Desafios para o Desenvolvimento da Região Sul e Tecnologias Sociais para seu Enfrentamento Euclides André Mance Abril / 2009 Abordagem Os desafios podem ser levantados considerando-se os principais problemas a serem solucionados. Problema Geral: Crise Econômica, Desemprego e Exclusão Social Criação de Vagas de Trabalho no Brasil com Carteira Assinada Fonte: Caged Pessoas em Situação de Insegurança Alimentar por Regiões Nacionais - 2007 Norte Nordeste 22.576.187 Sudeste 11.954.152 Sul 4.260.713 CentroOeste 2.467.843 Total 11,1 milhões de famílias atendidas pelo Bolsa Família: um em cada quatro brasileiros é atendido pelo programa. Fonte: MDS 4.631.017 45.889.912 Possibilidade de enfretamento do Problema: Desenvolver ações de Geração de Trabalho e Renda na Perspectiva da Economia Solidária Para subsidiar a identificação dos desafios ao desenvolvimento que as tecnologias sociais podem colaborar para resolver na Região Sul, vamos analisar a situação da economia solidária, que alguns chamam de a outra economia e que também poderia ser chamada de A Nova Economia. Características • Solidariedade • Autogestão: a cada sócio um voto • Cooperação, reciprocidade e ajuda mútua • Propriedade coletiva dos principais meios de produção • Ruptura da subordinação estrutural do trabalhador • Valor econômico a serviço do trabalho • Inflexão ética na esfera econômica • Remuneração pelo trabalho realizado • Minimização das diferenças de remuneração • Assistência a membros desfavorecidos • Fundos sociais (seguridade, saúde, descanso, etc.) • Vínculo entre as dimensões econômica e social Empreendimentos Mapeados na Região Sul pelo SIES, MTE 2500 2085 2000 RS 1500 1000 808 Total de Empreendimentos Mapeados 3.583 Participa de Rede ou Fórum de Articulação 1.860 Participa ou se relaciona com movimentos populares 1.949 Participa ou desenvolve ação social ou comunitária 2.016 PR 690 500 SC Total de Trabalhadores 0 Faturamento Anual (R$) Faturamento Mensal (R$) Informaram faturamento igual a zero Investimentos realizados nos últimos12 meses (R$) Trata, reaproveita ou vende os resíduos gerados (%) Fonte: SIES, MTE, 2008 542.237 2,5 bilhões 207 milhões 1.254 87 milhões 45% Data de Surgimento do EES 1860 2000 1309 1500 1000 295 500 41 43 0 1951 a 1971 a 1981 a 1991 a 2001 a 1970 1980 1990 2000 2007 Fonte: SIES, MTE, 2008 Desafio 1: Fortalecer a criação de empreendimentos de Economia Solidária como forma de gerar trabalho e distribuir renda. Origem dos recursos para iniciar as atividades do empreendimento (principal fonte) ORIGENS DOS RECURSOS Dos próprios sócios - capitalização ou cotas Total 1.959 Empréstimo e/ou financiamento 447 Doações 736 Fonte: SIES, MTE, 2008 Desafio 2: Fortalecer estratégias de Finanças Solidárias para a criação de novos empreendimentos de economia solidária. Formas de Organização dos EES Grupo informal 2.000 1.649 Associação 1.500 Cooperativa 1.158 Sociedade mercantil de capital e indústria 1.000 669 Sociedade mercantil por cotas de responsabilidade limitada 500 Outra 47 27 0 21 12 Sociedade mercantil em nome coletivo Apenas 41% tem CNPJ Fonte: SIES, MTE, 2008 Desafio 3 : Facilitar a Elaboração de Planos de Viabilidade Econômica, Ecológica e Solidária, a formalização dos Empreendimentos e sua organização em Redes de Economia Solidária. Motivo Principal para a Criação do Empreendimento 900 Alternativa ao desem prego 800 Obter m aiores ganhos em em preendim ento associativo Fonte com plem entar de renda 700 Desenvolver atividade onde todos são donos Alternativa organizativa e de qualificação 600 500 Condição para acesso a financiam entos e outros apoios Motivação social, filantrópica ou religiosa 400 300 200 Outro 100 Desenvolvim ento com unitário de capacidades e potencialidades Recuperação por trabalhadores de em presa falida 0 Fonte: SIES, MTE, 2008 Atividades mais recorrentes nos empreendimentos Atividades de serviços relacionados com a agricultura Fabricação de artefatos têxteis a partir de tecidos e confecção Fabricação de prod. de padaria, confeitaria, pastelaria e outros prod. alimentícios Cultivo de hortaliças, legumes e outros produtos da horticultura Reciclagem de sucatas não-metálicas Fabricação de artefatos diversos de madeira, palha, cortiça e material trançado Comércio atacadista de hortifrutigranjeiros Comércio atacadista de leite e produtos do leite Fonte: SIES, MTE, 2008 Origem em Geral de Insumos e Matérias-Primas DESCRIÇÃO DAS ORIGENS Total Aquisição de empresa privada 2.297 Aquisição de outros empreendimentos de ES e dos próprios Associados 1.244 Doação 649 Aquisição de produtores não sócios 518 Coleta ( materiais recicláveis ou matéria-prima para artesanato) 451 Fonte: SIES, MTE, 2008 Desafio 4: Fortalecer a remontagem das cadeias produtivas para ampliar a demanda por insumos no setor da economia solidária e ampliar a sustentabilidade ecológica, econômica e solidária das redes colaborativas de economia solidária. Forma em Geral de Comercialização dos produtos e/ou serviços do empreendimento DESCRIÇÃO DAS FORMAS TOTAL Venda direta ao consumidor 2.455 Venda a revendedores/atacadistas 1.187 Venda a órgão governamental 342 Venda a outros empreendimentos de ES 294 Troca com outros empreendimentos solidários 229 Fonte: SIES, MTE, 2008 A venda e troca de produtos e/ou serviços destinam-se principalmente DESTINOS TOTAL Comércio local ou comunitário 1.877 Mercado/comércio municipal 1.686 Mercado/comércio micro-regional 1.065 Mercado/comércio estadual 588 Mercado/comércio nacional 309 Exportação para outros países 68 Empreendimentos com dificuldade em comercializar os produtos e serviços: 1.893 Fonte: SIES, MTE, 2008 Principal Dificuldade na Comercialização DESCRIÇÃO DAS DIFICULDADES Total Empreendimento não encontra quantidade suficiente de clientes 301 Falta de capital de giro para vendas a prazo 240 Dificuldade em manter a regularidade do fornecimento 145 Os clientes exigem um prazo para o pagamento 55 Não saber como se faz uma venda (argumentação, negociação, etc.) 49 O empreendimento já sofreu muitos calotes e não sabe como evitar 43 Os compradores só compram em grande quantidade 39 Fonte: SIES, MTE, 2008 No ano anterior, os resultados da atividade econômica do empreendimento, sem contar as doações de recursos, caso existam, permitiram: DESCRIÇÃO TOTAL % 1.644 46 Pagar as despesas e não ter nenhuma sobra 951 27 Não se aplica 617 17 Não deu para pagar as despesas 342 10 3.554 100 Pagar as despesas e ter uma sobra Total Fonte: SIES, MTE, 2008 Desafio 5. Ampliar o volume de produtos e serviços comercializados pelos empreendimentos de economia solidária, conscientizando os consumidores, gerando crédito para o consumo, assegurando capacidade e regularidade de fornecimento, organizando sistemas de comercialização e logísticas adequadas para economia de escopo, de escala e de velocidade. Que Tecnologias Sociais podem contribuir para a superação desses desafios? No seio da economia solidária foram desenvolvidas diversas tecnologias sociais que potencializam atividades colaborativas nos campos do consumo, produção, comercialização, serviços, finanças e desenvolvimento tecnológico, organização de redes colaborativas de economia solidária e sistemas de intercâmbio e comercialização solidários. Algumas ferramentas de tecnologia da informação que potencializam essas soluções têm sido disponibilizadas livremente através da Internet e foram debatidas no Fórum Social Mundial de Belém. FSM 2009 Foi aprovada, na Assembléia de Alianças sobre Como Impulsionar o processo permanente do Fórum Social Mundial para enfrentar a Crise, a seguinte proposta: “Criar uma articulação de organizações que atuam com tecnologia de informação e de medias livres para elaborar uma solução tecnológica via internet que permita intercâmbios econômicos solidários locais e internacionais, baseados nos sistemas já existentes”. A tecnologia social já existente debatida no FSM que deu base a essa proposta é o Sistema de Intercâmbios Solidarius, operacionalizado em www.solidarius.com.br, cujas ferramentas podem ser usadas gratuitamente. Desafio 6. Potencializar e difundir o uso das ferramentas de TI para o fortalecimento dos empreendimentos e redes de Economia Solidária. Exemplos de Tecnologias Sociais de Economia Solidária presentes na Região Sul e/ou em outras regiões do país. Redes de Economia Solidária Integrar empreendimentos solidários de produção, comércio, serviços e consumo, realizando reinvestimentos coletivos, fortalecendo e criando novas empresas. Organizações de Consumo Solidário Facilitar o acesso a bens de consumo com qualidade técnica, ambiental, social e ecológica, a preços justos ao conjunto dos consumidores EES de Produção, Comercialização e Serviço Autogestionários Gerar postos de trabalho com distribuição de renda, atendendo inicialmente as próprias demandas de consumo da região. Fundos de Desenvolvimento Solidário Financiar atividades dos Bancos Comunitários e Cartões de Crédito Solidários. Bancos do Povo Fornecer microcrédito para pequenos empreendimentos e prestadores de serviços Bancos Comunitários Gerar sistemas de microcrédito administrados pela própria comunidade, atendendo demandas de consumo e produção locais Cartões de Crédito Solidário Instrumentos a serem implementados pelos Bancos Comunitários como forma de ativar as vendas no comércio local e induzir o consumo dos produtos gerados na própria região. Rodadas de Negócios Facilitar transações econômicas entre empresas solidárias, cruzando ofertas e demandas por insumos, produtos e serviços, remontando cadeias produtivas, viabilizando a produção sob demanda, evitando a evasão dos recursos gerados no interior das Redes. Feiras de Economia Solidaria Comercialização de produtos e serviços facilitando o encontro entre produtores e consumidores. Mostras de Economia Solidária * Divulgar produtos e serviços para fechar vendas com entregas posteriores. * Facilitar parcerias entre empreendedores de um mesmo setor ou cadeia produtiva. Selo de Economia Solidária e Sistema de Certificação Participativa Identificar os produtos e serviços da Economia Solidária para os consumidores, assegurando qualidades técnicas, ecológicas e solidárias dos produtos e serviços. Catálogos de Produtos, Serviços e Comércio Divulgar produtos, serviços e pontos comerciais de Economia Solidária. Rede de Comércio Solidário Viabilizar o escoamento da produção dos conjunto dos participantes da rede. Dar suporte a organizações de consumo solidário. Terminal Municipal de Economia Solidária * Abastecer as cooperativas de consumo e a lojas da rede de comercialização. * Interligar as lojas e cooperativas de consumo e produção aos entrepostos regionais de economia solidária , facilitando a circulação de produtos entre as diversas regiões. Entrepostos Regionais de Economia Solidária Conectar os terminais de comercialização em um sistema logístico de armazenamento e distribuição facilitando circulação dos produtos entre as diversas regiões. Sistemas de Troca com Moeda Social Ativar fluxos de intercâmbio locais, como forma de geração de renda aos participantes. Incubadoras de Cooperativas Populares Possibilitar o nascimento e amadurecimento de pequenos empreendimentos solidários com incentivos e acompanhamento especializado em cada área. Complexos Cooperativos Integram empreendimentos autogestionários com especialização setorial para estreita cooperação entre si. Portais de Economia Solidária • divulgar produtos, serviços e empreendimentos • facilitar a reorganização das cadeias produtivas • facilitar a organização de comunidades econômicas • transferências tecnológicas • serviços de Comércio Eletrônico • agenda e articulação da economia solidária • qualificação técnica, ecológica e social dos empreendimentos • disponibilizar informações aos consumidores • etc. Sistema de Intercâmbios Solidarius Constituído por uma Comunidade Mundial de Intercâmbios em 2007, integra atualmente participantes de 8 países Possibilita intercâmbios locais e internacionais com créditos solidarius, integrando consumo, comercialização, produção, financiamento e desenvolvimento tecnológico. A Comunidade de Intercâmbios é gestora de um Fundo Mundial de Ecosol que possui seções nacionais em 4 países. A operacionalidade do sistema é realizada através do portal solidarius.com.br O Fundo pode ser utilizado para micro-créditos, doações a projetos de ecosol e defesa da soberania econômica nacional. Desafio 7. Consolidar o Desenvolvimento Regional com base nos princípios e valores da sustentabilidade econômica, ecológica e social que fundamentam a economia solidária, aproveitando as tecnologias sociais existentes, assegurando geração de trabalho e distribuição de renda, fortalecendo a plena democratização da esfera econômica, pela difusão da autogestão como forma privilegiada de organização empresarial. Exemplos de Ferramentas de TI existentes para Ecosol ( disponíveis no Portal Solidarius.com.br e no Portal do FBES) Buscador Solidarius e Farejadores do FBES Localização por empreendimento, produtos, serviços, insumos e resíduos. Localização por detalhamentos de cadeias produtivas facilitando negócios e parcerias entre empreendimentos. Sustentabilidade de Iniciativas e Redes Colaborativas Ferramenta para elaboração de projetos de sustentabilidade econômica, ecológica e solidária Ferramenta para Monitoramento de Sustentabilidade Banco de Projetos publicados pelos usuários. Ferramenta para Organização de Redes Colaborativas: - diagnosticar os fluxos materiais e de valores entre os empreendimentos, - projetar a sustentabilidade da Rede em seu conjunto, - monitorar a sua evolução. Banco de Redes: exemplos de Redes Colaborativas de Economia Solidária que podem ser adaptadas a realidades diversas, adicionando e suprimindo empreendimentos ou alterando a configuração dos empreendimentos nelas já integrados. Compartilhamento de Redes e Projetos Ferramenta para o compartilhamento de dados de empreendimentos entre os participantes de uma determinada rede, para monitoramento de sustentabilidade de cada iniciativa e da rede como um todo. Ferramentas de TI para Comercialização Lojas Virtuais - Sistema de Comércio Eletrônico com formas diversificadas de pagamento, e catálogo de ofertas com atualização imediata pelo responsável. Fluxo de Vendas - Sistema simplificado para controle de vendas on line pendentes, canceladas e concluídas Ferramentas de TI – Ambientes Especializados Ambiente Virtual para Trocas Solidárias Sistema de lntercâmbio restrito com moeda social entre os membros do grupo, com uma loja virtual para cada participante, onde as ofertas são visualizadas apenas pelos membros do grupo, com pedidos enviados ao ofertante e registros de transações on line visíveis ao conjunto dos participantes. Ambiente Virtual para Grupos de Compras Solidárias Página de Ofertas ao Grupo integrada no sistema de compras on line, com pedidos endereçados ao coordenador do grupo. Ferramentas de TI – Finanças Solidárias Ambiente Virtual para Sistemas de Microfinanças Solidárias Sistema de contas interligadas com movimentação de moedas virtuais restrita entre os membros do grupo, para facilitar a gestão comunitária de recursos coletivos. Operações com Créditos Solidarius: Sistema eletrônico de transações nacionais e internacionais com Créditos Recuperáveis Conversão de Créditos Solidários para Financiamento de Projetos Utilização de Créditos, obtidos com vendas no sistema, para a cobertura de capital de giro ou investimento fixo. Euclides André Mance [email protected] [email protected] www.solidarius.com.br/mance