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ATITUDE TRANSDISCIPLINAR NO CONTEXTO DA PESQUISA
EDUCACIONAL
Profa. Dra. Solange Martins Oliveira Magalhães
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
Profa. Dra. Ruth Catarina C. R. de Souza
Universidade Federal de Goiás
[email protected]
RESUMO: Com o objetivo de contribuir com as pesquisas voltadas para a compreensão
da atitude transdisciplinaridade no contexto da pesquisa educacional, apresentamos um
relato de experiência, no qual procuramos evidenciar como promovemos a constituição
da postura transdisciplinar no grupo de pesquisa interinstitucional do Centro-Oeste.
Destacamos a necessidade da atenção permanente não apenas aos conhecimentos
epistemológicos, filosóficos ou pedagógicos, mas, principalmente, àqueles referentes à
necessidade de reformulação constante dos processos de pesquisa, e ainda, trabalhar
efetivamente o processo relacional, manutenção do diálogo permanente, postura
dialógica, motivação dos membros e constante reflexão sobre o trabalho desenvolvido, a
fim de que todos possam alcançar o autoconhecimento. Concluímos que somos mestres
e aprendizes, valorizando a importância da comunhão, da observação, da autoeducação,
do cuidar-se, do olhar-se, do ver-se, do ouvir-se, do cheirar-se, do silenciar-se, do
respirar-se, do cooperar, enfim, do conhecer-se, possibilitando a construção de atitudes
transdisciplinares. É possível instituir nos espaços educacionais, sobretudo no campo da
pesquisa interinstitucional, uma atitude transdisciplinar. Isso poderá promover uma
formação mais humana, cooperativa e, sem dúvida, mais feliz.
PALAVRAS-CHAVE: Atitude transdisciplinar. A arte de pesquisar juntos. Educação,
Pesquisa educacional.
A pesquisa Interinstitucional
A formação e a atuação do professor estão entre os temas mais recorrentes da
literatura educacional nacional e internacional da atualidade. No transcorrer dos últimos
vinte anos houve um significativo e gradativo aumento de pesquisas e publicações sobre
o professor e sua formação, não só em nosso país. Na expressão de Dias-da-Silva,
(2005, p. 382) “nunca se teve disponíveis tantos resultados de pesquisa sobre a realidade
brasileira [...] nunca o país investiu tanto na formação continuada de seus professores”.
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A definição do "professores(as)" como problema é, atualmente, um tema que
está presente tanto entre os que defendem sua reformulação no sentido de modificar a
atuação dos(as) professores(as) para adaptá-la às novas exigências do capital, quanto
entre aqueles que são contra essas adaptações, uma vez que se preocupam não só com a
quantidade, mas também e, sobretudo, com a qualidade dessa atuação. Sacristán (2002,
p. 82) estabelece uma análise crítica desta produção, considerando que embora a
profissão docente esteja em pauta, a maior parte desta investigação “é enviesada,
parcial, desestruturada, descontextualizada e não entra na essência dos problemas”.
Estudos sobre a produção acadêmica que analisam a produção desenvolvida por
docentes e pesquisadores vêm ocorrendo com certa freqüência nas universidades
brasileiras. Esses trabalhos, para Larocca, Rosso e Pietrobelli de Souza (2005), têm sido
desenvolvidos a partir de um processo metaanalítico da produção existente,
contribuindo significativamente para analisar os processos adotados na produção do
conhecimento. São relevantes os estudos avaliativos, sobretudo para os próprios
Programas de Pós-Graduação, por permitirem a crítica do conhecimento produzido,
apontando aspectos positivos e/ou negativos e por investirem na melhoria da produção.
A pesquisa “A produção acadêmica sobre professores – estudo interinstitucional
da Região Centro-Oeste” se insere nesse contexto. Trata-se de um amplo grupo de
pesquisadores que investiga a também ampla produção que os próprios programas da
Região Centro-Oeste desenvolvem sobre o professor, no período de 1999-2009. Esse
grupo de pesquisadores desenvolve trabalho conjunto há seis anos, e concorda que um
dos maiores desafios da universidade do terceiro milênio é encontrar novas formas de
cooperação institucional para a pesquisa no campo educacional. Além disso, considera
ser notória a importância do trabalho associativo frente à amplitude da produção na
medida em que ele é estratégico “pelo poder político que conquista no próprio fazer
científico e, pela legitimação da comunidade acadêmica” (FRANCO E MOROSINI,
2001, p. 20).
Dessa maneira o grupo empenhou-se em constituir e consolidar-se, o que tornou
claro os benefícios da parceria. Ela possibilita o enfrentamento das dificuldades com as
quais o grupo depara-se, viabilizando o caráter cooperativo da pesquisa. Além disso, a
pesquisa permite agregar orientandos, alunos da graduação, bolsistas e pesquisadores de
diferentes formações atuantes em várias disciplinas e contextos da Região Centro-Oeste,
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numa postura claramente integrativa de seus saberes, o que indica o desenvolvimento de
uma consciência que entende que somos um todo, integrado que acolhe os fragmentos
com os quais todos são formados para torná-los interdependentes e interconectados.
Esta pesquisa, a partir de outubro de 2009, passou a ser à base da
REDECENTRO - Rede de Pesquisadores sobre os Professores (as) na Região CentroOeste, e também é referência para uma disciplina desenvolvida no programa de pósgraduação da UNIUBE. Atualmente, participam da pesquisa: 21 professores
pesquisadores, 23 pesquisadores colaboradores (alunos e ex-alunos de pós-graduação),
15 bolsistas de iniciação científica que procuram manter a base para o exercício da
atitude transdisciplinar na pesquisa educacional ao promover o dialogo, a interligação
dos saberes, bem como o autoconhecimento de seus participantes, o que favorece uma
vivencia mais respeitosa e humanizada (MORIN, 2001; 2002; 2007).
A pesquisa envolve um número significativo de Programas de Pós-Graduação
em Educação: UFG, UnB, UNIUBE, UFMT, UFMS, UFU e UFT.
Analisa as
dissertações sobre professores(as), nos respectivos programas de cada universidade
associada, e empenha-se no alcance dos seguintes objetivos: - a identificação,
organização e catalogação da produção sobre o professor no período - o conhecimento
da produção e de seu efetivo significado para melhoria da formação do professor e da
educação escolar brasileira; - a constituição de espaços interativos para promoção do
intercâmbio de dados e informações entre os pesquisadores da área na Região; - a
contribuição para os trabalhos de orientação de estudos, pesquisas e publicações nos
referidos programas. Essa organização permitiu contextualizar historicamente as
produções e possibilitou uma primeira compreensão histórica do que foi predominante
no período, em cada programa, e nas diferentes sub-áreas temáticas.
Diferentemente da maioria dos estudos caracterizados como “estado da arte”,
optamos por ler não só os resumos, mas o texto completo das dissertações, pois
verificamos que, na sua maioria, as informações veiculadas pelos resumos não traduzem
o trabalho desenvolvido pelos discentes e não fornecem elementos consistentes para a
investigação. A partir desta leitura integral, as obras são analisadas, catalogadas e
discutidas em cada grupo que compõe a pesquisa. As categorias de análise utilizadas na
avaliação desses trabalhos estão consolidadas em uma “ficha de análise” comum a todas
as equipes.
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Nossa proposta visa resgatar e analisar o conhecimento sobre o professor em
suas múltiplas dimensões, fazendo uma síntese que enfoque aspectos de seus discursos e
que revelem tendências e relevâncias para o desenvolvimento da educação brasileira, a
partir da produção universitária. Esta análise busca elaborar uma perspectiva histórica,
contextualizada nos processos sociais, em especial nas políticas da educação superior
para os estudos pós-graduados, e na sua respectiva política de avaliação. Para tanto,
consideramos não só influências advindas das reformas neoliberais impostas pelos
organismos financiadores internacionais, traduzidas nas ações dos governos recentes,
mas também as que representam conquistas dos movimentos sociais, que foram capazes
de interferir na agenda das políticas educacionais neste início de século.
Constituição da atitude transdisciplinar: a pesquisa como processo relacional,
dinâmico, dialógico e complexo - tecitura paciente de esforços e energias
Todo trabalho coletivo envolve muitas dificuldades que só a imbricação de razão
e desejo pode propiciar a construção de respostas capazes de auxiliar o grupo na
superação adequada dos seus desafios, e a incorporação gratificante das soluções
conceituais advindas de cada momento de dificuldade. Neste sentido, analisamos que o
grupo consegue instituir a postura transdisciplinar no contexto da pesquisa educacional
ao promover a reformulação constante dos processos da própria pesquisa. Para tanto,
trabalha efetivamente o processo relacional, o diálogo permanente, postura dialógica,
motivação dos membros e constante reflexão do e sobre o grupo a fim de que todos
possam alcançar o desenvolvimento do processo de autoconhecimento.
Essa atitude, aqui reconhecida como transdisciplinar, pode inaugurar uma nova
postura no campo da pesquisa, e, consequentemente, para a educação, pois potencializa
um novo olhar que se expressa na multiplicidade de vários olhares presentes na
interlocução da pesquisa. Lembremos que os pesquisadores são advindos de vários
campos de formação que têm de dialogar entre si, manifestando olhares que não devem
ser excludentes, mas acolhedores, cooperativos e solidários. Essa forma de trabalhar
coletivamente distancia-se de formas autoritárias, o que possibilita, a cada membro da
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pesquisa, ser autoridade de si, por sentir-se autoconfiante e acolhido na expressão do
seu conhecimento.
Para tanto, os posicionamentos assumidos no contexto da pesquisa não podem
ser preconceituosos, se faz necessário saber viver na diferença, com a capacidade de
dialogar para viver efetivamente a dialogia do processo. O conviver dos membros do
grupo tende ser humano, amigo, amoroso, o que torna cada membro capaz de ver e
respeitar o outro, seu espaço, suas funções, um respeito pensado e refletido como aquele
que cada membro do grupo gostaria de receber, em suas dificuldades ou especiais
contribuições.
Isso implica reconhecer a pesquisa como processo relacional, dinâmico,
dialógico e complexo cujo fundamento seja o com-viver. O pensamento complexo,
enquanto aporte teórico norteador, definido por Edgar Morin (2007) como Princípio da
Complexidade, possibilita transcender a análise do “ser” tão somente enquanto ser
material e econômico, considerando suas demais dimensões. O cerne do pensamento
complexo é distinguir, mas não separar; considerar todas as dimensões do “ser”, do
contexto e da relação permanente entre os sujeitos, de cada ser consigo mesmo, e com o
seu contexto social, histórico, cultural, político, econômico, ecológico, espiritual,
místico, e cósmico.
O grupo da pesquisa interinstitucional preocupa-se em estabelecer uma relação
dialógica como uma tentativa de superar a forma como tem sido produzido o
conhecimento científico, pela humanidade, especialmente a partir deste último século.
Essa forma de conhecimento tem se mostrado cada vez mais fragmentada, rígida,
metódica, dirigida para a especialização e,cujo princípio de explicação se traduz por um
“princípio de simplificação” (separação/redução).
A fragmentação, a dualidade e a separatividade, características do paradigma
newtoniano-cartesiano, assumem, para os membros da pesquisa, formas extremamente
sutis e refinadas nas teorias científicas contemporâneas, que passaram a ser
questionadas com o advento da física quântica (CAPRA, 1995). Podemos exemplicar
pontuando a fragmentação das especializações, o desvinculamento dos valores
superiores da humanidade, a abordagem competitiva nas relações humanas e a
exploração da natureza, o esgotamento progressivo dos recursos naturais, o consenso de
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que a natureza existe para o homem, a visão de homem como ente consumidor, e a
confusão entre riqueza material e felicidade.
Chauí (2003) ao analisar a sociedade contemporânea considera que essas
características se concretizam na universidade fazendo com que ela deixe de ser uma
instituição social e passe a ser uma organização. Historicamente a universidade
enquanto ação social estava fundada no reconhecimento público e estruturada por
parâmetros e valores de reconhecimento e legitimidade internos a ela. Sua legitimidade
estava alicerçada na idéia de autonomia do saber, construído a partir de uma lógica que
lhe era imanente. Na atualidade, ao se conceber a universidade como organização
admite-se que sua prática seja regida pela instrumentalidade para atingir a eficácia e,
que seja estruturada a partir das idéias de previsão, controle e êxito.
Aprofundando a análise da universidade organizacional ressalta-se uma
característica marcante desse processo: a idéia de compressão espaço temporal
engendrada a partir da fragmentação e globalização da produção econômica Esta é
aliada à tendência da sociedade atual para a aceleração, a fluidez, a existência de formas
de saber ilimitadas, que estariam interferindo na capacidade de pensar e refletir. Esse
cenário tem ainda como característica um incentivo do conhecimento não cumulativo,
originando como conseqüência formas de individualismo, fragmentação, dispersão, um
descomprometimento que impede até o conhecimento de si mesmo Nessa análise é
salientado como essa universidade alimenta o culto da individualidade, o voltar-se para
si mesmo, o encolhimento de interesses e a estreiteza de espírito. Nela não se aprende
mais a pensar como homens públicos, mas apenas como homens privados (SOUZA,
2008).
Há que se considerar neste contexto que os posicionamentos assumidos pelo
grupo de pesquisa, manifestam, assim como tantos outros, a existência de processos
inovadores que estão relacionados à emancipação, compromissadas com as rupturas
paradigmáticas, que atuam no sentido das mudanças, na contramão de processos
hegemônicas de regulação, instituídos para a universidade organizacional. É neste
contexto que o grupo procura manter no seu interior e através de suas ações, outras
dinâmicas reconhecidamente transdisciplinares, que têm sido vivenciadas na pesquisa
interinstitucional, de forma a contribuir para a formação de seus pesquisadores e
colaboradores, no sentido de torná-los seres autônomos e conscientes.
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Inspirados em Boaventura Santos (2007) ensaiamos construir uma “nova
epistemologia” e incentivamos seu desenvolvimento na pesquisa interinstitucional sobre
professores do centro-oeste. Ao pontuar as ações que julgamos estarem sendo baseadas
na transdisciplinaridade, acreditamos que elas favorecem a superação de nossa “mente
condicionada” e, quem sabe, ultrapassando tais limitações possamos nos tornar
pesquisadores com uma ampla autonomia exercendo nossa capacidade criadora.
De acordo com Soares (2002), a atitude transdisciplinar no campo da educação
deve ocupar-se com a construção de uma reflexão sobre a natureza do saber humano,
sobre o processo de complexidade dos diferentes conteúdos do conhecimento das
disciplinas, tendo como eixo central a tomada de consciência da humanidade do ser
humano. O autor nos promove o entendimento de que diante das transformações que
surgem constantemente no nosso dia-a-dia, sobretudo em nossas instituições públicas,
as propostas transdisciplinares auxiliam-nos na superação do condicionamento do nosso
ver, ouvir, sentir, viver e construir.
Além disso, podem também influir no processo da formação do ser, porque
possibilitam a compreensão da complexidade em que vivemos através da consciência de
nós mesmos via desenvolvimento do autoconhecimento. Ao nos instrumentalizar, as
propostas transdisciplinares facilitam o rompimento com o paradigma da simplicidade,
o que possibilita a construção de novas aprendizagens e compreensões que se
fundamentam nos princípios do pensamento complexo (MORIN, 2007). Nas palavras de
Morin, trata-se de nos preocuparmos com a constituição de uma cabeça bem feita, que
vale muito mais do que uma bem cheia, isso significa que o sujeito tende estar
preparado para organizar os conhecimentos, e não somente acumulá-los.
Os estudos sobre complexidade e transdisciplinaridade têm suscitado essas
inquietações no decorrer do processo da construção da pesquisa. Essas se ligam,
principalmente ao como promover apreendizagens significativas, relações interpessoais
solidárias, produção do conhecimento científico significativo, enfrentamento da tensão
permanente dos elementos epistemológicos, gnosiológicos, lógicos, ontológicos,
metodológicos, éticos e, elementos externos, advindos dos vários campos de formação
dos pesquisadores, determinantes da realidade sócio-histórica que vivemos.
Essa perspectiva gera o conjunto de princípios, de inteligibilidade que ligados
uns aos outros, podem impor as condições de uma concepção complexa do universo.
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Nesta perspectiva o paradigma da complexidade permite questionar as formas de
explicação mecanicistas, fragmentadas e reducionistas, estabelecidas como modelos de
verdade na organização do saber. Fundamentado nesses princípios pode ainda funcionar
como estímulo para os pesquisadores a fim de que, a partir de seus trabalhos, eles
reconheçam a existência de traços singulares, originais, históricos, o caráter
multidimensional das realidades que compreendem o objeto das pesquisas. Além disso,
possibilita um viver participativo, respeitoso, através do diálogo, além de acolher novas
propostas teóricas que se propõem a confrontar o paradigma da simplicidade (MORIN,
2001; 2002; 2007). Apropriar-se desses princípios e praticá-los no processo de pesquisa
é inserir-se num movimento vivo, que dialoga com contradições, divergências,
convergências, quer seja na esfera subjetiva ou objetiva, individual ou coletiva.
Percebemos que praticar esses princípios é impulsionar o fazer de uma ciência
com consciência (MORIN, 2007), de si mesmo, do grupo, do processo de produção do
conhecimento. No desenvolvimento da pesquisa não nos furtamos às discussões,
ouvimos a todos com respeito, tentamos aproveitar as contribuições de cada um, numa
atitude de abertura e de aprendizagem permanente. No processo investigativo que
vivenciamos aprendemos a valorizar a construção de uma identidade individual e
coletiva que nos permite assumir nosso papel social como educadores.
Aprendemos a reconhecer que nós professores/as temos necessidade desta
dimensão coletiva que seja criadora de culturas profissionais incontornáveis aos
docentes. Por isto consideramos o trabalho em equipe como uma face essencial desta
cultura profissional baseada, sobretudo, na cooperação.
A realidade experiencial vivida pelo grupo de trabalho da pesquisa
interinstitucional promove seu estado de com-vivência, e isso possibilita a sua
reconstrução constante, na medida em que convidamos a nós mesmos a uma atenção
afetiva, sensibilizada e consciente para com o grupo e com as formas de trabalho que
instituímos.
Pierre Levy (1993), quando desenvolve o tema da inteligência coletiva mostranos que possuímos uma inteligência que é formada a partir das redes de conhecimento
as quais pertencemos. Esta inteligência coletiva de um grupo permite criar sistemas de
saberes organizados em redes. A partir destas também se cria um sujeito coletivo,
portador de memórias e de representações comuns, cria-se linguagens próprias, rotinas
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compartilhadas de ações, espaços de cooperação e dinâmicas de co-formação
participada. Apropriar-se dessas idéias e concretizá-las tem sido uma mudança decisiva
para todos nós professores/as e alunos envolvidos neste projeto interinstitucional da
Região Centro-Oeste
Para tentar compreender os aspectos teóricos metodológicos da nossa pesquisa,
vivenciamos modos diferentes e variados de fazer e de pensar, nos quais se entrelaçam a
ação, o pensamento, a criatividade, o sentimento, em movimentos a que podemos
denominar práxis. Foi preciso apreender os caminhos do questionamento de saberes
instituídos e indicar possibilidades de construção e reconstrução de novos elos.
Propusemo-nos a procurar enxergar além do que nem sempre é visível, fazer ressaltar as
sutilezas, abrir espaços para as dúvidas, não se deter diante das dificuldades e
indecisões, incentivar inovações. Procuramos reafirmar concepções transdisciplinares
como quem caminha por trilhas belas e desconhecidas, nelas aprendemos a privilegiar
cada passo do percurso, a valorizar processos como objetos do trabalho.
Os desafios foram muitos. O desenvolvimento deste grupo indica que esta foi
sendo construída sem que elegêssemos modelos teóricos fechados, como uma equipe
multidisciplinar, com experiências heterogêneas, a atitude transdisciplinar possibilitou
experiências de múltiplas dimensões e profundidade. Tivemos que criar maneiras de
trabalhar com alunos e orientandos na dinâmica da vida acadêmica em constante
movimento. Inventamos metodologias para integrar docentes que atuam nas redes de
ensino, ou na graduação e que se propõem a participar no grupo.
Outro desafio foi aprender valorizar contribuições de todos, mesmo
considerando que nos diversos participantes o nível de maturação acadêmica é
diferenciado. Em um grupo tão heterogêneo cada qual pôde expressar seus saberes e vêlos valorizados. Descobrimos nesta caminhada como aproveitar os saberes individuais
sem perder de vista os objetivos comuns. Construímos metodologias de trabalho
inovadoras para levar adiante uma pesquisa executada em diferentes espaços, pensada
por várias cabeças, que aprofundam aspectos diferentes, respeitando as especificidades
temáticas, mas mantendo a unidade do trabalho. Esforçamo-nos para incentivar e
acolher as autorias no processo cooperativo de pesquisa. O grupo tem seus estudos
divulgados pelos pesquisadores, alunos e bolsistas, nos principais eventos nacionais da
área da educação e artigos em livros.
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Tanto nos grupos de cada instituição como no grande grupo em nossos
seminários, realizamos estudos, travamos discussões que vão imprimindo suas marcas
em nossos trabalhos. Em cada equipe e depois no nosso coletivo maior, discutimos o
que produzimos, a maneira como trabalhamos, apresentamos o que criamos. Criticando,
sugerindo, sempre preocupados em contribuir para a melhoria da qualidade de cada um
dos aportes.
Nos seminários, que foram realizados em número de três anuais, a que todos
fazemos questão de estar presentes, aprendemos a respeitar o outro, a ouvir, a falar, a
criticar, a defender, a participar, a organizar, a ajudar e ser ajudado, a compartilhar
dados, a dar e a receber em um processo sempre crescente de solidariedade intelectual.
Nesses encontros da pesquisa a “verdade”, não é a cartesiana, pronta e acabada,
mas mostra-se livre, sem caminho determinado, está em construção. Uma atitude
importante é estarmos atentos para superarmos as prisões reais e simbólicas da mente
condicionada. Lembremos que “o ser humano é um acontecimento aberto ao seu próprio
ser: ele já se encontra-sendo, enquanto vive” (GALEFFI, 2001, p. 459).
Outro aspecto importante é que esse movimento tem promovido a criatividade
do grupo. Percebemos que há o florescimento da transcendência nestes momentos, pois
há uma ação-interação intencional constante que cria e recria instrumentos de pesquisa,
estudos teóricos importantes que estruturam definições epistemológicas, que se ligam ao
método de pesquisa assumido pelo grupo. Por outro lado, o contato permanente que o
grupo procura manter, através de encontros, congressos, internet, reuniões de estudo e
trabalho, tem se mostrado a presença consciente de cada membro do grupo, ao
expressarem sua responsabilidade, respeito e cooperação para com os trabalhos a serem
desenvolvidos.
Experienciar dimensões dialógicas tem exigido do grupo um constante estado
de presença e partilha, haja vista, que o desvelamento proporcionado por essa atitude é
um
constante
nascer/morrer,
conhecer/desconhecer,
movimentar-se
internamente/externamente, consciência/inconsciência, como afirma Nicolescu (2000, p.
134), “a abordagem transdisciplinar está baseada no equilíbrio entre o homem exterior e
o homem interior. Sem este equilíbrio, fazer não significa nada mais que sofrer”.
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Percebemos que o grupo passa por constantes “trans-formações”, que
relacionam
vivência-trancendência,
isolamento-cooperação,
diálogo-dialogia,
ordem/desordem, equilíbrio-não equilíbrio, estabilidade-instabilidade, religação de
saberes disciplinares/transdisciplinares, o que desvela a presença de relações complexas
que concretizam o “bom espaço transdisciplinar da pesquisa”. E isso leva o grupo a
vivenciar novas dimensões do humano, numa intensidade capaz de promover em todos
a capacidade de enfrentar algumas experiências de desaprovação, desentendimento,
trabalho em excesso, dor, solidão, separação, a até momentos de angústia. Assim, estar
inseridos neste processo possibilita acolher-nos, apreciando-nos e tentando transcender
nossos problemas.
Indicamos que já estamos caminhando em busca de um fazer/apreender
significativo, cooperativo, solidário e prazeroso, onde a pesquisa acadêmica não se
separe da vida: a mola mestra para a dinâmica e desenvolvimento do autoconhecimento
do ser.
Admitimos que precisamos de coragem e enfrentamento das dificuldades
apresentadas em cada espaço institucional, aos quais pertencem os membros da pesquisa
para que a atitude transdisciplinar seja implementada. Reconhecemos ser preciso que
cada um entenda a sua importância, que sinta a necessidade de que a sua presença no
grupo deve ser “viva”, repleta da intenção de se ser sempre melhor, sempre engajado no
pulsar da vida em si mesmo.
Lidar com o novo, desconhecido é fascinante e desafiador. A atitude
transdisciplinar exige uma postura acadêmica que concilie rigor científico com o fazer
companheiro, preocupado com a constante melhoria das relações e da convivência
coletiva. Estejamos abertos para as possibilidades de sentir e viver transdisciplinares em
nossos espaços de pesquisas.
Ao nos apropriarmos dessas concepções reconhecemos que estamos percorrendo
“bons caminhos”. Neles somos mestres e aprendizes, valorizamos a importância do
diálogo, da comunhão, da observação, da autoeducação, do cuidar-se, do olhar-se, do
ver-se, do ouvir-se, do cheirar-se, do silenciar-se, do respirar-se, do cooperar, enfim, do
conhecer-se, possibilitando a construção de atitudes transdisciplinares.
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Nossa trajetória tem a ver, com as idéias de rizomas, de redes de conhecimentos
compartilhados, de tecitura paciente de esforços e energias para a construção do
conhecimento em redes e, tem a ver com a compreensão que se são grandes as
dificuldades para levar a cabo tal empreendimento, este tem a marca da alegria e da
utopia de vencer os desafios.
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ESQUEMA DO PÔSTER
Eixo: SABER IV – Ensinar a identidade terrena – Item 4. Educação para a
solidariedade, a cooperação e a cidadania: propostas e experiências
Trabalho: Atitude transdisciplinar no contexto da pesquisa educacional
Autoras: Profa. Dra. Solange Martins Oliveira Magalhães/ Universidade Federal de
Goiás e Profa. Dra. Ruth Catarina C. R. de Souza/ Universidade Federal de Goiás
Conteúdo do Poster:
1. Apresentação da pesquisa: A produção acadêmica sobre professores – estudo
interinstitucional da Região Centro-Oeste;
2. Apresentação da REDECENTRO - Rede de Pesquisadores sobre os Professores (as)
na Região Centro-Oeste;
3. Descrição da constituição da atitude transdisciplinar: a pesquisa como processo
relacional, dinâmico, dialógico e complexo - tecitura paciente de esforços e energias;
4. A pesquisa como processo relacional, dinâmico, dialógico e complexo cujo
fundamento seja o com-viver;
5. O pensamento complexo, enquanto aporte teórico norteador, definido por trabalho
coletivo de Edgar Morin (2007);
6. A atitude transdisciplinar, uma nova postura no campo da pesquisa;
7. Posicionamentos assumidos no contexto da pesquisa: não preconceituosos, saber
viver na diferença, capacidade de dialogar para viver efetivamente a dialogia do
processo;
8. Transcender no contexto da pesquisa;
9. Posicionamentos assumidos pelo grupo de pesquisa: processos inovadores;
emancipação, compromissadas com as rupturas paradigmáticas, mudanças, na
15
contramão de processos hegemônicas de regulação, instituídos para a universidade
organizacional;
10. A atitude transdisciplinar e a uma postura acadêmica que concilie rigor científico
com o fazer companheiro, preocupado com a constante melhoria das relações e da
convivência coletiva;
11. Referências.
OBS: A versão final do pôster deverá ter, no máximo 1,20m de altura e 80cm de largura
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1 ATITUDE TRANSDISCIPLINAR NO CONTEXTO DA PESQUISA