Capítulo 2 Introdução à Mecânica dos Fluidos: Conceitos Fundamentais Escoamento em volta de veículo para análise de sua performance aerodinâmica. Universidade Federal Fluminense – EEIMVR - VEM Mecânica dos Fluidos I I. L. Ferreira, A. J. Silva, J. F. Feiteira Introdução à Mecânica do Fluidos Copyright (c) 2010 by John Wiley & Sons, Inc 2.1 Introdução Tópicos Principais: O fluido como um contínuo; Campo de velocidade; Campo de Tensão; Viscosidade; Tensão superficial; Descrição e classificação dos movimentos de um fluido. Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.2 Fluido como um Contínuo Contínuo: Sob certas circunstâncias um fluido pode ser tratado como meio contínuo. Ex.: Escoamento de um rio. Meio não-contínuo: A hipótese de contínuo falha quando a trajetória média livre das moléculas torna-se da mesma ordem de grandeza da menor dimensão característica significativa do problema. Ex.: Escoamento de um gás rarefeito na atmosfera superior. Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.2 Fluido como um Contínuo Contínuo: Sob certas circunstâncias um fluido pode ser tratado como meio contínuo. Ex.: Escoamento de um rio. δm ρ ≡ lim δV →δV ' δV ρ = ρ ( x, y , z , t ) Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.3 Campo de Velocidade Definição de Velocidade de um fluido: Define-se a velocidade de um fluido num ponto C, como a velocidade instantânea no centro de gravidade do volume δV, que instantaneamente envolve este ponto C. r r V = V ( x, y , z , t ) Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics r ou V = uiˆ + vˆj + wkˆ 2.3 Campo de Velocidade Quanto a campo de velocidade considere-se: Escoamentos permanentes e transientes; Escoamentos 1D, 2D e 3D; Linhas de tempo, trajetórias, linhas de emissão e linhas de corrente; Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.3 Campo de Velocidade Escoamento Permanente: Se as propriedades em cada ponto de um escoamento não se alteram com o tempo, o escoamento é dito permanente, e, por conseguinte, r r r ∂V = 0 e V = V ( x, y , z ) ; ∂t ∂ρ = 0 e ρ = ρ ( x, y , z ) ∂t Escoamento Transiente: Se as propriedades em cada ponto de um escoamento se alteram com o tempo, o escoamento é dito transiente, logo, r r r ∂V ∂ ρ ≠ 0 e V = V ( x, y , z , t ) ; ≠ 0 e ρ = ρ ( x, y , z , t ) ∂t ∂t Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.3 Campo de Velocidade Escoamentos 1D, 2D e 3D: Um escoamento é classificado como unidimensional, bidimensional e tridimensional de acordo com o número de coordenadas espaciais necessárias para especificar seu campo de velocidade. Escoamento unidimensional e bidimensional. Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.3 Campo de Velocidade Linhas de Tempo, trajetórias, Linhas de Emissão e Linhas de Corrente: Linhas de Tempo: Se num campo de escoamento, várias partículas adjacentes forem marcadas num dado instante formarão uma linha no fluido. Trajetória: É o caminho traçado por uma partícula fluida em movimento. Ex.: Fumaça, corante e etc.; Linhas de Emissão: Linha que une os pontos que passam num local fixo do espaço, onde todas as partículas passando por aquele ponto fixo seriam identificáveis no escoamento. Linhas de Corrente: São aquelas desenhadas no campo de escoamento de forma que num dado instante são tangentes à direção do escoamento, em cada ponto do campo Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.3 Campo de Velocidade Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.4 Campo de Tensão Forças de Superfície e Forças de Campo: Cada partícula do fluido pode estar sujeita à ação de forças de superfície (pressão e atrito), e de forças de campo (eletromagnética e gravitacional). A força gravitacional agindo sobre um elemento de fluido dV é dada pela seguinte expressão, r F = ρ g dV r Considere uma porção, δA da superfície em um ponto qualquer C. A orientação é dada pelo vetor unitário n̂ . O vetor n̂ é normal a superfície. Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.4 Campo de Tensão r δA r A força, δF , agindo sobre uma pode ser decomposta em duas componentes uma normal e outra tangente à área. Desta forma, uma tensão normal e uma de cisalhamento podem ser definidas, logo, δFn σ n = lim δA →0 δA n n Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics δFt τ n = lim δA →0 δA n n 2.4 Campo de Tensão Um infinito número de planos passam pelo ponto C, no entanto o estado de tensão pode ser descrito pela especificação das tensões atuantes em três planos quaisquer ortogonais entre si, pelas nove componentes σ xx τ xy τ yx σ yy τ zx τ zy Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics τ xz τ yz σ zz 2.4 Campo de Tensão O elemento infinitesimal abaixo apresenta seis planos em que a tensão pode atuar. Os planos são caracterizados como positivos e negativos de acordo com o sentido da normal; Uma tensão será quando o positiva sentido e o plano no qual atua são ambos positivos ou negativos. Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.5 Viscosidade Para um fluido, as tensões de cisalhamento surgem devido ao escoamento viscoso; Os sólidos são elásticos e os fluidos são viscosos. Materiais intermediários são viscoelásticos; Para um fluido em repouso não haverá tensão de cisalhamento; A relação entre a tensão de cisalhamento aplicada e o escoamento caracteriza o tipo de fluido; Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.5 Viscosidade Considere um elemento de fluido entre duas placas semi-infinitas, a placa superior move-se com velocidade constante δu sob ação de uma força δFx. A tensão de cisalhamento, τyx, aplicada ao elemento de volume é expressa da seguinte forma: δFx dFx τ yx = lim = δA → 0 δA dAy y y Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.5 Viscosidade Durante um lapso de tempo δt, o elemento fluido é deformado da posição MNOP para M’NOP’. Desta forma a taxa de deformação será dada por, δα dα taxadef = lim = δt →0 δt dt A distância δl é dada por, δl = δu δt Para pequenos ângulos pode-se escrever, δl tan δα = ≈ δα δy Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.5 Viscosidade Logo, e δl = δu δt então, combinando as expressões e aplicando o limite quando δt e δy tendem a zero, δl = δα δy dα du = dt dy Desta forma, um elemento fluido quando submetido a uma tensão de cisalhamento, experimentará uma taxa de deformação proporcional à du/dy. Os fluidos nos quais a tensão de cisalhamento é proporcional à taxa de deformação são denominados fluidos newtonianos. Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.5 Viscosidade – Fluidos Newtonianos São fluidos nos quais a tensão de cisalhamento é proporcional a taxa de deformação. Ex.: água, gasolina, álcool e ar. τ yx du ∝ dy A lei de Newton para a viscosidade estabelece que, τ yx du ≡µ dy Onde µ é a viscosidade dinâmica [F.t/L2] dada nas seguintes unidades, N.s 1 2 = 1 Pa.s m lbf .s slug.s 1 2 =1 2 ft ft (S.I.) (B.S.) Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics g 1 poise = 1 cm.s 2.5 Viscosidade – Fluidos Newtonianos A razão entre a viscosidade absoluta e a massa específica é denominada viscosidade cinemática [L2/t], apresentada da seguinte forma, µ ν= ρ [m2/s] Uma unidade comum é o stoke definido como, Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.5 Viscosidade – Fluidos Não-Newtonianos Os fluidos nos quais a tensão de cisalhamento não é diretamente proporcional à taxa de deformação, são denominados de fluidos não-newtonianos. Ex.: Creme dental, tinta, ketchup e sangue. Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.5 Viscosidade – Fluidos Não-Newtonianos Para muitas aplicações de engenharia, uma relação conveniente representativa entre a tensão de cisalhamento e a taxa de cisalhamento é mostrada abaixo, τ yx du ≡ k dy n Onde k é o denominado de índice de consistência e n é o índice de comportamento do escoamento. A equação acima pode ser reescrita da seguinte forma, τ yx du ≡k dy n −1 du du =η dy dy η - viscosidade efetiva. A fim de assegurar o mesmo sinal entre a taxa e a tensão. Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.5 Viscosidade – Fluidos Não-Newtonianos O creme dental, a lama de perfuração e o plástico de Bingham, comportam-se como sólidos até que uma tensão limite seja atingida, a partir da qual começam a escoar como fluidos; desta forma, τ yx du ≡ τ y + µ p dy Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.6 Tensão Superficial Sempre que um líquido encontra-se em contato com outros líquidos, gases ou sólidos, uma interface se desenvolve agindo como uma membrana elástica esticada, originando uma tensão superficial; Esta membrana apresenta duas características: Um ângulo de contato θ e uma magnitude de tensão superficial σ [N/m2]; Tais características dependem do tipo de fluido e do tipo da superfície; Exemplos típicos: Insetos sobre a superfície da água, agulhas sobre a água, bolhas de sabão, etc. Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.6 Tensão Superficial Balanço de força num segmento da interface mostra um salto na pressão através da membrana elástica; A tensão superficial é responsável por fenômenos de ondas capilares, de ascensão e depressão capilar; Se o ângulo θ for < 90o superfície molhada, Se θ > 90º superfície não-molhada; Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.6 Tensão Superficial Depressão e Ascensão Capilar Um efeito importante da tensão superficial em engenharia é a criação dos indesejáveis meniscos em manômetros e barômetros; Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.6 Tensão Superficial Depressão e Ascensão Capilar Os assim chamados compostos surfactantes reduzem consideravelmente (em mais de 40%) os efeitos da tensão superficial quando adicionados à àgua. Tais substâncias têm grande aplicação comercial: a maioria dos detergentes contém surfactantes para ajudar a água a penetrar e retirar sujeira das superfícies. Os surfactantes são também utilizados na recuperação de óleos vegetais e minerais. Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.7 Classificação dos Movimentos de Fluidos Mecânica dos Fluidos Contínuos Viscosos µ≠0 Não-viscosos µ=0 Compressível Incompressível Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics Laminar Turbulento Interno Externo 2.7 Classificação dos Movimentos de Fluidos Dois aspectos da mecânica dos fluidos mais difíceis de tratar: (1) sua natureza viscosa e (2) sua compressibilidade; Uma primeira proposição, tratou o fluido incompressível e sem atrito. Porém conduziu a paradoxo de D’Alembert; Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.7 Classificação dos Movimentos de Fluidos Fluidos Viscosos e Não-Viscosos: Considere uma bola sendo chutada a 96 km/h. Qual a natureza do arrasto do ar sobre a bola? Atrito com o ar? Aumento de pressão na frente da bola? Uma partícula de areia, com velocidade terminal de 1 cm/s sob efeito da gravidade? Qual a natureza do arrasto? Essas perguntas podem ser respondidas através de um número adimensional chamado Reynolds que relaciona forças de pressão e forças viscosas. ρVL Re = µ µ ρ V L - viscosidade Re Bola ≈ 400000 - massa específica Re areia ≈ 0.7 - Velocidade - Comprimento característico Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.7 Classificação dos Movimentos de Fluidos Fluidos Viscosos e Não-Viscosos: Num escoamento incompressível e sem atrito, a teoria prediz linhas de correntes da forma apresentada em (a), Os pontos A e C apresentam pressões elevadas, enquanto B e o simétrico apresentam baixas pressões, não existindo força líquida de arrasto devido à pressão, Paradóxo de D’Alembert. Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.7 Classificação dos Movimentos de Fluidos Fluidos Viscosos e Não-Viscosos: Prandtl em 1904 postulou uma condição de nãodeslizamento, u = 0 em B, e a velocidade aumenta rapidamente de zero até o valor previsto pela teoria do escoamento não-viscoso. Existirá sempre uma camada limite delgada em que o atrito é significativo. Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.7 Classificação dos Movimentos de Fluidos Fluidos Viscosos e Não-Viscosos: O ar na esteira terá pressão relativamente baixa enquanto a frente da bola possuirá uma pressão elevada criando um arrasto de pressão devido à forma do objeto. Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics 2.7 Classificação dos Movimentos de Fluidos Fluidos Viscosos e Não-Viscosos: Uma possibilidade de redução de esteira, diminuindo portanto o arrasto de pressão, é conseguida pela utilização de um perfil aerodinâmico; Chapter 12 Mixtures and Psychrometrics