OS GOSTOS E AS CORES
Helen Buckley
“Certa vez, um menino de cinco anos, pequenino no tamanho, em relação aos seus colegas de sala,
mas com uma grande vontade de aprender, ouviu sua professora iniciar a aula, dizendo: - Hoje nós
vamos fazer um desenho.
O menininho pensou: - Oba! Vou desenhar! Ele gostava muito de desenhar bichos como as vacas, as
galinhas, os gatos, e também, desenhar navios, aviões e carros. Gostava tanto de desenhar que já
estava com a sua caixa de lápis de cor em cima de sua mesinha. Escolheu um lápis de cor e
começou a desenhar. Mas, foi interrompido pela professora que disse: - Atenção, alunos! Ninguém
começa ainda a desenhar! Ela esperou que todos estivessem prontos para desenhar e disse: - Agora
nós iremos desenhar flores.
O menininho desenhou rapidamente três bonitas flores e começou a pintá-las de azul, amarelo e
laranja. Mas teve que parar porque a professora disse: - Vou mostrar como vocês tem que desenhar
e pintar. E desenhou uma flor na cor vermelha com o caule e as folhas verdes. – Agora, disse a
professora, vocês podem fazer o desenho da flor e pintá-la. O menininho olhou para a flor vermelha
da professora e depois para as suas três flores. Gostou mais dos seus desenhos. Mas ficou com
medo de perguntar à professora, pegou uma outra folha de papel e desenhou uma flor vermelha com
caule e folhas verdes, igual da professora.
Outro dia era aula de trabalhos com barro. A professora disse: - Tenho certeza de que vocês hoje vão
gostar da aula. Nós vamos iniciar fazendo alguma coisa com o barro que está nas suas carteiras. O
menininho ficou muito contente porque ele gostava muito de fazer coisas com o barro. Ele fazia
carrinhos, trenzinhos, moinhos, cobrinhas e muitas outras coisas. Ele pegou um pouco do barro e
começou a fazer bolinhas de todos tamanhos. Mas, a professora o interrompeu, dizendo: - Esperem!
Ainda não é hora de começar a mexer no barro! Ela esperou que todos estivessem prontos e disse: Agora nós iremos amassar o barro até que ele fique parecido com um prato!
O menininho ficou contente porque ele gostava muito de fazer pratos de todas as formas e tamanhos.
Ele já tinha começado a fazer os seus pratos quando a professora disse: - Esperem! Não comecem
ainda! Vou mostrar primeiro como se faz! E mostrou como se fazia um prato fundo, e disse: - Agora
vocês podem fazer!
O menininho olhou para o prato da professora e depois para o seu prato. Gostou muito mais do seu
prato, mas ficou com receio de dizer isso à professora. Por isso, desmanchou o seu prato, amassou o
barro e fez um prato fundo. Igual ao da professora. O tempo foi passando e o menininho aprendeu a
não fazer nada enquanto a professora não mandasse. Ficava sempre esperando. Depois que a
professora mandasse, ele olhava o que a professora tinha feito e fazia tudo igual ao dela.
O tempo passou e a família do menininho mudou de bairro e ele, de escola. Ele gostou muito da nova
escola, tinha muitas árvores e muitos novos amiguinhos. Um dia, a nova professora disse: - Hoje,
cada um de vocês, vai fazer um desenho. O menininho ficou contente porque gostava muito de
desenho. Ficou esperando a professora dizer o que eles iam desenhar e de cor iriam pintar. Mas, a
professora nada disse. Ela ficava andando pela sala, parava em cada mesinha, olhava o desenho de
cada um, e sorrindo, elogiava. A nova professora chegou até o menininho e disse: - Você não vai
desenhar? – Vou, mas o que vamos desenhar? – perguntou o menininho. – Eu não sei até que você
faça o seu desenho. – Como eu posso fazer o desenho? – perguntou o menininho. Do jeito que você
quiser e gostar – disse, sorrindo, a nova professora. – E de que cor pode ser o desenho? – perguntou
o menininho. A professora respondeu: - Se você fizer um desenho igual ao de outro coleguinha e da
mesma cor, como irei saber qual é o seu desenho? – Eu não sei... – balbuciou o menininho, todo
encolhido na sua cadeirinha.
Depois de um certo tempo olhando para a folha em branco, o menininho finalmente fez o seu
desenho: uma flor vermelha com caule e folhas verdes...”
CRIANÇAS: DA ANOMIA À AUTONOMIA
Antonio de Andrade
Toda sociedade humana, em qualquer país, deseja continuar a existir como organismo social. Para
isso, ela necessita que os indivíduos que a compõem, sejam cidadãos responsáveis e equilibrados o
suficiente para que ocorra uma convivência harmônica entre todos, permitindo que cada pessoa e
grupos atinjam seus objetivos. A sociedade utiliza a educação para não só transmitir conhecimentos,
mas em especial, para continuar a existir, capacitando as novas gerações, através da humanização e
socialização, para viverem em sociedade, formando atitudes e comportamentos saudáveis, com
atitude crítica e responsável no agir individual e grupal.
Os objetivos que a sociedade deseja atingir, com a humanização e a socialização das pessoas, são
atingidos quando, dentre outros modos maduros de agir, as pessoas agem com “autonomia”. Sabe-se
que uma pessoa está agindo com “autonomia” quando ela já tem consciência das regras e normas da
sociedade onde vive, seguindo-as, e suas ações são feitas por iniciativa própria sem a influência e a
necessidade de alguém ficar mandando fazer, tendo a liberdade de escolha entre as ações, seja para
fazer alguma coisa, para pensar ou para utilizar seus juízos morais. A sociedade considera que uma
pessoa está nessa etapa almejada, quando ela desenvolveu o autocontrole, a autocrítica (não
absorve passivamente as informações, mas as transforma), tem consciência do certo e do errado,
tomando as decisões sobre quais comportamentos deve ter. Quando uma pessoa age com
"autonomia", ela está demonstrando que internalizou os valores morais de seu meio ambiente, é fiel a
eles, tem atitudes baseadas neles e não por ter receio de sanções externas. E quando age com
"autonomia" está utilizando a sua razão, conforme dizia o filósofo alemão prussiano Immanuel Kant
ou está utilizando seus próprios juízos morais e de valor, construídos através do relacionamento com
as outras pessoas, conforme era o pensar do pedagogo suíço Jean Piaget.
A sociedade pretende, com a educação das novas gerações, que as crianças e os jovens cheguem a
essa etapa evolutiva da "autonomia”, saindo das outras duas etapas que a precedem. A etapa da
"anomia" é, geralmente, a etapa das crianças pequenas: com seu egocentrismo natural da infância,
elas querem fazer somente o que desejam, sem considerar os outros e sem seguir regras e normas,
pois ainda não aprenderam e não assimilaram essas regras e normas do meio social. As crianças vão
saindo, gradativamente, dessa etapa, mudando para uma nova etapa evolutiva, a da "heteronomia",
através do convívio com as outras pessoas e estimuladas pela educação e influências culturais que
recebem. Nessa nova etapa, as crianças já aprenderam e conhecem as regras e normas que devem
seguir, mas ainda estão dependentes dos adultos, e aguardam que alguém decida por elas, ainda
ficam esperando que os outros digam o que elas devem fazer. Fazem só o que mandam fazer ou
fazem se sofrerem pressão social do grupo onde vivem. Neste sentido, muitas pessoas agem como
se estivessem nessa fase da "heteronomia", sem utilizarem as próprias idéias, mas preferindo utilizar
passivamente as informações que recebem dos outros.
O processo da educação, estruturado pela sociedade para as novas gerações, faz com que as
crianças e os jovens sejam estimulados a atingirem a etapa almejada, e possível, para todo ser
humano: a da "autonomia. Apesar de ser esse o objetivo de toda educação, na sociedade atual são
encontradas, infelizmente, muitas pessoas que parecem ter parado na etapa da "anomia" pois não
respeitam as regras, normas e as leis da sociedade, não respeitam as outras pessoas, não possuem
valores morais e éticos, agem sem autocontrole, apresentando comportamentos violentos,
agressivos,desonestos, envolvendo-se em crimes, corrupção e uma série de outros comportamentos
prejudiciais à sociedade onde vivem. E outros parecem estar na fase da "heteronomia", só fazendo o
que mandam fazer, dependentes dos outros. O Brasil, como país, parece estar nesta fase,
dependente de organismos internacionais...
Esta história de Helen Buckley, mostra bem como uma criança pode ter o seu desenvolvimento
afetado, não chegando à fase ideal da "autonomia", mas permanecendo na etapa da "heteronomia"
(dependente das decisões dos outros, sem iniciativa, necessitando receber ordens para fazer
qualquer coisa).
Este texto está disponível em: <http://www.editora-opcao.com.br/ada44.htm>. Acesso em: 21 fev.
2012.
QUESTÕES PARA REFLEXÃO
1. Você incentiva seus subordinados a terem autonomia? Até que ponto?
2. O grau de autonomia de seus subordinados depende apenas de normas e regulamentos?
3. Qual o grau de autonomia de seus subordinados para sugerir alterações na rotina
profissional?
4. Até que ponto você, como chefe ou comandante, acataria sugestões de seus subordinados?
5. Você acredita que um profissional sem iniciativa no trabalho deixa de ser pró-ativo por
preguiça ou por falhas na formação da personalidade, conforme ilustrado neste texto?
Sugestão do texto: Profa. Cristina. Adaptações: Prof. Carlos José
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