SAÚDE
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) na vida da Pessoa Idosa
Marina Nhamba1
[email protected]
Resumo: O artigo em questão trata-se de uma revisão de literatura sobre a Hipertensão
Arterial Sistêmica (HAS) na pessoa idosa, considerada um problema de saúde pública a
nível mundial, enquanto fator de risco para doenças cardiovasculares, cerebrovasculares
e renais. Para isso, foram utilizadas bases de dados eletrônicas de ciências em saúde,
literatura do Caribe em ciências da saúde, literatura latino-americana e do Caribe em
Ciências da Saúde e Scientific Electronic Library Online.
Palavras-Chave: Envelhecimento; Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS); Idosos
Abstract: The paper presents a literature review on the systemic arterial hypertension
(SAH) in the elderly, considered a public health problem worldwide as a risk factor for
cardiovascular, cerebrovascular and renal diseases. For this, we used the electronic
databases of health sciences, Caribbean literature in health sciences, Latin American
literature and Caribbean Center on Health Sciences and Scientific Electronic Library
Online.
Keywords: Aging; Systemic Arterial Hypertension; Seniors
Introdução
Nos últimos anos, em países desenvolvidos e nos que ainda estão em vias de
desenvolvimento, o envelhecimento da população tem gerado uma significativa
transição demográfica. A idade populacional que antes era representada por uma
1
Graduada em Enfermegem pela Universidade do Estado de Mato Grosso – Brasil, Docente do Curso de
Enfermagem do Instituto Superior Politécnico Sol Nascente - Angola
Página 9 de 212
pirâmide, atualmente há uma tendência para uma inversão da pirâmide, que indica um
elevado número de pessoas idosas em relação ao de adultos e crianças.
Projeções para as próximas décadas indicam que o continente africano continuará sendo
a região mais jovem do planeta, mas haverá também um considerável aumento da
população acima de 65 anos de idade.1
Esse envelhecimento populacional pode ser justificado pela mudança de alguns
indicadores de saúde, essencialmente a queda da fecundidade, diminuição da taxa de
mortalidade e o aumento da esperança de vida.2 Entretanto o que não verifica-se é o
concomitante aumento de fatores que garantam a qualidade de vida.
A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS, 2003)3 define o envelhecimento como
“um processo sequencial, individual, acumulativo, irreversível, universal e não
patológico”. Ele é próprio de todos os indivíduos, entretanto não ocorre de forma
homogénea, uma vez que os seres sofrem influência dos factores internos e externos.2,3
Com o passar dos anos ocorre naturalmente uma diminuição progressiva da reserva
funcional do ser humano, que mesmo não sendo sinónimo de doença, culmina em um
estado de maior vulnerabilidade, diminuição da reserva energética e menor resistência a
agentes entressorres.
Em função desta maior fragilidade é significativo o número de idosos que são
acometidos por doenças e agravos crônicos, que podem ser longos ou permanentes.2,3
Sob essas condições patológicas, tendem a manifestar-se as comorbidades (morbidades
associadas).2 Ainda que essas condições não sejam fatais, resultam em um estado que
requer assistência e comprometem a qualidade de vida do idoso. Os problemas de saúde
dos idosos desafiam os modelos de cuidado a medida em que a sociedade envelhece.4
.5,6
últimos anos vem tornando-se um dos mais graves problemas de saúde pública,
atingindo, principalmente a população mais idosa.7,2,5,8
A maior prevalência de acidente vascular cerebral em pacientes hipertensos é observada
em indivíduos da raça negra.9,10,11 Estudos realizados em Angola, com um grupo de
universitários do Lubango, demonstraram um elevado índice de hipertensos já na faixa
etária de 28 a 39 anos de idade.12
Metodologia
Trata-se de um estudo de revisão literária a respeito da Hipertensão Arterial Sistêmica
(HAS) na pessoa idosa. Utilizou-se as bases de dados eletrônicas de ciências em saúde
Literatura do Caribe em Ciências da Saúde (MEDCARIB), Literatura Latino-Americana
Página 10 de 212
e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Scientific Electronic Library Online
(SciELO).
A busca de dados foi direcionada por meio de descritores catalogados no Descritor em
Ciências da Saúde (DeCS) e palavras-chave referentes a temática – Hipertensão Arterial
Sistêmica e Idosos.
Determinou-se como critério para seleção os estudos que relacionaram a doença com a
faixa etária acima de 60 anos de idade. Após filtrar estes estudos nas etapas de
identificação, seleção e avaliação, realizou-se a extração e interpretação dos dados
obtidos à respeito a HAS na pessoa idosa.
Desenvolvimento
A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) é atualmente considerada um problema de
saúde pública a nível mundial pois consiste em um importante fator de risco para
doenças cardiovasculares, cerebrovasculares e renal.2,7
Configura-se como uma doença altamente prevalente entre as pessoas idosas e
representa uma condição determinante para morbidades e mortalidade, mas que não é
intrínseca do envelhecimento.13 Ela pode ser controlada, assim reduz-se as
incapacidades e limitações funcionais por ela gerada.
, provocando perda da distensibilidade e
elasticidade que consequentemente diminui sua capacidade com o aumento da
velocidade da onda de pulso.14
-
, e maiores
15
re
.
,
renal, neural e en
16
.
O termo Hipertensão Arterial (HA) refere-se a Pressão Arterial (PA) elevada, que é
diagnosticada quando a Pressão Arterial Sistólica (PAS) encontra-se superior ou igual a
140 mmHg e a Pressão Arterial Diastólica (PAD) superior ou igual a 90 mmHg.2,7,14
A prevalência dessa doença tem relação direta com a idade e obesidade. Deve ser
investigada sistematicamente mesmo que os níveis da pressão apresente-se adequados,
pois é uma complicação silenciosa, que nem sempre acompanha sintomas, o risco tornase elevado.
Página 11 de 212
A HAS ocorre com maior frequência na terceira idade, tende a ser mais severa na raça
negra, e com maiores riscos no grupo feminino.8,9,10
sintomas, mas apresentem fatores de risco.4
Um importante factor a ser considerado na medida da PA durante a Sistematização da
Assistência de Enfermagem (SAE) é o Histórico, Exame Físico e a técnica e aparelhos
utilizados. Consideram-se os esfignomanômetros de coluna de mercúrio mais confiáveis
em relação aos digitais.
Para aferir a PA o paciente deve estar em repouso, em posição sentada. Nessa técnica o
manguito deve corresponder a não menos de 40% da circunferência do abraço e o seu
comprimento envolver pelo menos 80% do membro referido.2,7
Há dois achados possíveis ao aferir a PA que são de grande relevância, a Pseudohipertensão e hiato auscultatório.2 O primeiro é caracterizado por um falso nível
elevado da PA em detrimento do enrijecimento da parede arterial. Ela é detectável com
a técnica de Osler, infla-se o manguito no braço até o desaparecimento do pulso radial,
assim, observada caso a artéria fique palpável após a técnica, quando sugere um
enrijecimento que indicará um Osler-positivo.
O segundo achado, hiato auscultatório, é caracterizado pelo desaparecimento dos sons
na ausculta durante a deflação do manguito, que é identificado ao final da fase I e o
início da fase II dos sons de Korotkoff. Ele indica em uma subestimação da pressão
sistólica ou superestimação da pressão diastólica, achado verificado com maior
frequência.
A PA em adultos pode ser classificada em normal (PAS menor que 120 mmHg e PAD
menor que 80 mmHg), pré-hipertensão (PAS entre 120 e 139 mmHg e PAD entre 80 e
89 mmHg) e hipertensão, que é dividida em Estágio I (PAS entre 140 e 159 mmHg e
PAD entre 90 e 99 mmHg) e o Estágio II (PAS acima de 160 mmHg e PAD acima de
100 mmHg).7
.5
Os exames laboratoriais recomendados aos hipertensos são: o hemog
, LDL-colesterol,
15
HDL-colesterol, EAS e eletrocardiograma.
No tratamento da HAS o principal objectivo é redução da morbidade e mortalidade
cardiovascular do paciente idoso hipertenso.7,2,6 Isso pode ocorrer pelos altos níveis
tensionais e de outros factores agravantes.
Página 12 de 212
Atualmente muito investiga-se sobre as medidas farmacológicas e não farmacológicas
para o controle da hipertensão. As drogas anti-hipertensivas de escolha devem agir não
apenas na redução dos níveis tensionais, mas também na redução dos ricos de acidentes
cardiovasculares.2 Entretanto a introdução do anti-hipertensivo deve ser feita em doses
baixas e com aumento gradual para evitar quedas tensionais que possam acarretar
hipotensão ortostática ou hipofluxo em órgãos vitais.14
As comorbidades genericamente determinam a escolha do anti-hipertensivo, elegendo
os fármacos que também agem sobre outras doenças existentes.14
As abordagens terapêuticas para redução dos níveis pressóricos podem ser desde a
alteração no estilo de vida até a utilização de fármacos.2,6
O paciente cujo diagnóstico é de pré-hipertensão pode ser tratado com os não fármacos,
unicamente com mudanças de hábitos. Essas medidas compreendem em geral uma
alimentação saudável, prática de actividades físicas, não tabagismo e alcoolismos.
No Estágio I essa abordagem terapêutica deve ser mantida concomitante ao
acompanhamento rigoroso dos níveis pressóricos, entretanto se após um período de 6 a
12 meses não houver significativa redução deve-se associar uma intervenção
medicamentosa. O paciente diagnosticado com Estágio II de HAS deve inicialmente ser
tratado com os fármacos, mas também associados a mudança do estilo de vida.
Atualmente, as principais classes de medicamentos anti-hipertensivos utilizados são os
bloqueadores adrenérgicos, bloqueadores dos canais de cálcio e os diuréticos.14,7,17
É necessário avaliar as particularidades no tratamento medicamentoso, considerando as
alterações fisiológicas próprias do envelhecimento, que resultam na alteração da
absorção, da distribuição e metabolização dos medicamentos.14
Para um controle efetivo e prevenção de complicações é necessário que a abordagem ao
paciente idoso seja um processo contínuo de motivação para que não haja resistência ou
abandono do tratamento.
No planejamento da Assistência de Enfermagem ao paciente idoso com HAS deve
conter estratégias para o tratamento não farmacológico. Primeiramente deve se feito o
controle do excesso de peso, pois representa um factor predisponente para o aumento da
PA, com especial atenção a gordura predominante na região abdominal – obesidade
central, que pode estar associada com a resistência à insulina e doença cardiovascular.2
As alterações na alimentação podem ser feitas gradativamente para melhor adesão ao
tratamento não-farmacológico. Essencialmente é preciso reduzir o consumo do sódio,
aumentar o consumo de frutas, verduras e derivados do leite e reduzir a quantidade de
gorduras saturadas da dieta.2,18
Página 13 de 212
Realizar atividades físicas regularmente auxilia o paciente no controle dos níveis da PA,
na redução excesso de peso e considerável diminuição do risco de doença arterial
coronária, acidentes vasculares cerebrais e mortalidade em geral.2,17
Na abordagem farmacológica a esse paciente, é importante que o enfermeiro considere
o tempo que o medicamento leva para atingir o seu efeito máximo, que pode demorar de
quatro a seis semanas e não altere a medicação antes deste período.7
A considerar a presença de comorbidades, tolerância medicamentosa e resposta
individual, a escolha do fármaco deve ser individualizada a cada paciente. 14 Em geral a
classe de fármacos que demonstram maiores benefícios, como redução dos eventos
cardiovasculares, cerebrovasculares e renais, são os diuréticos. Razão esta e pelo baixo
preço é que são de primeira escolha.7,2
.19 Neste contexto, é necessário a elaboração de
estratégias pela equipe de enfermagem que possa estimular o idoso a não abandonar o
tratamento.
Na Atenção à Saúde da Família a equipe de enfermagem tem um papel imperioso no
tratamento do idosos hipertensos.7,10 São atribuições e competências dos auxiliares e
técnicos de enfermagem: aferir a PA, verificar o peso, altura e circunferência abdominal
do paciente; realizar orientações sobre a mudança no estilo de vida e riscos das doenças
associadas; agendar consultas; conservar os equipamentos (esfigmomanômetro e
estetoscópio); e controlar estoque de medicamentos.
O enfermeiro responsável pela unidade de Saúde da Família deve realizar ações de
gestão em saúde, educação em saúde para comunidade e capacitações para sua equipe, e
atendimento aos pacientes buscando práticas para melhor
adesão ao tratamento da
doença. 7
Conclusão
Com o envelhecimento da população é necessário que sejam desenvolvidas mais ações
de promoção e educação em saúde, medidas de prevenção de agravos das doenças
crônicas para a manutenção da capacidade funcional e qualidade de vida dos idosos
hipertensos.
Para que essas ações e medidas sejam efetivas é necessário que haja mais estudos
epidemiológicos sobre o grupo de hipertensos Angolanos nesta faixa etária.
Página 14 de 212
Bibliografia
1. BRITO, Fausto. A transição demográfica no contexto internacional. Belo
Horizonte: UFMG/Cedeplar, 2007.
2. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de
Atenção Básica. Envelhecimento e saúde da pessoa idosa. Brasília: MS, 2006;
caderno nº 19.
3. ORGANIZACIÓN PANAMERICANA DE LA SALUD. Guia Clínica para
atención Primaria a las Personas Mayores. 3 ed. Washington: OPAS, 2003.
4.
,
Rio de Janeiro, v. 28, n. 10, p. 1834-1840, out, 2012.
5.
, 2008.
6. RENNER, S. B. A.; FRANCO, R. R.; ERLEZI, E. M.; BERTHOLO.
Associação da hipertensão arterial com fatores de risco cardiovasculares em
hipertensos de Ijuí, RS. RBAC; v. 40, n. 4, p. 261-6, 2008.
7. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Hipertensão
Arterial Sistêmica para o Sistema Único de Saúde. Brasília, 2006, 58 p.
8.
– MA. Saúde Coletiva, v. 9, n. 56, p. 40-45, 2012.
9.
, jul.
2010.
10.
a na Cidade de
Salvador. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, v. 82, n. 2, p. 111-5, 2004.
11.
negros e mulatos portadores de glomerulonefrite. Rev Assoc Med Bras, 2002; v.
48, p. 167-71.
12. SIMÃO,
lubango, Angola. Revista Latino-americana de Enfermagem, 2008 julho-agosto;
vol. 16, n. 4.
Página 15 de 212
13. WESCHENFELDER MAGRINI, D.; GUE MARTINI, J. Hipertensão arterial:
principais fatores de risco modificáveis na estratégia de saúde da família.
Enfermería Global. N. 26, 2012.
14. LONGO, Marco Aurelio Tosta; MARTELLI, Anderson;
, SP. Revista Brasileira de Geriatria e
Gerontologia. Rio De Janeiro, 2011; v. 14, n. 2, p. 271-284.
15.
A.; MAGALHÃES, Maria Eliane; POZZAN, Roselee; ZILLI, Emilio;
POZZAN, Roberto.
16. SANJULIANI, Antonio Felipe. Fisiopatologia da hipe
. Revista da SOCERJ, 2002; v. 15, n. 4.
17.
arterial, diabetes e dislipidemia. 1 ed. Londrina, 2006; 167 p.
18. ORGANI
, 2010; 232 p.
19.
. Universidade Federal de Minas Gerais,
2011.
20.
. Enfermería Global, 2010; n. 20.
21.
al. Porto Alegre: Hospital Nossa Sen
, 2009; 54p.
Página 16 de 212
Download

A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) na vida da Pessoa Idosa