Ilustres Conselheiristas (Oleone Coelho Fontes)
Canudos estava em festa. No ar estralejavam foguetes. Na terra, gente chegada dos mais diversos
pontos, beijavam, abraçavam, congraçavam-se. Bandas de pífanos saudavam os visitantes. De todos
os cantos elevavam-se música e vozerio. Pairava no ar animação, alegria e felicidade. Até parecia
que Antônio Conselheiro era esperado, carregado em palanquim, para anunciar, de cima de uma
latada, que naquele instante Canudos passaria a chamar-se Belo Monte.
Todos estavam gratos ao Prof. Luiz Paulo Neiva pela excelência de simpósio realizado para
comemorar a chegada, há um século, de uma das mais importantes obras da cultura nacional, Os
Sertões. Simpósio itinerante. Teve início em Salvador, prosseguiu em Feira de Santana e o epílogo
foi na "eternamente Canudos", para usar título de livro de Simone Advíncula, hoje casada e vivendo
com Luigi, na Itália.
Parti de Salvador na companhia de meu editor Sérgio Sinotti e Cida Reis, gerente do Espaço do
Autor Baiano, no Pelourinho. Em Tucano almoçamos com o coronel das águas, Osvaldo Menezes
de Andrade, epistológrafo que escreve cartas e mais cartas para esta folha. No final da tarde
estávamos na antiga fazenda Cocorobó, hoje Canudos. Antes levei meus convidados ao Alto Alegre
(ao museu de Manoel Travessa), à Lagoa do Sangue, à casa onde viveu o velho João de Régis,
morto recentemente aos 94 anos.
Em Canudos nos batemos com canudófilos, canudólogos, canudistas, canudenses e conselheiristas.
Lá estava o prof, Berthold Zilly, alemão de Berlim. Zilly praticou a façanha de traduzir Os Sertões
para sua língua. Luitgarde Oliveira Cavalcanti Barros, paraibana, veio do Rio, onde é professora
universitária, com o marido Jorge. Escreveu ela sobre Canudos, padre Cícero e Lampião. Em sua
companhia Maria Lúcia Ludolf de Melo, a quem sou apresentado. Falamos do major Vaz Sampaio,
não mais neste mundo, autor de obra sobre a renhida luta (inédita) e que inspirou este escriba a criar
personagem homônimo no contraponto de A Quinta Expedição (a esta altura, já, em segunda
edição). Ângela Gutitrrez não foi a Canudos, com seu esposo, o médico Osvaldo. Estive aqui com
ambos no campus da Ufba, primeiros dias do simpósio.
Após as falas, no memorial de Canudos é exibido, na praça, longo vídeo sobre as atividades
profissionais de Evandro Teixeira, baiano, fotógrafo do Jornal do Brasil. Vi-o, na manhã seguinte,
no Alto do Maio, em trajes do século 19, no papel de Flávio de Barros, sendo filmado,
contracenando com Antenor Júnior, correspondente desta folha na região.
Éldon Canário, o Canarinho do Belo Monte, após pronunciar discurso exaltado, rubro, de punhos
cerrados, autografou seu livro Canudos sob as águas da Ilusão. Meu amigo Paulo Medeiros Gastão,
à frente de comitiva de 40 estudiosos chegara de Mossoró. Abraçamo-nos longamente e prometi
que, em janeiro próximo, falarei para sua gente, sobre o objeto de meus estudos, lá na tórrida
Mossoró de Vingt-Um Rosado. Quem mais? O arqueólogo Paulo Zanettini, Pedro Morais(veio de
Aracaju), Gutemberg Costa (veio de Natal), Manoel Neto, Dionísio Nóbrega, Regina Abreu, autora
de O Enigma de Os Sertões, tantos. Quem menos? Mestre Calasans, Renato Ferraz, João de Régis,
Roberto Ventura, fanáticos conselheiristas, hoje nos braços de Antônio Aparecido, lá no alto.
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Ilustres Conselheiristas (Oleone Coelho Fontes)