3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES NA MODALIDADE DISTANCIA: TRAJETÓRIA DE UMA EQUIPE DE FORMAÇÃO EM LIBRAS A 1 Sandra Eli S. de Oliveira MARTINS Faculdade de Filosofia e Ciências/UNESP/Marilia/SP 2 Claudia Regina Giroto MOSCA Faculdade de Filosofia e Ciências/UNESP/Marilia/SP 3 Silmara Sartoreto de OLIVEIRA Departamento de Biologia Geral, Centro de Ciências Biológicas/UEL/PR 1. Introdução A modalidade de ensino a distância – EaD tem se consolidado, na atualidade, como um importante meio de investimento na formação continuada (LEITE, 2003; VALENTE et al. 2003; CORREA, 2007 e MOORE & KEARSLEY, 2007). Na área da Educação, as políticas governamentais propõem, por meio dessa modalidade de ensino, o atendimento a demanda de profissionais da educação carentes de cursos e recursos para a sua formação e informação em serviço (BRASIL, 2002). A EaD é amplamente usada na formação de professores em serviço, no Brasil, principalmente porque constitui a possibilidade de proporcionar um espaço para a formação desses profissionais, sem a necessidade de retirá-los do espaço escolar. Pesquisas apontam que, ao retirar o professor do ambiente escolar, para promover sua formação continuada, perde-se toda a riqueza do contexto, de sorte que, ao retornar à sala de aula, o professor tem dificuldades em aplicar o que aprendeu no curso. Mais recentemente, o programa de Formação de Professores em Educação Especial, da Secretaria de Educação Especial do Ministério da Educação e Cultura (SEESP/MEC), em parceria com a Universidade Aberta do Brasil – UAB e a Coodernação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES, tem investido, particularmente, na formação continuada em serviço, o que pressupõe a imediata utilização e transposição dos conhecimentos construídos e apreendidos no ambiente virtual para o cotidiano profissional. Desde 2007, a Faculdade de Filosofia e Ciências - FFC/Unesp - Marília/SP, atendida pelo edital público no 02 e 06 do MEC/SEESP/2007, passou a integrar essa rede de formação da SEESP, por meio do oferecimento do Curso de Extensão de “Libras a distância: uma proposta de formação continuada de professores no contexto educacional inclusivo 4”, na modalidade a distância. A certificação desse curso de extensão, apoiado pela UAB e pelo Fundo Nacional 1 Professora Assistente Doutora do Departamento de Especial da Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP/Marilia/SP. Coordenadora do Curso de Libras/EAD/MEC?SEESP. Email: [email protected] 2 Professora Assistente Doutora do Departamento de Especial da Faculdade de Filosofia e Ciências, UNESP/Marilia/SP. Profa. Pesquisadora do Curso de Libras/EAD/MEC?SEESP. Email: [email protected] 3 Professora Doutora Adjunto do Departamento de Biologia Geral, Centro de Ciências Biológicas, da Universidade Estadual de Londrina – UEL, Professora Formadora do Curso de Libras/EAD/MEC/SEESP. Email: [email protected] 4 Projeto apresentado ao Comitê de Ética e Pesquisa. CEP: 20/11/2008 e aprovado em 04.02.09. 1474 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X de Desenvolvimento em Educação - FNDE, se deu pela Pró-Reitoria de Extensão - PROEX da UNESP. Inúmeros aspectos perpassaram o planejamento, a implementação e os resultados obtidos com esse curso. Entretanto, limitaremos o presente trabalho à proposição dos seguintes objetivos: identificar e analisar as principais dificuldades apontadas pela equipe que participou do curso de LIBRAS a Distância e reavaliar o modo como os recursos tecnológicos foram utilizados no diálogo diário entre os profissionais da equipe e os cursistas nessa formação. Para tal, resgatamos a seguir os pressupostos epistemológicos que referenciam nossa compreensão acerca do ensino a distância, bem como explicitamos a estrutura e organização desse curso de extensão. 1.1. A Educação a Distância como estratégia para a formação continuada de professores A flexibilidade na utilização de recursos disponíveis no ambiente virtual e na administração do tempo para a realização das atividades propostas confere ao aluno/cursista autonomia para atuar em seu processo de ensino-aprendizagem não apenas como ator, mas também como autor desse processo, que pode ser desvinculado do modelo formal de escolarização, porém, sem o distanciamento de sua prática cotidiana como referência para sua atuação profissional. Nessa modalidade de ensino são considerados agentes fundamentais de aprendizagem o professor, o tutor e/ou o monitor que assumem, no processo educacional, posições normalmente geradoras de ligação e tensão. A inexistência de um modelo que dê conta das diferenças nas posições ocupadas por estes agentes nos múltiplos projetos, derivados de peculiaridades técnicas, tecnológicas e até referentes às linguagens e perfis das áreas de conhecimento a que se destinam, é um fator desestabilizador nas muitas formas de equacionar a EaD. Freqüentemente, nos cursos oferecidos sob essa modalidade de ensino busca-se encontrar opiniões prontas, regras protetoras que situem o interessado numa posição de domínio do que se passa. Isso fica ainda mais evidente num cenário que facilmente se deixa capturar pelas limitações impostas por softwares que nada mais são do que máquinas de repetição. Desse modo, a preocupação com o oferecimento de cursos nessa modalidade de ensino implica a compreensão de que a tecnologia não serve apenas para o encurtamento virtual da distância geográfica, assim como o processo de aprendizagem não prevê o reducionismo, por meio de conteúdos meramente informativos. A compreensão sobre as dificuldades encontradas pela equipe e cursistas que buscam um curso nessa modalidade de ensino como forma de investimento em sua formação prevê a revisão crítica acerca das possibilidades que as Tecnologias em EaD oferecem para auxiliá-los em sua prática cotidiana, além do favorecimento do seu contato com novos materiais, teorias e métodos para a criação de redes de aprendizagem. Uma vez que a interatividade, a vontade, a curiosidade, os afetos estão presentes na ambiência de aprendizagem nos espaços de EAD, os desafios que nos acompanham são as possibilidades de romper com modelos e cópias de projetos de formação continuada, valorizando a singularidade de cada um, pois uma solução gerada para um problema não pode ser compreendida como única e não pode se revestir de um caráter de inflexibilidade. Reconhecer e respeitar o que é singular, demanda movimentos intensivos de investimento na formação de atores sociais, implicando mudanças no ritmo e no modo como as coisas são realizadas, não simplesmente repetindo algo que funcionou sem operar as transformações necessárias a uma situação nova (PERNIGOTTI, 2003). 1475 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X 1.2. Breve descrição acerca da estrutura e organização do curso de extensão LIBRAS/EaD Esse curso foi organizado em três módulos que compreenderam discussões teóricas e práticas. O primeiro módulo - MI, com um total de 30 horas, foi dedicado à compreensão acerca do uso das tecnologias no processo de formação continuada de professores. O segundo módulo - MII, com 40 horas, abordou a acessibilidade comunicacional do surdo em sala de aula comum. O terceiro módulo - MIII, que totalizou 50 horas, envolveu atividades práticas e reflexivas sobre interlocução com o aluno surdo em LIBRAS, no contexto educacional inclusivo. Em contrapartida, as Secretarias e/ou Diretorias de Ensino de cada município parceiro tiveram a responsabilidade em oferecer infraestrutura tecnológicas para a aprendizagem aos 674 cursistas distribuidos em 13 estados brasileiros5. Esses professores/cursistas foram inscritos nesse curso pelas próprias secretarias estaduais e/ou municipais credenciadas no Plano Articulado da Educação - PAR do MEC, a fim de ampliar seus conhecimentos para a atuação com alunos com surdez. A equipe foi composta por profissionais que ocuparam as funções de: professor pesquisador, responsável pela elaboração dos materiais do curso, bem como pelos instrumentos de avaliação e atividades práticas propostas aos cursistas; professor formador, que atuou no gerenciamento do desenvolvimento das atividades propostas; tutor a distância, que acompanhou diretamente o cursista no ambiente virtual; e tutor presencial, que prestou suporte ao cursista no pólo vinculado à secretaria na qual o cursista estava lotado. A carga horária total desse curso foi de 120 horas, com a duração de 16 semanas, o que correspondeu a 04 meses, no período de agosto a novembro de 2008. Vale destacar que 04 semanas foram destinadas ao processo de recuperação dos cursistas, sendo três semanas intercaladas entre o desenvolvimento dos três módulos e uma ao final do último módulo, que visou uma maior flexibilização e recuperação no decorrer do curso. 2. Percurso Metodológico 2.1. Participantes A equipe profissional responsável por essa experiência de formação continuada a distância, no formato de curso de extensão, constituiu a amostra desse estudo. Desse modo, os participantes compreenderam: cinco professores pesquisadores; dez professores formadores, sendo que tanto os pesquisadores quanto os formadores possuiam formação profissional e acadêmica concernente aos conteúdos abordados nesse curso de extensão; vinte tutores a distância, com formação e/ou experiência profissional em educação especial e dezesseis tutores presenciais, selecionados pelas secretarias vinculadas aos pólos de formação. 2.3. Coleta de dados Os dados foram recolhidos a partir do preenchimento, por parte dos profissionais que atuaram no curso (pesquisador, formador, tutores), de planilhas que versaram sobre o levantamento de aspectos variados sobre o desenvolvimento do mesmo para subsidiar a elaboração do relatório final do curso a ser apresentado a coordenação. Tais planilhas 5 Foram parceiros neste projeto 22 secretarias distribuídas por 13 estados brasileiros: Anicuns (GO), Goiânia (GO), Aratuba(CE), Itarema (CE), Assis (SP), Bom Jesus da Lapa (BA), Cachoeiro do Itapemirim (ES), Campo Grande (MS), Carapebus (RJ), Croata (CE) Feira de Santana(BA), Joinville(SC), Nova Friburgo (RJ), Mossoró (RN), Oiapoque (PA), Paranavaí (PR), Rio do Sul (RS), Santana do Livramento (RS), São Borja (RS), São Paulo (SP), Teresina (PI) e Teodoro Sampaio (SP). 1476 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X versaram sobre: formação inicial, localidade onde residiam os cursistas, acesso à cursos de formação continuada, acesso aos equipamentos tecnológicos, domínio e uso de ferramentas tecnológicas, área de atuação profissional, experiencia em Educação à Distância e fluencia na LIBRAS. Já outros dados enfatizaram levantamento de informações sobre o desempenho da equipe, no exercício de suas funções no curso. Todos os dados recolhidos foram analisados com base nas respostas emitidas pelos cursistas, enviados pelos tutores a distância, tutores presenciais e professores formadores pelos pesquisadores para compor o relatório de cada módulo, no curso. Assim a sua análise envolveu o exame exaustivo das informações encontradas no relatório final do curso. 2.4. Análise dos dados Os dados foram tabulados com base em uma análise quantitativa e qualitativa, em que todas as respostas emitidas pelos participantes foram consideradas. Após a leitura desse material, foi realizada a codificação e categorização das informações encontradas. Segundo Bardin (1997, p. 103), [...] a codificação é um processo de transformação dos “dados brutos” em uma real representação do conteúdo, através de agregação. A categorização complementa esse processo, uma vez que as categorias emergem dessa codificação. A análise qualitativa dos dados foi utilizada pela possibilidade de ampliação da compreensão dos diferentes aspectos abordados nesse curso, garantindo assim, uma maior visibilidade do processo vivenciado pela equipe (RICHARDSON, 1985). Assim sendo, dois grandes eixos temáticos emergiram desse processo de análise. São eles: 1) Dificuldades encontradas, com os subeixos: com os seguintes sub-eixos a serem analisados: 1.1)Em trabalhar na plataforma e 1.2)Apoio das secretarias e dos tutores presenciais; e o Eixo: 2) Aspectos positivos a destacar no relato dos profissionais da equipe. Tais eixos e subeixos permitiram a apresentação e análise dos dados, pois possibilitaram a identificação e compreensão de diferentes aspectos do processo de formação continuada de professores no curso de LIBRAS/EaD. Por fim, informa-se que a quantificação das respostas foi organizada neste estudo em números ordinais, dentro das tabelas, conforme sua recorrência nos relatórios analisados. Destarte, para garantir uma melhor visibilidade dos resultados encontrados nos relatórios, os registros escritos foram considerados na íntegra, para exemplificar algumas categorias encontradas nesse estudo. 3. Resultados e discussão Neste tópico, irá discutir as dificuldades apontadas pela equipe para o desenvolvimento de suas funções no curso de LIBRAS. Serão consideradas, para tal análise, as respostas dos participantes sobre o desempenho de cursistas e da equipe nas no sistema de avaliações do curso. Essa análise envolverá apresentação e discussão dos dados em dois grandes eixos temáticos, conforme descrito anteriormente. 3.1. Eixo de Análise - Dificuldades encontradas no curso Tópicos de Análise Respostas obtidas Tutor presencial 1477 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X Cursistas em cidades diferentes - 02 Dificuldade em manusear as ferramentas - 01 Tutor a distancia Em trabalhar na plataforma Falta de domínio dos alunos com o computador - 13 Pouco conhecimento em LIBRAS - 01 Turma formada em várias licenciaturas - 02 Pouco conhecimento na metodologia a distancia - 01 Nenhuma – 03 Tutor a distancia Apoio das secretarias e dos tutores presenciais Nenhuma - 11 Disponibilizou duas tutoras presenciais - 01 Faltou recursos tecnológicos - 04 Pouca participação do tutor presencial - 06 Não distribuiu o material - 06 Descaso da secretaria local – 02 Quadro 1: Dificuldades encontradas pela equipe no desenvolvimento de suas funções no curso de LIBRAS/EaD. De acordo com o relato dos tutores a distância uma das maiores dificuldades para a organização da sua prática pedagógica no curso esteve relacionada à especificidade de composição das turmas, que compreenderam cursistas de vários municípios. Esta constatação também foi percebida nos relatos dos tutores presenciais que manifestaram problemas para exercer suas funções no desenvolvimento do curso, quanto as seguintes atividades: propor reuniões presenciais, acompanhar as dificuldades dos cursistas no manuseio das ferramentas da plataforma TelEduc, auxiliar na resolução de problemas técnicos e administrativos para gerenciamento das atividades na secretaria, entre outras. No curso, estas turmas foram representadas pelos municípios de Anicus (GO), São Paulo (SP), Campo Grande (MT), Goiânia (GO), Teresina (PI), Oiapoque (PA), Carapebus (RJ), São Borja (RS) e Nova Friburgo (RJ). Na visão da maioria dos profissionais, a falta de habilidade dos cursistas para lidar com os computadores, em especial com a internet, também foi eleito como um dos elementos que justificaram o não cumprimento das agendas no prazo previamente estabelecido. Embora, os cursistas relatassem terem compreensão de que o conhecimento em informática era concebido como pré-requisito para seu ingresso no curso, muitos só tiveram compreensão sobre a complexidade e a importância dessa exigência no decorrer do curso. Exemplos dessa natureza foram apontados pela equipe de Anicuns - GO e Bom Jesus da Lapa-BA. 1478 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X No que se refere ao relato dos tutores a distância (TDs), também foi possível identificar que os participantes licenciados em língua portuguesa, matemática e ciências, manifestaram dificuldades para lidar com as temáticas enfatizadas no curso, na área da surdez. De modo geral, apontaram o despreparo para o atendimento das necessidades especiais dos alunos surdos no âmbito da comunicação e/ou curricular tematizado no curso. Tal dado converge com a história da educação especial, que retratou as dificuldades dos educadores (sérias iniciais e finais do ensino fundamental) a lidar com as necessidades educacionais de seus alunos. Dentre eles, destaca-se o aluno com surdez. Por várias décadas, no século XX, pessoas com deficiência permanecem a margem do processo escolar. Restritos em sua a freqüentar o ensino comum, tiveram pouca instrução escolar não ultrapassado o primeiro ou segundo ciclo do ensino fundamental. Ao referir sobre o processo de integração de alunos com outras deficiências (mental, física, visual e auditiva) na escola, Ferreira (2002) traz importantes considerações sobre a experiência de classes especiais, de alunos com deficiência mental, no contexto de uma escola comum excludente. Apoiada nos estudos a autora (2002, p. 100) explicita que [...] podemos dizer que as unidades escolares não investiram esforços na escolarização dos alunos com dificuldades intelectuais, pois frente a estas dificuldades atribuem o fracasso ao aluno, às suas características pessoais, orgânicas, sociais, familiares a responsabilidade pelos insucessos no desenvolvimento ou na aprendizagem. Esse deslocamento da responsabilidade educativa é, ainda a maior, em se tratando de dificuldades de alunos portadores de deficiência mental. Nestes casos, as unidades escolares, tendem a “lavar as mãos”, dizendo que são casos para especialistas. Análoga a essa situação, Skliar (2000) considera que a concepção acerca dos objetivos da educação especial (seja em escolas especiais, seja no modelo integracionista – classe especial ou sala de recursos), por muito tempo também, baseou-se em um círculo de baixas expectativas pedagógicas. Partindo da idéia de que os alunos com deficiência possuíam um limite natural, em seus processos de conhecimentos, os professores planificavam as atividades pedagógicas aquém das suas capacidades, obtendo, assim, resultados que justificavam o fracasso escolar, pelo simples fato de que as crianças não poderiam vencer o déficit, ou seja, a sua própria condição decorrente do acometimento de sua deficiência (JOHNSSON et al, 1989 apud SKLIAR, 2000). Desde o início da década 90, o sistema educacional brasileiro caminha na direção de um modelo de escola que se fundamenta no paradigma da Inclusão. De acordo com a Constituição Federal de 1988 e com a Lei Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, as pessoas com necessidades educacionais especiais têm o direito de receber educação preferencialmente na rede regular de ensino. E nesta perspectiva que os dados aqui apresentados se inserem. Por ser um curso de extensão de formação continuada de professores na área de educação especial, é comum haver a manifestação de outros profissionais vinculados a rede de ensino, fato também identificado no relatório. Assim sendo, chamou a atenção os comentários da equipe no relatório sobre a inscrição de profissionais das áreas da saúde, no curso de professores oferecidos pelo MEC. Dentre eles, observou-se a presença de profissionais liberais tais como: fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional e psicólogo. Na ocasião em que o curso se desenvolveu, tais profissionais em função do vínculo aos centros e ou/coordenação do serviço de educação especial junto às 1479 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X diretorias e/ou secretarias parceiras ao projeto, passaram a compor integralmente as turmas referidas. Apesar da dificuldade dos mesmos para acompanhar as atividades propostas que versaram sobre o atendimento educacional e comunicacional do aluno surdo no sistema regular de ensino, tiveram um desempenho diferente, dos demais participantes. Tal dado releva a preocupação destes profissionais em formação continuada que considere temas na área da educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Dito de outro modo, sem aprofundar no debate que envolve essa questão, diferentes autores (POKER, 2003; OLIVEIRA, 2002; FERREIRA & FERREIRA, 2004; KASSAR, 2004, LODI, 2004) lembram que a presença de pessoas com deficiências, em sala de aula comum não deve ser considerada como sinônimo de educação inclusiva, mas visa a abranger o atendimento educacional a todos àqueles que se encontram à margem do sistema educacional de ensino: os negros, os índios, os homossexuais, etc. Nessa linha, documentos oficiais (BRASIL, 2001a, 2001b, 2001c, 1999, 1997; SÃO PAULO/SE, 2000 e outros) estão sendo divulgados com o intuito de disseminar a idéia de que a escola constitui numa instância integradora, que pode promover a inclusão social, oferecendo e atendendo às necessidades especiais todos os alunos que ainda se encontram fora da escola e não apenas de um segmento da população. Entretanto, a falta de apoio das secretarias e/ou diretorias de ensino, na visão da maioria dos profissionais da equipe, foi considerada como um problema importante para ser superado no desenvolvimento do curso. Algumas secretarias inscreveram seus professores no curso de capacitação em Libras/EaD sem dispor de infra-estrutura mínima para o seu funcionamento. Tais condições referiram-se na maioria das vezes, pela falta de laboratórios de informática ou salas com computadores que poderiam ser utilizados pelos cursistas, em suas unidades de ensino, conforme relato do profissional, situando os municípios de Croatá e Aratuba (CE) e São Borja (RS). Nestes municípios a avaliação dos mediadores também ficou a desejar, ou seja, com pontuação abaixo da média, conforme será detalhado no sub-eixo que compõe o sistema de avaliação da equipe. A situação descrita exigiu um esforço conjunto das secretarias e ou diretorias de ensino, coordenação do curso e equipe, na viabilização de alternativas provisórias para o desenvolvimento do curso. Dentre situações mencionadas, destaca-se a iniciativa de municípios que buscaram superar suas dificuldades, oferecendo suporte para que os cursistas utilizassem em lan house (Oiapoque, PA) e disponibilizassem seus computadores pessoais para que os cursistas cumprissem com suas atividades (Mossoró, RN). Outros tutores presenciais imprimiram as atividades, entregaram aos cursistas para que as preenchessem de forma manuscrita. Esses devolveram tal material aoss seus tutores presenciais que postaram as atividades no lugar dos cursistas, fazendo com que o mesmo tivesse muito trabalho (Carapebus, RJ; Teresina, PI; São Borja, RS e Aratuba, CE). Nos relatos analisados, a indicação dos tutores presenciais pelos dirigentes, sem que os mesmos conseguissem atender as exigências do perfil para o exercício de sua função no curso, foi um dos aspectos que dificultou o trabalho de orientação aos cursistas. Assim, a falta de habilidade e conhecimento desses profissionais, no que se refere ao domínio das tecnologias de informação, aos laboratórios e equipamentos de informática (acesso a banda larga) e a escassez de tempo para orientar os cursistas no ambiente de aprendizagem, foram determinantes para uma infinidade de problemas apontados, nas seguintes turmas: Croatá e Aratuba (CE), Carapebus (RJ), Teresina (PI), Paranavaí (PR) e São Borja (RS). Dois novos indicadores foram mencionados pelos tutores presenciais como prejudiciais para ao exercício de suas atividades no curso, junto às secretarias: à falta de domínio das tecnologias da informação por parte dos cursistas e ao pelo fato de residirem e/ou trabalharem 1480 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X na zona rural. Nas situações em que tiveram dificuldades para sistematizar os encontros presenciais com os cursistas nas secretarias, buscaram driblar as adversidades de infraestrutura local e de formação dos cursistas, visitando-os em suas residências assumindo em alguns casos, a responsabilidade provisória por postar no ambiente virtual de aprendizagem as atividades realizadas pelos cursistas (Paranavaí, PR, turma 1). 4. Conclusão Demonstrando a mesma preocupação, outros autores da área da surdez (LACERDA, 2000 e SILVA, 2000) adicionam a esse debate o argumento de que a Inclusão do aluno surdo em sala de aula comum não poderá ser norteada pelo princípio de igualdade em relação ao ouvinte, mas sim pelo direito ao reconhecimento de suas diferenças socioculturais, nas quais o ensino se ancore em fundamentos lingüísticos, pedagógicos, políticos, históricos, implícitos nas novas definições e representações sobre a surdez. Portanto, para que a pedagogia inclusiva ocorra, não basta permitir que os alunos surdos tenham acesso e permaneçam na escola. Torna-se fundamental que eles aprendam e, por isso, são necessárias profundas mudanças na sua organização e funcionamento. Essas mudanças devem incluir desde a eliminação de barreiras arquitetônicas, aquisição de materiais e aparelhos, adaptação de recursos didático-pedagógicos, organização de espaço físico etc., até a construção de um novo projeto político-pedagógico, que atenda à diversidade de seu alunado (POKER, 2003). É nessa perspectiva que Poker (2003) destacará a importância de programa de formação continuada de professores na área da educação especial na perspectiva da educação inclusiva. Ao articular diferentes conhecimentos e apoios, inclusive os conhecimentos provenientes da educação especial, poderá atuar junto aos alunos que apresentam dificuldades especiais para aprender. Assim, o trabalho com a diversidade irá ampliar consideravelmente o universo de conhecimento, tanto do professor comum como do professor especializado, contribuindo significativamente para a melhoria da qualidade de ensino para todos os alunos. Mesmo ciente de que as necessidades especiais dos surdos ainda estão distantes de serem contempladas no sistema de ensino comum, acredita-se que a escola que pretende se tornar inclusiva deverá dar passos firmes em direção às questões pontuadas no curso. O ensino na Modalidade a Distancia, diante do curso proposto, apresentou-se como uma ferramenta importante para o acesso dos professores da rede pública de ensino (estadual e municipal), uma vez que possibilitou o acesso dos mesmos a cursos e propostas antes somente oferecidas in locu, para uma pequena quantidade de profissionais. Em se tratando da Educação Especial, em específico da Libras, considera-se que a proposta de disseminar o uso da língua nas mais variadas regiões do nosso País, é uma forma de inclusão do próprio professor nesta temática, uma vez que possibilitou a esses profissionais uma reflexão constante sobre suas práticas pedagógicas com alunos com necessidades educacionais especiais. Ao mesmo tempo, possibilitou a esses professores uma atualização sobre os meios de comunicação propiciado pela utilização do Ambiente Virtual de Aprendizagem, com todo o material e atividades propostos pelo Curso de Libras. Vale ressaltar que o papel de atuação freqüente dos profissionais envolvidos no curso, como pode-se verificar nos dados obtidos, foi de suma importância para o andamento e aproveitamento dos professores/cursistas nas atividades propostas. 5. Referencias Bibliográficas 1481 3 a 6 de novembro de 2009 - Londrina – Pr - ISSN 2175-960X ALONSO, M. & ALEGRETTI, S.M.M, Introduzindo a pesquisa na formação de professores a distância. In: VALENTE, J.A. et al (Org). Educação a distancia via internet. São Paulo: Avercamp, 2003. p.163-174. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1997. BRASIL. Diretrizes curriculares nacionais para a formação de professores da educação básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena. Conselho Nacional da Educação. 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