PARTE ENSINO MÉDIO ORGANIZADORA EDIÇÕES SM 1 SPG_FR1_LA_CAPA PARTE 1.indd 1 4 5 2 0 2 ENSINO MÉDIO Obra coletiva concebida, desenvolvida e produzida por Edições SM. André dos Santos Baldraia Souza Bianca Carvalho Vieira Carla Bilheiro Santi Carlos Henrique Jardim Fernando dos Santos Sampaio Guilherme Antonio De Benedictis Ivone Silveira Sucena 6/4/14 5:36 PM 1 CAPÍTULO A formação do mundo capitalista O papel do trabalho na transformação da natureza O que você vai estudar O trabalho na transformação da natureza. O renascimento do comércio e das cidades. As Grandes Navegações. Países centrais e países periféricos. Leia No livro História da riqueza do homem (Jorge Zahar, 1974), Leo Huberman apresenta a formação do sistema capitalista, utilizando vários exemplos da Europa e dos Estados Unidos. Em um mundo onde as informações circulam em velocidade cada vez maior, é possível ver diferentes paisagens, mesmo de locais distantes, que não conhecemos. A paisagem é a parte visível (ruas, edifícios, rios, animais, plantas, etc.) do que se denomina espaço geográfico. Este é produzido e organizado pelo trabalho humano, quando se retiram da natureza elementos para uso individual ou coletivo. As atividades humanas agem sobre a natureza, transformando-a em espaço geográfico, onde ocorrem as relações sociais. Ao longo dos séculos, desde muito antes de Cristo, diferentes sociedades, em diversos pontos da Terra, apropriaram-se dos solos férteis e de outros recursos naturais para construir seu espaço de vivência, elaborando complexas organizações do seu espaço. Alguns exemplos são os egípcios (ao longo Geografia e literatura Salve, Nilo, resplandecente rio que dá vida a todo o Egito... Misterioso e secreto, faça crescer as plantações e dê vida aos animais... [...] Prospere, Nilo, faça crescer os homens com os rebanhos e os rebanhos, com as plantações... Escute nossa súplica e derrame suas águas sem nunca se esgotar... [...] CHALABY, Abbas. Egipto. Florença: Bonechi, 1989. p. 5. The Art Archive/Corbis/Latinstock Capítulo 1 ■ A formação do mundo capitalista Salve, Nilo! O rio Nilo era um recurso fundamental para a sobrevivência dos antigos egípcios. Considerado um verdadeiro deus, o rio foi saudado no texto a seguir, atribuído à XIX dinastia (1300 a 1100 a.C.). Colheita de linho. Pintura mural encontrada em uma câmara mortuária da XIX dinastia do Egito Antigo. do rio Nilo), os habitantes das margens do rio Amarelo (China), os da região dos rios Tigre e Eufrates (Mesopotâmia, atual Iraque) e também povos americanos pré-colombianos, como os maias, os incas e os astecas. > As técnicas de trabalho Para o geógrafo Milton Santos, dá-se o nome de técnica a um conjunto de meios instrumentais e sociais com os quais o ser humano realiza sua vida, produz e, ao mesmo tempo, cria espaços. A capacidade de transformação da natureza depende do desenvolvimento técnico de um grupo social. À medida que as inovações técnicas aumentam, diminui o peso da natureza sobre as atividades humanas. As primeiras civilizações, como a egípcia, dependiam do ritmo da natureza para produzir. Nas cheias dos rios, a natureza oferecia o húmus, que fertilizava o solo e possibilitava o cultivo. Quando a sociedade egípcia passou a utilizar a técnica de irrigação, houve um avanço considerável no cultivo da terra, pois o ritmo da produção passou a ser estabelecido pelos agricultores. Além disso, houve uma reorganização do espaço. A criação e o avanço de técnicas aumentam a produtividade do trabalho, ou seja, aumentam a produção dos indivíduos e grupos. Das inovações tecnológicas destinadas a produzir bens ou serviços decorrem o aumento dos excedentes e uma nova forma de divisão do trabalho. Essa divisão acontece porque alguns membros do grupo ficam liberados para o desempenho de novas funções. Nos últimos duzentos anos, o desenvolvimento das técnicas tem se acelerado de maneira contínua e irreversível, promovendo novos arranjos espaciais e a formação ou transformação do espaço geográfico. Em resumo, o espaço geográfico é histórico e dinâmico, guardando profunda relação com o processo de trabalho nele desenvolvido. 16 3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 16 29/05/14 17:42 30°L O renascimento comercial e urbano * As palavras em azul são explicadas no Glossário, nas páginas 196 a 200. 0°L 10°L Bergen Edimburgo York Bayonne Toulouse Toledo Lisboa Marselha Barcelona Córdoba Cádiz Valência Novgorod Riga 380 760 km 1 cm – 380 km Cidades ou entrepostos da Liga Hanseática Centros de atividade bancária 50°N M Veneza Bolonha Mar Florença Negro Siena Ragusa Constantinopla Roma Tessalônica Nápoles 40°N Palermo Messina ÁFRICA Kiev Gênova Atenas Ceuta 0 r Ma 60°N Reval Lübeck Dantzig Bremen Londres Hamburgo Bruges Winchester Leipzig Lille Cracóvia Rouen Lendit Frankfurt Nuremberg Paris Provins Viena Troyes Bordeaux Lyon OCEANO ATLÂNTICO Santiago de Compostela Visby Mar do Norte 30°L 20°L Estocolmo ID/BR 10°L ltico 20°L ÁSIA Mar Mediterrâneo Grandes feiras Rotas comerciais terrestres > O crescimento das cidades O desenvolvimento do comércio entre os séculos XIII e XV fez crescer novamente as cidades na Europa. Em particular, as áreas onde se realizavam feiras serviram de polos de atração que deram origem a muitos centros urbanos. As cidades passaram a ser o local de um novo grupo social, que se formou com o desenvolvimento do comércio: os burgueses. Ricos comerciantes, eles se tornaram o grupo dominante. Com os burgueses, nas trocas, o valor de venda passou a ser sempre superior ao valor de compra. Essa diferença constituía o capital da burguesia. Nascia, assim, a primeira fase do capitalismo – o capitalismo comercial ou mercantil. Rotas marítimas de Veneza da Liga Hanseática de Gênova Fonte de pesquisa: ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. 17. ed. São Paulo: Ática, 2005. p. 17. Assista O mercador de Veneza (EUA, 2004, 138 min), de Michael Radford. O filme, cuja história se passa no século XVI, é uma adaptação da peça homônima de Shakespeare. Saiba mais O nascimento do sistema bancário Desde o século IX, mercadores europeus já realizavam operações de crédito e câmbio. À medida que o comércio crescia, alguns mercadores se especializaram em operações financeiras, e foram desenvolvidos alguns tipos de papéis, como as letras de câmbio. Esses contratos escritos serviam de pagamento e tornavam desnecessário viajar com dinheiro. Um fator que fez os bancos crescerem foi o fim da condenação à usura (empréstimo a juros). Essa prática, condenada durante muito tempo pela Igreja, tornou-se cada vez mais aceita. 17 3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 17 60°L Principais rotas comerciais – Século XIV Bá Durante o período feudal*, que predominou na Europa entre os séculos V e XV, o continente europeu foi, sobretudo, rural. Grande parte das antigas cidades, formadas durante o período romano, perdeu população para o campo. O comércio restringia-se a atender à necessidade de obter mercadorias que não eram produzidas nos feudos, como o sal, o vinho e os metais. Esse comércio era feito com a utilização de moedas e também por escambo. Muitas cidades europeias, porém, permaneceram ativas. Foi o caso de Veneza, o grande centro comercial da região do Mediterrâneo (ver mapa ao lado). No sistema feudal o poder era descentralizado. Os reis tinham pouca influência sobre os senhores feudais, que exerciam poder sobre seus domínios. A partir do século XII, começaram a ser definidas as fronteiras nacionais na Europa Ocidental. Esse processo incluiu, entre outros elementos, o fortalecimento do poder dos reis, a delimitação dos territórios e a consolidação de organizações políticas centralizadas sob a forma de Estados. Portugal, França, Inglaterra e Espanha foram os primeiros Estados nacionais a serem constituídos. Seus territórios já eram muito semelhantes aos que apresentam atualmente. Os novos Estados – os Estados modernos – tinham como características principais a unificação do território, a centralização do poder e a organização de um aparato administrativo formado por funcionários públicos e por um exército permanente. Na mesma época, foram adotadas na agricultura algumas inovações tecnológicas, entre elas a charrua, um tipo de arado mais eficiente. Essas inovações, associadas à ampliação das áreas agrícolas, excedentes, passaram a ampliar as atividades comerciais. As cidades da península Itálica (Veneza, Gênova e Pisa) que mantinham comércio com o Oriente intensificaram suas atividades. Produtos como a seda e as especiarias foram largamente comercializados. 50°L 40°L Círculo Polar Ártico 29/05/14 17:42 As Grandes Navegações e a conquista do Novo Mundo > As inovações tecnológicas Capítulo 1 ■ A formação do mundo capitalista e a cartografia Um conjunto de inovações técnicas e científicas possibilitou aos europeus o desenvolvimento de novas práticas. A bússola, invenção chinesa conhecida na Europa desde o século XII, permitia a definição de rumos em alto-mar; o astrolábio possibilitava a determinação das coordenadas terrestres, o que favorecia a navegação de longa distância; a caravela, criada e aperfeiçoada pelos portugueses, era leve e ágil, capaz de navegar com qualquer vento. Em fins do século XIII, começaram a ser produzidos pelos cartógrafos os portulanos (ver ao lado exemplo dessas cartas de navegação). Traziam as rotas traçadas no próprio mapa por meio de linhas que ligavam um porto a outro. Em termos geográficos, uma grande revolução foi o reconhecimento da esfericidade da Terra. Isso permitia supor que, saindo da Europa e viajando sempre na mesma direção, seria possível dar a volta à Terra e retornar ao lugar de origem. Seguindo rotas diferentes, espanhóis e portugueses navegaram pelo Atlântico para alcançar as Índias. Com grande domínio das técnicas de navegação, no século XV os portugueses já haviam chegado às ilhas dos Açores, da Madeira e de Cabo Verde e alcançado o sul da África. Navegando próximo à costa africana, foram estabelecendo várias feitorias no continente. No final do século XV, Cristóvão Colombo, a serviço da Coroa da Espanha, atingiu as Antilhas, na América Central. Em 1500, uma esquadra portuguesa chegou à costa do atual território brasileiro. A posse e a ocupação dessas novas terras representaram uma importante medida para consolidar a política mercantilista. A partir do século XVI, teve início a colonização das terras que viriam a ser chamadas de Novo Mundo. Esse processo foi feito à base de pilhagem de metais preciosos, exploração dos recursos naturais e extermínio ou escravização dos nativos. A colonização organizou espaços de produção e definiu o papel das novas colônias na economia mundial. Assista O filme 1492: a conquista do paraíso (EUA, 1992, 154 min), de Ridley Scott, narra a viagem de Cristóvão Colombo à América, os preparativos da travessia, o cotidiano da tripulação, suas dificuldades e motins. Leia África: terra, sociedades e conflitos (Moderna, 2004), de Nelson Bacic Olic e Beatriz Canepa. A obra traz informações sobre povos, etnias e tradições antigas do continente, além de descrever seu processo de colonização. Fonte de pesquisa: O tesouro dos mapas - A cartografia na formação do Brasil/Texto e curadoria Paulo Miceli. São Paulo: Instituto Cultural Banco Santos, 2002. p. 66. Diante de um cenário de efervescência comercial e urbana, os capitais se acumulavam nas mãos dos burgueses. Barcos carregados de mercadorias cruzaram o Mediterrâneo até 1453, quando os turcos ocuparam Constantinopla (atual Istambul, na Turquia), dificultando a circulação dos navios e modificando o comércio entre a Europa e o Oriente. Tornaram-se necessárias novas rotas comerciais que garantissem o suprimento de mercadorias para a Europa. O extremo oriente do Mediterrâneo e parte do mar Negro, em mapa do Atlas-portulano veneziano, do cartógrafo francês J.-F. Roussin, 1673. Saiba mais O mercantilismo Vários Estados europeus passaram a adotar, entre os séculos XV e XVIII, uma política econômica denominada mercantilismo. Um dos princípios básicos dessa política era o acúmulo de riqueza (metais preciosos) pelos Estados. Outro princípio fundamental do mercantilismo era manter a balança comercial favorável, ou seja, exportar mais do que importar e, portanto, reter parte dos ganhos e acumular capital. Uma das peças-chave do mercantilismo foi o Pacto Colonial: as colônias eram obrigadas a exportar metais preciosos, produtos agrícolas e matérias-primas para as metrópoles europeias e a importar delas artigos manufaturados. 18 3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 18 29/05/14 17:42 Centro e periferia no sistema capitalista Assista Mecanismos de mercado regidos pelos Dirigido por Richard Attenborough, o filme Gandhi (EUA, 1982, 191 min) retrata a vida de Mohandas Gandhi e a colonização britânica da Índia, até sua independência. Já o filme Entre dois amores (EUA, 1985, 161 min), de Sydney Pollack, aborda a colonização britânica da África, com base em livro autobiográfico de Karen Blixen. As montanhas da Lua (EUA, 1990, 136 min), de Bob Rafelson, mostra a expedição em busca da nascente do rio Nilo e discute a experiência colonialista dos britânicos na África. grandes grupos capitalistas. Há uma busca constante pelo lucro, que é usado no investimento em novas tecnologias para a obtenção de maior rentabilidade e, consequentemente, de maiores lucros. Em alguns países ou em certos momentos, o Estado interfere no mercado, por exemplo, controlando alguns preços. Crises cíclicas que ocorrem em determinados momentos históricos devido a fatores relacionados à superprodução ou a problemas políticos. No final do século XIX (1874) e no começo do século XX (1929), duas fortes crises abalaram o sistema. Em 2008, teve início nos Estados Unidos uma nova crise, que estremeceu o capitalismo no mundo todo. Relações de trabalho com o predomínio do trabalho assalariado. Os que não são donos dos meios de produção vendem sua força de trabalho em troca de salário. Saiba mais Crises do século XXI Em apenas duas décadas, o sistema capitalista já apresentou várias crises. Algumas delas, embora localizadas, tiveram reflexos em várias regiões do mundo. No esquema, o tamanho das figuras é proporcional aos empréstimos fornecidos pelas instituições internacionais, como o FMI, para a superação da crise. Crises ID/BR A partir do século XVIII, o sistema de produção europeu passou por significativas transformações. A Revolução Industrial, processo de profundas inovações tecnológicas, acompanhadas de intensas mudanças econômicas e sociais, teve início na Inglaterra, país europeu que obteve os melhores resultados com as políticas mercantilistas. A Revolução Industrial deu novo impulso e significado ao sistema capitalista, inaugurando a fase do capitalismo industrial. A começar pela Inglaterra, o sistema capitalista foi adotado pela maioria dos países da Europa Ocidental e pelos Estados Unidos, expandindo-se para grande parte do mundo nos séculos XIX e XX. Foi no contexto dessa segunda fase do sistema capitalista que ocorreu a expansão imperialista. A necessidade de matérias-primas e de novos mercados consumidores para as indústrias europeias levou à organização de novos espaços de produção na África e na Ásia. No final do século XIX, nos países centrais do sistema capitalista, ou seja, nos países já industrializados, teve início a formação de monopólios. Grandes empresas começaram a passar por um processo de fusão com o objetivo de controlar o mercado. Era o nascimento das empresas multinacionais. Novamente, o sistema capitalista se reformulava. Os bancos e as instituições financeiras assumiram um papel dominante, e as empresas abriram seu capital com a venda de ações nas bolsas de valores. Dessa maneira, teve início a fase do capitalismo monopolista ou financeiro, na qual vivemos ainda hoje. > Características do sistema capitalista Predomínio da propriedade privada dos meios de produção, ou seja, terras, fábricas, minas, bancos, etc. Em alguns países, existem empresas estatais. Divisão da sociedade em classes. Há basicamente uma grande divisão: os capitalistas, donos dos meios de produção, e os trabalhadores, que vendem sua força de trabalho para os capitalistas. Essa divisão em classes é fator de concentração de renda, que se intensifica em países menos desenvolvidos. Atentados de 11 de Setembro Turquia Crise financeira mundial Brasil Uruguai 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Turquia Argentina Crise da Islândia 2011 2012 2013 2014 Crise grega e expansão para a zona do euro Fonte de pesquisa: LE MONDE DIPLOMATIQUE. L’Atlas Histoire: Histoire critique du XXe siècle. Paris: Vuibert, 2012. p. 95. 19 3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 19 29/05/14 17:42 A formação do mundo capitalista São chamados de países centrais aqueles que concentram os maiores volumes de capital e, portanto, exercem influência sobre os demais países. É o caso dos Estados Unidos, do Japão e de vários países da Europa Ocidental, que desempenham poder hegemônico sobre um grande grupo de nações que dependem deles. Esses países centrais assemelham-se a planetas orbitados por satélites. Alguns, mais próximos, constituem uma semiperiferia; outros, mais distantes, constituem os países Países centrais e países periféricos periféricos, conforme mapa ao lado. OCEANO NOVA ZELÂNDIA OCEANO Essas diferenças socioeconômicas e tecPACÍFICO PACÍFICO JAPÃO nológicas entre os países começaram a ser MÉXICO AUSTRÁLIA ESTADOS UNIDOS mais percebidas e discutidas no final da SeCANADÁ INDONÉSIA gunda Guerra Mundial (1939-1945). Nesse ARGENTINA RÚSSIA CHINA momento, em que se consolidava o capitaBRASIL OCEANO lismo financeiro, tornou-se evidente que um OCEANO ÍNDIA ÍNDICO UNIÃO PAQUISTÃO ATLÂNTICO grande grupo de países estava à margem do EUROPEIA IRÃ TURQUIA A Tríade Situações intermediárias sistema e, portanto, apresentava característiARÁBIA LÍBIA SAUDITA Os três grandes polos Rússia e ex-integrantes do bloco socialista não cas diferentes das dos países centrais. Trocas e inter-relações membros da UE NIGÉRIA Países com acelerado A partir da década de 1960, vários cienPaíses centrais desenvolvimento graças ao petróleo Maiores potências tistas sociais, entre eles importantes geóOutros Estados centrais Países periféricos grafos, passaram a discutir a formação dos Potências importantes ÁFRICA 0 3667 7334 km DO SUL Outros Estados países periféricos e lhes atribuíram certas ca1 cm – 3667 km racterísticas: predomínio de técnicas agríFonte de pesquisa: MATHIEU, Jean-Louis. Géographie – L’ espace mondial. colas primitivas, fraca industrialização, ex- Paris: Nathan, 2004. p. 32. portações com base em matérias-primas agrícolas ou minerais, predomínio de população rural, forte dependênConexão cia econômica e tecnológica. No entanto, diversos fatores de ordem histórica, política e econômica O crescimento da classe média promoveram mudanças em alguns países periféricos, estremecendo o conno Brasil junto de características atribuídas a eles. Como considerar, por exemplo, Na primeira década do século XXI, o Brasil e o México países de fraca industrialização? Ou como atribuir ao 32 milhões de brasileiros ascenderam à classe média, que tem renda famiBrasil ou à Argentina a característica de detentores de agricultura com técliar mensal entre mil e 4 mil reais. De nicas primitivas? acordo com dados do IBGE, em 1992 Há ainda um grande número de países que continua a apresentar esa classe média correspondia a 35% sas características, como na década de 1960. Há outro grupo, porém, da população brasileira, número que que apresentou intensa evolução econômica, do qual são exemplos a passou para mais de 50% em 2010. China, o Brasil, a Índia e o México, que em 2012 estavam na lista dos A parcela pobre da população (com 15 maiores PIB (Produto Interno Bruto, soma de toda a riqueza gerada renda mensal per capita entre 70 e em um país) do mundo. 134 reais) diminuiu de 28 milhões para 18 milhões de pessoas, entre Os países centrais estão predominantemente localizados no hemis2003 e 2009. fério Norte (com exceção da Austrália e da Nova Zelândia). Entre esses Essa mudança no perfil socioecopaíses há estreitas ligações econômicas e financeiras, e os Estados Uninômico do país deve-se em grande dos, o Japão e o bloco da União Europeia formam os três grandes poparte à estabilidade econômica e às los econômicos do mundo. políticas de transferência de renda, A situação de desenvolvimento dos demais países não é uniforme. como o Bolsa Família. No entanto, em Alguns se destacam por apresentarem maiores condições de desenvol2010 mais de 16 milhões de pessoas ainda viviam em condições de extrevimento e grande importância econômica. Constituem a semiperiferia e ma pobreza, com menos de 70 reais também são chamados de emergentes. Alguns desses emergentes formensais. mam o grupo designado como Brics – Brasil, Rússia, Índia, China e Em grupo, discuta o que significa África do Sul (South Africa, em inglês). para o Brasil o aumento da populaOs demais países apresentam maior número de problemas socioecoção de classe média. nômicos e, portanto, são a periferia propriamente dita do sistema. ID/BR > A dificuldade de caracterizar os países periféricos Capítulo 1 ■ A formação do mundo capitalista NOTA: Em mapas como este, em projeção azimutal oblíqua, não é possível indicar orientação. 20 3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 20 29/05/14 17:42 Informe [...] A África só começou a ser ocupada pelas potên- diadas em Londres, Lisboa e Paris e a partir das quais se cias europeias exatamente quando a América se tornou buscava ampliar o conhecimento sobre as regiões até enindependente, quando o antigo sistema colonial ruiu, tão desconhecidas dos homens do Ocidente. Nessa época dando lugar a outras formas de enriquecimento e de- o exotismo, ou seja, a maneira de viver e as expressões de senvolvimento das economias mais dinâmicas que se outras culturas, era valorizado na Europa [...]. industrializavam e ampliavam seus mercados consumiAlém do interesse por matérias-primas e mercados, do dores. Nesse momento foi criado um novo tipo de colo- maior conhecimento do interior do continente e suas ronialismo, implantado na África a partir do final do sécu- tas de penetração, da descoberta de que o quinino ajudalo XIX, depois da Conferência de Berlim, que em 1885 va na cura da malária, um fator decisivo para a ocupação dividiu o continente africano entre Portugal, Espanha, da África foi a invenção do rifle. [...] Esse conjunto de faInglaterra, França, Alemanha, Itália e Bélgica. tores pouco a pouco venceu a resistência africana, e os A divisão, contudo, não foi feita de uma só vez. Se exércitos europeus abriram caminho à força para a penepensarmos em termos amplos, em tempos longos, em tração dos comerciantes e dos administradores coloniais, processos que passaram por muitas etapas, a ocupação agentes de poderes distantes que iam subjugando as soda África por alguns países europeus teve as sementes ciedades locais e impondo a sua dominação. [...] lançadas desde o início do comércio atlântico. Os acor- MELLO E SOUZA, Marina. África e Brasil africano. São Paulo: Ática, 2006. dos diplomáticos entre os países que participaram da p. 153-155. Conferência e decidiram nas mesas de negociação europeias quem ficaria com que áreas estabeleceImperialismo europeu na África – 1914 ram que estas seriam definidas pelos pontos de 20°O 0° 20°L 40°L ocupação já existentes na vasta costa africana. AsEUROPA sim, foi a partir desses pontos, nos quais atuavam Mar M e ite há séculos, que os países europeus começaram a rrâneo ÁSIA tomar conta do continente. Além das relações diplomáticas e comerciais que Trópico de Câncer existiam entre chefes e comerciantes africanos e os europeus desde o século XVI, outros fatores foram decisivos na ocupação colonial do continente africano. O primeiro deles foi a exploração do seu interior pelos europeus, que conheciam bem a costa, mas quase nada além dela. Os mapas anteriores Equador 0° ao século XIX mostram a geografia imaginária que OCEANO OCEANO ÍNDICO eles construíram, feita de relatos fragmentados e ATLÂNTICO de induções a partir do que conheciam na costa. O aumento de interesse pelas matérias-primas que o continente poderia oferecer para alimentar Trópico de Capricórnio as novas necessidades das indústrias levou os empresários da época de olho nos recursos naturais a investir em expedições de exploração que uniam França Espanha seus interesses à curiosidade de alguns cientistas Império Itália e aventureiros. Britânico Alemanha 0 1035 2070 km Os percursos dos principais rios da África, como Bélgica Independente o Nilo, o Senegal, o Níger e o Congo, só foram revePortugal 1 cm – 1035 km lados aos europeus no século XIX, depois de várias expedições de exploração. Na maior parte das vezes Fonte de pesquisa: SCALZARETTO, R.; MAGNOLI, D. Atlas: geopolítica. São Paulo: elas eram bancadas por sociedades de geografia se- Scipione, 1996. p. 13. ID/BR A ocupação colonial MARROCOS ESPANHOL d MARROCOS RIO DO OURO TUNÍSIA ARGÉLIA LÍBIA M EGITO V ar o el h erm NIGÉRIA CAMARÕES Meridiano de Greenwich RIO MUNI ETIÓPIA Q U COSTA DO OURO C RI ÁF A E UGANDA SOMÁLIA BRITÂNICA SOMÁLIA ITALIANA QUÊNIA CONGO BELGA ANGOLA ÁFRICA DO SUDOESTE BAÍA DE WALVIS SOMÁLIA FRANCESA ERITREIA RIA LF COSTA DO MARFIM SUDÃO ANGLO-EGÍPCIO AT O LIBÉRIA TOGO GUINÉ PORTUGUESA SERRA LEOA RAN CESA ÁFRICA OCIDENTAL FRANCESA GÂMBIA ÁFRICA ORIENTAL ALEMÃ RODÉSIA DO NORTE RODÉSIA DO SUL BECHUANALÂNDIA MADAGASCAR MOÇAMBIQUE SUAZILÂNDIA UNIÃO SUL-AFRICANA BASUTOLÂNDIA Para discutir 1. Quais fatores levaram à partilha da África? 2. Além da conquista pelas armas, os colonizadores utilizaram-se da estratégia de ensinar a sua língua e a religião cristã aos africanos. O que se pretendia com isso? Explique. 21 3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 21 29/05/14 17:42 Atividades ❚ Revendo conceitos 11. Analise o mapa e responda às questões. ID/BR 1. Qual é a relação entre o desenvolvimento técnico e a transformação da natureza? 180° 135°O 90°O 45°O 2. O que é espaço geográfico? 0° Círculo Polar Ártico 3. Como se pode definir a divisão do trabalho? 45°N 4. Quando e como teve início a formação dos Estados modernos? Equador OCEANO PACÍFICO Meridiano de Greenwich OCEANO PACÍFICO Trópico de Capricórnio Círculo Polar Antártico 6. Qual foi o papel das colônias para a consolidação do mercantilismo? OCEANO ÍNDICO 0° 45°S OCEANO GLACIAL ANTÁRTICO 0 5 110 10 220 km limite internacional 7. Como estão divididas as classes sociais no sistema capitalista? 1 cm – 5 110 km Fonte de pesquisa: Atlas geográfico escolar. Rio de Janeiro: IBGE, 2009. p. 32. 8. Quais são as principais características dos países centrais? a) Quais são os cinco países destacados? Que conjunto eles formam? b) Quais são as características comuns a esses países? c) Dê um título ao mapa. 9. Como se define a semiperiferia do sistema capitalista? ❚ Lendo mapas e tabelas 12. Analise a tabela e responda às questões. 10. Os dois mapas a seguir representam o mundo conhecido pelos europeus, respectivamente, por volta de 1450 e 1550. Compare-os e apresente as causas de sua ampliação. Os dez maiores PIBs – 2011 ID/BR Reprodução de planisférios de 1450 e 1550 Capítulo 1 ■ A formação do mundo capitalista OCEANO ATLÂNTICO Trópico de Câncer 5. Por que, durante séculos, as rotas comerciais marítimas ficaram concentradas na região banhada pelo mar Mediterrâneo? 1450 45°L 90°L 135°L 180° OCEANO GLACIAL ÁRTICO País PIB (bilhões de dólares) 1 Estados Unidos 15 094 2 China 7 298 3 Japão 5 869 4 Alemanha 3 577 5 França 2 776 6 Brasil 2 492 7 Reino Unido 2 417 8 Itália 2 198 9 Rússia 1 850 10 Canadá 1 736 Fonte de pesquisa: FMI. Disponível em: <http://www.imf.org/external/ pubs/ft/weo/2012/01/weodata/weorept.aspx?sy=2011&ey=2011&ssd= 1&sic=1&sort=country&ds=%2C&br=0&pr1.x=38&pr1>. Acesso em: 2 ago. 2012. 1550 Fonte de pesquisa: BENDJEBBAR, André; BESNIER, Martine. Multilivre. Paris: Hachette, 1996. p. 53. a) Identifique os países centrais. b) Após analisar os dados, reflita sobre a afirmação: “Atualmente, há certos países que estão na semiperiferia do sistema capitalista, e a eles não cabem mais as tradicionais características de países periféricos”. Você concorda com a afirmação? Justifique. 22 3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 22 29/05/14 17:42 ❚ Interpretando textos e imagens The Granger Collection/Other Images 13. Compare as duas imagens do Largo da Carioca na cidade do Rio de Janeiro. Aponte os fatores que podem explicar as diferenças de organização do espaço geográfico no mesmo lugar. Luciano Bergamaschi/Futura Press 15. Analise, na paisagem representada a seguir, a relação entre técnica e transformação da natureza. K. Weichert/Tyba Início do século XX. Rodovia dos Imigrantes, que liga a cidade de São Paulo à Baixada Santista, interligando o planalto (750 m de altitude) à orla litorânea. Foto de 2010. 16. Leia o texto a seguir e faça o que se pede. A crise financeira na Europa não é mais um problema restrito a economias pequenas e periféricas como a Grécia. O que está acontecendo neste momento é uma corrida em grande escala aos bancos nas economias muito maiores da Espanha e da Itália. Atualmente os países em crise respondem por cerca de um terço do produto interno bruto da zona do euro, de forma que a própria moeda comum europeia encontra-se diante de uma ameaça existencial. KRUGMAN, Paul. Disponível em: <http://noticias.uol.com.br/blogse-colunas/coluna/paul-krugman/2011/09/13/crise-financeira-naeuropa-nao-e-mais-um-problema-restrito-a-economias-perifericas. htm>. Acesso em: 25 abr. 2014. Início do século XXI. Desenho de Plantu/Le Monde 14. Observe a charge e apresente suas conclusões sobre o que a personagem diz. De que ponto de vista ela utiliza a expressão “presença benéfica”? a) Explique por que a Grécia é apresentada como um país de economia pequena e periférica na Europa. b) Identifique a importância dos bancos na atual fase do capitalismo financeiro. c) Associe sistema capitalista e crise. 17. O texto a seguir expõe diferenças entre os países centrais e os países periféricos do capitalismo. Explique com exemplos essas diferenças. A diferença entre países do centro do capitalismo e aqueles da periferia, quanto à proteção social, é gritante. Na periferia, houve dificuldade em completar o Estado de Bem-Estar Social, assim como as elites locais barraram os avanços da democracia. Tradução: “Se nossa presença era tão benéfica, por que eles nos deixaram partir?” POCHMANN, Marcio. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392004000200002>. Acesso em: 25 abr. 2014. 23 3P_SPG_FR1_LA_UN1_CAP01_014a023.indd 23 29/05/14 17:42