SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO
Circular 029/P/2015
Aos
Conselhos Metropolitanos e Diretoria
Rio de Janeiro, 8 de Setembro de 2015
“Porém o Senhor disse a Samuel: Não te impressiones com a sua aparência, nem com a sua grande
estatura; não é este que eu quero. Meu olhar não é o olhar dos homens: o homem olha a
aparência, Deus olha o coração”(ISamuel 16,7).
Estimados Confrades, Consocias e Assessores(as) Espirituais na SSVP,
“Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!”
Que o ardor do Cristo Missionário continue presente em nossas vidas!
Conta-se que, certa vez, Dom Helder Câmara celebrava a missa em uma pequena comunidade. No
momento da comunhão quando os fiéis recebiam a Hóstia, na fila, colocou-se uma pessoa alcoolizada. Ela
estava totalmente bêbada e quando se aproximou para receber a Eucaristia, Dom Helder, sem titubear,
deu-lhe a comunhão naturalmente como tinha feito com as demais pessoas que estavam na fila. É claro
que muitos ficaram indignados em presenciar tal comportamento.Uma das pessoas presentes, não se
conteve e veio falar com Dom Helder depois da Missa. “Dom Helder,” – perguntou ela – “O Senhor não viu
que aquela pessoa que foi receber a comunhão estava bêbada?”. E Dom Helder, olhando para ela, disse:
“Sim, minha filha, eu vi que aquele homem estava bêbado. Eu só não vi as causas por que ele tinha bebido
e estava bêbado”. (cf. Um Olhar de Caridade, Mizaél Donizetti Poggioli, p. 120-121).
Que mudança de olhar deste Bispo dos Pobres! Que olhar diferente! Um olhar profundo! Um olhar
cheio de misericórdia! Um olhar cheio de compaixão! “Um Olhar de Caridade”: Eis aqui o nosso ano
temático para 2016!
Portanto, ao longo deste ano, somos convidados a rezar e aprofundar o olhar de Deus, o olhar da
Igreja, o olhar de Vicente de Paulo, o olhar de Frederico Ozanam e o nosso olhar.
Diferente de simplesmente ver, o olhar se preocupa em perceber e sentir o que acontece à nossa
volta, conosco e com o mundo. O olhar é sensível. E o nosso olhar deve ser o olhar de Deus que nos motiva
a sairmos de nós mesmos, de doar-nos sem reservas, sobretudo aos mais Pobres. Deus olhou para o povo,
ouviu os seus clamores e tomou conhecimento. Tomando conhecimento, desceu para libertá-los de seus
opressores (cf. Ex 3,7).
Jesus, o Filho de Deus, nunca deixou de ter um olhar cheio de misericórdia pelos pequenos e
pobres, pelos doentes e pecadores, colocando-se ao lado dos perseguidos e marginalizados.
Neste esforço de ser sacramento de Cristo entre nós, a Igreja também tem nos convidado a um
olhar cheio de compaixão e misericórdia, caridade e justiça, sobretudo com os excluídos e
marginalizados. O Papa Francisco tem nos convidado insistentemente para irmos às diversas periferias da
vida, onde não falta sofrimento, onde há sangue derramado, onde há cegueira que quer ver, onde há
prisioneiros de tantos patrões maus. Nestas realidades é fundamental a doação de nós mesmos,
oferecendo o Evangelho aos Pobres,numa profunda experiência de missão e encontro.
Prêmio Direitos Humanos 2004
Sede Nacional- Rua do Riachuelo, 75, Centro
Rio de Janeiro- RJ- CEP 20230 010
21- 2242 3834- Fax-21-2232 3914e-mail- [email protected]
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SOCIEDADE DE SÃO VICENTE DE PAULO
São Vicente de Paulo teve um olhar de compaixão e misericórdia, capaz de indignar-se frente a
tudo aquilo que era desumano: “Como ser um cristão e ver seu irmão sofrendo sem chorar com ele? Sem
ficar doente com ele? É não ter caridade, é ser cristão de fachada; é não ser humano, é ser pior que os
animais”. O olhar de Vicente percebeu o Pobre na sua dimensão pessoal e social. Olhando ao seu redor,
ele reconheceu a dor e o sofrimento dos Pobres e colocou todos os seus dons a serviço do povo sofredor,
pois, para ele, o Pobre é onde Deus quer ser encontrado. Ele tinha a convicção de que o Pobre era o
próprio Jesus Cristo.
O Bem-aventurado Antonio Frederico Ozanam, seguindo os mesmos passos de São Vicente,não
olhou somente as consequências da pobreza, mas encontrou meios para erradicar suas causas. Enfrentou
todo o tipo de injustiça que gerava a pobreza e amou muito os Pobres, sempre buscando restituir-lhes a
dignidade. O olhar de Ozanam foi profundamente sensível ao sofrimento do outro: “A ciência do bem
social e das reformas não se aprende tanto sobre os livros ou diante das tribunas, quanto entrando nas
casas dos pobres, sentando-se à cabeceira dos enfermos, sofrendo do mesmo frio que eles sofrem,
sondando-lhes os segredos do coração desolado e santificando-lhes a alma!”
Frederico não foi somente um vicentino piedoso; tornou-se um confrade de oração e ação
comprometido com a justiça e o serviço aos Pobres. Para Frederico Ozanam, somente conhecendo e
olhando a realidade dos Pobres, é que se podiam concretizar ações efetivas. Foi com este olhar de
Caridade que Frederico Ozanam e seus amigos fundaram a Sociedade de São Vicente de Paulo!
E o nosso olhar? Estamos trabalhando com os nossos “mestres e senhores” percebendo suas
necessidades, suas pobrezas e atendendo-lhes em todos os aspectos de sua vida? Por comodidade, muitas
vezes vemos e não queremos enxergar. Não queremos olhar com profundidade a realidade da pobreza de
tantos irmãos e irmãs. O ano temático convida-nos a não mais agir como aqueles que não querem ver.
Nossos olhos precisam estar atentos e sensíveis para enxergar as necessidades dos Pobres. É nos Pobres
que Jesus quer ser visto, encontrado e amado!
Peçamos, como numa das orações eucarísticas durante as Missas, para que o Senhor continue
concedendo sempre “Um Olhar de Caridade” para todos os Confrades e Consocias. Nesta intenção,
rezemos: “Dai-nos olhos para ver as necessidades e os sofrimentos dos nossos irmãos e irmãs; inspirainos palavras e ações para confortar os desanimados e oprimidos; fazei que, a exemplo de Cristo, e
seguindo o seu mandamento, nos empenhemos lealmente no serviço a eles. Amém!”
Fraternalmente,
Pe. Alexandre Nahass Franco, CM
Assessor Espiritual do CNB
Emília Fernandes Figueiró Jerônimo
Presidente Nacional do CNB
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