saí de lá aliviado por ter conseguido um emprego, mas
estava com medo. Não havia escutado do que o se tratava e,
além disso, achei estranho ele já ter me contratado, eu apenas
havia aceitado a proposta e assinado um papel. Enfim, o que
importava era que eu conseguira o que queria.
Fui para o apartamento que aluguei, ele era velho e
pequeno. Tudo que conseguira com o que restavam de minhas
economias. Isso mudaria com o emprego que arrumara, com
ele conseguiria comprar minha própria casa.
O dia passou rápido, acordei feliz, aquele seria meu
primeiro dia de trabalho. Passei em uma padaria, tomei um
café e comi duas torradas e fui para o local combinado.
Como não achei um ônibus que fosse até o local do meu
novo emprego, eu chamei um táxi, gastando minhas últimas
economias. Quando disse o endereço para o taxista, ele me
olhou com uma expressão estranha, mas não disse nem
perguntou nada.
Comecei a perceber que havia algo de errado: estávamos
em uma estradinha de terra. Até que, por fim, o taxista parou
em frente a uma base militar. Será que eu tinha me alistado
no exército sem saber?
Estava me aproximando, quando um cerco de mais de
trinta militares se fechou ao meu redor. Nossa, como eu
odiava aqueles homens. Foi então que eu vi o M.A.C usando
um uniforme de general. Ele fez um sinal com a mão direita
e todos os homens, ao mesmo tempo, sacaram suas armas,
prontos para atirar. A última coisa da qual me lembro foi um
clarão e depois a escuridão total.
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UM ORIENTAL NA VASTIDÃO
Milton Hatoum
Para Drauzio Varella
À memória de Maria Lucia Medeiros, Lucinha
A voz de um estrangeiro pronunciou meu nome,
e o homem identificou-se: cônsul do Japão em
Manaus. Pediu-me que fosse encontrá-lo depois
do almoço no porto. Às duas horas, no barco do
consulado, acrescentou.
Podia adiantar o assunto?
Kazuki Kurokawa, disse o cônsul, secamente.
Ele está em Manaus?
Não posso explicar agora.
Agradeceu, despediu-se e desligou o telefone.
Kazuki Kurokawa: ainda me lembrava dele e
guardara o presente que me deu durante sua
breve passagem por Manaus. Eu era pesquisadora
e trabalhava no Departamento de Cooperação
Científica da Universidade do Amazonas quando
75
recebi um fax de Kazuki Kurokawa: queria fazer um passeio
pelo rio Negro, mas só podia passar dois dias na cidade.
Não mencionou reuniões de trabalho com pesquisadores
da universidade nem do INPA. Ao ler seu currículo, soube
que ele era biólogo de água doce e professor aposentado
da Universidade de Tóquio. Experiência de campo na África
portuguesa e nas Filipinas.
Fiz uma reserva no hotel Tropical e às treze horas de
um sábado fui ao aeroporto. Quando a porta da sala de
desembarque se abriu, um bafo quente e úmido paralisou
os passageiros. Desse torpor surgiu um homem miúdo,
carregando uma sacola vermelha, Os olhinhos apertados e
vivos procuraram a placa com o seu nome, e logo a cabeça
branca veio na minha direção. Não parecia combalido pelo
fuso horário, nem pelas vinte horas de voo com três escalas,
nem pelo calor do começo da tarde. Com reverência, me
ofereceu um pequeno estojo com tampa de madeira. Dentro
do estojo vi um rolinho de papel-arroz com ideogramas.
Uma lembrança do Japão, ele disse, com sotaque de
Portugal.
Pedi que traduzisse os ideogramas.
“No lugar desconhecido habita o desejo.”
Sem saber o que dizer ou comentar, agradeci de novo e
disse que ia acompanhá-lo até o hotel.
Vamos direto ao porto, ele disse.
Tinha certeza de que não queria descansar? Depois
comeríamos uma peixada...
Recusou, balançando a cabeça e sorrindo. E então revelou
um sonho antigo, desde a infância: viajar pelo rio Negro.
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Sua profissão levara-o a terras distantes e, em cada rio que
navegava na África e na Ásia, aumentava o desejo de conhecer
o maior afluente do Amazonas. Não tinha tempo para uma
longa viagem. E acrescentou: tempo de vida.
Quer dizer que tinha vindo de tão longe só para dar um
passeio pelo rio Negro?
Mas isso é tudo, resumiu Kurokawa.
Uma sacola era sua única bagagem. Fomos de táxi ao porto
da Escadaria e, no trajeto, passamos em frente ao teatro
Amazonas, que Kurokawa admirou em silêncio. No porto,
acenei para Américo, um dos barqueiros que ficavam na beira
da praia, à espera de turistas. Kurokawa quis ir sozinho até o
Mercado Municipal: só ia dar uma olhada nos peixes e ver as
pessoas.
Ele veio de São Paulo?, perguntou Américo.
Do Japão, eu disse.
Combinei com Américo o itinerário do passeio: desceríamos
o paraná do Careiro até a costa do Murumurutuba, ilha do
Maneta e voltaríamos pelo rio Amazonas, com uma parada
no encontro das águas. No máximo duas horas. Américo
concordou e esticou o beiço para a praia: Kurokawa conversava
com uma cabocla. Pareciam animados com a conversa; o
cientista tocou no ombro da mulher, e os dois riram quando
ele apontou o rio Negro. Despediu-se com um aperto de mão
e caminhou até o barco com passos apressados, chapéu de
palha na cabeça. Comprara também uma isca de corrico, um
carretel de linha de náilon e uma rede vermelha com listas
brancas. Agradeceu a espera, pôs a tralha no barco e ficou de
pé no convés. Américo, talvez para se exibir, tocou o sininho
da partida.
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Atravessamos o rio Negro e entramos no furo do Paracuúba.
Kurokawa não trouxera máquina fotográfica, filmadora, nada.
No meio do furo, ele disse:
Vamos sair nos lagos de águas claras, não é? Depois vamos
descer o Solimões até o Amazonas. O mesmo rio com nomes
diferentes.
Américo diminuiu a velocidade: como ele sabia disso?
Kurokawa sorriu, os olhinhos quase fechados, deixando
uma ponta de mistério, que só cresceu durante o passeio.
Depois disse que havia lido alguma coisa sobre a fauna e a
flora do rio Negro: conhecia as pesquisas de Ducke, O’Reilly
Sternberg e Vanzolini. E explicou, usando termos científicos,
por que as águas do Negro eram escuras como a noite. Passou
o resto da viagem calado, observando a floresta, os lagos e o
rio. Tive a impressão de que ele sabia mais coisas do que eu,
mais do que Américo, e que aquele passeio era uma viagem
de reconhecimento.
De volta ao porto, Kurokawa não arredou o pé do barco.
Sentado na proa, observava o rebuliço na praia. Então ele se
levantou, aproximou-se de mim e segurou minhas mãos. Os
olhinhos dele me encararam por alguns segundos. Disse que
não queria tomar meu tempo. Ainda apertava minhas mãos
quando prosseguiu:
Se a senhora não se importar, alugo o barco do comandante
Américo e faço uma viagem. A minha viagem. Armo a rede
no convés e durmo aqui mesmo. Segunda-feira de manhã eu
entrego o barco para o comandante e vou direto ao aeroporto.
Insisti para que o barqueiro o acompanhasse. Kurokawa
agradeceu, queria viajar sozinho.
Américo concordou. E eu desconfiei: já deviam ter acertado
78
alguma coisa durante o passeio. Temi pelo velho cientista
navegando sozinho por aquele mundo de água. Mas era um
desejo, um sonho dele. Kurokawa parecia resoluto; desceu do
barco para se despedir de mim. Afastou-se de Américo e disse
em voz baixa: Vou voltar... Um dia vou voltar, e a senhora será
convidada para fazer outro passeio.
Nunca mais o vi. De vez em quando me lembrava da figura
magra e pequena, o olhar extasiado nas margens do Negro e
do Amazonas. Meses depois, quando encontrei Américo no
Mercado Municipal, perguntei sobre Kurokawa. Entregara o
barco na hora combinada?
Hora e lugar, disse Américo. Quase não reconheci o japonês.
Moreninho, parecia um caboclo de cabeça branca. E ainda
aprendeu umas palavras da nossa fala. Me disse: Obrigado,
mano, teu barco é pai-d’égua. Pagou o dobro do que pedi.
Curvou a cabeça, agradeceu em japonês e deu adeus com
um sorriso miúdo. Eu disse: Arigatô, saionara, Kurokawa San.
Palavras que aprendi com turistas. Mas aquele Kurokawa não
era turista. Será que ele vai voltar?
Pensava na pergunta de Américo quando fui ao encontro
do cônsul e seu secretário. Os dois vestiam terno e gravata
e estavam muito sérios. Na popa da lancha do consulado, a
bandeira do Japão entre as do Amazonas e do Brasil.
A senhora fez uma viagem com o professor Kazuki
Kurokawa, disse o cônsul. Há uns quatro anos, não é?
Confirmei, e perguntei por ele.
Depois esclareço. Agora peço que a senhora nos
acompanhe. Vamos subir o rio Negro. Viagem por conta do
governo do Japão.
Disse que eu não podia demorar, pois tinha que voltar ao
79
trabalho no campus.
Nosso embaixador pediu autorização da reitoria, disse
o cônsul, mostrando uma folha de papel timbrado com a
assinatura do reitor.
Subimos o rio Negro durante mais de três horas. Ninguém
dizia nada sobre aquela viagem a um lugar desconhecido.
Atravessamos o arquipélago das Anavilhanas, e mais acima
da ilha do Cumprido o barco entrou num afluente do Negro.
Lembro de ter visto um motor carregado de piaçaba, e outro
que fisgava peixes ornamentais. O sol começava a declinar,
as margens se estreitavam, e já não se viam palafitas nem
canoas. Nenhum sinal humano. Um bando de periquitos
encheu o fim da tarde com ruídos estridentes. Logo depois, o
céu silenciou. E o silêncio subtraiu a noção do tempo. Quando
entramos num outro rio ainda mais estreito, o comandante
apontou o mapa: paraná da Paz. O cônsul fez um sinal com
as mãos, o barco navegou lentamente, sombreado por uma
vegetação alta e espessa; depois seguiu por uma curva que
parecia terminar na floresta. O comandante desligou o motor,
e com um varejão ele conduziu o barco entre galhos e plantas
aquáticas até alcançar um remanso. Era um remanso grande,
quase um lago, ou belo como um lago de águas espelhadas.
Um círculo de águas calmas. O cônsul carregou uma caixa de
madeira para a proa, abriu-a, e tirou de dentro outra, menor,
coberta por uma bandeira do Japão. Com um gesto solene,
ele pendurou a bandeira na parede da cabine e se dirigiu a
mim:
O professor Kurokawa deixou uma carta-testamento. Pediu
duas coisas: que as cinzas do corpo dele fossem espalhadas
nas águas deste lugar. E que a senhora fizesse isso.
Lembrei da tradução dos ideogramas e fiquei emocionada.
80
Quase ao mesmo tempo me surpreendi com a notícia da
morte de Kurokawa. Pensei nele com saudade. E não escondi
minha tristeza. Demorei um pouco para perguntar: Por que as
cinzas aqui?
Ninguém sabe, disse o cônsul. Só ele sabia. Agora faço esse
pedido em nome do governo do Japão.
O cônsul tirou uma bússola do bolso. Ele e o secretário se
viraram para um ponto oposto ao do crepúsculo. O Oriente.
Por favor, espalhe as cinzas sem pressa. Assim temos
tempo para a cerimônia.
Perfilados, os dois começaram a cantar o hino do Japão,
enquanto eu enchia as mãos de cinzas e as jogava lentamente
na água serena. Cinzas do cientista Kazuki Kurokawa. Repetiram
mais duas vezes o canto do hino, breve, e, quando a cerimônia
terminou, o sol sumia na selva, deixando um vestígio vermelho
na natureza. Em silêncio, eles contemplaram o outro lado do
horizonte e curvaram o corpo. Eu os imitei.
Depois, diante da vastidão, recordei a tradução dos
ideogramas e indaguei calada a razão misteriosa das cinzas do
cientista no fundo do rio Negro. Não havia mais claridade, e a
superfície escura do remanso alcançava o céu.
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Um tal Sr. Kiichi
Bernardo Mascarenhas Ganem & Felipe Paixão Côrtes Centeno
a partir da introdução do conto Um oriental na vastidão, de Milton Hatoum.
A voz de um estrangeiro pronunciou
meu nome, e o homem identificou-se:
cônsul do Japão em Manaus. Pediu-me
que fosse encontrá-lo depois do almoço
no porto. Às duas horas, no barco do
consulado, acrescentou.
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Nunca tinha visto aquele cidadão em toda minha vida. Se
vi, não me lembrava. Mas, de qualquer modo, a curiosidade
me obrigava por um motivo desconhecido a ir ao encontro
daquele japonês.
No caminho para o encontro, me perguntei o porquê
daquele ilustre japonês ter convidado a minha humilde
pessoa. Andando pelas ruas de Manaus, perguntas desse tipo
teimavam em não sair de minha cabeça, mas, mesmo assim,
eu tentava esquecê-las, já que problemas não me faltavam.
Cheguei ao cais do porto com pontualidade britânica. Não
tive dificuldades em achar o tal barco. Era belo e grande,
vermelho e com palavras escritas em japonês. No seu casco,
estava escrito “Consulado do Japão” em letras garrafais. Ao
me aproximar, me deparei com dois seguranças japoneses na
porta: um tinha bigodes longos e o outro rabo de cavalo.
Me disseram que o Sr. Kiichi me aguardava no interior do
barco. Logo que entrei, Sr. Kiichi disse com voz grossa, porém
suave:
— Tome assento, por favor.
— Perdão, desculpe-me a curiosidade, mas do que se trata
a conversa? — questionei-o.
— Do seu pedido — respondeu-me.
Na hora não entendi do que se tratava, mas depois lembreime do pedido que havia feito ao banco para financiar minha
casa própria. Mas por que um cônsul japonês era quem me
dirigia a palavra?
— O senhor fez seu pedido no mês passado, certo? —
perguntou-me.
— Certo — respondi com firmeza.
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— O senhor está certo disso?
— Sim.
— Muito bem, Sr.Mattos, considere-se um japonês!
Aquele nome soou estranho aos meus ouvidos. Perguntei:
— Perdão, poderia repetir meu sobrenome?
— Sr. Mattos. Não é o senhor que pediu a troca de
nacionalidade?
Tudo se esclareceu naquele instante. O estranho e ilustre
cônsul do Japão, o barco e toda essa conversa sem clareza.
Percebi que havia um engano. Meu sobrenome é Matto e não
Mattos. Também não pedi nenhuma troca de nacionalidade,
apenas um empréstimo. Haviam confundido meu nome
com o de um estranho, coincidentemente com o sobrenome
parecido.
Esse engano foi causado apenas por uma troca de
sobrenomes diferenciados por uma letra e uma mera
coincidência.
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ILUSTRANDO O CONTANDO
Os alunos dos 9os anos ilustraram, individualmente, trechos
(início, meio ou fim) dos contos de Milton Hatoum: Dois
tempos, Exílio e Um oriental na vastidão. Antes de iniciar a
produção, os alunos leram na íntegra o conto escolhido.
Doze ilustrações que melhor retrataram os contos do autor
homenageado do Contando, Milton Hatoum, foram escolhidas
pelas professoras do Departamento de Arte.
Dois tempos
Participar do Contando e do Ilustrando
foi uma experiência incrível e única.
Fazer uma redação em dupla pelo
computador e distante um do outro! Foi
realmente maravilhoso conseguirmos
fazer isso, sendo que escrevemos
diferente e temos ideias diferentes.
Quando soube que havíamos ganhado,
minhas mãos começaram a tremer e eu
só conseguia olhar para minha parceira
e ficar sorrindo, sem realmente
compreender o que isso significava.
Não trocaria essa sensação por nada.
Anna Carla Travessa Siervo
Me senti muito realizada de ter
ganhado o Ilustrando. Principalmente
porque eu amo desenhar e foi um
prazer fazer esse desenho. Adorei
a proposta. Me senti lisonjeada de
terem escolhido a minha ilustração.
Obrigada.
Camila Maria Manssur Zarzur
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Queria agradecer por ter ganhado o
concurso Contando com minha ilustração.
Não pensei que fosse ganhar, quando vi
que havia muitos desenhos maravilhosos
concorrendo com o meu, mas agora vejo
que gostaram. Desde pequena, eu amo
desenhar; sempre que possível, estou
desenhando. E esse concurso, além de
muito interessante, é, também, muito
divertido, uma oportunidade única e
super importante. Aliás, não é todo dia
que trabalhos feitos por nós, alunos,
são publicados em um livro. Estar aqui
hoje, recebendo os parabéns de todos
vocês é simplesmente incrível. Agradeço
mais uma vez por terem escolhido meu
trabalho; agradeço também a nossas
professoras Sophia e Valéria que nos
incentivaram a fazer nosso melhor.
Obrigada.
Julia R. de Vasconcellos
Exílio
Eu não sabia que tinha ganhado o
Ilustrando até que fui chamado pelo
vigilante, desci até a sala onde me deram
a notícia; fiquei feliz e surpreso.
Enrico Torriero Neto
Gostei muito de participar do concurso
Ilustrando! Eu não esperava ganhar o
prêmio, e foi uma maravilhosa surpresa
para mim.
Giulia Chiarella Simionato
88
Adorei participar do Contando, foi uma
experiência única. Não esperava ganhar,
havia vários trabalhos ótimos.
Giulia Russo Perasso
Foi uma surpresa ganhar o Contando,
quem diria o Ilustrando? Fico muito
feliz de fazer parte disso, de poder
homenagear um escritor tão incrível
como o Milton Hatoum. Ao escrever
e desenhar, senti uma forte conexão
emocional com os personagens e
realmente espero que vocês gostem
deles tanto quanto eu. Muito obrigada e
parabéns a todos.
Lara Del Bianco Alves
Gostei muito de participar do Contando,
foi uma oportunidade única; espero que
os outros anos também tenham essa
experiência. Eu não esperava ganhar
o prêmio do desenho; todos os textos
e desenhos estão lindos, parabéns a
todos!
Luíza O. Caminha Sant’Anna
Um oriental na vastidão
Adorei participar desse concurso, já que
ele junta o meu amor pela arte e pela
literatura.
Manoela Sgai Morel
89
Participar desse concurso foi uma
experiência fantástica!! Principalmente
porque eu amo desenhar e me dediquei
muito a meu trabalho. Adorei e espero
poder participar de outros eventos como
esse. Agradecimentos às professoras de
Arte do 9º ano.
Mariana L. O. Real Pereira
Eu fiquei surpresa de ter ganhado,
eu amo desenhar e acho que é uma
maneira de as pessoas se soltarem e se
sentirem livres. Este ano não há muitos
trabalhos de Arte, então fiquei muito
feliz por ter me saído bem. Achei muito
divertido e acho que deveríamos ter
mais concursos como esse.
Sofia Vespa Tedesco Silva
Adorei participar da atividade proposta;
foi uma experiência incrível, que, por
sorte, tivemos a oportunidade de
conhecer. Para mim, foi um prêmio
inesperado e muito gratificante! Todos
os desenhos e textos que vi estavam
excelentes, parabéns a todos!
Teresa Nocito Salamone
90
91
EXPRESSANDO
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CONTANDO
Participar do Contando foi uma experiência muito boa.
Fiquei feliz porque eu nunca havia ganhado um concurso
de redação.
Ana Carolina Rached Catelli
Eu adoro escrever, então criar um conto foi uma experiência
muito divertida. É uma honra ganhar o concurso! Gostaria
de agradecer à minha parceira, Pietra, e também à minha
professora e ao Milton Hatoum por terem me dado essa
oportunidade incrível. Muito obrigada!
Ana Catharina Konzen Schmidt de Oliveira
Participar do Contando e do Ilustrando foi uma experiência
incrível e única. Fazer uma redação em dupla pelo
computador e distante um do outro! Foi realmente
maravilhoso conseguirmos fazer isso, sendo que
escrevemos diferente e temos ideias diferentes. Quando
soube que havíamos ganhado, minhas mãos começaram
a tremer e eu só conseguia olhar para minha parceira e
ficar sorrindo, sem realmente compreender o que isso
significava. Não trocaria essa sensação por nada.
Anna Carla Travessa Siervo
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Quando fiquei sabendo sobre o concurso, não esperava
que chegasse tão longe. Esperava que meu nome fosse o
último colocado. O que me deixou mais pessimista para
o concurso foi o fato de que eu e meu parceiro fizemos
a redação nos últimos dias. Quando a minha professora
chegou à sala de aula, eu já havia esquecido o concurso.
Foi então que ela tirou o papel com os finalistas da nossa
sala. Havia três. Estava pessimista. Nos dois primeiros, não
havia meu nome nem o de meu parceiro. Mas, na terceira
dupla, ela pronunciou meu nome e o de meu colega e
ficamos muitos felizes. É uma honra ser um finalista desse
Contando.
Bernardo Mascarenhas Ganem
Participar desse concurso foi uma ótima experiência e é
uma honra vencê-lo. Achei muito interessante e divertido
escrever um texto com uma amiga, continuando um
parágrafo de um texto originalmente escrito por um ótimo
autor da literatura brasileira. É um grande prazer fazer
parte dos ganhadores do Contando e acho que vai ficar
como uma boa lembrança. Espero poder participar de
outros concursos como esse.
Camila Min Ji Eum
Participar do Contando foi uma experiência incrível,
imagine ganhar, então! Escrever já é um prazer, e a
escola proporcionar esse tipo de concurso é realmente
incrível! Isso incentiva os alunos e, para os que querem
virar escritores, é gratificante! Fico muito feliz de ser uma
das alunas que tiveram a honra de ganhar. Desde que
anunciaram o concurso, fiquei empolgada para soltar
a imaginação. O engraçado de ganhar foi o fato de que
eu e minha colega fizemos na última hora, mas, mesmo
assim, com muito carinho e esforço. A emoção de vencer
é fantástica. Obrigada Colégio Dante Alighieri por nos
proporcionar a maravilhosa oportunidade!
Catharina Gaidzinski Rosa e Silva
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Participar do Contando foi uma experiência inovadora,
divertida e muito boa. No começo, parece ser difícil e
complicado, mas com empenho e dedicação podemos
realizá-lo tranquilamente. Ganhar o Contando foi uma
surpresa emocionante, o que me motiva a continuar
escrevendo boas redações e tentando sempre melhorar.
Daniel Mathias Rosenfeld
Foi uma honra participar desse projeto, um dos melhores
já criados pelo Colégio Dante Alighieri. Penso que foi muito
bem elaborado e se encaixa no jeito que os alunos gostam
de trabalhar, em dupla, com bastante tempo para pensar
e ter boas ideias. Eu, particularmente, gosto muito de
trabalhar em dupla e tenho uma facilidade maior em fazer
bons textos com um prazo longo para entrega. Foi muito
interessante, e eu aprendi muito enquanto fazíamos, já
que podíamos trocar ideias e cada um aprendia com o
que o outro já sabia sobre redação. Logo que soube que
havíamos ganhado, fiquei muito feliz, pois não estava
muito confiante em nosso texto, mas, na verdade, eu sabia
que tinha ficado bom.
Felipe Paixão Côrtes Centeno
Escrever esse conto com a Maria Antonia foi uma atividade
muito prazerosa, pois somos grandes amigas há muito
tempo. Essa amizade nos permite ler o pensamento uma
da outra e colocar em evidência, em linguagem literária,
nossos valores de vida.
Fernanda Sanchez Bachega
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Participar do projeto Contando foi uma experiência muito
boa, construtiva e nova para mim. O desenvolvimento
do projeto foi inovador e, ao mesmo tempo, um grande
desafio. Eu nunca havia escrito uma história em dupla,
principalmente em um evento de importância maior. Foi
muito bom desenvolver minha criatividade e ter uma
grande liberdade literária. Ganhar o concurso foi uma
surpresa e muito boa. Eu e meu colega realmente não
esperávamos que nossa redação chegasse a ganhar, e acho
que essa vitória é um incentivo para começar a escrever
melhores redações e, quem sabe, até, algum dia, acabar
de escrever um livro que já comecei. Espero que este seja
só o início.
Fernando Moreira Kanarek
Participar do Contando foi uma ótima experiência, pois
desde pequena sempre gostei de escrever. Além disso,
pude realizar a experiência com uma amiga ao meu lado, o
que deixou tudo mais divertido. Poder criar histórias novas
é sempre uma experiência maravilhosa, porque podemos
inventar novos personagens e situações para eles, vivendo
muitas aventuras sem sair de onde se está. Fiquei muito
feliz de poder participar desse concurso, porque, acima de
tudo, eu me diverti bastante!
Gabriela Rodrigues Hissa Amorim
Participar do Contando foi uma experiência inexplicável,
uma oportunidade única em minha vida. Desde o
começo, quando nos apresentaram o concurso, fiquei
muito empolgada, não pelo prêmio, e sim pelo fato de
podermos trabalhar em conjunto e darmos o melhor de
nós. Eu e minha colega vínhamos planejando a redação
há semanas, o que acabou sendo muito engraçado, pois
a fizemos de última hora, mas, de qualquer forma, já
tínhamos em mente o que faríamos. E, justamente por
isso, ficamos muito surpresas ao ganhar, não esperávamos
ser premiadas. Foi uma grande emoção conseguir vencer e
estou muito lisonjeada. Obrigada, Colégio Dante Alighieri,
por nos proporcionar essa maravilhosa experiência.
Giulia Martinelli Casulli
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O Contando foi uma ótima experiência. Eu nunca havia
ganhado um concurso de redação antes. Eu adorei
participar, mesmo que tenha sido difícil. Valeu a pena.
Lara Carneiro Feres
Foi uma surpresa ganhar o Contando, quem diria o
Ilustrando! Fico muito feliz de fazer parte disso, de poder
homenagear um escritor tão incrível como o Milton
Hatoum. Ao escrever e desenhar, senti uma forte conexão
emocional com os personagens e realmente espero que
vocês gostem deles tanto quanto eu. Muito obrigada e
parabéns a todos.
Lara Del Bianco Alves
Receber a noticia de que havia ganhado o concurso
Contando foi além das expectativas. Ler e escrever sempre
foram uma paixão, por isso me destacar com um texto
foi muito emocionante. Foi uma vontade muito grande
minha, não de ganhar um prêmio, mas de saber que um
professor escolheu o meu texto no meio de tantos. Ganhar
esse concurso me fez abrir os olhos para outras coisas na
vida, principalmente a arte de expressão, quando um
texto consegue dizer ao leitor tudo o que está sentindo e
consegue mostrar sua opinião sobre um assunto, apenas
com algumas palavras. O Contando foi muito mais que um
concurso de redação, por isso vou guardar esse título para
sempre comigo.
Laura Gragnano Puttinato
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Poder estar aqui, recebendo um prêmio decorrente de
um concurso proporcionado pela escola, ainda mais
feito com uma amiga, me enche de orgulho. Eu sempre
estudei no Dante e já testemunhei diversos concursos
que envolvem redações e contos pelo Departamento de
Língua Portuguesa; mas nunca havia tido a surpresa e
alegria de vencê-los. O Contando vai muito além de uma
competição, é uma maneira de fazer com que os alunos
se envolvam mais com a literatura. Gostaria de agradecer
muito a nossa professora, Sophia, e dizer que eu a admiro
tanto como pessoa quanto como educadora. O incentivo
que ela nos deu foi extremamente importante. Posso dizer,
com enorme certeza, que esse prêmio representa não só
uma conquista, mas uma grande inspiração para continuar
escrevendo.
Luísa Esper Martins de Andrade
Achei um trabalho interessante, pois poucas vezes fazemos
redação em dupla, embora seja mais difícil, porque os
parceiros têm que entrar em acordo sobre como será a
história. No Contando, tivemos esse desafio, e gostei
disso. Quando recebi a notícia de que eu e minha colega
tivemos o nosso conto escolhido e que seria publicado em
um livro, sinceramente fiquei bem impressionada porque
não estava esperando por isso. Fizemos um conto que,
apesar de ter sido construído por duas pessoas, seguiu
uma linha de pensamento.
Maria Antonia Kluger de Campos Mello
Eu gostei muito de participar do Contando; foi uma
experiência muito legal até porque, além de poder
desenvolver a história, tive a chance de fazer isso com
uma amiga. E eu estou me sentindo muito orgulhosa por
termos conseguido fazer a nossa história ficar boa a ponto
de ficarmos entre os vencedores. Então, eu estou muito
feliz, pois eu me diverti muito.
Maria Eduarda Santos dos Reis
98
Escrever o Contando foi uma experiência única. Poder
trabalhar com a escrita, que eu adoro, junto com minha
amiga, nos aproximou. Achávamos que escrever o conto
seria trabalhoso e cansativo, mais uma obrigação. Porém,
com o passar do tempo, percebemos que estávamos
erradas, nos divertíamos ao escrever nossa história. Não
esperávamos ganhar o concurso, pois nunca pareceu
uma competição entre alunos, mas uma forma de
aprendizagem. Gostaria de agradecer à professora Sophia,
que nos ajudou no decorrer do concurso, dando conselhos,
nos incentivando a fazer um bom trabalho. Esse prêmio
representa não só uma vitória, mas também um incentivo
para continuar escrevendo.
Maria Paula de Castro Vanzo Reis
Foi muito gratificante ter participado do concurso
proposto pelo Colégio Dante Alighieri e uma honra ter
ganhado o Contando. Para mim, o concurso foi uma grande
experiência e acho muito interessante a ideia proposta por
ele, de conhecer e reconhecer grandes nomes da literatura
brasileira e também de trabalhar junto com amigos, o que,
com certeza, nos faz aprender ainda mais e levar isso para
a vida inteira. Gostei muito de ter participado do concurso
e espero participar de outros.
Mariana Mascaro Yazbek
Fiquei muito surpresa quando falaram o meu nome em
sala de aula, informando que meu conto havia sido um
dos escolhidos. Acho que esse trabalho pode mostrar para
todos nosso jeito de pensar e de nos expressar em apenas
algumas linhas. Gosto de escrever e saber que gostaram
de meu texto, já é um prêmio do qual nunca esquecerei.
Marina de Arruda Pinto D`Andrea
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Participar do Contando foi uma experiência inexplicável,
uma oportunidade única. Devo dizer que no início foi
difícil pensar no tema. Quando começamos, queríamos
escrever uma boa redação, porém o nosso foco não estava
no prêmio, e sim na nossa vontade de nos orgulhar de
nós mesmas. Quando recebemos a notícia de que nossa
redação fora uma das premiadas, ficamos surpresas,
realmente orgulhosas de nós mesmas e, apesar do
trabalho que tivemos, o resultado foi gratificante. Quero
agradecer ao Colégio Dante Alighieri por nos proporcionar
essa oportunidade maravilhosa.
Paloma Lucia Ramirez
Quando a professora nos apresentou o Concurso contando,
fiquei fascinada, pois desde pequena sempre gostei muito
de escrever e, quando vi aquela oportunidade de poder
recriar a história de Milton Hatoum, fiquei realmente
muito animada.
Durante a produção do texto, minha maior dificuldade
foi ter um limite de linhas para desenvolvê-lo, mas no fim
superamos esse desafio.
Ganhar o concurso foi uma sensação extraordinariamente
boa. Eu e a Ana Catharina produzimos em parceria um
texto ótimo, e eu não poderia estar mais feliz com o
resultado obtido pelo nosso esforço.
Pietra Cipolla de Matos
Minha participação no Contando foi encarada como um
desafio. Nós tentamos fazer o nosso melhor e, quando
recebemos o resultado, foi uma sensação de satisfação
e muita alegria. Foi realmente divertido e diferente, pois
pudemos desenvolver a criatividade e cooperação em
grupo. Foi uma experiência única.
Rafaela da Conceição Machado
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MILTON HATOUM
____
BREVE BIOGRAFIA ____
Milton Hatoum nasceu em 1952, em Manaus (Amazonas), onde passou a
infância e uma parte da juventude. Em 1967 mudou-se para Brasília, onde estudou
no Colégio de Aplicação da UnB. Morou durante a década de 1970 em São Paulo,
onde se diplomou em arquitetura na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da
USP, trabalhou como jornalista cultural e foi professor universitário de História da
Arquitetura. Em 1980, viajou como bolsista para a Espanha, onde morou em Madri e
Barcelona. Depois passou três anos em Paris, onde estudou literatura comparada na
Sorbonne (Paris III). Autor de quatro romances premiados, sua obra foi traduzida em
doze línguas e publicada em catorze países.
Foi professor de literatura francesa da Universidade Federal do Amazonas
(1984-1999) e professor visitante da Universidade da Califórnia (Berkeley/1996). Foi
também escritor residente na Yale University (New Haven/EUA), Stanford University
e na Universidade da Califórnia (Berkeley). Bolsista da Fundação VITAE, da Maison
des Ecrivains Etrangers (Saint Nazaire,França) e do International Writing Program
(Iowa/EUA).
Em 1989, sua primeria obra (Relato de um certo Oriente), ganhou o prêmio
Jabuti de melhor romance. Em 2000, publicou o romance Dois irmãos (prêmio Jabuti
– 3º lugar na categoria romance) indicado para o prêmio IMPAC-DUBLIN e eleito o
melhor romance brasileiro no período 1990-2005 em pesquisa feita pelos jornais
Correio Braziliense e O Estado de Minas. Em 2001, foi um dos finalistas do Prêmio
Multicultural do Estadão, pela publicação de Dois Irmãos. Em 2005, seu terceiro
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romance (Cinzas do Norte) obteve cinco prêmios: Prêmio Portugal Telecom, Grande
Prêmio da Crítica/APCA-2005, Prêmio Jabuti/2006 de melhor romance, Prêmio Livro
do Ano da CBL, Prêmio BRAVO! de literatura). Em 2008, recebeu do Ministério da
Cultura a Ordem do Mérito Cultural. Em 2010, a tradução inglesa de Cinzas do Norte
(Ashes of the Amazon/Bloomsbury,2008) foi indicada para o prêmio IMPAC-DUBLIN.
Em 2008, publicou seu quarto romance (Órfãos do Eldorado), prêmio Jabuti –
2º lugar na categoria romance. Órfãos do Eldorado faz parte da coleção Myths, da
editora escocesa Canongate. Em 2009, publicou o livro de contos A cidade ilhada.
Sua obra já foi traduzida em 12 línguas e publicada em 14 países.
Hatoum publicou também ensaios e artigos sobre literatura brasileira e latinoamericana em revistas e jornais do Brasil, da Espanha, França e Itália. Alguns de seus
contos foram publicados nas revistas Europe, Nouvelle Revue Française (França),
Grand Street (Nova York) e Quimera (México). Participou de várias antologias de
contos brasileiros publicados na Alemanha e no México, e da Oxford Anthology of
the Brazilian Short Story.
Em parceria com o filósofo e crítico literário Benedito Nunes, publicou Crônica de
duas cidades: Belém e Manaus, em 2006, pela SECULT-PA.
Desde 1998 mora em São Paulo, onde é colunista do Caderno 2 (O Estado de S.
Paulo) e do site Terra Magazine.
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Contando 2007
Contando 2008
Contando 2009
Contando 2010
Contando 2011
Contando 2012
Contando 2013
Contando 2014
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PRESIDENTE:
DR. JOSÉ DE OLIVEIRA MESSINA
DIRETORA-GERAL PEDAGÓGICA:
PROFª SILVANA LEPORACE
ASSISTENTE DE DIREÇÃO (8OS E 9OS ANOS):
PROF. LUÍS PATRÍCIO RAUL ARRIAGADA SANCHO
COORDENAÇÃO DE LÍNGUA PORTUGUESA:
PROFª MARIA CLEIRE CORDEIRO
COORDENAÇÃO DE ARTE:
PROFª MARIA BEATRIZ PEROTTI
COORDENAÇÃO DE TECNOLOGIA EDUCACIONAL:
PROFª VALDENICE MINATEL MELO DE CERQUEIRA
ORIENTADORA EDUCACIONAL (9OS ANOS):
PROFª CLAUDIA MARIA DURAN MELETTI
PROFª THATIANA SEGUNDO
GERENTE DE MARKETING:
FERNANDO LOPO HOMEM DE MONTES
SUPERVISOR DO DEPARTAMENTO DE AUDIOVISUAL:
JOÃO FLORENCIO SOUZA FILHO
SUPERVISORA DO DEPTO. DE EDITORAÇÃO/GRÁFICA:
VANNIA CHIODO SILVA
Ficha Técnica
CORPO DOCENTE - LÍNGUA PORTUGUESA:
PROFª KATIA MARIA CAMARGO VILLARI
PROFª SOPHIA MARIA VISCONTI
CORPO DOCENTE - ARTE:
PROFª LÚCIA JUNQUEIRA CALDAS L. OLIVEIRA
PROFª VALERIA PAULA LEITE
CORPO DOCENTE - TECNOLOGIA:
PROFª ADRIANA DE FREITAS SEBASTIÃO
PROFª CELIA REGINA GOULART DA SILVA
PROFª KARINE GUARACHO
PROJETO GRÁFICO:
PROFª VERÔNICA MARTINS CANNATÁ
SIMONE MACHADO
FOTO CAPA - MILTON HATOUM:
ADRIANA VICHI
FOTOS:
ACERVO - COLÉGIO DANTE ALIGHIERI
LIVRO DIGITAL:
DAVID HENRIQUE DA CUNHA PEREIRA
THIAGO XAVIER MANSILLA MALDONADO
DEPARTAMENTOS ENVOLVIDOS:
ARTE
AUDIOVISUAL
EDITORAÇÃO E GRÁFICA
MARKETING
LÍNGUA PORTUGUESA
TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
TECNOLOGIA EDUCACIONAL
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Créditos finais:
Todas as fotos, informações e depoimentos publicados neste livro cedidos
por terceiros somente foram utilizados após a expressa autorização de seus
proprietários. Agradecemos a gentileza de todas as pessoas e empresas que,
com sua colaboração, tornaram essa produção possível.
Distribuição:
O livro “Contando com Milton Hatoum: os melhores contos do Dante 2014”
é distribuído gratuitamente. Não é autorizada a comercialização deste em
banca, livraria, loja ou qualquer outro espaço comercial por parte de pessoa física ou jurídica.
Reprodução:
É proibida a reprodução total ou parcial deste livro. Nenhuma pessoa física
ou jurídica está autorizada a representar, promover ou se pronunciar em
nome deste livro ou de seus responsáveis. Esta proibição é válida dentro e
fora do território nacional.
Tiragem: 300 exemplares
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REFERÊNCIAS
WEBQUEST CONTOS - CONTANDO 2014
Disponível em: <http://migre.me/9jWmP>. Acesso em 05 Maio 2014.
BREVE BIOGRAFIA DE MILTON HATOUM
Disponível em: <http://www.miltonhatoum.com.br/biografia>.
Acesso em 05 Maio 2014.
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Este livro é o resultado do concurso Contando
2014. Os alunos foram estimulados a criar seus
próprios textos a partir das introduções de
belíssimos contos de Milton Hatoum.
As narrativas foram criadas em duplas, e as
melhores estão publicadas neste livro.
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Os melhores contos do Dante 2014
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