2 Embrapa Soja. Documentos, XXX ISSN 1516-781X Setembro, 2004 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Centro Nacional de Pesquisa de Soja Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Documentos237 Extração de Óleo de Girassol Utilizando Miniprensa Marcelo Fernandes de Oliveira Osvaldo Vasconcellos Vieira Londrina, PR 2004 Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Soja Rodovia Carlos João Strass - Acesso Orlando Amaral Caixa Postal 231 86001-970 - Londrina, PR Fone: (43) 3371-6000 - Fax: 3371-6100 Home page: http://www.cnpso.embrapa.br e-mail (sac): [email protected] Comitê de Publicações da Embrapa Soja Presidente: João Flávio Veloso Silva Secretária executiva: Regina Maria Villas Bôas de Campos Leite Membros: Clara Beatriz Hoffmann-Campo George Gardner Brown Waldir Pereira Dias Ivan Carlos Corso Décio Luis Gazzoni Manoel Carlos Bassoi Geraldo Estevam de Souza Carneiro Léo Pires Ferreira Supervisor editorial: Odilon Ferreira Saraiva Normalização bibliográfica: Ademir Benedito Alves de Lima Editoração eletrônica: Neide Makiko Furukawa Capa: Danilo Estevão 1a Edição 1a impressão 09/2004 - tiragem: 500 exemplares Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610). Oliveira, Marcelo Fernandes Extração de óleo de girassol utilizando miniprensa / Marcelo Fernandes Oliveira, Osvaldo Vasconcellos Vieira. Londrina: Embrapa Soja, 2004. 27p. ; 21cm. - (Documentos / Embrapa Soja, ISSN 1516-781X; n.237) 1.Girassol-Óleo. 2.Tecnologia de alimento. 3.Óleo vegetal. I.Vieira, Osvaldo Vasconcellos. II.Título. III.Série. CDD 664.3 Embrapa 2004 Apresentação O girassol (Helianthus annuus L.) destaca-se por apresentar excepcional qualidade de óleo, pertencendo à família dos óleos nobres. Devido às suas particularidades agronômicas e à crescente demanda do setor agroindustrial e comercial, a cultura do girassol é uma importante alternativa econômica na sucessão a outras culturas de grãos. A fim de viabilizar soluções para o desenvolvimento do agronegócio, a Embrapa Soja está difundindo a tecnologia de extração de óleo do girassol por meio de miniprensas em pequenas comunidades, assentamentos, vilas rurais, associações de produtores, grupos de cooperação, condomínios rurais, entre outros. O grão é processado através da prensagem a frio, sem a utilização de produtos químicos. O óleo pode ser consumido imediatamente após a sua extração, e o resíduo resultante (torta) pode ser aproveitado na alimentação animal. A Embrapa Soja espera, assim, contribuir para o estímulo ao cultivo e ao uso do girassol no Brasil. João Flávio Veloso Silva Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento Embrapa Soja Autores Marcelo Fernandes de Oliveira Engo Agro, Pesquisador II, M.Sc. Embrapa Soja Rod. Carlos João Strass - Acesso Orlando Amaral Caixa Postal, 231 CEP 86001-970 - Londrina, PR Fone: (43) 3371-6221 - Fax: 3371-6100 e-mail: [email protected] Osvaldo Vasconcellos Vieira Engo Agro, TNS III, M.Sc. Embrapa Soja Fone: (43) 3371-6077 e-mail: [email protected] Sumário Resumo ...............................................................................9 Abstract ............................................................................ 10 Introdução ......................................................................... 11 Características do óleo de girassol ........................................ 12 Extração de óleo de girassol utilizando miniprensa .................. 15 Resultados obtidos com diferentes genótipos de girassol quanto à extração do óleo e torta pelo uso da miniprensa ........ 19 Referências bibliográficas ..................................................... 24 Extração de Óleo de Girassol Utilizando Miniprensa Marcelo Fernandes de Oliveira Osvaldo Vasconcellos Vieira Resumo Um dos entraves do desenvolvimento do girassol no Brasil é a pequena quantidade de indústrias esmagadoras de grãos. As regiões distantes das indústrias tendem a ficar impossibilitadas de cultivá-lo, devido ao elevado custo de transporte. Tem surgido no mercado miniprensas para a extração de óleos vegetais diversos, ideal para propriedades e cooperativas de pequenos produtores, apresentando capacidade de processamento de 20 a 50 quilos de matéria prima por hora. Uma das principais características do girassol, quando comparado a outras oleaginosas é a facilidade do seu processamento. As sementes de girassol são processadas inteiras e à temperatura ambiente (dispensando cozimento prévio). O óleo obtido com girassol pode ser consumido sem refino. O óleo ao sair da prensa possui teor de vitamina E superior aquele extraído por processos convencionais industriais (solvente orgânico). A produção de girassol no Brasil é relativamente recente. Assim, poucas informações estão disponíveis sobre o comportamento de genótipos nas áreas produtoras de grãos e em sistemas de produção. Diante da situação do mercado, com diferentes genótipos de girassol e a falta de informações destes quanto ao rendimento de óleo e torta extraídos pela prensagem a frio (miniprensa), realizou-se na cozinha experimental da Embrapa Soja avaliação dos genótipos que compõem a Rede de Avaliação de Genótipos. As sementes utilizadas são provenientes dos ensaios final de segundo ano da safra 2001/2002 e final de primeiro e segundo ano da safra 2002/2003, realizados em Londrina, na Fazenda Experimental da Embrapa Soja. Essas informações darão suporte ao agricultor na escolha do genótipo. 10 Embrapa Soja. Documentos, 237 Abstract Extraction of sunflower oil using mini-extruder One of the obstacles for the sunflower development in Brazil is the small amount of crushing industries of the grains. Distant regions from industries tend to be disabled to cultivate it, due to the elevated cost of transport. It has appeared in the market small crush for the extraction of diverse vegetal oils, ideal for property and cooperatives of small farmers, having presented capacity of processing from 20 to 50 kilos of raw materials per hour. One of the main characteristics of the sunflower, when compared with other oil crops is the easiness of processing. The sunflower seeds are entire processed under ambient temperature (avoiding previous baking). The oil gotten with sunflower can be consumed without refining. The oil produced from the press possess higher levels of E vitamin compared with conventional processes of extraction (solvent organic). The production of sunflower in Brazil is relatively recent. Thus, few information are available on the genotype behavior in the producing areas and systems of production. Up against the situation of the market, with different sunflower genotypes and the lack of information on the yield of oil and cake extracted by the cold crushing (mini-extruder), an evaluation of the genotypes that compose the Net of Sunflower Evaluation of Genotypes was performed in the experimental kitchen of the Embrapa Soybean. Seeds are provided from the second year final assays of season 2001/2002 and first year final assays of season 2002/2003, carried out in the Experimental Farm of Embrapa Soy. These information will give support to the farmer in the genotype choice. Extração de óleo de girassol utilizando miniprensa 11 Introdução O girassol (Helianthus annuus L.) está entre as cinco maiores culturas oleaginosas produtoras de óleo vegetal comestível do mundo (7,88% da produção mundial de oleaginosas na safra 2003/04), ficando atrás apenas da soja (56,3%), da canola (11,69%), algodão (10,46%) e do amendoim (9,58%) www.faz.usda.gov/oilseeds/circular/2004. O girassol apresenta características importantes, como maior tolerância à seca, ao frio e ao calor quando comparado à maioria das espécies normalmente cultivadas no Brasil (Castro et al., 1996). Devido a essas particularidades agronômicas e à crescente demanda do setor industrial e comercial, a cultura do girassol está se constituindo em uma importante alternativa econômica no sistema de rotação, consórcio e sucessão de culturas nas regiões produtoras de grãos (Vieira, 2000; Oliveira, 2001; Leite, 2002). Outro ponto relevante é a inserção da cultura do girassol na cadeia produtiva, considerando que esta utiliza a mesma estrutura disponível para a soja e milho. Além disso, em função da época de semeadura, o girassol pode ocupar parte ociosa dos fatores de produção existentes para a soja e milho. A partir do girassol, elabora-se óleo comestível, aproveitando-se os subprodutos da extração, tais como: tortas, expeller e farinhas para rações balanceadas, destinadas à alimentação animal. Mais de 90% da produção mundial de girassol destinam-se à elaboração de óleo comestível, e a maior parte dos 10% restantes, para alimentação de pássaros e para consumo humano direto (Rossi, 1998). O cultivo de oleaginosas e o seu processamento para óleo e torta empregam uma substancial parcela da força de trabalho do país, constituindo-se em uma atividade de importância econômica considerável (Turatti, 2000). Em média, para cada tonelada de grão, são produzidas 400 Kg de óleo, 250 kg de casca e 350 kg de torta, com 45% a 50% de proteína bruta, sendo este subproduto, basicamente, aproveitado na produção de ração, em misturas com outras fontes de proteína (Castro et al., 1996). 12 Embrapa Soja. Documentos, 237 As regiões distantes das indústrias tendem a ficar impossibilitados de cultivá-lo, devido ao elevado custo de transporte. Recentemente, surgiram no mercado miniprensas para a extração de óleos vegetais de girassol, mamona, amendoim, castanha do Pará, canola, gergelim, babaçu, cacau, etc. O trabalho objetiva verificar o comportamento dos genótipos que compõem a Rede Oficial de Ensaios de Girassol quanto a extração de óleo por meio da miniprensa e fornecer informações quanto ao seu valor de uso e bem como da torta. Características do óleo de girassol Os azeites e óleos vegetais são gorduras líquidas provenientes de frutos e sementes. Os azeites são obtidos por pressão, como é o caso da utilização da miniprensas. Os óleos são obtidos por pressão, solventes e posterior purificação e refinação. Na prática, o azeite é o óleo vegetal que não é extraído por solventes químicos e não sofre o processo de refinação e denomina-se azeite virgem aqueles obtidos por pressão e não refinado (Rossi, 1998). A qualidade de um óleo é dada pela sua composição de ácidos graxos. Dependendo a sua composição, o óleo será utilizado de diferentes maneiras pela indústria. Por exemplo, os óleos para fritura devem possuir alto grau de estabilidade oxidativa em temperaturas elevadas. Estes devem apresentar, em sua composição elevado teor de ácido oléico, ou devem sofrer um processo de hidrogenação, após a etapa de refino. Para a produção de margarina tipo soft, a indústria utiliza óleos vegetais com alto grau de insaturação, ou seja, óleos que apresentem em sua composição um elevado teor percentual de ácido linoléico (Mandarino, 1992). O ácido linoléico é um ácido graxo essencial, não sendo sintetizado pelo organismo humano. Por ser essencial à vida, o mesmo deve ser Extração de óleo de girassol utilizando miniprensa 13 ingerido por meio dos alimentos. Assim, além de ser importante na produção de margarina, o ácido linoléico desempenha funções fisiológicas importantes no organismo humano. Dentre os óleos vegetais comestíveis, o óleo de girassol é o que apresenta um dos maiores percentuais de ácidos graxos poliinsaturados (Tabela 1), principalmente o ácido linoléico (Mandarino, 1992). Existem numerosos estudos mostrando que o consumo de óleo de girassol favorece a redução do colesterol plasmático total e da fração LDL (lipoproteínas de baixa densidade), contribuindo, assim, para a prevenção da aterosclerose e dos problemas cardiovasculares (BRITISH NUTRITION FOUNDATION, 1994). A semente de girassol possui cerca de 24% de proteínas e 47% de matéria graxa em sua composição. A percentagem dos ácidos linoléico e oléico é de, aproximadamente, 90% do total dos ácidos graxos presentes no óleo de girassol (Mandarino, 1992). Quanto à qualidade, dois tipos de óleo podem ser obtidos, um com elevado teor de ácido oléico (80-90%) e outro com elevado teor de ácido linoléico (70-80%) (BRITISH NUTRITION FOUNDATION, 1994). As modificações na qualidade do óleo de girassol podem ser atingidas através da alteração na proporção relativa desses ácidos graxos. Há relação inversa entre eles, sendo essa fortemente influenciada pelas condições ambientais, em especial pela temperatura, durante o desenvolvimento das sementes. Em temperaturas elevadas, ocorre aumento nos níveis de ácido oléico e diminuição nos níveis de linoléico (Castiglioni et. al., 1997). Isto constitui importante fator para a produção de girassol em regiões climáticas distintas. Conseqüentemente, o óleo irá apresentar qualidades, propriedades e utilizações industriais diferentes. Um óleo rico em ácido linolênico não pode ser recomendado para frituras, pois ele facilmente sofre oxidação na presença de calor e oxigênio. Para ser adequado para fritura, teria que sofrer uma hidrogenação parcial para converter todo linolênico em linoléico e oléico, o que requer custos adicionais, além do risco da produção de isômeros trans na hidrogenação, os quais são potencialmente cancerígenos. Já o óleo de 14 TABELA 1. Teor percentual médio de ácidos graxos presentes nos diferentes óleos vegetais Principais ácidos graxos componentes (%) Oleaginosas (C12:0) (C18:1) (C18:2) (C18:3) (C22:1)1 1 44,7 72,8 13,7 40,7 60,3 41,6 23,1 19,9 64,0 17,1 24,8 19,2 56,5 33,9 20,1 42,3 65,1 15,9 15,9 2,9 52,4 0,8 0,1 0,1 9,5 0,3 0,2 52,7 0,1 0,1 7,7 0,7 7,0 26,8 21,3 6,3 15,1 11,6 9,5 18,0 76,5 15,2 Láurico (C12:0), Linolênico (C18:3), Oléico (C18:1), Erúcico (C22:1), Linoléico (C18:2). Fonte: The American Oil Chemist′s Society, 1992 (compilado de vários volumes). Ácidos graxos insaturados (%) Monoinsaturados Poliinsaturados 73,1 14,4 17,1 62,8 42,0 23,1 19,9 66,0 17,1 24,8 20,0 56,6 34,0 29,6 42,6 65,3 68,6 16,0 3,0 60,0 Embrapa Soja. Documentos, 237 Açafrão Algodão Amendoim Canola Gergelim Girassol Linhaça Oliva Palma Soja Ácidos graxos saturados (%) Extração de óleo de girassol utilizando miniprensa 15 girassol, por conter apenas traços de ácido linolênico (C18:3), não apresenta essa limitação (Turatti, 2000). Além da fração saponificável de um óleo (ácido linoléico, ácido oléico, etc), existem compostos (fração insaponificável) presentes em pequenas quantidades, que também são importantes do ponto de vista da qualidade e de estabilidade dos óleos vegetais. Dentre esses, destacam-se os tocoferóis ou vitamina E (α, β, γ, δ), os esteróis, os fosfolipídeos (lecitinas) e os β-carotenos. Os tocoferóis e os fosfolipídeos atuam como anti-oxidantes. Os β-carotenos aumentam a estabilidade do óleos à luz. O óleo de girassol possui maior estabilidade em relação ao óleo de soja quando exposto à luz, devido ao seu maior conteúdo em β-carotenos (BRITISH NUTRITION FOUNDATION, 1994). Extração de óleo de girassol utilizando miniprensa A seção de Lípides e Prótides do Instituto Tecnológico de Alimentos (ITAL), objetivando propiciar alternativas viáveis aos produtores de oleaginosas, desenvolveu equipamentos de pequena capacidade e fácil operação, que pudesse ser utilizado em área rural, para extração de óleos vegetais. Um dos processos mais simplificados foi obtido com uma miniprensa, de prensagem contínua, constituindo-se em uma tecnologia simples e barata, adaptada à pequena escala, viabilizando a extração de óleo em pequenas propriedades (Turatti, 2000). A miniprensa é indicada para a extração de óleo de sementes com alto teor de óleo como girassol, gergelim, canola, amendoim, copra, etc (Tabela 2). Tem como características a facilidade de transporte, o baixo consumo de energia, o baixo custo de investimento, a pequena área de ocupação, a mão de obra não especializada (precisa apenas de uma a duas pessoas não especializadas para fazê-la funcionar), a simplicidade na instalação e operação e a utilização com diversos tipos de sementes oleaginosas. É ideal para propriedades e cooperativas de pequenos produtores, com capacidade de processamento de 20 a 50 quilos de matéria prima por hora (Ecirtec, 2003). 16 Embrapa Soja. Documentos, 237 TABELA 2. Conteúdo de óleo de diferentes espécies vegetais Vegetais Conteúdo médio de óleo (%) Copra Babaçu Gergelim Dendê Amendoim Canola Girassol Oliva Algodão Soja 66-68 60-65 50-55 45-50 45-50 40-45 35-45 25-30 18-20 18-20 Fonte: Turatti, 2000 Uma das principais características do girassol, quando comparado a outras oleaginosas, é a facilidade do seu processamento. As sementes de girassol são processadas inteiras e à temperatura ambiente (dispensando cozimento prévio). Isso é possível devido à rotação relativamente alta, aliada ao teor de cascas da semente, o que produz atrito, aquecendo o grão dentro da máquina, facilitando a extração do óleo. Nas miniprensas, usa-se uma rosca sem fim que esmaga as sementes numa velocidade lenta mantida por um motor elétrico de 3 C.V. O fluxograma do processo de extração do óleo encontra-se na Figura 1. O óleo obtido com girassol pode ser consumido sem refino. O óleo ao sair da prensa possui teor de tocoferóis (vitamina E) (Tabela 3) superior àquele extraído por processos convencionais industriais (solvente orgânico), que o protegem da deterioração (substâncias antioxidantes), garantindo maior vida na prateleira (é recomendado que o produto seja mantido sempre fechado, longe da luz e do calor e em embalagens escuras, preferencialmente latas). Em ensaios conduzidos pelo ITAL, demonstrou-se que, embora não estocado em condições ideais, o óleo bruto de Extração de óleo de girassol utilizando miniprensa 17 Girassol (umidade 11%) Limpeza Opcional Prensagem Torta Óleo bruto Filtração (filtro prensa) Óleo bruto filtrado Borra Filtração (decantação + coador) Óleo bruto filtrado Borra FIG. 1. Fluxograma do processamento do girassol em miniprensa. 18 Embrapa Soja. Documentos, 237 TABELA 3. Composição do óleo de girassol extraído por prensagem mecânica (expresso por 100g de óleo) Colesterol Ácidos graxos saturados Ácidos graxos monoinsaturados Ácidos graxos poliinsaturados Vitamina E 0,0g 10,7g 21,1g 68,2g 58,0mg Fonte: Análise realizadas pelo Instituto Tecnológico de Alimentos (ITAL) girassol extraído pela miniprensa pode ser mantido em prateleira, praticamente sem alterações, por no mínimo 100 dias (Turatti, 2000). A utilização do óleo como combustível é outra alternativa que vem sendo estudada. Dados preliminares da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) tem demonstrado a viabilidade técnica e econômica desse emprego (Silmar Denuti - CATI Manduri - Comunicação pessoal). Estudos realizados pôr Camara, 1997 e 1999, Gonçalves, 1999, Silva, 1999, Pinheiro, 1999, Ferreira, 1999 e Pereira, 1999 já provaram que a planta do girassol e suas diferentes partes como grãos e seus subprodutos (farelo, torta e óleo) apresentam características nutricionais que permitem o seu uso como ingrediente na alimentação animal. Os valores da composição da torta do girassol, expressos na matéria natural, são 7,57% de umidade, 22,19% de proteína bruta, 22,15% de extrato etéreo, 4,68% de matéria mineral, 0,35% de cálcio, 0,70% de fósforo e 23,8% de fibra bruta (Silva et al., 2002). Os resultados de digestibilidade da torta de girassol estão demonstrados na Tabela 4. Recentemente foram iniciados trabalhos para avaliar a durabilidade e armazenamento da torta, os efeitos da torta na digestibilidade de monogástricos e ruminantes e, finalmente, seus resultados na performance da alimentação de frangos de corte, aves de postura, suínos, eqüinos, ovinos, bovinos de corte e leite. Extração de óleo de girassol utilizando miniprensa 19 TABELA 4. Coeficiente de digestibilidade dos nutrientes e nutrientes digestíveis da torta de girassol (matéria natural) Nutriente Matéria seca (%) Proteína bruta (%) Fibra bruta (%) Energia bruta (%) Matéria seca digestível Proteína digestível Energia digestível (Kcal/kg) Energia metabolizável (Kcal/kg) Coeficiente de digestibilidade 72,72 68,04 21,52 62,33 Nutrientes digestíveis 67,22% 15,18% 3420,50 3247,20 Fonte: Silva et al. 2002 Resultados obtidos com diferentes genótipos de girassol quanto à extração do óleo e torta pelo uso da miniprensa No Brasil a produção de girassol é relativamente recente. Assim, poucas informações estão disponíveis sobre o comportamento de genótipos nas áreas produtoras de grãos e em sistemas de produção. Devido a interação entre genótipo e ambiente, presente nas espécies vegetais, torna-se necessária a avaliação contínua de genótipos de girassol. Esta avaliação visa conhecer o comportamento agronômico e a adaptação dos genótipos nas condições brasileiras, afim de colocar à disposição dos agricultores materiais produtivos, com alto teor de óleo e resistentes às doenças, garantindo a estabilidade do setor produtivo e industrial. Baseado nos resultados obtidos pela Rede de Ensaios de Avaliação de Genótipos de Girassol, coordenada pela Embrapa Soja, observa-se que há um grande potencial para a sua produção nos Estados de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Distrito Federal, 20 Embrapa Soja. Documentos, 237 Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, Tocantins, Bahia, Maranhão e Piauí (Leite, 1998, Oliveira, et al., 2001, 2003). As regiões potenciais são bastante distintas em relação ao clima, ao solo e à estrutura fundiária, caracterizando-se como áreas produtoras de grãos, apresentando infraestrutura necessária à produção de girassol. Devido a falta de informações quanto ao rendimento de óleo e torta extraídos pela prensagem a frio (miniprensa), realizou-se na Cozinha Experimental da Embrapa Soja a avaliação dos genótipos que compõem a Rede de Ensaios de Avaliação de Genótipos de Girassol. As sementes provieram dos ensaios final de segundo ano da safra 2001/ 2002 e final de primeiro e segundo ano da safra 2002/2003, realizados em Londrina, na Fazenda Experimental da Embrapa Soja. Essas informações (Tabelas 5, 6 e 7), darão suporte a comunidades agrícolas, associações de produtores e agricultores na tomada de decisão na escolha do genótipo que supra as suas necessidades proporcionando assim o atendimento de uma grande demanda por parte destes. Óleo/ peso bruto (%) Perda (borra) (%) Teor de óleo (%) Peso bruto (g) Peso da torta (g) Peso do óleo (g) Volume óleo (ml) Torta/ peso bruto (%) BRS 191 42,76 5000 4637 288,32 332 92,74 M 734 38,96 5000 4735 243,16 280 94,70 4,86 0,43 AGROBEL 960 39,68 5000 4350 651,33 750 87,00 13,02 0,00 EXP 792 45,29 5000 4435 460,27 530 88,70 9,20 2,09 CF 17 41,42 5000 4560 434,22 500 91,20 8,68 0,11 Genótipo 5,76 1,49 CF13 43,73 5000 4400 477,64 550 88,00 9,55 2,44 VDH 488 43,79 5000 4355 529,75 610 87,10 10,59 2,30 GV 26048 41,03 5000 4840 147,63 170 96,80 2,95 0,24 VDH 93 40,62 5000 4735 251,85 290 94,70 5,03 0,26 GV 26043 41,20 5000 4225 668,70 770 84,50 13,37 2,12 Extração de óleo de girassol utilizando miniprensa TABELA 5. Resultados do uso da miniprensa na extração de óleo, torta e resíduo das sementes de girassol do ensaio final de primeiro ano da safra 2001/2002 21 22 TABELA 6. Resultados do uso da miniprensa na extração de óleo, torta e resíduo das sementes de girassol do ensaio final de primeiro ano da safra 2002/2003 Teor de óleo (%) Peso bruto (g) Peso da torta (g) Peso do óleo (g) Volume óleo (ml) Torta/ peso bruto (%) Óleo/ peso bruto (%) Perda (borra) (%) BRS 191 M 734 AGROBEL 960 ACA 884 ACA 885 ACA 872 V 80198 V 90064 V 10034 EXP 972 AG 962 AG 872 CATISSOLP9 NUTRISSOL 01 HÉLIO 358 42,54 38,48 36,43 35,12 36,72 34,60 33,22 35,07 32,75 38,68 35,11 35,41 37,80 34,24 40,14 3485 3875 2540 4120 1590 2000 2140 2775 3245 2930 1870 2330 3330 2945 3075 2900 3345 2035 3280 1350 1700 1770 2300 2610 2470 1660 2080 2900 2660 2600 460 445 415 660 200 170 225 375 490 290 140 145 320 175 400 565 520 480 750 245 210 360 420 560 340 180 180 380 220 460 83,21 86,32 80,11 79,61 84,90 85,00 82,71 82,88 80,43 84,30 88,77 89,27 87,08 90,32 84,55 13,19 11,48 16,33 16,01 12,57 8,50 10,51 13,51 15,10 9,89 7,48 6,22 9,60 5,94 13,00 3,58 2,19 3,54 4,36 2,51 6,50 6,77 3,60 4,46 5,80 3,74 4,50 3,30 3,73 2,43 Embrapa Soja. Documentos, 237 Genótipo Genótipo Teor de óleo (%) Peso bruto (g) Peso da torta (g) Peso do óleo (g) Volume óleo (ml) Torta/ peso bruto (%) BRS 191 M 734 AGROBEL 960 HÉLIO 250 HÉLO 251 AG 967 EXP 33 EXP 37 EXP 38 CATISSOL 02 MULTISSOL 01 GUARANI IAC URUGUAI 41,78 38,63 38,26 40,44 31,58 42,06 30,00 22,92 33,83 35,55 34,22 37,13 31,26 4325 4130 3960 2955 3940 3535 2030 5240 3695 3245 3570 3115 4320 3300 3420 3085 2580 3250 2700 1800 4500 3130 2660 2960 2405 3560 880 660 780 360 430 715 195 530 415 440 505 560 635 980 740 880 420 500 820 240 600 480 520 580 640 720 76,30 82,80 77,90 87,30 82,48 76,37 88,66 85,87 84,70 81,97 82,91 77,20 82,40 Óleo/ Perda peso bruto (borra) (%) (%) 20,34 15,98 19,69 12,18 10,91 20,22 9,60 10,11 11,23 13,55 14,14 17,97 14,69 3,35 1,21 2,39 0,50 6,59 3,39 1,72 4,00 4,05 4,46 2,94 4,81 2,89 Extração de óleo de girassol utilizando miniprensa TABELA 7. Resultados do uso da miniprensa na extração de óleo, torta e resíduo das sementes de girassol do ensaio final de segundo ano da safra 2002/2003 23 24 Embrapa Soja. Documentos, 237 Referências bibliográficas BRITISH NUTRITION FOUNDATIONS. Unsaturated fatty acids: nutritional and physiological significance; the report of the British Nutrition Foundations Task Force. London: Chapman and Hall, 1994. 211p. CÂMARA, G.M. de S.; ANDRADE, F.M.E. Silagem de girassol. In: REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DE GIRASSOL, 12., 1997, Campinas. Resumos... Campinas: Fundação Cargill, 1997. p.5-7. Editado por Maria Regina G. Ungaro, Jane Menegaldo Turatti. CÂMARA, G.M. de S.; SILVA, S.C. da; MATTIAZZI, P.; MONTEIRO, C. de A. Determinação do momento ideal de colheita de girassol (Helianthus annuus L. ) para ensilagem durante a safrinha de 1998. In: REUNIÃO NACIONAL DE PESQUISA DE GIRASSOL, 13., SIMPÓSIO NACIONAL SOBRE A CULTURA DO GIRASSOL 1., 1999, Itumbiara. Resumos... 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