A “PÁTRIA DE CHUTEIRAS” E OS CONGRESSOS PROFISSIONAIS Edison Flavio Macedo - ensaio O Brasil é o “país do futebol”! Alguém tem alguma dúvida disso? Milhões são os praticantes do chamado esporte bretão. O maior campeonato nacional do mundo é anualmente realizado. Novos valores surgem a todo momento e uma grande quantidade de craques é “exportada” para todos os continentes. A balança de pagamentos penhorada agradece. O Brasil é o único pentacampeão mundial. E tudo isso começa nos campinhos da várzea, em cada um dos 5.560 municípios brasileiros. Foi neles que Domingos da Guia, Didi, Pelé, Garrincha, Romário, Jairzinho, Zico, Neymar, e tantos outros deram seus primeiros dribles e impressionaram os sempre presentes “olheiros”. Depois eles foram para os clubes locais, muitos deles para os nacionais e internacionais. Poucos conseguiram realizar o sonho de chegar à Seleção e ajudar a colocar mais uma estrela na camisa canarinha. Pois bem, você sabe o que significa “chegar à Seleção”? E quantos conseguem isso? Talvez um em cada dez mil “combatentes” consegue aproximar-se de uma convocação. É muito extenso o rol dos requisitos e dos obstáculos que precisam ser vencidos. Dele fazem parte a indispensável vocação, a necessária preparação física, a adequada aplicação técnica, o domínio dos fundamentos do futebol, tais como o controle de bola, o chute, o drible, o cabeceio, o passe, a visão de campo, o posicionamento etc. Além disso, a condição psicológica também é importante para o enfrentamento dos desafios sempre presentes nas competições. Um pouco de sorte sempre ajuda, porém é preciso mais genealidade do que sorte! E quanto menos genealidade mais treinamento e condicionamento! Após essas considerações, “en passant” vamos ver como está sendo formada a Seleção Brasileira para a Copa de 2014. 1 Lá atrás, há mais de dois anos, após as frustrações da Copa de 2010, foi contratado um novo técnico, formada uma nova Comissão Técnica, convocados jogadores para a formação de uma nova Seleção e recomeçados os amistosos. E como sempre acontece, com o novo, novas perspectivas se abriram e os brasileiros, com o otimismo recomposto, pensaram logo: “estamos a caminho do hexa!”. Enquanto os novos estádios – independentemente de qualquer cogitação de prioridades nacionais - saiam do papel e começavam a dar provas da capacidade de realização da engenharia brasileira, a seleção testava quase uma centena de jogadores, tantos os nacionais como os “estrangeiros”. A opinião geral, e especialmente a dos cronistas esportivos, diverge muito sobre essas experiências. Alguns condenam o “estrelismo” de alguns convocados, outros alegam que existem interesses extracampo presidindo as convocações, e consequentemente a valorização de jogadores pouco conhecidos. Ora, como se sabe neste Brasil de cem milhões de técnicos as convocações para a Seleção nunca agradam a todos – a não ser quando nas preparatórias os resultados obtidos sejam altamente satisfatórios, o que não é o caso presente. Se perguntado, entretanto, cada brasileiro terá na ponta da língua uma escalação diferente daquela que foi a campo, e geralmente com a inclusão de alguns craques de seu “clube do coração”. Mas as situações sempre podem melhorar. Ou piorar, como está sendo, s.m.j., a preparação da Seleção Brasileira para a Copa de 2014. Eis que, de forma tumultuada e constrangedora para o futebol e para os brasileiros, o presidente da CBF “demitiu-se”, e o seu substituto – uma figurinha já carimbada do futebol e da política – saindo de um total ostracismo, assumiu disposto a “moldar a Seleção ao seu feitio”: contratou novo treinador, nova comissão técnica e, a partir daí, passou a comandar superiormente a montagem de um novo plantel. O que fazer, afinal a CBF, uma das mais conhecidas “instituições brasileiras”, é uma entidade de direito privado e você e eu somos meros telespectadores (deste e, simultaneamente, de quase “cem outros canais de entretenimentos”). E o pior ainda, apesar de tais circunstâncias, não podemos “torcer contra a pátria de chuteiras”. Haja paciência, mas enquanto a Copa não chega sempre haverá esperança. Poderá acontecer algum acidente de percurso que recoloque a Seleção nos caminhos balizados pelos parâmetros desejados por todos os brasileiros: competitividade da seleção, combatividade dos jogadores e, é claro, confiança na Comissão Técnica. Só nos resta aguardar os fatos novos que poderão emergir no transcurso dos campeonatos que vêm aí: Copa Brasil e das Confederações e o Campeonato Nacional nas séries A, B, C ... 2 Muito bem, e o que tem essa história a ver, no Sistema Confea/Crea, com o “processo dos congressos profissionais de 2013”? Ora, no mínimo ela presta-se a uma excelente analogia, senão vejamos: Tudo começa no universo profissional, presente em todas as unidades da Federação e integrado por mais de um milhão de engenheiros, engenheiros agrônomos, geólogos, geógrafos, meteorologistas, tecnólogos e técnicos de todas as especialidades. Esse é o grande manancial onde têm origem as primeiras preocupações, onde tem início a necessária mobilização, onde surgem as ideias inovadoras e onde são realizados os alinhamentos indispensáveis às consistentes proposições de mudanças que esses profissionais têm o direito-dever de apresentar ao sistema e à sociedade. Aí despontam os craques, ou melhor, as lideranças que, por seus próprios méritos e carismas, começarão a ocupar posições estratégicas nos vários níveis da organização profissional e descrever uma trajetória que, se bem objetivada, poderá ser ascendente e célere. Como? No âmbito interno do Sistema, primeiro atuando nas associações, núcleos, delegacias, cooperativas, caixas e inspetorias; depois operando em federações, colégios, escolas e conselhos regionais; finalmente dirigindo confederações, universidades, Mútua e Conselho Federal. No âmbito externo procurando viabilizar o cumprimento da “missão” que o sistema assumiu: prestar serviços com responsabilidade técnica e qualidade, defender intransigentemente os “interesses sociais e humanos” sempre presentes nos empreendimentos profissionais e procurar uma inserção internacional que permita às profissões integradas ao Sistema o contínuo acompanhamento do “estado dos conhecimentos” na conjuntura mundial. Todos os anos, milhares de pretendentes se apresentam, mas nem todos conseguem o apoio dos pares para o exercício de lideranças maiores. Existe, necessariamente, um rigoroso processo de seleção político-profissional dos melhores perfis e da escolha das melhores propostas para o desenvolvimento sustentável do sistema e da sociedade. Assim como no futebol, a bola percorre uma trajetória mágica em direção ao gol, nos congressos profissionais são as propostas que transitam buscando, primeiro, o apoio dos participantes, e, segundo, o atingimento de metas solidariamente estabelecidas. No início do processo, o número dessas propostas é da ordem de dezenas de milhares; no final, depois das agregações de valor que recebem ao longo das discussões a que se submetem, apenas algumas delas são representativas da amálgama produzida pelo consenso geral. E de um extremo a outro, acontece um fenômeno que desejamos destacar: a transformação de ideias individuais, consideradas inicialmente em suas expressões psicológicas, quando os indivíduos as dominam, em ideias coletivas que adquiriram expressão sociológica, passando a dominar os indivíduos. Quando isso ocorre as lideranças se valorizam, o Sistema se engrandece e a sociedade é beneficiada. 3 Assim como os campeonatos de futebol revelam novos craques, o processo dos congressos profissionais revela as novas lideranças que se propõem atuar na interface das questões sistema-sociedade. Assim como nos estádios os torcedores motivados, como que obedecendo a batuta de um maestro, reproduzem a tradicional “hola”, nos congressos o posicionamento dos participantes é marcado, no calor das votações, pela movimentação multicolorida dos “crachás levantados”. Assim como os campeonatos de futebol seguem fases e cumprem etapas – das disputas locais às competições nacionais e internacionais – os congressos profissionais cumprem uma intensa trajetória – desde os eventos microrregionais, passando pelos congressos estaduais até chegar, em verdadeira catarse, às etapas nacionais. No primeiro caso o saldo de gols e a posição na tabela decidem o sucesso dos clubes. Já no segundo, são a qualidade das propostas e a competência na sua implementação as responsáveis pelo êxito almejado. Em 2013 teremos, no futebol, o grande teste pré-Mundial, a Copa das Confederações, evento que testará a competência nacional para a realização do grande evento de 2014. No “processo dos congressos profissionais” teremos a realização do 8º CNP (precedido pelos Congressos Estaduais e estes pelos eventos microrregionais) que, por sua vez, foi programado para testar as atuais condições do atual MARCO LEGAL (e administrativo) do Sistema Confea/Crea – leis, decretos e resoluções do Confea – face às presentes e futuras demandas profissionais e sociais do desenvolvimento sustentável do País. E para este esforço estamos todos convocados, ex offício. 4