UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PRODUTOS NATURAIS E SINTÉTICOS BIOATIVOS ABRAHÃO ALVES DE OLIVEIRA FILHO PARTICIPAÇÃO DA VIA DO ÓXIDO NÍTRICO E DO CÁLCIO NO VASORRELAXAMENTO INDUZIDO PELO FLAVONOIDE 5,7,4’-TRIMETOXIFLAVONA (TMF) EM ARTÉRIA MESENTÉRICA SUPERIOR DE RATO João Pessoa 2012 ABRAHÃO ALVES DE OLIVEIRA FILHO PARTICIPAÇÃO DA VIA DO ÓXIDO NÍTRICO E DO CÁLCIO NO VASORRELAXAMENTO INDUZIDO PELO FLAVONOIDE 5,7,4’-TRIMETOXIFLAVONA (TMF) EM ARTÉRIA MESENTÉRICA SUPERIOR DE RATO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, como parte dos requisitos para a obtenção do título de MESTRE EM PRODUTOS NATURAIS E SINTÉTICOS BIOATIVOS. Área de concentração: FARMACOLOGIA Orientador: Prof. Dr. Isac Almeida de Medeiros João Pessoa 2012 O48p Oliveira Filho, Abrahão Alves de. Participação da via do óxido nítrico e do cálcio no vasorrelaxamento induzido pelo flavonoide 5,7,4-trimetoxiflavona (TMF) em artéria mesentérica superior de rato/ Abrahão Alves de Oliveira Filho. - - João Pessoa: [s.n.], 2012. 110f. : il. Orientador: Isac Almeida de Medeiros. Dissertação (Mestrado)-UFPB/CCS. 1. Produtos naturais. 2. Praxelis clematidea. 3. Cálcio. 4. Artéria mesentérica. 5. Vasorrelaxamento. 6. Óxido nítrico. UFPB/BC CDU: 547.9(043) ABRAHÃO ALVES DE OLIVEIRA FILHO PARTICIPAÇÃO DA VIA DO ÓXIDO NÍTRICO E DO CÁLCIO NO VASORRELAXAMENTO INDUZIDO PELO FLAVONOIDE 5,7,4’-TRIMETOXIFLAVONA (TMF) EM ARTÉRIA MESENTÉRICA SUPERIOR DE RATO Aprovado em ____/____/____ Banca examinadora _________________________________________________ Prof. Dr. Isac Almeida de Medeiros (Universidade Federal da Paraíba) Orientador _________________________________________________ Profª. Drª. Sandra Rodrigues Mascarenhas (Universidade Federal da Paraíba) Examinadora Interna _________________________________________________ Prof. Dr. Márcio Roberto Viana dos Santos (Universidade Federal de Sergipe) Examinador Externo Dedicatória Dedico esta conquista às pessoas mais importantes da minha vida: Aos meus pais, Raquel e Abrahão, pelo amor, carinho, apoio e dedicação fornecida ao longo de toda a minha vida, buscando sempre o melhor para a minha carreira profissional. Aos meus irmãos, Vitor e Vinícius, pela amizade e apoio incondicionais, meus eternos companheiros de jornada. Ao meu tio, Normando, pelo exemplo de coragem, profissionalismo e dedicação, que me incentivou a lutar sempre em busca do melhor. A minha namorada, Heloísa, pelo amor, companhia e compreensão, que foram essenciais para que eu conquistasse esta grande vitória. Com certeza sem ter você ao meu lado, eu não estaria concluindo este trabalho. Agradecimentos A Deus, por ter me concedido a oportunidade de viver e desfrutar a minha linda família e amigos. Obrigado Senhor por estar sempre ao meu lado nos momentos que mais precisei e por mais esta vitória em minha vida. Ao meu orientador, Prof. Isac Almeida de Medeiros, pela oportunidade, orientação e confiança em mim depositada. Ao Prof. José Maria Barbosa Filho e a sua ex-aluna de doutorado, a Profª. Gabriela Lemos de Azevedo Maia, que não mediram esforços para tornar possível a realização deste trabalho, disponibilizando-me, sem empecilho, o flavonoide, que foi o foco do meu mestrado. Aos professores Sandra Mascarenhas e Márcio Roberto, por terem aceitado participar da banca de defesa do meu mestrado, contribuindo significativamente para o meu trabalho. À equipe do Laboratório de Farmacologia Cardiovascular: Aurylenne Carlos, Bruna Priscilla, Fabíola Furtado, Islânia Araújo, Jaciclene, José George, Josimara, Juliane, Kívia, Lays, Leônidas, Marden, Maria Angélica, Maria do Carmo, Maria do Socorro, Melissa Luciano, Mônica Almeida, Natália Tabosa, Priscila Maria, Priscila Crispiniano, Thais Josy, Thais Porto, Thyago Queiroz e Valéria Assis, e aos professores Robson Veras, Valdir Braga e Darizy Flávia; por toda a ajuda, pela partilha de conhecimentos e companheirismo durante todo este tempo. Aos meus eternos amigos do peito e “equipe de apoio”: Carminha, Fabíola, Natália, Thyago e Raline, que nunca me negaram uma ajuda ou uma palavra de conforto, mesmo quando eu ligava várias vezes, com toda a minha insegurança, para discutir os mesmos resultados e chamava todo mundo para escutar os meus demorados ensaios de defesa. Com certeza, sem vocês do meu lado, esse mestrado não teria sido o mesmo. À Thais Josy, minha grande companheira de experimentos, com quem tive o privilégio de dividir, com muita alegria, dois importantes momentos da minha vida: o meu primeiro ano de iniciação científica e o meu segundo ano de mestrado. Durante todo este tempo, sempre percebi que ali do meu lado existia não só uma amiga, mas também um exemplo de profissional competente e decidida em alcançar sempre o sucesso. À Kivia Sales, que caminhou ao meu lado durante estes dois anos, torcendo sempre pela minha vitória e me ajudando não só na parte experimental, mas também nos momentos turbulentos da pesquisa, com palavras de conforto e amizade. À Lays, minha aluna de iniciação científica, que me acompanhou na realização deste trabalho, dividindo os momentos de estudo, descontração e realização dos experimentos. À Aldeídia de Oliveira, por todos os ensinamentos transmitidos, amizade e torcida, que foram indispensáveis para a realização do meu mestrado. À Islânia, pela amizade, força e disposição em ajudar, sempre quando necessário. À Profª Inês, que mesmo nos bastidores, me incentivou sempre a caminhar na linha da pesquisa e buscar o melhor para a minha carreira profissional. À minha turma do Mestrado, em especial: Paula, Fagner, Felipe, Viviane, Jacqueline, Ítalo, Patrícia, Hellane, Juliana Carreiro, Juliana Moura, Gregório, Dayenne, Ana Paula, Otemberg, Jéssica, Madalena, Jeane, Ricardo, Rafaela e Sara; que dividiram comigo alguns dos momentos mais especiais na minha vida, como os estudos durante as disciplinas e as comemorações após cada sucesso no mestrado. Com certeza, desta turma sairão excelentes pesquisadores. À Valéria, Milena e George, meus companheiros da Farmacologia Cardiovascular, por toda a ajuda dedicada durante estes dois anos. À Tatiana de Oliveira Apolinário, minha prima do coração, que mesmo distante, contribuiu para a realização desta vitória. Aos meus amigos da Fitoquímica, Viviane Medeiros, Marcelo, Ana Silvia, Jaqueline, Ana Lúcia, Daysiane, Fábio, Isis e Thaísa, que sempre me receberam em seus laboratórios, independente das circunstâncias, com muita alegria e descontração. À Anne Dayse e Natália Alcântara, que dividiram comigo as várias fases do meu crescimento intelectual, estando sempre ao meu lado para dar força, coragem e me incentivar a concluir este trabalho da melhor forma possível. Aos meus amigos de graduação, Eduardo, Camilla, Carol Lianza e Diogo, que sempre torceram pelo meu sucesso e, até hoje, se fazem presentes, independente dos diferentes caminhos escolhidos. À Juliana Ramos e Luana, pela amizade e estímulo que me deram durante toda essa jornada. Ao companheiro Crispim Duarte, que sempre desempenhou suas obrigações de uma maneira exemplar, nunca medindo esforços em auxiliar a todos que precisaram da sua ajuda. As funcionárias Mônica Rodrigues e Dona Maria, com quem tive o prazer de dividir, sempre com muita alegria, vários inícios de manhãs dos meus dias; e aos funcionários Luiz Cordeiro e Adriano Cordeiro, por todo o trabalho, proporcionando nosso melhor bem-estar. A todos os professores do mestrado, pelos ensinamentos transmitidos durante as disciplinas. À Coordenação e aos funcionários do Programa de Pós-graduação em Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos, pela competência, seriedade e apoio. Ao CNPq, CAPES, LTF e UFPB pelo apoio financeiro e estrutural para o desenvolvimento deste estudo. “Nas grandes batalhas da vida, o primeiro passo para a vitória é o desejo de vencer.” (Mahatma Gandhi) Resumo e Abstract RESUMO OLIVEIRA FILHO, A. A. Participação da via do óxido nítrico e do cálcio no vasorrelaxamento induzido pelo flavonoide 5,7,4’-trimetoxiflavona (TMF) em artéria mesentérica superior de rato. 2012. 11p. Dissertação (Mestrado em Farmacologia de Produtos Naturais e Sintéticos Bioativos), Centro de Ciências da Saúde, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2012. Os efeitos farmacológicos do extrato etanólico (EPC), fase clorofórmica (FPC) e 5,7,4’-trimetoxiflavona (TMF) provenientes de Praxelis clematidea, sobre anéis de artéria mesentérica superior de ratos, foram estudados. Experimentos de tensão isométrica revelaram que EPC e FPC (0,001–1000 µg/mL) promoveram relaxamento dependente de concentração em anéis mesentéricos, com endotélio funcional (CE50 = 27,2 ± 6,4 µg/mL; 41,9 ± 11,8 µg/mL, respectivamente, n=7), e estes efeitos foram atenuados após a remoção do endotélio vascular (CE50 = 141,9 ± 19,4 µg/mL, 167,0 ± 30,6 µg/mL, respectivamente, n=7), sugerindo que ambos possuem metabólitos secundários vasorrelaxantes. O TMF (10-12 a 10-3 M), composto majoritário isolado de FPC, promoveu um relaxamento em anéis com endotélio intacto (pD2= 5,44±0,12, n=6), de maneira dependente de concentração, com potência semelhante ao efeito da quercetina, o flavonóide mais abundante no reino vegetal (pD2= 5,71±0,16, n=6). Após a remoção do endotélio funcional a curva concentração-resposta para o TMF foi deslocada para a direita, com uma diminuição da potência, porém sem alteração no efeito máximo (pD2 = 4,50 ± 0,10, n=6). O relaxamento do flavonóide não foi modificado pela pré-incubação de indometacina (10 µM). Entretanto, foi atenuado após a pré-incubação de L-NAME (100 µM; pD2 = 4,52 ± 0,08, n=5), PTIO (300 µM; pD2 = 4,62±0,09, n=5) e ODQ (10 µM; pD2 = 4,36 ± 0,11, n=5), e foi revertido em preparações com endotélio funcional pré-incubadas com L-arginina (1mM) mais LNAME (100 µM) (pD2 = 5,85 ± 0,14, n=5). Demonstrando o não envolvimento dos metabólitos da COX e a participação da via NOS/NO/CGs no relaxamento produzido por TMF. A presença de KCl 20 mM (pD2 = 4,62 ± 0,08, n = 5) e TEA (3 mM; pD2 = 4,28 ± 0,10, n=5), atenuou a resposta produzida por TMF, apenas em anéis com endotélio vascular, demonstrando que este composto produz relaxamento por meio ativação de canais para K+, dependente do endotélio. Além disso, a utilização da Glibenclamida (10 µM) não modificou o efeito do TMF em anéis com endotélio funcional, porém a pré-incubação de 4-aminopiridina (1 mM; pD2 = 4,7 ± 0,08, n = 5), e TEA (1 mM; pD2 = 4,48 ± 0,04, n=5) atenuaram a potência da resposta vasorrelaxante do flavonóide, sugerindo o envolvimento dos canais para K+ do tipo Kv e BKca. TMF promoveu relaxamento em anéis mesentéricos pré-contraídos com KCl 60 mM e inibiu a vasoconstrição induzida pelo CaCl2 de maneira dependente de concentração. O efeito máximo de TMF foi atenuado com a pré-incubação de nifedipino (1 µM; Emáx = 56,0 ± 7,9%, n=5), indicando que a vasodilatação induzida pelo flavonóide está relacionada com a inibição do influxo de Ca 2+ via Cav tipo L. Em conclusão, estes resultados sugerem que o EPC, a FPC e o TMF induzem efeito vasorrelaxante em anéis mesentéricos, e que a resposta produzida pelo flavonóide envolve a via NOS/NO/CGs, com consequente ativação de canais para K+, e a inibição do influxo de Ca2+ via canais para Cav tipo-L. Palavras-chave: Praxelis clematidea, 5,7,4’-trimetoxiflavona, artéria mesentérica, vasorrelaxamento, óxido nítrico, cálcio ABSTRACT OLIVEIRA FILHO, A. A. Participation of the nitric oxide and calcium pathway in the vasorelaxant effect induced by flavonoid 5,7,4’-trimethoxyflavone (TMF) in rat superior mesenteric artery. 2012. 11p. Dissertation (Master in Pharmacology of Natural Products and Bioactive Synthetic), Centre for Health Sciences, Federal University of Paraíba, João Pessoa, 2012. The pharmacological effects of ethanol extract (EPC), chloroform phase (FPC) and 5,7,4'-trimethoxyflavone (TMF) from Praxelis clematidea on superior mesenteric artery rings of rats, were studied. Isometric tension experiments revealed that EPC and FPC (0.001 to 1000 µg/mL) promoted concentration-dependent relaxation in mesenteric rings with functional endothelium (EC50 = 27.2 ± 6.4 µg/mL, 41.9 ± 11.8 µg/mL, respectively, n = 7), and these effects were attenuated after removal of the vascular endothelium (EC50 = 141.9 ± 19.4 µg/mL,167.0 ± 30.6 µg/mL, respectively, n = 7), suggesting that both are vasorelaxants secondary metabolites. The TMF (10-12 to 10-3 M), composed mostly isolated FPC, promoted a relaxation in rings with intact endothelium (pD2 = 5.44 ± 0.12, n = 6), concentration dependent manner, with power similar to the effect of quercetin, a flavonoid abundant in the plant kingdom (pD2 = 5.71 ± 0.16, n = 6). After removal of functional endothelium the concentrationresponse curve for the TMF was shifted to the right, with a decrease in potency, but no change in maximal effect (pD2 = 4.50 ± 0.10, n = 6). The relaxation of the flavonoid was not modified by pre-incubation of indomethacin (10 µM). However, it was attenuated after pre-incubation of L-NAME (100 µM, pD2 = 4.52 ± 0.08, n = 5), PTIO (300 µM, pD2 = 4.62 ± 0.09, n = 5 ) and ODQ (10 µM, pD2 = 4.36 ± 0.11, n = 5) and was reversed in preparations with functional endothelium pre-incubated with Larginine (1 mM) plus L-NAME (100 µM) (pD2 = 5.85 ± 0.14, n = 5). Demonstrating the non-involvement of COX metabolites and participation of the NOS/NO/CGs pathway in the relaxation produced by TMF. The presence of 20 mM KCl (pD 2 = 4.62 ± 0.08, n = 5) and TEA (3 mM; pD2 = 4.28 ± 0.10, n = 5) attenuated the response produced by TMF only in rings with endothelium, demonstrating that this compound produces relaxation through activation of K+ channels to endothelium-dependent. In addition, the use of glibenclamide (10 µM) did not modify the effect of TMF on rings with functional endothelium, but the pre-incubation of 4-aminopyridine (1 mM; pD2 = 4.7 ± 0.08, n = 5) and TEA (1 mM; pD2 = 4.48 ± 0.04, n = 5) attenuated the potency of the flavonoid vasorrelaxant response, suggesting the involvement of the K+ channels to Kv and BKCa type. TMF relaxations in mesenteric rings pre-contracted with 60 mM KCl and inhibited the vasoconstriction induced by CaCl2 concentration dependent manner. The maximum effect of TMF was mitigated by pre-incubation of nifedipine (1 µM, Emáx = 56.0 ± 7.9%, n = 5), indicating that the flavonoid-induced vasodilation is related to the inhibition of the influx of Ca2+ via L-type Cav. In conclusion, these results suggest that the EPC, the FPC and TMF inducing effect vasorrelaxante in mesenteric rings, and that the response produced by the flavonoid involves NOS/NO/CGs pathway, with consequent activation of channels for K+, and inhibition of the influx Ca2+ channels via L-type Cav. Keywords: Praxelis clematidea, 5,7,4'-trimethoxyflavone, vasorelaxation, nitric oxide, calcium mesenteric artery, LISTA DE FIGURAS Figura 1 – Representação esquemática do mecanismo de contração na célula muscular lisa vascular................................................................................................. 26 Figura 2 – Representação esquemática do mecanismo de relaxamento da célula muscular lisa vascular................................................................................................. 28 Figura 3 - Foto de Praxelis clematidea (Griseb.) R. M. King & H. Robinson.............. 30 Figura 4 - Estrutura química do flavonoide 5,7,4’-trimetoxiflavona ............................. 31 Figura 5 - Sistema de cubas e aquisição de dados de tensão isométrica para órgão isolado.......................................................................................................................... 40 Figura 6 - Representação da verificação da viabilidade do órgão e da integridade do endotélio vascular.................................................................................................... 41 Figura 7 - Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação dos efeitos de EPC (0,001 - 1000 µg/mL), FPC (0,001 - 1000 µg/mL) e TMF (10-12 – 10-3 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato, pré-contraídos com FEN (1 µM). A) Anéis com endotélio intacto; B) Anéis sem endotélio....................................................................................................................... 43 Figura 8 - Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação dos efeitos de quercetina (10-12 – 10-3 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM)........................................................................................................................... 44 Figura 9 - Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação da participação dos metabólitos do ácido araquidônico no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1µM).................................................................................... 45 Figura 10 - Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação da participação da NOS no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM)................................................................................................................. 46 Figura 11 - Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação do envolvimento do NO no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM).................................................................................................................. 47 Figura 12 - Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação da participação da CGs efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM)................................................................................................................... 48 Figura 13 - Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação da participação dos canais para K+ no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM).................................................................................................................. 49 Figura 14 - Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação da dos subtipos de canais para potássio no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM).......................................................................................................... 50 Figura 15 - Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação da ativação direta dos canais para K+ no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato sem endotélio funcional, précontraídoscom FEN (1 µM)........................................................................................... 52 Figura 16 - Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação dos efeitos de TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato sem endotélio funcional, pré-contraídos com solução despolarizante (KCl 60 mM)......... 53 Figura 17 - Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação dos efeitos de TMF sobre as contrações induzidas por concentrações cumulativas de CaCl2 (10-6 – 3 x 10-2) em meio despolarizante (KCl 60 mM) nominalmente sem cálcio............................................................................................................................. 54 Figura 18 - Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação do efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato sem endotélio funcional, pré-encubados com NIF (1 µM)............................................ 55 Figura 19 - Registros originais das respostas de EPC (0,01 – 1000 µg/mL) em anéis pré-contraídos com FEN (1 µM) com o endotélio intacto (A) ou após sua remoção (B).................................................................................................................. 57 Figura 20 - Registros originais das respostas de FPC (0,01 – 1000 µg/mL) em anéis pré-contraídos com FEN (1 µM) com o endotélio intacto (A) ou após sua remoção (B)................................................................................................................................. 59 Figura 21 - Registros originais das resposta de TMF (10-12 – 10-3 M) em anéis précontraídos com FEN (1 µM) com o endotélio intacto (A) ou após sua remoção (B).................................................................................................................. 61 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Composição da solução de Tyrode para artéria mesentérica .................. 37 Quadro 2 - Composição da solução de Tyrode livre de cálcio .................................... 37 Quadro 3 - Composição da solução de Tyrode com KCl a 20 mM ............................. 37 Quadro 4 - Composição da solução de Tyrode com KCl a 60 mM ............................. 38 Quadro 5 - Composição da solução de Tyrode com KCl a 60 mM nominalmente sem cálcio..................................................................................................................... 38 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 – Curvas concentração-resposta para o efeito relaxante induzido por EPC (0,01 – 1000 µg/mL) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos com endotélio intacto (●) ou endotélio ausente (○), pré-contraídos com FEN (1 µM)........... 58 Gráfico 2 – Curvas concentração-resposta para o efeito relaxante induzido por FPC (0,01 – 1000 µg/mL) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos com endotélio intacto (●) ou endotélio ausente (○), pré-contraídos com FEN (1 µM)........... 60 Gráfico 3 - Curvas concentração-resposta para o efeito relaxante induzido por TMF (10-12 – 10-3 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos com endotélio intacto (●) ou endotélio ausente (○), pré-contraídos com FEN (1 µM)........... 62 Gráfico 4 - Curvas concentração-resposta para o efeito relaxante induzido por TMF (10-12 – 10-3 M) (●), e Quercetina (10-12 – 10-3 M) (▼) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM).................................................................................................................... 63 Gráfico 5 - Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10-12 – 10-3 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (●) e na presença de indometacina (10 µM) (▼)............................................................................................. 64 Gráfico 6 - Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10-12 – 10-3 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, na ausência (●) e na presença de L-NAME (100 µM) (▼) ou (□) Larginina (1 mM) + L-NAME (100 µM), pré-contraídos com FEN (1 µM)....................... 65 Gráfico 7 - Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10-12 – 10-3 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (●) e na presença de PTIO (300 µM) (▼)........................................................................................................ 66 Gráfico 8 - Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10-12 – 10-3 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (●) e na presença de ODQ (10 µM) (▼).......................................................................................................... 67 Gráfico 9 - Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10-12 – 10-3 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (●) e na presença de 20 mM KCl (▼) (A) e na presença de TEA (3 mM) (♦) (B). ......................................... 68 Gráfico 10 - Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10-12 – 10-3 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (●) e na presença de glibenclamida (▼)..................................................................................... 69 Gráfico 11 -. Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10-12 – 10-3 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (●) e na presença de TEA (▼).................................................................................................... 70 Gráfico 12 - Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10-12 – 10-3 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (●) e na presença de 4-AP (▼)................................................................................................... 71 Gráfico 13 - Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10-12 – 10-3 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, sem endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (○) e na presença de 20 mM KCl ( ) (A) e na presença de TEA (3 mM) ( ) (B)................... 72 Gráfico 14 – Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10-12 – 10-3 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, sem endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (○) ou na presença de 60 mM de KCl ( ).................................................................................... 73 Gráfico 15 - Curvas cumulativa para CaCl2 na presença de concentrações isoladas de TMF, em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos,sem endotélio funcional......................................................................................................................... 74 Gráfico 16 - Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, sem endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (○) e na presença de nifedipino ( )................................................................................................................. 75 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS AC Adenilil ciclase ACh Acetilcolina Akt Proteína cinase B AMPc Monofosfato de adenosina cíclico BKCa Canal para potássio sensível ao cálcio de grande condutância BAY K8644 CAM S-(-)-1,4-diidro-2,6-dimetil-5-nitro-4-[2-(trifluorometil)fenil]-3Ácidopiridinecarboxilíco éster metílico Calmodulina Cav Canais para cálcio sensível à voltagem CaVL Canais para cálcio sensível à voltagem tipo L Ca2+ Cálcio ([Ca2+]i) Concentração de cálcio intracelular CE50 Concentração que promove 50% do efeito máximo de uma substância CMLV Célula muscular lisa vascular CGs Ciclase de guanilil solúvel COX Ciclooxigenase DC Débito cardíaco EDHF Fator hiperpolarizante derivado do endotélio EDTA Ácido etileno-diamino-tetracético Emax Efeito máximo EPC Extrato etanólico de Praxelis clematidea e.p.m. Erro padrão da média eNOS Enzima sintase de NO endotélial ET1 Endotelina 1 FC Frequência cardíaca FEN Fenilefrina FPC Fase clorofórmica de Praxelis clematidea GMPc Monofosfato de guanosina ciclíco IP3 1,4,5-trisfosfato de inositol K+ Potássio KV Canal para potássio sensível à voltagem KATP Canal para potássio sensível à voltagem Kca Canal para potássio sensível ao cálcio L-NAME NG-Nitro-L-arginina methil ester MLCK Cinase da cadeia leve da miosina MLC20 Cadeia leve de miosina N Número de experimentos realizados NOS Enzima sintase de NO NO Óxido nítrico NIF Nifedipino PGI2 Prostaciclinas PA Pressão arterial pD2 Logaritmo negativo do valor de CE50 PKA Proteína cinase A PKC Proteína cinase C PKG Proteína cinase G PLC Fosfolipase C PTIO 2-fenil-4,4,5,5-tetrametilimidazolina-1-oxil-3-óxido ROC Canal de cálcio operado por receptores RVPT Resistência vascular periférica total SERCA Retículo endosarcoplasmático SOC Canal de cálcio operado por estoques TEA Tetraetilamônio TMF 5,7,4’-trimetoxiflavona TXA2 Tromboxano A2 VS Volume sistólico Observação: As abreviaturas e símbolos utilizados neste trabalho e que não constam nesta relação, encontram-se descritas no texto ou são convenções adotadas internacionalmente. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.............................................................................................. 24 2 OBJETIVOS.................................................................................................. 33 2.1 Gerais........................................................................................................... 33 2.2 Específicos.................................................................................................... 33 3 MATERIAL ................................................................................................... 35 3.1 Animais......................................................................................................... 35 3.2 Drogas e reagentes...................................................................................... 35 3.3 Obtenção e preparação das drogas teste..................................................... 36 3.4 Soluções fisiológicas..................................................................................... 36 4 MÉTODOS..................................................................................................... 40 4.1 Preparação dos anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato......... 40 4.2 Protocolos experimentais utilizando anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato............................................................................................... 41 4.2.1 Verificação do efeito de EPC ou FPC ou TMF em anéis de artéria mesentérica isolada de rato pré-contraídos com FEN .................................. 42 4.2.2 Comparação do efeito de TMF e quercetina em anéis de artéria mesentérica isolada de rato pré-contraídos com FEN................................... 44 4.2.3 Investigação do mecanismo vasorrelaxante de TMF em anéis de artéria mesentérica com endotélio vascular.............................................................. 45 4.2.3.1 Verificação da participação dos metabólitos da via do ácido araquidônico no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato............................................................................................... 45 4.2.3.2 Verificação da participação da NOS no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato............................................. 46 4.2.3.3 Verificação do envolvimento do óxido nítrico no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato............................. 47 4.2.3.4 Verificação da participação da CGs no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato............................................. 48 4.2.3.5 Verificação da participação de canais para potássio (K+) no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica isolada de rato............................ 48 4.2.3.6 Verificação da participação dos subtipos de canais para K + no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica isolada de rato.............. 50 4.2.4 Investigação do mecanismo vasorrelaxante de TMF em anéis de artéria mesentérica sem endotélio vascular.............................................................. 51 4.2.4.1 Verificação da ativação dos canais para K+ no efeito induzido pelo TMF em anéis de artéria mesentérica isolada de rato........................................... 51 4.2.4.2 Verificação do efeito de TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato pré-contraídos com solução despolarizante de 60 mM de KCl................................................................................................................. 52 4.2.4.3 Verificação do efeito de TMF sobre as concentrações induzidas por CaCl 2 em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato............................. 53 4.2.4.4 Verificação do efeito de TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato pré-encubados com um bloqueador de Cav tipo L................ 54 4.3 Análise estatística.......................................................................................... 55 5 RESULTADOS.............................................................................................. 57 5.1 Efeito de EPC, FPC e TMF em anéis de artéria mesentérica isolada de rato pré-contraídos com FEN........................................................................ 57 5.2 Comparação do efeito de TMF e quercetina em anéis de artéria mesentérica isolada de rato pré-contraídos com FEN.................................. 62 5.3 Efeitos de TMF em anéis de artéria mesentérica com endotélio funcional.. 5.3.1 Participação dos metabólitos da via do ácido araquidônico na resposta vasorrelaxante induzida pelo TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato................................................................................ 63 5.3.2 Participação da enzina NOS na resposta vasorrelaxante induzida pelo TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato.................... 64 5.3.3 Participação do NO na resposta vasorrelaxante induzida pelo TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato.................................. 65 5.3.4 Participação da CGs na resposta vasorrelaxante induzida pelo TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato.................................. 66 5.3.5 Participação dos canais para K+ na resposta vasorrelaxante induzida pelo TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato.................... 67 63 5.3.6 Participação dos subtipos de canais para K+ no efeito induzido por TMF 69 em anéis de artéria mesentérica isolada de rato.......................................... 5.4 Efeitos de TMF em anéis de artéria mesentérica sem endotélio funcional.. 5.4.1 Ativação dos canais para K+ no efeito induzido pelo TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato................................................. 71 5.4.2 Efeito de TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato pré-contraídos com solução despolarizante de 60 mM de KCl.................... 73 5.4.3 Efeito de TMF sobre as concentrações induzidas por CaCl2 em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato................................................. 74 5.4.4 Efeito de TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato pré-encubados com um bloqueador de Cav tipo L........................................ 75 6 DISCUSSÃO................................................................................................. 77 7 CONCLUSÃO............................................................................................... 90 8 PERSPECTIVAS.......................................................................................... 92 REFERÊNCIAS........................................................................................................... 94 71 ANEXOS...................................................................................................................... 110 Introdução 24 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 1 INTRODUÇÃO O sistema cardiovascular, o qual fornece e mantêm suficiente o fluxo sanguíneo aos diversos tecidos do organismo de acordo com as suas necessidades metabólicas, é o responsável pela regulação e manutenção da pressão arterial (PA), uma das funções fisiológicas mais complexas do sistema biológico; necessitando da ação integrada de outros sistemas como o renal, neural e endócrino (CAMPAGNOLE-SANTOS; HAIBARA, 2001; LANFRACHI; SOMERS, 2002; INOUE et al., 2006). Admite-se que alterações da PA, como as encontradas em várias doenças cardiovasculares, resultariam da disfunção desses sistemas de controle (IRIGOYEN et al., 2001). A PA corresponde ao produto do débito cardíaco (DC) pela resistência vascular periférica total (RVPT). O DC é definido como a quantidade de sangue bombeado pelo coração a cada minuto, expresso como produto do volume sistólico (VS, em mL) pela frequência cardíaca (FC, em batimentos/minuto). A RVPT por sua vez, é determinada pelo tônus vascular e está diretamente envolvida no controle da pressão arterial (OATES apud HARDMAN et al., 1996). O tônus vascular das pequenas artérias e arteríolas, o qual é definido como o estado de contratilidade das células musculares lisas vasculares (CMLV), é o maior determinante da resistência ao fluxo sanguíneo na circulação (JACKSON, 2000) e consequentemente da pressão sanguínea sistêmica (CRIBBS, 2006). Assim, o tônus vascular tem um importante papel na regulação da pressão arterial e distribuição do fluxo sangüíneo entre os tecidos e órgãos do corpo (JACKSON, 2000). Estudos mostram que contratilidade das CMLV pode ser regulada pela concentração de cálcio intracelular ([Ca2+]i), de modo que agentes vasodilatadores exercem seus efeitos por diminuírem a [Ca2+]i. Já as substâncias vasoconstritoras promovem seu efeito por elevarem a [Ca2+]i, bem como, aumentando a aparente sensibilidade ao Ca2+ dos processos contráteis na célula muscular lisa (LEDOUX et al., 2006). O aumento da [Ca2+]i na CMLV pode ser alcançado por meio de ligação de um agonista a um receptor que está acoplado à proteína G, estimulando a 25 OLIVEIRA-FILHO, A. A. mobilização do Ca2+ dos estoques intracelulares e permitindo o influxo de Ca2+ do fluido extracelular. Assim, a ativação da fosfolipase C (PLC) e formação de 1,4,5trifosfato de inositol (IP3) medeiam primariamente a liberação do Ca2+ dos estoques após uma ativação do receptor metabotrópico (BERRIDGE, 2003; VILLALBA et al., 2007). No entanto, em vários vasos de resistência, a liberação sustentada da [Ca2+]i é gerada por meio da entrada de Ca2+, induzida por agonista, através dos canais voltagem dependentes (CaV): tipo-L sensíveis a diidropiridinas e tipo-T, como também dos canais não ativados por voltagem (“non-voltage-gated”) que incluem os canais de Ca2+ operados por estoques (SOC) e os canais de Ca 2+ operados por receptor (ROC) (MCFADZEAN; GIBSON, 2002; VILLALBA et al., 2007). A importância da entrada do cálcio pelos CaV do tipo-L nos miócitos vasculares, sendo dominantes na maioria dos leitos vasculares, já foi comprovada por vários estudos científicos (JACKSON, 2000). Os CaV do tipo-L são sensíveis a 1,4-diidropiridinas, uma ampla classe de fármacos, que tanto são ativadores (Bay K 8644), como bloqueadores (mimodipino, nisoldipino e nifedipino) do canal (LACINOVÁ, 2005; NAVARRO-GONZALEZ et al., 2009). O nifedipino (NIF) age por interferência alostérica no mecanismo básico de comporta do CaV do tipo-L, evitando assim, o influxo de Ca2+ necessário para ativar a maquinaria contrátil da célula (GODFRAIND, 1994; BROADLEY; PENSO, 2006). Com a entrada de Ca2+, associado ao aumento da [Ca2+]i, há uma facilitação da interação do complexo (Ca2+)4-CaM (calmodulina), que ao sofrer uma alteração conformacional, ativa a cinase da cadeia leve da miosina (MLCK). Esta, por sua vez, irá fosforilar a cadeia leve da miosina (MLC 20) favorecendo o deslizamento dos filamentos de actina sobre os de miosina e gerando, consequentemente, a força de contração do músculo liso (JOHNSON; SNYDER, 1995) (Figura 1). 26 OLIVEIRA-FILHO, A. A. Agonistas Canal de Ca2+ controlado por ligante GPCR Ca2+ Cav tipo L Membrana Plasmática IP3 Ca2+ CaM IP3R Ca2+-CaM Miosina RS Miosina-P CONTRAÇÃO Figura 1 - Representação esquemática do mecanismo de contração na célula muscular lisa vascular via ligante. Fonte: RANG et al., 2007 O endotélio, que faz parte da camada íntima dos vasos sanguíneos, é o maior regulador da homeostase vascular local, não apenas por regular a permeabilidade vascular, mas também por controlar a contratilidade das CMLV e com isso, o calibre dos vasos, de acordo com as demandas hemodinâmicas e hormonais, mantendo, assim, a fluidez do sangue (BRUTSAERT, 2003; FÉLÉTOU; VANHOUTTE, 2006). As células endoteliais executam estas funções pela expressão, ativação e liberação de potentes substâncias (liberadas por nervos autonômicos e sensoriais ou plaquetas), hormônios circulantes, autacoides e citocinas, como também por estímulos físicos e químicos (mudanças na pressão, estresse por cisalhamento e pH) (INAGAMI et al., 1995; FÉLÉTOU; VANHOUTTE, 2006). Como exemplos de fatores vasoativos liberados pelo endotélio destacam-se: os relaxantes, como por exemplo, o fator hiperpolarizante derivado do endotélio (EDHF), as prostaciclinas (PGI2) e o óxido nítrico (NO), e os contracturantes, como por exemplo, o tromboxano A2 (TXA2), o ânion superóxido (O2-.), a endotelina-1 (ET1) e a angiotensina II (LÜSCHER; VANHOUTTE, 1986; VANHOUTTE, 1989; VANHOUTTE; FÉLÈTOU; TADDEI, 2005). FURCHGOTT; 27 OLIVEIRA-FILHO, A. A. Dentre os fatores relaxantes, o NO é uma importante molécula sinalizadora implicada em diversos processos fisiopatológicos (SCATENA et al., 2010). Grande parte das ações do NO é no sistema cardiovascular, onde este gás é continuamente produzido pelas células endoteliais, a partir da conversão da L-arginina em NO pela enzima sintase do óxido nítrico presente no endotélio (eNOS), em resposta a estímulos mecânicos ou químicos, que podem agir por mobilização do Ca2+ ou por outras proteínas como a proteína cinase B (Akt). O NO difunde-se da célula de origem, passando facilmente através das membranas das células vizinhas, regulando uma série de efeitos fisiológicos (GATH; RADI; AUGUSTO, 1994; FÖRSTERMANN et al., 1995; MILLER; MEGSON, 2007). Nas células do músculo liso vascular, o NO age ativando a enzima citosólica ciclase de guanilil solúvel (GCs) ao se ligar ao grupo heme desta enzima, resultando no aumento dos níveis do monofosfato de guanosina cíclico (GMPc) (MURAD, 1986; LIU; HUANG, 2008). O segundo mensageiro GMPc ativa a proteína cinase dependente de GMPc (PKG) (CARVAJAL et al., 2000). Isto leva, finalmente, à redução dos níveis de Ca2+ intracelulares das células musculares lisas, diminuição da sensibilidade do sistema contrátil para o Ca2+ (CARVAJAL et al., 2000), desfosforilação da cadeia leve da miosina (WALDMAN; MURAD, 1987; CARVAJAL et al., 2000), ativação bomba de Ca2+ do retículo endosarcoplasmático (SERCA); ativando-a e acelerando a recaptação de Ca2+ para os estoques intracelulares (CORNWELL et al., 1991); da bomba de cálcio da membrana plasmática (PMCA); do trocador Na+/Ca2+, com posterior ativação e de canais para potássio sensíveis ao ATP (KATP), canais para potássio sensíveis ao cálcio (KCa) (ARCHER et al., 1994), canais para potássio sensíveis a voltagem (Kv) (IRVINE; FAVALORO; KEMPHARPER, 2003), culminando no relaxamento da célula muscular lisa vascular (MILLER; MEGSON, 2007)(Figura 2). 28 OLIVEIRA-FILHO, A. A. Figura 2 - Representação esquemática do mecanismo de relaxamento da célula muscular lisa vascular via produção de NO. Fonte: FRANÇA-SILVA, 2010 A hiperpolarização dependente das células endoteliais também pode ser mediada pelo fator hiperpolarizante derivado do endotélio (EDHF), caracterizado por ativar canais de K+ e induzir hiperpolarização de membrana das células do músculo liso vascular (CHEN; SUZUKI; WESTON, 1988; TAYLOR; WESTON, 1988; GARLAND; MACPHERSON, 1992; MOMBOULI; VANHOUTTE, 1997). Além destes, os metabólitos do ácido araquidônico, pela ação da ciclooxigenase, também induz relaxamento dependente de endotélio (SINGER; PEACH, 1983) e independente de NO (PFISTER; CAMPBELL, 1992). As prostaciclinas (PGI2) são formadas no músculo liso vascular e no endotélio e seus efeitos são mediados pela formação de AMPc (MONCADA; VANE, 1978; VANE; BUNTING; MONCADA, 1982; GRYGLEWSKI; BOTTING; VANE, 1988). A compreensão dos mecanismos que regulam o tônus vascular é, portanto, essencial para estabelecer novas estratégias para prevenção e tratamento de doenças do sistema cardiovascular, que são as principais causas de morte no Brasil e possuem como fator de risco a elevação da PA a partir de 115/75 mmHg de forma 29 OLIVEIRA-FILHO, A. A. linear, contínua e independente (VI Diretriz da Sociedade Brasileira de Hipertensão, 2010); sendo responsáveis por uma alta frequência de internações, ocasionando custos médicos e socioeconômicos elevados (HIRANO; HIRANO; KANAIDE,2004; MS, 2011). Muitas alterações cardiovasculares, como hipertensão, angina e falência cardíaca, são frequentemente tratadas com drogas vasodilatadoras, que atuam diretamente no músculo liso vascular causando vasorrelaxamento, ou indiretamente, por meio da estimulação da liberação de fatores vasorrelaxantes endógenos, ou ainda por inibir a liberação de fatores vasoconstritores (GURNEY, 1994). Aliar o conhecimento popular ao científico em busca de novos medicamentos é um dos principais caminhos para o sucesso de pesquisas na área de plantas medicinais, que tem por objetivo avaliar a atividade biológica de plantas e seus constituintes químicos em vários sistemas, como por exemplo, o cardiovascular, com o intuito de descobrir substâncias que possam ser potencialmente utilizadas na terapêutica e/ou como ferramentas farmacológicas (DI STASI; HIRUMA-LIMA, 2002). O Brasil, com a grandeza de seu litoral, de sua flora e, sendo o detentor da maior floresta equatorial e tropical úmida do planeta, não pode abdicar de sua vocação para os produtos naturais. Este país possui a maior biodiversidade do mundo, estimada em cerca de 20% do número total de espécies do planeta. Esse imenso patrimônio genético, que nos países desenvolvidos encontra-se escasso, tem na atualidade valor econômico – estratégico inestimável em várias atividades, mas é no campo de novos medicamentos onde reside sua maior potencialidade (ALCÂNTARA; YAMAGUCHI; VEIGA-JUNIOR, 2010). Diante desta riquíssima flora, destaca-se a família Asteraceae, que é composta por cerca de 1.100 gêneros e 25.000 espécies (EMERECIANO et al., 2007). A América do Sul comporta cerca de 20% dos gêneros existentes. No Brasil, são estimados aproximadamente 180 gêneros e 3.000 espécies distribuídas desde as regiões mais frias e úmidas, como as serras do Sudeste e Sul, até as áreas secas na região do semi-árido nordestino, sendo menos frequentes em formações florestais (SOUSA, 2007). Plantas dessa família são extensivamente estudadas quanto a sua composição química e atividade sobre o sistema cardiovascular, como por exemplo, 30 OLIVEIRA-FILHO, A. A. a espécie Baccharis trimera DC (VERDI; BRIGHENTE; PIZZOLATTI, 2005). Dentre outros constituintes químicos, os flavonoides têm grande destaque, sendo alocados como importantes marcadores quimiotaxonômicos desta família (EMERENCIANO et al., 2001). Os flavonoides, metabólitos secundários que podem potencialmente interferir em diferentes processos fisiopatológicos (PEREZ-VIZCAINO; DUARTE, 2010), são dotados de uma variedade de atividades biológicas já relatadas na literatura científica, como por exemplo: anti-hipertensiva (VILLAR et al.,2002), moduladora de canais iônicos (FUSI et al., 2003, SATOH; NISHIDA, 2004) e vasorrelaxante, por meio da produção de NO nas células endoteliais (REZENDE; CÔRTES; LEMOS, 2004). A espécie Praxelis clematidea (Griseb.) R. M. King & H. Robinson (Figura 3), que possui como sinomínias: Eupatorium clematideum Griseb. e Eupatorium urtifolium var. clematideum (Griseb.) Hieron ex. Kuntze; é uma planta da família Asteraceae nativa da América do Sul. No Brasil, ela é encontrada principalmente nos estados da Bahia, Alagoas, Pernambuco, Paraíba, Amazonas e Mato Grosso (POLLOCK; SMITH, 2004). Esta espécie é pouco relatada na literatura, tanto do ponto de vista dos estudos fitoquímicos, como de suas atividades biológicas. Figura 3- Foto de Praxelis clematidea (Griseb.) R. M. King & H. Robinson Fonte: MAIA, 2011 31 OLIVEIRA-FILHO, A. A. Estudos, utilizando o extrato etanólico bruto das partes areas deste vegetal, realizados no Laboratório de Fitoquímica da Universidade Federal da Paraíba, culminaram no isolamento do 5,7,4’-trimetoxiflavona, um flavonoide do tipo flavona, já isolado em espécies de outras famílias do Reino vegetal, mas pela primeira vez isolado da espécie Praxelis clematidea (Figura 4) (MAIA, 2011). Figura 4- Estrutura química do flavonoide 5,7,4’-trimetoxiflavona Fonte: MAIA, 2011 Baseado nas importantes propriedades dos constituintes bioativos presentes nas espécies da família Asteraceae, este trabalho buscou estudar a espécie Praxelis clematidea (Griseb.) R. M. King & H. Robinson, uma vez que a mesma não apresenta estudos no sistema cardiovascular e acredita-se ser uma fonte de promissoras atividades biológicas. OLIVEIRA-FILHO, A. A. Objetivos 33 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 2 OBJETIVOS 2.1 Geral Avaliar o efeito induzido pelo extrato etanólico (EPC), fase clorofórmica (FPC) e flavonoide 5,7,4´-trimetoxiflavona (TMF) de Praxelis clematidea em artéria mesentérica superior isolada de rato, elucidando o possível mecanismo de ação envolvido no efeito do flavonoide. 2.2 Específicos • Comparar os efeitos farmacológicos induzidos por EPC, FPC e TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos; • Investigar o mecanismo de ação do efeito vascular de TMF, avaliando a participação: a)dos fatores vasoativos liberados pelo endotélio vascular; b)dos canais para K+; c) dos canais para Ca2+. Material 35 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 3 MATERIAL 3.1 Animais Foram utilizados em todos os experimentos ratos Wistar (Rattus novergicus), pesando entre 250 – 300 g. Estes animais foram provenientes do Biotério Prof. George Thomas, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), mantidos sob condições controle de temperatura (21 ± 1 ºC) e ciclo claro-escuro de 12 horas (6 – 18 horas), com livre acesso à água e alimentação (ração Purina®). Todos os experimentos foram aprovados pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal da UFPB, com certidão nº 0204/11 (Anexo). 3.2 Drogas e reagentes As ferramentas farmacológicas utilizadas foram: 1H-[1,2,4]oxadiazolo[4,3a]quinoxalin-1-ona (ODQ), 2-fenil-4,4,5,5-tetrametil-imidazolina-1-oxil-3-oxido (PTIO), 4-aminopiridina (4-AP), sulfato de atropina, indometacina (INDO), cloridrato de acetilcolina (ACh), quercetina, cloridrato de L-(-)-fenilefrina (FEN), cloridrato de NGnitro-L-arginina-metil éster (L-NAME), glibenclamida (GLIB), cloridrato de L-arginina, nifedipino (NIF), cloreto de tetraetilamônio (TEA), ácido tetraacético (N, N, N’,N’) bis beta amino étil estér etilenoglicol (EGTA). Todos obtidos da Sigma-Aldrich Brasil Ltda (São Paulo-SP, Brasil). Todas as substâncias foram dissolvidas em água destilada, exceto a GLIB e ODQ que foram dissolvidos em dimetilsulfóxido (DMSO), além de nifedipino e PTIO que foram dissolvidos em etanol absoluto e diluídos em água destilada, de modo a serem obtidas as concentrações desejadas. As soluções foram mantidas de 0 a 4 °C e somente retiradas no momento do experimento. Vale ressaltar que os veículos utilizados não ultrapassaram 1% na concentração final, nesta concentração foram desprovidos de efeito biológico. 36 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 3.3 Obtenção e preparação das drogas teste As partes aéreas de Praxelis clematidea R.M. King & Robinson foram coletadas no município de Santa Rita, na Lagoa do Paturi, no estado da Paraíba, em maio de 2008 e identificada pela Profª. Drª. Maria de Fátima Agra. Uma exsicata da espécie, sob código M. F. Agra et al. 6894 (JPB), está depositada no Herbário Prof. Lauro Pires Xavier (CCEN/UFPB). A obtenção do extrato etanólico bruto (EPC), da fase clorofórmica (FPC), e do flavonoide 5,7,4´-trimetoxiflavona (TMF) foi realizada de acordo com o procedimento previamente descrito por Maia (2011). O extrato, a fase e o flavonoide de Praxelis clematidea foram cedidos pela equipe do professor Doutor José Maria Barbosa Filho do Laboratório de Fitoquímica da Universidade Federal da Paraíba. Para a realização dos ensaios farmacológicos, as substâncias em estudo foram solubilizadas em cremofor e diluídas em água destilada. A concentração de cremofor não ultrapassou 0,018% v/v, concentração que não produz efeito sobre os parâmetros avaliados (dados obtidos em experimentos anteriores em nosso laboratório). 3.4 Soluções fisiológicas Para a preparação das soluções nutritivas foram utilizadas as seguintes substâncias: cloreto de sódio (NaCl), cloreto de potássio (KCl), cloreto de cálcio (CaCl2), cloreto de magnésio (MgCl2), glicose (C6H12O6), bicarbonato de sódio (NaHCO3) e fosfato de sódio (NaH2PO4). Todos estes sais foram obtidos da SIGMA®. 37 OLIVEIRA-FILHO, A. A. Sais Concentração (mM) NaCl 158,3 KCl 4,0 CaCl2 2,0 MgCl2 1,05 NaHCO3 10,0 NaH2PO4 0,42 Glicose 5,6 Quadro 1 – Composição da solução de Tyrode para artéria mesentérica Fonte: TANAKA et al., 1999 Sais Concentração (mM) NaCl 158,3 KCl 4,0 MgCl2 1,05 NaHCO3 10,0 NaH2PO4 0,42 Glicose 5,6 EGTA 1,0 Quadro 2 – Composição da solução de Tyrode livre de cálcio Fonte: adaptada de TANAKA et al., 1999 Nas soluções de Tyrode 20 ou 60 mM de KCl, houve uma substituição equimolar do Na+ pelo K+, ajustando isosmoticamente as soluções, conforme os quadros abaixo: Sais Concentração (mM) NaCl 142,3 KCl 20,0 CaCl2 2,0 MgCl2 1,05 NaHCO3 10,0 NaH2PO4 0,42 Glicose 5,6 Quadro 3 – Composição da solução de Tyrode com KCl a 20 mM Fonte: adaptada de TANAKA et al., 1999 38 OLIVEIRA-FILHO, A. A. Sais Concentração (mM) NaCl 102,3 KCl 60,0 CaCl2 2,0 MgCl2 1,05 NaHCO3 10,0 NaH2PO4 0,42 Glicose 5,6 Quadro 4 – Composição da solução de Tyrode com KCl a 60 mM Fonte: adaptada de TANAKA et al., 1999 Sais Concentração (mM) NaCl 102,3 KCl 60,0 MgCl2 1,05 NaHCO3 10,0 NaH2PO4 0,42 Glicose 5,6 Quadro 5 – Composição da solução de Tyrode com KCl a 60 mM nominalmente sem cálcio Fonte: adaptada de TANAKA et al., 1999 Métodos 40 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 4 MÉTODOS 4.1 Preparação dos anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato Os ratos foram eutanasiados, em seguida, após ter sido identificada, a artéria mesentérica superior foi retirada e seccionada em anéis de 1-2 mm. A remoção do endotélio foi realizada por atrito mecânico entre as paredes internas do vaso e uma haste de metal (COX et al., 1989). Os anéis livres de tecido conjuntivo e adiposo foram colocados num sistema de banho para órgãos isolados, em cubas contendo 10 mL de solução de Tyrode (TANAKA et al., 1999), a 37 ºC e gaseificadas com uma mistura carbogênica (95% de O2 e 5% de CO2) para prover um pH relativamente constante de 7,2 - 7,4 (TEIXEIRA; PRIVIERO; WEBB, 2005) . Os anéis foram suspensos por linhas de algodão fixadas a um transdutor de força (MLT020, ADInstruments, Austrália), que estava acoplado a um sistema de aquisição (ML870/P com LabChart versão 7.0, ADInstruments, Austrália) para o registro das tensões isométricas (Figura 5). Cada anel foi submetido a uma tensão constante de 0,75 g por um período de estabilização de 60 minutos. Durante este tempo, o meio nutritivo (solução Tyrode) foi trocado a cada 15 minutos para prevenir a produção de metabólitos indesejáveis (ALTURA; ALTURA, 1970). Figura 5 - Sistema de cubas e aquisição de dados de tensão isométrica para órgão isolado Fonte: QUIEROZ, 2011 41 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 4.2 Protocolos experimentais utilizando anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato Para a realização de todos os protocolos experimentais, após um período de estabilização de 60 minutos, foi obtida uma contração com fenilefrina (FEN) 10 µM, um agonista dos receptores α1 adrenérgicos (BYLUND, 1992; BÜSCHER et al., 1999), com a finalidade de verificar a viabilidade do órgão. No componente tônico desta contração, foi adicionado um agonista não seletivo dos receptores muscarínicos, acetilcolina (ACh) 10 µM com o intuito de avaliar a integridade do endotélio vascular (FURCHGOTT; ZAWADZKI, 1980). Os anéis que apresentaram relaxamento superior a 90% sobre a pré-contração com FEN, foram considerados anéis com endotélio funcional (Figura 6A), já os anéis com relaxamentos inferiores a 10% foram considerados anéis sem endotélio vascular (Figura 6B) (TOLVANEN et al., 1998). ACh (10 µM) ACh A) (10 Lavagem B) µM) Lavagem FEN (10 µM) FEN (10 µM) Figura 6- Representação da verificação da viabilidade do órgão e da integridade do endotélio vascular. A) Presença do endotélio e B) Ausência do endotélio funcional 42 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 4.2.1 Verificação do efeito de EPC ou FPC ou TMF em anéis de artéria mesentérica isolada de rato pré-contraídos com FEN Após a verificação da viabilidade do órgão e da presença ou ausência do endotélio, como descrito no item 4.1.2, as preparações foram submetidas a um processo de estabilização, por aproximadamente 30 minutos, e uma segunda contração de FEN (1 M) foi induzida. No componente tônico desta segunda contração, concentrações crescentes de EPC ou FPC (0,001 - 1000 µg/mL, para ambos) ou TMF (10-12 – 10-3 M) foram adicionadas à preparação, de maneira cumulativa, para a obtenção de uma curva concentração-resposta. O efeito vasorrelaxante de EPC, FPC e TMF foi avaliado em anéis com o endotélio intacto e anéis desprovidos de endotélio funcional (Figura 7). A resposta foi expressa como porcentagem de relaxamento em relação à contração produzida pela FEN. A potência e eficácia do vasorrelaxamento dos compostos foram avaliadas por meio dos valores de CE50 ou pD2 e Emáx, respectivamente. 43 OLIVEIRA-FILHO, A. A. EPC ou FPC (0,001 – 1000 µg/mL) ou TMF (10-12 – 10-3 M) ACh (10 µM) A Anéis com endotélio ? Lavagem ? Tensão (g) FEN (10 µM) B FEN (1 µM) Tempo (s) B EPC ou FPC (0,001 – 1000 µg/mL) ou TMF (10-12 – 10-3 M) Anéis sem endotélio ACh (10 µM) Lavagem ? ? Tensão (g) FEN (10 µM) FEN (1 µM) Tempo (s) Figura 7- Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação dos efeitos de EPC -12 -3 (0,001 - 1000 µg/mL), FPC (0,001 - 1000 µg/mL) e TMF (10 – 10 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato, pré-contraídos com FEN (1 µM). A) Anéis com endotélio intacto; B) Anéis sem endotélio 44 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 4.2.2 Comparação do efeito de TMF e quercetina em anéis de artéria mesentérica isolada de rato pré-contraídos com FEN Após a verificação da presença do endotélio, seguida de um processo de estabilização, aproximadamente 30 minutos, foi induzida uma segunda contração de FEN (1 M). No componente tônico desta segunda contração, concentrações crescentes de quercetina (10-12 – 10-3 M), o flavonóide mais abundante nas plantas e mais estudado pela literatura científica (PEREZ-VIZCAINO et al., 2010), foram adicionadas à preparação, de maneira cumulativa, para a obtenção de uma curva concentração-resposta (Figura 8). A resposta foi expressa como porcentagem de relaxamento em relação à contração produzida pela FEN. A potência e eficácia do vasorrelaxamento da substância foram avaliadas por meio dos valores de pD2 e Emáx, respectivamente. QUERCETINA (10-12 – 10-3 M) ? ? Tensão (g) 30 min Tempo (s) FEN (1 µM) Figura 8- Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação dos efeitos de -12 -3 quercetina (10 – 10 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM). 45 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 4.2.3 Investigação do mecanismo vasorrelaxante de TMF em anéis de artéria mesentérica com endotélio vascular 4.2.3.1 Verificação da participação dos metabólitos da via do ácido araquidônico no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato Após a verificação da integridade do endotélio vascular, as preparações foram previamente incubadas com indometacina (10 µM), um inibidor não seletivo da enzima ciclooxigenase (COX) (CLARK; FUCHS, 1997). Após 30 minutos induziu-se uma contração com FEN (1 µM) e na fase tônica desta contração adicionou-se à cuba TMF (10-12 – 10-3 M) cumulativamente (Figura 9). A potência e a eficácia vasorrelaxante do TMF foram avaliadas por meio de comparação dos valores de pD 2 e Emáx, respectivamente, na presença e na ausência de indometacina. TMF (10-12 – 10-3 M) ? ? 30 min Tensão (g) Indometacina (10 µM) FEN (1 µM) Tempo (s) Figura 9- Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação da participação dos metabólitos do ácido araquidônico no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM). 46 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 4.2.3.2 Verificação da participação da NOS no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato Após a verificação da presença do endotélio vascular, as preparações foram pré-incubadas separadamente com L-NAME (100 µM), um inibidor competitivo da enzima NOS, e L-arginina (1 mM), um substrato para a NOS, mais o L-NAME (100 µM) (MONCADA; PALMER; HIGGS, 1993). Após trinta minutos de incubação induziu-se uma contração com FEN (1 µM), na fase tônica e sustentada desta contração adicionou-se cumulativamente TMF (10-12 – 10-3 M) para obtenção de uma curva concentração-resposta. As respostas obtidas foram comparadas com a curva controle (Figura 10). A potência e a eficácia vasorrelaxante do TMF foram avaliadas por meio dos valores de pD2 e Emáx, respectivamente, na presença e na ausência de L-NAME ou L-arginina + L-NAME . TMF (10-12 – 10-3 M) ? ? 30 min Tensão (g) L-NAME (100 µM) ou L- arginina (1 mM) + L-NAME(100 µM) FEN (1 µM) Tempo (s) Figura 10- Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação da participação da NOS no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM). 47 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 4.2.3.3 Verificação do envolvimento do óxido nítrico no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato Após a observação da integridade do endotélio vascular, as preparações foram pré-incubadas com PTIO (300 µM), um seqüestrador de NO (IKEDA et al., 1997). Após 30 minutos, as preparações foram submetidas a uma segunda contração com FEN (1 µM) e no componente tônico desta contração, adicionava-se TMF (10-12 – 10-3 M) cumulativamente (Figura 11). A potência e a eficácia do efeito vasorrelaxante do TMF foram avaliadas por meio de comparação dos valores de pD 2 e Emáx, respectivamente, na presença ou na ausência PTIO. TMF (10-12 – 10-3 M) ? ? 30 min Tensão (g) PTIO (300 µM) FEN (1 µM) Tempo (s) Figura 11- Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação do envolvimento do NO no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM). 48 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 4.2.3.4 Verificação da participação da CGs no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato Após a observação da integridade do endotélio vascular, as preparações foram pré-incubadas com ODQ (10 µM), um inibidor específico da CGS (CERONI, 2007). Decorridos 30 minutos, as preparações foram submetidas a uma segunda contração com FEN (1 µM) e no componente tônico desta contração adcionou-se TMF (10-12 – 10-3 M) cumulativamente (Figura 12). A potência e a eficácia vasorrelaxante do TMF foram avaliadas por meio de comparação dos valores de pD2 e Emáx, respectivamente, na presença e na ausência de ODQ. TMF (10-12 – 10-3 M) ? ? 30 min Tensão (g) ODQ (10 µM) FEN (1 µM) Tempo (s) Figura 12- Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação da participação da CGs efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM). 4.2.3.5 Verificação da participação de canais para potássio (K+) no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica isolada de rato Para avaliar a participação dos canais para K + no efeito induzido pelo TMF, utilizou-se uma solução Tyrode modificada com 20 mM de KCl. Isto porque 20 mM 49 OLIVEIRA-FILHO, A. A. de K+ externo são suficientes para impedir parcialmente o efluxo de K+, e atenuar vasorrelaxamentos mediados pela abertura de canais de K+ (CAMPBELL; HARDER, 1996; CLARK; FUCHS, 1997). E com o mesmo propósito, utilizou-se a ferramenta farmacológica TEA (3 mM), que nesta concentração atua como um bloqueador inespecífico de canais para K+ (ROCHA; BENDHACK, 2009; SILVA et al., 2011). Após a verificação da presença do endotélio funcional, como descrito no item 4.1.2, a solução de Tyrode foi trocada por uma solução despolarizante de Tyrode com 20 mM de KCl ou foi adicionado o bloqueador (TEA 3 mM). Após 30 minutos foi induzida uma nova contração com FEN (1 M) e, em seguida, uma curva concentração-resposta cumulativa para TMF (10-12 – 10-3 M) foi obtida (Figura 13). A potência e eficácia do vasorrelaxamento de TMF foram avaliadas por meio dos valores de pD2 e Emáx, respectivamente. TMF (10-12 – 10-3 M) ? 30 min FEN (1 µM) Tensão (g) KCl 20 mM ou TEA (3 mM) ? Tempo (s) Figura 13- Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação da participação dos + canais para K no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM). 50 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 4.2.3.6 Verificação da participação dos subtipos de canais para K+ no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica isolada de rato Após a verificação da presença do endotélio funcional, as preparações foram incubadas separadamente com 10 M de glibenclamida, um bloqueador seletivo de canais para K+ sensíveis ao ATP (KATP) (OHRNBERGER; KHAN; MEISHERI, 1993; FAROUQUE; OMAR; MEREDITH, 2003); 1 mM de 4-AP, um bloqueador seletivo de canais para K+ sensíveis a voltagem (Kv) (BERG, 2002); e 1 mM de TEA, que nesta concentração atua como um bloqueador dos canais para K+ sensíveis a cálcio de grande condutância (BKca) (WHITE et al., 2002; SILVA et al., 2011). Após 30 minutos, foi induzida uma nova contração tônica com FEN (1 M) e, em seguida, uma curva concentração-resposta para o TMF (10-12 – 10-3 M) foi obtida (Figura 14). A potência e eficácia do vasorrelaxamento de TMF foram avaliadas por meio dos valores de pD2 e Emáx, respectivamente. TMF (10-12 – 10-3 M) ? ? 30 min Tensão (g) GLIB (10 M) ou 4- AP (1 mM) ou TEA (1 mM) FEN (1 µM) Tempo (s) Figura 14- Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação dos subtipos de canais para potássio no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM). 51 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 4.2.4 Investigação do mecanismo vasorrelaxante de TMF em anéis de artéria mesentérica sem endotélio vascular 4.2.4.1 Verificação da ativação dos canais para K+ no efeito induzido pelo TMF em anéis de artéria mesentérica isolada de rato Com o intuito de evidenciar se o flavonoide em estudo induz relaxamento por ativação direta de canais para K+ na célula muscular lisa vascular, utilizou-se uma solução Tyrode modificada com 20 mM de KCl, condição que promove o bloquei parcial do efluxo de K+ , atenuando os vasorrelaxamentos mediados pela abertura de canais de K+ (CAMPBELL; HARDER, 1996; CLARK; FUCHS, 1997). E com o mesmo propósito, utilizou-se a ferramenta farmacológica TEA (3 mM), que nesta concentração atua como um bloqueador inespecífico de canais para K + (ROCHA et al., 2009). Após a verificação da ausência do endotélio funcional, como descrito no item 4.1.2, a solução de Tyrode foi trocada por uma solução despolarizante de Tyrode com 20 mM de KCl ou foi adicionado o bloqueador (TEA 3 mM). Após 30 minutos foi induzida uma nova contração com FEN (1 M) e, em seguida, uma curva concentração-resposta cumulativa para TMF (10-12 – 10-3 M) foi obtida (Figura 15). A potência e eficácia do vasorrelaxamento de TMF foram avaliadas por meio dos valores de pD2 e Emáx, respectivamente. 52 OLIVEIRA-FILHO, A. A. TMF (10-12 – 10-3 M) ? ? 30 min Tensão (g) FEN (1 µM) KCl 20 mM ou TEA (3 mM) Tempo (s) Figura 15- Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação da ativação direta + dos canais para K no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato sem endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM). 4.2.4.2 Verificação do efeito de TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato pré-contraídos com solução despolarizante de 60 mM de KCl Para investigar a resposta vasorrelaxante de TMF sobre a contração induzida por um agente contracturante eletroquímico, foi utilizado uma solução com 60 mM de KCl, que promove uma despolarização da membrana plasmática, levando à ativação dos canais para Ca2+ dependentes de voltagem (CaV) e, consequentemente, à contração do músculo liso vascular (CHEN; REMBOLD, 1995; KRAVTSOV et al., 2003; OLIVEIRA et al., 2006). Após a verificação da remoção do endotélio funcional (ver 4.1.2), e um período de estabilização de aproximadamente 30 minutos, a solução de Tyrode normal foi substituída por uma solução de Tyrode com 60 mM de KCl. No componente tônico da contração promovida por este agente, foram adicionadas concentrações crescentes de TMF (10-12 – 10-3 M) de maneira cumulativa, para obtenção de uma curva concentração-resposta (Figura 16). A potência e eficácia do vasorrelaxamento de TMF foram avaliadas por meio dos valores de pD2 e Emáx, respectivamente. 53 OLIVEIRA-FILHO, A. A. TMF (10-12 – 10-3 M) ? ? 30 min Tensão (g) KCl 60 mM Tempo (s) Figura 16 - Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação dos efeitos de TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato sem endotélio funcional, pré-contraídos com solução despolarizante (KCl 60 mM). 4.2.4.3 Verificação do efeito de TMF sobre as concentrações induzidas por CaCl2 em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato Os experimentos foram realizados em anéis sem endotélio funcional. Nas condições basais de tônus, o Tyrode foi substituído pela solução despolarizante com 60 mM de KCl (contração de referência). As preparações foram lavadas com solução Tyrode livre de Ca2+ e nela mantidas por 15 minutos. Em seguida, os anéis foram expostos a solução despolarizante com 60 mM de KCl nominalmente sem Ca2+ por 15 minutos, e uma curva concentração-resposta cumulativa foi obtida pela adição cumulativa de CaCl2 (10-6 - 3 x 10-2) ao meio. O processo foi novamente repetido, sendo que concentrações isoladas do TMF (10-6, 10-5, 10-4 e 10-3 M) foram incubadas as preparações juntamente com a solução despolarizante de KCl 60 mM nominalmente sem Ca2+ e uma nova curva concentração resposta ao CaCl2 (10-6 – 3 x 10-2 M) foi obtida (Figura 17). Os resultados foram analisados comparando-se os efeitos máximos (Emáx) obtidos das curvas com CaCl2 na ausência (controle) e na presença das diferentes concentrações dos compostos. 54 OLIVEIRA-FILHO, A. A. TMF EDP ou FDP ACh (10 M) Lavagem FEN (10 M) KCl 60 mM Lavagem Lavagem + Lavagem KCl 60 mM nominalmente sem Ca2+ KCl 60 mM nominalmente sem Ca2+ (15 min.) (15 min.) Tyrode nominalmente sem Ca2+ ? CaCl2 (10-6 – 3.10-2 M) 60 mM Tyrode nominalmente sem Ca2+ CaCl2 (10-6 – 3.10-2 M) Tensão (g) (15 min.) KCl (15 min.) Tempo (s) Figura 17 - Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação dos efeitos de -6 -2 TMF sobre as contrações induzidas por concentrações cumulativas de CaCl2 (10 – 3 x 10 ) em meio despolarizante (KCl 60 mM) nominalmente sem cálcio. 4.2.4.4 Verificação do efeito de TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato pré-encubados com um bloqueador de Cav tipo L Após a verificação da ausência do endotélio vascular, as preparações foram previamente incubadas com NIF (1 µM), um bloqueador dos Cav do tipo L (TSANG et al., 2003; SOFOLA; ADEGUNLOYE; KNILL, 2003; MISFELDT et al., 2010). Após 30 minutos induziu-se uma contração com FEN (1 µM) e na fase tônica desta contração adicionou-se à cuba TMF (10-12 – 10-3 M) cumulativamente (Figura 18). A potência vasorelaxante do TMF foi avalida por meio de comparação dos valores de pD2 e Emax na presença e na ausência de NIF. 55 OLIVEIRA-FILHO, A. A. TMF (10-12 – 10-3 M) 30 min Tensão (g) NIF (1 M) ? ? FEN (1 µM) Tempo (s) Figura 18- Representação esquemática do protocolo experimental para avaliação do efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato sem endotélio funcional, préencubados com NIF (1 µM). 4.3 Análise estatística Os resultados foram expressos como média ± erro padrão da média (e.p.m). As diferenças entre as médias foram consideradas significantes quando o p < 0,05. As comparações estatísticas entre duas variáveis foram realizadas por meio da utilização do teste t de Student não pareado. Nas curvas concentração-resposta, os valores de Emáx (efeito máximo produzido por uma substância em porcentagem de relaxamento e de contração), CE50 (concentração de uma substância responsável por 50% do Emáx) e de pD2 (logaritmo negativo da CE50) foram obtidas por regressão não linear. Os dados foram analisados e plotados no programa estatístico GraphPad Prism 5.0®. Resultados 57 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 5 RESULTADOS 5.1 Efeito de EPC, FPC e TMF em anéis de artéria mesentérica isolada de rato pré-contraídos com FEN Em anéis pré-contraídos com FEN (1 μM) (duração de 40 minutos), a adição cumulativa do EPC (0,001 – 1000 µg/mL) promoveu um vasorrelaxamento, em anéis com endotélio intacto (Emáx = 101,3 ± 1,8%; CE50 = 27,2 ± 6,4 µg/mL; n = 7), de maneira dependente de concentração. Após a remoção do endotélio funcional a curva concentração-resposta para o EPC foi deslocada para a direita, com uma diminuição significativa na potência, porém sem alteração no efeito máximo (Emáx = 104,1 ± 1,8%; CE50 = 141,9 ± 19,4 µg/mL, n = 7, p < 0,05) (Gráfico 1). A) B) Figura 19- Registros originais representativos das respostas de EPC (0,01 – 1000 µg/mL) em anéis pré-contraídos com FEN (1 µM) com o endotélio intacto (A) ou após sua remoção (B) 58 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 0 % Relaxamento 20 Endotélio Presente (FEN 1 M) Endotélio Ausente (FEN 1 M) 40 60 80 100 -3 -2 -1 0 1 2 3 Log [EPC]g/mL Gráfico 1 – Curvas concentração-resposta para o efeito relaxante induzido por EPC (0,01 – 1000 µg/mL) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos com endotélio intacto (●) ou endotélio ausente (○), pré-contraídos com FEN (1 µM), (n=7). Os valores foram expressos como média e.p.m. A adição cumulativa de FPC (0,001 – 1000 µg/mL) em anéis de artéria mesentérica, com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 μM), promoveu um vasorrelaxamento de maneira dependente de concentração (Emáx = 105,4 ± 4,8%; CE50 = 41,9 ± 11,8 µg/mL; e n = 7). Após a remoção do endotélio funcional também ocorreu uma diminuição significativa na potência do efeito induzido pela FPC, porém sem alteração no efeito máximo (Emáx = 106,5 ± 4,4%; CE50 = 167,0 ± 30,6 µg/mL, n = 7, p < 0,05) (Gráfico 2). Interessantemente, FPC apresentou a mesma potência farmacológica e magnitude de efeito máximo quando comparado com EPC, tanto em anéis com endotélio funcional (Emáx = 101,3 ± 1,8%; CE50 = 27,2 ± 6,4 µg/mL; n = 7), quanto com anéis sem endotélio funcional (Emáx = 104,1 ± 1,8%; CE50 = 141,9 ± 19,4 µg/mL, n = 7). 59 OLIVEIRA-FILHO, A. A. A) B) Figura 20- Registros originais representativos das respostas de FPC (0,01 – 1000 µg/mL) em anéis pré-contraídos com FEN (1 µM) com o endotélio intacto (A) ou após sua remoção (B) 60 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 0 % Relaxamento 20 Endotélio Presente (FEN 1 M) Endotélio Ausente (FEN 1 M) 40 60 80 100 -3 -2 -1 0 1 2 3 Log [FPC]g/mL Gráfico 2 – Curvas concentração-resposta para o efeito relaxante induzido por FPC (0,01 – 1000 µg/mL) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos com endotélio intacto (●) ou endotélio ausente (○), pré-contraídos com FEN (1 µM), (n=7). Os valores foram expressos como média e.p.m. Como observa-se no Gráfico 3, a adição cumulativa do flavonoide TMF (1012 – 10-3 M), em anéis pré-contraídos com FEN (1 μM) (duração de 40 - 45 minutos), promoveu um vasorrelaxamento em anéis com endotélio intacto (Emáx = 100,8 ± 2,6%; pD2 = 5,44 ± 0,12, n = 6), de maneira dependente de concentração. Após a remoção do endotélio funcional a curva concentração-resposta para o TMF foi deslocada para a direita, com uma diminuição da potência, porém sem alteração no efeito máximo (Emáx = 102,5 ± 4,9%; pD2 = 4,50 ± 0,10, n = 6, p < 0,05). 61 OLIVEIRA-FILHO, A. A. A) -12 -3 Figura 21- Registros originais representativos das respostas de TMF (10 – 10 M) em anéis précontraídos com FEN (1 µM) com o endotélio intacto (A) ou após sua remoção (B) 62 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 0 % Relaxamento 20 Endotélio Presente (FEN 1 M) Endotélio Ausente (FEN 1 M) 40 60 80 100 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[5,7,4'-trimetoxiflavona]M -12 -3 Gráfico 3 – Curvas concentração-resposta para o efeito relaxante induzido por TMF (10 – 10 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos com endotélio intacto (●) ou endotélio ausente (○), pré-contraídos com FEN (1 µM), (n=6). Os valores foram expressos como média e.p.m. O tempo necessário para que fossem obtidas as respostas máximas para cada uma das concentrações, para EPC e FPC, foi de 10 minutos, e para o TMF foi de 8 minutos. Desta forma, em todos os experimentos o tempo total de relaxamento máximo foi, aproximadamente, 80 minutos. Após a aplicação da última concentração das substâncias, seguida de lavagens sucessivas durante 40 minutos, os anéis responderam a uma nova adição de FEN (1 μM), com magnitude semelhante à observada durante a investigação da viabilidade do endotélio vascular (Figura 19, 20, 21). 5.2 Comparação do efeito de TMF e quercetina em anéis de artéria mesentérica isolada de rato pré-contraídos com FEN A adição cumulativa de quercetina (10-12 – 10-3 M), em anéis com endotélio funcional pré-contraídos com FEN (1 μM), promoveu um vasorrelaxamento de maneira dependente de concentração (Emáx = 98,2 ± 3,2%; pD2 = 5,71 ± 0,16, n = 6), sem apresentar diferença em relação à potência e ao efeito máximo, quando 63 OLIVEIRA-FILHO, A. A. comparado com o vasorrelaxamento induzido por TMF em anéis com endotélio intacto (Emáx = 100,8 ± 2,6%; pD2 = 5,44 ± 0,12, n = 6) (Gráfico 4). 0 % Relaxamento 20 Flavona (FEN 1 M) Quercetina (FEN 1 M) 40 60 80 100 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[Flavonoide]M -12 -3 Gráfico 4 – Curvas concentração-resposta para o efeito relaxante induzido por TMF (10 – 10 M) -12 -3 (●), e Quercetina (10 – 10 M) (▼) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM), (n=6). Os valores foram expressos como média e.p.m. 5.3 Efeitos de TMF em anéis de artéria mesentérica com endotélio funcional 5.3.1 Participação dos metabólitos da via do ácido araquidônico na resposta vasorrelaxante induzida pelo TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato Em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM), o pré-incubação por 30 minutos com indometacina (10 µM), um inibidor não seletivo da enzima COX (CLARK; FUCHS, 1997), não alterou o vasorrelaxamento induzido pela adição cumulativa do 64 OLIVEIRA-FILHO, A. A. flavonoide TMF, de maneira significante, (Emáx = 98,2 ± 5,3%; e pD2 = 5,51 ± 0,16, n = 5), quando comparado com o controle (Emáx = 100,8 ± 2,6%; pD2 = 5,44 ± 0,12, n = 6) (Gráfico 5). 0 20 % Relaxamento FEN 1 M (Endotélio Presente) FEN + indometacina (10 M) 40 60 80 100 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[5,7,4'-trimetoxiflavona]M -12 -3 Gráfico 5 – Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10 – 10 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (●) e na presença de indometacina (10 µM) (▼), (n = 6 e 5, respectivamente). Os valores foram expressos como média e.p.m. 5.3.2 Participação da enzina NOS na resposta vasorrelaxante induzida pelo TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato Anéis com endotélio funcional foram incubados com L-NAME, um inibidor da NOS (MONCADA; PALMER; HIGGS, 1993), por 30 minutos. Após este procedimento, a curva de vasorrelaxamento do TMF foi deslocada para direita, sem redução significante, do efeito máximo (Emáx = 91,1 ± 3,6%), mas com uma diminuição da potência (pD2 = 4,52 ± 0,08, n = 5, p < 0,05), quando comparado ao controle (Emáx = 100,8 ± 2,6%; pD2 = 5,44 ± 0,12, n = 6) (Gráfico 6). Interessantemente, a potência farmacológica e a magnitude do efeito máximo 65 OLIVEIRA-FILHO, A. A. quando se utilizou L-NAME foi semelhante aos valores com anéis sem endotélio funcional (Emáx = 102,5 ± 4,9%; pD2 = 4,50 ± 0,10, n = 6). A adição concomitante de L-arginina (1 mM) e L-NAME (100 µM) reverteu a resposta inibitória do L-NAME (100 µM) nas preparações mesentéricas (Emáx = 110,2 ± 5,7%; e pD2 = 5,85 ± 0,14, n = 5), não apresentando diferença significativa quando comparada ao grupo controle (Gráfico 6). 0 % Relaxamento FEN 1 M (Endotélio Presente) 20 FEN + L-NAME (100 M) 40 FEN + L-Arginina (1mM) + L-NAME(100M) 60 80 100 120 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[5,7,4'-trimetoxiflavona]M -12 -3 Gráfico 6 – Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10 – 10 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, na ausência (●) e na presença de L-NAME (100 µM) (▼) ou (□) L-arginina (1 mM) + L-NAME (100 µM), pré-contraídos com FEN (1 µM), (n = 6, 5 e 5, respectivamente). Os valores foram expressos como média e.p.m. 5.3.3 Participação do NO na resposta vasorrelaxante induzida pelo TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato Em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM), a pré-incubação por 30 minutos com PTIO (300 µM), um sequestrador de NO (IKEDA et al., 1997), promoveu uma atenuação do vasorrelaxamento induzido pela adição cumulativa do flavonoide, sem alteração significativa no efeito máximo (Emáx = 100,3 ± 4,9%; e pD2 = 4,62 ± 0,09, n 66 OLIVEIRA-FILHO, A. A. = 5, p < 0,05), quando comparado ao controle (Emáx = 100,8 ± 2,6%; pD2 = 5,44 ± 0,12, n = 6) (Gráfico 7). 0 20 % Relaxamento FEN 1 M (Endotélio Presente) FEN + PTIO (300 M) 40 60 80 100 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[5,7,4'-trimetoxiflavona]M -12 -3 Gráfico 7 – Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10 – 10 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (●) e na presença de PTIO (300 µM) (▼), (n = 6 e 5, respectivamente). Os valores foram expressos como média e.p.m. 5.3.4 Participação da CGs na resposta vasorrelaxante induzida pelo TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato Na presença de ODQ (10 µM), um inibidor da enzima CGs (CERONI et al., 2007), 30 minutos antes da pré-contração com FEN (1 µM), o efeito vasorrelaxamento induzido pela adição cumulativa do TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato com endotélio funcional foi atenuado significantemente, apresentando um deslocamento da curva para a direita sem diminuição do efeito máximo (Emáx = 97,3 ± 6,1%; e pD2 = 4,36 ± 0,11, n = 5, p< 0,05), quando comparado com o controle (Emáx = 100,8 ± 2,6%; pD2 = 5,44 ± 0,12, n = 6) (Gráfico 8). 67 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 0 % Relaxamento 20 FEN 1 M (Endotélio Presente) FEN + ODQ(10 M) 40 60 80 100 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[5,7,4'-trimetoxiflavona]M -12 -3 Gráfico 8 – Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10 – 10 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (●) e na presença de ODQ (10 µM) (▼),(n = 6 e 5, respectivamente). Os valores foram expressos como média e.p.m. 5.3.5 Participação dos canais para K+ na resposta vasorrelaxante induzida pelo TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato Em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM), a pré-incubação por 30 minutos com uma solução Tyrode modificada com 20 mM de KCl promoveu uma atenuação do vasorrelaxamento induzido pela adição cumulativa do flavonoide TMF, de maneira significante, sem alteração significativa no efeito máximo (Emáx = 93,8 ± 5,8%; e pD2 = 4,62 ± 0,08, n = 5, p < 0,05), quando comparado com o controle (Emáx = 100,8 ± 2,6%; pD2 = 5,44 ± 0,12, n = 6) (Gráfico 9A). O mesmo perfil foi observado com a pré-incubação por 30 minutos com a ferramenta farmacológica TEA (3 mM), que nesta concentração atua como um bloqueador não - seletivo de canais para K+ (ROCHA; BENDHACK, 2009; SILVA et al., 2011) (Emáx = 109,0 ± 9,0%; e pD2 = 4,28± 0,10, n = 5, p < 0,05), (Gráfico 9B). 68 OLIVEIRA-FILHO, A. A. A) 0 % Relaxamento 20 FEN 1 M (Endotélio Presente) FEN + KCl 20mM 40 60 80 100 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[5,7,4'-trimetoxiflavona]M B) 0 FEN 1 M (Endotélio Presente) % Relaxamento 20 FEN + TEA (3mM) 40 60 80 100 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[5,7,4'-trimetoxiflavona]M -12 -3 Gráfico 9 – Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10 – 10 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (●) e na presença de 20 mM KCl (▼) (A) e na presença de TEA (3 mM) (♦) (B), (n = 6, 5 e 5, respectivamente). Os valores foram expressos como média e.p.m. 69 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 5.3.6 Participação dos subtipos de canais para potássio no efeito induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica isolada de rato Como se pode observar no Gráfico 10, em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM), a pré-incubação por 30 minutos com 10 M de glibenclamida, um bloqueador seletivo de canais KATP (OHRNBERGER; KHAN; MEISHERI, 1993), não alterou o vasorrelaxamento induzido pela adição cumulativa do flavonoide TMF, de maneira significante, (Emáx = 92,3 ± 3,0%; e pD2 = 5,6 ± 0,16, n = 5), quando comparado com o controle (Emáx = 100,8 ± 2,6%; pD2 = 5,44 ± 0,12, n = 6). 0 FEN 1 M (Endotélio Presente) % Relaxamento 20 FEN + glibenclamida (10M) 40 60 80 100 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[5,7,4'-trimetoxiflavona]M -12 Gráfico 10 – Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10 – -3 10 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, précontraídos com FEN (1 µM) na ausência (●) e na presença de glibenclamida (▼),(n = 6 e 5, respectivamente). Os valores foram expressos como média e.p.m. 70 OLIVEIRA-FILHO, A. A. A pré-incubação por 30 minutos com 1 mM de TEA, um bloqueador dos canais BKca (WHITE et al., 2002; SILVA et al., 2011), em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos pré-contraídos com FEN (1 µM), promoveu uma atenuação do vasorrelaxamento induzido pela adição cumulativa do flavonoide TMF, de maneira significante, sem alteração significativa no efeito máximo (Emáx = 96,0 ± 2,1%; e pD2 = 4,48 ± 0,04, n = 5, p < 0,05), quando comparado com o controle (Emáx = 100,8 ± 2,6%; pD2 = 5,44 ± 0,12, n = 6) (Gráfico 11). 0 FEN 1 M (Endotélio Presente) % Relaxamento 20 FEN + TEA (1mM) 40 60 80 100 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[5,7,4'-trimetoxiflavona]M -12 Gráfico 11 – Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10 – -3 10 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, précontraídos com FEN (1 µM) na ausência (●) e na presença de TEA (▼),(n = 6 e 5, respectivamente). Os valores foram expressos como média e.p.m. *p<0,05 versus controle. Já em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM), a pré-incubação por 30 minutos com 1 mM de 4-AP, um bloqueador seletivo de canais Kv (BERG, 2002), promoveu uma atenuação do vasorrelaxamento induzido pela adição cumulativa do flavonoide TMF, de maneira significante, sem alteração significativa no efeito máximo (Emáx = 95,6 ± 8,6%; e pD2 = 4,7 ± 0,08, n = 5, p < 0,05), quando comparado com o controle (Emáx = 100,8 ± 2,6%; pD2 = 5,44 ± 0,12, n = 6) (Gráfico 12). 71 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 0 FEN 1 M (Endotélio Presente) % Relaxamento 20 FEN + 4-AP (1mM) 40 60 80 100 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[5,7,4'-trimetoxiflavona]M -12 Gráfico 12 – Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10 – -3 10 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, précontraídos com FEN (1 µM) na ausência (●) e na presença de 4-AP (▼),(n = 6 e 5, respectivamente). Os valores foram expressos como média e.p.m 5.4 Efeitos de TMF em anéis de artéria mesentérica sem endotélio funcional 5.4.1 Ativação dos canais para K+ no efeito induzido pelo TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato Em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, sem endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM), a pré-incubação por 30 minutos tanto com uma solução Tyrode modificada com 20 mM de KCl (Emáx = 100,8 ± 0,9%; e pD2 = 4,29 ± 0,08, n = 5) (Gráfico 13 A), quanto com a ferramenta farmacológica TEA (3 mM) (Emáx = 103,1 ± 3,9%; e pD2 = 4,26 ± 0,10, n = 5), não alteraram a resposta vasorrelaxante promovida pela adição cumulativa de TMF, quando comparado com o controle (Emáx = 102,5 ± 4,8%; e pD2 = 4,50 ± 0,10, n = 6) (Gráfico 13 B). 72 OLIVEIRA-FILHO, A. A. A) 0 % Relaxamento 20 FEN 1 M (Endotélio Ausente) 40 FEN + KCl 20mM 60 80 100 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[5,7,4'-trimetoxiflavona]M B) 0 FEN 1 M (Endotélio Ausente) % Relaxamento 20 FEN + TEA (3mM) 40 60 80 100 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[5,7,4'-trimetoxiflavona]M -12 Gráfico 13 – Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10 – -3 10 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, sem endotélio funcional, précontraídos com FEN (1 µM) na ausência (○) e na presença de 20 mM KCl ( ) (A) e na presença de TEA (3 mM) ( ) (B), (n = 6, 5 e 5, respectivamente). Os valores foram expressos como média e.p.m. 73 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 5.4.2 Efeito de TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato pré-contraídos com solução despolarizante de 60 mM de KCl Em anéis de artéria mesentérica, com endotélio funcional removido, précontraídos com uma solução despolarizante de KCl 60 mM, a adição cumulativa de TMF (10-12 – 10-3 M) promoveu uma resposta vasorrelaxante dependente de concentração (Emáx = 100,0 ± 1,2%; pD2 = 4,29 ± 0,06 e n = 5), com efeito máximo e potência estatisticamente semelhantes ao obtido com contrações induzidas com FEN (Emáx = 102,5 ± 4,9%; pD2 = 4,50 ± 0,10 e n = 6) (Gráfico 14). 0 % Relaxamento 20 FEN 1 M (Endotélio Ausente) KCl 60mM (Endotélio Ausente) 40 60 80 100 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[5,7,4'-trimetoxiflavona]M -12 Gráfico 14 – Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF (10 – -3 10 M) em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, sem endotélio funcional, précontraídos com FEN (1 µM) na ausência (○) ou na presença de 60 mM de KCl ( ), (n = 6 e 5, respectivamente). Os valores foram expressos como média e.p.m. 74 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 5.4.3 Efeito de TMF sobre as concentrações induzidas por CaCl2 em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato O TMF nas concentrações de 10-6, 10-5,10-4 ou 10-3 M inibiu de maneira dependente de concentração as contração induzidas por CaCl 2 (10-6, 3 x 10- 6, 10-5, 3 x 10-5, 10-4, 3 x 10-4, 10-3, 3 x 10-3, 10-2 M e 3 x 10-2) em solução despolarizante nominalmente sem Ca+2. Os níveis percentuais máximo de contração induzida por CaCl2 na presença das concentrações utilizadas de TMF foram as seguintes: (E máx = 98,0 ± 1,5 %; Emáx = 77,3 ± 6,6%; Emáx = 26,4 ± 6,0%; Emáx = 15,7 ± 5,4%, respectivamente). A redução das contrações de CaCl2 pelas concentrações de TMF foi de maneira dependente de concentração (Gráfico 15). % CONTRAÇÃO 100 CONTROLE Emáx = 100,0% 75 TMF 10-6 M Emáx = 98,0 1,5% 50 TMF 10-5 M Emáx = 77,3 6,6%* 25 TMF 10-4 M Emáx = 26,4 6,0%* 0 -6 -5 -4 -3 -2 -1 TMF 10-3 M Emáx = 15,7 5,4%* Log [CaCl2] M Gráfico 15 – Curvas cumulativa para CaCl2 na presença de concentrações isoladas de TMF, em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos,sem endotélio funcional. Os valores foram expressos como média e.p.m de 6 experimentos por concentração. *p<0,05 versus controle. 75 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 5.4.4 Efeito de TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato pré-encubados com um bloqueador de Cav tipo L Em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, sem endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM), a pré-incubação por 30 minutos com NIF (1 µM), um bloqueador dos Cav tipo L (SOFOLA; ADEGUNLOYE; KNILL, 2003; MISFELDT et al., 2010), promoveu uma diminuição significativa no efeito máximo induzido pela adição cumulativa do flavonoide TMF (Emáx = 56,0 ± 7,9%; e pD2 = 4,82 ± 0,25, n = 5, p < 0,05), quando comparado com o controle (Emáx = 102,5 ± 4,9%; pD2 = 4,50 ± 0,10 e n = 6) (Gráfico 16). 0 FEN 1 M (Endotélio Ausente) % Relaxamento 20 FEN + NIF (1M) 40 60 80 100 -12 -11 -10 -9 -8 -7 -6 -5 -4 -3 Log[5,7,4'-trimetoxiflavona]M Gráfico 16 – Curvas concentração-resposta para o efeito vasorrelaxante induzido por TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, sem endotélio funcional, pré-contraídos com FEN (1 µM) na ausência (○) e na presença de NIF ( ), (n = 6 e 5, respectivamente). Os valores foram expressos como média e.p.m. Discussão 77 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 6 DISCUSSÃO O presente trabalho foi desenvolvido com o objetivo de avaliar os efeitos do extrato etanólico (EPC), fase clorofórmica (FPC) e flavonoide 5,7,4´-trimetoxiflavona (TMF) oriundos da espécie vegetal Praxelis clematidea, em anéis de artéria mesentérica superior de ratos, elucidando os possíveis mecanismos de ação envolvidos na resposta do TMF, metabólito secundário majoritário isolado e identificado da espécie vegetal, utilizando abordagem metodológica in vitro. Com a realização deste estudo, pode-se evidenciar que o EPC, a FPC e o TMF apresentam atividade vasorrelaxante. Além disso, constatou-se que o flavonoide produz um efeito em anéis com endotélio vascular, o qual envolve a via NOS/NO/CGs, com conseqüente ativação de canais para K+; e em anéis sem endotélio vascular, que envolve o bloqueio dos Ca v presentes na membrana da célula muscular lisa. Durante a triagem farmacológica preliminar de EPC e FPC obtidos de Praxelis clematidea, verificou-se que EPC foi capaz de relaxar anéis de artéria mesentérica pré-contraídos com FEN, tanto na presença quanto na ausência do endotélio vascular (Gráfico 1), sugerindo que as partes aéreas da espécie em estudo possuem metabólitos secundários, com efeito, vasorrelaxante. Com o objetivo de verificar se esta resposta estaria relacionado aos constituintes químicos presentes na fase, que obteve melhor rendimento no estudo fitoquímico da planta, buscou-se avaliar o efeito de FPC. Esta fase clorofórmica apresentou um vasorrelaxamento, em anéis com e sem endotélio funcional, com potência farmacológica e mesma magnitude de efeito máximo do EPC (Gráfico 2), sugerindo assim, que os metabólitos presentes na fase podem ser os responsáveis pelo efeito vasodilatador do extrato. Em seguida, a fim de evidenciar se o flavonoide TMF seria o possível responsável pela atividade relaxante sobre anéis de artéria mesentérica de ratos promovida pelo extrato e fase obtidos de Praxelis clematidea, passou-se a investigar o efeito deste composto majoritário isolado da FPC. Por meio de estudos iniciais, observou - se que TMF induziu um vasorrelaxamento dependente de concentração em anéis de artéria mesentérica superior isolada de ratos, com endotélio intacto, pré-contraídos com FEN, um agonista 1- 78 OLIVEIRA-FILHO, A. A. adrenérgico (BÜSCHER et al., 1999) (Gráfico 3). Comparando o perfil das curvas dos efeitos induzidos por EPC, FPC e TMF, observa-se que o composto isolado apresentou uma similaridade na resposta em relação ao extrato e a fase, sugerindo assim que o flavonoide em estudo é um dos principais responsáveis pela resposta vasorrelaxante das substâncias oriundas de Praxelis clematidea. Estudos anteriores realizados por Tep-Areenan et al. (2010), foi constatado a atividade vasorrelaxante induzida pelo TMF em anéis de aorta de rato, que envolveu dois mecanismos distintos: um dependente e outro independente do endotélio vascular. Além disso, os autores verificaram que a via NOS/NO/CGs, o aumento do efluxo de K+ e inibição do influxo de Ca2+ participam deste efeito produzido pelo flavonoide. No entanto, nenhum estudo investigando o efeito de TMF em outro tecido vascular havia sido realizado. É importante salientar que as respostas farmacológicas obtidas após administração de determinadas substâncias podem variar devido a vários fatores, como por exemplo, a especificidade desta por determinado sítio de ação, a densidade da molécula–alvo sobre a qual age a substância, como também o tecido em qual a molécula–alvo se encontre. Em relação às diferenças entre tecidos, os leitos vasculares são distintos no que diz respeito à fisiologia, a densidade, ao tipo de receptores que expressam, bem como a maneira que responde as várias substâncias (BYLUND, 1994; GURNEY, 1994; INSEL, 1996; VANHEEL; VAN DE VOORDE, 2000; COX, 2002). Exemplo destas diferenças foi observado em artéria coronária de cobaia que não demonstrou relaxamento em resposta as prostaciclinas (KILPATRICK; COCKS, 1994). Além disto, foi também observado que alguns antagonistas de canais para Ca2+ são mais seletivos para determinados tecidos, como, por exemplo, o verapamil (cardioseletivo) e as diiidropiridinas (capazes de relaxar o músculo liso vascular) (GURNEY, 1994). Outro exemplo de variações na resposta farmacológica de acordo com o tecido foi observado em artéria mesentérica e aorta, onde ambas responderam diferentemente a serotonina e estas diferenças estavam relacionadas aos subtipos ou densidade dos receptores para serotonina (ADEGUNLOYE; SOFOLA, 1997). O estudo realizado por Sasaki et al. (2010), também relatou uma variação entre o efeito vasorrelaxante induzido pelos metabólitos secundários da Caesalpinia sappan, ao utilizar metodologias in vitro com aorta e mesentérica de ratos, fato justificado devido à divergência na participação dos EDHF´s, como por exemplo, o NO, no mecanismo relaxante envolvido nestes dos 79 OLIVEIRA-FILHO, A. A. modelos vasculares. Desta forma, estes dados da literatura em conjunto fundamentam a importância do estudo do TMF em outro tecido vascular, utilizando neste caso, artéria mesentérica isolada de rato. O efeito de flavonoides sobre a musculatura lisa vascular é objeto de pesquisa há muitos anos. Vários estudos já demonstraram os diferentes mecanismos de ação envolvidos no efeito relaxante destes metabólitos secundários em diferentes órgãos, como exemplo, os estudos com a quercetina, considerado o flavonoide mais abundante nas plantas e mais estudado pela literatura científica, que foi capaz de relaxar a musculatura lisa vascular de artéria mesentérica e aorta isolados de ratos normotensos (PEREZ-VIZCAINO et al., 2010). Com base nesta informação, buscou-se comparar a potência do TMF e da quercetina em anéis de artéria mesentérica de rato. Nestas condições, pode-se observar que o composto objeto desta pesquisa apresentou uma similaridade na resposta vasorrelaxante, não apresentando diferença estatística nos valores de pD2 e Emáx, quando comparado com a quercetina (Gráfico 4). Este resultado evidencia a importância do estudo de TMF sobre artéria mesentérica isolada de rato, desvendando o mecanismo de ação farmacológica envolvido neste efeito. Vários trabalhos têm mostrado o importante papel desempenhado pelo endotélio no controle do tônus vascular e pressão sangüínea (VANHEEL; VAN DE VOORDE. 2000), assim como, a participação do mesmo nos relaxamentos induzidos por uma variedade de substâncias químicas, endógenas e exógenas (FURCHGOTT; ZAWADZKI, 1980; COHEN ; VANHOUTTE, 1995; CHAUHAN et al, 2003). As células endoteliais, em resposta a uma variedade de estímulos fisiológicos tais como a bradicinina, acetilcolina, histamina, substância P, estresse de cisalhamento, entre outros, liberam substâncias vasodilatadoras, incluindo: as prostaciclinas, o NO e o EDHF (MONCADA; VANE, 1978; FURCHGOTT; ZAWADZKI, 1980; FÉLÉTOU; VANHOUTTE, 1988, VANHEEL VAN DE VOORDE, 2000; MATOBA et al., 2002; KOZA et al., 2007; FORSTERMAN; SESSA, 2011). Diante destes dados, passou-se a investigar a influência do endotélio funcional na resposta vasorrelaxante induzida por TMF. Para tanto, foram realizados experimentos com preparações pré-contraídas com FEN (1M), em que o endotélio foi mecanicamente removido e comparamos a resposta relaxante deste flavonoide na presença e na ausência do endotélio. Nas condições citadas acima, a curva concentração-resposta induzida por concentrações crescentes de TMF, em anéis de artéria mesentérica sem endotélio 80 OLIVEIRA-FILHO, A. A. funcional, foi deslocada significativamente para direita, sem alterações em seu valor de efeito máximo (Gráfico 3), sugerindo que mediadores vasoativos liberados pelo endotélio vascular parecem favorecer o efeito vasorrelaxante induzido por TMF. Além disto, pôdese constatar que este efeito envolve dois mecanismos básicos, um dependente do endotélio vascular e outro independente do mesmo. Com o objetivo de identificar qual fator derivado do endotélio vascular estaria favorecendo a resposta vasodilatadora do TMF, realizaram-se experimentos utilizando diversas ferramentas farmacológicas a fim de se descobrir quais os fatores vasoativos endoteliais estavam envolvidos no efeito induzido pelo flavonoide. A COX é uma enzima que catalisa a reação de metabolismo do ácido araquidônico em metabólitos, dentre eles a PGI 2 que é um potente vasodilatador derivado do endotélio vascular importante para a regulação do tônus muscular (MONCADA; VANE, 1978; SHULZ; TRIGGLE, 1994). A PGI2 formada no endotélio vascular se difunde até o as células musculares onde promove a ativação de receptores IP, que estão acoplados a proteína Gs (COLEMAN et al., 1994), levando à ativação da enzima adenilil ciclase (AC) levando a um aumento dos níveis de monofosfato cíclico de adenosina (AMPc) no citosol. O aumento do AMPc ativa a proteína cinase dependente de AMPc (PKA). Esta proteína quando ativada promove fosforilações da bomba de cálcio do retículo sarcoplasmático (SERCA), aumentado a recaptação de cálcio do citosol para os estoques, promovendo a abertura de canais para potássio, o fechamento de canais para cálcio na membrana e a inibição da cinase da cadeia leve de miosina (MLCK). Estas sequências de fosforilações levam à diminuição das concentrações de cálcio na célula muscular acarretando em uma diminuição do tônus (FROLICH, 1990). Para avaliar a influência da COX na resposta relaxante induzida por TMF, realizou-se experimentos na presença de indometacina (10 µM), um inibidor não seletivo desta enzima (CLARK; FUCHS, 1997). Nestas condições, a resposta vasorrelaxante do flavonoide não sofreu alteração na potência e nem no efeito máximo, quando comparado com o controle (Gráfico 5), sugerindo assim, que os metabólitos da via do ácido araquidônico não participam desta resposta. Este dado corrobora com os resultados obtidos por Tep-Areenan et al. (2010) em aorta de rato. Outra via muito importante para o vasorrelaxamento e consequente regulação do tônus vascular é a que envolve a produção do NO, considerado o principal fator 81 OLIVEIRA-FILHO, A. A. relaxante em muitos dos leitos vasculares (MAYER et al., 1999). O NO é um gás lipossolúvel produzido pelas células endoteliais por ação da NOS e do complexo cálcio/calmodulina (BREDT; SNYDER, 1990; BUSSE; MÜLSCH, 1990; MONCADA; PALMER; HIGGS, 1991). A biossíntese do NO catalisada pela enzima NOS envolve duas etapas de oxidação da L-arginina para L-citrulina, este mecanismo proposto envolve uma hidroxilação inicial da L-arginina, levando a formação de NG-Hidroxi-Larginina, que pode também agir como substrato para NOS. Em seguida, ocorre uma segunda hidroxilação no intermediário formado, usando um elétron do NADPH e formando a L-citrulina e NO (GRIFFTH; STUEHR, 1995; MARLETTA, 1993; ABUSOUD et al., 1997; FORSTERMANN; SESSA, 2011). Baseados na importância do NO no controle da homeostase vascular realizou-se protocolos experimentais afim de verificar a participação da via Larginia/NO no vasorrelaxamento induzido por TMF. Para isto, utilizou-se o L-NAME um inibidor não seletivo da NOS (ARNAL et al., 1993), e na presença desta ferramenta farmacológica a resposta relaxante do flavonoide foi atenuada de maneira significante, em relação ao controle, apresentando semelhança na potência relaxante encontrada com a remoção do endotélio vascular (Gráfico 6), sugerindo o envolvimento da NOS nesta resposta. A concentração intracelular de L-arginina, substrato endógeno para a NOS, pode ser um fator limitante da produção de NO (MONCADA; PALMER; HIGGS, 1993; CASEY et al., 2000). A presença de uma alta concentração de L-arginina no meio (1000 vezes maior do que a de L-NAME) favorece a ligação do substrato ao sítio da enzima, revertendo a inibição causada pelo L-NAME, sendo, um forte indicativo do envolvimento da via L-arginina/NO nestas respostas. Com base nestes dados, realizou-se o protocolo experimental com o pré-tratamento de L-arginina mais L-NAME e nestas condições ocorreu uma reversão total do efeito inibitório do LNAME em preparações com anéis mesentéricos (Gráfico 6). Desta forma, estes resultados reforçam o possível envolvimento da NOS na resposta relaxante induzida por TMF. Para confirmar se o NO seria o mediador responsável pela resposta relaxante, dependente de endotélio vascular, induzida por TMF, utilizou-se o PTIO (300 µM), um seuqestrador deste gás na célula (IKEDA et al., 1997). Nestas condições, a resposta relaxante do flavonoide foi atenuada, nas mesmas proporções 82 OLIVEIRA-FILHO, A. A. observadas nas preparações pré-incubadas com L-NAME, reafirmando assim, a participação deste gás como fator relaxante derivado do endotélio vascular responsável por parte do efeito vasorrelaxante induzido pelo TMF (Gráfico 7). É bem relatado na literatura que o NO, após sua formação pelas células endoteliais, difunde-se para o músculo liso adjacente, devido suas características lipossolúveis, e neste local ativa a CGs, enzima que é responsável por catalisar a conversão de GTP em GMPc, resultando em um relaxamento da musculatura lisa vascular por meio de um mecanismo mediado pela PKG. A PKG realiza fosforilações intracelulares que promovem a uma diminuição dos níveis de Ca 2+ no interior da célula muscular lisa, a inativação da MLCK e abertura de canais de K+ na membrana plasmática, e esses processos juntos levam ao vasorrelaxamento (SABRANE et al., 2003; MULLERSHAUSEN et al., 2003). Para avaliar a participação da via de sinalização que envolve a ativação da CGs, um importante alvo do NO, realizou-se experimentos na presença de ODQ (10 µM), um inibidor seletivo desta enzima (CERONI et al., 2007). Nestas condições o vasorrelaxamento de TMF foi atenuado de maneira significante (Gráfico 8), sugerindo o envolvimento da enzima CGs na resposta relaxante induzida pelo flavonoide em anéis de artéria mesentérica de ratos, e confirmando o envolvimento da via NO/CGs no efeito induzido por TMF, dados estes que estão de acordo com os resultados obtidos, anteriormente, por Tep-Areenan et al. (2010) em estudo com aorta de rato. O papel dos canais de K+ no vasorrelaxamento induzido pela via do NO tem sido extensivamente investigado em vasos de resistência (BOLOTINA et al., 1994; MISTRY; GARLAND, 1998). Os canais para K+ pertencem a uma grande família de proteínas integrais de membrana que têm um papel importante em processos fisiológicos, desde a liberação de neurotransmissores, até a regulação do tônus vascular (GHATTA et al., 2006). Estes canais são determinantes da pressão sanguínea e do tônus vascular, estado contrátil das células musculares lisas presente na parede dos vasos sanguíneos, pois eles ajudam a controlar o potencial de membrana no repouso, bem como regulam o volume celular (LEDOUX et al., 2006). Os canais para K+ agem como agentes hiperpolarizantes e promovem uma retroalimentação negativa na excitação, de maneira que muitos são ativados pela despolarização de membrana 83 OLIVEIRA-FILHO, A. A. (Kv) e/ou aumento do Ca2+ citoplasmático, a exemplo dos Kca (THORNELOE; NELSON, 2005). Drogas vasodilatadoras, cujos mecanismos são dependentes de canais para K+, têm uma redução de seus efeitos quando expostos a soluções com alta concentração de K+, pelo fato de que esse aumento do K+ extracelular atenua o gradiente deste íon através da membrana, tornando assim, a ativação destes canais ineficaz (KHAN; HIGDON; MEISHERI, 1998; MENEZES et al., 2007). A principal conseqüência do aumento da concentração extracelular de K+ (de 4 a 20 mm) é a redução do gradiente eletroquímico para o efluxo deste íon. Sob esta condição experimental, substâncias que abrem canais de K+, portanto, envolvidos na vasodilatação, tem seu efeito atenuado (MISTRY et al., 1998; NELSON; QUAYLE, 1995; ADARAMOYE; MEDEIROS, 2009) Para verificar se a via NO/CGs/PKG envolvida na resposta induzida pelo TMF estaria ativando os canais K+ e deste modo, gerando vasorrelaxamento, utilizou-se preparações incubadas com KCl 20 mM, condição em que promove bloqueio parcial do efluxo de K+ por deslocar o potencial de equilíbrio do K+ (em torno de – 84 mV para -52 mV) para valores mais próximos do potencial de membrana no repouso dos miócitos (em torno -60 a -40 mV) e atenuando desta forma relaxamentos mediados por abertura de canais para K+ (GURNEY, 1994; CLARK; FUCHS, 1997). O aumento da [K+] extracelular (de 4 para 20 mM) alterou significantemente o vasorrelaxamento induzido por TMF, em anéis com endotélio funcional (Gráfico 9A), sugerindo que a resposta relaxante induzida pelo flavonoide, provavelmente, envolve a participação destes canais. No intuito de reforçar que os canais para K+ tem participação no efeito vasorrelaxante induzido por TMF, realizou-se experimentos na presença de TEA (3 mM), que nesta concentração é responsável por bloquear de maneira não seletiva os canais para K+ (ROCHA; BENDHACK, 2009; SILVA et al., 2011). Nestas condições experimentais, observou-se que o relaxamento produzido pelo flavonoide foi significantemente atenuado (Gráfico 9B), corroborando assim, com a hipótese da participação dos canais para K+ na resposta vasorrelaxante promovida pelo composto em estudo, verificada no resultado observado com 20 mM de KCl. Como o uso de KCl 20 mM ou TEA (3mM) não indicam o subtipo de canal envolvido na resposta mediada pelo TMF, seguiu-se a investigação sobre quais tipos 84 OLIVEIRA-FILHO, A. A. de canais para K+ estariam envolvidos no mecanismo relaxante. Sabe-se que, na artéria mesentérica são expressos dentre outros canais para K +, os KCa, os KATP, e os KV (IUPHAR, 2002; HADDY; VANHOUTTE; FELETOU, 2006). Dados da literatura relatam que a PKG hiperpolariza a membrana através da ativação dos canais KATP em coronárias de humanos e em artéria mesentérica de coelho, nesta última causando vasorrelaxamento (ARCHER et al., 1994). Estes canais fecham-se com o aumento da concentração intracelular de ATP, entretanto também são regulados por outras vias de transdução de sinal (JACKSON, 2000). Para verificar se a ativação dos canais KATP está envolvida na resposta induzida pelo TMF, gerando vasorrelaxamento, utilizou-se a glibenclamida (10 µM), um inibidor seletivo para estes canais (OHRNBERGER; KHAN; MEISHERI,1993; FAROUQUE; OMAR; MEREDITH, 2003). Após a realização deste protocolo experimental, observou-se que a presença de glibenclamida não alterou a curva concentração-resposta induzida pelo flavonóide, apontando assim, que os canais KATP não participam da resposta vasorrelaxante induzida pelo TMF em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato pré-contraídos com FEN. Outro importante canal para K+, presente na mesentérica de rato, é o BKCa. Este canal é ativado por voltagem ou em resposta ao aumento da concentração citosólica de cálcio. A abertura deste canal tem como objetivo interromper, por feedback negativo, a despolarização em eventos contráteis, desempenhando assim grande importância no controle do tônus vascular (ASANO; MASUZAWA-ITO; MATSUDA, 1993; BRAYDEN, 2002; CAI; GONG; PAN, 2007; JACKSON, 2000). Estudos prévios indicam que o NO ativa os BKCa por meio da PKG, por modulação direta, ou pela combinação destes dois mecanismos (ROBERTSON et al., 1993; BOLOTINA et al., 1994; GEORGE; SHIBATA, 1995; PENG; HOIDAL; FARRUKH, 1996; ZHOU et al., 1996; SANSOM et al., 1997). Com o objetivo de investigar se BKCa estaria envolvido na resposta vasodilatadora de TMF, utilizou-se preparações incubadas com TEA, que pode atuar como um bloqueador dos canais para K+ sensíveis a cálcio de grande condutância, na concentração de 1 mM (Kd = 0,29mM) (LANGTON et al., 1991; WALLNER; MEERA; TORO, 1999; WHITE et al., 2002; SILVA et al.; 2011). Na presença desta ferramenta farmacológica, observou-se uma atenuação no efeito vasorrelaxante 85 OLIVEIRA-FILHO, A. A. produzido pelo flavonóide (Gráfico 11), apontando para uma possível participação dos BKCa na ação induzida pelo composto e corroborando com os relatos anteriores. Além dos KATP e BKCa, um outro tipo de canal expresso nas células musculares lisas são os canais para K+ sensíveis à voltagem (KV), ativados por despolarização celular e que apresentam importante papel na determinação do tônus muscular e regulação do potencial de membrana (JACKSON, 2000; DORA; GARLAND, 2001; XU et al., 1999; YU; CATTERALL, 2004). Relatos mostram que na hipertensão crônica, onde a disponibilidade de NO é diminuída, estes canais encontram-se inibidos, sugerindo dessa forma a atuação do NO na modulação dos mesmos (YUAN et al., 1996; IRVINE; FAVALORO; KEMP-HARPER, 2003, JACKSON, 2005; VANHOUTTE; FÉLÉTOU; TADDEI, 2005) Para avaliar a participação dos KV no efeito induzido por TMF em artéria mesentérica superior isolada de rato com endotélio funcional utilizou-se o 4-AP (1 mM), um bloqueador seletivo para KV (BERG, 2002), nestas condições observou-se uma atenuação no efeito vasorrelaxamento induzido pelo flavonóide, sugerindo a participação destes canais na resposta vasodilatadora. Desta forma, os resultados até então obtidos em anéis de artéria mesentérica com endotélio funcional permitem concluir que o efeito de TMF envolve a ativação da enzima eNOS, com conseqüente participação da via NOS/NO/CGs e envolvimento dos canais BKca e Kv, produzindo assim, o relaxamento da musculatura lisa vascular. Como parte do efeito do flavonoide se dá de forma independente do endotélio funcional, resolveu-se então investigar o mecanismo vasorrelaxante do TMF sobre o músculo liso vascular. Uma importante via de sinalização celular, que pode ser ativada para promover vasorrelaxamento, é a ativação de canais para K+ diretamente no músculo liso vascular, independente do endotélio vascular, promovendo assim, o aumento do efluxo deste íon, com conseqüente hiperpolarização (NELSON et al., 1995). Baseado nesta informação buscou-se investigar se o TMF estaria promovendo seu efeito por este mecanismo de ação, para isto, realizou-se protocolos com anéis artérias mesentéricas isolada de ratos sem endotélio funcional pré-incubados com 20 mM de KCl ou TEA (3mM), e nestas condições experimentais, não ocorreu alteração significativa nem na potência e nem no efeito máximo na resposta vasorrelaxante induzida pelo flavonoide (Gráfico 13A e B), 86 OLIVEIRA-FILHO, A. A. sugerindo assim, que a ativação dos canais para K+ envolvida na resposta vasorrelaxante do flavonoide é dependente da presença do endotélio vascular. Como em todas as células musculares, a musculatura lisa vascular utiliza Ca2+ como um mecanismo de acionamento no processo de contração. O influxo de Ca2+ através de CaV da membrana plasmática e liberação de cálcio dos estoques intracelulares são as principais fontes para a ativação do mecanismo da contração (JACKSON, 2000). No músculo liso, independente da via de sinalização envolvida no processo de contração, uma redução dos níveis de Ca2+ intracelular leva ao relaxamento (NELSON; QUAYLE, 1995). É bem descrito na literatura que o aumento na concentração de potássio extracelular induz uma despolarização de membrana, promovendo a abertura de CaV, levando a um aumento do influxo de Ca2+ na célula gerando uma contração (REMBOLD, 1996). Este fenômeno pode ser observado quando se eleva a concentração externa de potássio com uma solução despolarizante com elevado potássio (60 mM de KCl). Com a finalidade de verificar a resposta do flavonoide frente às contrações geradas por diferentes estímulos, passou-se a avaliar o efeito do TMF em preparações pré-contraídas com solução despolarizante de KCl 60 mM. Em experimentos realizados nestas condições, o composto em estudo promoveu um relaxamento dependente de concentração nos anéis de artéria mesentérica superior de ratos, sugerindo que o flavonoide possui efeito em contrações induzida tanto por um agonista adrenérgico como por um agente despolarizante, caracterizando assim, uma ação inespecífica que envolve um passo comum na via de sinalização celular dos agentes contracturantes empregados, o aumento citosólico dos níveis de cálcio (GALICIA et al., 2008). Existem várias evidências que um grande número de substâncias derivadas de plantas medicinais, inclusive a substância objeto deste estudo em experimentos com aorta de rato, altere a mobilização Ca2+ nas células musculares lisas (OLIVEIRA et al., 2006; ADARAMOYE et al., 2009; TEP-AREENAN et al., 2010). Além disso, como o tônus induzido por solução despolarizante com alta concentração de K+ é mediado, dentre outros mecanismos, pelos Cav (KARAKI; OZAKI; HORI, 1997) e TMF se mostrou capaz de induzir relaxamento nestas condições, é sugestivo que o flavonoide pode modificar o 87 OLIVEIRA-FILHO, A. A. influxo de cálcio por estes canais em artéria mesentérica de rato, diminuindo assim, a entrada deste íon na célula muscular lisa. Baseados em tais relatos, buscou-se observar se o efeito vasorrelaxante induzido por TMF estava relacionado à inibição do influxo de Ca2+ via Cav. Para verificar essa hipótese investigou-se o efeito do flavonoide frente às contrações induzidas por CaCl2, em meio despolarizante nominalmente sem cálcio. Este protocolo experimental fundamenta-se no fato de que as contrações induzidas por CaCl2 são geradas, quase que exclusivamente, pelo influxo de Ca 2+, já que a despolarização promovida por concentrações elevadas de K+ extracelular induz a abertura dos Cav (RATZ; BERG, 2006). Nestas condições, TMF atenuou significativamente as contrações induzidas por CaCl2, de maneira dependente de concentração (Gráfico 15). Estes resultados sugerem que o efeito vasorrelaxante induzido pelo flavonoide pode ser devido a uma possível influência sobre os Ca v, resultando em uma diminuição do influxo de Ca2+ no músculo liso de artéria mesentérica superior isolada de rato, levando a vasodilatação. A superfamília dos Cav é constituída por pelo menos 10 membros distribuídos em muitos tecidos. Nas CMLV dois tipos principais são expressos, os Cav1 (tipo-L) e os Cav3 (tipo-T). Os primeiros que são caracterizados pela sensibilidade a diidropiridinas, uma classe de drogas usadas clinicamente no tratamento da hipertensão por bloquear seletivamente os Ca v (NELSON et al., 1990). Os canais sensíveis a diidropiridinas, localizados nos vasos sanguíneos, são referidos como Cav 1.2 e considerados os mais expressos nestas células, exercendo um papel relevante na regulação da resistência vascular e, consequentemente, na pressão sanguínea (CATERRAL et al., 2005; KEEF; HUME; ZHONG, 2001). Para confirmar o envolvimento dos Cav na resposta vasodilatadora induzida por TMF, analisou-se seu efeito anéis de artéria mesentérica, sem endotélio funcional, pré-incubados com nifedipino (1 µM), um bloqueador dos canais de Ca v tipo L (SOFOLA; ADEGUNLOYE; KNILL, 2003; MISFELDT et al., 2010). Nesta situação, observou-se uma diminuição considerável do efeito induzido pelo flavonoide, quando comparado com os anéis controles (Gráfico 16), corroborando assim, com a hipótese da participação da inibição do influxo de Ca2+ pelos Cav tipo L, no vasorrelaxamento induzido por TMF. 88 OLIVEIRA-FILHO, A. A. Desse modo, os resultados obtidos sugerem que a Praxelis clematidea apresenta-se como uma promissora espécie vegetal, possuindo metabólitos secundários com atividade vasorrelaxante, sendo o TMF, composto isolado em maior quantidade da planta, o possível responsável por este efeito em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato. Além disso, observa-se que a resposta relaxante da musculatura lisa vascular induzida pelo flavonóide envolve duas vias de sinalização, uma dependente do endotélio funcional; por meio da via NOS/NO/CGs e ativação dos canais BKCa, e KV; e uma independente do endotélio; através, pelo menos em parte, da inibição do influxo de Ca2+ via canais Cav nas células musculares lisas. No entanto, tornam-se necessárias investigações futuras, a fim de se desvendar o completo mecanismo de ação do TMF sobre a musculatura lisa vascular. Conclusão 90 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 7 CONCLUSÕES Em conclusão, estes resultados, obtidos utilizando metodologias in vitro, demonstram que: 1) EPC, FPC e TMF produzem vasorrelaxamento em anéis de artéria mesentérica superior isolada de rato, com perfil farmacológico similar. 2) O efeito vasorrelaxante do TMF envolve a ativação da via NOS/NO/CGs e conseqüente ativação dos canais para K+; 3) O bloqueio do influxo de cálcio, por meio dos canais de Ca v do tipo-L, participa do efeito induzido pelo TMF. Perspectivas 92 OLIVEIRA-FILHO, A. A. 8 PERSPECTIVAS Realizar dosagem de NO utilizando técnicas de citometria de fluxo, para corroborar com os resultados apresentados, mostrando a participação deste gás no efeito induzido pelo TMF; Avaliar a ação de TMF sobre a mobilização do Ca2+ intracelular das células musculares lisas vasculares; Avaliar o efeito do TMF sobre os Cav utilizando técnicas eletrofisiológicas; Investigar os efeitos de TMF in vivo sobre pressão arterial e freqüência cardíaca em ratos normotensos e hipertensos procurando elucidar os possíveis mecanismos implicados nestes efeitos. Referências 94 OLIVEIRA-FILHO, A. A. REFERÊNCIAS ABOU-SOUD, H. M.; PRESTA, A.; MAYER, B.; SUEHR, D. J. Analyses of neuronal NO synthase under single-tumover conditions: conversion of Nw-hydroxyarginine to nitric oxide and citruline. Biochemistry, v.36, p.10811-16, 1997. ADARAMOYE, A.O; MEDEIROS, I.A. 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