O INTÉRPRETE EDUCACIONAL NOS MOMENTOS DE INTERLOCUÇÃO: EXPERIÊNCIA EXITOSA EM UM CENÁRIO BILÍNGUE Autoras: Karen Santos Lopes; Cristina Broglia Feitosa de Lacerda INTRODUÇÃO O intérprete não é uma figura pouco conhecida nas línguas orais, mas quando se trata do intérprete educacional há poucas referências sobre tal profissão. O termo Intérprete Educacional é usado em muitos países (EUA, Canadá, Austrália, entre outros) para diferenciar o profissional que atende a nível pedagógico dos demais intérpretes. Segundo Lacerda (2009) esses profissionais são essenciais para que os alunos surdos, usuários da Libras, tenham acesso não apenas aos conteúdos escolares, como também a oportunidades de inserção/interação social no espaço escolar. Sua função é de viabilizar a comunicação entre surdos e ouvintes, atuando na fronteira entre os sentidos da língua oral (português) e da língua de sinais, em um processo ativo, dinâmico e dialético. Trabalho que visa a uma contribuição significativa na melhoria do atendimento escolar, pelo fato de estabelecer um respeito para com o surdo em sua condição linguística e sociocultural, propiciando seu desenvolvimento e aquisição de novos conhecimentos de maneira adequada. Já no Brasil o que tem se observado é que a identidade desse profissional ainda se encontra em fase de consolidação. Apesar da figura do intérprete ser garantida por lei (BRASIL, 2005) observamos que sua participação no campo educacional ainda vem galgando espaço pela inserção e reconhecimento. O interprete é, portanto, um profissional garantido pela Legislação, nesse sentido assume um papel fundamental em uma educação que se comprometa a atender as singularidades desses indivíduos. No entanto apesar desse profissional estar respaldado pela lei, observamos uma grande defasagem no que tange a sua formação. Apesar das décadas de 1980 e 1990, terem aumentado significativamente o número de crianças surdas inseridas em escolas regulares e consequentemente a procura por IEs. Nem governo ou mesmo as instituições acadêmicas tem se preocupado em subsidiar uma formação adequada que contemple os aspectos pedagógicos ao profissional intérprete. Tem se observado que na maior parte das vezes quem se faz presente nesses espaços, são pessoas que que tem apenas o domínio da Libras. Outro aspecto que merece destaque é quanto a escassez de pesquisas sobre intérpretes de língua de sinais em sala de aula, segundo alguns autores isso se deve ao caráter ainda experimental desse profissional em muitas realidades. (LACERDA, 2000; 2002; 2003; PIRES; NOBRE, 2004; QUADROS, 2004). Desse modo, essa realidade acaba por desvalorizar esse profissional tornando também evidente o descaso com as necessidade e especificidade do aluno surdo, uma vez que depende desse profissional para estar incluído de forma efetiva, e participante ativo do seu processo de aprendizagem. Diante de tais aspectos torna-se claro a necessidade de uma proposta pedagógica que contemple esse profissional, uma vez que o IE tem mostrado ter uma importante tarefa no espaço escolar. Nesse sentido, seus modos e atuação mereciam ser mais bem compreendidos e refletidos. A educação bilíngue tem sido uma abordagem educacional que resguarda a referida Legislação, valorizando o convívio de duas línguas em um mesmo ambiente escolar. A proposta bilíngue surgiu baseada nas reivindicações dos próprios surdos, pelo direito a sua língua e das pesquisas linguísticas sobre a língua de sinais. De fato, estudos como (LACERDA & LODI, 2009); (SALLES, 2007); (SKLIAR, MASSONE & VEINBERG, 1995); vêm apontando que esta proposta é a mais apropriada ao ensino das crianças surdas, tendo em vista que considera a língua de sinais e se baseia no conhecimento dela para o ensino da língua majoritária, neste caso o Português, preferencialmente na modalidade escrita. O enfoque educacional bilíngue envolve atitudes positivas com pessoas surdas e a língua de sinais, e também o respeito pelas minorias linguísticas e por suas identidades. Além disso, essa proposta valoriza os adultos surdos, que vão responder pela exposição à língua de sinais, e possibilitar à criança surda o direito de escolha entre duas línguas. Não se trata, portanto, de negação da surdez, mas sim, de respeito a uma minoria linguística (GUARINELLO, 2007). No entanto, na maioria das situações o que se observa é que os Intérpretes de Línguas de Sinais (ILS) são inseridos nas unidades de ensino apenas para serem cumpridas as propostas e leis educacionais. Segundo Lacerda (2006), a inclusão educacional ainda não é satisfatória, já que os sujeitos surdos necessitam de várias outras condições de acessibilidade além da presença de um intérprete em sala de aula. A comprovada inadequação do sistema de ensino regular aos alunos surdos aponta para a necessidade de se implantar urgentemente, medidas que proporcionem o pleno desenvolvimento desses sujeitos. O que vemos na prática, são escolas que se dizem “inclusivas” apenas por terem surdos inseridos em suas salas de aula. Entretanto essas instituições não contam com uma equipe profissional especializada, como: professores proficientes em língua de sinais, intérpretes de língua de sinais, metodologias e estratégias especificas para estes alunos, o que por fim coloca a prova o ensino e a aprendizagem desses educandos (SILVA, 2011). Ao inserir um ILS em sala de aula, possibilita-se ao aluno surdo o recebimento da informação escolar em língua de sinais por meio de um profissional com competência nessa língua. Com o respeito a condição linguística especial do surdo, aumentam as oportunidades de desenvolvimento de novos caminhos para a inclusão escolar desse sujeito. Por outro lado, apenas ter um intérprete de língua de sinais em sala de aula não assegura por completo a qualidade da aprendizagem do aluno surdo, faz-se necessário então a garantia de metodologias específicas a esse público, um currículo escolar que contemple suas peculiaridades e os traços culturais da comunidade surda (LACERDA, SANTOS e CAETANO, 2011). Apesar da relevância desse assunto, o ILS é uma figura pouco conhecida. Em caráter mundial e nacional, os estudos existentes são escassos. A figura dos ILS precisa ser reconhecida nas experiências diárias vivenciadas nas escolas, mas a visão atual dessa classe pelos professores e alunos ouvintes de salas inclusivas ainda se encontram em fase de construção. Na maioria das vezes, os interpretes educacionais são vistos como mediadores no processo de comunicação, ou seja, responsáveis pela versão de uma língua para a outra, para que de fato os interlocutores se compreendam (SILVA, 2011). Confrontando tais ideias, Bakhtin (1998) estuda a língua em sua natureza viva e articulada com o social pelo que chama de interação verbal. Nesse sentido, ele nota o homem como um ser biológico e social, membro participante ativo do processo histórico. Para ele não é possível compreender o homem, sua vida, seu trabalho, suas lutas, senão por meio de textos signos criados ou por criar. Nesse sentido o homem não pode ser estudado como um fenômeno da natureza, acabado, como coisa. A ação física do homem precisa ser compreendida como ato, porém este ato não pode ser compreendido fora de sua expressão “signica” que é por nós recriada (FREITAS, 2002). O homem passa a ser um ser ativo, vivo nas relações sociais, e é por essas mesmas relações que suas falas são geridas. Os sujeitos estão, portanto, em constante interação. Nesse sentido, o interprete não é um objeto apenas de reprodução, mas assume uma posição fundante nessa dialogia. Suas marcas também estão impressas em sua interpretação, naquilo que se diz, é por esse motivo que a neutralidade ou imparcialidade deve ser repensada quando se trata do interprete educacional. Bakhtin (1998) referencia a língua da seguinte forma: A vida é dialógica por natureza. Viver significa participar do diálogo: interromper, ouvir, responder, concordar, etc. Nesse diálogo o homem participa todo e com toda a sua vida: com os olhos, com os lábios, as mãos, a alma, o espírito, com o corpo todo, os atos, com as suas ações, aplica-se totalmente na palavra, e essa palavra entra no tecido dialógico da vida humana. Portanto, as ideias de tais teóricos nos ajudam a refletir sobre a realidade atual do intérprete de língua de sinais, que é o profissional que traduz e interpreta da língua de sinais para o português e vice e versa em qualquer modalidade que se apresentar (oral ou escrita). Fazendo ele parte desse processo dialógico, é impossível que este se mantenha imparcial a essa relação, pois como em qualquer ato comunicativo, implicaria comprometimento com o objetivo de todo ato educativo (SILVA, 2011). Cabe ainda ressaltar que a postura do intérprete em sala de aula não deve promover a redução das oportunidades comunicativas, “pois a medida que consideramos que todo conhecimento é sempre construído na inter-relação das pessoas” (VYGOTSKY, 1991, p. 69), este se encontra imbuído de seu papel, no tocante ao atendimento de necessidades imediatas e deve situar o aluno no tempo e no espaço. Segundo Perlin (2004) quanto mais se reflete sobre a presença do ILS, mais se compreende a complexidade de seu papel, a profundidade e a dimensão de sua atuação. Percebe-se então que tais profissionais também são intérpretes da cultura, da língua, da história, dos movimentos, das políticas, da identidade e da subjetividade surda e que apresentam suas particularidades, sua identidade e sua orbitalidade. É necessário que haja uma mudança de postura por parte do professor que também tem o dever, como educador, de auxiliar o ILS em suas práticas. Se o professor não assumir práticas que favoreçam a atuação do ILS, consequentemente, a compreensão do aluno surdo ficará comprometida. (LACERDA, SANTOS e CAETANO, 2011). Para desenvolver práticas acadêmicas acessíveis é necessário, antes de qualquer adaptação curricular, que haja parceria entre professor e ILS. Zampieri (2006) em sua pesquisa em uma escola inclusiva, com a presença de ILS, destaca que, para um ensino adequado a alunos surdos e ouvintes a parceria não é somente uma necessidade, mas algo fundamental. Uma das formas de promover a parceria entre profissionais, e desenvolver práticas que beneficiem o aprendizado do aluno surdo é envolver o ILS no planejamento das atividades. O ILS precisa ter acesso aos conteúdos que serão ministrados para se preparar com antecedência e, assim, oferecer uma boa interpretação. É diante de tais aspectos que o presente estudo se destaca, uma vez que propõe apresentar como tem se dado as relações de troca de experiência entre os professores e o ILS em um cenário bilíngüe. Trata-se de profissionais que também atuam no espaço escolar, sua participação e envolvimento são essenciais em todos os processos escolares, sendo um forte colaborador para a construção de uma prática pedagógica adequada ao aluno surdo. METODOLOGIA Este estudo trata-se de um relato da experiência de estágio como parte da disciplina obrigatória do curso de licenciatura em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), realizado no ano de 2011. Os sujeitos deste estudo são um intérprete e três professores de diferentes disciplinas, como: História, Ciências e Educação Física, que atuam em uma escola da rede municipal, em um município de grande porte do interior de São Paulo, que conta com um Programa de Educação inclusiva e bilíngue. O referido programa teve início no ano de 2007, e desde então muitas pesquisas vem sendo desenvolvidas nesse contexto sob diferentes vertentes, o que possibilitou à escola auto-avaliações constantes, se tonando um espaço rico na construção de conhecimento conjunto. Sendo assim, este espaço torna-se um meio efetivo para a realização de um estudo mais específico sobre a atuação do intérprete educacional, profissional indispensável para configurar um programa bilíngue e uma inclusão eficaz. O intérprete referido atuava na sala em que a autora realizou um semestre de estágio, na segunda etapa do ensino fundamental. Os dados analisados foram coletados por meio de observações semanais e registrados por meio de um diário de campo. Tomou-se o devido cuidado para que a observação não se limitasse a pura descrição dos fatos, visto que seu principal objetivo era compreender como o objeto estudado se relacionava com as outras ordens de acontecimentos (FREITAS, 2002). De acordo com a mesma autora, a observação é nesse sentido, um encontro de muitas vozes: ao se observar um evento, depara-se com diferentes discursos verbais, gestuais e expressivos. São discursos que refletem e refratam a realidade da qual fazem parte, construindo uma verdadeira tessitura da vida social. Por esse motivo, o estágio teve grande contribuição na análise dos fatos, pois ao estar imersa ao mesmo ambiente que os sujeitos analisados, foi possível fazer parte da própria situação de pesquisa, não criando artificialmente uma situação para ser pesquisada, buscou-se o encontro da situação no seu acontecer, no seu processo de desenvolvimento (FREITAS, 2002), com isso é também possível levar em conta todos os seus componentes da situação em suas interações e influências recíprocas (ANDRÉ, 1995). O que se se busca numa pesquisa não é a precisão do conhecimento, mas a profundidade da penetração e a participação ativa do investigador quanto do investigado (BAKHTIN, 1992). RESULTADOS Através dos dados coletados ao longo de um semestre de estágio, foi possível analisar que o intérprete assume uma importante postura em relação a inclusão dos alunos surdos na escola. Ele se mostrou um importante veículo de informação aos professores quanto às necessidades requeridas pelos alunos, no que diz respeito às metodologias empregadas, dúvidas concernentes a Surdez e dificuldades de aprendizagem. Observou-se que o intérprete construiu uma relação de parceria com os educadores. Este aspecto em relação entre professor e intérprete, pode parecer menos importante, mas dele depende o bom andamento do trabalho do intérprete. O local que ele ocupa em sala de aula, se pode ou não dirigir-se à lousa e escrever ou desenhar algo para favorecer sua interpretação ou a compreensão dos alunos surdos. Os modos como as atividades são propostas e os efeitos disso sobre os alunos surdos só podem ser debatidos e avaliados se o professor e intérprete tiverem um bom relacionamento que possibilite trocas de experiências e mudanças de práticas, constituindo uma relação de parceria. Cabe inferir que os modos de atuar de cada profissional envolvido se interferem necessitando-se assim de uma análise cuidadosa para o bom andamento do trabalho escolar (ZAMPIERI, 2006). Neste estudo, por se tratar de professores de diferentes disciplinas, verificou-se que cada qual possuía uma preocupação em relação à inclusão desses alunos em sala. O professor de Educação Física - cuja disciplina não é ao todo teórica, concentrando suas atividades extra-classe, permitindo uma maior interação entre os alunos - se preocupava com a questão de socialização dos alunos. Sendo assim, nos momentos de interlocução com o intérprete seus questionamentos se remetiam sobre quais estratégias poderiam ser usadas para que os surdos se integrassem aos demais alunos sem maiores dificuldades. Com isso, observamos que as responsabilidades inerentes ao intérprete iam além dos momentos de interpretação, tornando-o um educador em parceria ao professor regente. Nesse sentido, Lacerda (2003) afirma que devido ao fato de o ILS ter uma relação estreita e cotidiana com os alunos surdos ele não pode simplesmente interpretar sem se importar com a compreensão e o aprendizado deles. Interpretar e aprender, e interagir aos demais membros do grupo nesse ambiente, são fatores indissolúveis e o intérprete assume, inerente ao seu papel, a função de educador. Além disso, em muitas realidades é somente o intérprete o profissional fluente em Língua de Sinais, a compartilhar da mesma língua que as crianças surdas, este cria um vínculo de afetividade com esses alunos. Como resultado se observa a ampliação de seus vocabulários, a troca de experiências e dúvidas concernentes a idade que esses jovens apresentam, interferindo também, positivamente no processo de sua aprendizagem. A professora de Ciências concentrava suas preocupações em fornecer material antecipadamente ao intérprete, possibilitando o acesso aos conteúdos a serem ensinados na sala de aula; notou-se também uma preocupação da professora com relação às dificuldades de leitura apresentada pelos alunos surdos. O intérprete, nesses momentos, informou que a dificuldade apresentada pelos alunos surdos quanto à interpretação de textos se dava pelo fato de lidarem com duas línguas (Libras e português escrito), que no caso dessa disciplina, ocasionava maiores dúvidas visto que exigia o conhecimento de muitos termos específicos. Portanto, diante de tal dificuldade o mesmo sugeriu e negociou com a professora para fizesse maior uso dos recursos visuais como imagens e experiências em sala de aula, para que os alunos compreendessem pela prática o que muitas vezes o impediam de entender pelos textos. Assim, podemos notar que o intérprete ao vivenciar de perto as necessidades e singularidades apresentadas pelos alunos surdos, se atentou as práticas que melhor se adequariam a realidade desses alunos. Segundo Campello (2007), para favorecer a aprendizagem do aluno surdo observamos que não basta apenas apresentar os conteúdos em Libras, é preciso explicar os conteúdos de sala de aula utilizando de toda a potencialidade visual que essa língua possui.Nesse mesmo sentido, o uso de imagens pode ser um efetivo recurso de ensino (uma maquete, um desenho, um mapa, um gráfico, uma fotografia, um vídeo, um pequeno trecho de filme); poderia ser um material útil à apresentação de um tema ou conteúdo pelos professores de ciências, física, química, biologia, história, geografia, matemática, inglês, dentre outros. Um elemento visual que provocasse debate, que trouxesse a tona conceitos, opiniões e que pudesse ser aprofundado na direção dos objetivos pretendidos pelo professor. Outros recursos que expressam essa mesma característica visual e que podem contribuir muito para essa aprendizagem são o uso de mapas conceituais e power point (CAETANO;LACERDA; SANTOS; 2011). Segundo as mesmas autoras, a escola, em geral, está presa ao texto didático como caminho único para a apresentação de conceitos, e este caminho tem se mostrado pouco produtivo quando se pensa na presença de alunos surdos em sala de aula. Além disso, o trabalho do intérprete de Libras será mais efetivo quando a informação visual é acessível, pois com e sobre ela o aluno surdo poderá construir conceitos e os colocar em tensão aquilo que é apresentado pelo professor, dando oportunidades para uma aprendizagem mais reflexiva e efetiva. A professora de História se mostrava muito atenta e por vezes curiosa em relação as necessidades dos alunos surdos, tentando muitas vezes aprender com o intérprete alguns sinais para se comunicar com eles. Ela também se preocupava em oferecer ao intérprete todo o material/conteúdo a ser ensinado ao longo da semana, possibilitando que ele se preparasse previamente. A mesma também por diversas vezes discutia a respeito da elaboração das provas com o intérprete, refletindo de que modo ela poderia ser clara na formulação das questões não dificultando a compreensão e interpretação pelos alunos surdos. Esse planejamento permite aos intérpretes se organizarem, pesquisarem sobre os conhecimentos que julguem necessários e encontrem modos mais adequados de expressar certas questões em libras. Sobre a atuação do intérprete educacional (IE), Lacerda (2009) diz que ele muitas vezes acaba colaborando com o professor na sugestão de atividades, indicando os momentos de sala de aula que foram mais complicados para trabalhar, além de levar informações e observações para o professor, auxiliando a uma visão ampla sobre a surdez e os modos de abordar diversos temas. Assim, o trabalho colaborativo entre o intérprete educacional e o professor contribui de maneira significativa para o desenvolvimento do aluno surdo. Através desses dados torna-se possível iniciarmos uma discussão sobre a valiosa contribuição do intérprete educacional, um profissional cuja responsabilidade vai além da imediata interpretação, mas atento às questões educacionais que envolvem o aluno surdo. CONCLUSÃO Tem se observado que as estratégias de ensino utilizadas pelos professores atualmente são majoritariamente pensadas a partir de sua ótica, de sua língua e de suas experiências anteriores com alunos ouvintes. Desse modo, quando um professor vai trabalhar com crianças surdas, em sua classe, ele necessitará reorganizar seus modos de atuação pensando nesses alunos. Diante de tal realidade Lacerda (2009) em seu livro “Intérprete de libras em atuação na educação infantil e fundamental” aborda por meio da narrativa de vários intérpretes que os professores estão atentos e procuram muitas vezes formular estratégias interessantes, mas nem sempre são acompanhadas pelas crianças surdas, em geral por falta de experiências anteriores que os ajudem a significar os conceitos que estão sendo apresentados. Além disso, as estratégias quase nunca levam em consideração a realidade visual e linguística desses alunos, em sua grande maioria são realizadas adaptações de práticas fomentadas aos ouvintes. Nessas ocasiões estudos (LACERDA, 2009); (LODI, 2007); (ROSA, 2005) apontam que ILS tem se sentidos responsáveis em informar aos professores sobre as condições reais de aprendizagem desses alunos, e as atividades que melhor se adequam a sua aprendizagem. No entanto, as autoras são enfáticas ao afirmar que as relações de parceria estabelecida entre esses profissionais e os regentes de sala qualificam o trabalho de ambas. A relação harmoniosa entre elas revelou-se como um fator fundamental para que as atividades em sala de aula transcorressem satisfatoriamente (LACERDA, 2006; KELMAN, 2005). Diante disso, a partir de tal estudo foi possível verificar que as relações de troca entre o intérprete e os professores contribuíram efetivamente para a adoção de práticas que melhor se adequassem a realidade linguística dos alunos surdos bem como para o bom desempenho da interpretação por parte do intérprete. Segundo Kotaki e Lacerda (2010) ao estabelecer parcerias com os professores o trabalho do interprete é favorecido, uma vez que o conhecimento prévio dos conteúdos permite um melhor planejamento, e criação de estratégias que facilitem o ato de interpretar. A proximidade do professor amplia as possibilidades de um trabalho colaborativo, existindo abertura para discussões sobre possíveis adaptações, troca de informações, e de ideias para um melhor trabalho em sala de aula. Concordamos com as autoras quando enfatizam que o trabalho do professor em parceria com o intérprete educacional é relevante na qualidade de ensino à pessoa surda. Deve existir entre eles um planejamento comum cotidiano, discutir e compartilhar ideias, refletir sobre as aulas diariamente, e ter oportunidade de sugerir adaptações e modificações para atender todas as necessidades dos alunos, facilitando o tanto o trabalho de interpretação como também o acesso às informações e aprendizado do sujeito surdo. No entanto, necessita-se de um horário escolar reservado especificamente para isso. Outro aspecto importante é a flexibilidade por parte dos professores para um trabalho em parceria; é necessário que estejam abertos a mudanças com relação às estratégias de ensino, manejo de classe, aceitar novas ideias e, desta forma, propiciar melhorias na relação de trabalho com o intérprete. Somente a partir dessa parceria construtiva pode-se proporcionar uma educação adequada, e de qualidade, aos alunos surdos. Diante de tal realidade observamos que a atuação do intérprete de língua de sinais no cenário escolar é recente e traz ainda indagações sobre sua formação, práticas e a realidade que vivencia na escola. São estas inquietações que justificaram a elaboração desse trabalho com o intuito de expandir o olhar para experiências de educação bilíngue com qualidade. REFERENCIAS ANDRÉ, M.E.D.A. Etnografia da prática escolar. Campinas: Papiros, 1995. BAKHTIN, M. Estética da criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. _________. [Volochinov, V] Marxismo e Filosofia da linguagem. 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