O(S) USO(S) DE DOCUMENTOS DE ARQUIVO EM SALA DE AULA
Marco Aurélio Rodrigues Freitas.
O papel da mulher na publicidade e propaganda no Brasil das primeiras décadas
do século XX.
Análise das mudanças da imagem da mulher na propaganda e na sociedade
brasileira, entre 1915 e 1962, a partir da leitura de imagens publicitárias.
2/2013.
SEQUÊNCIA DIDÁTICA
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1. Tema: o papel da mulher na publicidade e propaganda no Brasil das primeiras
décadas do século XX.
A utilização da iconografia nas pesquisas historiográficas tem crescido muito nas
últimas décadas e conquistado espaços importantes entre os mais diversos historiadores. Lilia
Moritz Schwarcz é um desses melhores exemplos, sua obra se utiliza muito de publicações
periódicas como jornais de época, charges e fotografias. Como a autora foi precursora neste
tipo de trabalho e vários de seus livros são referências para nós historiadores.
Considerando que a seleção de fotografias pode ser pensada em quatro momentos
históricos: segunda década do século XX, anos 20 do mesmo século, início da década de 1930
e uma imagem de 1962. Podemos pensar a mulher em cada momento histórico, ao fazermos a
análise das propagandas nas respectivas transformações econômicas, sociais e culturais da
sociedade brasileira, que ao longo de décadas passa de um modelo republicano oligárquico
agrário para um modelo republicano ditatorial e avança para uma democracia republicana
populista, a partir dos anos de 1950. República representada por uma burguesia ascendente,
um crescente processo de urbanização e o surgimento de dois setores sociais importantes
como o operariado e a classe média. Daí, a preocupação de produzir uma Sequência Didática
que problematize as quatro etapas expostas nos documentos que reproduzem as propagandas
de época.
O século XX, com a consolidação da República, vive grandes transformações, com
revoltas populares, reivindicações de trabalhadores, intensa urbanização e um rearranjo em
seu cenário econômico, social e político. E, claro, com novas necessidades de comunicação,
com uma população ávida por consumir informação e também produtos industrializados. Por
isso, a importância de estudarmos e propaganda e estabelecer relações com as mudanças
sociais e os diversos movimentos do período.
Neste sentido, a porta de entrada para a família é a mulher, mas esse espaço ocupado
por ela se modifica, transformando-a em instrumento de propaganda eficaz de uma sociedade.
2. Justificativa:
Sabemos que a propaganda veicula comportamentos, conceitos históricos e valores
ideológicos. E as mudanças em sua linguagem escrita e visual estão ligadas às transformações
da sociedade. Assim, a leitura com a correspondente análise das imagens femininas é
fundamental para uma proposta de trabalho.
2
Nos documentos, ora a mulher é apresentada como referência familiar, ora como
determinante na manutenção do casamento e da vida conjugal, ora com objetivo sensual em
propagandas.
3. Objetivo.
Analisar as modificações do discurso publicitário e do papel da mulher, ao longo das
décadas correspondentes. Décadas de 1910, 1920, 1930 e o ano de 1962.
Analisar a modificação da imagem feminina na sociedade brasileira comparando anúncios das
décadas de 1910, 1920, 1930 e 1960. Relacionar as transformações da sociedade brasileira
com o papel da mulher, a partir da análise do discurso e da veiculação da imagem da mulher
na propaganda.
4. Componente Curricular.
As transformações econômicas, políticas, sociais e culturais do Brasil na primeira
metade do século XX.
Marcado pela crise econômica mundial e pela política da Primeira República, que
gerou a chamada “Revolução” de 30. Passando pelo período da Segunda Guerra
Mundial e pelos movimentos culturais dos anos 50 no cenário internacional da
Guerra Fria. Emancipação feminina a partir dos anos 40.
O avanço do papel da mulher e a sua cidadania na primeira metade do século XX, vistos
pela produção fotográfica de época.
4.1.
Fundamentação teórica.
Como a seleção de fotos envolve um período histórico de média duração, penso que o
tema transversal poderia ser a imagem da mulher através da produção fotográfica em todos
esses períodos. Tendo como componente estruturante de análise o processo de urbanização
da sociedade capitalista brasileira, bem como a relação entre o processo econômico com os
valores ideológicos e culturais transmitidos pelas propagandas e a transformação da
comunicação de massa da época. Vale reafirmar, que esses três elementos são fundamentais
3
para compreensão dos valores ideológicos e culturais na primeira metade do século XX,
período de estudo dessa proposta de sequência didática.
Sabemos que a fotografia – como qualquer manifestação artística - é uma produção
cultural que relaciona ética, estética e valores culturais do seu tempo histórico. Assim, a
transformação da imagem e do papel da mulher dentro desse processo, inserido no
capitalismo brasileiro da primeira metade do século XX, pode ser trabalhada nessa sequência
didática, revelando as modificações do papel da mulher nesse processo e permitindo a leitura
desses períodos da história brasileira, através da compreensão da historicidade de cada
conjunto de imagens.
Conforme a sociedade vai mudando, vai mudando também o espaço e os tipos de
imagens reproduzidas dessa mulher. De dona de casa a mulher sedutora ou independente; ora
como foco da propaganda, quando exposta como elemento de harmonia da família; ora como
instrumento de propaganda dos mais diversos produtos expostos ao público. Daí, escolher a
imagem da mulher como tema transversal ao longo de todas as décadas expostas, me parece
interessante para entender o cenário que se transforma ao longo desse período, nos campos
econômicos, políticos e culturais. As imagens também nos permitem pensar em conceitos
como comportamento, estética, preconceito e comunicação de massa.
Outra forma
interessante de estudar as fotografias como tema transversal seria comparar as imagens
reunidas com fotografias de mulheres de outras classes sociais em seu cotidiano,
desconectadas da exclusiva relação de consumo, apresentada nas propagandas.
5. Ano:
Terceiro Ano do Ensino Médio.
6. Tempo Previsto:
8 aulas.
7. Desenvolvimento e conteúdo das atividades:
1ª aula. Anos 1920. Aula expositiva sobre a expansão capitalista, sua em 1929 e as
consequências desse processo no Brasil. Movimentos Fascista e Nazista.
2ª aula. A Segunda Guerra Mundial. Breve exposição sobre o Conflito. Período
pós-guerra, a bipolaridade da Guerra Fria.
Obs.: como trabalharemos com imagens publicitárias, durante as aulas expositivas
destacaremos a importância da imagem nestas etapas do processo histórico.
4
3ª aula. Análise das imagens das mulheres. Ênfase na transformação do papel da
mulher, através das imagens. Nesta aula, faremos uma análise estética,
comportamental e cultural das fotos, através do preenchimento de uma ficha que
identifique elementos de cada fotografia. Identificando o perfil estético e cultural da
imagem; o papel da mulher em cada propaganda; e o objetivo de cada peça
publicitária. Cada aluno deverá preencher a primeira ficha individualmente.
Foto 1. Março de 1918
Foto 2. Setembro de 1927.
5
Foto3. Fevereiro de 1931.
6
Foto 4. Agosto de 1962.
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Apêndice 1. Ficha Individual.
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4ª aula. Análise comparativa do discurso das imagens de mulheres escolhidas a
partir do Kit Pedagógico e de outras duas imagens escolhidas, uma de atriz de
cinema (Greta Garbo) e outra de jovens dos anos 60.
respondidas na aula 3, cada aluno deverá
A partir das fichas
preencher outra ficha que identifique
elementos das duas fotografias (uma com Greta garbo e outra com mulheres em
passeata contra a censura).
Essa nova ficha também será preenchida
individualmente.
Imagem 5.
•
Greta Garbo, modelo de beleza nos anos de 1930. Home iG. Ùltimo Segundo.
Especial Revolução de 30. texto Verônica Mambrini, iG, São Paulo. Acesso em
07/11/2013. 16; 45min.
9
Imagem 6.
Anos de 1960. http://conspiracaovital.blogspot.com.br/2012/07/juventude-revolucionaria-osanos-60. Acesso em 07/11/2013. 16h49minmin.
Apêndice 2. Ficha Individual.
5ª aula. Construir um panorama comparativo entre as fotografias das propagandas e
fotografias cotidianas de mulheres do mesmo período. Identificando semelhanças e diferenças
conceituais sobre o perfil dessas mulheres exposta nas imagens e a informação veiculada nas
respectivas imagens: (na quinta aula, o preenchimento da ficha deverá ser coletivo; em
grupos de quatro alunos, decorrente de um debate preliminar oriundo do trabalho
individual na primeira e segunda ficha).
Apêndice 3. Ficha Coletiva
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6ª aula. A mulher nos movimentos musicais dos anos 1940 a 1960. Com leitura e produção
de textos compartilhados de algumas letras musicais que falem de mulher. Não temos
fotografias de propagandas dos anos 40 e 50 e apenas uma fotografia de 1962. Como a
imagem se traduz também através da literatura e da poesia. Problematizaremos a aula com
duas letras musicais: Não tem tradução, de Noel Rosa; e Garota de Ipanema, que retratam a
mulher em seu tempo, a influência do cinema na construção de um modelo feminino e de
sociedade; e por fim, a forma como é possível ler esse processo de transformação, ora pela
imagem, ora pela língua. Palavras chaves: transformação, exibição, corpo, beleza.
Texto Coletivo. O mesmo grupo que preencheu a ficha nº3 deverá produzir um texto
analítico e coletivo, após a leitura compartilhada das duas letras musicais. O objetivo deste
texto é estimular o aluno a problematizar e estabelecer uma análise comparativa entre o
modelo de mulher presente nas fotografias e o modelo de mulher compreendido nos dois
poemas das músicas de Noel Rosa e Tom Jobim.
Anexos 1 e 2.
7ª aula. Produção de uma peça de propaganda com a presença feminina em um dos
períodos estudados da sequência didática, através das imagens fotográficas nos anos
1920 ou 1930.
8ª aula. Sequência do trabalho para a produção de outra peça de propaganda
com a presença feminina em um dos períodos estudados da sequência didática. Anos
1950 ou 1960.
Cada grupo (com os mesmos quatro alunos que produziram o texto coletivo) terá a
liberdade de escolher uma das décadas livremente, nas 7ª e 8ª aulas.
Roteiro das aulas:
Primeiras duas aulas: exposição do período estudado, com ênfase nas
transformações culturais da época.
Terceira aula: preenchimento individual de roteiro de análise das fichas
correspondentes a cada fotografia (fotos 1,2,3 e 4 )
Quarta aula: preenchimento individual de roteiro de análise comparativa da ficha
correspondente às fotografias 5 e 6.
Quinta aula: preenchimento individual de ficha de análise comparativa entre as
fotografias das propagandas e fotografias cotidianas de mulheres do mesmo período
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Sexta aula: produção de texto coletivo, em grupo de quatro alunos
Sétima e oitava aulas: produção de peça publicitária, com o mesmo grupo de quatro
alunos.
Bibliografia.
1. ROCHA, Helenice Aparecida Bastos. Problematizando a organização do ensino de
História. A aula de Historia. Simpósio Nacional da Anpuh Paraíba, 2003.
2. PEREIRA, Carla Janaina de Freitas e SILVA, Stanley Plácido da Rosa. Ensino de de
História e Sequências Didáticas. O(s) uso(s) de documentos de arquivo na sala de
aula: Unidade 3.
3. VENTURA, Vânia Nelize. Documentos Iconograficos e Cartográficos como
recurso Pedagógico. O(s) uso(s) de documentos de arquivo na sala de aula
Unidade 6.
4. BRANDÃO, Antônio Jackson de Souza. Prof. Dr. A Imagem nas Imagens: Leituras
Iconológicas. Revista LUMEN ET VIRTUS. VOL 1. Nº 2. Maio de 2010.
5. CAIMI, Flávia Eloisa. Fontes históricas na sala de aula: uma possibilidade de
produção de conhecimento histórico escolar? anos 90. Porto Alegre, vol 15, n.28, p.
129-150, dez. 2008.
6. SEVERINO, Francisca Eleodora Santos. A mediação pedagógica da fotografia no
ensino dos Temas Transversais. Educação & Linguagem. V 13. 175-188, jan – jun.
2010.
7. MAUAD, Ana Maria. Através Da Imagem: Fotografia e História Interfaces.
Tempo, Rio de Janeiro, vol 1. Nº 2, 1996, p 73-98.
8. BRAICK, Patricis Ramos. MOTA, Myriam Becho.
História das Cavernas ao
Terceiro Milênio. Volume 3. Editora Moderna, 2010
9. Cadernos de História do Governo do Estado de São Paulo. Terceiro Ano.
10. GELLHORN, Marta. A Face da Guerra. Editora Objetiva, 2009.
11. SCHWARCZ, Lilia Moritz. As Barbas do Imperador. Companhia das Letras, 1999.
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Apêndice 1.
Principais
Produto
Objetivo da
Que modelo de mulher a
imagens
apresentado pela
propaganda
propaganda apresenta ou
retratadas na
propaganda
oferece ao consumidor
fotografia. Ano
Imagem 1
Imagem 2
Imagem 3
Imagem 4
Apêndice 2.
Ano e principais
Tema apresentado
Objetivo da
Que modelo de
imagens
pela fotografia
imagem
mulher a propaganda
retratadas na
(objetivo ou
apresenta ao leitor
fotografia.
subjetivo)
Imagem 5
Imagem 6
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Apêndice 3.
Semelhanças de perfil e informação Diferenças
veiculada.
de
perfil
e
informação
veiculada.
Imagem 1.
Imagem 2.
Imagem 3.
Imagem 4.
Imagem 5.
Imagem 6.
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Anexos 1 e 2.
Não Tem Tradução. Noel Rosa (1933).
O cinema falado é o grande culpado da transformação
Dessa gente que sente que um barracão prende mais que o xadrez
Lá no morro, seu eu fizer uma falseta
A Risoleta desiste logo do francês e do Inglês
A gíria que o nosso morro criou
Bem cedo a cidade aceitou e usou
Mais tarde o malandro deixou de sambar, dando pinote
Na gafieira dançando o Fox-Trote
Essa gente hoje em dia que tem a mania da exibição
Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
Com voz macia é brasileiro, já passou de português
Amor lá no morro é amor pra chuchu
A gíria do samba não são I love you
E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny
Só pode ser conversa de telefone..
Link: http://www.vagalume.com.br/noel-rosa/nao-tem-traducao.html#ixzz1NDGXamaB.
Acesso em 07/11/2013, às 18:25mi
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Garota de Ipanema. Tom Jobim (1963).
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço
A caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar
Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha
Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor
COLEÇÃO FOLHA 50 ANOS DE BOSSA NOVA. CD 1. ANTONIO CARLOS JOBIM.
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PROPAGANDA - Marco Aurélio Freitas