Discurso proferido pelo deputado GERALDO RESENDE (PMDB/MS), em sessão no dia 03/07/2013. AGORA É A VEZ DA SAÚDE: MOBILIZAÇÃO POR MAIS RECURSOS E CONTRA A PRECARIZAÇÃO DA MEDICINA BRASILEIRA Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, Hoje, quarta-feira, médicos de todo o País vão realizar o dia de Mobilização contra a Importação de Médicos formados fora do Brasil sem a revalidação do diploma. Queremos – e falo aqui como médico que sou – fazer deste momento de manifestações por todo País a oportunidade de se discutir a saúde pública brasileira, porém começaremos este debate da maneira correta e não pela falácia da necessidade de se importar médicos estrangeiros. A Organização Mundial da Saúde (OMS), projetou a falta de médicos para 45 países no ano de 2015, o Brasil, juntamente com Estados Unidos e países Europeus estão fora desta lista. O nosso País é o quinto em número de médicos no mundo, a frente de 188 outros estados nacionais. Temos cerca de 2 médicos para cada mil habitantes, mais que a média mundial de 1,4. Os médicos brasileiros significam 5% da população médica de todos os países e 19% dos médicos do continente americano. O debate sobre as limitações do Sistema Único de Saúde deve ser iniciado por meio da definição de um orçamento robusto e perene para Saúde, com o estabelecimento em lei da obrigatoriedade de 10% da receita bruta da arrecadação do Governo Federal para a área. Todavia, sabemos que a oferta de saúde pública é sustentada, além de um orçamento real, por uma gestão eficaz e eficiente, que consiga executar os investimentos, custear as ações e fiscalizar a qualidade. E agir desta forma, tanto nos grandes centros, como nas periferias e nos pequenos municípios. Os países com maior média de médicos por habitantes são aqueles que o gasto público com saúde é maior que o investimento privado. Atualmente, a participação do Estado brasileiro nos gastos com saúde é de apenas 44%, quando na Argentina é de 66%, na Austrália é de 68%, no Canadá é de 71%, na Espanha é de 74%, na Alemanha 77% e na França 78%. Por que não seguimos esses exemplos? Se formos comparados com a Espanha, por exemplo, o país Europeu prevê um gasto de 2.200 dólares por habitantes durante um ano e quatro leitos por cada mil habitantes. Já o Brasil investe 367 dólares por habitante por ano e 1,84 leito, ou seja, insuficiente. É pela ausência desses elementos que os profissionais médicos, como qualquer outro trabalhador, buscam se concentrar em regiões com o mínimo de qualidade no exercício de suas funções e se distanciam da precariedade, da falta de estrutura e da falta de reconhecimento. Sabemos administradores municipais de casos, prometem quando estrutura e remuneração justas, porém, com o passar dos meses, os médicos encontram descaso e calote. No dia 26 de junho, mais de 200 lideranças representando o Conselho Federal de Medicina, sindicatos regionais, estabeleceram esta associações, quarta-feira dentre para outros evidenciar a qualidade dos profissionais brasileiros, que carregam nas costas os reconhecidos serviços pela de saúde população e são brasileira. amplamente Propor a importação de médicos sem a devida revalidação de seus diplomas é prova da dificuldade em entender o que pedem os manifestantes nas ruas. Uma alternativa a esta proposta é a criação de cargos de estado para profissionais médicos como ocorre com as carreiras na área jurídica. A Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 454/2009, nos oportuniza esta opção e assim efetivamente atendermos a categoria e, consequentemente os anseios da população. Aproveitando a data, a classe médica colocará no ar o site: WWW.sossaude.org.br, pelo qual os médicos terão oportunidade de postar textos, vídeos e imagens denunciando a real situação da saúde pública pelo País. Estaremos aproveitando as novas tecnologias e a rede mundial de computadores para mostrar, àqueles que fazem vista grossa a realidade, o que falta nos postos de saúde e hospitais. Hoje, médicos de todas as regiões do país, sairão as ruas, farão palestras, seminários, reuniões e encontros para mostrar para a população como poderemos ofertar um melhor serviço de saúde, sem prejudicar a formação acadêmica e expor a população mais vulnerável a médicos dos quais não conhecemos a procedência de seus conhecimentos. Não estamos adotando uma postura xenofóbica ou corporativista, pois nós médicos, formados em Instituições de Ensino Superior reconhecidas pelo Ministério da Educação brasileiro, não nos opomos a nenhum profissional que queira salvar vidas em nosso País, apenas queremos uma prova tangível de que esses médicos não as colocarão em risco. Reitero que sou médico, formado em 1982 pela Universidade Federal do Ceará e voltei a minha cidade, Dourados, no interior de Mato Grosso do Sul para atuar em Postos de Saúde da periferia e da área rural, até me eleger vereador, deputado estadual, ser secretário estadual de saúde e hoje estar nesta Casa pelo meu terceiro mandato. Logo, posso afirmar que efetivamente faltam médicos no interior de nosso País, principalmente nos grotões mais pobres. Porém, não faltam apenas médicos e talvez por isso eu ainda esteja na Câmara dos Deputados, lutando para um investimento claro, robusto e perene para a Saúde Pública no País. Nesses lugares falta tudo. Das Unidades Básicas de Saúde que atendem as aldeias Jaguapirú e Bororó, em minha cidade, aos municípios mais longínquos do Norte e Nordeste do País, encontramos edificações precárias, veículos em péssimo estado, falta de materiais permanentes, macas, lençóis, material de higiene. Na verdade, falta investimento, falta alma. Um ambiente assim não é pouco atraente aos profissionais, na verdade é inóspito e perigoso, possibilitando a frustração, ao erro médico, a processos e até mesmo a morte de pacientes. Este debate não é sobre a ocupação de postos de trabalho, é sobre a vida. A maior queixa da população mensurada em pesquisas por todo País não é a ausência de médicos, é a saúde como um todo, é a falta de exames, é a diminuição de leitos, são as macas nos corredores, ou seja um problema conjuntural e não estrutural. Vamos transformar este rico momento de mobilizações em um grande e verdadeiro debate. Vamos provocar uma verdadeira revolução na saúde do País. A possibilidade de importação de médicos estrangeiros e irregulares e contratos temporários são as formas mais desvirtuadas de se atender as demandas expostas nas ruas. Podemos implantar políticas paliativas para suplantar diversos problemas tópicos, porém a saúde é algo muito sério. Um passo em falso causa mortes. Vamos, com a velocidade que pede nossa população, mais do que nunca atenta e vigilante, fazermos acontecer na saúde pública brasileira e promover um sopro de mudanças na vida de nossa gente. Muito obrigado pela atenção. Deputado GERALDO RESENDE (PMDB/MS)