ADESÃO DE ADULTOS À TERAPIA EM VOZ NA CLÍNICA DE
FONOAUDIOLOGIA
Autores: THAISY SANTANA DA SILVA, ADRIANA DE OLIVEIRA CAMARGO
GOMES, ANA NERY BARBOSA DE ARAÚJO, JONIA ALVES LUCENA,
ZULINA SOUZA DE LIRA,
Palavras-chave: voz, fonoaudiologia, adulto
INTRODUÇÃO
A adesão ao tratamento em saúde, medicamentoso ou não, tem sido objeto de
investigação na academia por ser considerada como fator fundamental para a
reabilitação do paciente. 1 É de interesse na literatura especializada a definição
desse termo, assim como os fatores que estão relacionados a esse processo.
A adesão é definida como o comportamento do paciente que segue as
orientações do médico ou outros profissionais de saúde, comparecendo às
consultas marcadas, seguindo as prescrições estabelecidas e adotando
mudanças no estilo de vida. 2 É a colaboração ativa entre o paciente e seu
médico, num trabalho cooperativo, com o objetivo de obter o sucesso
terapêutico, sendo os programas educativos uma das estratégias mais
utilizadas para melhorar esse índice. 3
É fato indiscutível a enorme dificuldade vivida pelas pessoas persistirem
seguindo as recomendações médicas, com expressiva frequência de abandono
do tratamento. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em países
desenvolvidos a não adesão a terapias de longo prazo está quantificada em
cerca de 50%; já em países menos desenvolvidos estes valores são
superiores. 4
Na pesquisa realizada sobre a aderência de diabéticos ao tratamento
medicamentoso com hipoglicemiantes orais, o grau de adesão dos usuários ao
tratamento medicamentoso também se mostrou inferior ao percentual dito
“recomendável”. 5 Outro estudo aponta que a não adesão do paciente
hipertenso ao tratamento indicado resulta no controle inadequado da pressão
arterial. 6 Os motivos relacionados à adesão terapêutica são multifatoriais e
podem estar relacionados aos fatores culturais, estado de saúde, idade do
indivíduo e origem da população estudada. 7 Em uma pesquisa com pacientes
em um serviço de tratamento da tuberculose verificou-se as razões para baixa
adesão foram dificuldades de tomar muitos comprimidos, efeitos colaterais, e
melhoras dos sintomas criando uma ilusão de cura.8
Considerando a problemática envolvida nessa questão, é de extrema
relevância a investigação sobre o processo e as possibilidades de otimização
da adesão dos pacientes às orientações propostas, garantindo dessa forma, a
qualidade de vida para o indivíduo.9
Pesquisando a bibliografia fonoaudiológica nacional referente a investigação da
adesão de adultos ao tratamento em voz, percebe-se que existe uma carência
de estudos. Entre os trabalhos encontrados, uma pesquisa realizada analisou a
adesão às orientações fonoaudiológicas de professores disfônicos. Os
resultados obtidos evidenciaram que a maioria (87%) dos indivíduos seguiram
as orientações fonoaudiológicas. 10
OBJETIVOS
OBJETIVO GERAL
Investigar a adesão dos adultos à terapia vocal na clínica de Fonoaudiologia.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
· Caracterizar o perfil sócio-educacional dos adultos usuários do serviço;
· Identificar as principais queixas vocais apresentadas pelos pacientes;
· Identificar a origem dos encaminhamentos para o tratamento fonoaudiológico;
· Identificar as patologias vocais mais frequentes encontradas na população
pesquisada;
· Verificar os motivos de desligamento e/ou alta.
MÉTODOS
O estudo possui caráter retrospectivo, quanti/qualitativo e de corte transversal.
Sua realização baseou-se na análise dos prontuários de pacientes adultos que
já realizaram tratamento vocal na clínica de Fonoaudiologia, pertencente a uma
instituição de ensino, no período de 2000 a 2013.
Não foi necessária a aplicação de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(TCLE) por se tratar de dados secundários, sendo o estudo já autorizado pela
coordenação da clinica de Fonoaudiologia. Na referida clínica, ao ingressar em
um tratamento fonoaudiológico, o paciente tem o livre arbítrio de consentir ou
não a permissão de seus dados para fins de científicos, o qual se oficializa por
meio da assinatura do TCLE. Não houve riscos para os pacientes e os
preceitos éticos foram respeitados.
Para a coleta de dados foi utilizado um protocolo desenvolvido para essa
finalidade, cujo conteúdo está relacionado às questões do processo terapêutico
que se resume aos dados de identificação dos pacientes, dados da adesão ao
tratamento e evolução do tratamento fonoaudiológico.
Foram adotados como critérios de inclusão: ter idade superior a 18 anos, o que
corresponde ao término da menoridade de acordo com o estatuto da criança e
do adolescente (Lei 8.069/1990), e possuir menos de 60 anos, idade máxima
correspondente de acordo com o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003), a
alteração vocal ser de origem funcional e/ou orgânica. Os critérios de exclusão
foram as patologias vocais secundárias a problemas neurológicos.
Para compreender melhor e analisar os resultados, as informações coletadas
na pesquisa foram apresentadas de forma objetiva por meio de tabelas e
gráficos.
RESULTADOS
Dos 195 prontuários analisados observou-se a omissão de dados referentes ao
perfil dos pacientes, principalmente, sobre dados de identificação tais como:
município que o paciente reside, origem do encaminhamento, entre outros.
Todos os atendimentos registrados (100%) foram realizados de forma
individual. Dos 195 pacientes estudados, 152 (77.94 %) eram do sexo feminino
e 43 (22.06%) do sexo masculino cujas idades variaram de 18 a 60 anos. A
tabela 1 apresenta dados referentes à idade dos indivíduos.
Tabela 1. Distribuição dos pacientes de acordo com a faixa etária (N=195)
Idade
Número de pacientes
%
18 a 30 anos
61
31.28
31 a 45
78
40
> 45 anos
56
28.72
Total
195
100
A maioria dos pacientes 161 (82.56%) residiam na região metropolitana, ou
seja, próximo ao local de atendimento onde se localiza a Clínica de
Fonoaudiologia (gráfico 1).
Gráfico 1- Distribuição percentual do município de residência (N=195)
Em relação à escolaridade, 29 (15%) dos pacientes referiram ter o ensino
superior completo ou estar cursando.
Gráfico 2- Distribuição dos pacientes segundo escolaridade (N=195)
No gráfico 3, é possível perceber a predominância de professores atendidos na
clínica, contabilizando 13.33 % (26) dos casos.
Gráfico 3- Distribuição dos pacientes de acordo com a ocupação (N=195)
Como descrito no gráfico 4, a maior parcela 145 (74.35%) da população
estudada não realizava outras atividades que utiliza a voz. No grupo
pesquisado 21.02 % das pessoas cantavam (41).
Gráfico 4- Distribuição dos pacientes de acordo com a utilização da voz
em outras atividades (n=195)
Observa-se no gráfico 5 que a maioria dos pacientes foram encaminhados pelo
otorrinolaringologista totalizando 70.76 % da população estudada (138).
Gráfico 5- Distribuição dos pacientes de acordo com a origem do
encaminhamento (N=195)
No que se refere ao diagnóstico médico das patologias vocais apresentadas
com maior frequência pelos pacientes, a fenda glótica foi a alteração
predominante, apresentando 32.82% (64) das ocorrências, seguido por nódulos
vocais que apresentou 24.61 % (48) dos casos.
Gráfico 6- Distribuição das patologias vocais mais frequentes de acordo
com o diagnóstico médico (N=195)
O gráfico 7 indica a distribuição dos pacientes de acordo com o diagnóstico
fonoaudiológico. Observa-se que a maior parcela 30.25 % (59) dos indivíduos
apresentou disfonia funcional seguido de 28.71% (56) com disfonia
organofuncional.
Gráfico 7- Distribuição dos pacientes de acordo com o diagnóstico
fonoaudiológico (N=195)
DIAGNÓSTICO FONOAUDIOLÓGICO
Disfonia orgânica
Disfonia psicogênica
Dificuldade na projeção…
Disfonia orgânica
Pós operatório de…
Disfonia discreta
Disfonia referente a cisto…
Não registrado
Disfonia funcional
Disfonia orgânofuncional
0
DIAGNÓSTICO
FONOAUDIOLÓGICO
20
40
60
80
Conforme consta no gráfico 8, o percentual das queixas mais frequentes
apresentadas pelos pacientes foi a rouquidão representando 67.17 % (131) do
total relatadas.
Gráfico 8- Distribuição dos pacientes de acordo com as principais
queixas apresentadas (N=195)
Como é possível verificar no gráfico 9, a avaliação perceptivo-auditiva e
acústica realizadas em conjunto foi o tipo de avaliação vocal mais utilizada
pelos alunos estagiários da clínica.
Gráfico 9- Distribuição dos pacientes de acordo com as avaliações
realizadas pelo aluno estagiário (N=195)
Conforme visualizado no gráfico 10, observa-se que (58%) dos pacientes
realizaram a videolaringoscopia como exame complementar.
Gráfico 10- Distribuição dos pacientes de acordo com os exames
complementares realizados (n=195)
A maioria dos pacientes 45.64 % (89) não realizava outros tratamentos
simultaneamente à fonoterapia (gráfico 11).
Gráfico 11- Distribuição dos pacientes de acordo com os principais
tratamentos realizados (n=195)
O gráfico 12 ilustra os procedimentos realizados pelo aluno-estagiário durante
o período de tratamento do paciente. A anamnese, avaliação e terapia
realizadas conjuntamente representaram 77% dos procedimentos, já a
anamnese, avaliação, terapia e encaminhamento 18%. Dentre os
encaminhamentos realizados pelo aluno-estagiário, otorrinolaringologista e
psicólogo foram os mais comuns. Os casos da realização de apenas anamnese
podem ser justificados por pacientes que não iniciaram de fato o tratamento
comparecendo apenas alguns dias.
Gráfico 12- Distribuição dos pacientes de acordo com os procedimentos
realizados pelo aluno-estagiário (N=195)
O gráfico 13 ilustra a evolução dos atendimentos realizados na clínica.
Percebe-se que a maior parcela 61.53% (120) recebeu o desligamento do
tratamento fonoaudiológico.
Gráfico 13. Distribuição dos pacientes de acordo com a evolução do
tratamento (N=195)
Dentre os registros referentes à escolaridade dos pacientes desligados da
terapia vocal registra-se que a maioria 10.83 % (13) cursou o ensino superior.
Gráfico 14. Distribuição dos pacientes desligados de acordo com a
escolaridade (N=120)
De acordo com o gráfico 15 os principais motivos de desligamento da terapia
vocal foi o excesso de faltas 48.33% (58) seguido de incompatibilidade de
horário 17.5% (21).
Gráfico 15- Distribuição dos pacientes de acordo com os motivos de
desligamento (N=120)
* O tópico “outros” inclui: mudança para o interior, problemas pessoais, solicitação do
otorrinolaringologista, migração para o plano de saúde e migração para outro serviço
especializado em saúde.
Em relação aos principais motivos de alta, observa-se que 94% dos pacientes
concluíram o tratamento por ter obtido a adequação das estruturas e funções
do mecanismo vocal (gráfico 16).
Gráfico 16- Distribuição dos pacientes de acordo com os motivos de alta
(N=75).
Conclusões
A pesquisa realizada mostrou que a população feminina é predominante no
tratamento vocal na clínica de Fonoaudiologia. Portanto, é possível inferir que
as mulheres se preocupam mais no que diz respeito aos aspectos da voz.
Além disto, significativa parcela dos pacientes atendidos na clínica eram
professores, os quais utilizam a voz intensamente nas suas atividades
profissionais, o que corrobora a literatura, isto é, a ocorrência de associação
entre disfonia e uso profissional da voz.
A maioria dos pacientes residia na região metropolitana, onde se localiza o
serviço de atendimento, estava cursando ou tinha concluído o ensino superior e
tinha encaminhamento de otorrinolaringologistas. Isto sugere que nem a
localização geográfica do serviço nem o nível de escolaridade são fatores que
interferem significativamente no processo de adesão. A queixa principal foi a
rouquidão e as patologias vocais mais frequentes foram a fenda glótica e os
nódulos vocais, cujas alterações são características de mau uso da voz. Os
motivos relacionados à alta foi a adequação das estruturas e funções, já os
desligamentos ocorreram devido ao excesso de faltas.
A adesão de pacientes à terapia vocal é um grande desafio para os
profissionais, visto que o índice de desligamento ainda é elevado. Com a
realização desta pesquisa, espera-se contribuir para a criação de estratégias
que favoreçam o atendimento nesta área.
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Resumo expandido - Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia