Milho Tiguera: O Risco da Exposição das Proteínas Bt na Entressafra por Lucio Schenekenberg Elias¹ A cultura do milho vem ganhando cada vez mais expressão no cenário agrícola brasileiro. Temos, anualmente, um incremento significativo na produtividade das lavouras, cerca de 4,7% na 1ª safra e uma estimativa de 0,8% para o cultivo da 2ª safra (safrinha). Uma forte tendência vem se pronunciando cada vez mais forte em relação ao cultivo deste cereal migrar da safra de verão para a safrinha, principalmente no centro-oeste do país (CONAB, 2015). Diversos fatores contribuem para o crescimento nos rendimentos observados no milho, como por exemplo, a escolha de híbridos com maior potencial produtivo, o aumento no nível de investimento e um clima favorável. Além disso, o uso de híbridos com tecnologia Bt vêm agregando ao crescimento do potencial da cultura e auxiliando no manejo de insetos, como a lagarta do cartucho. Dentro deste interessante cenário que o cultivo do milho vem atravessando, observamos a existência de uma forte preocupação com a longevidade das biotecnologias por parte da indústria, da comunidade cientifica, dos consultores e também dos produtores rurais que vem observando o desgaste desta ferramenta. O desafio na manutenção da eficiência destas proteínas é muito grande em razão de diversos fatores relacionados às pragas, tais como a bioecologia, a dispersão, o número de gerações e a diversidade de hospedeiros (MAIA, A.H.N., 2003a). Existem outros fatores que podem ser influenciados por ações de manejo que afetam diretamente o processo de evolução da resistência das pragas alvo em relação as proteínas Bt, como a adoção de refúgio estruturado efetivo, dessecação antecipada, tratamento de sementes, rotação de cultura, monitoramento, aplicação de inseticidas e o controle de plantas voluntárias, por exemplo, que podem servir de fonte de abrigo e alimentação para as pragas durante o período da entressafra. A mudança do cultivo do milho da safra de verão para a safrinha vem contribuindo muito com a gestão das propriedades rurais, diluindo os custos operacionais e melhorando o sistema produtivo, porém, em contrapartida aumentou a exposição das biotecnologias às pragas alvo. Onde antes tínhamos um período bem definido de condução da cultura, hoje observamos milho no campo o ano todo nos mais diversos estádios. Além disso, as plantas voluntárias acabam se desenvolvendo na entressafra de maneira descontrolada. As plantas voluntárias nascem em diversos fluxos, dificultando ações de manejo e servindo de “ponte verde” para a próxima safra, abrigando insetos e patógenos. O milho voluntário apresenta um alto risco para a evolução da resistência das pragas alvo às proteínas Bt, pois são áreas isentas de qualquer ação de controle de insetos e doenças. Na maioria destes casos, a expressão das proteínas tem sua concentração severamente reduzida em razão das condições em que as plantas se desenvolvem, como estresse hídrico, ausência ou deficiência de nutrição, etc. A intensidade e a frequência da emergência de plantas voluntárias, em diversas ocasiões, fogem do controle devido à forte influência das condições climáticas. Observamos que, até mesmo em regiões de cerrado, onde o clima é muito bem definido, ocorrem chuvas esporádicas que levam a um novo fluxo de germinação de invasoras e plantas voluntárias de milho, que dificultam ainda mais as ações de manejo e contribuem para o aumento do número de plantas hospedeiras de pragas. Uma ação simples, porém, que demanda atenção e pessoas qualificadas no campo, é o acompanhamento constante das perdas na operação de colheita. No período da manhã, quando se inicia a atividade, e ao entardecer, as regulagens de rotor, trilha/retrilha e peneiras são diferentes dos períodos mais quentes do dia. Este cuidado, além de diminuir as perdas na operação de colheita, reduz o banco de sementes potencial na área, resultando num fluxo menor de plantas “guaxas”. Existem grandes distinções entre diferentes híbridos, umidade, sanidade da planta e de grãos, que contribuem para que a colheita aconteça da maneira mais eficiente possível, tal como é feito para a cultura da soja, em que, de um modo geral, podemos observar uma preocupação maior na colheita. Temos ainda, em uma frequência muito considerável no campo, híbridos que além de proteínas Bt, possuem eventos que conferem tolerância à herbicidas, principalmente o glifosato, que é uma das moléculas mais utilizadas no Brasil para controle de plantas daninhas em manejo de pré e pós colheita. Para estes híbridos, que são excelentes ferramentas no manejo de plantas de difícil controle, devemos atentar para algumas peculiaridades, principalmente em relação ao estádio fenológico da lavoura. Para a maior eficiência dos graminicidas, o milho deve estar, no máximo, com a quinta folha verdadeira expandida. A partir deste ponto, o controle se torna mais difícil. Situações de baixa temperatura e baixa umidade relativa do ar também têm influência na eficiência da operação, portanto, devemos optar, principalmente no Brasil Central, por realizar as aplicações no amanhecer e entardecer, ou se possível, optar pelo período noturno onde teremos maior umidade no ambiente e, por consequência, maior molhamento e cobertura foliar do produto. O uso de adjuvantes também pode agregar na qualidade de aplicação. Outro cuidado, muitas vezes relegado, está nas misturas que podem gerar incompatibilidade, como pode acontecer com moléculas inibidoras de ALS e PROTOX. O desafio na manutenção da eficiência das tecnologias Bt incorporadas à cultura do milho é muito grande e depende de um entendimento comum de todos os profissionais da agricultura e produtores rurais. A ocorrência de plantas voluntárias de milho sempre fez parte do sistema produtivo, porém, com o risco da exposição das biotecnologias no período da entressafra, devemos ter este cuidado adicional na condução das áreas produtivas. Novos recursos para controle da lagarta do cartucho estão escassos e com previsão de acesso ao mercado consumidor somente para daqui a 10 anos, portanto, devemos ter atenção redobrada para o que temos em mãos. O manejo pós-colheita deve ser uma alternativa a ser avaliada, pois a população da praga vem evoluindo e a manutenção da eficiência das tecnologias só tem a agregar ao sistema produtivo brasileiro. ¹Lucio Schenekenberg Elias, Coordenador de Agronomia da DuPont Pioneer Referências: http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/15_06_11_09_00_38_boletim_graos_junho_2015.pdf - Acesso em 21/06/2015. MAIA, A.H.N. Modelagem da evolução da resistência de pragas a toxinas Bt expressas em culturas transgênicas: quantificação de risco utilizando análise de incertezas. Tese de Doutorado, Universidade de São Paulo, Piracicaba, Brazil, 2003.