A VINGANÇA Juselma Coelho * “Opôr ódio ao ódio é operar a destruição. O autor de qualquer injúria invoca o mal para si mesmo. Em vista disso, o mal só é realmente mal para quem o pratica. Revidá-lo na base da inconsequência em que se expressa, é assimilar-lhe o veneno.” (Emmanuel, in “Pensamento e Vida”) O muito amor que nos dedicamos a nós mesmos faz-nos sentir, muitas vezes, o centro das atenções de todos os que convivem connosco. E este imenso amor por nós próprios impede-nos de reflectir na história do outro, nos motivos que levaram o outro a agir de forma violenta, agredindo-nos e maltratando... Este imenso amor por nós mesmos é também conhecido pelo nome de egoísmo... E por nos sentirmos o centro das atenções, ficamos às vezes muito magoados com aqueles que nos agridem ( conscientemente ou não) e forças interiores, nascidas da vaidade e do orgulho, levam-nos a querer reagir, a querer vingar-nos. Esta réplica trabalha de tal forma negativamente na humanidade que, às vezes, séculos e várias gerações são necessárias, para começar a limpar as marcas deixadas por esse processo. Outras vezes, não estamos inteiramente voltados para uma vingança ostensiva, o que evidencia que ainda não somos capazes de amar verdadeiramente o ofensor. Surge, então, uma meia vingança: demonstramos atitudes de hostilidade indirecta, em que nossas acções são bem-educadas, corteses, mas o coração está amargurado e não deixa as atitudes expressarem carinho e respeito sinceros... São exemplos dessa meia vingança, o adiarmos satisfazer um favor, evitarmos olhar nos olhos de quem nos agrediu, calarmo-nos quando devíamos expressar reconhecimento ao valor do outro, sermos indiferentes ao fazermos um serviço para a pessoa que foi instrumento da nossa decepção... Nestes casos, desculpamos por cortesia, mas o nosso coração não aderiu... Embora as nossas acções não sejam tão violentas como no 1º caso, em que devolvemos o mal com o mal, estas continuam a ser plantações do mal e geram energias negativas contra nós próprios... “Não oponhais resistência ao mal; mas se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra.” – Jesus (Mateus, 5:39) “Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.” – Paulo (in Carta aos Romanos, 12:21) Estas duas recomendações não são fáceis de serem postas em prática. Encarar com espírito de mansidão um facto em que somos “ vítimas” de agressão, de ingratidão e da incompreensão do mundo, é um desafio, um verdadeiro convite à mudança interior, iluminando-nos e clareando a compreensão dos que nos rodeiam... O verdadeiro ponto de honra está acima das paixões terrenas e não será replicando, agressivamente ou não, que nos faremos respeitar por aqueles que nos observam e que connosco convivem. “Não digas que a serenidade expressa fraqueza ante os cultores da violência, qual se não tivesse brio para a reação necessária, porque é preciso muita mais combatividade interior para dominar-se alguém ao colher ofensas e esquecêlas do que para assacá-las ou devolvê-las, a detrimento do próximo.” – Emmanuel (in “Coragem”). Por outras palavras, não replicar é um acto de profunda “ coragem”, próprio das grandes almas. Mas se ainda não somos capazes de reagir como o sândalo, “que perfuma o machado que o fere”, que sejamos pelo menos como a árvore, que suporta em silêncio a “agressão” da poda e que mais tarde dá flores, frutos e sombras ao que a agrediu, e ofereçamos compreensão e carinho aos nossos familiares e amigos... Não interrompamos a nossa marcha evolutiva por causa das agressões sofridas, tentados pelo desejo de vingança. Prossigamos em paz, ainda que os nossos corações estejam dilacerados pelo impacto da decepção, da dor, da surpresa dolorosa... Prossigamos... a luz aguarda-nos e o puro bem é a única força capaz de desarmar as garras inconscientes do mal. Busquemos o Evangelho como recurso abençoado para prosseguirmos na nossa caminhada, lembrando-nos sempre que para sairmos da escuridão nocturna, basta acender a luz. Acendamos a nossa luz interior e continuemos, clareando os nossos caminhos... “Vinga-te da ignorância, instruindo-a sem alarde e sem pretensão. Vinga-te das trevas, acendendo a verdadeira luz. O bom lavrador vinga-se da terra seca adubando-a para que produza...” – Emmanuel (in “Doutrina e Aplicação”) E nesta caminhada, “se alguém quiser pleitear contigo para te tirar a túnica, dá-lhe também a capa.” – Jesus (Mateus, 5:40) E prossigamos... * presidente da Sociedade Espírita “ Maria Nunes” e da Editora Espírita Cristã “Fonte Viva”, de Belo Horizonte (Brasil) Artigo publicado na edição nº 32 da revista “Verdade e Luz”, de Setembro/Outubro 2010. www.verdadeluz.com