II ENCONTRO CIDADES NOVAS - A CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS PATRIMONIAIS:
Mostra de Ações Preservacionistas de Londrina, Região Norte do Paraná e Sul do País.
VESTÍGIOS DA IMIGRAÇÃO JAPONESA NO NORTE DO PARANÁ E SUA
CULTURA ASSOCIADA À TÉCNICA CONSTRUTIVA EM MADEIRA
Nicolly Matinaga1
Elisa Roberta Zanon2
O norte do Estado do Paraná é uma das regiões de maior
concentração de população advinda da imigração japonesa. As primeiras
ocupações de colônias desta cultura oriental no norte do estado foram fixadas
entre 1913 e 1915, inicialmente em Cambará pela facilidade de acesso e por se
tratar de uma área com grande valorização, visada também por imigrantes de
outras nacionalidades, além de brasileiros de várias regiões do país. É fato que
neste período houve uma grande difusão cultural pela diversidade de povos,
estando inclusive a dos japoneses que trouxeram seus costumes e técnicas
construtivas, principalmente em madeira.
O objetivo deste artigo é apresentar um registro da técnica
construtiva de um exemplar em madeira no estilo japonês, que pode ser
considerada uma herança histórica dos mestres carpinteiros do período da
colonização do Norte do Paraná. Para isto, buscou-se num primeiro momento
abordar a imigração japonesa, para então relatar quais foram as técnicas
construtivas utilizadas por eles aqui e por fim expor o exemplar remanescente na
área rural do município de Sertaneja.
O processo de organização dos japoneses no Norte do Paraná
acontecia normalmente em áreas rurais, onde desbravavam estes locais para
produção agrícola. Na aquisição de terras, procedia-se a compra de uma área de
fazenda para dividi-la em pequenos lotes (10 a 20 alqueires), formando as
comunidades, chamadas também de “mura”.
As primeiras construções eram pequenas e feitas em palmito,
cobertas com tabuinhas. Com o passar dos anos, a matéria prima foi substituída
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Aluna do curso de Arquitetura do Centro Universitário Filadélfia – UniFil.
Professora do Centro Universitário Filadélfia – UniFil.
Centro Universitário Filadélfia – UniFil. Londrina-PR. 13 a 16 de Outubro de 2009.
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pela madeira, sendo o material mais utilizado nas edificações e sua técnica
construtiva é o melhor remanescente das belas construções dos mestres
carpinteiros. Estes construtores trouxeram junto aos costumes o seu modo de
construir, que se trata principalmente do “saber fazer”, juntamente com materiais
e ferramentas específicas, que caracterizam o sistema construtivo das casas de
madeira. Uma edificação poderia ser construída em pouco tempo devido ao uso
reduzido número de peças que compõem os seus elementos construtivos e pelo
sistema de encaixes, o que tornava o processo de montagem rápido.
Ainda,
a
arquitetura
japonesa
também
possui
elementos
característicos de sua cultura como os detalhes construtivos e elementos de
fachada, como os rendilhados de madeira, a ranma, o frontão, irimoya, a varanda
cerimonial, a guenkan, e ornamentos, onigawara. Foi desta forma que buscaram
recriar nesta terra a cultura japonesa, com os materiais e elementos existentes na
região, mas ainda assim, utilizando suas técnicas.
Além de edificações residenciais em madeira, outras construções de
uso comum também tinham destaque por seus ornamentos e organização
espacial, sendo geralmente construídas em regime de mutirão. Buscava-se uma
área comum e próxima aos sítios para implantar a escola, e outras atividades da
comunidade como o clube esportivo, salão de festas e uma casa para o professor
da escola, construída pelos pais dos alunos, formando um complexo denominado
Kaikan.
Assim como em toda a região do Norte do Estado do Paraná, um
destes exemplares da arquitetura japonesa pode ser encontrado na área rural do
município de Sertaneja, a 80 quilômetros de Londrina. Trata-se de uma antiga
construção em madeira dos anos de 1950, utilizada como residência até 1991.
Embora esteja sem uso e parcialmente danificada, a edificação ainda guarda em
suas estruturas a técnica construtiva do carpinteiro Kenzo Fuji.
Nela podemos encontrar todo este sistema construtivo herdado dos
japoneses e as particularidades claras de sua arquitetura, como sua fachada,
onde possui as principais características da volumetria. A exemplo disso temos a
cobertura irimoya (com o frontão, composto com peças de madeira treliçada), a
Centro Universitário Filadélfia – UniFil. Londrina-PR. 13 a 16 de Outubro de 2009.
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presença de ranma, que é o rendilhado emoldurando a varanda e que também
acontece na sala de estar. Este ambiente possui um simbolismo em conjunto com
a varanda cerimonial (guenkan). A sala é marcada quase sempre por ornamentos
em madeira sobrepostos sobre as paredes e forro, marcando-a como o ambiente
mais importante da casa, e o guenkan (varanda) é marcado de um simbolismo
que o dignifica como hall de entrada da casa privativo às visitas. Esta varanda é
sempre elevada do solo e tem presença marcante na volumetria. O seu
tratamento começa pela composição da escada de acesso e vai até os
tratamentos ornamentais com rendilhado. No caso desta casa em estudo,
observa-se que houve alterações na composição deste ambiente. O parapeito da
varanda, que antes compunha-se de madeira, foi substituído por alvenaria.
Retomando a identificação das características presentes na casa, ainda pode-se
encontrar o onigawara, que é um elemento de cimento, localizado no alto do
frontão ou espigão da residência.
Apesar de seu estado atual e das modificações feitas enquanto era
habitada, a residência não perdeu seus traços característicos.
É através de modelos como este, exemplar da história de um povo,
de uma região, que se percebe o valor dos patrimônios históricos e a importância
em preservá-los. Não é preciso ter pertencido a um grande artista para se estimar
uma obra, uma construção. Simplesmente é necessário guardar uma crença, uma
tradição, um valor sentimental ou histórico. Entretanto, o mais importante, é
mostrar e conscientizar a todos o quanto aquilo é importante para a sociedade em
geral e para as gerações futuras, pois assim possibilita que todos possam
aprender e conhecer sobre o que se passou antes de nós.
REFERÊNCIAS
ZANI, Antônio Carlos. Repertório arquitetônico das casas de madeira de Londrina.
Londrina: Midiograf, 2005.
ZANI, Antônio Carlos. Arquitetura em madeira. Londrina: UEL, 2003.
LEMOS, Carlos A. C. O que é patrimônio histórico. 5ªed. São Paulo: Brasiliense,
1987.
Centro Universitário Filadélfia – UniFil. Londrina-PR. 13 a 16 de Outubro de 2009.
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