UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
DCSA – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIA DA VIDA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM NUTRIÇÃO CLÍNICA
3ª EDIÇÃO – CAMPUS IJUÍ
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
Terapia nutricional durante o climatério e
menopausa
CÁTIA SIRLENE JESSE
IJUÍ, 2012
CÁTIA SIRLENE JESSE
Terapia nutricional durante o climatério e
menopausa
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado
ao
Curso
de
Pós-
graduação lato sensu em nutrição
clínica - 3ª Edição da Universidade
Regional do Noroeste do Estado do
Rio Grande do Sul - UNIJUÍ, como
requisito parcial para obtenção do
título de Especialista em Nutrição
Clínica.
ORIENTADORA: PROFA ME. ADRIANE HUTH
IJUÍ, 2012
2
RESUMO …………………..........……………………………….......................... 4
1 INTRODUÇÃO …………………..........…………………………........................ 5
2 MÉTODOS ……………………………..........……………………....................... 8
3 DISCUSSÕES .............................…………........………………....................... 8
3.1 Saúde e estilo de vida da mulher no climatério e menopausa................... 8
4. DOENÇAS ASSOCIADAS..............................................................................
9
4.1 Osteoporose............................................................................................... 9
4.2 Obesidade.................................................................................................. 10
4.3 Doenças cardiovasculares......................................................................... 11
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 13
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................... 15
3
Terapia nutricional durante o climatério e menopausa1
CÁTIA SIRLENE JESSE2
ADRIANE HUTH3
Resumo
Definido pela Sociedade Internacional de Menopausa, o climatério representa a
transição da vida reprodutiva para a não reprodutiva, dentro deste período de tempo
ocorre a menopausa, que corresponde à última menstruação fisiológica da mulher.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, a menopausa é definida por 12 meses
consecutivos de amenorréia, sem outra causa patológica ou psicológica evidente.
Os sintomas presentes na síndrome climatérica são: ondas de calor, insônia,
irritabilidade, parestesias, palpitações, vertigens, fadiga, cefaléia, artralgia e mialgia;
a médio prazo o hipoestrogenismo resulta em atrofia urogenital, dispareunia,
polaciúria e incontinência urinária. O déficit estrogênico também está associado à
maior incidência de doença coronariana e aumento no risco de osteoporose bem
como a obesidade, porém tais patologias podem estar presentes, decorrentes não
só da perda da função hormonal, mas também de mudanças no estilo de vida. Esta
revisão literária tem por objetivo mostrar as principais mudanças que ocorre no
organismo das mulheres no período de climatério e menopausa e as principais
patologias que podem estar associadas nessa fase de transição e de que forma a
alimentação e o estilo de vida podem intervir na saúde da mulher.
Palavras–chaves: menopausa, climatério, alimentação e menopausa.
Abstract
Defined by the International Menopause Society, climateric represents the transition
of the reproductive life to non-reproductive life, within this period of time occurs the
menopause, which corresponds to the last physiological menstrual period of women.
According to the World Health Organization, menopause is defined by 12
consecutive months of amenorrhea, without any other pathological or psychological
cause. The symptoms of the climateric syndrome are: heat waves, insomnia,
irritability, paresthesias, palpitations, dizziness, fatigue, headache, arthralgia and
myalgia; medium-term hypoestrogenism results in urogenital atrophy, dyspareunia,
pollakiuria and urinary incontinence. The deficit estrogen is also associated with
higher incidence coronary heart disease and increased risk of osteoporosis and
obesity, but such pathologies may be present, resulting not only the loss of hormonal
function, but also of changes in the lifestyle. This literature review aims to show the
major changes that occurs in the women's body during the climateric and menopause
period and the major pathologies that can be associated in this transiction phase and
how diet and lifestyle may be involved in women's health.
Key words: menopause; climateric; food and menopause.
1 Trabalho de Conclusão de curso do Curso de Pós Graduação LATO SENSU em Nutrição Clínica 3a
Edição
2 Nutricionista, pós graduanda em Nutrição Clínica pela UNIJUI
3 Nutricionista, docente do Departamento de Ciências da Vida da UNIJUÍ
4
1. Introdução
Originária do grego “klimakter”, a palavra climatério significa degrau e
representa a etapa do desenvolvimento humano que marca a transição da idade
adulta à senescência (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
Definido pela Sociedade Internacional de Menopausa, o climatério representa
a transição da vida reprodutiva para a não reprodutiva. Dentro deste período de
tempo ocorre a menopausa, que corresponde à última menstruação fisiológica da
mulher (CAMPANA, L. O. C.; NETO, A. M. P.; PEDRO, A. O, 2001).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 1996), a menopausa
natural é definida por 12 meses consecutivos de amenorréia, sem outra causa
patológica ou psicológica evidente, não existindo nenhum indicador biológico
independente e adequado para caracteriza-lá (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.;
ALDRIGHI, J. M., 2003).
Do ponto de vista biológico, o climatério é o período da vida da mulher que se
inicia ao redor dos 35 anos, quando podem ser detectadas as primeiras alterações
hormonais, estendendo-se aték os 65 anos, tendo portanto uma duração de
aproximadamente 30 anos (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M.,
2003).
A menopausa ocorre, em média, aos 50 anos. No entanto, é possível que
haja diferenças entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento (OMS,
1996). Baixo nível sócio-econômico, baixo peso e tabagismo são alguns fatores que
poderiam adiantar o advento da menopausa, enquanto que o número de gestações,
o uso de contraceptivos hormonais e outros fatores que reduzem os ciclos
ovulatórios durante o período reprodutivo, poderiam postergar o final da idade
reprodutiva (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
O envelhecimento da população mundial constitui um processo relativamente
recente na história da humanidade. Com o crescimento da população mundial
construtiva (maior número de pessoas com mais idade), essa transição demográfica
e epidemiológica foi muito bem definida como uma “retangularização” da sociedade
moderna. Isto traz um novo e interessante conceito: vivemos hoje uma expectativa
de envelhecer (CAMPANA, L. O. C,; PURCINO, L. S, 2001).
No século XVII, 28% das mulheres viviam o suficiente para alcançar a
menopausa e somente 5% sobreviviam mais de 75 anos. Atualmente, em países
5
desenvolvidos, 95% das mulheres atingem a menopausa e 50% delas ultrapassam
os 75 anos de idade. Em 1990 a população mundial com mais de 50 anos era de
aproximadamente 470 milhões de mulheres. A previsão para 2030 é de 1.200
milhões de mulheres. Atualmente 9,23% da população mundial têm mais de 50
anos. Estima-se, hoje em dia, que as mulheres passam ao menos um terço de suas
vidas no período de pós menopausa (CAMPANA, L. O. C.; NETO, A. M. P.; PEDRO,
A. O, 2001).
Para se ter uma idéia, em 1980, a esperança de vida da mulher brasileira
estava ao redor dos 66 anos. Em 2005, falava-se em 75,8 anos. Estima-se para
2050 uma expectativa de vida de 84,5 (IBGE, 2004). No mesmo período (2050),
mais de 20% da população mundial será composta de idosos, sendo esse fenômeno
universal não verificado somente nas sociedades desenvolvidas (CAMPANA, L. O.
C,; PURCINO, L. S, 2001).
No Brasil, em 2004, mulheres climatéricas com idade entre 45 e 65 anos
correspondiam a 17% da população feminina no país (IBGE, 2004). Apesar de
serem reconhecidas há séculos, a menopausa e a síndrome climatérica são
fenômenos essencialmente modernos e universais (CAMPANA, L. O. C,; PURCINO,
L. S, 2001).
Eventualmente o climatério pode ser assintomático. Entretanto, o declínio da
atividade folicular ovariana pode caracterizar a síndrome climatérica, cujos sintomas
foram classificados por KUPPERMAN (KUPPERMAN et al., 1953). São eles ondas
de calor; insônia; irritabilidade; parestesias; palpitações; vertigens; fadiga; cefaléia;
artralgia e mialgia a médio prazo o hipoestrogenismo resulta em atrofia urogenital,
dipareunia, polaciúria, e incontinência urinária (UTIAN, 1987; MacLENNAN, 1991).
Isto contribui para um aumento na incidência de infecções urinárias, vulvovaginites e
distopias genitais (CAMPANA, L. O. C.; NETO, A. M. P.; PEDRO, A. O, 2001).
O déficit estrogênico também está associado à maior incidência de doença
coronariana, assim como a uma maior taxa de mortalidade por doença
cardiovascular. São observadas ainda aumento no risco de osteoporose e fraturas
osteoporóticas devido à diminuição da densidade mineral óssea nesse período. Mais
recentemente,
alguns
estudos
correlacionam
a
deficiência
estrogênica
ao
desenvolvimento da doença de Alzheimer (CAMPANA, L. O. C.; NETO, A. M. P.;
PEDRO, A. O, 2001).
6
Na fase final do climatério, sinais de osteoporose e doença cardiovascular
aterogênica podem estar presentes, decorrentes não só da perda da função
hormonal, mas também de mudanças no estilo de vida (FRANÇA, A. P.; MARUCCI,
M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
Ainda se debate se a menopausa é somente determinada biologicamente,
como resultado direto do declínio da atividade ovariana e que pode ser conduzida
com a terapia de reposição hormonal (TRH), ou se é somente uma conseqüência de
fatores socioculturais. Embora a transição da menopausa seja uma experiência
universal, o mesmo não pode se afirmar sobre a síndrome do climatério, pois existe
uma grande variação na freqüência e intensidade dos sintomas relatados e a queixa
principal nem sempre é a mesma. Existem evidências que fatores relacionados à
dieta, em particular a ingestão de fitoestrogênios naturais substâncias vegetais não
estróides com fraca atividade estrogênica poderiam explicar a baixa freqüência de
fogachos em certas populações asiáticas (CAMPANA, L. O. C.; NETO, A. M. P.;
PEDRO, A. O, 2001).
Mesmo nos dias atuais, muitas mulheres ainda se aproximam e chegam à
menopausa com dúvidas e incertezas sobre o que acontecerá e de como lidar com
as alterações que irão acontecer nessa fase.
Recomenda-se no período do climatério a busca de uma melhor qualidade de
vida. Exercícios físicos praticados regularmente e com orientação podem combater a
obesidade e a hipertensão, resultando em proteção da doença coronariana e da
osteoporose por promover o aumento da massa óssea, principalmente quando
associada à ação da luz solar e a ingestão adequada de cálcio (CAMPANA, L. O. C.;
NETO, A. M. P.; PEDRO, A. O, 2001).
Portanto no momento que a mulher entra no climatério ou até mesmo antes
de chegar à fase de transição é de suma importância alguns cuidados ou até mesmo
algumas mudanças no estilo de vida, dieta, prática de atividade física e o uso de
terapia hormonal são algumas alternativas para minimizar os efeitos e melhorar a
qualidade de vida durante esse período.
Portanto esse estudo de revisão literária tem por objetivo examinar as
principais mudanças que ocorrem com o organismo das mulheres no período de
climatério e menopausa, e as principais patologias que podem estar associadas
nessa fase de transição. E de que forma a alimentação e o estilo de vida podem
intervir na saúde da mulher.
7
2. Métodos
Este estudo consiste em uma revisão literária baseada em análise qualitativa
das referências encontradas nas bases de dados PubMed, MEDLINE, LILACS e
Scielo, considerando o período de 1953 a 2011. A estratégia de busca foi definida
pelos unitermos relativos à alimentação e menopausa e seus respectivos termos:
menopausa, climatério, alimentação e menopausa.
3. Discussão
3.1 Saúde e estilo de vida da mulher no climatério e menopausa
Os países desenvolvidos dispõem de mais informações sobre a saúde da
mulher nesta fase da vida, enquanto que, nos países em desenvolvimento, são
poucas as investigações elucidativas.
A OMS(1998), em documento sobre a saúde no Brasil, relata que “as
informações disponíveis sobre as condições de saúde da mulher se referem,
sobretudo, a aspectos reprodutivos” – período gestacional, parto e puerpério – não
havendo nenhuma inferência ao período do climatério (FRANÇA, A. P.; MARUCCI,
M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
Estudos epidemiológicos atribuem as modificações do padrão alimentar e da
qualidade de vida ao processo de industrialização e urbanização, que incluiu a
melhoria no padrão de vida, porém também gerou efeitos negativos, como dietas
inadequadas e diminuição do nível de atividade física. Esse impacto no estado
nutricional das populações foi significativo, aumentando a incidência de doenças
relacionadas à nutrição (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M.,
2003).
Resultados de uma pesquisa conduzida pela Sociedade Norte Americana de
Menopausa mostraram que mais de 75% das mulheres de 50 a 65 anos fizeram
mudanças desfavoráveis ao seu estilo de vida, principalmente nos aspectos
relacionados à alimentação, sendo portanto um período crucial para empregar a
alimentação como ferramenta para a promoção de saúde (FRANÇA, A. P.;
MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
A Sociedade Norte Americana de Menopausa recomenda aos profissionais de
saúde que estimulem as mulheres a adotar um estilo de vida saudável, que inclui a
diminuição do uso de tabaco e cafeína; redução do estresse; informações sobre os
8
benefícios da prática de exercícios físicos, da alimentação saudável e do controle de
peso. A American Dietetic Association e Dietitians of Canada destacam os aspectos
nutricionais como sendo fundamentais na redução do risco de doenças, bem como
no tratamento, enfatizando sua importância na atenção à saúde da mulher
(FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
4. Doenças associadas
4.1 Osteoporose
A osteoporose é uma doença esquelética sistêmica, caracterizada por massa
óssea baixa e deterioração microarquitetural do tecido ósseo, conduzindo à
fragilidade do osso e ao aumento do risco de fratura (LANZILLOTTI, H. S. et al,
2003).
Na menopausa aumenta a renovação e diminui a formação óssea em cada
unidade de remodelação. O que conduz a uma perda de massa óssea. O risco de
osteoporose depende tanto da massa óssea máxima alcançada nos anos de idade
adulta jovem quanto ao índice de perda da massa nas épocas posteriores. O pico de
massa óssea geralmente não é alcançado antes dos 30 anos e o estilo de vida é um
importante determinante da probabilidade de desenvolver mais tarde osteoporose.
Dentre os fatores de risco está a ausência de atividade física regular e de terapia de
reposição hormonal, bem como fatores genéticos e os relativos à dieta. Não se sabe
com certeza em que idade começa a perda da massa óssea, mas acredita-se que,
entre 40 anos e a menopausa, as mulheres perdem aproximadamente 0,3% a 0,5%
de sua massa do osso cortical por ano; após a menopausa, este ritmo acelera para
2% a 3% ao ano (LANZILLOTTI, H. S. et al, 2003).
Na menopausa, a principal alteração biológica é o cessar da ovulação,
confirmada quando a menstruação se interrompe por pelo menos um ano. Após a
menopausa, os ovários tornam-se inativos e ocorre mínima ou nenhuma liberação
de estrogênio, coincidindo com a redução da absorção de cálcio pelo intestino,
devido à baixa produção de calcitonina, hormônio que inibe a desmineralização
óssea. O déficit de estrogênio é um determinante importante na perda óssea durante
a menopausa e, quando precoce, o risco é muito maior. De acordo com estudo de
meta-análise realizado por Nieves et al. (1998), o efeito da associação do estrogênio
com um consumo de cálcio adequado (aproximadamente 1200mg/dia) parece mais
9
benéfico do que a soma de cada efeito sozinho, induzindo haver interação entre os
fatores de risco (LANZILLOTTI, H. S. et al, 2003).
4.2 Obesidade
A obesidade é uma complexa afecção crônica, resultante da interação de
fatores genéticos e do meio ambiente que, na mulher, relaciona-se a complicações
da gestação, irregularidades menstruais, infertilidade, depressão, distúrbios
alimentares, baixa auto-estima, além de hipertensão, dislipidemias, infarto, diabetes
tipo 2, doença cardiovascular (DCV), câncer de mama, de endométrio e de cólon
intestinal (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
A redução estrogênica favorece o surgimento da obesidade central, a qual
pode desencadear complicações metabólicas, dentre as quais dislipidemia (FILHO,
A. O. J. M, 2005).
MONTILLA (2001) ao estudar o estado nutricional de 154 mulheres no
climatério, segundo o IMC (WHO 1997), mostrou dados preocupantes em relação à
saúde deste grupo: 1% se encontrava na faixa de baixo peso, 24% de peso normal,
35% de pré-obesidade e 40% de obesidade, das quais 34% de obesidade classes I
e II e 6% de obesidade classe III (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI,
J. M., 2003).
Segundo MARTINEZ (2000), o ganho de peso relaciona-se ao desequilíbrio
no balanço energético: ingestão maior que o gasto por um período de tempo; sendo
três os fatores que influenciam o peso corporal: hábito alimentar, metabolismo e
utilização dos nutrientes e atividade física, os quais podem ser afetados pela
susceptibilidade genética do individuo (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.;
ALDRIGHI, J. M., 2003).
A mulher após os 50 anos, apresenta tendência ao aumento de peso, que
pode estar relacionada à redução das necessidades energéticas de repouso, que é
da ordem 2% a cada década, atribuída à diminuição do metabolismo e da atividade
física (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
POEHLMAN e TCHERNOF (1998) concluíram que a cessação da função
ovariana provoca redução do metabolismo, da quantidade de massa magra, e do
gasto energético no exercício, além de estimular o acúmulo de gordura no tecido
adiposo, contribuindo para o maior risco de obesidade e doença cardiovascular em
10
mulheres pós-menopausa (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M.,
2003).
4.3 Doenças cardiovasculares
No Brasil, as doenças do aparelho circulatório são responsáveis por cerca de
25% das internações hospitalares, consumindo cerca de 13% dos recursos
assistenciais
à saúde (OMS 1998) e, segundo dados do Ministério da Saúde
(MINISTÉRIO DA SAÚDE 2000), em 1998, foram a principal causa de mortalidade
entre as mulheres. Estudos enfatizam que o infarto do miocárdio na mulher, embora
ocorra em idade mais avançada que no homem, associa-se a taxa de mortalidade
duas vezes maior (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
A maior vulnerabilidade desse grupo à Doenças Cardiovasculares (DCV)
baseia-se em estudos epidemiológicos, como o de Framingham, que demonstrou
claramente
aumento
de
incidência
de
DCV
com
a
idade:
enquanto
é
consideravelmente maior em homens em todos os grupos etários, após a
menopausa
as mulheres sofrem dessa afecção na mesma frequência. Essas
diferenças estão atribuídas ao metabolismo de lipídeos, controlado em parte pelos
esteróides sexuais (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
As mulheres na menopausa perdem a proteção relativa às doenças
coronárias, devido às modificações no perfil lipídico que ocorrem com a deficiência
estrogênica. O hipoestrogenismo aumenta o colesterol total e a LDL-colesterol
(lipoproteína de baixa densidade), que é aterogênica, por diminuição dos receptores
hepáticos (FERIN et al. 1993). Estudos denotam que os níveis séricos de colesterol
em mulheres na pós-menopausa, excede os apresentados pelos homens e, além
disso, os níveis de triglicérides podem aumentar de 50% a 75% com a idade
(FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, vários são os fatores e
preditores de risco implicados na gênese das Doenças Cardiovasculares (DCV),
dentre os quais inclui-se elevação dos lipídeos séricos, hipertensão arterial,
tabagismo, diabetes, obesidade, sedentarismo e antecedentes familiares (SANTOS
2001). Em estudo realizado na Argentina, observaram que os fatores mais
prevalentes em mulheres na menopausa foram: reduzida atividade física (87%),
distúrbios nervosos (67%), obesidade (64%), antecedentes familiares de doença
cardiovascular (38%) e hipertensão (33%) (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.;
ALDRIGHI, J. M., 2003).
11
A dieta hipercalórica, rica em gordura saturada, colesterol e sal; o consumo
de bebidas alcoólicas; o sedentarismo e o tabagismo incluem-se dentre os principais
fatores do estilo de vida relacionados ao risco de Doença Cardiovascular (FRANÇA,
A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
Segundo a Sociedade Norte-Americana de Menopausa, a inatividade física é
um fator de risco para muitas doenças, incluindo DCV e diabetes.
A influência da reposição hormonal na ocorrência de doença coronária na
mulher após a menopausa tem sido objeto de várias investigações. Vários trabalhos
sustentaram que a reposição do estrogênio apresentaria resultados benéficos para
muitas condições, inclusive na prevenção e diminuição da incidência de Doença
Cardiovascular e de osteoporose (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI,
J. M., 2003).
Recente estudo longitudinal americano (Women’s Health Iniative) recomenda
cautela quanto ao posicionamento sobre os riscos e benefícios da TRH,
anteriormente consolidados. Em mulheres saudáveis na pós-menopausa, os
resultados apontaram que os riscos à saúde excederam os benefícios do uso: o
risco de fraturas do quadril e de câncer colo-retal diminui, porém o risco de câncer
de mama, infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e troboembolismo venoso
aumentou. É importante considerar que há contra-indicações para a TRH e além
disso há casos de pacientes que recusem ou não aderem ao tratamento por razões
financeiras ou até mesmo receio em relação à adoção de uma nova terapia
farmacológica (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
Com relação à mulher no climatério, evidências sugerem que as flutuações
hormonais, características da transição menopausal, podem apresentar um alto risco
de ganho de peso, com modificações na composição corporal e na distribuição de
gordura corporal (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
Muitos estudos enfocam o possível efeito da menopausa no ganho de peso e
quantidade de gordura corporal, associando a perda da função ovariana à redução
da taxa metabólica basal e do gasto energético, que aliada aos baixos níveis de
atividade física, torna as mulheres mais propensas ao aumento de massa gordurosa,
com acúmulo na região abdominal. Esse Padrão de distribuição de gordura, por sua
vez, associa-se a uma série de conseqüências endócrinas e metabólicas
relacionadas ao risco de doença cardiovascular.
12
Estudos afirmam que a quantidade de gordura e massa magra em adultos se
modifica em função de vários fatores como atividade física, alimentação, menopausa
e alguns estados patológicos, referindo vários estudos relacionam o envelhecimento
ao aumento de peso e da gordura corporal e à diminuição da massa magra
(FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
As modificações da composição corporal na mulher no climatério, citam a
perda lenta e gradual de massa magra, de aproximadamente 5 a 10% por década de
vida, e as alterações mais evidentes ocorrem com perda de tecido nos membros
inferiores e acréscimo de gordura ao tronco (FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.;
ALDRIGHI, J. M., 2003).
O acúmulo de gordura na região abdominal é acelerado na transição para a
pós-menopausa. Estudos afirmam que é fato conhecido que as mulheres tendem a
acumular gordura preponderantemente nos quadris e coxas quanto mais jovens e ao
redor da cintura com o passar dos anos, porém, é difícil avaliar o quanto esse fato
de deve ao envelhecimento em si, ou o quanto é influenciado pela menopausa.
(FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M., 2003).
5.
Considerações finais
O presente estudo de revisão bibliográfica mostra que uma abordagem
nutricional focada na prevenção de fatores de risco entre mulheres no climatério e
menopausa é de suma importância. Visto que hábitos alimentares saudáveis são
imprescindíveis para a prevenção das doenças associadas nessa fase.
A questão da prevenção das doenças cardiovasculares determina o
delineamento de um plano dietético que contemple medidas coadjuvantes para a
prevenção ou controle das dislipidemias (anormalidades nas gorduras do sangue),
da hipertensão arterial sistêmica, das alterações de glicemia e, sobretudo, medidas
para redução ou manutenção do peso corporal ideal (COSTA e SILVA, 2005).
Em linhas gerais, para atingir esses objetivos o planejamento dietético deverá
ser desenhado com os seguintes traços elementares: ingestão calórica controlada
ou reduzida de forma gradual, restrição de alimentos ou preparações com alto teor
de sódio, substituição de algumas fontes de gorduras saturadas e/ou colesterol por
fontes de gorduras poliinsaturadas ou monoinsaturadas, restrição de alimentos
contendo gorduras trans e substituição de algumas fontes de carboidratos refinados
13
e/ ou de alta densidade calórica por fontes com baixa densidade calórica e/ou alto
teor de fibras (COSTA e SILVA, 2005).
Já a problemática da osteoporose impõe ao plano alimentar estratégias para
o controle de fatores dietéticos que possam comprometer a mineralização ou
manutenção óssea alinhadas com as definidas para a prevenção das Doenças
cardiovasculares.
Em resumo, essas ações deverão focar a ingestão adequada de cálcio
através da inclusão dos principais alimentos fontes e o controle dos fatores que
influenciam na biodisponibilidade do cálcio e ingestão adequada de proteínas (para
que não ocorra consumo excessivo). As recomendações de cálcio são de 1000
mg/dia na faixa etária de 19 a 50 anos e de 1200 mg/dia na faixa etária de 51 a 70
anos. Atingir estas recomendações é um desafio considerável, visto que a ingestão
de alimentos fontes pelas mulheres no climatério fica aquém do recomendado
(CAMPANA, L. O. C,; PURCINO, L. S, 2001).
Assim a terapia nutricional deve contemplar uma alimentação equilibrada com
a participação dos macro e micronutrientes necessários para a manutenção da
saúde e da qualidade de vida de mulheres no período de climatério e menopausa.
14
Referências bibliográficas
CAMPANA, L. O. C,; PURCINO, L. S. Considerações sobre estado
climatérico, qualidade de vida e cuidados nutricionais. Informe publicado em
2001.
Disponível
em:
http://www.fef.unicamp.br/departamentos/deafa/.../cultura_alimentarcap8.pdf. Acesso
em: 15 dez. 2011.
CAMPANA, L. O. C.; NETO, A. M. P.; PEDRO, A. O. Conhecimento sobre a
menopausa e seu tratamento de acordo com o estado menopausal e estrato
social: análise de inquérito populacional domiciliar em mulheres climatéricas
do município de campinas. Dissertação para obtenção de título de mestre.
UNICAMP, 2001.
COSTA, R. P., SILVA, C. C. Doenças cardiovasculares. In: CUPPARI, L.
Guias de nutrição: nutrição clínica no adulto. 2.ed. Barueri, 2005.
FILHO, A. O. J. M. Perfil nutricional e lipídico de mulheres na pós-menopausa
com arterial coronariana. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 84, n. 4, p. 325 –
329, abr 2005.
FRANÇA, A. P.; MARUCCI, M. F. N.; ALDRIGHI, J. M. Estado nutricional e
risco de doença cardiovascular em mulheres no climatério atendidas em um
ambulatório da cidade de São Paulo. Dissertação para obtenção de título de
mestre. Universidade de São Paulo FCF/FEA/FSP, 2003.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Diretoria de Pesquisas.
Coordenação de População e Indicadores Sociais. Projeção da população do Brasil
por sexo e idade 1980-2050. Revisão 2004.
15
KUPPERMAN, H.S.; BLATT, M.H.G.; WIESBADER, H.; FILLER, W. –
Comparative clinical evaluation of estrogenic preparatipms by the menopausal and
amenorrheal indices . J. Clin. Endoc. Metab., 13:688 - 803, 1953.
LANZILLOTTI, H. S. et al. Osteoporose em mulheres na pós-menopausa,
cálcio dietético e outros fatores de risco. Revista de Nutrição, Campinas, 16(2), p.
181-193, abr/jun. 2003.
MACLENNAN, A.H. - Hormone replacement therapy and the menopause –
Australian Menopause Society. Med. J. Aust, 155:43-4, 1991.
MARTINEZ JA. Body weight regulation: causes of obesity. Proc Nutr Soc
2000; 59:337-45.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sistema de informações sobre mortalidade.
Mortalidade
proporcional
por
grupos
de
causas.
Disponível
em:
<URL:http//www.tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?
MONTILLA RNG. Avaliação do estado nutricional e do consumo alimentar
de mulheres no climatério de um centro de saúde escola. São Paulo; 2001
[Dissertação de mestrado – Programa de Pós-Graduação Interunidades em
Nutrição. Humana Aplicada – PRONUT – FCF/FEA/FSP – USP].
OMS Organización Mundial de la Salud. Investigaciones sobre La
menopausia em los años noventa: informe de un grupo cientifico de la OMS.
(OMS, Serie de informes técnicos; 866). Ginebra; 1996.
[OPAS/OMS] Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da
Saúde. A saúde no Brasil. Brasília, 1998.
POEHLMAN ET, TCHERNOF A. Transversing the menopause: changes in
energy expenditure and body composition. Coron Artery Dis 1998; 9(12):799-803.
16
UTIAN, W.H. - Overview on menopause. Am. J. Obstet, Gynecol., 156:12803, 1987.
[WHO] World Health Organization. Obesity: preventing and managing the
global epidemic. Report of a WHO consultation on obesity. Geneva; 1997.
17
Download

TCC Pós - Biblioteca Digital da UNIJUÍ