MOTIVAÇÃO PARA A ENGENHARIA
Richard M. Stephan - [email protected] EE/COPPE/UFRJ
Resumo. São levantadas três perguntas intrigantes: O que é Engenharia? - Existe
vocação para especialidades da Engenharia? Que condições favorecem o
desenvolvimento tecnológico?; e apresentadas idéias para responder a estas perguntas
e iniciar uma discussão provocada na conclusão do trabalho.
Palavras-chave: Engenharia, Tecnologia, Motivação, Vocação
Nos últimos anos, os cursos de engenharia no Brasil e em várias partes do mundo
estão sendo menos procurados. Especialidades em ciências sociais, políticas e
econômicas atraem mais aos estudantes. Através de três pequenos textos, o autor
procurar apresentar, incentivar e orientar os jovens na difícil escolha profissional.
Objetiva-se apresentar elementos provocantes para reflexão e discussão, pontos
essências em qualquer transformação.
Texto 1:
O QUE ÉENGENHARIA?
Um profundo conhecedor da química do cérebro e do comportamento do homem
e da sociedade alertou-me que "amor e técnica estão em eixos ontológicos diferentes,
em linhas diferentes de tendências humanas: ética e estética, respectivamente". Mas,
para estabelecer coordenadas em um plano, valemo-nos usualmente de eixos
ortogonais. O texto que se segue traça um perfil da engenharia tendo como referência
os eixos ortogonais: amor e técnica.
Como tenho dificuldade para responder a esta pergunta: O que é engenharia?
Vou tentar contornar esta dificuldade falando das obras da engenharia. Acredito
que por aí será possível chegar a uma concepção do que é a engenharia.
Definição: Obras da engenharia são o conjunto das coisas visíveis menos o conjunto
das coisas da natureza. Usando notação de Teoria dos Conjuntos:
{OBRAS DA ENGENHARIA} = {COISAS VISÍVEIS} – {COISAS DA NATUREZA}.
Mas, como nos ensina Saint Exupery: “O essencial é invisível aos olhos.”
Assim, concluímos que a Engenharia não é essencial.
Essencial, fundamental, afinal, é o amor, e a engenharia se torna uma atividade
árida, fria, desconexa de tudo que é importante nesta vida.
O problema é que o amor, por sua vez, também é algo difícil de se definir.
Os gregos tinham três palavras para amor: “eros”, “filos”e “ágape”. Nós em
português, inglês, alemão, espanhol, francês e, acredito, em todos os idiomas de uso
contemporâneo, tratamos por uma só, que pobreza!!!
Na verdade, o amor tem que ser externalizado por ações visíveis para ser
compreendido:
A dedicação de uma mãe, a abnegação de um pai, o companheirismo de um
colega de turma são exemplos de amor filos.
O sensual encantamento por uma mulher ou por um homem são exemplos de
amor eros, a forma mais simples e que normalmente se atribui à nossa palavra “amor”.
O amor ágape é o que retrata o amor sublime de um religioso ou dos seres
Em qualquer caso, é necessário um ato que externe este sentimento.
Justamente neste ponto é que reencontramos a engenharia como a forma mais
efetiva dos homens mostrarem que amam.
Afinal, a escravidão terminou pois existiam recursos tecnológicos que mostraram
que o trabalho escravo poderia ser dispensado. As epidemias, fome, frio e outras
preocupações do ser humano podem ser superadas com os recursos que a engenharia
oferece. A distância entre as pessoas e muitos outros exemplos podem ser colocados.
Bela esta profissão que me permite concretizar o sentimento mais nobre da
humanidade: o amor!!!
Texto 2:
EXISTE VOCA ÇÃO PARA ESPECIALIDADES DA ENGENHARIA?
Tive muita dúvida na minha escolha por engenharia eletrotécnica. Estava
perdido demais ao terminar o segundo ano do curso básico. Acredito que hoje em dia,
com mais opções profissionais e com a escolha da especialidade já no vestibular, como
ocorre na UFRJ, a dificuldade de alguns jovens seja ainda maior. Conheço vários que
desistiram do curso que faziam e tentaram recomeçar por outro caminho.
Evidentemente, existem vocações e afinidades diferentes entre as pessoas.
Ainda bem, senão o mundo seria muito monótono!!! Acredito que o estudante de
engenharia deve basicamente ter habilidades para o método científico. Se a opção for
engenharia mecânica, elétrica, naval ou qualquer outra que seja, a diferença é mínima e
o que deve influenciar é a qualidade do curso, as facilidades oferecidas pela faculdade,
o mercado de trabalho. O engenheiro precisa, sim, ter uma boa base em matemática,
física, química, inglês, e, principalmente, abertura para dialogar com colegas de outras
especialidade, incluindo aí físicos, sociólogos, políticos, economistas e etc.
Claro que as coisas não são exatamente deste modo simplista que estou
colocando, mas também não são um bicho de sete cabeças como alguns tentam
apresentar. Por exemplo, dizendo que é mais crítico escolher uma profissão do que
uma esposo ou esposa, pois estes últimos pode-se trocar com mais facilidade. Acho
que está se complicando muito na escolha da profissão e simplificando na escolha do
parceiro!!!
Texto 3: QUE CONDI ÇÕ
ES FAVORECEM O DESENVOLVIMENTO TECNOL Ó
GICO?
Entendo tecnologia como um processo cultural.
Os métodos usados por grupos europeus, asiáticos ou americanos, antes do
mundo globalizado, eram bem distintos, consequência das condições naturais de cada
comunidade. Estabeleceu-se uma cultura em cada região, fruto do viver, pensar e
transformar a realidade que cercava os diferentes povos.
Acredito, sinceramente, que a nossa grande chance como engenheiros está em
reconhecer os problemas próximos e procurar implementar soluções inovadoras para
eles. Aí está o nosso nicho. Existem exemplos que mostram isto claramente. A
expansão de Portugal através de navegações pelo Atlântico certamente está
relacionada ao fato de o oceano ser a única saída para eles. O próprio fato do homem
ser bípede está ligado a necessidade de uso dos membros dianteiros para se defender
de animais mais fortes. No Brasil, existem exemplos bem sucedidos de empresas que
se dedicaram a resolver problemas tipicamente brasileiros, como os relacionados com à
produção de petróleo, álcool e energia elétrica.
Este tipo de tecnologia eu gosto de chamar de “tecnologia de samba”, uma vez
que o samba faz parte da necessidade do brasileiro. Somos capazes de organizar um
teatro ao ar livre que atrai pessoas do mundo inteiro e até exportá-lo. Considero,
portanto, uma condição necessária para o sucesso de um empreendimento tecnológico
que ele toque fortemente a vida das pessoas próximas.
Precisamos, porém, estar atentos que estas condições não são suficientes para
o sucesso. Pelas condições suficientes, temos que lutar através de ações políticas.
Colocando os p és no ch ão com a cabe ça ainda nas nuvens:
Quando me formei em 1976, emprego para engenheiro não era problema. Nos
dias de hoje está mais difícil, mas tem melhorado gradualmente. O fato é que se
emprego está difícil, trabalho é o que não falta. Evidentemente, precisa-se de
criatividade para oferecer e vender os necessários serviços de engenharia neste País
carente. Agora, mais do que nunca, o estudante deve estar preocupado realmente em
aprender. As notas e o CR são importantes, porém o entendimento dos processos e
métodos de solução de problemas deve ser o foco principal. Para ter sucesso neste
empreendimento, a motivação é fundamental.
Em algumas ocasiões, para motivar meus alunos, recai na ameaça da prova e
da reprovação como elemento para despertar o interesse pela matéria. Outro motivador
é lembrar do bom emprego e do bom salário. Considero tudo isto válido, mas, nestes
textos, procurei apresentar outros aspectos que acredito ajudem a estabelecer uma
ligação com preocupações bem interiores e, portanto, muito motivantes.
Como professor e pai estou introduzindo estas e outras colocações similares nas
entrelinhas das minhas aulas e conversas. Ainda não tenho um resultado mensurável,
acredito até que isto será impossível. Resolvi então escrever e divulgar para despertar o
debate e ouvir outras opiniões. Agora, é com você, leitor.
Agradecimentos:
A Alquindar Pedroso, Arlindo de Souza Penteado, Erenilton Marinho Maseiro, Jorge
Luiz do Nascimento e José Caruso Madalena pelas sugestões construtivas.
Aos estudantes de Engenharia.
Bibliografia:
[1] Antoine Saint Exupery, "O Pequeno Príncipe", Agir, 2000.
[2] Erick Fromm, “Revolução da Esperança”, Guanabara, 1991.
[3] José Caruso Madalena, "Eu e o Tempo", Imago Editora, 1983.
[4] Paulo Freire, “Pedagogia da Esperança ”, Paz e Terra, 1992.
[5] Rafael Cifuentes, “Alegria de Viver”, Quadrante 1997.
[6] Roberto Nicolsky, “O Novo Paradigma do Desenvolvimento”, Folha de São Paulo,
pg.3, 9/5/2000.
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