DIEsEL GASOLINA Muito além das expectativas Quando analistas e pesquisadores querem sinais sobre o comportamento da economia, voltam logo suas atenções para as vendas de diesel. Afinal, tratase de um dos principais insumos do setor produtivo e responde por quase metade do consumo nacional de combustíveis. Não é à toa, portanto, que se diz que o desempenho do diesel acompanha de perto o do PIB. Em 2010, no entanto, essa realidade foi um pouquinho diferente. É bem verdade que os números não deixaram dúvidas: a crise econômica definitivamente ficou para trás e a tímida recuperação que esboçou os primeiros passos no final de 2009 ganhou força no ano passado. Só que as vendas de diesel ficaram bem além da alta de 7,5% registrada pelo PIB e cresceram 11,2%, totalizando quase 50 milhões de metros cúbicos. Tamanho aquecimento se traduziu em um incremento de R$ 8 bilhões no faturamento com comercialização de diesel, gerando R$ 23,8 bilhões em arrecadação tributária, quase 14% acima do valor apurado em 2009. 5.1 ARRECADAÇÃO TRIBUTÁRIA Em bilhões de reais 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 23,8 20,9 13,6 12,4 6,9 6,3 2,1 3,3 2009 2010 ICMS PIS/Cofins Cide Fonte: Fecombustíveis 5.2 fATURAMENTO Em bilhões de reais $ $ 90 2009 98 2010 Fonte: Fecombustíveis Uma revolução está a caminho: a chegada do diesel de baixo teor de enxofre (S10/S50) aos postos em todo o país, a partir de 2012 Revolução à vista Entretanto, não foi pelo bom desempenho nas vendas que o diesel ocupou o centro dos debates e fóruns sobre combustíveis no ano passado, mas sim porque uma revolução está a caminho: a chegada do diesel de baixo teor de enxofre (S10/S50) aos postos em todo o país, a partir de 2012. Se tudo ocorrer conforme o previsto, os veículos novos, dotados do sistema Selective Catalytic Reduction, circularão a partir de 2012, por todo o território nacional, sempre abastecendo com o óleo diesel de baixo teor de enxofre, como determina o acordo judicial que estabeleceu a introdução gradativa do novo combustível (veja linha do tempo e cronograma na próxima página). A princípio, os novos veículos deveriam utilizar somente o S10, mas as montadoras concederam uma licença extraordinária para que eles rodem com S50, que já é produzido pela Petrobras, apenas em 2012. No ano seguinte, contudo, o jogo começa para valer, com o S10 substituindo o S50. Se não bastasse a sopa de “S”, um novo produto passará a integrar a cadeia de abastecimento: o Arla-32, uma espécie de fluido, utilizado em tanque próprio, indispensável para reduzir as emissões de NOx dos veículos novos. Apesar de se já escutar há um bom tempo todo esse “zunzum” em torno dos novos combustíveis, somente em 2010 os postos foram convocados a dizer se pretendem ou não comercializar o produto. Para tanto, a ANP abriu uma pesquisa online (e obrigatória) visando mapear os estabelecimentos com planos de oferecer o produto. Segundo a sondagem (que representa apenas uma intenção, não um compromisso de comercialização), 32% dos postos que responderam à pesquisa querem vender o diesel de baixo teor de enxofre. O que já seria suficiente para abastecer a maior parte do país. Saber o número exato de postos ofertando o produto, no entanto, só será possível quando se tiver uma ideia sobre o preço do S10 e toda a logística estiver desenhada. Caso em alguma região não exista revendedor interessado em comercializar o produto, a ANP pode determinar o uso obrigatório de S10/S50 na área. Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2011 39 DIEsEL A pOLÊMICA pASSO A pASSO Resolução 315/2002 do Conselho Nacional de Meio Ambiente determina a venda de S50 a partir de 1º de janeiro de 2009 Após meses de discussão com agentes do mercado, ANP divulga o Plano de Abastecimento de Óleo Diesel de Baixo Teor de Enxofre, do qual a Fecombustíveis é signatária Resolução ANP nº 32 de 2007 estabelece a especificação do S50, que será utilizado nos veículos da fase P6 do Proconve 2002 2007 2008 2009 ANP realiza pesquisa com a revenda para saber quantos postos têm intenção de comercializar o novo combustível 2010 • Anfavea e Petrobras admitem que veículos e combustível não estarão disponíveis em janeiro de 2009 • Entidades da sociedade civil se organizam e lançam abaixo-assinado exigindo que a adoção do combustível menos poluente não seja adiada • Justiça federal concede liminar na ação civil pública proposta pelo Estado de São Paulo, e aditada pelo Ministério Público Federal, obrigando a Petrobras a fornecer S50 em quantidade suficiente para abastecer os veículos novos em pelo menos uma bomba em cada posto • Em novembro, é assinado um acordo judicial antecipando de 2016 para 2012 a adoção da fase P7 do Proconve e a chegada do S10, além de determinar um calendário de introdução dos novos combustíveis. O acordo foi assinado entre Ministério Público Federal, Estado de São Paulo, Ibama, Cetesb, ANP, Petrobras, Anfavea e 17 fabricantes de veículos e motores 5.3 pREVISãO DE INTRODUçãO DO S10/S50 Regiões Metropolitanas - Municípios São Paulo, Rio de Janeiro Recife, Fortaleza, Belém São Paulo - - 31/12/08 01/01/09 01/05/09 01/08/09 01/01/10 01/01/11 01/01/12 01/01/13 01/01/14 Transp. Coletivo Todos Curitiba Transp. Coletivo Transp. Coletivo B. Horizonte, Transp. Coletivo Salvador, Porto Alegre Campinas, Baixada Santista, S.J. Campos, Rio de Janeiro Demais Segmento Consumidor S50 S500 Transp. Coletivo Demais Demais Todas Todos Veículos P-7 novos Todas Todos Off Road S2000 S1800 S50 S10 S1800 Fonte: ANP 40 Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2011 As DÚVIDAs NA QUALIDADE Nesse aspecto, 2010 não foi diferente dos anos anteriores. O índice de não-conformidade voltou a subir e atingiu 3,6%, reforçando a tendência de alta iniciada em 2008, quando o biodiesel passou a ser misturado ao combustível fóssil de forma compulsória. Em alguns meses de 2010, o indicador atingiu picos de 5,2% (março) e 4,3% (fevereiro e abril). Basta dar uma olhada mais cuidadosa nos números para não ter dúvidas quanto à influência do biodiesel sobre estes índices: as nãoconformidades por teor de biodiesel responderam por 35% dos casos, enquanto às relacionadas ao aspecto totalizaram 34%. De acordo com pesquisas, tais resultados podem decorrer da deterioração do biodiesel, em decorrência do contato com água ou com peças que contenham material como o cobre (leia mais no capítulo sobre biodiesel). Independentemente da causa, tem sobrado para a revenda arcar com as penalidades e os maiores custos. 5.4 EVOLUÇÃO DO ÍNDICE DE NÃO-CONFORMIDADE Em % 8,0 7,0 6,5 6,0 5,9 4,9 5,0 3,8 4,0 3,4 3,0 3,6 3,0 2,6 1,9 2,0 2,2 Introdução do biodiesel 1,0 0,0 Fonte: ANP 5.5 NãO-CONfORMIDADE pOR BANDEIRA (Em %) Bandeiras Nacionais Bandeiras Regionais Bandeira Branca 2009 2,3 3,5 4,3 2010 3,3 2,5 4,6 Fonte: ANP 5.6 ESPECIFICAÇÃO DA NÃO-CONFORMIDADE 2009 Ponto de fulgor 24% Outros 7% 2010 Teor de enxofre 3% Ponto de fulgor 17% Teor de biodiesel 28% Outros 4% Teor de biodiesel 5% Corante 4% Corante 3% Aspecto 35% Teor de enxofre 6% Aspecto 34% Fonte: ANP Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2011 41 DIEsEL 5.7 IMPORTAÇÃO Em milhões de m3 10 8 6 4 2 0 Fonte: ANP 5.8 PREÇOS MÉDIOS NO UPSTREAM E DOWNSTREAM Em R$/L 2,40 Refino 2,20 Distribuição Revenda 2,00 Com atividade econômica a pleno vapor, inúmeras obras de infraestrutura correndo contra o tempo e um parque de refino quase sem capacidade ociosa, o Brasil precisou importar muito mais diesel em 2010. As compras externas aumentaram 156,4%, atingindo nove milhões de metros cúbicos. Trata-se do maior valor nos últimos dez anos. E a dependência externa poderia ter sido ainda maior, caso não houvesse a adição de 5% de biodiesel. Para reduzir esse déficit, a Petrobras tem direcionado grande parte dos seus investimentos para a expansão do parque de refino e melhoria operacional, além dos recursos destinados ao aperfeiçoamento da qualidade dos combustíveis, o que tem exigido algumas paradas técnicas das refinarias. 1,80 1,60 1,40 1,20 1,00 Fonte: ANP Nota: O preço médio do refino não inclui ICMS. 5.9 MARGEM MÉDIA DAS DISTRIBUIDORAS (Em R$/L) 5.10 MARGEM MÉDIA DOS pOSTOS (Em R$/L) 2009 2010 2009 2010 BR 0,095 0,094 BR 0,236 0,265 Ipiranga 0,113 0,110 Ipiranga 0,211 0,248 Esso/Cosan 0,096 0,107 Esso/Cosan 0,216 0,236 Shell 0,110 0,119 Shell 0,198 0,224 Branca 0,068 0,063 Branca 0,234 0,250 Outras 0,107 0,116 Outras 0,215 0,231 Média 0,093 0,095 Média 0,224 0,248 Fonte: Fecombustíveis Nota: Abrange as capitais dos Estados da BA, MG, PA, PE, PR, RJ, RS, SP e o Distrito Federal. 42 Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2011 Fonte: Fecombustíveis Nota: Abrange as capitais dos Estados da BA, MG, PA, PE, PR, RJ, RS, SP e o Distrito Federal. 5.11 COMPOSIÇÃO DAS VENDAS POR TIPO DE BANDEIRA 82,1% 81,7% 90% 80% 70% 60% 50% 40% 30% 18,3% 17,9% 20% Vinculados 10% Bandeira Branca 0% 2009 2010 Fonte: ANP 5.12 MARKET SHARE DAS DISTRIBUIDORAS 40,6% 40% 40,6% 22,4% 30% 20% 22,8% 5,8% 10% 0% 20,0% 11,2% 20,2% 11,4% 5,0% 2010 2009 Fonte: ANP Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2011 43 DIEsEL A DIVIsÃO DO bOLO É fato que todos cresceram, porém alguns agentes mais do que outros. Os TRRs registraram o melhor desempenho no período, com incremento de 14% no volume comercializado, graças especialmente à forte atividade agrícola no país. No mesmo período, o número de TRRs caiu 13%, em meio à conclusão do processo de recadastramento, que “limpou” a base desses agentes na ANP. A categoria “grande consumidor” mostrou o segundo melhor resultado, com alta de 11,8%. E, na lanterna, aparece a revenda varejista, com alta de 10,2% no volume comercializado. 5.13 COMPOSIÇÃO DO VOLUME COMERCIALIZADO PELAS DISTRIBUIDORAS 2009 Grandes consumidores 31,5% Postos 56,8% TRR 11,7% 2010 Grandes consumidores 31,7% TRR 12,0% Fonte: ANP Fretes 2% Biodiesel 5% Margens 15% Tributos 23% Diesel 54% 44 Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2011 49,2 milhões de m3 Postos 56,3% 5.14 COMPOSIÇÃO DO PREÇO EM 2010 Fonte: Fecombustíveis 44,3 milhões de m3 De forma geral, o diesel é o combustível com menor tributação no país, devido ao seu impacto direto nos fretes e, por tabela, nos custos de toda a cadeia de produção industrial e agropecuária. No ano passado, não houve alteração nas alíquotas de ICMS praticadas pelos estados para este combustível. Dessa forma, Norte e Nordeste seguem ostentando os maiores valores cobrados no país, de 17%, grupo ao qual se somam ainda os estados do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, com forte vocação agropecuária. Na Bahia, a alíquota é de 15%, valor inferior ao praticado pelos seus vizinhos nordestinos, mas ainda três pontos percentuais acima daquela que vigora em Minas Gerais, o que acarreta perda de vendas para os postos situados na fronteira entre os dois estados. Para o Sul e o Sudeste, a alíquota é uniforme, em 12%, com exceção do Rio de Janeiro, onde vigora 13%. Vale destacar ainda que Ceará, Bahia, Paraná, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e São Paulo adotam o MVA, ao contrário do PMPF utilizado na maior parte dos estados. Uma das reivindicações do setor é a adoção, por todos os estados, do PMPF em substituição ao MVA. RR AP AM MA CE PA PE AC AL TO RO RN PB PI SE BA MT DF GO 5.15 ALÍQUOTAS DE ICMS MG ES MS 17% 15% 13% 12% SP RJ PR SC RS Fonte: Fecombustíveis A conferir: 42011 será o ano de aparar as arestas para que o diesel com baixo teor de enxofre chegue ao mercado sem problemas a partir de 2012. Isso envolve mapear os postos que vão oferecer o produto, fechar a logística de entrega, concluir investimentos de adaptação da infraestrutura e, principalmente, saber qual será o preço do novo diesel; 4As definições sobre o Arla-32 também devem sair neste ano, especialmente sua forma de comercialização e fiscalização; 4A fusão entre a Shell e a Cosan, criando a Raízen, promete movimentar o mercado. Com redes consideradas complementares, a nova companhia deve brigar pela vice-liderança no mercado. No diesel, o market share da Raízen ainda não ameaça o número dois do mercado, o Grupo Ultra. Mas é justamente no segmento de postos de estradas que a nova companhia promete centrar esforços logo no início das operações; 4A revenda espera incremento na fiscalização e mais rigor na autorização e registros de Pontos de Abastecimento, em meio às inúmeras denúncias de funcionamento irregular. Relatório Anual da Revenda de Combustíveis 2011 45