RELATÓRIO
REALIZAÇÃO DE EXAMES VDRL EM MATERNIDADES DA REDE SUS NA
ADMISSÃO PARA PARTO, CURETAGEM E OUTROS PROCEDIMENTOS
OBSTÉTRICOS.
Elaborado por: Eduardo Campos – UDST/PN-DST/AIDS
A rotina de realização de exames para sífilis (VDRL) na admissão para o parto,
curetagem ou em intercorrências obstétricas foi implantado em 1993, como
elemento importante para a redução das severas complicações da sífilis
congênita: uma vez que não haveria mais possibilidade de se evitar o agravo
ao menos permite identificar a mulher infectada, seu parceiro, a criança e os
outros possíveis contactantes, interceptando a evolução da doença e
promovendo o tratamento para todos os infectados.
As conseqüências das falhas de diagnóstico e tratamento adequado durante o
pré-natal são, assim, minimizados quando da realização do VDRL na admissão
para o parto.
A recomendação pela realização do exame VDRL vem sendo reforçada nas
capacitações e outros encontros técnicos, desde então, o que provocou, em
conseqüência, o aumento no número de casos notificados. Em 1995 foram
pouco mais de 200 casos, encontrando-se hoje em cerca de 4.000 novos casos
notificados ao ano. Justifica-se o fato em razão da visibilidade dada ao
problema, da adoção de uma definição de caso mais sensível e de um
processo contínuo de capacitação e vigilância.
Não obstante a implantação de programas e projetos relacionados a melhoria
da qualidade do pré natal e parto e a redução da transmissão vertical do HIV e
da sífilis, como o PHPN e o Projeto Nascer, a realização dos testes para sífilis
nas maternidades ainda sofrem com a descontinuidade de sua execução ou
mesmo da não valorização das conseqüências de um caso não diagnosticado.
A portaria SAS/MS nº 766/04, de 21 de dezembro de 2004, publicada no Diário
Oficial da União nº 245 de 22 do mesmo mês, procura redefinir o papel desse
importante procedimento, tornando obrigatória a execução do VDRL nas
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maternidades, tendo sua vigência redefinida a partir de março de 2005 (portaria
SAS/MS nº 124, de 1º de março de 2005).
As informações obtidas à partir da tabulação da base de dados do SIH/SUS
nos permitirá avaliar o grau de implantação da rotina nos serviços e também do
impacto nas notificações de casos de sífilis congênita.
RESUMO
Os dados quanto a realização do VDRL nas maternidades foram tabulados no
período de 2000 a outubro de 2005. Observa-se que a realização do
procedimento vem ocorrendo em serviços de parto em período anterior à
publicação da portaria 766, como parte das recomendações do MS para o
controle da sífilis congênita. Esse número, no entanto, corresponde a um
percentual ainda pequeno em relação ao esperado.
Ao longo dos últimos 5 anos, a realização do teste apresenta contínuo
incremento, não obstante a obrigatoriedade ter-se dado apenas a partir de
março de 2005 (gráfico 1).
Gráfico 1
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Os partos normais são os que somam o maior número de AIH com informação
de VDRL solicitados, correspondendo ao maior número proporcional desse
procedimento em relação ao parto cesáreo, na rede SUS (gráfico 2). Ainda
fazendo referência aos partos operatórios, o percentual de realização de VDRL
nestes corresponde pouco mais da terça parte dos mesmos, ou seja, 35,19%
(gráfico 3).
Gráfico 2
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Gráfico 3
A realização do VDRL nas internações por curetagem pós-aborto, em todo o
período analisado, teve nas regiões sudeste e nordeste, respectivamente, os
maiores números absolutos (gráfico 4). Quando analisamos o percentual
relativo ao número de internações para curetagem pós-aborto verifica-se que
essas regiões são as que mais realizam tal procedimento (gráfico 5). O
percentual de curetagens onde a realização do VDRL foi informada
corresponde a cerca de 30% dos procedimentos (gráfico 6), muito inferior ao
que se espera alcançar. Segundo a OMS, sabe-se que o desfecho
desfavorável, com óbito fetal e perinatal, pode alcançar 35% das gestações
que cursam com sífilis não tratada ou inadequadamente tratada, representando
então, a testagem, nesses casos, uma forma de se alcançar o diagnóstico
materno e assim providenciar o tratamento da mulher e seu parceiro.
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Gráfico 4
Gráfico 5
-5–
Gráfico 6
A recomendação do MS de que se realize o teste para sífilis nas internações
relacionadas às intercorrências ocorridas no período gestacional, tem por
objetivo ampliar o acesso ao diagnóstico dos casos de sífilis não
diagnosticados no pré-natal. Ainda que represente uma pequena parcela do
conjunto dessas internações 1 (36%), observa-se que a aplicação dessa rotina
já se faz presente (gráfico 7).
1
Foram computados apenas as intercorrências em gestantes de alto risco.
-6–
Gráfico 7
Comentários:
a. a realização do VDRL nas admissões para o parto/curetagem ainda não
foi definitivamente incorporada à rotina das maternidades nas admissões
das parturientes;
b. ainda que parcial, a adoção dessa prática apresenta uma tendência
crescente, que provavelmente sofrerá forte impacto com a publicação e
vigência da portaria 766;
c. em média, nos últimos 5 anos, o VDRL foi realizado em cerca de 30%
dos partos ocorridos na rede SUS, representando uma grande perda de
oportunidades de diagnóstico da infecção materna e congênita;
d. a realização de testes para sífilis nas internações de gestantes por
alguma intercorrência obstétrica ou por outras indicações ainda
representa, possivelmente, uma fração pequena dos casos. Há que se
avaliar com maior nível de detalhamento as internações que formam o
grupo “intercorrências durante a gestação” para que se possa ter uma
maior aproximação da magnitude.
-7–
Comentários finais
1. A sífilis continua como um importante fator de morbidade materna em
nosso meio, com uma estimativa de cerca de 50.000 gestantes com
sífilis ativa;
2. A infecção congênita pelo T.pallidum é responsável por um número
considerável de perdas fetais mas a magnitude desse problema ainda
não está bem estabelecida;
3. A realização dos testes para sífilis no pré-natal (primeira consulta e na
trigésima semana) é uma medida custo efetiva que pode produzir um
forte impacto na redução do número de casos de sífilis congênita;
4. A realização do VDRL na admissão para o parto ou para curetagem
representa uma importante estratégia para a identificação de casos da
infecção materna e congênita pela sífilis e deve ser prática rotineira em
serviços de parto, cabendo aos gestores de saúde zelarem pela sua
implantação e pela avaliação da qualidade da assistência ao parto
prestada à população.
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relatrio da realizao de exames vdrl em maternidades na admiss