AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM DE JOVENS E ADULTOS DO PROEJA EM INSTITUIÇÃO DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DA REDE FEDERAL Autora: Natiane Cristina Costa Nascimento Mestranda – CEFET/MG Co-Autora: Dra. Maria Aparecida da Silva Professora orientadora – CEFET/MG RESUMO: O presente trabalho é uma adaptação do “Trabalho de Conclusão de Curso” apresentado ao Curso de Especialização em Educação Profissional Técnica Integrada de Nível Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (PROEJA) do Programa de Pós-graduação Lato Sensu do CEFET-MG, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista, em 2009. O estudo foi realizado com um grupo de professores da Educação Básica/Técnica de dois Cursos Técnicos Integrados no período noturno, PROEJA, de uma Instituição Federal de Educação Tecnológica localizada em Belo Horizonte. Teve por objetivo identificar quais as concepções dos professores sobre a avaliação da aprendizagem, suas práticas de avaliação e dificuldades encontradas. Vale ressaltar que a avaliação é um dos temas centrais do processo pedagógico nos diferentes níveis e modalidades de ensino. Na Educação de Jovens e Adultos, EJA e PROEJA, tal discussão assume relevância quando se constata que parte dos alunos, com escolaridade interrompida quando crianças ou adolescentes ressente-se de ter sido alvo de avaliações autoritárias e excludentes. A pesquisa foi um estudo de caso com foco na avaliação da aprendizagem escolar a partir da visão de um grupo de professores da educação Básica/Técnica. O trabalho também contempla a história do PROEJA e a discussão sobre a teoria da avaliação da aprendizagem escolar. Utilizou-se, então, como instrumento de pesquisa um questionário composto de questões fechadas e abertas, que contemplavam dados relativos à caracterização desse sujeito, o professor, bem como as condições do trabalho docente e questões acerca dos critérios e instrumentos de avaliação da aprendizagem escolar utilizados pelos mesmos. A análise apresentada baseou-se nas respostas dos sujeitos entrevistados, fundamentando-se em referencial teórico específico sobre avaliação da aprendizagem, no que concerne a concepções, funções e técnicas/instrumentos de avaliação. Os resultados evidenciaram que a avaliação é uma atividade permanente do trabalho docente e acompanha passo a passo o processo ensino-aprendizagem. Todavia, precisa ser objeto de reflexão sobre as condições do trabalho escolar, tanto do professor como dos alunos, já que estes são trabalhadores, também. No entanto, além do seu papel específico na exclusão, a avaliação classificatória acaba por influenciar todas as outras práticas escolares. É importante mencionar que avaliar não significa só verificar o rendimento do aluno, mas a contextualização do conhecimento que implica no processo de aprendizagem. Assim, destaca-se a necessidade de avaliação que contribua com o desenvolvimento integral do aluno, que pode ser compreendido como social, físico, cognitivo e afetivo. No presente estudo, constatou-se que não é comum que os professores explicitem, para os alunos, os instrumentos e critérios que utilizam para saber quem aprendeu determinado conteúdo. De modo geral, parece que os professores internalizam esses critérios de forma intuitiva e não sentem necessidade de objetivá-los. Na prática, essa atitude pode fazer com que, numa situação de avaliação, se apreciem conteúdos que não são representativos das aprendizagens promovidas em sala de aula. Os professores, ainda, precisam caminhar para o sentido de abandonar as perspectivas avaliativas como simples formas de medir o conhecimento do aluno, e construir um caminho em que reconheçam a dimensão qualitativa como uma prática de análise do processo de ensino e aprendizagem e a identificação dos rumos a serem tomados no processo pedagógico. Dentro deste contexto de compromisso com a qualidade da educação pública, a avaliação assume dimensões mais abrangentes e passa a ter algumas características importantes. A primeira diz respeito aos objetivos. É preciso ter clareza dos objetivos que se pretende alcançar quando se está avaliando. Outro aspecto importante é que a avaliação deve ser contínua (processual), pois, ao avaliar o processo de aprendizagem o professor pode diagnosticar aspectos que precisam ser melhorados, podendo, assim, intervir na sua própria prática ou nos fatores que estão interferindo nos resultados. A avaliação também deve ser bem planejada e articulada com os objetivos propostos no processo ensino- aprendizagem. Constatou-se pela pesquisa que o professor que sabe o que vai trabalhar com seus alunos (seleção de conteúdos), que tem segurança de onde quer chegar (definição de objetivos), que sabe como chegar (metodologia), que tem certeza do que precisa cobrar (critérios) e de que forma vai cobrar (instrumentos) e que analisa os dados obtidos para reorientar, redefinir sua ação educativa, certamente está no caminho para a construção de uma escola que oportuniza a real aprendizagem aos alunos. Neste sentido, esta pesquisa deixa em aberto, entre outras, a seguinte questão - Que conhecimentos sobre a avaliação educacional necessitam os professores da Educação Básica/Técnica para, realmente, efetivarem com critérios processos de verificação da aprendizagem e avaliação educacional? PALAVRAS-CHAVE: PROEJA; avaliação; educação 1. Introdução A avaliação da aprendizagem sempre é destaque no contexto educativo e ganhou, na atualidade, um espaço muito amplo nos processos de ensino, exigindo maior discernimento e capacidade de mudança da prática pedagógica avaliativa dos profissionais envolvidos. As discussões englobam desde sua necessidade e importância até sua prática em sala de aula. No cotidiano escolar estas reflexões tornam-se ainda mais relevantes, pois boa parte dos alunos são alvos de avaliações arbitrárias, classificatórias excludentes e seletivas. A LDB, Lei nº 9.394/96 em seu artigo 24, inciso V afirma que “a avaliação do rendimento escolar deverá ser contínua e cumulativa do desempenho do aluno com prevalência dos aspectos qualitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de eventuais provas finais”. Mas na prática pouca coisa mudou, a avaliação da aprendizagem na escola tem dois objetivos, segundo Cipriano Luckesi (2002, p.174), auxiliar o educando no seu desenvolvimento pessoal, a partir do processo de ensino-aprendizagem, e responder à sociedade pela qualidade do trabalho educativo realizado. Para chegar ao proposto, realizou-se a análise dos dados obtidos através de questionários aplicados aos professores da Educação Básica/Técnica Integrada de Nível Médio na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos, PROEJA, em uma Instituição Federal de Educação Tecnológica. O trabalho também contempla um pouco da história do PROEJA e a discussão sobre a teoria da avaliação da aprendizagem escolar. Assim sendo, a Educação de Jovens e Adultos é concebida como aprendizagem e qualificação permanentes, não suplementares, mas fundamentais e que favoreçam a emancipação. O aluno do PROEJA é apreendido como sujeito que busca uma formação de qualidade e gratuita, possibilitando inserção no mercado de trabalho e continuidade nos estudos. Ser escolarizado é condição básica para participar da sociedade com relativa independência e autonomia, o que implica, entre outras coisas, a possibilidade de empregar-se, de usufruir (consumir) os benefícios da sociedade industrial e de manter o acesso aos variados bens culturais. Outra forte razão para a procura de programas de ampliação de escolaridade é à busca do reconhecimento social e da afirmação da auto-estima. A Instituição Federal de Educação Tecnológica situa-se em Belo Horizonte, Minas Gerais. É uma autarquia de regime especial, vinculada ao Ministério da Educação, por isso é detentora de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didática e disciplinar, nos termos da Lei n. 8.711 de 28/09/93. Teve o seu início de funcionamento em 1910 passando por várias denominações e funções sociais. Do objetivo inicial de promover o ensino profissional primário gratuito, passou a ministrar: ensino técnico, cursos de tecnologia, engenharia industrial, pós-graduação lato e stricto sensu, graduar professores, promover cursos de aperfeiçoamento e desenvolver pesquisa nas áreas técnicas e industriais; além de prestar serviços a empresas e órgãos diversos da sociedade. No transcorrer desses anos, tornou-se referência nacional, desenvolvendo atividades inter-relacionadas de ensino, pesquisa e extensão. O público oriundo das camadas sociais de baixa renda constitui clientela predominante e prioritária, à qual se destina a grande maioria das ações desenvolvidas. Todavia as atividades de caráter educativo são dirigidas a todos os estudantes, podendo alcançar também os demais segmentos da comunidade escolar, independentemente da sua origem socioeconômica. Notoriamente são os alunos das camadas menos favorecidas economicamente da população brasileira que engrossam as estatísticas da repetência, da evasão e do abandono escolar, constituindo-se numa faceta do fracasso escolar. São eles, antecipadamente, excluídos do sistema de ensino quer seja pela insuficiência de ofertas de vagas nas escolas públicas, quer seja pela qualidade do ensino duvidosa que propaga, instituindo-se uma cultura do fracasso e da exclusão escolar. O PROEJA surge com um grande desafio, qual seja o de integrar a educação profissional e tecnológica à educação de jovens e adultos numa perspectiva de formação emancipatória do sujeito rompendo com a dualidade estrutural: cultura geral versus cultura técnica, conforme o proposto no documento base do programa. A educação profissional, integrada às diferentes formas de educação, ao trabalho, à ciência e à tecnologia, conduz ao permanente desenvolvimento de aptidões para a vida produtiva. Isto significa que não se pode tratar a formação como algo exclusivamente do “mundo do trabalho” ou do “mundo da educação”. Trata-se de percebê-la como um ponto de intersecção, para o qual devem confluir diversas abordagens e contribuições, entre elas a dos sujeitos trabalhadores. Nessa intersecção, que compreende múltiplas dimensões, a qualificação nunca é apenas “profissional” (dimensão técnica), mas sempre “social” (dimensão sociolaboral). Pode-se falar, portanto, em qualificação social e profissional para denominar as ações de formação voltadas para uma inserção autônoma e solidária no mundo do trabalho. A qualificação social e profissional permite a inserção e atuação cidadã no mundo do trabalho, com efetivo impacto para a vida e o trabalho das pessoas. Nesse sentido, o que realmente se pretende é a formação humana, no seu sentido lato, com acesso ao universo de saberes e conhecimentos científicos e tecnológicos produzidos historicamente pela humanidade, integrada a uma formação profissional que permita compreender o mundo, compreender-se no mundo e nele atuar na busca de melhoria das próprias condições de vida e da construção de uma sociedade socialmente justa. A perspectiva precisa ser, portanto, de formação na vida e para a vida e não apenas de qualificação do mercado ou para ele. Portanto, o currículo integrado é uma possibilidade de inovar pedagogicamente na concepção de ensino médio, em resposta aos diferentes sujeitos sociais para os quais se destina, por meio de uma concepção que considera o mundo do trabalho e que leva em conta os mais diversos saberes produzidos em diferentes espaços sociais. Abandona-se a perspectiva estreita de formação para o mercado de trabalho, para assumir a formação integral dos sujeitos, como forma de compreender e se compreender no mundo. Assim, assume-se neste estudo a concepção de avaliação apresentada no Documento Base do PROEJA1 (2007), no qual a avaliação deve ser desenvolvida numa perspectiva processual e contínua, que busca a (re)construção do conhecimento coerente com a formação integral dos sujeitos, por meio de um processo interativo, considerando o aluno como ser criativo, autônomo, participativo e reflexivo, tornando-o capaz de transformações significativas na realidade. Desta forma, a avaliação deve constituir o ato crítico que servirá de subsídio à reflexão de como os professores estão construindo a prática, considerando que avaliação e metodologia são indissociáveis. Assim, atravessa o ato de planejar e de executar. O papel do avaliador, ativo em termos do processo transforma-se no de partícipe do sucesso ou fracasso dos alunos, uma vez que os percursos individuais serão mais ou menos favorecidos a partir de suas decisões pedagógicas que dependerão, igualmente, da amplitude das observações. Pode-se pensar a partir daí, que não é mais o aluno que deve estar preparado para a escola, mas professores e escolas é que devem preparar-se para ajustar propostas pedagógicas favorecedoras de sua aprendizagem (HOFFMANN, 2004, p. 18). Entretanto, desenvolver uma proposta de avaliação, assim, concebida, não é tarefa fácil ao professor. As práticas avaliativas exigem mudança de postura e de valores na ação docente, tornando-a um processo dinâmico, construído no dia-a-dia, cuja função não é só analisar os resultados do produto final obtido, mas investigar, problematizar e ampliar perspectivas, possibilitando o acompanhamento do desenvolvimento do aluno. Tendo em vista a formação crítico-reflexiva do cidadão, os estudos atuais propõem que a avaliação, contemplada como mediação, inclua um movimento que acontece por meio de relações dinâmicas e dialógicas, destituída de princípios coercitivos. Um educador, que se preocupe com que a sua prática educacional esteja voltada para a transformação, não poderá agir inconsciente e irrefletidamente. Daí a necessidade de realização do presente estudo que se estrutura nas partes que se seguem. ____________________________ 1. O PROEJA é anterior ao PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e ao Emprego) instituído pela Lei 12.513, de 26 de outubro de 2011 do atual governo Dilma Roussef. O “esquecimento” do PROEJA diante do PRONATEC pode pôr a perder os ganhos que esse programa trouxe ao público da EJA, tanto em qualidade quanto em acesso às escolas federais A aposta do governo federal na expressividade numérica do PRONATEC têm feito sombra ao PROEJA e, pode conduzir o programa ao completo descaso diante, também, da necessidade de ocupar os espaços e os docentes das escolas federais no oferecimento dos elevados números de matrícula do PRONATEC. Cabe investigar a qualidade dos cursos oferecidos e se sua estrutura está adequada ao público que pretende atingir, obter dados sobre a evasão e o quanto estes cursos têm representado para os alunos. No entanto, os dados sobre o PROEJA não deixam dúvidas de que seu abandono tão precoce, ou sua absorção por outro programa parece representar um retrocesso na luta que se tem travado por uma educação mais integral do ser humano. 1.1. Breve discussão sobre a concepção de avaliação A avaliação se faz presente em todos os domínios da atividade humana. O “julgar”, o “comparar”, isto é, “o avaliar” faz parte de nosso cotidiano, seja através das reflexões informais que orientam as frequentes opções do dia-a-dia ou, formalmente, por meio da reflexão organizada e sistemática que define a tomada de decisões (DALBEN, 2005, p. 66). A avaliação da aprendizagem escolar necessita de discussões e adaptações por cada professor, a cada dia, para cada aluno, para cada grupo de alunos. Ainda hoje, o aprender do aluno limita-se, muitas vezes, a uma mecânica forma de memorizar conteúdos. Provas, questionários e outras atividades são mecanicamente aplicados, daí a necessidade de rever a função da avaliação. Para Jussara Hoffmann (1993), a mediação que se faz entre o educando e sua cultura é uma transmissão que desenvolve uma visão crítica, sem, no entanto, moldá-lo. Respeita-se o saber espontâneo, elaborado pelo aluno, partindo de ações desencadeadoras de reflexão sobre este ou aquele saber. O aluno é desafiado a evoluir e a encontrar novas e diferentes soluções para as questões apresentadas pelo professor. Nesta perspectiva, Dalben (1998) destaca que a escola se apresenta como um local de trabalho contraditório, onde práticas e rotinas desenvolviam processos de incorporação de crenças e valores, às vezes, não percebido pelos sujeitos envolvidos. Ao mesmo tempo, essa mesma escola apresentava-se propícia à transformação social enquanto um espaço coletivos de realização de projetos político-pedagógicos diferenciados. Ainda, na introdução de seu trabalho de pesquisa, reafirma essa problemática, afirmando que embora os professores pratiquem, rotineiramente, a concepção seletiva, quantitativa e classificatória de avaliação, eles mesmos afirmam a precariedade e fragilidade dessa abordagem no que se refere aos inúmeros erros/desvios de avaliação por ela provocados. Consideram o processo mais abrangente do que os resultados obtidos através dos usuais procedimentos de medida e enxergam as funções de diagnóstico e retroinformação sobre os alunos como as mais importantes. Afirmam que o processo de avaliação é mais amplo e complexo do que se imagina e sentem necessidade de maiores discussões sobre o tema. Procuram concentrar esforços na busca de procedimentos e instrumentos diversificados e de diferentes naturezas que permitam complementar o conhecimento do aluno. Mas reconhecem as dificuldades apresentadas pela organização da escola e pelo número excessivo de alunos em classe como fatores, provavelmente, intransponíveis para o estabelecimento desses novos processos. Por conseguinte, o ato de avaliar não serve como pausa para pensar a prática e retornar a ela, mas sim como um meio de julgar a prática e torná-la estratificada. De fato, o momento da avaliação deveria ser um “momento de fôlego” na escalada, para, em seguida ocorrer a retomada da marcha de forma mais adequada, e nunca um ponto definitivo de chegada, especialmente quando o objeto da ação avaliativa é dinâmico como, no caso, a aprendizagem. Com função classificatória, a avaliação não auxilia em nada o avanço e o crescimento. O objetivo deste estudo foi identificar as concepções dos professores da Educação Básica/Técnica do PROEJA de uma Instituição Federal de Educação Tecnológica de Belo Horizonte sobre a avaliação da aprendizagem escolar e suas as práticas de avaliação. 2. A avaliação escolar no pensamento educacional: uma revisão do pensamento de autores que tratam do tema A avaliação escolar, enquanto um dos momentos do processo ensino-aprendizagem tem sido objeto de críticas constantes tanto por parte daqueles que "sofrem" as consequências de seu processo, como por parte daqueles que a executam. Nesse sentido, a prática avaliativa tem sido um dos pontos mais problemáticos e obscuros da ação educativa escolar, tornando-se, portanto, uma questão que, apesar de exaustivamente discutida, merece ser aprofundada pelos educadores, dada a sua importância para as mudanças qualitativas do projeto educativo não só dos alunos, como também dos professores e da escola em seu c o n j u n t o . O entendimento inadequado do processo avaliativo na escola tem gerado equívoco na prática dos educadores, provocando posições estereotipadas e preconceitos (como por exemplo, rotular alunos de "fracos", "fortes", "incompetentes", "inteligentes”, entre outros; distribuir prêmios e castigos conformes expectativas pessoais, conferir às notas e/ou conceitos um caráter absoluto.) e, consequentemente, favorecer o aumento do índice de evasão e repetência, uma vez que, em última instância, são os critérios e procedimentos de avaliação que vão decidir o destino do aluno. Nessa perspectiva, é de suma importância que o professor utilize instrumentos diversificados os quais lhe possibilitem observar e registrar o desempenho do aluno nas atividades desenvolvidas e tomar decisões participativas, tal como refletir com o aluno sobre os aspectos que necessitem ser melhorados, reorientando-o no processo diante das dificuldades de aprendizagem apresentadas, reconhecendo as formas diferenciadas de aprendizagem, em seus diferentes processos, ritmos, lógicas, exercendo, assim, o seu papel de orientador e mediador que reflete na ação e que age sobre a realidade. Hadji (2001) considera que é a intenção do avaliador que torna a avaliação formativa. Dessa forma, não se trata de construir ou inventar instrumentos diferenciados, mas refere-se ao uso que faz dos resultados obtidos por meio desses instrumentos, lembrando que esses devem ser construídos com base na realidade e competência técnica e pedagógica. Moretto (2001) ressalta a importância do diagnóstico na avaliação da aprendizagem afirmando: O conhecimento do contexto social dos alunos é de fundamental importância para o processo de ensino. Não é preciso que o professor conheça um por um dos seus alunos, mas que saiba das características do grupo como um todo. A partir delas, o professor trabalhará valores, conceitos, linguagens e atitudes. Podemos dizer o mesmo do conhecimento psicológico e cognitivo dos alunos, pois é a partir dessas informações que o professor poderá adequar seu planejamento e suas estratégias de ensino (p.45). Neste sentido, os instrumentos quando bem planejados, com objetivos e conteúdos definidos, quando bem elaborados e adequados ao tipo de aluno e ao que se pretende obter com a avaliação, pode ser um grande aliado do professor e do aluno no processo ensino-aprendizagem. O ato avaliativo pressupõe que o professor conheça melhor a complexidade das relações que perpassam o cotidiano escolar, com vistas a incrementar a prática pedagógica, promovendo novas intervenções, a fim de contribuir com a construção do conhecimento do aluno. Entende-se que avaliar é reconhecer criticamente a razão da situação em que se encontra o aluno e os obstáculos que o impedem de ser mais. É necessário vencer a “prescrição”, a imposição de uma consciência a outra, desocultando dos procedimentos avaliativos o que Freire (1996) denomina de “consciência hospedeira” da consciência opressora. Para uma formação humana, é fundamental que o sujeito reconheça o limite da situação de opressão vivida, do temor de ser mais, para querer ousar ser mais, para que encontre os caminhos de seu progresso, de sua libertação. A percepção da realidade a partir de atos de avaliação acolhedores, processuais, formadores pode contribuir para que os objetivos da ação educativa produzam resultados diferentes. Deste modo, “aprender para mostrar conhecimento ao professor” tomou o lugar do “aprender para intervir na realidade” (FREITAS, 2003, p.40). Sendo assim, o aspecto “instrucional” da avaliação tornou-se o mais conhecido, pelo qual se avalia o domínio de habilidades e conteúdos em provas, chamadas, trabalhos e outros. (FREITAS, 2003). Mesmo que a avaliação tenha assumido essa postura investigativa, de saber se o “aluno aprendeu ou não”, os objetivos não podem ser negligenciados. A falta de qualidade de ensino, caracterizada pelas metodologias e currículos padronizados e distantes da realidade dos alunos; o processo avaliativo classificatório e excludente e a situação de extrema pobreza de uma grande parcela da população acabam por excluir da escola muitas crianças e adolescentes antes de concluírem os estudos. Dessa forma, nos últimos anos, a EJA vem perdendo sua identidade, pois, além de proporcionar formação aos adultos trabalhadores que não tiveram oportunidade de concluir os estudos em tempo hábil, está absorvendo uma grande contingência de adolescentes excluídos do ensino “regular” e que estão em busca de “aligeiramento” dos estudos. Percebe-se também que, em toda a trajetória, a EJA foi marcada por iniciativas descontinuadas e de caráter voluntariado. Porém, destacam-se três momentos importantes para EJA: a política pública de alfabetização de Paulo Freire, anterior a 1964; o MOVA, na década de 1990, que mesmo não-governamental/nacional travou lutas importantes, problematizando o descaso com a EJA; e o PROEJA, que, embora não se constitua em uma política pública, busca ser inovador nos seus ideais emancipatórios. A experiência histórica mostra, igualmente, que uma educação de qualidade requer professores devidamente preparados e qualificados. Porém, a rotatividade de docentes devido à falta de carreira específica para EJA e a inexistência de equipes direcionadas à educação de jovens e adultos impedem a formação de um corpo técnico especializado e dificulta a organização de projetos pedagógicos específicos para esta modalidade. Sabemos que ao enfatizar a integração, o PROEJA retoma princípios ético-políticos, que têm orientado as lutas sociais, no campo da EJA, tais como o direito à educação, à formação humana e a busca de universalização do ensino médio com vistas à elevação da escolaridade (DOCUMENTO BASE, 2007). No entanto, essa ênfase pressupõe mudanças estruturais que demandam a constituição de novas práticas no que concerne à apropriação, na práxis, de princípios fundantes do programa, como o da não dicotomia entre trabalho manual e trabalho intelectual, traduzida pela indissociação entre formação geral e a formação técnica, à organização do trabalho coletivo entre os docentes, bem como o pensar a formação na perspectiva integral em detrimento da formação para o mercado. No entanto, o descompasso entre a proposta de integração do PROEJA e a compreensão de integração praticada pela escola tem produzido confrontos no percurso da formação, uma vez que tocam diretamente os sujeitos alunos, beneficiários dessa integração, do ponto de vista dos currículos praticados pela instituição e da perspectiva defendida pelo Programa. Esse tem seu projeto educacional fundado “na integração entre trabalho, ciência, técnica, tecnologia, humanismo e cultura geral com a finalidade de contribuir para o enriquecimento científico, cultural, político e profissional como condições necessárias para o efetivo exercício da cidadania”. (DOCUMENTO BASE, 2007, p 1). Os professores envolvidos no processo de implementação do PROEJA reconhecem o aspecto positivo da indução e, portanto da institucionalização da obrigatoriedade da oferta pela instituição, conforme Decreto 5.840/2006, a escola passa a integrar a incipiente experiência da Rede Federal de Educação Tecnológica com a oferta da modalidade EJA no âmbito do ensino médio” [A proposta do programa reconhece] “a Rede Federal como local privilegiado para o oferecimento da modalidade EJA integrada à educação profissional” [ provocando- a] a rever, repensar as ofertas até então existentes e promover a inclusão desses sujeitos, rompendo com o ciclo das apartações educacionais, na educação profissional e tecnológica. (DOCUMENTO BASE, 2007, p. 4) A proposta avaliativa no documento base do PROEJA (2006) apresenta a avaliação como forma de priorizar a qualidade e o processo de aprendizagem. Dessa forma, a avaliação deve ser desenvolvida numa perspectiva processual e contínua, por meio de um processo interativo que considere o aluno capaz de transformações significativas na realidade. O que importa é que não se reproduzam, pela avaliação, as exclusões vigentes no sistema, que reforçam fracassos já vivenciados e corroboram a crença internalizada de que não são capazes de aprender, substituindo esse modelo pela ratificação da auto-estima que qualquer processo bem-sucedido pode produzir, reafirmando a disposição da política de cumprir o dever da oferta da educação com qualidade, devida a tantos brasileiros pelo Estado (DOCUMENTO BASE, 2006, P.51). Por sua vez, a inquietação gerada pela ênfase no “para quem” essa formação se volta, é explicitamente apontada no Documento Base, com destaque para a materialidade das condições de vida dos sujeitos da EJA O PROEJA expôs a decisão governamental de atender à demanda de jovens e adultos pela oferta de educação profissional técnica de nível médio, da qual, em geral, são excluídos, bem como, em muitas situações, do próprio ensino médio. A EJA, em síntese, trabalha com sujeitos marginais ao sistema, com atributos sempre acentuados em conseqüência de alguns fatores adicionais como raça/etnia, cor, gênero, entre outros. Negros, quilombolas, mulheres, indígenas, camponeses, ribeirinhos, pescadores, jovens, idosos, subempregados, desempregados, trabalhadores informais são emblemáticos representantes das múltiplas apartações que a sociedade brasileira, excludente, promove para grande parte da população desfavorecida econômica, social e culturalmente. (2007, p.4). Nesse sentido, a proposta do PROEJA, ao mesmo tempo em que enseja mudanças estruturais, não pode deixar de ser acompanhada pela leitura crítica. Apropriando das análises de Kuenzer (2005), essas formas de inclusão correm o risco de se configurar, como uma educação escolar marcada por processos dialeticamente articulados “de exclusão includente e inclusão excludente existentes no mundo do trabalho” (p.93). O Documento Base alerta para “a forma como essa inclusão tem sido feita, muitas vezes promovendo e produzindo exclusões dentro do sistema” (2007, p.20). As práticas de avaliação da aprendizagem escolar, predominantes em nosso meio, ainda se dão a partir de um modelo teórico tradicional que concebe a educação como um mecanismo de manutenção e reprodução das condições sociais. Como consequência, o autoritarismo é o elemento necessário para a garantia deste modelo social e, daí, a prática da avaliação manifestar-se autoritária. Esta concepção da avaliação da aprendizagem escolar reflete, pois, uma pedagogia que, por sua vez, está a serviço de um modelo dominante que pode ser identificado como liberal conservador. Segundo Perrenoud (1999), a sociedade vive em constante mudança e, portanto, faz-se necessário que a escola, como agente ativo na formação do cidadão, acompanhe e até mesmo se antecipe a sua evolução. Torna-se necessário, pois, que estejamos atentos que uma escola de qualidade não é a que reprova e sim a que consegue ensinar em ambientes onde haja pluralidade de realidades e culturas, e ainda assim, formar cidadãos autônomos e conscientes do seu papel numa possível transformação. Nesse sentido, em relação à avaliação, é indispensável que o educador, como avaliador, se aproxime do seu aluno que está sendo avaliado. Quanto a isso este autor salienta: Não existem medidas automáticas, avaliações sem avaliador nem avaliado; nem se pode reduzir um ao estado de instrumento e o outro ao de objeto. Trata-se de atores que desenvolvem determinadas estratégias, para as quais a avaliação encerra uma aposta, sua carreira escolar, sua formação. O professor e o aluno se envolvem num jogo complexo cujas regras não estão definidas em sua totalidade, que se estende ao longo de um curso escolar e no qual a avaliação restringe-se a um momento. (1999, p.18). Na perspectiva de políticas educacionais e sociais, a educação básica e a qualificação profissional são requisitos fundamentais para o crescimento econômico, para a competitividade internacional e para a melhoria da qualidade de vida da população. Sendo assim, o ato de avaliar deve não apenas estar inserido no processo de educação, mas, principalmente, contribuir para seu pleno desenvolvimento. Para que surjam novas práticas de avaliação dentro de uma sociedade conservadora como a nossa, e no contexto de uma pedagogia autoritária ainda presente em nossas escolas, é necessário que o educador esteja preocupado em redefinir os rumos de toda a sua prática pedagógica. A avaliação com características classificatórias, niveladoras e excludentes, ainda presentes no cotidiano escolar, gera desconforto e conflito no momento em que aos poucos se dissemina uma nova concepção de avaliação da aprendizagem. Segundo Abramowicz (1990, p. 03), “observamos a marca inconfundível do controle”. Através da “medida” de aprendizagem a escola tenta “moldar” o aluno dentro do padrão considerado normal/ideal. Numa perspectiva de avaliação processual e formativa parte-se do pressuposto de que o defrontar-se com dificuldades é inerente ao ato de aprender; porém, se respeitado o tempo e a especificidade de cada aluno, todos são capazes de aprender. A proposta do PROEJA aposta na adaptação do tempo/espaço às especificidades dos sujeitos que atende, tanto no sentido de permitir o acesso à escola em turnos contrários ao trabalho quanto no respeito ao tempo de aprendizagem de cada um. A aprendizagem acontece em diferentes tempos, processos singulares e particulares de cada sujeito, tem ritmos próprios e lógicas diversas, em função de experiências anteriores mediados por necessidades múltiplas e por vivências individuais que integram e compõem o repertório a partir do qual realiza novos aprendizados, e ressignifica os antigos (DOCUMENTO BASE, 2006, P.53). Torna-se necessário elaborar uma proposta avaliativa que atenda ao alto grau de expectativa que esses sujeitos possuem no retorno à escola. De acordo com Luckesi (2002, p. 45) a avaliação deveria auxiliar, funcionando como um alicerce para qualificar o que acontece com o aluno, ou seja, os objetivos que se têm e as formas de ajudá-lo a alcançar o que procura. Nesse sentido, a avaliação deveria ser um referencial tanto para o aluno, quanto para o professor em delinear o caminho para uma aprendizagem significativa. O presente trabalho foi um estudo de caso com foco na avaliação da aprendizagem escolar a partir da visão de um grupo de professores da Educação Básica/Técnica de dois Cursos Técnicos Integrados no período noturno, PROEJA, de uma Instituição Federal de Educação Tecnológica com atuação no Estado de Minas Gerais, e sede na cidade de Belo Horizonte. 2.2. A avaliação escolar segundo os sujeitos da prática: um mergulho na realidade dos professores do PROEJA A avaliação da aprendizagem tem se revelado um dos grandes problemas do desenvolvimento do processo pedagógico nos diversos níveis e modalidades de ensino. Na Educação de Jovens e Adultos – EJA e PROEJA, tal discussão assume relevância quando se constata que boa parte dos alunos, com escolaridade interrompida quando crianças ou adolescentes ressente-se de ter sido alvo de avaliações autoritárias e excludentes. Para manter o anonimato, os professores da Educação Básica/Técnica foram denominados simplesmente de (P). O número que se segue é apenas um indicativo de ordem. São 5 (cinco) mulheres e 7 (sete) homens com idades que variam, na sua maioria, de 24 a 35 anos. Em nível de estudos de pós-graduação, somente 1 (um) professor (P2) não possui; 4 (quatro) apresentam o Curso de Especialização concluído, 4 (quatro) já concluíram o Mestrado e 3 (três) estão, praticamente, em fase de conclusão do Doutorado. Constata-se que 11 (onze) dos 12 (doze) professores pesquisados estão em busca de aperfeiçoamento. Este fato pode representar, por um lado, a melhoria na qualidade do ensino no PROEJA e, por outro, refletir a necessidade de uma força de trabalho qualificada, procurando se adequar às novas exigências do mundo do trabalho, com vistas em manter-se no emprego; uma vez que 9 (nove) dos 12 (doze) professores pesquisados são considerados substitutos, quadro instável, e apenas 3 (três) efetivos no cargo que ocupam. Outras questões foram colocadas para os professores, entre elas, destacam-se as seguintes: com quantas turmas trabalha por semana? Quantas aulas ministra semanalmente? Em média, com quantos alunos trabalha em cada sala de sala? Quais critérios de avaliação da aprendizagem escolar utiliza? Como acompanha o avanço/progresso dos alunos em relação ao processo ensino-aprendizagem? Supõe-se que as respostas dessas questões possam contribuir para o entendimento de como se dá o processo ensino-aprendizagem, por decorrência, as condições em que ocorre a avaliação da aprendizagem. Notou-se que a quantidade de turmas com as quais os professores trabalham semanalmente varia, principalmente, entre 8 (oito) e 10 (dez), bem como o número de aulas, por professor, varia, principalmente, de 13 (treze) a 18 (dezoito) na Educação Básica/Técnica. O número de alunos por turma, a quantidade de turmas, o número de aulas semanais e o número de aulas por turma constitui um fator que dificulta o trabalho para o desenvolvimento de uma avaliação eficaz? Em suas respostas, alguns professores alegaram encontrar várias dificuldades decorrentes do número excessivo de turmas, de aulas e de alunos por turma. A preocupação dos professores concentra-se em torno da impossibilidade de acompanhar, individualmente, a aprendizagem do aluno. Os professores demonstram, em suas respostas, interesse em acompanhar o avanço do aluno em relação à aprendizagem. Entretanto, se sentem impossibilitados em função da quantidade de alunos em cada turma, bem como a indisponibilidade de tempo extra. Tendo em vista os dados que se apresentaram, em relação à média de alunos por turma, número de aulas e de turmas na Educação Básica/Técnica, é provável que o acompanhamento da aprendizagem do aluno se dê num campo de conflitos e contradições. Uma discussão que se faz necessária é estabelecer diferença entre o medir e o avaliar. Os atos de medir são geralmente caracterizados pelos exames, que são pontuais e precisos, pois medem o desempenho dos alunos naquele momento, gerando com isso uma classificação em aprovados ou reprovados, em está ou não está na média, caracterizando-se como excludentes, pois não há, necessariamente, uma análise qualitativa desses resultados, um julgamento nem uma tomada de decisão; enfim, não há uma preocupação com a construção do conhecimento. Todavia, a avaliação é processual, dinâmica, inclusiva e construtiva, apresenta uma intencionalidade e se caracteriza por ser informativa para os sujeitos envolvidos, professores e alunos, para que ambos tomem consciência da realidade e possam investir na regulação e no redimensionamento do processo ensino–aprendizagem. Na avaliação da aprendizagem, o professor não deve permitir que os resultados das provas periódicas, geralmente de caráter classificatório, sejam supervalorizados em detrimento de suas observações diárias, de caráter diagnóstico. O fenômeno que os dados expressam e os teóricos vêm refletindo, guarda relação direta com a questão da avaliação no processo ensino-aprendizagem. Desta forma, sentiu-se a necessidade de investigar como os professores percebem a relação entre verificação e avaliação da aprendizagem escolar. A questão que se colocou para os professores foi a seguinte: no seu entendimento qual a diferença entre verificação e avaliação da aprendizagem escolar? Por meio dos depoimentos foi possível averiguar que grande parte dos professores pesquisados vincula avaliação a simples verificação do conteúdo ministrado em determinado período. Evidencia-se assim que tais professores não concebem o verdadeiro papel da avaliação da aprendizagem para tomada de decisão, em prol de uma melhoria no ensino, salientado abaixo por Luckesi (2004, p. 3): “a avaliação não existe em si e por si; ela subsidia decisões dentro de um determinado contexto”. Os educadores não devem negligenciar sobre o real significado da nota na avaliação da aprendizagem escolar. Segundo Luckesi (2004, p. 4) a nota tem um papel de extrema importância no processo de educação: “a nota serve somente como forma de registro e um registro é necessário devido nossa memória viva ser muito frágil (...)”. É importante ter clareza de que esse procedimento jamais deve ter caráter depreciativo, em que se apontem os erros do educando como resultado de seu fracasso ou de sua incapacidade. Ao contrário do que se pensa, o erro do aluno deve ser corrigido sim, porém a correção deve caracterizar uma situação de aprendizagem e não de condenação. De acordo com Luckesi (2002 p. 57): Os erros da aprendizagem, que emergem a partir de um padrão de conduta cognitivo ou prático já estabelecido pela ciência ou pela tecnologia, servem positivamente de ponto de partida para o avanço, na medida em que são identificados e compreendidos, e sua compreensão é o passo fundamental para a sua superação. Há que se observar que o erro, como manifestação de uma conduta não aprendida, decorre do fato de que há um padrão já produzido e ordenado que dê direção do avanço da aprendizagem do aluno e do desvio, possibilitando a sua correção inteligente. Outra questão que se colocou para os professores foi a seguinte: que uso você faz das informações obtidas através da avaliação? Por meio dos depoimentos foi possível averiguar que o avaliar assume o significado de preocupação com o sujeito aluno e com sua aprendizagem. Além disso, sinaliza preocupação com a metodologia utilizada e as possíveis formas de ajudar esse aluno a superar as dificuldades de aprendizagem. Os resultados evidenciaram que a avaliação é uma atividade permanente do trabalho docente e acompanha passo a passo o processo ensino-aprendizagem. No entanto, constatou-se que se faz necessário uma política de educação que privilegie as condições de trabalho do professor. O estudo, porém, possibilitou verificar que as necessidades e potencialidades de seus estudantes é objeto de preocupação dos os professores. Neste sentido, demonstram por seus depoimentos compromisso com o emprego da avaliação de forma a proporcionar uma aprendizagem de qualidade a todos. 3. Considerações finais O presente estudo se caracterizou como um processo de busca e, como tal, está em permanente movimento, não podendo ser apresentado como uma proposta fechada. Trata-se apenas de um passo inicial, um primeiro contato mais sistematizado com a avaliação da aprendizagem escolar em Cursos Técnicos Integrados noturnos, PROEJA, em Minas Gerais. Como processo ainda não se faz aqui conclusões prontas e acabadas, mas uma construção que se pretende prosseguir. Neste sentido, apresentam-se considerações finais para delimitar o que foi possível conhecer com a investigação que se fez e as questões que se colocam em aberto para futuras pesquisas. Esse processo serviu para reforçar algumas ideias e refutar outras em relação aos critérios de avaliação da aprendizagem escolar. Se, por um lado, este estudo não permite generalizações, por outro, permite aprofundar o conhecimento sobre a realidade observada e, na interação com o objeto, transformar a percepção relativa à problematização resultando em constatações interessantes para a trajetória da pesquisa. Antes, porém, de apresentar essas constatações, considera-se importante retomar as principais ideias que nortearam este trabalho. Este estudo visou identificar quais são as concepções dos professores da Educação Básica/Técnica do PROEJA de uma Instituição Federal de Educação Tecnológica de Belo Horizonte sobre a avaliação da aprendizagem escolar. Procurou-se, com isso, responder à seguinte questão: qual a diferença entre verificação e avaliação da aprendizagem escolar? É importante mencionar que avaliar não significa só verificar o rendimento do aluno, mas a contextualização do conhecimento que implica no processo de aprendizagem. Assim, destaca-se a necessidade de uma avaliação que contribua com o desenvolvimento integral do aluno, que pode ser compreendido como social, físico, cognitivo e afetivo. O educador, ao utilizar a avaliação como um recurso para o aluno verificar seu crescimento, estará levando o educando a se transformar em um agente crítico atuante capaz de avaliar as contribuições feitas pelos outros, estará oportunizando ao educando conhecimentos significativos para soluções dos problemas; estará oferecendo condições para ser criativo e livre; além de responsável por suas ações. Os critérios de avaliação devem apontar as experiências educativas a que os alunos precisam ter acesso e que são consideradas essenciais para o seu desenvolvimento e socialização. É importante assinalar que os critérios de avaliação devem ser elaborados e compartilhados pela equipe escolar, considerando as aprendizagens essenciais e possíveis à maioria dos alunos submetidos às condições de aprendizagem propostas. A prática da avaliação da aprendizagem, em seu sentido pleno, só será possível na medida em que se estiver efetivamente interessado na aprendizagem do educando, ou seja, há que se estar interessado em que o educando aprenda aquilo que está sendo ensinado. No presente estudo, constatou-se que não é comum que os professores explicitem, para os alunos, os instrumentos e critérios que utilizam para saber quem aprendeu determinado conteúdo. De modo geral, parece que os professores internalizam esses critérios de forma intuitiva e não sentem necessidade de objetivá-los. Na prática, essa atitude pode fazer com que, numa situação de avaliação, se apreciem conteúdos que não são representativos das aprendizagens promovidas em sala de aula ou com que os critérios de correção diante dos procedimentos utilizados pelos alunos sejam modificados. Entretanto, pôde-se observar que o ato de avaliar serve como ponto de partida para repensar o fazer pedagógico e reavaliar a prática, buscando sempre alcançar o objetivo maior da escola que consiste na formação do ser humano e do cidadão. É imprescindível que se ressalte que a avaliação da aprendizagem tem sido um dos meios de provocação e criação de condições para desenvolver nos alunos e nos professores uma atitude de reflexão crítica, comprometida com a ação. Faz-se necessário destacar que os sujeitos da prática têm tem como desafio o reelaborar uma ação pedagógica consciente e consistente em relação ao fazer pedagógico na busca da compreensão de sua complexidade das múltiplas responsabilidades que a rodeia. Parece que os professores ainda precisam caminhar para o sentido de abandonar as perspectivas avaliativas como simples formas de medir o conhecimento do aluno, e construir um caminho em que reconheçam a dimensão qualitativa como uma prática de análise do processo de ensino e aprendizagem e a identificação dos rumos a serem tomados no processo pedagógico. Portanto, os processos avaliativos dos alunos dentro da perspectiva integral de formação se tornam decisivos para promover a inclusão dos alunos do PROEJA e oportunizar maiores chances de ingressarem no mundo do trabalho e saberem lidar com a realidade que os cercam. Constatou-se pelo estudo que o professor que sabe o que vai trabalhar com seus alunos (seleção de conteúdos), que tem segurança de onde quer chegar (definição de objetivos), que sabe como chegar (metodologia), que tem certeza do que precisa cobrar (critérios) e de que forma vai cobrar (instrumentos) e que analisa os dados obtidos para reorientar, redefinir sua ação educativa, certamente está no caminho para a construção de uma escola que oportuniza a real aprendizagem aos alunos. Neste sentido, esta pesquisa deixa em aberto as seguintes questões que se fazem necessárias de serem investigadas de forma sistemática: A avaliação da aprendizagem, na forma como vem se dando no cotidiano dos Cursos Técnicos, propicia que tipo de relação do aluno do PROEJA com o conhecimento? Se em uma instituição federal de educação tecnológica constatou-se a precariedade das condições de trabalho docente, já que a maioria leciona em número elevado de turmas e são contratados, como são as condições de trabalho dos docentes que atuam no PROEJA da Rede Estadual de ensino? O que praticam os professores da Rede Estadual de ensino: avaliação, verificação da aprendizagem ou exame? REFERÊNCIAS ABRAMOWICZ, M. Avaliação da aprendizagem: como trabalhadores-estudantes de uma Faculdade particular noturna vêem o processo: em busca de um caminho. 1990. Tese de Doutorado. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. BRASIL. MEC/SETEC/PROEJA. Documento Base. Programa nacional de integração da educação profissional com a educação básica na modalidade de educação de jovens e adultos. Brasília: SETEC/MEC, 2006. BRASIL. MEC/SETEC/PROEJA. Documento Base. Programa nacional de integração da educação profissional com a educação básica na modalidade de educação de jovens e adultos. 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