SOCIEDADE DE EDUCAÇÃO DO VALE DO IPOJUCA – SESVALI FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA - FAVIP COORDENAÇÃO DE PSICOLOGIA POLLYANA FÁTIMA DOS SANTOS LOPES OLIVEIRA ROBERTA FREITAS DE OLIVEIRA CÂNCER DE MAMA: UM ESTUDO SOBRE OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGEACOMPANHANTE DA MULHER MASTECTOMIZADA NO CENTRO ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC) Caruaru 2010 POLLYANA FÁTIMA DOS SANTOS LOPES OLIVEIRA ROBERTA FREITAS DE OLIVEIRA CÂNCER DE MAMA: UM ESTUDO SOBRE OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGEACOMPANHANTE DA MULHER MASTECTOMIZADA NO CENTRO ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC) Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade do Vale do Ipojuca-FAVIP, para obtenção de título de formação em Psicologia. Orientadora: Ma. Fabiana Josefa do Nascimento Sousa. Caruaru 2010 Catalogação na fonte Biblioteca da Faculdade do Vale do Ipojuca, Caruaru/PE M929p Oliveira, Pollyana Fátima dos Santos Lopes. Câncer de mama: um estudo sobre os sentimentos do cônjugeacompanhante da mulher mastectomizada no Centro Oncológico de Caruaru–PE (CEOC) / Pollyana Fátima dos Santos Lopes Oliveira; Roberta Freitas de Oliveira. -- Caruaru : FAVIP, 2010. 64 f. Orientador(a) : Fabiana Josefa do Nascimento Sousa. Trabalho de Conclusão de Curso (Psicologia) -- Faculdade do Vale do Ipojuca. Inclui anexo e apêndice. 1. Mastectomia. 2. Perda do seio. 3. Cônjuge-acompanhante. 4 Relacionamento sexual. I. Oliveira, Roberta Freitas de. II. Título. CDU 159.9[11.1] Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário: Jadinilson Afonso CRB-4/1367 POLLYANA FÁTIMA DOS SANTOS LOPES OLIVEIRA ROBERTA FREITAS DE OLIVEIRA CÂNCER DE MAMA: UM ESTUDO SOBRE OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGEACOMPANHANTE DA MULHER MASTECTOMIZADA NO CENTRO ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC) Aprovada em: ____/____/______ BANCA EXAMINADORA Profª Ma. Fabiana Josefa do Nascimento Sousa (ORIENTADORA) Valeriana Porto Pastor (AVALIADORA) Rosália Andrade Cavalcanti (AVALIADORA) CARUARU/PE, 2010 A o Criador de todas as coisas e àqueles que estiveram comigo nessa longa jornada e que mesmo à distância me deram forças para que eu chegasse até aqui. Roberta. A Ma. Fabiana Nascimento, minha admiração e respeito pelo seu saber que humildemente foi compartilhado, pelo seu entusiasmo contagiante e pelo estímulo que me passava. Meu sincero: obrigada! Pollyana. AGRADECIMENTOS Ao senhor Deus, por me conceder inteligência, discernimento e a graça de ver o amanhecer de todos os dias. A Bruno Lopes, meu companheiro, que me incentivou e me deu forças de continuar quando tudo parecia ser difícil e impossível, me dando forças em todos os momentos, compartilhando os cuidados da casa, trabalho e filha. A Sofia, minha filha, que chegou nesse mundo na temporada de maior correria, a conclusão do meu curso, mas que soube entender as minhas ausências e soube também me proporcionar momentos felizes com seus lindos sorrisos e choros. A minha família, que me estimulava a continuar com muito entusiasmo e em especial a minha avó e a minha irmã, pois, só com a ajuda dessas duas mulheres é que pude ingressar no curso e chegar aonde cheguei. As minhas amigas de sala, que sempre estiveram ao meu lado vivenciando todos os momentos, não só do curso, mas da minha vida. A Roberta Freitas, que como uma incomparável amiga, madrinha e irmã foi paciente comigo e que com seus carões e carinhos me fez crescer como ser humano. Ao meu pai, que apesar de não ter participado de minhas conquistas, faz parte da minha vida e ocupa um lugar especial em meu coração. Pollyana. AGRADECIMENTOS Ao Criador, que me deu a vida e a força para lutar e encarar as dificuldades impostas nessa jornada. Aos meus pais, que me ensinaram o caminho certo a ser trilhado. Ao meu companheiro, amigo e confidente Hallyson, que me incentivou desde o começo e continua me apoiando diante dos obstáculos. A minha professora, orientadora e exemplo de profissional e ser humano Ma. Fabiana Nascimento, que com sua dedicação, carinho e disponibilidade tornou possível a conclusão desse trabalho e que ao longo do curso muito me ensinou. A minha companheira de monografia e de curso, e além de tudo amiga Pollyana, que esteve e estará sempre comigo nesse longo percurso que começou a ser percorrido. A todos que de alguma forma contribuíram para a realização desse trabalho e para minha formação acadêmica. Roberta. Não importa onde você parou& em que momento da vida você cansou& o que importa é que sempre é possível e necessário “Recomeçar”. (Carlos Drummond de Andrade) RESUMO O câncer é uma doença que causa medo e dentre vários tipos um dos mais temidos é o de mama, devido às alterações físicas (tratamentos agressivos como a mastectomia, por exemplo) e psíquicas (alterações na auto-imagem devido à mastectomia, depressão, ansiedade) que ele provoca. A família da paciente mastectomizada é considerada como suporte fundamental, especificamente o marido, sendo ele quem acompanha a esposa no dia-a-dia e é fonte de apoio emocional. Diante da mastectomia da esposa, o cônjuge se depara com o corpo mutilado da mesma. É nesse sentido que faz-se necessário compreender o seio como o representante simbólico dentro da abordagem psicanalítica, pois é para este órgão que a pulsão libidinal do bebê converge. O estudo de campo que compõe este trabalho teve como objetivo identificar quais os sentimentos do cônjugeacompanhante diante da mastectomia da esposa, utilizando como referencial teórico a definição de câncer de mama e a perspectiva psicanalítica sobre a importância do seio simbólico para o homem. Como metodologia, foi utilizado o estudo de campo qualitativo-descritivo, com coleta de dados realizada por meio de entrevistas semiestruturadas com dois casais cujo cônjuge acompanhou a esposa durante o tratamento do câncer de mama e na mastectomia. Os dados obtidos foram agrupados para análise e interpretação do discurso a partir de quatro categorias em relação à esposa mastectomizada: percepção da perda do seio pela mulher, mastectomia e auto-imagem, percepção do relacionamento sexual, cuidados com o pós-operatório; e quatro categorias para o cônjuge-acompanhante: apoio no diagnóstico e participação do cônjuge no tratamento da esposa, sentimentos em relação ao diagnóstico e mastectomia, o medo da perda do seio e mudanças na relação sexual após a mastectomia. De acordo com a análise dos dados obtidos pode-se identificar o componente relativo à sexualidade fortemente atrelado à mastectomia, bem como as diferentes percepções do significante seio para o marido e para a esposa mastectomizada, além da importância da presença participante do marido na enfermidade e tratamento da esposa. Palavras-chave: Mastectomia. Relacionamento sexual. Perda do seio. Cônjuge-acompanhante. ABSTRACT Cancer is a disease that causes fear among many types and one of the most feared is the breast, due to physical changes (aggressive treatments such as mastectomy, for example) and properties (changes in self-image due to mastectomy, depression, anxiety ). The family of the patient mastectomy is considered essential support, especially her husband it is he who accompanies his wife on the day to day and is a source of emotional support. Given the wife's mastectomy, the spouse is faced with the mutilated body of the same. That is why it is necessary to understand the breast as the symbolic representative within the psychoanalytic approach as it is to this body that the baby's libidinal drive converges. The field study comprising this study aimed to identify the feelings of spouse caregivers in the face of his wife's mastectomy, using as a theoretical definition of breast cancer and psychoanalytic perspective on the importance of symbolic breast to man. The methodology we used the field study qualitative and descriptive, with data collection conducted through semi-structured interviews with two couples whose spouse accompanied his wife during the treatment of breast cancer and mastectomy. Data were grouped for analysis and interpretation of speech based on four categories in relation to his wife mastectomies: perception of loss of the breast by a woman, mastectomy and self-image, perceptions of sexual relationships, care of the postoperative period, and four categories for spouse caregivers: support in diagnosis and treatment of spouse participation of the wife, feelings about the diagnosis and mastectomy, fear of loss of the breast and changes in sexual intercourse after mastectomy. According to the data analysis can identify the component on sexuality strongly tied to mastectomy, as well as the different perceptions within the signifier for the husband and wife for the mastectomy and the importance of the presence participant in her husband's illness and treatment of his wife. Keywords: Mastectomy. Loss of the breast. Spouse caregivers. Sexual relationship. SUMÁRIO Introdução................................................................................................. 1 1. Capítulo I: Aspectos Gerais do Câncer..................................................... 4 1.1 Aspectos Históricos................................................................................... 4 1.2 Definição................................................................................................... 4 1.3 Facilitando o diagnóstico........................................................................... 6 1.4 Antiga crença: câncer pega?.................................................................... 9 1.5 Outros fatores que predispõem ao câncer................................................ 9 1.6 Câncer, e agora?...................................................................................... 10 1.7 Formas de tratamento do câncer.............................................................. 11 1.8 Psico-oncologia: uma nova especialidade da oncologia.......................... 14 1.9 Estágios psíquicos da enfermidade.......................................................... 16 1.9.1 Negação................................................................................................... 16 1.9.2 Revolta...................................................................................................... 16 1.9.3 Barganha.................................................................................................. 16 1.9.4 Depressão................................................................................................. 17 1.9.5 Aceitação.................................................................................................. 17 2. Capítulo II: câncer de mama e possibilidades de tratamento................... 18 2.1 Tratamentos para o câncer de mama....................................................... 22 2.1.1 Quimioterapia............................................................................................ 23 2.1.2 Radioterapia.............................................................................................. 23 2.1.3 Hormoneterapia........................................................................................ 24 2.1.4 Mastectomia.............................................................................................. 24 2.2 Auto-imagem e mastectomia.................................................................... 26 3 Capítulo III: família, objeto e ansiedade.................................................... 31 3.1 Família e adoecimento.............................................................................. 32 3.2 Conjugalidade e câncer de mama............................................................ 33 3.3 Mastectomia e sexualidade....................................................................... 36 4 Capítulo IV: o simbolismo do seio............................................................. 37 4.1 O seio simbólico........................................................................................ 37 4.2 O simbolismo do seio na teoria de Melanie e Klein e Winnicott............... 37 4.3 O seio e a sexualidade na teoria de Freud .............................................. 39 4.4 Estado de desamparo diante da perda..................................................... 41 5 Capítulo V: análise e discussão dos resultados........................................ 43 5.1 Caracterização dos casais entrevistados.................................................. 43 5.2 Estudo qualitativo-descritivo..................................................................... 44 5.3 Caracterização do local de pesquisa........................................................ 45 5.4 Aspectos éticos do estudo de campo....................................................... 45 5.5 Coleta de dados........................................................................................ 46 5.6 Instrumento de coleta de dados................................................................ 46 5.7 Análise e interpretação dos dados............................................................ 46 5.7.1 A percepção da perda do seio pela mulher.............................................. 47 5.7.2 Mastectomia e auto-imagem..................................................................... 48 5.7.3 Percepção do relacionamento sexual....................................................... 49 5.7.4 Cuidados com o pós-operatório................................................................ 51 5.7.5 52 5.7.6 O apoio no diagnóstico e participação do cônjuge no tratamento da esposa....................................................................................................... Sentimentos em relação ao diagnóstico e mastectomia........................... 5.7.7 O medo da perda do seio.......................................................................... 54 5.7.8 Mudanças após a mastectomia: o relacionamento sexual....................... 56 6. Considerações finais................................................................................ 58 Referências............................................................................................... 61 Anexo........................................................................................................ Apêndices................................................................................................. 53 1 INTRODUÇÃO Dentre as diversas enfermidades consideradas graves, o câncer é uma das que mais tem levado a pesquisas e ao mesmo tempo gerado temor na sociedade em geral. É difícil de entender como o câncer se forma e por quais motivos, pois é uma doença silenciosa, capaz de causar temor em qualquer pessoa pelo simples fato de pensar que esta doença existe. O câncer de mama é um subtipo de câncer que tem despertado o interesse para estudos. Dessa forma, houve a possibilidade de pensar na doença com um novo olhar, com outros parâmetros e perspectivas. O presente trabalho tem como ponto chave da pesquisa os companheiros de mulheres que foram mastectomizadas no CEOC em Caruaru, a fim de entender como acontecia a participação dos mesmos desde o diagnóstico, até o tratamento e cura. O trabalho foi desenvolvido com ênfase nos companheiros dessas mulheres mastectomizadas, pois, segundo Barbosa, Pinheiro e Ximenes (2004) o suporte familiar na figura de esposo é de suma importância no enfrentamento dessa enfermidade. Por isso, com base no que foi afirmado, sabendo que o esposo assume um papel importante na vida da mulher, pois, foi com ele que esta constituiu uma família, é que se percebeu a importância desse estudo, para que pudesse ser esclarecido e identificado alguns aspectos: como se processa uma relação marital? Quais os desejos e anseios que um parceiro espera do outro? Como se relacionam sexualmente, antes e após o processo de mastectomização? Como o cônjuge percebe sua mulher após a cirurgia? Quais os sentimentos que este sentiu com a notícia de câncer? E que importância ele dá ao seio?Diante desses questionamentos o presente trabalho foi dividido em cinco capítulos para estudar as questões citadas. No primeiro capítulo foram apresentados os aspectos gerais do câncer, abordando aspectos históricos, definição de câncer e possibilidades de tratamento. O segundo capítulo definiu o câncer de mama, enfatizando que este é um tipo de câncer que também carrega em seu diagnóstico o aspecto de temor pela mutilação ou morte. Por ser também considerada por diversos pesquisadores como doença multifatorial, aspectos psicológicos não deixam de estar implicados nessa enfermidade. Gimenes (1994 apud CARVALHO, M.; CARVALHO, V.; GIMENES, 2000) esclarece que o surgimento da psico-oncologia, se deu a partir da atribuição de importância de fatores psicossociais e qualidade de vida no câncer, e que o 2 surgimento desse conjunto de conhecimentos de forma sistematizada proporciona assistência integral ao paciente e à família. Diante de uma enfermidade como o câncer de mama, a família, especificamente o cônjuge como acompanhante direto das melhoras e pioras, bem como de todos os procedimentos utilizados para tratamento da companheira, compartilha essa doença e dentro deste processo de adoecimento surgem sentimentos não apenas na paciente, mas também em quem a acompanha. Foi com base nessa informação que o terceiro capítulo abordou a família como participante do adoecimento de um de seus membros, especificamente o marido e os sentimentos surgidos diante da enfermidade da esposa, além de abordar alguns aspectos sobre conjugalidade. No quarto capítulo os sentimentos do cônjuge foram abordados a partir de uma perspectiva psicanalítica na compreensão do simbolismo do seio, sendo utilizados conceitos de teóricos como Freud, Melanie Klein e Winnicott. O quinto capítulo foi desenvolvido a partir da análise dos dados coletados no estudo de campo, sendo corroborados teoria e discurso dos participantes entrevistados. O objetivo do trabalho foi identificar os sentimentos do cônjuge-acompanhante diante da mastectomização da esposa, visando constatar se houveram sentimentos relativos à ansiedade ou medo da perda do seio por parte dos cônjuges, bem como se a relação sexual do casal foi afetada, de forma que as esposas também foram entrevistadas para proporcionar uma visão mais concreta do relacionamento conjugal dos casais, além de observar a alteração da auto-imagem da mulher e sua influência no relacionamento sexual do casal. Este trabalho utilizou o estudo de campo de cunho qualitativo-descritivo e por meio de entrevistas semi-estruturadas foi realizada a coleta de dados e a análise dos resultados foi feita através de análise de conteúdo. É importante salientar que o presente trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Faculdade do Vale do Ipojuca e autorizada a pesquisa (ver anexo). Através desse estudo, foi possível uma melhor percepção de como o câncer de mama é visto pelos olhares dos maridos e que ao contrário do que se pensa e do que muitas vezes a sociedade apresenta, esses cônjuges se mostram participativos, tanto no diagnóstico, quanto no tratamento. Vale salientar que essa participação é de uma parcela dos maridos, pois nem todos comungam da mesma opinião: a de que são peças fundamentais no processo de tratamento. 3 O presente estudo possibilitou ter um contato mais amplo com casais que vivem com este drama, identificando que os maridos estão presentes com as esposas desde o diagnóstico, tomando decisões juntos, buscando o melhor para o tratamento da doença. Experimentam também sentimentos de medo, ansiedade e tristeza diante da notícia da mastectomização da esposa. 1 CAPÍTULO I: ASPECTOS GERAIS DO CÂNCER ______________________________________________________ 4 1.1 Aspectos Históricos Acredita-se que o câncer não é uma doença nova, nem uma doença que sofreu um progresso social. O primeiro osteoma1 encontrado foi a mais de 50 milhões de anos na vértebra de um dinossauro. De acordo com Beland e Passos (1979, p. 35): “A mais antiga literatura médica já faz referências a neoplasmas, que foram descritos pelos egípcios em 1200 a.C.” Hipócrates em seus estudos já mencionava neoplasmas2, contudo esse conceito foi se modernizando e o que se escuta falar hoje sobre definição do câncer, data apenas 130 anos. A ampliação desse conceito contou com a participação de outros dois grandes teóricos: Johannes Muller, que em 1838 fez a 1ª descrição da natureza celular do câncer e Virchow, que 20 anos mais tarde ampliou a noção, descrevendo as alterações das células cancerosas. Após essas descobertas e com a evolução da ciência, conhecem-se hoje mais de quinhentos agentes químicos carcinogênicos. 1.2 Definição: Ainda nos dias atuais, existem pessoas com pontos de vista diferentes a respeito de algumas doenças. Dentro deste contexto está o câncer, por se tratar de uma doença que causa temor seja na pronúncia da própria palavra, seja por provocar mutilações no corpo ou por estar associada de uma forma direta à morte. “Aquela doença”, “doença ruim”, “C.A.”, “doença do demo”, são as inúmeras denominações que fazem referência ao câncer. Muitas pessoas acreditam que podem emanar tal doença pelo simples fato de pronunciar a palavra câncer, com isso intitulam-na de várias maneiras, mesmo que em algum momento da vida tenham que enfrentá-la (CASTILHO, 2010). 1 De acordo com o Dicionário Cândido de Figueiredo : subs. masc.: osteoma: (do grego osteon) tumor, composto de tecido ósseo. (Acesso em: www.dicio.com.br/osteoma, em 13/08/2010. 2 De acordo com o dicionário global, Silveira Bueno, Neoplasma (ne.o.plas.ma) s.f. (Med) Neoplasia; Neoplasia (ne.o pla.si.a) s.f. (Med) Tumor, seja maligno ou benigno; neoplasma. 5 De acordo com Castilho (2010, p. 20): “A primeira coisa a saber sobre o câncer é que ele é um nome dado a um grupo muito grande e heterogêneo de doenças. Não existe o ‘câncer’, mas os ‘cânceres’.” Cada tipo de câncer tem suas particularidades, contudo existe um fator que os torna comum: o crescimento desordenado das células. Na busca da identificação de como se processa essa desordem celular, encontra-se a ciência oncológica, que objetiva estudar todos os aspectos inerentes ao câncer. Segundo, Yamaguchi (2002, p. 21): O câncer é uma doença que se origina nos genes de uma única célula, tornando-a capaz de se proliferar até o ponto de formar massa tumoral3 no local e a distância. Várias mutações têm que ocorrer na mesma célula para que ela adquira este fenótipo de malignidade. Straub (2005) define o câncer como um conjunto de cerca de cem doenças que se relacionam entre si, em que células anormais se multiplicam e se espalham descontroladamente formando uma massa denominada de tumor maligno. O tumor benigno é constituído apenas por uma massa composta de células que se multiplicam vagarosamente, sendo muito parecidas com o tecido original e raramente constituindo risco para a saúde (INCA, 2007). O que de fato acontece, é que a célula é uma estrutura que vai se adaptando às condições do ambiente, altera suas atividades às exigências que lhe são feitas e aos agentes prejudiciais. Neste contexto, vários processos podem acontecer nesta célula recuperando-a, deixando-a de algum modo alterada ou simplesmente matando-a. Nesta tentativa de adaptação ou substituição de uma célula doente por uma célula sadia, é que pode se originar o câncer (CASTILHO, 2010). Para o referido autor o processo de multiplicação das células ocorre por razões que nem sempre podem ser detectadas. Se determinadas células de um órgão demoram uma semana para se multiplicarem e substituírem as células que morrem regularmente, passam a duplicar-se a cada hora, ocasionando um acúmulo de células anormais naquele órgão, que pode acontecer em semanas, meses ou anos. O tumor visível é o resultado final dessas multiplicações (FRANKS, 1990). 3 De acordo com o dicionário global Silveira Bueno, Tumoral (tu.mo.ral) adj. 2g. Que tem caráter de tumor; Tumor (tu.mor) [ô] s. m. (Bio) 1. Aumento de volume anormal em um órgão ou outra parte do corpo. 2. Massa formada pela multiplicação anômala e em desordem das células de um tecido. 6 A proliferação inadequada atinge outras células que se tornam anormais no organismo, por sua vez não obedecem a controles internos e se dividem sem parar. A divisão descontrolada das células se dá pelo fato de haver danos no DNA. Em células normais, o próprio DNA detecta e conserta os erros, mas nas células cancerosas esse mecanismo de reparo não funciona. Castilho (2010, p. 20) afirma que: Tal multiplicação desordenada e sem controle leva à produção de um tumor, que começa a comprimir os tecidos normais ao seu redor, destruindo-os. As células anormais podem se disseminar para órgãos vizinhos, por contigüidade, ou distantes pela circulação. As células tumorais invadem vasos sanguíneos ou linfáticos e são transportadas para qualquer outro ponto do organismo. Uma vez implantadas, multiplicam-se e produzem metástases4, que são os ‘filhotes’ da doença principal. O que se percebe é que esses filhotes podem ter um crescimento tamanho ao ponto de ficarem maiores que a mãe. Essas metástases provocam as mortes e não os tumores no início (CASTILHO, 2010). Porém, mesmo acontecendo essas mudanças não é possível definir uma célula tumoral em termos absolutos. E, é através desse processo que o câncer pode ser confundido com outras doenças, dependendo do local onde aparece e de sua extensão a tecidos vizinhos. O câncer pode provocar os mais variados sintomas como febre, cansaço, perda de peso, desânimo e falta de apetite. Mas, deve-se dar maior interesse a perda de apetite e de peso para ficar atento ao atestado de ser câncer ou não. As manifestações clínicas são diferentes de acordo com o organismo da pessoa acometida (idade, condições de saúde), do tipo de câncer, da velocidade do crescimento tumoral, do tamanho do tumor, bem como da detecção do câncer o mais precocemente possível (CASTILHO, 2010). 1.3 Facilitando o diagnóstico Um grande número de doenças cursa para quadros semelhantes aos do câncer, por isso, é de suma importância que vários exames sejam feitos para que 4 De acordo com o dicionário global Silveira Bueno, Metástase (me.tas.ta.se) s.f. (Med) Surgimento de um segundo foco de tumor ou de inflamação. 7 possa ser detectado e atestado como esta enfermidade. Tudo depende da classificação do câncer, tecido de origem, aspectos estruturais e morfológicos, bem como o grau de comprometimento de tecidos vizinhos. Esses aspectos em conjunto conferem o prognóstico, ou seja, a possibilidade de cura e de resposta ao tratamento (CASTILHO, 2010). Yamaguchi (2002) ressalta que quando há suspeita de câncer a biópsia ou punção é sugerida para retirar parte do tecido para análise. O patologista fará um estudo citológico (estudo das células) ou do tecido para dizer se o material é proveniente de um tumor maligno5 ou benigno. Esses procedimentos de coleta de material para análise tornam-se fundamentais na confirmação da doença. Quanto mais cedo se detecta o câncer, melhor são as chances de cura. Isso é apenas uma regra e como toda boa regra, tem também exceção. Isso pode ocorrer porque o câncer é uma doença que depende de diversos fatores que condicionam o seu aparecimento, crescimento e evolução, tornando-se por isso imprevisível e muitas vezes difícil de ser detectado corretamente (CASTILHO, 2010). Castilho (2010) afirma ainda que existem muitos casos de câncer que mesmo descobertos precocemente não respondem de forma satisfatória ao tratamento. Em contrapartida, existem casos que diagnosticados tardiamente, respondem bem, podendo até ser curados. De modo geral, pode-se considerar a seguinte regra: câncer descoberto cedo tem cura, câncer descoberto tarde, mata. Para que essa regra pudesse de fato ser aplicada, seria necessário que todos os esforços médicos e educacionais se fizessem presentes, realçando uma Medicina Preventiva e o esforço para que a sociedade se conscientize, procurando ajuda para detectar precocemente todas as formas de câncer . Para que aconteça essa conscientização por parte da sociedade e posteriormente a aplicação de métodos preventivos, faz-se necessário conhecer os fatores que podem desencadear o câncer. Eles são bem conhecidos, mas ainda existem pessoas que relutam em aceitá-los ou simplesmente fingem não acreditar que tais fatores contribuem para o aparecimento do câncer. O fumo, o sol e o álcool são esses fatores já conhecidos. Outros fatores também podem contribuir para que o câncer possa desenvolver-se no organismo de uma pessoa: comidas gordurosas, 5 De acordo com o dicionário global Silveira Bueno, Benigno (be.nig.no) adj. 1. Que não oferece perigo. 2. Suave; brando; agradável. Maligno (ma.lig.no) adj. Propenso a fazer o mal; nocivo; danoso. 8 alimentos muitos quentes, determinadas infecções crônicas e a presença de elementos que irritam o organismo como pedras na vesícula (CASTILHO, 2010). Além dos fatores citados, a genética também desempenha importante papel como causa primária do surgimento do câncer, pois as causas acima citadas são fatores desencadeantes, que complementam os fatores genéticos, herdados de nossos ancestrais (CASTILHO, 2010). A procura por ajuda médica ao menor sinal perceptível, coletando material para análise é fundamental. Vale lembrar que após ser feita a análise e detectado o câncer é que se pode pensar em tratamento, pois para cada tipo de câncer existe um tratamento adequado, mesmo que ele se desenvolva no mesmo local; o que acontece é que, em algumas pessoas esta doença se desenvolve de forma agressiva, de progressão rápida e em outras de forma menos agressiva, de progressão mais lenta (CASTILHO, 2010). Contudo, mesmo depois de definido o tipo de tratamento adequado se faz necessário que o paciente com câncer seja acompanhado podendo haver a necessidade de serem feitos exames subsidiários para avaliação do estado e da intensidade da resposta. Alguns desses procedimentos, por alterarem a rotina diária do paciente, podem causar neste e na família uma ansiedade e impaciência. “Entretanto deve se salientar os inúmeros benefícios que decorrem do conhecimento real da situação.” (YAMAGUCHI, 2002, p. 24), pois estes exames não definirão o quadro geral do paciente, mas serão auxiliares no processo de tratamento. O que não se recomenda é a leitura antecipada do laudo de exames, pois, como na maioria das vezes este possui uma linguagem técnica, o desconhecimento dos mesmos costuma fazer com que a interpretação seja errônea, causando mais desconforto e preocupação aos que estão em contato direto com o paciente diagnosticado com câncer. Yamaguchi (2002) afirma que os exames são auxiliares no diagnóstico e estadiamento da doença, porém o laudo final será dado através do exame do material coletado pela biópsia, que será feito pelo patologista. Esses exames subsidiários constituem-se de exames de sangue, idas periódicas ao médico para check-up, radiografias, ultrassonografias (externas ou intracavitárias), etc (CASTILHO, 2010). Embora existam vários meios de diagnosticar o câncer era preciso que houvesse uma educação melhor, mostrando maneiras mais adequadas e paliativas de prevenção contra esta doença, pois sabe-se muito, mas este saber se torna pouco. 9 Castilho (2010) lança esperança quando ressalta que as pesquisas científicas tem avançado grandemente, fazendo com que muitos procedimentos de tratamento tenham sido formulados, bem como diversos estudos tem sido realizados sobre a cura dessa enfermidade. 1.4 Antiga crença: câncer pega? Mesmo com conhecimento e todos os avanços que a ciência vem fazendo, existem pessoas que pensam que o câncer é contagioso. Porém, nenhuma forma de câncer é adquirida com o contato direto com outra pessoa. Pode parecer claro para algumas pessoas, mas para muitas, mesmo tendo conhecimento sobre a doença, acreditam que podem pegar câncer pelo simples aperto de mão ou por sentar ao lado de alguém que tenha histórico da doença. Esse medo advém do fato de o câncer carregar consigo o estigma da morte, da dor e da mutilação, fatores estes que muitos temem que aconteçam com seu corpo e sua saúde. Quando agem dessa forma, deixam fazer perceber que um certo desconforto está sendo instalado em si próprio. “Esse desconforto infelizmente, é percebido pelos doentes, que se sentem profundamente magoados e discriminados.” (CCASTILHO, 2010, p. 25). Esse tipo de preconceito e ignorância provoca nas pessoas acometidas com esta doença um sentimento de abandono e sofrimento, porque pessoas que se encontram próximas terminam se afastando física e socialmente. Neste contexto, vale salientar que câncer não é contagioso. 1.5 Outros fatores que predispõem ao câncer: Além dos fatores genéticos, hábitos alimentares e vícios como o tabagismo, citados anteriormente, vale salientar que a idade e os fatores psicológicos também devem ser levados em consideração. Castilho (2010, p. 26) mostra que: O câncer guarda uma relação direta com o envelhecimento- quanto mais velho o indivíduo, maior a possibilidade de surgir um câncer. [...] O sistema imunológico do ser humano, que é um sistema de defesas muito complexo, que defende o organismo contra infecções, como a AIDS por exemplo, e contra os cânceres, perde eficácia, com o envelhecimento e dá uns ‘cochilos’. Num desses ‘cochilos’, um grupo 10 de células cancerosas pode se desenvolver e escapar da perseguição do sistema de defesa. Se aposta hoje que fatores psicológicos também predispõem as pessoas a desenvolverem câncer. A depressão é vista como o principal, podendo desarranjar o sistema imunológico, deixando-o menos eficaz, propiciando o aparecimento do câncer. Certas personalidades introvertidas, que não conseguem expressar sentimentos como a raiva e a mágoa podem desenvolver câncer (CASTILHO, 2010). 1.6 Câncer, e agora? Seja por qual fator o câncer tenha sido desencadeado, quando este é diagnosticado e atestado, precisa-se articular com segurança o melhor meio de tratamento, bem como precisa ser tratado com acompanhamento médico, mesmo que as esperanças de vida sejam quase nulas. Essa tarefa nem sempre é fácil, requer estudos e decisões que só poderão ser tomadas com a participação do médico, paciente e familiares (CASTILHO, 2010). Existem pessoas que nem sempre precisam de tratamento em absoluto. São aquelas em que o câncer evolui de forma muito lenta e sua idade é muito avançada. Outras pessoas que também não precisam de tratamento, são aquelas em que o câncer se encontra em estado avançado e qualquer tentativa de tratamento compreenderia numa agressividade que o corpo não suportaria, colocando a vida do paciente em risco. O que importa é que algumas pessoas devem ser acompanhadas sem qualquer tratamento, procurando preservar a qualidade de vida, sem comprometer o tempo de vida. Quando atestado o câncer, deve-se procurar confirmar o diagnóstico, estadiar a doença e discutir uma proposta de tratamento (CASTILHO, 2010). Como mencionado anteriormente, esse processo deve ser cauteloso e contar com a participação não apenas do médico que apresentará as possíveis formas de tratamento, mas também do paciente e de familiares. Isto se deve porque o tratamento do câncer permite várias formas de intervenções terapêuticas (CASTILHO, 2010). As alternativas terapêuticas são inúmeras para cada tipo de câncer. Cada caso é um caso, porque cada organismo é único e o tratamento precisa se adequar a cada paciente. Os tratamentos oferecidos compreendem na maioria dos casos: cirurgia, radioterapia, quimioterapia e imunoterapia. Esses três 11 últimos são tratamentos adicionais à cirurgia e tem como finalidade matar as células cancerosas não só do órgão no qual a doença está instalada, mas também das suas metástases. 1.7 Formas de tratamento do câncer: A cirurgia, método muitas vezes adotado para tentar estacionar a multiplicação das células cancerosas, necessita da presença de um cirurgião oncológico especialista em determinado tipo de câncer, pois, será através de seu conhecimento que este saberá que tipo de comportamento pode esperar daquele tumor em particular, facilitando para que a cirurgia proceda adequadamente (CASTILHO, 2010). De acordo com Straub (2005) Esse procedimento tem cinco finalidades diferentes, que se encaixam especificamente em cada caso: • Cirurgia diagnóstica: a biópsia é um exemplo dessa cirurgia. Este procedimento é utilizado para a retirada de amostra de tecido para exame laboratorial, com o objetivo de confirmar o diagnóstico e especificar o tipo de câncer. • Cirurgia preventiva ou profilática: é utilizada para remover um crescimento que pode se tornar um tumor maligno em caso de não ser tratado. Este método é usado em condições pré-cancerosas, bem como em casos de problemas hereditários que predispõem ao desenvolvimento de câncer. • Cirurgia de extensão: procedimento utilizado para determinar a extensão ou dimensão do câncer. A labaroscopia 6 e a torascopia7 são exemplos desse método. • Cirurgia curativa: considerada como tratamento primário, essa cirurgia consiste na retirada do tumor localizado, visando à remoção de todo o tecido canceroso. • Cirurgia restauradora ou reconstrutiva: a exemplo da reconstrução dos seios após a mastectomia, essa cirurgia é utilizada para reconstruir aparência ou função de um órgão afetado pelo câncer. 6 Método no qual se insere um tudo no abdome através de um pequeno corte, com o objetivo de examinar o conteúdo e remover amostras de tecido (STRAUB, 2005). 7 Procedimento semelhante à labaroscopia, sendo utilizado para enxergar dentro do peito do paciente. (STRAUB, 2005). 12 O procedimento cirúrgico por mais que seja necessário em determinado caso precisa ser discutido com o paciente e uma equipe multidisciplinar habituada a trabalhar em conjunto e que conheça as condutas habituadas em casos semelhantes. Essa decisão envolve muitas participações, inclusive dos familiares por trazer modificações no cotidiano do paciente com câncer. Essa participação deve ser sempre enfatizada para que a melhor decisão possa ser tomada, pois algumas terapêuticas podem ser mutiladoras ou interferirem nos atributos sexuais e isso precisa ser discutido antes da cirurgia (CASTILHO, 2010). Chegado a um consenso de haver o procedimento cirúrgico e tendo executado tal procedimento, passa-se então para as etapas seguintes que são os tratamentos adicionais. Para cada tipo de câncer existe um tratamento adicional adequado e o paciente tem o direito de conhecer como se processa cada um. Alguns cânceres não necessariamente passam por um procedimento cirúrgico, eles podem apenas ser tratados com a radioterapia, quimioterapia e imunoterapia; esses três procedimentos passam a ser considerados adicionais quando a doença se encontra em um estágio avançado e o primeiro oferecido foi a cirurgia (CASTILHO, 2010). Segundo Yamaguchi (2002, p. 26): A radioterapia é considerada uma terapêutica local e atinge mais especificamente a área delimitada. Porém os tecidos vizinhos podem ser comprometidos e os pacientes podem apresentar sintomas colaterais devido ao comprometimento de órgãos situados no trajeto da radiação. Straub (2005) complementa a definição acima citando que a radioterapia usa equipamentos especiais para combater as células cancerosas afetando o tumor e as áreas adjacentes, para evitar que estas células cresçam, se multipliquem e se espalhem. Esse tratamento é feito por um especialista: o radioterapeuta. Quem decide se há necessidade de tal procedimento é ele, caso haja, não há necessidade de o paciente ficar internado, pois as sessões são rápidas (STRAUB, 2005). A radioterapia queima as células cancerosas e as células boas igualmente, só que aquelas por serem mais frágeis morrem mais facilmente sob o efeito da radiação (CASTILHO, 2010). Uma vantagem da radioterapia é que ela diminui o tamanho do tumor, aliviando a pressão, hemorragias ou dores para os pacientes (INCA, 2007). 13 A quimioterapia é um tratamento de longo alcance dentro do corpo. Isso porque através das drogas utilizadas o medicamento percorre a corrente sanguínea com o objetivo de atingir todas as áreas do corpo. Esse tratamento é útil em casos de cura, impedimento de metástases, redução de crescimento do tumor, morte de células cancerosas que tenham se espalhado pelo corpo ou ainda para aliviar os sintomas causados pelo câncer. São utilizados vários medicamentos anticâncer que agem mais satisfatoriamente em combinação, porque os fármacos com diferentes ações matam mais células cancerosas, reduzindo também as chances de resistência a uma droga específica por parte do organismo (STRAUB, 2005). A quimioterapia também pode ser primária, isto é, administrada antes de um procedimento cirúrgico, como também, adjunta na tentativa de prevenir uma recaída ou metástases. Esse procedimento é administrado com drogas através da boca, injeções intramusculares e endovenosas (YAMAGUCHI, 2002). O grande risco da quimioterapia é a morte de várias células, tanto cancerosas, quanto sadias, prejudicando o organismo. Isso porque as células que estão se proliferando (bulbo capilar, medula óssea, mucosas, entre outras) juntamente com as células cancerígenas são atingidas pela quimioterapia (YAMAGUCHI, 2002). É por esse motivo que muitas pessoas que são submetidas a esse tipo de tratamento tem queda de cabelo e outras reações. O tratamento quimioterápico é planejado e acompanhado por um especialista, que é o oncologista clínico; este irá definir as doses de medicamentos que são adaptadas ao tamanho do paciente e à sua sensibilidade de resposta ao tratamento (YAMAGUCHI, 2002). Castilho (2010, p. 11) descreve de forma simples esse procedimento: O tratamento é feito por ciclos, isto é, uma grande dose de remédios e depois um período de algumas semanas sem remédios para que os tecidos normais se recuperem; depois outro ciclo, outro e assim por diante. Cada ciclo dura três semanas, em média. Depois dos ciclos principais, outros quimioterápicos podem ser usados de modo contínuo ou a intervalos maiores. A imunoterapia é um subtipo da quimioterapia e consiste no uso de medicamentos para aumentar a capacidade do sistema imunológico de atacar seletivamente as células cancerosas, recuperando as defesas deste sistema uma vez que, desenvolvido o câncer, este se encontra comprometido (STRAUB, 2005). São células responsáveis pela defesa do organismo: macrófagos, linfócitos, entre outras (YAMAGUCHI, 2002). Entretanto esta evolução é totalmente individual, pois 14 existe a possibilidade de o paciente com câncer se defender da doença através do sistema imunológico. Não havendo esta possibilidade a imunoterapia surge como tratamento que visa ao aumento de defesas do organismo (YAMAGUCHI, 2002). 1.8 Psico-oncologia: uma nova especialidade da Oncologia A Psico-oncologia é uma especialidade da área da Oncologia que surgiu nos últimos vinte anos através do progresso da medicina, do avanço nas técnicas psicológicas e os novos conhecimentos construídos, além da mudança na opinião pública acerca do câncer e suas causas (CARVALHO, M.; CARVALHO, V.; GIMENES, 2000). Um aspecto destacado sobre a importância da Psico-oncologia é que o conhecimento e a definição de câncer sofreram mudanças através dos anos. Há algum tempo atrás essa enfermidade era compreendida como sinônimo de morte; atualmente é sabido que o câncer é provavelmente uma doença multifatorial, ou seja, para que a doença se manifeste a operação conjunta de fatores como a predisposição genética, alimentação inadequada e fatores ambientais de risco parecem ser necessários (CARVALHO, M.; CARVALHO, V; GIMENES, 2000). Holland (1990 apud CARVALHO, M.; CARVALHO, C.; GIMENES, 2000) define que a Psico-oncologia objetiva estudar as duas dimensões psicológicas do câncer: o impacto dessa enfermidade na função psicológica do paciente, da família e dos cuidadores e o papel das variáveis psicológicas e comportamentais no risco do câncer, bem como na sobrevivência a este. No Brasil a Psico-oncologia se desenvolveu a partir de modelos de práticas de países como os Estados Unidos, sendo que a importância dada aos fatores psicossociais na prevenção, reabilitação e qualidade de vida em pacientes em fase terminal necessitou que esta nova especialidade fosse sistematizada como um conjunto de conhecimentos, de tal forma que pudesse dar suporte na assistência integral ao paciente oncológico e sua família, bem como à formação de profissionais da área de saúde atuantes na área da Oncologia (CARVALHO, M.; CARVALHO, C.; GIMENES, 2000). A partir da necessidade de organização das diretrizes da Psico-oncologia aconteceu no Brasil no ano de 1989, presidido pelo Dr. Luiz Pedro Pizzatto, o I Encontro de psico-oncologia, reunindo aproximadamente cento e cinqüenta pessoas, dentre elas profissionais e estudantes da área da saúde, bem como 15 pessoas envolvidas na atenção ao paciente oncológico e à sua família (CARVALHO, M.; CARVALHO, C.; GIMENES, 2000). Nesse primeiro encontro foram abordados temas como a multidisciplinaridade, a formação do câncer e os diversos fatores psicossociais de diversos tipos de carcinoma (PIZZATTO, 1989 apud CARVALHO, M.; CARVALHO, C.; GIMENES, 2000). Esse primeiro encontro contribuiu de forma importante para que a Psico-oncologia fosse introduzida no Brasil como área de estudo e intervenção que precisava ser organizada a partir da experiência e do olhar dos profissionais da saúde com diferentes formações (CARVALHO, M.; CARVALHO, C.; GIMENES, 2000). As decisões relacionadas ao nome dessa nova área de pesquisa e atuação (que continuou sendo Psico-oncologia), bem como a discussão sobre a fundação da Sociedade Brasileira de Psico-oncologia – SBPO (que foi adiada para o III encontro) foram temas do II Encontro de Psico-oncologia, que aconteceu em Curitiba, no ano de 1992. Em 1994 o III Encontro contou com a participação de quatrocentas e cinqüenta pessoas, fato este que impulsionou a nomenclatura do evento: III Encontro e I Congresso de Psico-oncologia. Também durante a preparação deste evento foi produzido o livro “Introdução à Psico-oncologia”, sob a organização da professora-doutora Maria Margarida M. J. de Carvalho, lançado em 1994 e considerado a primeira referência da língua portuguesa que abordou temas fundamentais em Psico-oncologia (CARVALHO, M.; CARVALHO, C.; GIMENES, 2000). Após esses eventos uma definição formal de Psico-oncologia para orientar pesquisas e intervenções na área foi proposta pela professora-doutora Maria da Glória Gimenes: a Psico-oncologia é a área de interface entre a Psicologia e a Oncologia que utiliza conhecimento educacional, profissional e metodológico para serem aplicados na assistência ao paciente oncológico, aos seus familiares e aos profissionais cuidadores, bem como na pesquisa e estudo sobre variáveis psicológicas e sociais no que se refere ao câncer. Além disso, esse conhecimento é aplicado também na organização do serviço de atendimento psico-oncológico e na formação de profissionais da saúde envolvidos no cuidado das diversas etapas dessa enfermidade (CARVALHO, M.; CARVALHO, C.; GIMENES, 2000). 16 1.9 Estágios psíquicos da enfermidade: Inicialmente, pode-se dizer que a técnica de tratamento oferecida pelo psicooncologista vai ser direcionada em detrimento do paciente e em seguida estendida a seus familiares e amigos. Essa observação consiste na premissa de que todo paciente que tem uma enfermidade diagnosticada, como um câncer, por exemplo, sofre um grande choque emocional e passa por diferentes fases que são, segundo Elizabeth Kübler- Ross: negação, revolta, barganha, depressão e aceitação, não necessariamente nesta ordem (CASTILHO, 2010). Em cada uma dessas fases, o paciente com câncer se comporta de maneiras diferentes em relação à sua doença. Diante da ameaça de morte iminente causada pelas doenças terminais como o câncer, é natural que o ser humano aumente suas defesas psicológicas como forma de tentar ter o domínio da situação (KÜBLERROSS, 1998). 1.9.1 Negação: A primeira defesa encontrada nos pacientes é a negação da doença. É uma primeira reação de choque, sendo temporária, da qual o paciente se recupera gradualmente. A necessidade da negação surge na maioria dos pacientes, sendo mais freqüente no começo da doença (KÜBLER-ROSS, 1998). 1.9.2 Revolta: A negação segue seu curso evoluindo para uma segunda defesa chamada de raiva. Este é um sentimento que se projeta em diversas direções e no ambiente, tornando por vezes difícil a convivência do paciente com familiares e cuidadores. O fato é que a raiva tem motivos fortes para se manifestar: as atividades diárias do paciente são interrompidas, os sonhos podem não ter mais chances de serem concretizados (KÜBLER-ROSS, 1998). 1.9.3 Barganha: A terceira defesa é a barganha, que é a tentativa de acordo do paciente com a morte e com Deus. O paciente promete se comportar e seguir à risca o tratamento 17 em troca da cura da doença. É uma tentativa de adiamento da morte (KÜBLERROSS, 1998). 1.9.4 Depressão: A depressão surge como a quarta defesa psicológica. Ocorre quando o paciente não pode mais negar a doença, quando se depara com mais procedimentos médicos e novos sintomas surgindo a cada momento. A revolta cede lugar ao sentimento de perda que possui muitos significados (perda da beleza, perda do amor, perda da vida). Essa depressão do final da doença é chamada de preparatória, como instrumento que facilita a aceitação por parte do paciente da situação que lhe é colocada (KÜBLER-ROSS, 1998). 1.9.5 Aceitação: Por fim, o paciente que puder elaborar bem psiquicamente essas defesas atingirá um estado em que não mais sentirá depressão, nem raiva. Ele terá a oportunidade de externar seus sentimentos, suas dúvidas, seus medos. Essa é a fase da aceitação, em que a luta cessa, o repouso se aproxima e o paciente está cansado e deseja não mais resistir à morte (KÜBLER-ROSS, 1998). Vale salientar que esses estágios são de extrema significação na elaboração da morte, porque cada um deles consiste em uma preparação, como um caminho a ser seguido até chegar ao ponto final (KÜBLER-ROSS, 1998). No que diz respeito ao câncer, a pessoa acometida por esta doença, necessita não apenas de tratamento médico, mas da participação de outros especialistas, bem como o apoio dos familiares, amigos e da religião. CAPÍTULO II: CÂNCER DE MAMA E POSSIBILIDADES TRATAMENTO _______________________________________________________ DE 18 O câncer de mama é um dos mais temidos tipos de câncer pelas mulheres, devido à sua alta freqüência e aos efeitos físicos (mutilação pela mastectomia, efeitos colaterais dos tratamentos como alopecia) e psicológicos (afetação da autoimagem, depressão, ansiedade, medo da rejeição) que ele causa, bem como a percepção da auto-imagem e a vida sexual das mulheres acometidas por essa enfermidade (OLIVEIRA, 2008). Além disso, é uma enfermidade que envolve fatores físicos, sociais e emocionais, comprometendo uma parte do corpo feminino carregada de significados múltiplos, tanto para a mulher quanto para o seu companheiro. O câncer de mama é um dos tipos de câncer que mais acomete mulheres, sendo o segundo tipo mais freqüente no mundo. No Brasil, as taxas de mortalidade por esse tipo de câncer em mulheres são elevadas, devido principalmente à detecção tardia da doença. Estima-se no Brasil cerca de 49.240 casos nesse ano de 2010 (INCA, 2010). Oliveira (2008, p.1) complementa a informação enfatizando que no país: [...] o câncer de mama é o que mais causa morte entre as mulheres. Anualmente, são registradas por volta de 10 mil mortes decorrentes desse tipo de câncer. Ele é principal a atingir a população feminina, sendo responsável por cerca de 40 mil novos casos ao ano. Gomes (1987, apud ANDRADE e DUARTE, 2003) afirma que o câncer de mama, também conhecido como carcinoma 8 mamário, origina-se de multiplicações desordenadas de células, desencadeando tumores ou neoplasias malignas que podem provocar metástase. Ele aparece como nódulos e pelo auto-exame das mamas pode ser detectado pela mulher. Vários fatores podem ser considerados de risco para o desenvolvimento do câncer de mama, dentre eles, Lima e Matão (2007) destacam: hereditariedade, obesidade, menarca precoce, não-lactação, dentre outros. Rocha (2005) explica esses fatores de risco: em relação à hereditariedade, a história de câncer de mama em parentes de primeiro grau, especialmente mãe e irmãs, aumenta o risco da doença de duas a 2,5 vezes, enquanto que se houver história da doença e parentes de segundo e terceiro grau, o risco é de 1,5 a duas vezes aumentado. O risco de 8 O Mini-Dicionário Aurélio (2001, p. 232) define o carcinoma como “câncer formado por células epiteliais”, ou seja, células teciduais. 19 maior ocorrência de câncer de mama em obesas é também um fator importante, principalmente na pós-menopausa. A não-lactação ainda não foi ratificada como fator de risco, porém é sabido que a lactação inibe a função ovariana, o que pode permitir a redução de incidência de câncer de mama. Ainda de acordo com Rocha (2005), quanto mais cedo a primeira menstruação chegar e mais tarde a menopausa vier, aumentam as chances de ocorrência de câncer de mama. O câncer de mama é uma enfermidade complexa, que envolve diversos fatores desde o diagnóstico até o tratamento, conforme afirma Corbellini (2001 apud LOPES, SHIMO e VIEIRA, 2007). O câncer de mama possui três etapas que perpassam em grau crescente: a primeira envolve o recebimento do diagnóstico, a segunda abarca a realização de um tratamento agressivo e a terceira é a aceitação do corpo marcado por uma nova imagem, que precisa ser aceita. Receber o diagnóstico de câncer de mama pode ser compreendido como sentença de morte, pois essa enfermidade carrega em seu bojo essa crença, além de que o diagnóstico de câncer de mama altera uma condição de saúde anteriormente estabelecida. Tratamentos como quimioterapia e radioterapia são considerados agressivos porque têm efeitos colaterais como alopecia (queda de cabelos), ânsia de vômito, etc. Em relação a auto-imagem a mastectomia é um tratamento que está profundamente implicado nesse aspecto, pois significa retirar uma parte do corpo da mulher carregado de feminilidade e sensualidade: a mama. (CORBELLINI, 2001 apud LOPES, SHIMO e VIEIRA, 2007). Sabe-se que o câncer de mama origina-se de uma desordem celular que ocorre nos genes dessa célula. Detalhadamente Rocha (2005, ps. 234-235) especifica como acontece a formação de massa tumoral na mama: O sistema de revestimento ductal, constituído normalmente por uma ou duas camadas de células, inicialmente prolifera por estímulo hormonal, aumentando o número de células acima da membrana basal. A esse achado denominamos hiperplasia epitelial, encontrada em vários graus de severidade. Na maior parte das vezes, esta alteração pára neste momento, sem representar riscos futuros. Em alguns casos, porém, os estímulos de iniciação tumoral modificam o padrão celular [...] e com o progredir da lesão, evoluindo para os carcinomas intraductais, verdadeiros precursores morfológicos do carcinoma invasor. Por mecanismos diversos (hormonais, enzimáticos, fatores de crescimento, angiogênese etc.), o tumor progride, rompe a membrana basal dos ductos e invade o estroma mamário, podendo permear e embolizar os vasos sangüíneos e linfáticos do sistema de circulação da mama. [...] no conteúdo acima há incertezas diversas, inclusive se todos os tumores passam 20 necessariamente por todas essas etapas. Sabe-se, porém, que o processo de multiplicação celular ocorre de forma bastante lenta, conferindo à doença um caráter insidioso. Esse caráter insidioso ou traiçoeiro do câncer de mama faz com que esta enfermidade se desenvolva, muitas vezes, de forma silenciosa, conforme assevera Buchalla (2004, p. 156): [..] o tumor de mama é traiçoeiro. Além de ter vários tipos, ele pode ser muito rápido na sua expansão pelo corpo. Há casos em que bastam dois dias para que células cancerosas recém-formadas saiam dos ductos mamários. Quando gera metástase, o câncer de mama atinge preferencialmente ossos, pulmão ou fígado. Nessa hipótese, falar em cura é praticamente impossível. Mas, mesmo diante desse prognóstico de pesadelo, os tratamentos podem garantir uma boa sobrevida a paciente. Quando o carcinoma se torna invasor, ele entrará por vias linfáticas ou sanguíneas, se espalhando regionalmente, como na cadeia axilar, por exemplo. Andrade e Duarte (2003) apontam que o local do corpo em que o câncer se instala é que definirá o tipo de câncer. O carcinoma é encontrado em pele, mucosas e glândulas e pode ser: não-invasivo, que de acordo com Rocha (2005) são carcinomas in situ e correspondem à doença local; ou invasivo que é um carcinoma infiltrante e considerado invasor de áreas adjacentes. O câncer de mama pode ser detectado pelo toque, bem como apresentar sintomas como alterações na pele que recobre a mama, secreções no mamilo, caroço ou nódulos palpáveis na axila (INCA, 2010). É importante salientar que o auto-exame das mamas realizado pela mulher periodicamente pode identificar precocemente alterações nas mamas, pois o diagnóstico, em muitos casos, é realizado com massas já palpáveis. O diagnóstico não deve descartar aspectos diferenciais da história clínica da paciente, que, segundo Rocha (2005) podem ser: a queixa principal da paciente ou motivo da consulta, se há casos de câncer de mama ou outro tipo de câncer na família, se há fatores de risco em sua rotina diária (fumo, consumo de álcool), etc. Rocha (2005) enfatiza ainda que para realizar o diagnóstico, os médicos dispõem de diversos instrumentos, dentre os quais o exame do toque (avaliação das mamas), mamografia (exame radiológico da mama em aparelho específico), ultra- 21 sonografia (mostra imagem das mamas e identifica o volume do tumor), Doppler (mede velocidade do fluxo sanguíneo no tumor), ressonância magnética (exame não-invasivo que pode ser útil na identificação de metástases da doença), cintilografia (também utilizado para rastreamento de metástases, só que à distância), tomografia computadorizada (caracterização de metástases), raio x simples (utilizado para identificar lesões ósseas ou pulmonares causadas pelo tumor mamário) e biópsia (coleta feita por meio de punções do material da lesão no seio para análise e confirmação do diagnóstico). Gomes (1997 apud ANDRADE e DUARTE, 2003) ressalta que o diagnóstico do câncer dependerá do grau de comprometimento da área atingida, prognóstico e tipo de tratamento que será indicado para cada caso. Oliveira (2008) destaca que a mamografia é um dos principais exames de detecção de câncer de mama e que é utilizada em associação com a ultrassonografia, em casos de nódulos palpáveis. Por carregar consigo o aspecto de morte iminente ou mutilação, assim como os demais tipos de câncer, o diagnóstico de carcinoma mamário é visto como ameaça à paciente e a sua família, trazendo em seu bojo seqüelas físicas, sociais e psicológicas para a paciente e seus familiares. “O câncer de mama carrega consigo a desestruturação da mulher e de sua família, pois traz a incerteza da vida, da cura e da integridade física” (ALMEIDA et. al., 2001 apud LOPES, SHIMO e VIEIRA, 2007, p.314). É importante salientar que os aspectos emocionais estão presentes em todas as fases da enfermidade, conforme apontam Silva e Zago (2001 apud LOPES, SHIMO e VIEIRA, 2007, p.312): “as experiências emocionais vividas particularmente influenciam em todo este processo da doença: desde a aceitação, até o tratamento, bem como na qualidade e intensidade da dor”. Esses aspectos estão presentes também na dinâmica familiar da paciente portadora de câncer de mama, em especial na relação marital, por ser essa uma doença que afeta diversos aspectos da vida conjugal, que envolve a aceitação da enfermidade por parte do companheiro, bem como a demanda de seu suporte emocional, as mudanças rotineiras que a doença carrega, o relacionamento sexual que muitas vezes é afetado pela doença e pela mutilação da mama. O efeito que o diagnóstico de câncer de mama carrega é sentido não só pela paciente, mas também pela sua família, tendo em vista que esta é um sistema interligado, com cada um dos membros influenciando diretamente o outro. Desta 22 forma, o papel familiar nesse momento é fundamental no suporte à paciente. Além disso, conforme assevera Costa e Silva (2009) essa enfermidade, por ser crônica, acarreta estresse e sentimentos variados, não somente para a paciente, mas também para a sua família, principalmente nos mais próximos, como o cônjuge, pois é um momento de ameaça à integridade física e psicológica da mulher, e de reajuste da sua rotina diária e dos papéis por ela desempenhados. É necessário considerar qual o tipo e a duração do tratamento, o tipo de cirurgia, bem como a qualidade de vida do casal para avaliar as influências que o diagnóstico de câncer de mama exercerá na realidade familiar da mulher (COSTA e SILVA, 2009). O impacto do diagnóstico será sentido por todos os que constituem o seio familiar, mas é na relação conjugal que ele será profundamente vivenciado em toda sua complexidade, revelando-se ao longo do tratamento. Isso porque é com o marido que na maioria das vezes a mulher mastectomizada convive após a cirurgia. É ele o membro familiar mais provável de estar ao seu lado durante esse processo de adaptação física, psíquica e social, o que não desmerece o fato de que também o marido precisa se adaptar da mesma maneira que sua esposa. Outro aspecto a ser salientado é que o impacto causado pelo diagnóstico de câncer de mama é em parte impulsionado pelo medo do desconhecido. A mulher teme por sua vida, também por seu corpo. Sua família, especificamente o marido, teme pela vida e integridade física da esposa (BERVIAN e GIRARDON-PERLINI, 2006). 2.1 Tratamentos para o câncer de mama Os avanços científicos tem permitido que o diagnóstico de câncer de mama não implique necessariamente em morte. Existem alguns tratamentos direcionados ao câncer de mama, que podem ser aplicados isoladamente ou em conjunto, dentre esses, destacam-se a quimioterapia, a radioterapia, a hormonioterapia e as cirurgias conservadoras e não-conservadoras (mastectomia). Rocha (2005) afirma que o tratamento do câncer de mama possui duas finalidades: controle local da doença e controle sistêmico, objetivando oferecer qualidade de vida às pacientes, com altos índices de intervalo livre da doença e baixas taxas de mortalidade. 23 2.1.1 Quimioterapia A quimioterapia consiste no tratamento de câncer em que são utilizadas diversas drogas no combate e prevenção, visando à diminuição da proliferação celular. Yamaguchi (2002, p. 27) afirma que: O que ocorre é que, além das células cancerígenas, outras células que estão se proliferando rapidamente também tem o seu crescimento paralisado. Assim, células do bulbo capilar, da medula óssea e das mucosas, entre outras, podem se comprometer. Mas isso só ocorre com determinados tipos de drogas, e o medo generalizado de que todos os pacientes em tratamento quimioterápico vão ter os mesmos sintomas não se justifica. De acordo com Rocha (2005) este é um tratamento que objetiva controlar e tratar o surgimento de metástases à distância. A quimioterapia é o principal tratamento no combate ao câncer e é auxiliar após cirurgias conservadoras da mama ou nas cirurgias radicais em que a segurança total do controle da doença não é garantida, devido à extensão do câncer (ROCHA, 2005). Oliveira (2008) enfatiza que em relação à maioria dos casos, a aplicação de medicamentos é feita a cada três ou quatro semanas, em um período médio de seis meses. 2.1.2 Radioterapia Yamaguchi (2002) afirma que a radioterapia é um procedimento de tratamento que atinge a área delimitada, mas que tecidos vizinhos podem ser atingidos, fazendo com que o paciente apresente sintomas colaterais por causa do comprometimento de órgãos atingidos na radiação. É indicada principalmente no auxílio do controle loco-regional do câncer de mama (ROCHA, 2005). A radioterapia é um procedimento feito através de aplicações de radiações parecidas com raios x sobre a região da mama afetada, antes ou após a cirurgia (OLIVEIRA, 2008). Segundo Yamaguchi (2002): Alguns pacientes referem-se a náuseas e cansaço no período de radioterapia, entretanto, esses são sintomas de relativo e fácil 24 manejo. Quando a área irradiada é o cérebro, ocorre a perda dos cabelos, que em geral voltam a crescer após alguns meses. Alterações como essas, de auto-imagem, precisam ser esclarecidas e geralmente uma ponderação entre riscos e benefício consegue a aderência do paciente ao tratamento (p. 26). Isso implica em dizer que o tratamento de radioterapia acarreta alterações da auto-imagem que devem ser explicadas a paciente de forma que a mesma possa aderir ao tratamento. 2.1.3 Hormonioterapia A hormonioterapia é um tratamento utilizado para alguns tumores que tem seu surgimento relacionado à ação de certos hormônios femininos. A técnica consiste em utilizar medicamento anti-hormonal (anti-estrogênico) via oral, de uma dois comprimidos por dia, por no mínimo cinco anos. É um tratamento eficiente para determinadas formas de tumor da mama e não apresenta nenhum efeito colateral grave, sendo as reações a ele extremamente raras. Para tumores que crescem devido à ação de hormônios pode ser indicada pelo médico a retirada dos ovários para diminuir a produção hormonal e melhorar a eficácia do tratamento (OLIVEIRA, 2008). Deve-se salientar também que esses tratamentos trazem geralmente desconforto às pacientes, sejam eles físicos (vômitos, dor de cabeça, queda de cabelos) ou emocionais (impacto da mastectomia, por exemplo), embora não se indique a generalização, pois existem mulheres que não sofrem queda de cabelo após a quimioterapia, por exemplo. Esses fatores também são importantes, tendo em vista que alguns desses efeitos colaterais (como a queda de cabelo) contribuem para afetar a auto-imagem da mulher (YAMAGUCHI, 2002). 2.1.4 Mastectomia De acordo com Oliveira (2008) também constituem tratamento para o câncer de mama as cirurgias conservadoras e não-conservadoras. São exemplos das primeiras a tumorectomia (extração do tumor, do tecido circundante e de uma margem de tecido saudável), a setorectomia (extração do tumor e uma pequena 25 região de margem de segurança) e a quadrantectomia (retirada de um quadrante com pele do seio). Dentre os tratamentos citados anteriormente, que são de ordem generalizada para diversos tipos de câncer e também chamados de conservadores, a mastectomia é o tratamento primário e não-conservador para o câncer de mama, embora atualmente seja cada vez mais substituída por cirurgias mais simples que minimizam a mutilação e permitem a reconstrução da mama (WANDERLEY, 2002). Essas cirurgias são chamadas por Rocha (2005) de conservadoras e são indicadas para tumores pequenos, desde que possa haver segurança oncológica aliada a resultados estéticos satisfatórios. Segundo Andrade e Duarte (2003) a mastectomia é um procedimento cirúrgico que começou a ser utilizado no final do século XIX pelo médico-cirurgião Hasteld, que descreveu e publicou o uso da mastectomia total como a cura para o câncer. Esta técnica consiste na retirada total da mama afetada, mas observa-se que é um procedimento agressivo e traumático para a mulher, pois o seio está intimamente vinculado à estética e imagem corporal. Por esse motivo, atualmente, os médicos têm recomendado a mastectomia apenas para os casos de tumores avançados. Para Rocha (2005) a mastectomia total, também conhecida como técnica de Hasteld, consiste na retirada da mama, incluindo músculos dos peitorais maior e menor, bem como o esvaziamento axilar e que é técnica em desuso nos dias atuais. Atualmente são utilizadas as mastectomias radicais modificadas que são a técnica de Patey (preservação do músculo peitoral maior na cirurgia) e a técnica de Madden (preservação dos músculos peitorais maiores e menores na cirurgia) são empregadas no lugar da técnica de Hasteld. São indicadas para tumores infiltrantes com volumes que não permitem cirurgia conservadora. Técnicas modernas tem sido utilizadas atualmente na cirurgia de câncer de mama. Uma delas é a técnica de linfonodo sentinela, que consiste na identificação de gânglios que realmente devem ser retirados das axilas para análise. Isso porque quando o tumor cresce para se enraizar em outros órgãos, ele tende a invadir primeiro os gânglios das axilas. O uso dessa técnica permite que apenas os gânglios suspeitos de estarem comprometidos sejam retirados. Se eles não estiverem contaminados, implica em dizer que os demais também não estão, e serão preservados. Esse é um avanço na proteção à integridade física da mulher, porque a 26 exime de danos físicos comprometedores como o buraco na axila deixado pela cirurgia, além de dores e inchaços (BUCHALLA, 2004). Segundo Oliveira (2008), o linfonodo é o primeiro a drenar as pequenas metástases do tumor primário. Oliveira (2008) aponta que quando a paciente que realiza a mastectomia apresenta prognóstico satisfatório e boas condições clínicas a cirurgia de reconstrução da mama pode ser indicada, sendo realizada no momento da mastectomia ou mais tardiamente. Esse autor esclarece ainda que dentre as técnicas de reconstrução mamária três são mais conhecidas: a reconstrução utilizando retalhos de musculatura abdominal, a reconstrução com expansor tecidual e a reconstrução com retalhos de musculatura das costas. A primeira dessas técnicas consiste em retirar tecido abdominal inferior e preencher o volume mamário e musculatura abdominal para irrigação vascular da área. A reconstrução utilizando expansor tecidual consiste em colocar por baixo do músculo peitoral um expansor semelhante a uma prótese vazia, que receberá soro fisiológico periodicamente até ficar cheio. A terceira técnica é útil quando o volume mamário não for muito grande. Retira-se um pedaço da parede do tórax (costas) juntamente com o músculo dorsal, sendo algumas vezes necessário o auxílio de próteses para fazer a reconstrução mamária. A cirurgia reconstrutora da mama é um direito da mulher garantido pela lei n° 9.797/1999, que deve ser oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Após o ano de 2001, foi garantido pela lei n° 10.223 que os convênios médicos também devem oferecer a cirurgia de reconstrução das mamas às suas usuárias (OLIVEIRA, 2008). 2.2 Auto-imagem e mastectomia A beleza da mulher é um aspecto valorizado desde a antigüidade. Os efeitos dessa beleza acompanharam épocas importantes da história, desde a derrubada de reinos pela rainha Cleópatra no Egito, perpassando por Eva e a tentação de Adão ao se encantar pela beleza da companheira e comer o fruto proibido, chegando a Virgem Maria, que introduz a beleza feminina não mais como símbolo de luxúria e sim como representante da pureza e da devoção da mulher (MACEDO, 1998; NOVAES, 2003; ARAÚJO, 2004 apud COSTA e SILOS, 2009). 27 Novaes (2003 apud COSTA e SILOS, 2009) aponta que o conceito de beleza feminina, além de enfrentar a ambigüidade que lhe é conferida pelas idéias de pureza e promiscuidade, carrega em seu bojo o atributo da aceitação social. A mulher de beleza socialmente aceita é aquela que deve se manter bela e jovem, e qualquer desvio de caráter que ela possua é deixado em segundo plano em função da sua beleza. Castilho (2001 apud COSTA e SILOS, 2009, p.106) complementa enfatizando que “[...] do nascimento à morte, nossa aparência física é parte importante do que somos, tanto para os outros quanto para nós mesmos.” Helman (2003) define imagem do corpo, ou imagem corporal, como aquela cuja formação é influenciada pelo olhar da sociedade sobre esse corpo, aspectos culturais e a família em que o sujeito está inserido. Castilho (2001 apud COSTA e SILOS, 2009) completa essa afirmação pontuando que boa parte da insatisfação feminina com o corpo tem origem na exigência e estimulação da sociedade, que prioriza a conservação da imagem corporal perfeita, de acordo com os moldes por ela ditados. As conseqüências disso são visíveis: baixa autoestima, sentimentos de rejeição e inadequação, entre outros. Costa e Silos (2009) conferem à imagem corporal negativa ou alterada o desencadeamento de transtornos, em especial se essa alteração for por causa de uma mutilação. Além disso, o modo como a mulher observa sua imagem corporal após a mastectomia terá influência significante em sua adaptação à nova vida, bem como influenciará também o modo como seu companheiro assimilará a sua nova imagem, havendo repercussão também na vida sexual do casal. Embora a técnica empregada na mastectomia tenha evoluído, essa é uma cirurgia mutiladora que deixa marcas não somente físicas, como psicológicas e sociais. Wanderley (2002, p. 95) afirma sobre isso: Quando a mama, símbolo corpóreo carregado de sensualidade, é danificada, a auto-imagem pode alterar-se, acarretando à paciente sentimentos de inferioridade e medo de ser rejeitada. Quanto maior a importância que a mulher confere às mamas, tanto maior o sentimento de perda após a cirurgia. Rodin (1982 apud COSTA e SILOS, 2009) afirma que uma mutilação deixa o ser humano feio, fora dos padrões, necessitando ser reintegrado a si e ao mundo e se essa mutilação no corpo da mulher for no seio, símbolo específico de 28 sensualidade, erotismo e maternidade, os sentimentos de rejeição e insegurança podem ser aumentados. Essa rejeição pode vir tanto dela quanto de seu companheiro, que também está implicado nas conseqüências da cirurgia mutiladora. Oliveira (2008, p. 12) complementa afirmando que “[...] a mama, como órgão de ‘contato e atração’, é também um símbolo extremamente narcisista. Na nossa cultura e também em outras, a mama sempre esteve associada ao símbolo de identidade corpórea feminina e ao sentimento de auto-estima”, ou seja, a cirurgia de mastectomia torna-se mais difícil de ser aceita e adaptável a vida da mulher principalmente pelo valor atribuído ao seio. Os seios representam para a mulher a feminilidade, maternidade, sensualidade, sendo assim, a iminência de uma possível mastectomia pode trazer sentimentos de medo, ansiedade e perda para a mulher e para o seu marido. Sobre esse aspecto, Ferreira (2001 apud BERVIAN e GIRARDON-PERLINI, 2006, p.122) assevera que: A resposta à mutilação é individual e pode estar relacionada a fatores como idade, auto-admiração, estado emocional e situação sócioeconômica. Como em qualquer mutilação, a mastectomia requer, além de cuidados próprios da cirurgia, apoio emocional, objetivando uma melhor compreensão, interação, adaptação e aceitação da autoimagem. Um aspecto importante sobre as implicações da cirurgia de mastectomia total ou parcial na relação conjugal é a influência desse tipo de tratamento na relação sexual. É importante ressaltar que a mastectomia, afeta um órgão enraizado de simbologia sexual não só para a mulher, como também para o seu parceiro sexual. O corpo da mulher, em particular o seio, é carregado de sexualidade, é símbolo de excitação para o homem e de feminilidade para a mulher. Quando a mulher tem sua mama ou parte dela retirada, é provável que sua auto-imagem seja afetada e, conseqüentemente, seu relacionamento com o companheiro também. Isso propicia dificuldades na comunicação, relacionamento com os mais próximos e relacionamento sexual, fazendo com que a mulher se afaste, inclusive pelo medo da rejeição. Wanderley (2002) afirma que os efeitos da mastectomia no relacionamento sexual produzem alterações significativas, em especial porque as pacientes evitam as relações sexuais e tentam adiar a rejeição que supõem que seus companheiros terão por elas. Oliveira (2008) assevera que é natural durante o tratamento a 29 diminuição do desejo sexual, que pode ser causada por insegurança, depressão, medo e até por efeitos dos medicamentos. Murat (1984 apud BIFFI e MAMEDE, 2004) afirma que um dos aspectos relevantes que influenciam o distanciamento do casal e o comprometimento sexual após a mastectomia é que o homem assimila o impacto emocional da cirurgia antes e logo após a operação, já a mulher sofre ainda o impacto até um ano após a cirurgia. Isso é compreensível, tendo em vista que a mulher é a primeira afetada diretamente pela mutilação, enquanto que o homem é afetado de maneira secundária, porém não menos importante. Outro fator importante no comprometimento sexual após a mastectomia é a estrutura anterior da relação conjugal. Wanderley (2002) afirma que a situação emocional de ambos os cônjuges antes da cirurgia de mastectomia, bem como a qualidade da relação sexual afetam diretamente os reflexos da operação sobre a vida do casal. Biffi e Mamede (2004) apontam que se já havia um conflito ou uma comunicação precária entre o casal, incluindo uma vida sexual insatisfatória, esses fatores permanecerão ativos após a cirurgia de mastectomia e dificultarão uma boa adaptação do casal à situação apresentada. É importante que se estabeleça uma boa comunicação e a identificação de problemas passados, para que haja uma melhor adaptação do casal ao novo corpo da mulher e às novas formas de amar e se relacionar sexualmente. Cichelli (2000 apud BIFFI e MAMEDE, 2004) afirma que é o ato de estar junto para ajudar e ser ajudado que contribui para que surjam os esforços provenientes do casal no enfrentamento das adversidades. Biffi e Mamede (2004) complementam afirmando ser de grande importância que o parceiro esteja apto a oferecer afeto, pois dessa forma a paciente poderá se sentir acolhida e compreendida pelo mesmo. O homem precisa entender quais os sentimentos que são despertados em si diante de uma mastectomia. Ele precisa estar ciente disso conhecendo a si mesmo, para poder auxiliar a sua esposa. É na fase de reabilitação da mastectomia que o marido é peça fundamental de suporte e cuidados paliativos, através de um estabelecimento de confiança e bom vínculo afetivo. Isso ocorrerá se por parte dele houver uma boa adaptação à mastectomia e seus efeitos (BIFFI e MAMEDE, 2004). Outro aspecto importante acerca das conseqüências da mastectomia na vida da paciente e seu companheiro são as mudanças na rotina familiar no período pós- 30 cirurgia. A mulher se vê diante de uma impossibilidade temporária de cumprir seus papéis de esposa, mãe e parceira sexual e de acordo com Biffi e Mamede (2004) é importante o suporte dado pelo seu parceiro sexual no ajuste dela à sua nova situação. Este suporte tenderá a refletir no ajuste dele também. 18 CAPÍTULO III: FAMÍLIA, OBJETO E ANSIEDADE ______________________________________________________ 31 A estrutura familiar passou por diversas modificações em seu funcionamento, que implicaram no estabelecimento de modificação de papéis sociais de cada membro e a formação da denominada família moderna (ÀRIES, 1978). Ela possui diversos e singulares significados, porque para cada pessoa ela é representada de uma forma diferente, bem como acompanha as modificações temporais de cada um de nós: temos a família da infância, da adolescência, da adultidade e da velhice. Cada uma delas ocupa espaço de importância atribuído pelo sujeito e traz consigo a função básica de preservação de integridade física e emocional dos seus membros, com conseqüente preservação do grupo em geral (SOUZA, 1985). Essa função refere-se uma troca recíproca de investimento afetivo (PASSOS, 2005). Souza (1985) classifica a família como um sistema vivo, porque ela é formada por membros que se integram compondo o todo, ou seja, a analogia feita pela autora se refere ao fato de que qualquer acontecimento ou comportamento de um membro familiar, exercerá influência direta no funcionamento familiar. Souza (1985) também se refere à família como um sistema aberto, porque ele depende de interação e trocas com o meio no qual está inserido, isto é, com a comunidade. WalrondSkynner (1972 apud SOUZA, 1985, p.61s.) relembra a definição de sistema: Sistema é um conjunto de objetos com relações entre eles e seus atributos. Os objetos são as partes que compõem o sistema, seus atributos são as prioridades dos objetos, e é através de suas relações que o sistema se mantém integrado. Souza (1985) refere-se às fronteiras que o sistema familiar possui, definindoas como delimitações que possibilitam a separação entre subsistemas (indivíduo, família, etc.). Ao mesmo tempo em que delimitam os sistemas, as fronteiras protegem o seu interior de ações desordenadas do ambiente, bem como mediam trocas entre o sistema e o meio externo, através de uma permeabilidade equilibrada. No contexto familiar, essa analogia funciona da seguinte forma: existem sistemas familiares abertos às trocas entre seus membros e destes com a comunidade (permeabilidade necessária) e sistemas fechados, que não permitem essas trocas. Esse autor complementa o seu raciocínio com a seguinte afirmação: “[...] dependendo do grau, essa impermeabilidade poderá ocasionar não só funcionamentos inadequados, como a própria destruição do sistema (p. 67)”. Isso porque as trocas entre os membros de uma família e a comunidade são importantes 32 e necessárias ao bom funcionamento familiar, porque o ser humano não vive isolado. Segundo Souza (1985, p. 68): Os níveis de interação e coesão grupais se mostram muito baixos. Um exemplo são as famílias altamente carentes do ponto de vista econômico, em que a excessiva permeabilidade das fronteiras intrasistêmicas as impede de proporcionar um mínimo de privacidade a seus membros de quem não são ‘continentes’. Se as fronteiras que protegem o sistema familiar e seus membros forem demasiadamente permeáveis, não há individualização dos membros e do meio externo (SOUZA,1985). 3.1 Família e adoecimento Na grande maioria das famílias, vivenciar novos acontecimentos pode causar uma desestruturação na sua dinâmica, pois, esta é considerada um sistema vivo da qual as partes integrantes dependem umas das outras. No caso do câncer, essa desestruturação é ainda mais severa, porque esta enfermidade carrega consigo o estigma da morte. Muitas vezes a família não se encontra preparada para vivenciar e enfrentar o sofrimento do familiar acometido por essa enfermidade, necessitando de apoio e orientação quanto à doença e ao paciente (COBERLLINE, 2001 apud BERVIAN E GIRARDON-PERLINI, 2006). Em relação ao câncer de mama Simontom (1990 apud BIFFI, 2003) esclarece que é importante a família participar da doença da paciente, mas que esta, por ser uma importante rede de suporte, deve levar em consideração o seu bem-estar, porque o diagnóstico de câncer de mama carrega consigo estresse para todos os membros da família, principalmente quando ocorrem as mudanças na rotina diária da família. O afeto da família permite que a paciente adquira certa estabilidade emocional para lutar contra a doença (BERVIAN E GIRARDON-PERLINI, 2006). GIMENES e QUEIROZ (1997 apud BIFFI, 2003, p. 23) complementam a afirmativa com a seguinte observação: “a rede de suporte para a mulher precisa ser, também, alvo de intervenção e deve receber apoio dos profissionais para saber lidar com o contexto estressante gerado pelo diagnóstico de câncer e por seus tratamentos.” 33 Efetivamente em relação ao câncer de mama é necessário apontar que na função de mãe a mulher passa de cuidadora a ser cuidada, havendo uma inversão de papéis que precisa ser observada e elaborada pelo sistema familiar, pois são exigidos cuidados com o período de tratamento, cuidados com o pós-cirurgia, se a mulher for submetida à mastectomia, que abrangem os cuidados básicos como banho, alimentação, vestir-se, etc. A mulher responsável pelos cuidados da casa e dos filhos, passa a depender do marido para realizar essas atividades e as demais atividades básicas citadas (BERVIAN E GIRARDON-PERLINI, 2006). O apoio familiar à paciente com câncer de mama refere-se também às mudanças que ocorrem com a mulher, principalmente as mudanças em relação à imagem corporal com a ocorrência de mastectomia (BERVIAN E GIRARDONPERLINI, 2006). 3.2 Conjugalidade e câncer de mama A conjugalidade vem se transformando através dos tempos porque o ideal de sujeito ainda é um elemento em construção. O amor ainda considerado um importante elemento formador e sustentador da conjugalidade, vem sendo um fator de busca cada vez mais difícil de ser alcançada (FÉRES-CARNEIRO e MAGALHÃES, 2005). O eu moderno está embasado na compreensão de sujeito autônomo, sendo que a conseqüência disso reside no fato de o amor ser utilizado para dar sentido à própria existência desse indivíduo, conforme pontuam Féres-Carneiro e Magalhães (2005, p.112): A relação amorosa inclui a esperança do reasseguramento do eu a partir do outro, nas trocas intersubjetivas. Nela, mais do que em qualquer outra relação, o sujeito ganha um tipo de certeza que pacifica a inquietude da construção de si, mesmo que sem a garantia de amanhã. Atualmente a sociedade se defronta com a quantidade crescente de dissoluções matrimoniais. Os sujeitos tem considerado essa hipótese, mesmo quando o sentimento MAGALHÃES, 2005). é predominante na relação (FÉRES-CARNEIRO e 34 O início de uma família caracteriza-se pela busca de um parceiro que atenda aos anseios do outro. Porém, várias são as hipóteses que são consideradas fundamentais na busca de um parceiro. Segundo Costa e Katz (1992, p.25): [...] a busca de um cônjuge está ligada à satisfação sexual, ao desejo de ser atendido e admirado, ao temor de envelhecer sozinho ou mesmo à obtenção de valores materiais e prestígio social. De acordo com Féres-Carneiro e Magalhães (2005) a literatura psicanalítica relativa às relações amorosas afirma que a conjugalidade tem origem na trama inconsciente familiar de cada um. Isso porque é na relação familiar que o passado e o presente se misturam e são transmitidos aos filhos, associados ao que se espera do futuro. As fantasias, receios e expectativas individuais se entrelaçam aos mitos familiares. A busca pelo parceiro reedita histórias passadas vividas na infância com os pais, os mitos familiares. A conjugalidade dos pais, dessa forma, refletirá no desenvolvimento afetivo e sexual dos filhos ao estarem diante da relação conjugal (FÉRES-CARNEIRO e MAGALHÃES, 2005). Encontrar o parceiro conjugal possibilita a elaboração de conflitos infantis vividos na relação edípica do sujeito com os pais. Passado e presente se entrelaçam na busca pelo outro (FÉRES-CARNEIRO e MAGALHÃES, 2005). Essa busca, quando positiva, concretiza-se na união de um casal e da família definitivamente formada. Nessa visão, o casal que resolve se unir através dos laços matrimoniais passa por transformações inconscientes, pois, dentro desta relação irão buscar resolver os antigos conflitos que se originaram na infância (COSTA e KATZ, 1992). Ainda de acordo com os autores: [...] as experiências da infância estão marcadas por satisfações, frustrações e conflitos não resolvidos, sendo que o mais importante deles é o conflito edípico. [...] A qualidade dos vínculos criados no convívio familiar, durante a primitiva infância, configura um padrão básico de relacionamento na mente da criança, o qual ela tenderá a repetir e a recriar ao longo de seu desenvolvimento. Este modelo infantil de relação atinge uma de suas culminâncias por ocasião do casamento quando, melhor do que em outra qualquer situação, o indivíduo torna-se protagonista da admirada, invejada e excludente relação dos pais (p.26). 35 Além disso, desde a concepção o sujeito é marcado pelo olhar dos pais, que projetam no bebê o seu ideal narcísico e seus mitos familiares, que vão se inscrever no psiquismo e constrem a estrutura psíquica do sujeito, que posteriormente constituirá outro bebê. O ideal de conjugalidade é formado no psiquismo do sujeito a partir das experiências infantis em relação à conjugalidade de seus pais (FÉRESCARNEIRO e MAGALHÃES, 2005). A tentativa de resolver conflitos infantis está vinculada a busca pelo objeto de desejo perdido inicialmente na infância. No casamento quando este é reencontrado, o casal tem a oportunidade de resolver esses conflitos primeiramente, através de um acordo inconsciente, que para Pincus e Dare (1981 apud COSTA E KATZ, 1992, p.40) significa: [...] Sua forma é mais ou menos assim. ‘Eu tentarei ser alguma das coisas mais importantes que você quer de mim, ainda que algumas delas sejam impossíveis, contraditórias e loucas, desde que você seja para mim algumas das coisas impossíveis, contraditórias e loucas que eu quero que você seja. Não precisamos contar um ao outro o que estas coisas são, mas ficaremos zangados, aborrecidos ou deprimidos se não formos fiéis a isso. Este acordo, quando cumprido com respeito mútuo entre ambas as partes, gera um círculo de confiança que se renova ao passo que o casal convive; estes por sua vez aprendem a respeitar a individualidade do outro, mantendo-se unidos através do casamento. Porém, nesta relação a dois, eventos podem vir a ameaçar a relação conjugal. Na maioria das vezes, isto acontece quando o pacto secreto é quebrado por algum fator que fez com que um dos cônjuges se sentisse ameaçado, vivenciando uma ansiedade por algo que possa vir a ser perdido (COSTA e KATZ, 1992). Para Freud (1925, p.164): “[...] A ansiedade vem a ser uma reação ao perigo de uma perda de objeto.” Essa perda no câncer de mama pode se referir ao seio no momento em que se pensa em mastectomia. Segundo Freud (1915, p. 395) “É realmente o conhecimento superior que promove a ansiedade, porque possibilita um reconhecimento muito precoce do perigo.” Dentro dessa perspectiva, se faz necessário destacar que no caso do cônjuge (marido), este objeto provocador de ansiedade pode ser o seio, símbolo de alimento e feminilidade da mulher. Para este marido, se deparar com o pensamento 36 de que um dia esse seio possa novamente lhe ser tirado, faz com que promova ainda mais a sua ansiedade. 3.3 Mastectomia e sexualidade Para Gradim (2005) a mama é um órgão que sofre alterações durante a vida da mulher. Símbolo de identificação de feminilidade e sensualidade e mesmo estando longe anatomicamente dos órgãos genitais, ela tem relação direta com estes devido às alterações dos hormônios sexuais, bem como porque esse órgão duplo é sensível ao toque. Dessa forma, a mama faz parte das atividades sexuais, sendo assim um órgão erótico e símbolo de beleza. Ainda para essa autora a mama é um órgão participante da sexualidade do casal. No ato sexual as carícias preliminares entre os parceiros é um elemento importante, embora nem sempre presente. As zonas erógenas como a mama sendo estimuladas levam à lubrificação dos genitais, que se preparam para o ato sexual. Dessa forma, cabe ressaltar que, diante do câncer de mama e da mastectomia, a dificuldade de ter o corpo mutilado pode desencadear sentimentos que precisam ser trabalhados de forma introspectiva para que a situação seja encarada de forma saudável e, quando essa mutilação ocorre em um órgão de identificação erótica da mulher, muitas vezes o cônjuge é levado à necessidade de reconstruir um novo conceito sobre esse novo corpo e assim o casal poder reconstruir a relação amorosa (GRADIM, 2005). 31 CAPÍTULO IV: O SIMBOLISMO DO SEIO _______________________________________________________ 37 4.1 O seio simbólico O seio é uma parte do corpo feminino que carrega características significantes na vida da mulher por que possui diversos significados: ele identifica a feminilidade, está relacionado ao erotismo e à sexualidade e também à amamentação (ZECCHIN, 2004). Dentro da abordagem psicanalítica, o seio é compreendido como uma parte do corpo para onde a pulsão libidinal do bebê se volta nos primeiros tempos de vida. Atendo-se às questões relativas à sexualidade, pode-se abordar conceitos dentro dessa abordagem sobre a representação simbólica desse seio para o homem. 4.2 O simbolismo do seio na teoria de Melanie Klein e Winnicott Os sentimentos e fantasias infantis deixam marcas na mente que ficam armazenadas e exercem influência de forma contínua na vida emocional do indivíduo. Uma dessas experiências marcantes é a gratificação experimentada pelo sujeito na infância através da amamentação (KLEIN, 1945). Após o nascimento, o bebê estabelece uma relação de simbiose com a mãe, ou seja, mãe e bebê significam uma só pessoa para este recém-nascido e inicia-se então uma relação de objeto. Este é definido por Laplanche (2001) como um elemento pelo qual a pulsão procura atingir a sua satisfação. Segundo Klein (1945) aparentemente todo estímulo que a criança recebe gera fantasias imediatamente, ou seja, a frustração provoca fantasias agressivas e a gratificação gera fantasias concentradas no prazer. O objeto inicial dessa atividade psíquica é o seio materno, porque o bebê se interessa pela gratificação imediata ou pela ausência desta gratificação. O seio que frustra e o seio que gratifica são para a criança o seio bom e o seio mau. Aquele representa o protótipo de tudo o que é percebido na vida da criança como benévolo e o seio mau representa o que é ruim ou perseguidor. Esta última característica ocorre devido à projeção (o bebê projeta no seio o ódio que dirige contra ele mesmo). Ao mesmo tempo a introjeção também acontece, ou seja, a criança por meio de sua atividade mental relacionada à fantasia absorve todas as percepções do mundo externo (KLEIN, 1945). 38 Klein (1945, p. 331) define que na primeira relação objetal “a primeira gratificação que a criança obtém do mundo externo é a satisfação que obtém ao ser alimentada”. Essa gratificação ocorre dentro da relação objetal inicial, em que a pulsão parcial se dirige a um objeto parcial. Laplanche (2001, p. 325) declara sobre o objeto parcial: Tipos de objeto visados pelas pulsões parciais, sem que isso signifique que uma pessoa, no seu conjunto, seja tomada como objeto de amor. Trata-se principalmente de partes do corpo, reais ou fantasísticas (seio, fezes, pênis) e dos seus equivalentes simbólicos. Até uma pessoa pode identificar-se ou ser identificada com um objeto parcial. Partindo dessa definição, observa-se que o seio, como objeto parcial, é um elo de ligação físico (por satisfazer as necessidades de nutrição) e simbólico (por ser um intermédio na relação objetal) do bebê com a mãe, auxiliando o processo de internalização dessa figura materna. Em relação ao desmame, quando o bebê solicita o seio e ele não vem, ela sente como se o tivesse perdido para sempre e por estar a mãe relacionada a esse seio, o bebê acredita ter perdido também a mãe, seu objeto de amor, a mãe real e a mãe boa interiorizada. O medo de perder se mescla ao sentimento de culpa que o bebê carrega por acreditar que está sendo castigada devido ao fato de destruir o seio devorando-o. O desmame, embora seja um ato aparentemente simples, reforça o surgimento desses sentimentos mesclados, por ser essa uma situação que coloca o bebê diante da perda real, em que seio e mamadeira desaparecem definitivamente (KLEIN, 1945). A experiência primitiva de satisfação do bebê em relação ao seio materno levará tanto à alucinação quanto à busca e uma ação que o leve à prova de realidade, bem como à constituição da erogeneidade do bebê. O contato corporal bebê-mãe, inicialmente com o objeto parcial seio será associado de forma irreversível à representação da frustração e satisfação, a representação do seio é uma memória do objeto que será reativada nos estados de tensão ou de desejo (ZECCHIN, 2004). Winnicott (1975) afirma que o seio é criado pela criança diversas vezes pelo amor e pela necessidade. Este mesmo autor confere a maternagem o papel de gratificar e frustrar a criança. Menciona também que o seio é um objeto real proporcionado pela mãe que, através das adaptações que faz às necessidades do 39 bebê, permite a ele a ilusão do real, bem como a utilização de objetos transicionais. Estes são a primeira possessão do bebê. Através deles há a possibilidade de intermediação na relação estabelecida entre chupar o dedo, pegar o seio da mãe e a aquisição de outras atividades, como colocar um brinquedo na boca, por exemplo. Estes objetos permitem a passagem pela primeira relação oral com a mãe até chegar a real relação de objeto. O seio é o primeiro representante de um mundo além da simbiose mãe-bebê, ou seja, é através desse primeiro contato com um objeto parcial que o bebê poderá captar sinais externos através de sua percepção. Cria-se um espaço onde os sentidos informarão o que o bebê sente e estes sinais constituirão fantasmas, ou seja, o que o bebê interpreta sobre a experiência e seus pensamentos (ZECCHIN, 2004). 4.3 O seio e a sexualidade na teoria de Freud No estágio inicial de desenvolvimento psíquico da criança o primeiro objeto de desejo é o seio materno, porque através do contato boca-seio o bebê não somente supre as necessidades alimentares vitais, como também na sua fantasia ele absorve o mundo externo; não é só a boca, mas todo o corpo do bebê (através da respiração, do toque e de todos os sentidos) realiza essa absorção (KLEIN, 1945). Nessa fase, o apego inicial da criança a partes do corpo ou objetos parciais é comum. O mundo do bebê relacionado a objetos durante os primeiros dois ou três meses de vida consiste na relação com objetos parciais que gratificam e frustram no mundo real. A partir desse momento a criança começa a ver a mãe como um todo, um objeto total, inteiro. A criança passa a perceber que o rosto que lhe observa enquanto ela mama, o seio que está lhe alimentando, o sorriso e as mãos que lhe oferecem carinho pertencem a uma única pessoa. Essa capacidade de perceber totalmente se espalha para o mundo externo a partir da confiança que é adquirida pelo bebê quando lhe é assegurado o prazer nos objetos totais (KLEIN, 1945). Além do papel de satisfação das necessidades nutricionais do bebê, o seio materno é o intermediário do contato entre bebê e objeto total (mãe) conforme afirma Klein (1945, p. 331): 40 A análise demonstrou que apenas parte dessa satisfação resulta do alívio da fome e que a outra parte, igualmente importante, decorre do prazer que o bebê sente quando sua boca é estimulada ao sugar o seio da mãe. Essa gratificação é um elemento fundamental da sexualidade da criança – na verdade, é sua expressão inicial. Os objetos citados por Melanie Klein também são tema importante na obra freudiana, na qual o foco se encontra na relação objetal, pois é através das transformações que as relações de objeto permeiam o desenvolvimento psicossexual que o adulto escolherá ou reencontrará o seu objeto de amor. Segundo Silva (2005, p. 27): Em Freud a noção de objeto está ligada a de pulsão e ao trabalho de representação cujo registro tópico é, para ele, representação do objeto. Há, na teoria freudiana, um lugar determinante do objeto, uma vez que este é aquilo por meio do qual a pulsão atinge o alvo, ou seja, pelo qual o sujeito busca satisfazer-se. Essa pulsão passará por transformações na sexualidade infantil. Freud (1905) na sua obra “Três Ensaios sobre a Sexualidade” afirma que a pulsão sexual está presente já na infância, fato que pode ser observado a partir das manifestações sexuais infantis. O chuchar9 é uma das vias pelas quais a criança obtém satisfação, pois este sugar alcança a atenção completa do bebê e o leva ao adormecimento ou reação motora, que pode ser comparada ao orgasmo (FREUD, 1905). A pulsão sexual infantil inicialmente é auto-erótica, ou seja, não está dirigida para outra pessoa, sendo satisfeita através do próprio corpo. Os lábios do bebê são zonas erógenas10 devido à estimulação do fluxo do leite materno advindo da primeira atividade relacionada à experiência de prazer: mamar no seio materno ou em seus substitutos. O alvo sexual da pulsão infantil é a satisfação gerada pela estimulação apropriada da zona erógena escolhida, sendo que esta satisfação tem que ser vivenciada antes para poder ser repetida. No caso da zona labial, como colocado anteriormente, é o contato desta parte do corpo com a alimentação através da amamentação que provoca o prazer. A zona erógena da genitália será notada 9 De acordo com Freud (1905) o chuchar consiste na repetição rítmica de um contato de sucção com a boca (lábios), do qual está excluído qualquer propósito de nutrição. 10 Para Laplanche (2001) as zonas erógenas são certas regiões que são carregadas de fonte de excitação, por exemplo: zona oral, zona anal, zona uretro-genital, mamilo, etc. 41 ainda na infância, sendo fonte de satisfação a partir da estimulação sensorial apropriada. Freud (1905, p. 220) complementa o pensamento: Pelo estudo dos distúrbios neuróticos observamos que é possível identificar na vida sexual infantil, desde seus primórdios, os rudimentos de uma organização dos componentes sexuais da pulsão. Numa primeira fase, muito precoce, o erotismo oral fica em primeiro plano; uma segunda dessas organizações ‘pré-genitais’ caracteriza-se pela pré-dominância do sadismo e do erotismo anal; somente numa terceira fase (desenvolvida na criança apenas até a primazia do falo) é que a vida sexual passa a ser determinada pela contribuição das zonas genitais propriamente ditas. A fase genital ocorre após o período de latência (há uma condução da pulsão para atividades intelectuais e outras demais que não tenham como alvo a sexualidade), e nela a pulsão dirige-se agora para a zona genital e posteriormente para o objeto escolhido, ou seja, a relação deixa de ser auto-erótica e passa ser voltada para um outro, de acordo com a primeira relação originária com a mãe e o amamentar. Freud (1905) apontou em seus estudos sobre a sexualidade infantil que esta, nos primeiros tempos de vida, está associada ao prazer proporcionado pela nutrição e a pulsão sexual estava voltada para o objeto fora de seu corpo, o seio materno. No desmame o bebê perde o seio e talvez nesse momento, a criança será capaz de enxergar a mãe como um outro completo. Freud (1905) afirmou ainda que esse objeto de pulsão perdido através do desmame será buscado na vida pulsional adulta, afirma ainda que o encontro do objeto para onde será encaminhada a pulsão sexual, será na verdade um reencontro deste. Para ZECCHIN (2004) o seio é o objeto fundante do sujeito na sua relação com os mundos interno e externo. Isso porque é a partir da relação primeira com a mãe que a criança poderá se abrir para outras relações com o mundo, sempre tomando como base a relação primeira com esta mãe, que será uma matriz relacional para as relações futuras do bebê. 4.4 Estado de desamparo diante da perda Para Laplanche (2001, p.112) o estado de desamparo significa: 42 Termo da linguagem comum que assume um sentido específico na teoria freudiana. Estado do lactente que, dependendo inteiramente de outrem para a satisfação de suas necessidades (sede, fome), é impotente para realizar a ação específica adequada para pôr fim à tensão interna. Para o adulto, o estado de desamparo é o protótipo da situação traumática geradora de angústia. Como situação traumática Laplanche (2001) explica que esta é a situação de desamparo em que o perigo real (físico) e o perigo instintual (psíquico) são confrontados com a força do ego que o sujeito possui para enfrentá-los. Freud (1926) apontou para uma característica comum ao que ele denominou de perigos internos (perda ou separação), que provocam sentimento de tensão e falta de domínio das excitações, acarretando no sentimento de desamparo. Freud (1926) afirmou ainda que o bebê humano nasce naturalmente prematuro, ou seja, antes de estar completo para enfrentar os perigos do mundo exterior, necessitando de alguém que o cuide. Ele é jogado no mundo exterior, forçando dessa forma a diferenciação abrupta entre ego e id. Os perigos do mundo são exagerados e o objeto será o único capaz de proteger o bebê e substituir o paraíso perdido do útero materno. As primeiras situações de perigo ao bebê são criadas pelo fator biológico da precocidade acima descrita, resultando na necessidade do bebê de ser amado e que nunca será abandonada pelo homem. Freud (1926, p.162) afirma ainda: Uma situação de perigo é uma situação reconhecida, lembrada e esperada de desamparo. A ansiedade é a reação original ao desamparo no trauma, sendo reproduzida depois da situação de perigo como um sinal em busca de ajuda. A situação de desamparo é sempre revivida pelo ser humano quando este está diante do perigo de perdas, sejam elas quais forem, desde que sejam de importância para o sujeito. A situação original do desamparo aconteceu primeiramente na perda do útero materno, após isso, a perda do seio materno (desmame) e assim sucessivamente. Em sua relação objetal com o outro, o sujeito, desde bebê estará sempre diante dessas perdas e do luto que advém delas, processo este normal quando a auto-estima não for afetada. 37 CAPÍTULO V: ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 43 Foram realizadas seis entrevistas, dentre elas dois casais foram entrevistados, sendo escolhidos como amostra para a análise de conteúdo. A análise dos resultados permitiu a subdivisão dos dados coletados em oito categorias, quatro para as mulheres e quatro para os seus cônjuges- acompanhantes. 5.1 Caracterização dos casais entrevistados Compõem a amostra deste estudo dois casais que aceitaram participar da pesquisa e assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido concordando com o uso de gravador (Apêndices: A-1, A-2, B-1, B-2). Os nomes foram trocados por nomes fictícios pela ética e proteção da integridade dos casais entrevistados. Casal 1: João e Maria Maria tem trinta e sete anos, reside na cidade de Belo Jardim-PE, fez mastectomia total do seio sem reconstrução mamária, a suspeita de câncer se iniciou há um ano e meio. Agora Maria faz sessões de quimioterapia toda semana no CEOC, é casada com João, que segundo a mesma, sempre a acompanha em todos os exames e procedimentos desde o início de sua enfermidade. Durante toda a entrevista Maria demonstrou ser pessoa tímida, porém comunicativa, além disso, foi colocado em seu discurso a admiração e agradecimento ao seu esposo por este estar sempre ao seu lado. Apesar disso, Maria relata que o relacionamento sexual com o esposo foi afetado depois da mastectomia, mas que no momento essa fase foi superada. João (quarenta e três anos) relata que sempre acompanhou Maria desde que descobriram a sua enfermidade. Em seu discurso demonstra ter bom relacionamento com a esposa e ser um marido compreensivo e companheiro. Para ele a mastectomia foi enfrentada como algo difícil, porém passível de superação. João relata que para ele o que é de importância é o fato de sua esposa Maria estar viva e que a ausência do seio não se constitui como incômodo ou empecilho ao relacionamento sexual, relata apenas que o incômodo é o uso da camisinha, que foi recomendado pelos médicos. 44 Casal 2: Carlos e Rosana Rosana tem cinqüenta e nove anos, é casada com Carlos, foi submetida à mastectomia total e não fez reconstrução mamária, há dois anos, freqüenta o CEOC para exames de rotina e acompanhamento psicológico devido às alterações surgidas no relacionamento sexual com o marido após a mastectomia. Durante a entrevista Rosana demonstrou se sentir incomodada com a falta de relacionamento sexual com o esposo. Chorou ao falar da perda do seio e falou que o problema sexual com o esposo começou há dois anos, quando retirou o seio. Carlos (sessenta e um anos) durante a entrevista afirmou que acompanha a esposa em seu tratamento desde a descoberta do câncer. Demonstrou preocupação ao falar sobre a descoberta da enfermidade, do medo de perder a esposa. Sobre o relacionamento sexual Carlos afirmou não se sentir incomodado com ausência do seio da esposa e sim que está em idade já um tanto avançada e que por isso está tendo problemas de impotência sexual. Nos perfis dos casais apresentados, ambas as esposas afirmaram ter sentido ou sentem ainda (caso de Rosana) dificuldades do relacionamento sexual. Já para os cônjuges essas modificações aparentam não terem sido sentidas pela ausência do seio, mas por intercorrências relativas à idade e uso de preservativos. 5.2 Estudo qualitativo-descritivo Gil (2009) afirma que o estudo de campo visa aprofundar determinadas questões propostas, focalizando uma comunidade (de trabalho, de estudo, etc.) Suas técnicas são basicamente a observação e a entrevista. O estudo de campo é flexível porque seus objetivos podem ser reformulados durante a pesquisa. Este trabalho utilizou o estudo de campo de natureza qualitativa e descritiva, cujo objetivo foi a identificação de sentimentos do cônjuge-acompanhante da esposa mastectomizada, sendo a coleta de dados realizada através de entrevista semiestruturada com uma amostra de dois cônjuges-acompanhantes e suas duas esposas mastectomizadas totalmente. 45 5.3 Caracterização do local de pesquisa O Centro Oncológico de Caruaru-PE (CEOC) é uma clínica de tratamento de diversos tipos de câncer, inclusive o de mama, onde os pacientes são encaminhados com resultados de biópsia para diversos tipos de tratamento, dentre eles: cirurgia, mastectomia, quimioterapia, radioterapia. Conta atualmente com enfermeiros, médicos, oncologista, psicólogo, recepcionistas na equipe de atendimento a esses pacientes. O estudo foi realizado por intermédio dos profissionais que atuam no CEOC que encaminharam as demandas de casos atendidos que se encaixavam com o perfil da pesquisa. Nos três momentos da pesquisa de campo, foi identificado que o perfil das mulheres mastectomizadas que freqüentam o CEOC não inclui os cônjuges como acompanhantes e participantes da enfermidade e tratamento das esposas, fato este que possibilitou as alunas pesquisadoras realizar um estudo de campo com uma amostra de dois casais com faixas etárias de trinta e cinco a sessenta e um anos, ao invés de dez casais com faixa etária de trinta a quarenta e cinco anos, como era o objetivo inicial. 5.4 Aspectos éticos do estudo de campo De acordo com a Resolução n° 196/96 do Conselho Nacional de Saúde o presente trabalho foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade do Vale do Ipojuca (CEP-FAVIP) inscrito no protocolo n° 0002/2010 e aprovado em reunião no dia 07/06/2010, sendo emitido parecer favorável á pesquisa em 22/06/2010 (ANEXO). Além disso, foi apresentada Carta de Anuência ao CEOC (Apêndice D) assinada pelas alunas pesquisadoras e sua professora orientadora. Foi apresentado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido aos participantes da pesquisa, que concordaram com o teor do documento e aceitaram que fosse utilizado o gravador durante as entrevistas. 46 5.5 Coleta de dados Para a coleta dos dados as alunas pesquisadoras estiveram no CEOC um mês antes para conhecer o local do estudo e identificar a demanda local. Por intermédio da Psicóloga que atende os pacientes do local, foi feito o contato com os demais profissionais a partir do segundo e terceiro encontro e dessa forma identificados os dois casais que participaram da pesquisa. O contato inicial foi feito a partir da apresentação da proposta da pesquisa, bem como da leitura minuciosa dos Termos de Consentimento Livre e Esclarecido para cada casal, sendo as entrevistas realizadas separadamente. As entrevistas foram realizadas em dois dias, cada dia para um casal e cada uma delas com duração mínima de quinze minutos. 5.6 Instrumento de coleta de dados Para coletar os dados no estudo de campo foram realizadas entrevistas semiestruturadas para os esposos e as companheiras (Apêndices C-1 e C-2), nas quais as perguntas norteadoras foram elaboradas de acordo com o objetivo do trabalho. As entrevistas foram realizadas separadamente, ou seja, o cônjugeacompanhante não estava presente quando sua esposa foi entrevistada, bem como esta não estava presente quando seu marido foi entrevistado. Essa conduta foi escolhida pelas alunas pesquisadoras para permitir que cada um expusesse seus sentimentos de forma clara e sem se sentir coagido pela presença do outro, além da importância que o sigilo tem para esse tipo de instrumento de coleta de dados. Não foi possível o uso de uma sala do CEOC porque todos os consultórios estavam ocupados, porém foi utilizado espaço sigiloso nas salas de espera dos atendimentos. 5.7 Análise e interpretação dos dados Gil (1999) afirma que a análise e interpretação dos dados são elementos estreitamente relacionados dentro dessa fase de pesquisa, sendo que análise tem como objetivo a organização dos dados coletados de forma que seja possível o 47 fornecimento de respostas ao problema proposto. Na interpretação existe a procura do sentido amplo das respostas e sua ligação a outros conhecimentos anteriormente obtidos. Ainda para Gil (1999) devido às variações de resposta obtidas na pesquisa, surge a necessidade de agregá-las em categorias para que possam ser devidamente analisadas, de forma que estas categorias devem ser formadas por um único princípio de classificação. No presente trabalho a análise e interpretação dos dados obtidos foi feita a partir de quatro categorias relativas à esposa mastectomizada e quatro categorias relativas ao cônjuge-acompanhante, agregadas de acordo com as perguntas norteadoras e com o assunto a ser analisado. Foi realizada análise de discurso, na qual foram selecionados trechos importantes das entrevistas para melhor articulação com as categorias, que foram corroborados com o referencial teórico apresentado neste trabalho. 5.7.1 A percepção da perda do seio pela mulher O seio é um órgão importante para a identidade feminina da mulher porque é carregado de características singulares em relação a esta e que são referentes à sua sexualidade, sensualidade, maternidade e toda a identificação da mesma, além de ser um órgão erógeno (ZECCHIN, 2004). Por ter o seio essa importância para a identidade da mulher e, além disso, por ser o câncer uma doença que carrega em seu bojo a ameaça de morte, a perda do seio pela mastectomia é vivida pelo ego como um luto, não só do órgão, mas das experiências e fantasias que se associam a ele através de representação simbólica (ZECCHIN, 2004). Através da fala de Maria, é possível identificar o seu medo de morrer, ao ser perguntada sobre o sentimento de se ver sem o seio e ela relatou que sentiu desespero, sendo questionada sobre o porquê do sentimento, Maria respondeu: Quando eu descobri foi um desespero, eu chorei muito, mas minha família me conformou muito, meus colegas, meu marido, nunca saiu de perto de mim, está me apoiando desde o primeiro dia, nunca me deixou pra nada. Que eu ia morrer. Que pra mim não tinha mais 48 solução. Pensei muito nos filhos, né, que eu tenho quatro filhos, né. Fiquei muito desesperada (Maria, 37 anos, esposa de João). Sentimentos emergem da perda de uma parte de si, no caso de Rosana, um dos sentimentos apontados foi a angústia através do sentimento de perda de uma parte do corpo: Ah, é meio difícil, né, tem hora que faz, assim, a gente pensa, fica, como é que se diz, é...deixa eu ver um termo assim, uma palavra, assim, fica sentida né, com aquilo né, a gente fica ressentida, acho que não tem quem se acostume com a falta de uma parte do corpo, né, seja ela qual for, eu acho que Deus quando fez a gente fez perfeito, né, com todos os nossos membros, órgãos, né, e quando um se vai é motivo de... eita, a palavra não me veio agora, assim à mente, né...é motivo de angústia, de tristeza, de depressão...a gente fica deprimido, pronto, a palavra exata que eu queria...a gente fica deprimido, né, a gente nunca deixa de ter assim, de vez em quando, esse sentimento volta, né, esse sentimento de perda, né, a gente fica deprimido (Rosana, 59 anos, esposa de Carlos). Laplanche (2001) define a angústia como uma reação do sujeito frente a uma situação traumática, que ele é incapaz de dominar. Camargo e Souza (2003 apud LOPES, SHIMO e VIEIRA, 2007) afirmam que os sentimentos da mulher mastectomizada são trazidos pela mutilação em um turbilhão de emoções, com as quais ela se sente perturbada e muitos sentimentos de ordem negativa podem surgir nessa fase do tratamento do câncer de mama. Rosana sente a falta de uma parte de seu corpo, retirada pela mutilação e por conta disso ainda não se acostumou com a mastectomia. 5.7.2 Mastectomia e auto-imagem A mastectomia altera a imagem corporal da mulher, bem como sua autoimagem sexual, podendo repercutir na sua vida cotidiana, desencadeando sintomas como depressão e ansiedade. Isso porque a cirurgia carrega consigo um caráter agressivo e traumatizante, o que leva a uma desfiguração e conseqüente modificação da auto-imagem da mulher (BARBOSA, PINHEIRO E XIMENES, 2004). As alterações provocadas pela cirurgia são vividas no corpo da mulher por meio de desconforto e estranhamento em relação ao seu esquema corporal atual (ZECCHIN, 2004), conforme pode-se perceber no discurso de Rosana: 49 Tem gente assim que aceita, se conforma, né, mas tem gente que sente que nesse momento, né, que no caso eu só me lembro assim, no momento que eu passei numa vitrine, aí vejo uma coisa que poderia ficar bem em mim, aí eu penso na parte que perdi, né, aí aquilo já...já magoa, né, é, a gente é perde o gosto assim , né, fica pensativa, pronto, nesse sentido (Rosana, 59 anos, esposa de Carlos). Zecchin (2004, p.134-135) afirma que: “[...] a perda do seio implica lidar com representações ligadas ao seio, em particular, e ao corpo, em geral, passando por todo o processo identificatório da mulher em relação [...] ao seu narcisismo, sua imagem, sua sexualidade.” Arán (1996 apud ALMEIDA, 2008) afirma que após a mastectomia a mulher pode se sentir estranha, manifestar sentimentos de vergonha e embaraço, bem como ter dificuldades no relacionamento com o marido, podendo também se sentir sexualmente repulsiva. No caso de Rosana, despir-se na frente do marido ainda é uma barreira por ela mesma ainda não estar adaptada ao corpo, conforme relata em sua fala: Só não na frente do marido, na frente do marido num tem jeito, né, nem de eu me vesti nem de despi, aí na frente dele, não tem como, no caso em mim, né (Rosana, 59 anos, esposa de Carlos). A palavra câncer ainda é estigma para a maioria das pessoas. Para a mulher, estar com câncer de mama pode ser um grande constrangimento porque os procedimentos de tratamento alteram sua imagem corporal e repercutem no seu convívio social (RÉGIS e SIMÕES, 2005), fatores identificados na fala de Maria: Não, eu achei que ele que, o meu marido não ia me querer mais por causa do corpo, eu chorava muito, passava noite sem dormir, mas depois...passou (Maria, 37 anos, esposa de João). Para Maria, a única dificuldade com a adaptação à auto-imagem referiu-se ao temor da não-aceitação do marido. 5.7.3 Percepção do relacionamento sexual Barbosa, Pinheiro e Ximenes (2004) expõem que a remoção cirúrgica da mama, interfere na percepção da imagem corporal e conseqüentemente na relação 50 marital. Devido a essas distorções, muitas mulheres vivenciam mudanças na sexualidade após a mastectomia. A qualidade de vida conjugal é de suma importância para que haja apoio, afeto e compreensão por parte do marido. Esses autores pontuam que o relacionamento marital é estruturante para a reestruturação da integridade da mulher. Esse fato pode ser identificado na fala de Maria, que relata: Eu achei que ele que, o meu marido não iria querer eu por causa do corpo, eu chorava muito, passava noite sem dormir, mas depois... passou. Com a ajuda do meu marido, da minha família, de todo mundo (Maria, 37 anos, esposa de João). Por conseqüência da mutilação causada nos casos cirúrgicos da retirada da mama, a mulher se sente diminuída na sua feminilidade, atratividade e sexualidade, a presença do companheiro se torna imprescindível para esta reestruturação. Na fala do cônjuge de Rosana, pode-se perceber que problemas de natureza sexual não se dão apenas ao fato de não existir um seio: Às vezes se sente rejeitada, aí coisa que num é, né, num compreende e tem mais um detalhe, a idade que as pessoas vão atingindo, a pessoa de sessenta anos não é mais uma pessoa de cinqüenta, nem quarenta, nem de idade [...] (Rosana, 59 anos, esposa de Carlos) Neste contexto Barbosa, Ximenes e Pinheiro (2004) afirmam que o relacionamento sexual é um requisito essencial, pois a mesma defronta-se com a deformidade física e se constrange para reassumir suas atividades sexuais. Rosana relata sua dificuldade de despir-se na frente do marido e de como sente que está sua relação sexual com ele após a cirurgia: [...] mas também porque eu era e sou uma pessoa muito tímida, muito retraída, muito recatada, mesmo antes dessa perda assim, num se lava roupa na frente do marido né (sorriso), eu não sei dessa nova geração [...] mas a gente é de geração passada, de uma criação muito rigorosa, a gente é pudorosa né, tem pudor, né, de, pronto aí já diante disso, de ... de ter perdido aí é que ficou pior, no meu caso ficou, né. Afetou. A minha afetou... assim, não da minha parte, assim, entendeu, mas da parte dele, da parte dele eu notei que ele, ele, não acho que, eu não sei o que acontece, ele... ficou traumatizado e num consegue (Rosana, 59 anos, esposa de Carlos). 51 Sendo assim, ao se deparar com o câncer de mama, muitas mulheres relatam sentimentos de medo, tristeza, vergonha e a retirada da mama reflete como uma ameaça à sua sexualidade e conseqüentemente ao seu casamento. 5.7.4 Cuidados com o pós-operatório A mastectomia implica em cuidados pós-cirurgia, principalmente porque podem surgir algumas complicações após esse procedimento como dores e restrição ao movimento do ombro, edema (inchaço) do braço, bem como falta de sensibilidade no mesmo (OLIVEIRA, 2008). Também a quimioterapia adjuvante11 e a radioterapia podem ser continuadas no tratamento pós-cirurgia, como foi o caso de Rosana: Então, no caso aí tive que fazer quimio, quimioterapia, radioterapia e todo esse processo que me debilitou, num tinha condição, né, nem emocional nem física, né (Rosana, 59 anos, esposa de Carlos). Além desses cuidados, também a família, em especial os companheiros das mulheres mastectomizadas que passam pela pós-cirurgia necessitam de apoio e suporte psicológico. Eles poderão fornecer esse suporte quando puderem oferecer uma sustentação moral, emocional e afetiva às suas esposas, fatores estes que proporcionarão uma melhor adaptação das mesmas às novas condições de vida: Aí quanto assim ao apoio moral, assim, ele não me deixou em nenhum momento, ele, como é que se diz, ele, eu notei que ele sentiu muito, que ele se desesperou, que ele se estressou, que ele se angustiou, que ele teve medo da perda, no caso se eu viesse, né, a falecer, essas coisa toda, mas, a gente nota que num é falta de amor, é alguma coisa mudou, entendeu, mas ele continua assim o mesmo marido, só não nessa parte, né, nessa parte, né, na parte sexual que ele mudou, mas o resto ele continua o mesmo, a mesma pessoa, sai comigo, passeia, anda, tudo, agora nesse momento ele não, não tem como (Rosana, 59 anos, esposa de Carlos). 11 Segundo o DECS - Descritores em Ciências da Saúde (BVS – acesso em http://decs.bvs.br , data: 14/10/2010 ) a quimioterapia adjuvante é a “terapia medicamentosa aplicada para aumentar ou estimular alguma outra forma de tratamento, tais como cirurgias ou terapia por radiação. A quimioterapia adjuvante é freqüentemente utilizada na terapia do câncer e pode ser administrada antes ou após o tratamento primário. (Grifos do autor)“ 52 Rosana, durante a entrevista revela-se sentida com o companheiro no que se refere ao aspecto sexual, porém, relata que este lhe ofereceu e oferece suporte no período pós-cirurgia. Para Maria os cuidados são oriundos das pessoas de sua convivência diária, partindo estes dela mesma, advindo disso a sua força para superar o período pósmastectomia: Tem, tem muito cuidado mesmo. Não, foi normal, muito bem mesmo. Muito cuidado a gente tem, eu to tendo, ele já tem, todo mundo, aí dá pra superar (Maria, 37 anos, esposa de João). O fato de ter sido mastectomizada é enfrentado por cada mulher de forma singular, porque estas percorrem trajetórias diferentes quando são recebidas de volta no seio familiar e quando retornam às suas rotinas diárias. Essa acolhida proporcionará uma reflexão sobre o que foi vivido por elas (MALVEZI, 1996 apud FERREIRA e MAMEDE, 2003). De acordo com as entrevistas realizadas, pode-se agrupar as informações obtidas em relação aos cônjuges das esposas mastectomizadas em quatro categorias. 5.7.5 O apoio no diagnóstico e participação do cônjuge no tratamento da esposa No momento do diagnóstico a mulher encara sentimentos de angústia, medo e até desespero. Nesse sentido, o suporte familiar na figura de esposo, filhos e demais parentes é de suma importância no enfrentamento dessa enfermidade (BARBOSA, PINHEIRO e XIMENES, 2004). Nos casos entrevistados, ambos os companheiros afirmaram estar com as esposas no momento do diagnóstico no movimento em relação a procura de um médico diante dos sintomas, e que esta foi uma decisão tomada por cada casal: Ela sentiu um carocinho, aí nós procuramos (um médico), sabe, aí chegou a espera de estar assim nessa situação por causa da cidade mesmo, não sabe, os médicos ao invés de encaminhar logo pra um especialista, não encaminharam. Eu estava com ela (João,43 anos, esposo de Maria). 53 É claro que os dois, né. Eu, eu tomei conhecimento antes dela, porque a pessoa com quem, como eu sou da saúde, né, trabalhava no Hospital, quem operou ela, P. C., trabalhava comigo e tudo que é relacionado a essas coisas, infelizmente a gente que é da saúde toma conhecimento muito antes, né. Já percebe, é (Carlos, 61 anos, esposo de Rosana). Ambos os companheiros demonstraram de acordo com a entrevista serem participantes ativos na enfermidade e terem conhecimento da situação de suas esposas. João demonstrou através do seu discurso, ser um marido presente assiduamente no tratamento de quimioterapia da esposa: Nunca deixei ela de vir nunca, veio uma vez, mais ninguém, eu venho direto. Até pra um exame, é mais fácil eu vir receber exame, pra receber um exame quem vem sou eu, não mando ninguém, não mando ninguém, né. Por que eu acho assim quando nós casamos, casamos pra viver bem, né, e tanto é que na saúde, como na doença, é tudo, nós temos que acompanhar ela, não é (João, 43 anos, esposo de Maria). Também pode ocorrer de os companheiros das mulheres com câncer de mama muitas vezes vivenciarem a notícia do diagnóstico com surpresa, porque suas esposas faziam os devidos exames periodicamente, fato este que parece ser garantia de prevenção de muitas doenças, inclusive do câncer (ALMEIDA, FERREIRA e RASERA, 2008). Nas entrevistas não houve identificação desse aspecto. 5.7.6 Sentimentos em relação ao diagnóstico e mastectomia Em relação ao sentimento diante do diagnóstico, Carlos não conseguiu descrever verbalmente, porém sua reação à pergunta foi observada: Ah, péssimo, né, porque aí... (nesse momento o entrevistado ficou com os olhos marejados em lágrimas) (Carlos, 61 anos, esposo de Rosana). O diagnóstico de câncer de mama pode gerar sentimentos de ansiedade, tristeza e medo, bem como, sentimentos de dúvidas e questionamentos. Isso porque essa enfermidade carrega também o estigma de doença terminal e que ocasiona 54 sofrimento e morte (MELO, 2001; FERREIRA, 2003 apud ALMEIDA et. al., 2007). No relato de João, destaca-se que os sentimentos, embora não sejam expressos de forma clara, referem-se ao medo da morte de sua esposa: Eu tinha medo de perder ela (sorriso), porquê nós vê muitos casos, né [...] (João, 43 anos, esposo de Maria). Quanto à mastectomia, os sentimentos de ambos os cônjuges demonstraram durante a entrevista ser de preocupação com a saúde física e emocional das esposas: Não, aí é o seguinte, é... a gente num gosta né, mas como profissional de saúde dei apoio em cem por cento porque pra mim o mal tem que erradicado, tirado, não deve deixar vestígio (Carlos, 61 anos, esposo de Rosana). Eu senti muito nervoso. Por que é triste, né, é triste a pessoa ter uma notícia dessa, né, mas eu não dou demonstração pra ela de jeito nenhum, não dei demonstração de jeito nenhum, me fiz de forte (João, 43 anos, esposo de Maria). No tratamento e na fase de reabilitação da mulher mastectomizada o parceiro sexual é uma das fontes mais importantes na assistência à mulher com câncer de mama (BIFFI e MAMEDE, 2004). Nos casos estudados, percebe-se que os cônjuges que acompanham suas esposas consideram importante o apoio, seja não demonstrando a tristeza em ver a esposa mastectomizada, seja no incentivo a essa mastectomia. 5.7.7 O medo da perda do seio O seio é um elemento de identificação feminina, mas também é um elemento de desejo erótico e de significação simbólica para o homem, ele participa da relação sexual por ter ligação com os órgãos genitais devido às alterações dos hormônios sexuais, bem como porque esse órgão duplo é sensível ao toque.Além disso, o seio é um símbolo de erotismo e atração sexual para o homem (GRADIM, 2005). Para os homens entrevistados, a perda do seio das esposas não configurou diretamente nas suas colocações um impedimento ao relacionamento sexual. João, 55 por exemplo, respondeu a pergunta sobre o medo de sua esposa perder o seio com a mastectomia: Olhe, nós sentimos ela perder, né, mas eu não tive tanto medo, né, que é uma pessoa, por causa de um seio não deixa de viver, né. Por causa de um seio não é, importante, coisa tão importante, o importante é a vida dela, né, pra mim, eu acho assim. Ela chegou ao ponto agora de dizer que eu ia abandonar ela, por causa que ela tinha perdido o peito, tinha perdido o cabelo, nunca pensei nada na minha vida disso aí não, de eu abandonar ela por causa disso aí, de jeito nenhum (João, 43 anos, esposo de Maria). Carlos também fez colocações similares, afirmando não ter sentido medo e que inclusive sugeriu uma reconstrução mamária à esposa, se ela assim desejasse: Não, não, não, não...dela, ainda hoje ela tem esses assuntos, hoje eu tenho que dizer a ela que aquilo é uma besteira e tudo, que se ela quiser também pode fazer uma plástica tudinho e ela não quer, eu digo pronto, entendo, num é pra ficar assim rejeitada que não é (Carlos, 61 anos, esposo de Rosana). Outro fator que também pode ser visualizado em mulheres que são mastectomizadas, é que a retirada da mama influencia na imagem corporal da mesma, fugindo assim dos parâmetros que a sociedade impõe para identificação do corpo perfeito, do corpo feminino. A sociedade valoriza o corpo perfeito como essencial na atração sexual (ALMEIDA, 2008). Dentro desta perspectiva, o seio assume papel importante não apenas na vida da mulher, mas também do seu cônjuge. A retirada do mesmo causa no companheiro sentimentos de nervosismo, pois este se depara com algo novo, nunca vivido antes. Este sentimento é bem expressado nas falas dos cônjuges de Maria e Rosana: Eu senti muito nervoso. Porquê é triste, né, é triste a pessoa ter uma notícia dessa, né, eu não do demonstração pra ela de jeito nenhum, num dei demonstração de jeito nenhum, me fiz de forte (João, 43 anos, esposo de Maria). Não, aí é o seguinte, é... a gente num gosta né, mas como profissional de saúde dei apoio em cem por cento porque pra mim o mal tem que erradicado, tirado, não deve deixar vestígio, que é o que o profissional mesmo, o médico que opero disse: ‘olhe Carlos, vamos fazer agora que eu vou ser radical’, eu digo eu também acho que 56 deve ser radical e ela também, é... aceitou (Carlos, 61 anos, esposo de Rosana). 5.7.8 Mudanças após a mastectomia: o relacionamento sexual A mama participa da sexualidade do casal. No ato sexual as carícias preliminares entre os parceiros é um elemento importante, embora nem sempre presente (GRADIM, 2005). Segundo Barbosa, Pinheiro e Ximenes (2004), a mutilação provocada pela mastectomia atinge um órgão, cuja simbologia representa a própria feminilidade, alterando seu papel principal, o de ser mulher, além de afetar seus papéis complementares como o de esposa. Esse sentimento, que é vivenciado pela mulher, é vivenciado também pelo cônjuge que sente todo o impacto dessa doença, bem como do procedimento cirúrgico e da mudança que acontece dentro do seio familiar. Muda, né, muda assim a sexualidade é uma, que ela própria num muda, né não, muda, muda, não é, ela pensa que a gente ta evitando, mas num é que esteja rejeitando, é que às vezes a gente não quer machucar, não é, tem que respeitar também, entendeu [...] às vezes se sente rejeitada, aí coisa que não é, né, não compreende e tem mais um detalhe, a idade que as pessoas vão atingindo, a pessoa com sessenta anos não é mais uma pessoa de cinqüenta anos, nem quarenta, nem de idade [...] eu acho que a mudança não é radical, não é, de maneira alguma, tá entendendo, é mais uma questão só da idade mesmo, ta entendendo, da idade né, eu respondo assim, da idade né, tá entendendo (Carlos, 61 anos, esposo de Rosana). Pra mim acho, né, tem umas mudancinhas, mais problema dela mesmo também, mas pra mim acho a mesma coisa, aí ela acha que mudou, mais eu não acho, né (João, 43 anos, esposo de Maria). O relacionamento sexual é também requisito essencial para a recuperação da mulher mastectomizada, pois esta irá sentir que apesar de não existir mais uma das mamas, ainda é desejada pelo seu cônjuge. A participação e iniciativa do marido constituem em fortes determinantes na qualidade do relacionamento conjugal (RODRIGUES e ARAÚJO,1998 apud BARBOSA, XIMENES E PINHEIRO, 2004). Da minha parte por que eu nunca procurei ninguém fora, né. Fui solteiro, namorei, noivei, casei com ela, nunca procurei ninguém fora, aí chegou o médico a dizer que pra poder fazer relação tinha que sê com uma camisinha. Aí eu nunca gostei dessas coisas, aí ela acha que nós..., acha assim que eu acho ruim isso aí [...] não me incomoda, pra mim num me incomoda de jeito nenhum, que Deus a 57 livre Deus a livre tivesse tirado o outro eu num me incomodava (João, 43 anos, esposo de Maria). A dedicação dos cônjuges Carlos e João são exemplos de apoio e respeito ao corpo e ao momento vivido por suas esposas. Para este último cônjuge a retirada do seio da esposa não foi um fator levado em consideração, apenas a necessidade do uso de preservativo fez com que a relação sexual dos dois fosse afetada. Já para Carlos a idade é um fator primordial para que a sua potência sexual tenha diminuído, demonstrando que, de acordo com suas afirmações essa fator coincidiu com a mastectomia da esposa. 58 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS A mastectomia é um procedimento cirúrgico de tratamento de câncer de mama que deve ser pensada também a partir da ótica do acompanhamento do companheiro da mulher mastectomizada, tendo em vista quer este é um procedimento que afeta a auto-imagem da mulher, que se vê diante de um corpo mutilado, que não está completo e, conseqüentemente isso será refletido na relação sexual dos casais. É nesse sentido que a família, especificamente o cônjugeacompanhante é considerada como suporte emocional para sua esposa. É de salutar importância a compreensão e apoio do marido, principalmente após a mastectomia. Compreender esse fenômeno através da perspectiva do discurso dos casais é fundamental no auxílio a estes, de forma que recuperem a vida sexual e afetiva anteriores à enfermidade. Para que possa ser estudado e melhor compreendido quais os sentimentos que emergem no cônjuge-acompanhante da mulher mastectomizada, objetivando compreender essa dinâmica que envolve o casal, foi realizado um estudo de campo, no qual foi observado que a participação do marido no tratamento da esposa é mínima, diante da quantidade de casos de mulheres mastectomizadas no local da pesquisa de campo (CEOC), o que evidencia a resistência desses companheiros em acompanhar suas esposas num momento que pode ser de difícil aceitação não somente para elas, mas para eles também. O dado acima é importante de ser observado para que se possa lançar luz à novos estudos e pesquisas que evidenciem o acompanhamento dos companheiros das mulheres mastectomizadas, visto que, como foi mencionado e observado no presente trabalho, estes são importantes fontes de apoio emocional às esposas mastectomizadas. Foi identificado também que o sentimento predominante emergentes nos cônjuges-acompanhantes entrevistados foi o medo de perder a esposa, acompanhado de nervosismo e tristeza. Não foi relatado por nenhum dos cônjuges entrevistados sentimentos relativos à ansiedade ou medo da perda do seio, do contrário, conforme demonstram os resultados, o medo de que suas esposas pudessem vir a falecer, foi superior à percepção da retirada do seio. Além disso, as esposas entrevistadas demonstraram estar mais afetadas em relação à sexualidade, sendo que seus discursos apontaram que suas preocupações relativas à 59 sexualidade estavam relacionadas à aceitação da nova auto-imagem e à preocupação em não ser atraente para o esposo, além do medo do abandono. Já para os cônjuges, embora o seio faça parte do simbolismo dentro da relação, o relacionamento sexual não foi afetado pela ausência deste, mas por fatores intervenientes que colaboram para a diminuição da freqüência nas relações sexuais. Estes fatores foram apontados como idade avançada e desconforto pela necessidade de uso de preservativos como forma de proteção da saúde fragilizada da esposa. Os cônjuges relataram ter consciência de que suas esposas acreditam que eles se sentiram afetados em sua sexualidade após a mastectomia. Foi constatado que o companheirismo e participação revelados pelos cônjuges entrevistados foram fatores relevantes durante o tratamento das esposas, sendo por elas elementos destacados como suportes emocionais diante da mutilação, revelando dessa forma a importância da participação do marido no tratamento da esposa mastectomizada. As mulheres entrevistadas revelaram ter sentido alterações na auto-imagem que ainda perduram em menor grau do que no início da cirurgia. Observou-se que este fato constituiu em agravante para o sentimento de rejeição sexual que alegaram ter sentido por parte dos cônjuges, fator este negado pelos mesmos nas entrevistas. Estas constatações revelam que os sentimentos negativos das esposas em relação ao corpo mutilado não são compatíveis com os sentimentos dos seus esposos em relação à mutilação e ao relacionamento sexual. Observou-se, por fim, que os sentimentos dos cônjuges-acompanhantes foram focados no temor pela possibilidade de falecimento das esposas e que as alterações na sexualidade dos casais entrevistados ocorreram mais a nível de sentimentos em relação à aceitação da nova auto-imagem que as esposas se depararam como um desafio a ser superado, isto podendo ocorrer com o apoio emocional dos cônjuges no sentido de compreender os sentimentos vivenciados pelas esposas e esclarecer aspectos relativos ao campo da sexualidade. Isso pode ser realizado pelos cônjuges entrevistados, pois eles demonstraram estar em harmonia com o novo corpo da esposa e com a ausência do seio, tendo consciência de que existem fatores intervenientes que se colocam como interferência ao exercício da sexualidade, mas que estes não incluem a ausência do seio. O apoio no sentido de auxiliar esses casais na compreensão de si próprios e da dinâmica conjugal, para que eles possam se escutar e aprender a reelaborar a relação a partir de uma nova ótica é de suma importância para que esses conflitos 60 possam ser minimizados ou dirimidos, e a qualidade na relação sexual seja reavivada. 61 REFERÊNCIAS ALMEIDA, A. M. de; FERREIRA, C. B.; RASERA, E. F. Sentidos do diagnóstico por câncer de mama feminino para casais que o vivenciaram. Interface (Botucatu) v.12 n.27 Botucatu out./dez. 2008. ALMEIDA et. al. Comportamentos da família diante do diagnóstico de câncer de mama. Revista de Semestral de Enfermería, n. 10, ISSN – 1695-6141, maio, 2007. ALMEIDA, R. A. de. Título: Mastectomia: Aspectos psicológicos e adaptação psicossocial, 2008. Acesso em: 14/10/2010. Disponível em: http://psicoterapiaepsicologia.webnode.com.br/ ANDRADE, A. N.; DUARTE, T. P. 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ANEXO – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA DA FAVIP APÊNDICE A – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para o cônjugeacompanhante (com e sem o uso do gravador) APÊNDICE A-1 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (com uso de gravador) Eu ____________________________________________________________ esposo/companheiro de _________________________________________________, autorizo minha participação na pesquisa que tem como nome CÂNCER DE MAMA: UM ESTUDO SOBRE OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGE-ACOMPANHANTE DA MULHER MASTECTOMIZADA NO CENTRO ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC), pesquisado pelas alunas pesquisadoras: Roberta Freitas de Oliveira e Pollyana Fátima Santos Lopes Oliveira, e sua Professora: Fabiana Josefa do Nascimento Sousa, CRP 13/4370, CPF n° 028824604-73, RG n° 2314076, que é psicóloga e responsável pela pesquisa (contato: av Adjair Casé, nº 800 – Indianópolis. Fone: 3722-8080). Estou ciente que o objetivo desta pesquisa é estudar os sentimentos do marido quando a mulher está com câncer de mama e perde a mama. Estou ciente que esta pesquisa possui relevância social porque através da análise desses sentimentos que surgem durante o diagnóstico e tratamento do câncer de mama poderá haver uma intervenção psicoterapêutica e trabalhos voltados para elaboração dos mesmos. Estou ciente também que participarei de uma entrevista e que haverá uso de gravador, bem como que me foi assegurado o total sigilo das informações por mim prestadas e que a qualquer momento posso interromper para tirar dúvidas quando achar necessário. Estou ciente que não vou receber nenhuma remuneração para participar. Se por alguma razão eu não me sentir bem, sei que posso parar sem ser prejudicado. Além disso, fui assegurado de que receberei das alunas pesquisadoras o suporte psicológico necessário, caso eu necessite durante a entrevista. Também fui informado que eu não corro nenhum risco para participar e que irei participar de uma palestra com as pesquisadoras e outras pessoas que quiserem no CEOC, sobre a sexualidade conjugal. Assinatura: _________________________________________________________________ Testemunhas: __________________________________ __________________________________ Caruaru, ______/_______/________ APÊNDICE A-2 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (sem uso de gravador) Eu ____________________________________________________________ esposo/companheiro de _________________________________________________, autorizo minha participação na pesquisa que tem como nome CÂNCER DE MAMA: UM ESTUDO SOBRE OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGE-ACOMPANHANTE DA MULHER MASTECTOMIZADA NO CENTRO ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC), pesquisado pelas alunas pesquisadoras: Roberta Freitas de Oliveira e Pollyana Fátima Santos Lopes Oliveira, e sua Professora: Fabiana Josefa do Nascimento Sousa, CRP 13/4370, CPF n° 028824604-73, RG n° 2314076, que é psicóloga e responsável pela pesquisa (contato: av Adjair Casé, nº 800 – Indianópolis. Fone: 3722-8080). Estou ciente que o objetivo desta pesquisa é estudar os sentimentos do marido quando a mulher está com câncer de mama e perde a mama. Estou ciente que esta pesquisa possui relevância social porque através da análise desses sentimentos que surgem durante o diagnóstico e tratamento do câncer de mama poderá haver uma intervenção psicoterapêutica e trabalhos voltados para elaboração dos mesmos. Estou ciente também que participarei de uma entrevista, que me foi assegurado o total sigilo das informações por mim prestadas e que a qualquer momento posso interromper para tirar dúvidas quando achar necessário. Estou ciente que não vou receber nenhuma remuneração para participar. Se por alguma razão eu não me sentir bem, sei que posso parar sem ser prejudicado. Além disso, fui assegurado de que receberei das alunas pesquisadoras o suporte psicológico necessário, caso eu necessite durante a entrevista. Também fui informado que eu não corro nenhum risco para participar e que irei participar de uma palestra com as pesquisadoras e outras pessoas que quiserem no CEOC, sobre a sexualidade conjugal. Assinatura: _________________________________________________________________ Testemunhas: ___________________________________ __________________________________ Caruaru, ______/_______/________ APÊNDICE B- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido para a esposa mastectomizada (Com e sem o uso de gravador) APÊNDICE B-1 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (com uso de gravador) Eu ____________________________________________________________ esposa/companheira de __________________________________________autorizo minha participação na pesquisa que tem como nome CÂNCER DE MAMA: UM ESTUDO SOBRE OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGE-ACOMPANHANTE DA MULHER MASTECTOMIZADA NO CENTRO ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC), pesquisado pelas alunas pesquisadoras: Roberta Freitas de Oliveira e Pollyana Fátima Santos Lopes Oliveira, e sua Professora: Fabiana Josefa do Nascimento Sousa, CRP 13/4370, CPF n° 02882460473, RG n° 2314076, é psicóloga e responsável pela pesquisa (contato: av. Adjair Casé, nº 800 – Indianópolis. Fone: 3722-8080). Estou ciente que o objetivo desta pesquisa é estudar o sentimento do marido quando a mulher está com câncer de mama e perde a mama. Estou ciente que esta pesquisa possui relevância social porque através da análise desses sentimentos que surgem durante o diagnóstico e tratamento do câncer de mama poderá haver uma intervenção psicoterapêutica e trabalhos voltados para elaboração dos mesmos. Estou ciente também que participarei de uma entrevista e que haverá uso de gravador, bem como que me foi assegurado o total sigilo das informações por mim prestadas e que a qualquer momento posso interromper para tirar dúvidas quando achar necessário. Estou ciente que não vou receber nenhuma remuneração para participar. Se por alguma razão eu não me sentir bem, sei que posso parar sem ser prejudicado. Além disso, fui assegurado de que receberei das alunas pesquisadoras o suporte psicológico necessário, caso eu necessite durante a entrevista. Também fui informado que eu não corro nenhum risco para participar e que irei participar de uma palestra com as pesquisadoras sobre a sexualidade conjugal. Assinatura: _________________________________________________________________ Testemunhas: ___________________________________ _________________________________ Caruaru, ______/_______/________ APÊNDICE B-2 TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO (sem uso de gravador) Eu ____________________________________________________________ esposa/companheira de __________________________________________autorizo minha participação na pesquisa que tem como nome CÂNCER DE MAMA: UM ESTUDO SOBRE OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGE-ACOMPANHANTE DA MULHER MASTECTOMIZADA NO CENTRO ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC), pesquisado pelas alunas pesquisadoras: Roberta Freitas de Oliveira e Pollyana Fátima Santos Lopes Oliveira, e sua Professora: Fabiana Josefa do Nascimento Sousa, CRP 13/4370, CPF n° 02882460473, RG n° 2314076, é psicóloga e responsável pela pesquisa (contato: av Adjair Casé, nº 800 – Indianópolis. Fone: 3722-8080). Estou ciente que o objetivo desta pesquisa é estudar o sentimento do marido quando a mulher está com câncer de mama e perde a mama. Estou ciente que esta pesquisa possui relevância social porque através da análise desses sentimentos que surgem durante o diagnóstico e tratamento do câncer de mama poderá haver uma intervenção psicoterapêutica e trabalhos voltados para elaboração dos mesmos. Estou ciente também que participarei de uma entrevista, que me foi assegurado o total sigilo das informações por mim prestadas e que a qualquer momento posso interromper para tirar dúvidas quando achar necessário. Estou ciente que não vou receber nenhuma remuneração para participar. Se por alguma razão eu não me sentir bem, sei que posso parar sem ser prejudicado. Além disso, fui assegurado de que receberei das alunas pesquisadoras o suporte psicológico necessário, caso eu necessite durante a entrevista. Também fui informado que eu não corro nenhum risco para participar e que irei participar de uma palestra com as pesquisadoras sobre a sexualidade conjugal. Assinatura: _________________________________________________________________ Testemunhas: __________________________________ __________________________________ Caruaru, ______/_______/________ APÊNDICE C – Entrevistas semi-estruturadas para o cônjuge-acompanhante e para a mulher mastectomizada APÊNDICE C-1 FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA CURSO DE PSICOLOGIA Entrevista semi-estruturada para o cônjuge-acompanhante da mulher mastectomizada Nome: Idade: Endereço: Telefone para contato: Nome da esposa: -Quando se iniciou a suspeita de que sua esposa estava com câncer de mama? -Procurar ajuda foi uma decisão dos dois? -Após a confirmação do diagnóstico como você se sentiu? -Quando recebeu a notícia da mastectomia como você se sentiu? -Considera que participa do tratamento de sua esposa? Como? -Antes da notícia da mastectomia teve medo de sua esposa perder o seio? Por quê? -Algo na vida de vocês dois como casal mudou a pós a cirurgia? O quê? -E a cirurgia de mastectomia afetou a relação sexual? -Como classifica a relação sexual antes e após a mastectomia? APÊNDICE C-2 FACULDADE DO VALE DO IPOJUCA CURSO DE PSICOLOGIA Entrevista semi-estruturada para a esposa mastectomizada Nome: Idade: Endereço: Telefone para contato: Nome do cônjuge: -Como você se sente sem o seio ou sem parte dele? -Considera que a cirurgia afetou a sua auto-imagem? -Isso afetou a sua relação sexual com o companheiro? -Como vocês lidam com a situação do pós-operatório? APÊNDICE D- Carta de Anuência ao CEOC Ao Responsável pelo Centro Oncológico de Caruaru (CEOC) Sr (a) Caruaru........../............../ 2010 Ilmo(a) Sr.(a) No presente momento, como alunos do curso de Psicologia da FAVIP, estamos dando início ao projeto de pesquisa intitulado: CÂNCER DE MAMA: UM ESTUDO SOBRE OS SENTIMENTOS DO CÔNJUGE-ACOMPANHANTE DA MULHER MASTECTOMIZADA NO CENTRO ONCOLÓGICO DE CARUARU-PE (CEOC) sob orientação da Profª Fabiana Josefa do nascimento Sousa, no qual haverá a necessidade de obter dados referentes aos pacientes, os quais estão sob sua responsabilidade como gestor da referida instituição. Tal solicitação se deve ao fato, de havendo a concordância do acesso as informações pertinentes ao projeto, o mesmo será submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da FAVIP, para ser avaliado e uma vez emitido o parecer favorável a sua realização a mesma deverá ser iniciada. Essa carta de anuência será anexada ao projeto a ser avaliado, bem como antes do início da pesquisa, o (a) Sr(a). terá acesso ao parecer emitido pelo CEP/FAVIP comprovando a pertinência da pesquisa. Cordialmente: Alunos: ______________________________________ ______________________________________ Prof. Orientador: ______________________________ 1 2