TRABALHANDO A MATEMÁTICA BÁSICA COM LIBERDADE Gabriela Iven Heling Amanda Pranke Juliana Batista Pereira Kátia Martins Rocha1 Resumo Trabalhar uma aula dinâmica, atrativa e significativa é o sonho de praticamente todos os educadores. Conosco não é diferente. Somos discentes do curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal de Pelotas, futuras educadoras, e bolsistas do Projeto PIBID UFPel / 5ª. CRE, inserido no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), o qual abrange quatro escolas da cidade de Pelotas/RS, dentre elas o Instituto Educacional Assis Brasil, no qual desenvolvemos os nossos trabalhos, com turmas de Ensino Médio. Uma das atividades propostas pelo projeto é a de reforço escolar, através de monitorias. A partir de trabalhos já desenvolvidos verificamos que algumas das maiores dificuldades apresentadas pelos estudantes, na disciplina de Matemática, se relacionam a conteúdos de Ensino Médio, e são: raiz quadrada, frações, mínimo múltiplo comum e representação dos números na reta real. De posse destas informações elaboramos uma proposta de mini-curso que conta com as cinco atividades descritas a seguir. Primeira atividade: “Uma Interpretação Geométrica para o Cálculo da Raiz Quadrada”, desenvolve o conceito de raiz quadrada, dando uma interpretação geométrica ao seu cálculo, tendo como resultado esperado especificamente, a contextualização do conceito de raiz quadrada de um número real positivo, como a medida do lado do quadrado cuja área é igual ao número considerado. A segunda atividade: “Estudo de frações”, desenvolve noções de fração de uma quantidade, com a utilização de tampinhas de garrafas, da qual esperamos a compreensão do conceito de fração, bem como uma aplicação desse no cotidiano. A terceira atividade: “MMC Geométrico”, traz uma alternativa para o cálculo do Mínimo Múltiplo Comum (MMC), utilizando noções básicas de geometria, tais como: figuras planas, base, altura e diagonal. Destacamos aqui que há outras maneiras de encontrar o mmc entre dois números, sendo que essa trabalha apenas com conhecimentos geométricos. A quarta atividade: “Representação na Reta Real”, consiste em identificar a posição dos números na reta real, sendo esses apresentados sob a forma de frações, raiz quadrada e também como resultado do cálculo do mmc entre dois números. Esperamos com essa atividade analisar se houve compreensão dos conceitos anteriormente trabalhados. Para finalizar, a quinta atividade: “Brincadeira com Dados”, consiste em adivinhar os resultados de três jogadas consecutivas de um dado através 1 Discentes do Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal de Pelotas e Bolsistas do Projeto PIBID. Email: [email protected]. [email protected]. [email protected]. [email protected]. 590 de algumas instruções, e o resultado esperado com essa atividade é a percepção de outras possibilidades no trabalho com a matemática, sobretudo o conteúdo de álgebra. Com este mini-curso temos o objetivo de minimizar as dificuldades apresentadas pela grande maioria dos estudantes do Ensino Médio, público alvo das atividades realizadas no projeto, e, além disso, visamos proporcionar uma forma alternativa de trabalhar tais conteúdos, contando com a utilização de materiais concretos no sentido de contribuir com os saberes dos alunos, com a nossa formação e também com a qualificação da formação dos professores da rede de ensino. Palavras-chave: Monitoria. Dificuldades de Aprendizagem. Ensino de Matemática. INTRODUÇÃO Somos alunas do Curso de Licenciatura em Matemática da Universidade Federal de Pelotas/RS, e assim como a grande maioria dos discentes dos cursos de licenciatura, carregamos durante o período de graduação algumas dúvidas e inquietações relacionadas ao processo de ensinar e aprender. Encontramos no Projeto PIBID UFPel / 5ª. CRE, inserido no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID), uma possibilidade de minimizar esses anseios, pois nele são desenvolvidas diferentes atividades de aproximação entre os alunos e os saberes escolares. Para tanto são trabalhadas monitorias, oficinas com os alunos do Ensino Médio da rede pública e a elaboração e implementação de um projeto interdisciplinar. No desenvolver de nossas atividades identificamos que a maioria das dificuldades apresentadas pelos alunos estavam relacionadas a conteúdos de Ensino Fundamental, dentre eles raiz quadrada, frações, mínimo múltiplo comum e representação dos números na reta real, o que nos deixou preocupadas com a realidade do ensino público da nossa cidade. Diante disso, buscamos novas alternativas para trabalhar com esses problemas tão presentes no cotidiano escolar. Acreditamos que através de mini-cursos, com um trabalho diferenciado utilizando material concreto e com uma linguagem mais informal, alcançaremos o nosso objetivo de forma eficaz, ou seja, mostrar uma nova forma de trabalho, atrativa e significativa, proporcionando assim, uma construção de conhecimento mais ampla, de fundamental importância para vida social de qualquer cidadão. Segundo Ilma Passos de Alencastro Veiga: 591 (...) há necessidade de priorizar o delineamento de trilhas inovadoras para a teoria e a prática de ensino, em vez de buscar os caminhos da padronização no pensar, no sentir e no agir em sala de aula. Vale salientar que o ato de ensinar é sempre uma criação, uma inovação. (2006, p.19) Portanto, elaboramos um mini-curso que consiste na realização de cinco atividades e em cada uma delas os participantes terão o desafio de desenvolver os conceitos propostos, utilizando material concreto e argumentando sobre suas conclusões ao final de cada etapa. Com o intuito de incentivar os professores da rede de ensino e também licenciados, a proposta trata, a partir de um novo olhar, de alguns conceitos básicos e indispensáveis provenientes do Ensino Fundamental e que são responsáveis por grande parte dos problemas enfrentados pelos alunos do Ensino Médio. Como nos diz Veiga-Neto, “A liberdade e a felicidade não estão num lugar, mas estão na possibilidade de permanentemente pensar, criticar e tentar mudar dia a dia, hora a hora , o que é dito sobre o mundo e o que é feito no mundo” (1996). MATERIAIS E MÉTODOS A partir de nossas vivências percebemos que o ensino centrado somente no professor, ou seja, considerando o aluno uma folha de papel em branco já não está alcançando um aprendizado de qualidade. Acreditamos que há uma grande necessidade de se desenvolver novas metodologias de trabalho, considerando a bagagem do aluno, ouvindo-o e aprendendo com ele, deixando-o sistematizar, argumentar e criticar. Tentando alcançar essas metas elaboramos atividades práticas, organizadas em um minicurso, as quais dão oportunidade para que essas competências sejam desenvolvidas pelos participantes. Tudo isso nos leva a pensar como Oliveira: Ensinar Matemática é desenvolver o raciocínio lógico, estimular o pensamento independente, a criatividade e a capacidade de resolver problemas. Nós como educadores matemáticos, devemos procurar alternativas para aumentar a motivação para a aprendizagem, desenvolver a autoconfiança, a organização, a concentração, estimulando a socialização e aumentando as interações do indivíduo com outras pessoas. (2007, p. 5). Durante a elaboração das atividades, buscamos meios de alcançar motivação e interesse entre os participantes, levando-os a repensar suas práticas pedagógicas para que utilizem essas novas alternativas em seus ambientes de trabalho. Segundo os PCNEM “A maneira como se 592 organizam as atividades em sala de aula, a escolha de materiais didáticos apropriados e a metodologia de ensino é que poderão permitir o trabalho simultâneo dos conteúdos e competências. (BRASIL, 2002, p.113).” Sendo assim, com o intuito de contribuirmos para uma melhoria no ensino, ou seja, buscando minimizar as dificuldades encontradas durante nossa experiência no PIBID e também por grande parte dos professores da rede de ensino, apresentamos as propostas de atividades a serem desenvolvidas na realização do mini-curso. Primeira atividade: “Uma Interpretação Geométrica para o Cálculo da Raiz Quadrada”, desenvolve o conceito de raiz quadrada, dando uma interpretação geométrica ao seu cálculo. O desenvolvimento dessa atividade dá-se através da construção de quadrados e retângulos, com a utilização do material dourado. Na seqüência, explora-se a relação entre o conceito de raiz quadrada e a área das figuras planas. A atividade envolve números decimais, as idéias de aproximação, dígitos exatos e precisão. O resultado esperado é especificamente, a contextualização do conceito de raiz quadrada de um número real positivo, como a medida do lado do quadrado cuja área é igual ao número considerado. Segunda atividade: “Estudo de frações”, desenvolve noções de fração de uma quantidade, com a utilização de tampinhas de garrafas. O desenvolvimento dá-se através da distribuição de conjuntos de tampinhas, das quais os participantes devem destacar subconjuntos que representem frações da quantidade recebida. A cada subdivisão, é solicitado que os mesmos façam as anotações dos resultados obtidos. A partir desses dados trabalhamos frações equivalentes, frações próprias e impróprias, e comparações com as mesmas. O resultado esperado é a compreensão do conceito de fração, bem como uma aplicação desse no cotidiano. 593 Terceira atividade: “MMC Geométrico”, traz uma alternativa para o cálculo do Mínimo Múltiplo Comum (MMC), utilizando noções básicas de geometria, tais como: figuras planas, base, altura e diagonal. O desenvolvimento dá-se através da distribuição de folhas quadriculadas, canetinhas e réguas para os participantes, na qual se deve marcar um retângulo, cujas medidas dos lados são os números aos quais se procura o mmc. Feito isso, partindo de um dos vértices do retângulo, traça-se a diagonal de todos os quadrados até encontrar um lado do retângulo. Imaginando que cada lado tenha a propriedade de reflexão, desenha-se a diagonal dos outros quadrados até encontrar outro lado do retângulo. Repetindo este procedimento, finaliza-se no momento em que se chega num outro vértice do retângulo. A partir dessa atividade, destacamos que há outras maneiras de encontrar o mmc entre dois números, sendo que essa trabalha apenas com conhecimentos geométricos. Quarta atividade: “Representação na Reta Real”, consiste em identificar a posição dos números na reta real, sendo esses apresentados sob a forma de frações, raiz quadrada e também como resultado do cálculo do mmc entre dois números. O desenvolvimento dá-se da seguinte forma: cada participante sorteia um número, e após efetuar os cálculos, o representa na reta. O resultado esperado com essa atividade é analisar se houve compreensão dos conceitos anteriormente trabalhados. 594 Para finalizar, a quinta atividade: “Brincadeira com Dados”, consiste em adivinhar os resultados de três jogadas consecutivas de um dado através de algumas instruções, e para tanto, utilizamos a álgebra para justificar a atividade, da seguinte forma: Supondo que os três valores sejam respectivamente a, b e c e efetuando as instruções dadas aos participantes, obtém-se: 2.a 2.a + 5 5.(2.a + 5) = 10.a + 25 10.a + b + 25 10. (10.a + b + 25) = 100.a + 10.b + 250 100.a + 10.b + c + 250 Para descobrir os valores, é necessário subtrair 250 do resultado. Então: 100.a + 10.b + c +250 – 250 = 100.a + 10.b + c = abc, onde 100 representa a centena, 10 representa a dezena e 1 representa a unidade, que são os valores supostos e na ordem correta. O resultado esperado com essa atividade é a percepção de que a matemática pode ser também divertida, sobretudo o conteúdo de álgebra. Assim como ressalta José Manoel Moran, acreditamos que, “Podemos modificar a forma de ensinar e de aprender. Um ensinar mais compartilhado. Orientado, coordenado pelo professor, mas com profunda participação dos alunos, individual e grupalmente...”. Logo, através desse mini-curso, pensamos estar modificando a forma de ensinar conceitos necessários para a formação de nossos alunos. 595 CONSIDERAÇÕES FINAIS Atualmente os alunos são extremamente influenciados pelo avanço tecnológico, portanto precisamos pensar em uma nova metodologia que desperte o interesse dos mesmos, onde tenham espaços para discutir, expor suas dúvidas e também conclusões sem medo de serem criticados pelos seus erros. O erro deve ser visto como um avanço para a construção do conhecimento, o que vai ao encontro com a fala de Mario Sergio Cortella “O erro é parte integrante do conhecer não porque ‘errar é humano’, mas porque nosso conhecimento sobre o mundo dá-se em uma relação viva e cambiante com o próprio mundo. ”(2002). Para isso propomos a realização desse mini-curso, no qual os participantes terão a oportunidade de refletir e aprender com os próprios erros. Esperamos que a partir dessa prática possamos contribuir para a complementação da formação dos participantes do mesmo, como futuros professores em suas áreas de atuação e também com os docentes que já desempenham atividades na rede de ensino, pois abordamos uma nova metodologia de trabalho. Além disso, esperamos também que haja uma interação e uma troca de experiências entre os participantes e nós ministrantes, pois acreditamos na importância dessas trocas e nos benefícios obtidos a partir delas. Cada profissional enfrenta diferentes realidades em sala de aula, onde se encontram alunos de culturas, classes sociais, gêneros diferenciados, cada um com seu tempo pra aprender. Acreditamos que utilizando uma linguagem expressiva e clara essas dificuldades podem ser amenizadas. Como ressalta José Manoel Moran, “Não podemos dar aula da mesma forma para alunos diferentes, para grupos com diferentes motivações. Precisamos adaptar nossa metodologia, nossas técnicas de comunicação a cada grupo[...]”. Portanto, buscamos aqui compartilhar com os participantes uma das diversas alternativas de trabalho com as quais acreditamos ser possível envolver o aluno na busca de uma melhora no ensino. Mas sabemos que “Não há receitas prontas e definitivas para fazer bem a aula. São muitos e complexos os elementos nela envolvidos. É preciso que professores e alunos estejam sempre abertos ao imprevisto e a renovação.” (RIOS, 2008 p.89-90) REFERÊNCIAS BORDENAVE, Juan Diaz; PEREIRA, Adair Martins. 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