COLEÇÃO DESPERTARE
Estratégias de Aprendizado
Por Rubens Queiroz de Almeida
Quando eu estava aprendendo a digitar, aconteceu
uma coisa muito estranha. De uma hora para a ou­
tra eu comecei a mentalizar, sempre que via ou
pensava em algo, os movimentos dos meus dedos
para digitar os meus pensamentos. Isto durou por
volta de três meses. No começo até que era engra­
çado. Eu via um outdoor na rua e meus dedos já se
moviam para digitar o texto do cartaz. E assim se
dava com tudo. Depois de algum tempo ficou insu­
portável e eu não conseguia controlar consciente­
mente este processo. Pensei que ia ficar louco.
Surpreendentemente, da mesma forma que esta
mania apareceu, ela foi embora. O resultado foi
que me tornei um datilógrafo extremamente ágil,
capaz de digitar com uma velocidade fora do co­
mum.
algo que sempre detestei.
Pois então, esta maneira pouco usual de aprender
um idioma me ajudou enormemente. Quando tinha
a oportunidade de conversar ou escrever em inglês
dali para a frente, vinham à minha mente trechos
inteiros de conversas dos meus livros do Snoopy,
que eu então tinha apenas o trabalho de alterar
aqui e ali para inseri­los em uma conversa ou texto.
Meu discurso em inglês ficou muito elegante, pois
os diálogos da turma do Charlie Brown são muito
inteligentes e bem escritos.
Outra coisa interessante que aconteceu comigo,
desta vez no aprendizado da língua inglesa, foi mi­
nha paixão pelas histórias do Charlie Brown e sua
turma. Eu me lembro quando tinha seis anos de
idade (eu ainda não sabia ler) e estava em um su­
permercado. Eu vi algumas revistinhas do Snoopy e
fiquei maravilhado. Pedi ao meu pai para comprar
algumas para mim, mas como criança pede tudo,
meu pai seguiu em frente e não me deu as revistas.
Mas eu nunca me esqueci delas.
Mas por qual razão estou contando tudo isto? Cer­
tamente não é minha intenção abrir uma escola de
datilografia ou de idiomas, onde em um caso ensi­
no a datilografia mental e em outro obrigo os estu­
dantes a ler centenas de vezes o mesmo material.
De forma alguma. O meu objetivo é ilustrar duas
situações de aprendizado extremamente bem­
sucedidas, para mim apenas, é claro. Ninguém me
disse que eu deveria aprender estas duas habilida­
des deste jeito. Na verdade eu nem sei porque eu
fiz desta forma. No caso da datilografia é um com­
pleto mistério para mim a razão pela qual eu come­
cei a imaginar na minha máquina de escrever
mental tudo o que via ou lia. No caso do inglês o
que é bem concreto é minha enorme admiração
(obsessão?) pelas historinhas da turma do Charlie
Brown. Aprender o inglês foi apenas um efeito co­
lateral, uma consequência (ainda bem).
Muito mais tarde, quando eu já tinha dezoito anos,
eu encontrei umas cinco revistas do Snoopy na ro­
doviária de São Paulo. Estas cinco revistas foram o
meu tesouro. Todos os dias, antes de dormir, eu lia
todas as cinco. Em pouco tempo sabia todos os diá­
logos de cor, as figuras, as situações. Era um prazer
constante. As revistas eram todas em português.
De qualquer maneira, não podemos deixar de cha­
mar estas duas abordagens de estratégias de apren­
dizado. Talvez só funcionem para mim, mas não
deixam de ser estratégias. Eu não sabia, na época,
que o que eu fazia era uma forma de aprender. A
estratégia de digitação, na verdade, até me irritava
bastante.
Alguns anos mais para a frente, já no meu primeiro
emprego como engenheiro, eu encontrei em uma
livraria do aeroporto do Rio de Janeiro, diversas re­
vistas da turma do Charlie Brown, em inglês. Mal
pude acreditar. Comprei quantas revistas pude e
comecei com a minha rotina, de ler e reler as histó­
rias. A princípio, não entendia muito dos diálogos,
mas com a ajuda das gravuras e da constante relei­
tura, fui construindo os significados e memorizan­
do todas as conversas. Nunca usei o dicionário para
descobrir o significado de alguma palavra. Ler com
um dicionário do lado é a minha idéia de tortura
mental. A memorização se deu pela constante relei­
tura, não por um interesse meu em decorar tudo,
Eu quero chamar a atenção para um fato bastante
comum. Não valorizamos, na maior parte dos ca­
sos, as nossas próprias estratégias de aprendizado.
É certo que existem muitas metodologias interes­
santes e válidas que, como tudo na vida, funcionam
para alguns e não funcionam para outros. Com
quem a metodologia funciona está ótimo, para
quem dá errado o problema não é no método em
particular e sim com o aluno, que é uma aberração
ou um desvio que merece “cuidados” especiais. O
pior é que acreditamos nisto. Estratégias individu­
ais, como os dois exemplos que citei, são frequente­
mente condenadas e rotuladas como danosas.
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Um hábito que adquiri é, sempre que posso, per­
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guntar quais estratégias de estudo as pessoas que
encontro adotam. As respostas são as mais variadas
e refletem, antes de tudo, as particularidades de
cada um.
A professora disse:
Não acho que valha a pena descrever com detalhes
estas estratégias, pois o meu objetivo com este arti­
go não é iniciar mais uma seita de aprendizado. O
que desejo é apenas alertar para o fato de que
qualquer estratégia de aprendizado só funcionará
se estiver de acordo com a nossa natureza e nos
der prazer. Existem muitos livros que nos ensinam
diversas estratégias interessantes. Mas lembre­se
bem, uma estratégia só é boa se serve para você. Se
não servir, procure outra ou então valorize as que
você mesmo desenvolveu.
— Assim, disse a professora, agora vocês podem
começar.
Sinta­se à vontade para escolher, dentre as várias
metodologias de ensino existentes hoje em dia,
aquela que melhor lhe convier. Mas não se esqueça
nunca de olhar para dentro de você mesmo e valo­
rizar aquilo que o seu próprio subconsciente lhe
diz. Se você é um educador, respeite a individuali­
dade de seus alunos, pois certamente, dentro de
cada um deles, existem tesouros inestimáveis.
— Que bom! Pensou o menininho.
Para encerrar, gostaria de recomendar a leitura da
belíssima história chamada “Era uma vez”, de auto­
ria de Helen Buckley. De uma certa forma, esta his­
tória fala quase que a mesma coisa que este artigo.
Boa leitura!
Era uma Vez
Helen Buckley
Era uma vez um menininho bastante pequeno que
contrastava com a escola bastante grande. Uma
manhã, a professora disse:
— Hoje nós faremos um desenho.
Que bom!. pensou o menininho. Ele gostava de de­
senhar leões, tigres, galinhas, vacas, trens e barcos
Pegou a sua caixa de lápis­de­cor e começou a de­
senhar. A professora então disse:
— Esperem, ainda não é hora de começar!
Ela esperou até que todos estivessem prontos.
— Agora, disse a professora, nós desenharemos flo­
res.
E o menininho começou a desenhar bonitas flores
com seus lápis rosa, laranja e azul.
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— Esperem! Vou mostrar como fazer.
E a flor era vermelha com caule verde.
O menininho olhou para a flor da professora, então
olhou para a sua flor. Gostou mais da sua flor, mas
não podia dizer isso virou o papel e desenhou uma
flor igual à da professora. Era vermelha com caule
verde.
Num outro dia, quando o menininho estava em
aula ao ar livre, a professora disse:
— Hoje nós faremos alguma coisa com o barro.
Ele gostava de trabalhar com barro. Podia fazer
com ele todos os tipos de coisas: elefantes, camun­
dongos, carros e caminhões. Começou a juntar e
amassar a sua bola de barro.
Então, a professora disse:
— Esperem! Não é hora de começar!
Ela esperou até que todos estivessem prontos.
— Agora, disse a professora, nós faremos um prato.
Que bom! – pensou o menininho.
Ele gostava de fazer pratos de todas as formas e ta­
manhos. A professora disse:
— Esperem! Vou mostrar como se faz. Assim, agora
vocês podem começar.
E o prato era um prato fundo.
O menininho olhou para o prato da professora,
olhou para o próprio prato e gostou mais do seu,
mas ele não podia dizer isso. Amassou seu barro
numa grande bola novamente e fez um prato fun­
do, igual ao da professora.
E muito cedo o menininho aprendeu a esperar e a
olhar e a fazer as coisas exatamente como a profes­
sora. E muito cedo ele não fazia mais coisas por si
próprio.
Então aconteceu que o menininho teve que mudar
de escola. Essa escola era ainda maior que a pri­
meira. Um dia a professora disse:
— Hoje nós vamos fazer um desenho.
Que bom! pensou o menininho e esperou que a
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professora dissesse o que fazer.
Ela não disse.
Apenas andava pela sala.
Então veio até o menininho e disse:
— Você não quer desenhar?
— Sim, e o que é que nós vamos fazer?
— Eu não sei, até que você o faça.
— Como eu posso fazê­lo?
— Da maneira que você gostar.
— E de que cor?
— Se todo mundo fizer o mesmo desenho e usar as
mesmas cores, como eu posso saber o desenho de
cada um?
— Eu não sei...
E então o menininho começou a desenhar uma flor
vermelha com o caule verde.
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