ESCRAVIDÃO“ TEORIAS CIENTÍFICAS E BASES EPISTEMOLÓGICAS DAS
CIÊNCIAS HUMANAS.”
Centro Universitário Barão de Mauá
PIC 2013- Programa de Iniciação Científica
Autor: Fabiana C. NASCIMENTO
Orientador: Dr. Carlo G. MONTI
DESENVOLVIMENTO
O presente trabalho faz parte do PIC- Projeto de Iniciação Cientifica oferecido
pelo Centro Universitário Barão de Mauá, Ribeirão Preto, São Paulo, intitulado “Teorias
Científicas e bases epistemológicas das Ciências Humanas”. O projeto é elaborado por
professores da instituição e tem como objetivo analisar e refletir sobre a produção
cientifica gerado nos últimos 30 anos, colaborando para o aprofundamento e
compreensão dos conceitos principais das áreas associadas ao projeto, História,
Pedagogia, Psicologia, Letras e Serviço Social. Para o desenvolvimento da pesquisa
em História utilizamos como material a Revista Brasileira de História.
Para este trabalho utilizamos a “Revista Brasileira de História” em duas edições:
v. 08, n. 16, de 1988 e v. 26, n. 52, de 2006, publicadas em número especial, com uma
diferença de 18 anos entre elas, sobre a temática Escravidão. Com este recorte
buscamos identificar os elementos teóricos e metodológicos que nortearam a escrita
dos 16 artigos das duas edições, sendo que 13 foram selecionados para serem
trabalhados, por terem objetos de estudo atrelados à escravidão.
A metodologia aplicada para análise dos artigos partiu da formulação de fichas
para a coleta de dados e informações. Essas informações, que chamamos de
conceitos, são: Tema/Espaço/Tempo, Hipóteses, Metodologia, Teoria, Problemática e
Objetivo. A metodologia que aplicamos com o uso das fichas buscou organizar as
informações existentes nos artigos, como fontes, objeto de pesquisa, objetivo e teoria.
Nossa busca é analisar o conteúdo dos artigos, evidenciando os pontos
principais, como a problemática e os objetivos de cada texto. Apresentaremos os
artigos divididos em grupos correspondentes às edições da “Revista Brasileira de
História”. Nesses grupos classificaremos as principais informações computadas com o
preenchimento das fichas.
O desenvolvimento da pesquisa desde o levantamento das fichas até a
introdução de uma teoria foi apoiado por textos complementares que abrangem tanto a
parte de estruturação e raciocínio até a introdução teórica.
“A pesquisa em História”, de Maria do Pilar de Araújo Vieira e outros autores,
nos serviu como técnica de trabalho para análise das fontes e coleta das informações.
O texto trabalha com métodos que ajudam a garantir a objetividade dos documentos
utilizados na pesquisa. Entendemos então que, para a pesquisa em História ou nas
demais áreas das Ciências Humanas, deve haver um diálogo com o instrumento de
trabalho, racional e cuidadoso. A fonte deve ser um instrumento de recuperação do
evento onde, portanto, devem ser respeitados os acontecimentos, as condições
políticas, sociais e culturais do contexto a que pertencem. Maria do Pilar de Araújo
Vieira discute que, ao analisar uma fonte, não basta somente apropriá-la como uma
verdade, mas é preciso problematizá-la.
A complexidade do real abre para o pesquisador um
campo muito vasto de possibilidades de investigação.
Isso porque entendemos que os papéis sociais são
improvisados e ultrapassam uma suposta racionalidade
que muitas vezes o investigador atribui ao processo
histórico. O pesquisador, pensado assim a historia, se
depara com o desconhecido e inesperado; por isso
instrumental com que vai trabalhar ajuda-o muito mais
a perguntar do que responder. Queremos assim dizer
que o processo de investigação não cabe em
esquemas prévios, e as categorias que servem de
apoio ao trabalho serão construídas no caminho da
investigação. (VIEIRA, et al, 1995, p.8)
O livro “Pesquisa em História” também trabalha com a organização estrutural de
textos acadêmicos: definir o tema, tomando como ponto de partida as referências
bibliográficas, como forma de saber quais os questionamentos acadêmicos sobre o
assunto e o levantamento de outras fontes como evidências.
A partir deste ponto da pesquisa passamos a utilizar os conceitos centrais
existentes na obra de Peter Burke, “História e teoria social”, que trabalha conceitos
teóricos e metodológicos. Burke analisa a relação entre ciências sociais e Historiadores
e as divergências que ocorreram ao longo dos anos. Aborda o surgimento da História
Social, em que “Todas as esferas da atividade humana devem ser consideradas”. Os
conceitos centrais utilizados pelos historiadores como a Papeis e Performances, Sexo
e gênero, Comunidade e Identidade, Classe e Status, Família e Parentescos,
Mobilidade Social e distinção social, Consumo e troca, Capital cultural e social,
Padrinhos, clientelismo e corrupção, Poder e política cultural, Sociedade civil e as
esferas públicas, Centros e periferias, Hegemonia e Resistência, Protesto social e
movimentos sociais, Mentalidade, ideologias, discursos, Comunicação e recepção,
Pós- colonialismo e hibridismo cultural, Oralidade e textualidade e Mito e memória,
colocando em evidência os modelos e métodos e as mudanças sociais e teóricas.
Os artigos que selecionamos constituem-se de diferentes conceitos e métodos.
A obra de Peter Burke contribuirá para a classificação dos artigos/fontes analisados.
Para dinamizar essas classificações dividiremos os artigos em 2 grupos: “Grupo
1”1, que classificará os artigos da edição da “Revista Brasileira de História” de 1988;
“Grupo 2”2. que classificará a edição de 2006. Vamos refletir o conteúdo dos artigos,
buscando analisar seus objetivos e problemáticas.
ANALISE DOS RESULTADOS.
Com a organização dos artigos em grupos, 1 e 2 definidos pelo ano de
publicação, podemos observar mudanças na aplicação teórica que nortearam os
autores:
- Grupo 1, edição de 1988: Os conceitos centrais que tivemos presente nos artigos da
edição de 1988 foram Mobilidade Social, Papel Social, Trocas Culturais, Ideologia e
1
Edição: v. 08, n. 16, de 1988. Eric Foner- “O significado da Liberdade”; Kátia Mattoso- “O filho da escrava (entorno da lei do ventre livre)”;João José
Reis- “Magia Jeje na Bahia: A invasão do calundu do Pasto de Cachoeira, 1785.”; Sidney Chalhoub- “Medo branco de almas negras: escravos,
libertos e republicanos na cidade do Rio.”; Luiz Carlos Soares- “Os escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX”; Maria Helena P. T.
Machado- tema “Em torno da autonomia escrava: uma nova direção para a historia social da escravidão.”; Horacio Gutiérrez- “Crioulos e africanos no
Paraná, 1798- 1830.”; Robert W. Slenes- “Lares negros, olhares brancos: historias da família escrava no século XIX.”.
2
Edição: v. 26, n. 52, de 2006. Cacilda Machado- “As muitas faces do compadrio de escravos: o caso da freguesia de São José dos Pinhais (PR),
na passagem do século XVIII para o XIX.”; Cristiany Miranda Rocha “A morte do senhor e o destino das famílias escravas nas partilhas. Campinas
século XIX.”; Geraldo Antônio Soares “Esperanças e desventuras de escravos e libertos em Victoria e seus arredores ao final do século XIX.”; José
Flavio Motta “Escravos daqui, dali e de mais além: o tráfico interno de cativos em Constituição (Piracicaba), 1861- 1880.”; Maria Fátima Novaes Pires
“Cartas de alforria: “para não ter o desgosto de ficar sem cativo”
Mentalidade, Status e Apadrinhamento. Observamos uma tendência a discussões
econômicas e sociais, como a economia influenciava na vida e nas escolhas do cativo.
-Grupo 2, edição de 2006: Encontramos os conceitos como Mentalidade, Status,
Ideologia, Apadrinhamento e Trocas econômicas. Nos artigos analisados, observamos
uma variação dos temas e das propostas, não seguindo tendência.
Analisando os artigos individualmente classificamos e apontamos os principais
conceitos trabalhados. Nos artigos da edição v. 08, n. 16, de 1988 observamos uma
tendência a historia econômica-social. Os artigos fazem discussões sobre a influência
entre homem e trabalho. As observações sobre o escravo e sua vida estão mais
ligadas às trocas sociais geradas por essa relação de trabalho.
Na edição v. 26, n. 52, de 2006 também classificamos os principais conceitos
trabalhados, observamos que as propostas de tema são variadas, abordando desde
questões econômicas, social e cultural. Os artigos trabalham o escravo como individuo
histórico, participante e capas de transformar o meio em que vive.
A partir da análise dos artigos utilizados nesse projeto, observamos que muito
dos conceitos classificados são abordados nas duas edições, mas a forma como eles
são trabalhos é diferente. Na edição de 1988, a uma tendência as questões
socioeconômicas e a relação de trabalho, mostrando a importância da economia como,
a relação de trabalho e mão de obra. Já na edição de 2006 observamos que os
trabalhos partem para outras reflexões sobre o cativo como, a questão da família a
liberdade, desvinculando o determinismo econômico e trabalhando questões sociais e
de trocas culturais.
Observamos, portanto que a reflexão da historiografia sobre a escravidão no
espaço de 18 anos, tempo de publicação entre as duas revistas, deixa de seguir uma
tendência teórica voltada à economia dando abertura para novas tendências ligadas a
cultura que estudam o individuo como ser social. Podemos considerar que as
interpretações sobre o que foi a escravidão no Brasil o campo de discussões, tornaramse mais amplas com o desenvolvimento de novos campos teóricos.
Bibliografia
BURKE, P. História e Teoria social. São Paula: UNESP, 2002.
CHALHOUB, S. Medo branco de almas negras: escravos, libertos e republicanos na
cidade do Rio. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 08, n.16, pp. 83- 105,
1988.
FONER, E. O significado da liberdade. Revista Brasileira de História, São Paulo, v.
08, n. 16, pp.09- 36, 1988.
GUTIÉRREZ, H. Crioulos e africanos no Paraná, 1798-1830. Revista Brasileira de
História. São Paulo, v. 08, n. 16, pp. 161- 188, 1988.
MACHADO, C. As muitas faces do compadrio de escravos: o caso da Freguesia de
São José dos Pinhais (PR), na passagem do século XVIII para o XIX. Revista
Brasileira de História. São Paulo, v. 26, n. 52, pp. 49- 77, 2006.
MACHADO, L. C. Os escravos de ganho no Rio de Janeiro do século XIX. Revista
Brasileira de História. São Paulo, v. 08, n. 16, pp. 107- 142, 1988.
MACHADO, M. H. P. T. Em torno da autonomia escrava: uma nova direção para a
história social da escravidão. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 08, n. 16,
pp. 143- 160, 1988.
MATTOSO, K. de Q. O filho da escrava (em torno da lei do ventre livre). Revista
Brasileira de História. São Paulo, v. 08, n. 16, pp. 37- 55, 1988.
MOTTA, J. F. Escravos daqui, dali e de mais além: o tráfico interno de cativos em
Constituição (Piracicaba), 1861-1880. Revista Brasileira de História. São Paulo, v.
26, n. 52, pp. 15- 47, 2006.
PIRES, M. de F. N. Cartas de alforria: "para não ter o desgosto de ficar em cativeiro".
Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 26, n. 52, pp. 141- 174, 2006.
REIS, J. J. Magia jeje na Bahia: a invasão do calundu do Pasto de Cachoeira , 1785.
Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 08, n. 16, pp. 57- 81, 1988.
ROCHA, C. M. A morte do senhor e o destino das famílias escravas nas partilhas:
Campinas, século XIX. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 26, n. 52, pp.
175- 192, 2006.
SLENES, R. W. Lares negros, olhares brancos: histórias da família escrava no século
XIX. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 08, n. 16, pp. 189- 203, 1988.
SOARES, G. A. Esperanças e desventuras de escravos e libertos em Vitória e seus
arredores ao final do século XIX. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 26, n.
52, pp. 115- 140, 2006.
VIEIRA, M. do P. de A; PEIXOTO, M. de R. da C.; KHOURY, Y. M. A. A pesquisa em
História. ed. 3. São Paulo: Ática, 1995.
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