1%] 1%] GREVES E MOVIMENTOS DE REIVINDIERADà e o SAC o %A o exigência... na decisao da escolha. No simples gesto de o acender No prazer de o fumar Na alegria de o oferecer! EXIGÊNCIA, marcando o ritmo no trabalho, na acção e no prazer! IM Um cigarro completo. Equilibrado. IM Um cigarro totalmente conseguido. a. o 1MII Um acontecimento histórico e verdadeiramente ,transcendente domina. neste momento a vida de Moçambique e como que monopoliza o interesse de todosquantos aqui nasceram e aqui vivem: as conversações preliminares de Lusaca, que estão a decorrer à hora em que esta nossa edição sai para a rua, entre o Governo Provisório de Lisboa, cuja delegação é chefiada pelo Ministro Mário Soares, e a FRELIMO, que fez deslocar à capital zambiana uma representação encabeçada pelo próprio 'presidente daquele movimento, Samora Machel. Tão histórico e transcendente é esse acontecimento que ele se impõe a todos nós e nos dispensa de dramatizações ou acentos tónicos. Para o cobrir tão completamente quanto possível e dele dar total conhecimento aos nossos leitores, «Tempo» fez deslocar a Lusaca uma equipa de reportagem constituída por José Quatorze e Ricardo Range!. Nesta edição tratamos de vários assuntos e problemas que, neste momento, julgamos de interesse fundamental para Moçambique e para os nossos leitores.. Além de um extenso e esclarecedor dossier sobre o PAIGC, abordamos também em estilo dossier, que terá a indispensável continuidade, aquilo a que poderemos chamar a desmontagem da PIDE/ /DGS. O dr. Domingos Arouca, no seu «retiro» de Inhambane, foi entrevistado pela nossa repórter Maria Pinto de Sã. Depoimento n ecessário cuja oportunidade fica demonstrada pela sua leitura. *Publicamos também uma lista significativa dos «tachos» distribuidos pelo'favor político do regime fascista, em que figuram algumas empresas moçambicanas e esperamos, completar em breve essa lista com a dos favores distribuídos pelo anterior poder local. O movimento grevista e reivindicativo é também alvo de uma. reportagem. E outros assuntos são tratados nesta nova era da comunicação entre todos nós, que de todos nós exige uma crescente consciencialização. o« Dlr"' :, Eng.* Rogério do Moura, A~ Noti : Franco, Praia. Inter Notionas o Dias da Silva. Pro a : Tmpográfica. SARL. Raedar, Adminl O cinas: Av. Afonso da Albuquorque, 1017.A a 5 (Prédio Invlcta). Telefono 2619112/3. Caixa Postal 2917 - Lourenço Marques. t2/2iJc -SUMAIOi Nota da Redaco. . . .. 1 Conversações em Lusaca e novo director-2 Palavras Cruzadas .... ... 4 Greves e Reivindicações * Dossier PIDEIDOS . 10 Massacros em Moçambique , 19 alglaldade de direitos no ensino oficia23 Chissano em. Lisboa . ; 25 Dossier Guiné-Bissau -a m orte de Amilcar Cabral .. . . 29 Lista oficial dos 4tachos,. distri. buida pelo poder político. 41 Tempo Desportivo . . . .4 Entrevista com o Dr. Domingos Arouca .... ... ..50 'A Redacção.... . . Factos e Fotos ..... . -59 Venda da uTempou . .. 62 Opinião .. ........ 64 A NOSSA CAPA: Movimento grevistas e relvindIcativos tnr ourgo que por todo o lado em Moçambique nos últimos tempo. A noea capa reproduz um deses movimentos algures em Lourenço Marques O OR. RUI BALIAZLAR novo director do "Tempo" Foi escolhido e acedeu ao convite que lhe foi dirigido para assumir as funções de Director do «Tempo» o dr. Rui Baltazar, conhecida figura do foro de Lourenço,'Marques, democrata tom larga e brilhante folha de serviços prestados à causa da liberdade, que há muitos anos, apesar de sempre ter sabido viver com a discrição que marca os espíritos verdadeiramente superiores, pôde granjear um prestigio que nos dispensa de quaisquer encomios.A sua escolha reflecte, de resto, esse prestígio: convidado pela Administração e tendo declinado na altura o convite, foi o dri Rui Baltazar igualmente abordado por representantes do corpo redactorial, aos quais igualmente agradeceu ,pediu escusa. Mas esta convergência aliada 'à hora que passa terão talvez decidido o dr. Rui Baltazar a rever essas solicitçóes e a entender aceitá-las. Julgamos poder dizer que estamos todos de parabéns. Por motivos de diversa ordem, não deve o dr. Rui Baltazar pc,¿r tomar posse do seu cargo senão dentro da segunda quinzena do corrente mês. Como quer que seja e até porque a noticia já foi tornada pública pela imprensa diária, é com todo o gosto e muita honra que a trazemos hoje ao conhecimento dos nossos leitores. No momento em que um novo Director vai assumir tão importantes funções, não pode o Conselho de Administração do «Tempo» deixar de exprimir aqui publicamente os seus mais sinceros agradecimentos ao Director que, dentro em breve, deixa o referido cargo, eng. Rogério Filipe de Moura, o qual, durante cerca de quatro anos, sem qualquer interesse material e até com prejuizo da sua vida e actividade profissionais, exerceu tão espinhoso quanto delicado papel. Por todos os sacrifícios e dificuldades que lhe foram exigidos aqui fica a expressão desse agradecimento. Como já referimos, acedeu o eng. Rogério de Moura a fazer parte do Conselho de Administração da «Tempográflca», cargo que passará a ocupar quando deixar, efectivamente, a Direcção dã Revista. CAMINHO DA "PAýZ Tiveram inicio na passada quarta-feira, em Lusaca, capital da Zâmbia, as conxversações preparatórias para o estabelecimento de um cessar fogo em Moçambique. A notícia, divulgada inicialmente pela- própria FRELIMO, foi cerca de 24 horas depois confirmada oficialmente pelo Governo Provis6rio de Lisboa. A delegação da FRELIMO. chefiada pelo respectivo presidente. Samora Moisés Machel, é composta de 11 membros, que se encontram desde segunda-feira à noite em Lusaca, ênquanto que a delegação portuguesa, chefiada por Mário Soares, Ministro dos Negócios Estrangeiros do Governo de Lisboa. não inclui nesta primeira fase outros membros do Governo, mas écnicos e assessores do l% nistro. A espectacular decisão de abrir já os primeiros -contactos entre Lisboa e a FRELIMO cdusou enorme expectativa não só em Moçambique,. mas em todo o Mundo. Na realidade, não se esperava que, enquanto vão continuar em Londres as conversações com o PAIGC. sobre o íutuko da' Guiné-Bissau, fosse possível abrir simultaneamente os contactos directos com a Frente de Libertação de Moçambique. Mas a maior parte dos observadores interpretam esta rapidez e a aparente -facilidade de estabelecimento destes contactos, como um desejo manifesto de ambas as partes abrirem o mais depressa possível a via da paz. sem a qual não será propício um clima para as verdadeiras negociações sobre o futuro de Moçambique. E, por outro lado, véem no faéto um sinal de boa fé -e perfeita consciencialização de ambas as partes. Está ainda previsto, como foi acentuado pelo Ministro Mário S0oares e confirmado pelo Ministro da Coordenação Interterritorial, -que AImeida Santos deverá participar na fase seguinte das conversações, isto é, nas negociações propriamente ditam. Os observadores subli- COMECA EM LUSACA nham ainda o papel do Presidente Kenneth Kaunda neste primeiro contacto. Ao referir-se à visita de Mário Soares -e marcando a diferença abissal de' atitudes dos. países africanos que mais têm apoiado os movimentos de libertação em relação ao novo Governo de Lisboa, o presidente Kaunda disse que o Ministro português se deslocava à Zâmbia «"nas asas da democracia» e que ele «tragia consigo os ventos da mudança-. t pois, neste clima de boa vontade e de esperança que se iniciam as negociações entre o mais re-: presentativo movimento do povo moçambicano e o Governo de Lisboa sobre o futuro deste grande pais. Que elas abram na realidade o caminho da paz e desse futuro que é o de quantos aqui vivem e fiteram desta a sua Terra. EXPECTATIVA E DESCOMPRESSAO Em Moçambique, a abertura do diálogo está a ser seguida, desde as primeiras horas, com justiíficada expectativa e interesse, aobrepondo-se a todos os problemas. Pode mesmo dizer-se que tal, expectativa gerou, ao contrário do que seria de esperar, um clima de descompressão: estava diante dos olhos de todos um fCcto que, ainda há dois meses, se afiguraria no total domínio do impossível e que a propaganda do regime anterior se encarregava de enquadrar sistematicamente no campo da traição e da ignomínia. como se os supremos valores a defender fossem a institucionalização da guerra, o medo e a divisão. Ultrapassadas a cada momento pelos acontecimentos que, desde 25 de Abril marcam a nossa vida, as pessoas vão-se dando coanta, lenta mas. irreversivelmente, dos mitos e falsidades em que eram envolvidos os problemas que nos enredavam e nos condenavam a uma vida sem esperança e sem horizontes. Pois á paz' é possivel e para ela, estão a- ser dados os primeiros passos. CONTRA O MEDO - PELO FUTURO Que possibilidades haverá de se chegar a bom termo neste diálogo? A perplexidade domina ainda alguns espíritos. Muitos de nós não nlIs demos ainda conta de que uma das mais espantosas revoluções se deu à nossa volta. Muitos de n6s têm ainda medo - desde o medo das próprias palavras ao medo total, medo das mudanças, medo do futuro. Há muito que fazer na nossa frente e acabar com o medo, com todos os medos, é uma das tarefas prioritárias em que cada um tem a sua contribuição a dar. O Governo de Lisboa tornou bem -claro que reconhecia aos povos dos territórios africanos até aqui sob a administração portuguesa o direito de eles escolherem livremente os seus destinos. Por outras palavras aquilo que a FRELIMO exigiu como condição prévia para quaisquer negociaç*ões, asquais versariam não sobre esse princípio, que não se discute, mas, como acentuou Samora Machel, «sobre os mecanismos que levarão à independência». Há aqui uma indiscutível convergência. E parece-nos que não temos que temer as palavras. Nem as palavras nem o futuro. A independência é, para nós, irreversível. Vamos escolh8-la todos. Não no caos, com o qual ninguém terá nada a ganhar, mas na 'dignidade, no respeito mútuo, até - e porque não? - na tolerância, mas principalmente na paz. Aquilo que separa, alguns de nós é muito mais frágil do que aquilo que nos pode unir: a vontade e a determinação de construirmos, pelas nossas próprias mãos, um pais novo onde caibam todos os homens de boa vontade e boa fé. digno dos que ficaram pelo caminho e dos nossos filhos., Na aurora da grande esperança que nasce no horizonte, uma nova era se abre diante de todos nós. Saibamos merecê-la. Com coragem, com fé, com grandeza de alma. * RUI CARTAXANA ALMEIDA SANTOS ANUNCIA VISITA DO PRESIDENTE SPINOLA E REFORMAS DA ORGANICA DO GOVERNO O Ministro as Coordenação Interterritorial anunciou na passada terça-feira, em Lisboa, numa comunicação diri. gida ao Ultramar, reformas de base da orgânica dos governos dos estados de Angola e Moçambique e confirmou a próxima visita a estes esta- os do Presidente da República, general António de Spinola. O Ministro, que anaiísou ainda os resultados das suas. viagens e consultas a Angola e Moçambique, as conversações em curso com o PAIGC e- os primeiros *coDtactos com a FRELIMO, em Lusaca, dirigiu inequívocas Palavras de fé e de esperança a todos quantos vivem e trabalham nos territórios africanos. Afirmando, sobre as reformas orgânicas legisladas, que o Governo Provisório não se' afoitara, para já, a ir mais longe, Almeida Santos esclareceu: «Não obstante, foram criados os seguintes novos secretariados: - cinco lugares de Secretários Adjuntos do Governador - Geral (designação que. subsiste apenas transitoriamente), com a função de coadjuvarem o governador no exercício da função executiva; ,- uma Secretaria da Administração Territorial destinada a consumir no futuro a função do actual Secretário-Geral, lugar que entre. tanto não será provido; uma Secretaria da Justiça, que constituirá a cúpula da orgânica judiciária de cada Estado, em breve ampliada com a transladação para o Ultramar de pelo menos aígumas das instâncias judicatiras sediadas na Metrópole; - uma Secretaria da Coor. denação Económica, integrada por cinco Subsecretários: de Planeamento e Finanças, de Comércio, de Indústria e Energia, de Agricultura, de Pecuária e Pescas; - Secretaria da Comunicação Social e do Turismo; - Secretaria da Educação éCultura passara a ser assistida, no exercicio das suas funções executivas, por um Subsecretário da Educação. Física e Desportos, na sequência do propósito de independentizar as estruturas desportivas do Ultramar das suas actuais cúpulas metropolitanas. Não é, pois, ainda, una reforma de base. Mas é ój, sem dúvida uma reforma tendencial». PAGINA 4 Olá nigos!* Cá estou de novo para anunciar os meninos que obtiveram zero. golos no Matobola da semana n.° 6. DE LOURENÇO MARQUES Victor Manuel Ferreira. José Jacobetty (2 boletins) João Carlos Campos Filipe de Carvalho (2 boletins) Pedro Silva (2 boletins) DA BEIRA Rui Daniel Louro Adrde DA MANHIÇA António Carlos Depois de feito o sorteio foi vencedor do Matobola da semana n. 6 o menino José Jacobetty, morador na av. Ant6nio Enes, 931.11-22, em Lourenço Marques. este menino .deverá passar pelos escritórlos da Agência «Produções 1001» (ou telefonar para o n.o 29277) para escolher o prémio a que tem direit. um par de, patins ou ma bola de futebol. E malta! Continuem a jogar porque o Matoboa do Matolinha foi feito para durar. COMPANHIA INDUSTRIAL DA MATOLA, S. A. R. L. 1 2 3 .4 5 6 7 8 9 10 12 13 I- 2 3 4 5 6 7 6 O 10 11 12 13 ---PALAVRAS CRUZADAS HORIZONTAIS: 1 - sýome da 6., 7., e 26.1 letras do alfabeto árabe, imagem ou estátua de mulher, com pés de pata, que se encontra. em alguns monu.mentos da Idade Média; nome de letra. 2 - Fêmea da formiga saúva (Bras.); instrumento cirúrgico para examinar as fracturas do crâneo; vurmo. 3Fluido aeroforme; vedeta, caudilho (ant.); textualmene. 4 -- Soluco com que ficam as érianças depois de chorar (prov.); abrev. latina que se usa para significar recebido; aparo de escrever. 5 - Nota de música; cubata; pref. de. direcção, fim, movimento, 6 - Categoria de judoca; indignação, raiva. 7 - A mão do mángual (transm.); espécie de lanceta para sangrar bestas. 8 - Oásis; pedra, rochedo (bras.). 9 - Antes de Cristo; planta 'aquática, tipo. das ninfeáceas; nota de música. 10 - Palmatoada; espécie de sapo do Amazonas; obra, composição de um autorý a que multas vezes se dá um n. Qrdem (Mús.). 11Género de árvores blgoneáceas do Brasil e da Afri. ca; antiga flauta pastoril; nome de letra. 12 - Concre. çóes nos dedos dos gotosos; que desce até ao tornozelo; 5.° satélite de Saturno. 13 - Artigo; choco ou lula; cidade da caldeia, pátria de Abraão. VERTICAIS: 1 - De perfeita saúde; antigo dialecto italiano. 2 - Mordaça; guarda da mão, na espada. 3 «Acção Socialista Portuguesa», fundada em 1964, pelo Dr. Mário Soares, com Tito de Morais e Ramos da Costa (sigla); espaço de tempo; abrev, de Leste. 4 - Que tem a cor ou os reflexos da opala. 5 - Pronome pessoal; nome próprio masculino, de origem grega, . que, significa varonil; fruta.do.conde. 6 - Pequena quantidade dum liquido; relativo, à navegação e a navios. 7 Agacha. mento; faixa estreita e horizontal no escudo (heráld.). 8 - Designativo de um ácido resultante da ureia com o oxigénio; mercadejam, ,traficam; 9 - Óxido de cálcio; género de plantas malvãceas, de flores medicinais; lavra. 10 - Inferno (fig.). 11 - Letra grega; governanta; prep. antiga. 12 - Rato anfíbio malhado de preto e branco (bras.); cordão que se passa por dentro duma bainha, .permitindo que esta fique franzida ou desfranzida. 13 Martelo dentado com que os canteiros alisam a pedra já desbastada ao picão; fundamentado, posto sob base. SOLUÇÃO DO PROBLEMA ANTERIOR HORIZONTAIS: 1 .. Cachamorras. 2 - Anais, - Rural, buril. 4 - Pai, are, ala. 5 - Ileo; ar Moital 7 - Eaco, amen. 8 - Içá, caa, add. 9 later. 10 - Adiar, clama, 11 - Salgadeiras. VERTICAIS: 1 - Carpideiras, 2 - Anual, a5C Cárie, canil. 4 - Hia, omo, Dag. 5 - Asla, c Ruiva. 7 - Orbe, alce. 8 - Réu, aaa, ali. 9 matar. 10 - Atila. edema. 11 - Salamandras, !ata. 3 tenda, 3 o6 Rarar, Ao lado: empregados da COOP, reunram em assembleia-geral para discutir e aprovar o Cademo de Reivindicações a apresentar à entidade patronal. Na imagem, dois dos presentes (sentados no lado esquerdo) tapam o rosto com as mãos o que -poderd fazer supor que receiam qualquer espécie de represdlia. Será? No espaço moçambicano, os movimentos reivindicativos sucedem-se. Aumento de vencimentos e melhoria das conídições de trabalha é o objectivo imediato dos trabalhadores, a grande maioria paga com salários de fome. Em muitos casos os movimentos até agora 'desencadeados têm trazido à evidência a fragilidade das estruturas de uma política colonialista que, desde há muitos anos, se sabia estar condenada ao desmoronamento. Hoje, aqui e agora, começam a abrir-se novos horizontes, na justa medida em que o trabalhador está a adquirir uma noção exacta da importância do seu trabalho e reivindica justamente uma quota maior da riqueza que produz. É na greve, princípio fundamental que sempre lhe foi negado,'que hoje se apoia para fazer valer os seus direitos. Mas, acontece, no entanto, que a greve é uma arma perigosa, capaz de produzir resultados desastrosos, quando não utilizada com a devida prudência. E dela se têm valido certos elementos da reacção, com o único propósito de lançar a confusão entre os trabalhadores unidos e empenhados na melhoria das suas condições de vida. A última semana proporcionou aos trabalhadores mais algumas vitórias. Contudo, tem de se atentar no procedimento que começa a ser tomado por várias entidades patronais, ao díspensarem parte do pessoal ao seu serviço, especial e concretamente no que se refere à indústria hoteleira. Nas linhas que se seguem tentamos dar ao leitor uma breve panorâmica do que foi o movimento grevista e reivindicativo na última semana, nela se incluindo alguns apontamentos sobre o que se está a passar no campo sindical, sem dúvida de grande importância no futuro dos trabalhadores de Moçambique. Outro ponto deveras importante e que não pode ficar esquecido, é o do custo de artigos e géneros considerados de primeira necessidade. A não ser sustido de imediato o seu preço, é fácil adivinhar que poucos seráo os benefícios colhidos pelos trabalhadores que começam a ver os seus salários aumentados em algumas centenas de escudos. Dai a necessidade de con-. gelamento temporário de preços, intensificação da luta contra a esl5eculação e uma maior abertura na importação de artigos, de comprovada necessidade, tendo em vista pôr cobro a perigosas manobras de açambarcamento 6500 ESCUDOS SALÁRIO MINIMO PEDIDO NOS C.T.T. Vencimento mínimo de 6500 escudos, com efeitos retroactivos a partir de 1 Maio, e congelamento imediato dos vencimentos superiores a 15000 escudos, foram, as reivindicações prioritárias apresentadas pelos trabalhadores da Estação Central dos C.T.T. da dapital, que entraram em areve e ocuparam as instalacões até serem satisfeitas as suas pretensões. Segundo o «Nottcma ria Beira», os trabalhadores informaram o carácter renresentativo da sua luta e. responsabilizaram a corn,1.Rc, oró-sindical de ter emanado um comunicado em au. afirmava aue o movimenta are vista teria sido desencadeado por elementos alheios àquela comissão que tentou impedir a efectividade da greve. Um trabalhador informou que a comissão pró-sindical não defende os interesses dos trabalhadores mas trabalha de *acordo com a administração, reforçando a sua opinião no facto de nunca em sindicato algum elementos da administração fizeram parte de uma comissão pró-sindical. ALTERAÇAO DE LETRAS NA IMPRENSA NACIONAL A fim de discutirem quatro pontos do documento elo borado numa primeira reunião e já divulgado, cerca de 60 funcionários da Impensa Nacional reuniu no passado dia 30. Os referidos pontos respeitam a alterações de letras e a actualização de cqtegorias de pessoal técnico, auxiliar e administrativo, com o consequente alorqariento do quadro, tendo sido aprovados por unaniTambém no Hotel Tivoli o pessoal esteve em greve, conseguindo melhoria salariais. GREVES E REIVINDICAÇES TRABALHADORES LUTAM POR, MELHORES SALARIOS midade, depois de discufidos. Foi ainda estabelecido fazer um manifesto sobre as reivindicações, para ser apreseritado mais tarde a uma entidade superior. SANEAMENTO" NO AERO CLUBE DA BEIRA Locutores e técnicos do Aero Clube da Beira, após terem controlado a emissao durante o dia 28, entraram em greve às 7 horas do dia seguinte, com a finalidade de.levarem a direcção daquela emissora a aceitar as suas .reinvindicações. As, co64ersaçóes entre locutores e técnicos e um representante do Aero Clube da Beira duraram cerca de cinco horas, tendo os resultados obtidos sido franca mente favoráveis aos pra. fissionais da informação que, posteriormente, distribuiram a seguinte informaÇãO «Al4ós terem suspendido os trabalhos da Emissora do Aero, Clube da Beira durante cerca ýde 10 horas, os signatários estiveram reunidos com elementos directivos do Aero Clube da Beira tendo, nas conversações que terminaram às 13;30 horas, ficado deliberado o seguinte: a) Reabertura da estação émissora às 17 horas de 29-5-74; b) Suspensão imediata dos elementos de chefia para quem os signatários pediam, a demissão ou destituição -de funções; c) Essa suspensão verificar-se-á até estar concluído um inquérito aos mesmos elementos levado a efeito por uma comissao a nomear pela Direcção do Aero Clube da Beira; d) Enquanto decorrer o inquérito e, portanto, a consequente suspensão dos elementos de chefia em questão, o bom andamento dos serviços de radiodifusão propriamente ditos, será assegurado e da inteira responsabilidade dos signatários; e) As reivindicações apresentadas pelos signa' ýrios foram dirigidas exclusivamente contra elementos de chefia da Emissora do Aero Clube da Beira, *e nunca contra qualquer elemento da Direcção do Aero Clube da Beira». Os elementos afastados foram Filipe de Sousa, Agnelo Pereira, Raul Guterres e José Moura. TRABALHADORES DA TZR PEDEM MELHORIA DF VENCIMENTOS Trabalhadores da TZR, em Inhaminga, entraram em greve no dia 1, reivindicando melhorias de vencimento&ý Esta atitude foi moti,vada pelo facto de em 1 de Outubro de 1973 o pessoal superior da companhia ter recebido um aumento considerável - segundo um comunicado de uma comissão de lferroviários - o m1smo não acontecendo com o pessoal malor e menor embora estivessem já, então, a ser envidados todos os esforços nesse sentido pelo pessoal, junto da empresa. Em Janeiro deste ano e com ýfeitos retroactivos desde 1 de Outubro de 1973, a TZR deu um subsidio de custo de vida de 10 por cento, informando que os salários iarn ser revistas e que esse subsidio seria incluido no vencimento base, Passados oito meses sobre a data daquela promessa e, segundo o mesmo comunicado, esgotados que foram todos os esforços, o pessoal não viu outra alternativa a não* ser entrar em greve a partir das zero horas do dia 1 de Junho. TREM NAVAL: GREVE COMO OLTIMO RECURSO Quarenta e oito horas, contadas a partir do passado dia 29, foi o prazo concedido pelo pessoal do Trem Naval da Capitania do Porto de "Lourenço Marques ao capitão do Porto, para satisfazer as suas reivindicações. Esta decisão foi tomada durante uma reunião realizada na rua, dado ter Isido impedida a entrada dos ýnossos acamaradas de trabplho do -Noticias» no refeitório onde a reunião devia ter tido lugar. No decorrer da citada reunião foram eleitos os elementos com vista à formação do Sindicato, que são os seguintes: Manuel de Brito, (classe de contramestres), António Manuel Branco Sena (maquinistas), Francisco Conceição Cruz (fogueiros assalariados), Filipe Maniate :(marinheiros auxiliares),- Daniel Manhiça (fogueiros auxiliares), Júlio Fernandes Arrota (pessoal de cais) e António da Silva Leite (delegado dos mestres de rebocadores). Decidiram ainda os trabalhadores escrever ao capitão do Porto solicitando, dentro do prazo de '48 horas, resposta escrita às pretenções oportunamente apresentadas pelos trabalhadores. Caso as reivindicações apresentadas não forem atendidas, os trabalhadores dirigir-se-ão ao Governo Provisório, por intermédio do Ministério da Marinha, pois decidiram que a greve só seria utilizada como último recurso dada a obrigação que entendem ter de colborar com o Governo que restituiu a liberdade ao Pais. No cais da Beir«. DIFERENÇAS SALARAIS POD9M CONDUZIR A GREVE As diferenç s salariai s existentes nr o vário pesOs Caminhos de Ferro de Moçambique foi um dos sectores mais duramente atingidos pela onda de preves desencadeadas após o 25 de Abril. Os salários de fome pagos por aqueles serviços terãó forçosamente de desaparecer, uma vez desaparecida a tenebrosa PIDE/ /DGS que fazia sentir a sua implacável acção junto dos trabalhadores. A hora é de repensar toda a estrutura, acabando-se de vez com promessas nunca cumpridas. soai da secção de cais dos Caminhos de Ferro de Moçambique, na Beira, levaram o pessoal ligado ao sector de electricidade a expor a sua situação de inferioridado, em relação a outro pessoal, antes de 25 de Abril. A referida situação foi exposta ao eng. Caldeira Pinto por um grupo de quatro trabalhadores ligados ao sector da electricidade, em extenso memorando. Apontam os electricistas os motivos porque se consideram preteridos e as reivindicações a que se açham com direito, sendo de notar que as desigualdades surgiram quando há. alguns meses atrás o restante pessoal foi beneficiado e os electricistas ficaram, para «trás». Ao exporem a sua situação, pretendem os electricistas do cais da Beira que, a sua situação seja, revista, de acordo com o pedido feito em devido" tempo,- sem terem necessidade -de tomarem atitudes, no seu dizer, pouco dignificantes. Na Mwar« 4000 TRABALHDOIS EM GREVE Reivindicando aumento de venciméntos, cerca de quatro mil trabalhadores da Maragra estiveram em gre've de segunda a sexta-feira da última semana, dia em que acederam em 'voltar ao trabalho após terem visto satisfeitos os seus pedidos. As melhorias salariais ciiram-se num, aumento geral de 50 por cento dos 7encimentos e cerca de 20 por cento de aumento no subsidiq recebido pelos cortadores de cana, em cada dia detrabalho. Esta decisão foi cdmunicada aos trabalhadores na manhã da última sexta-feira, por um representante da entidade, patronal, tendo aqueles acedido em voltar -ao trabalho no dia imediato após cinco dias de paralisação total. , A referida grevw abrangeu apenas o pessoal não sindicalizado e decorreu sem incidentes, no que se refere aos grevistas. Contudo, um elemento qualificado da empresa viria a ser acusado de ter instigado os trabalhadores a pararem o trabalho, e ameaçado com uma imagem eluwidativa do estado em que há pouco tempo se encontrava o refeitório dos trabalhadores da Maragra, que durante a última semana estiveram em greve. arma pelos seus colegas. Ao que conseguimos apu rar, o elemento em questão chegou à Maragra no momento em que prin~7iuva a greve, após ter' passado o fim-de-semana na capital. Depois de ter estado algum tempo na messe viria a deslocar-se à Manhiça, a pedido de um. seu colegg e levando a esposa deste, onde almoçou. Cerca das 15.30 horas, quando o pessoal em greve se dirigia aos seus lares, abeirou-se de um dos citados elementos perguntando-lhe se era do sctor E. tendo obtido resposta afirmativa. «No dia seguinte - contou-nos o regente-agrícola visado - cerca das 14 horas entraram quatro elementos no meu gabinete de Plantações de cana de açgcar pertencentes Maragra, onde cerca de quatro mil trabalhado recrutados em diversos pontos de Moanbiç ganham o seu pão. CONGELAMENTO DE PIECM: - medida a tomar trabalho e intimaram-me a comparecer na presença de um grupo (cerca de 50 pessas) concentrado em frente à direcção-geral, onde me acusaram de ter instigado à greve, de ser o actiíísta do que se estava a passar, e de na Manhiça ter estado à frente dos trabalhadores, instigando o pessoal do sector E, com os braços no ar». Ainda de acordo com o que nos foi contado, o regente-agrícola em questão ao pretender ir chamar pessoas com quem havia estado no dia anterir, a fim de poder provar a sua inocência, foi intimado a sair do carro por um seu colega que empunhava uma pistola. No local viria a aparecer o Director-geral da Maragra que acalmou os ânimos e convidou o citado empregado a afastar-se uns dias para Lourenço Marques, até a situação ser resolvida. BANCAMOS: EVITADA A GREVE Os funcionários bancários de Moçambique viram satisfeitas as suas reivindicações salariais, prometidas desde há bastante tempo, quando o respectivo Sindicato já havia instruído os trabalhadores para a" partir da passada segundafeira começarem a retardar progressivamente a entrada ao serviço em uma hora por dia. Aquela decisão havia sido tomada em reunião dos trabalhadores, e o acordo das entidades patronais só" foi conseguido às primeiras horas de sexta-feira. Falta agora homologação superior para que as melhorias de vencimentos concedidas, que são consideradas "para fazer face ao aumento do custo de vida, entrem em vigor. EMPREGADOS DA COOP EM ASSEMBLEIA Empregados da COOP reuniram rb passado sábado em assembleia-geral para discutirem as reivindicações a apresentar à entidade patronal. Antes da assembleia foi distribuído um «Caderno Reivindicativo, - elaborado pela Comsisão de Trabalho, que foi- discutido ponto por ponto. O ponto três da convocat6ria referia-se &s medidas a tomar, para apoio das reivindicações determinadas pela Assembleia. As deliberações tomadas, foram, entretanto, apresentadas à entidade _patronal. DESPEDIMENTOS NA INDOSTRIA HOTELEIRA Os movimentos reivindicativos que praticamente se fizeram sentir em toda a Província dir-se-ia terem obtido pleno êxito, se não fora cei'tas tentativas de boicote entretanto postas em prática ou que funcionaram apenas como ameaça por parte das entidades patronais. Referimo-nos, evidentemente, aos despedimentos em massa, processo que começou já a ser utilizado na indústria hoteleira e que poderá vir a constituir perigoso prece.dente. De facto, se a greve deve ser utilizada apenas como último recurso o despedimento colectivo, total ou parcial, não pode !ser aceite de animo leve e deverá motivar a abertura de rigoroso inqué-ý rito, com vista a apurar-se a justiça da medida. Os primeiros despedimentos tiveram lugar no hotel Pol'ana, onde 55 dos 325 empregados foram mandados embora, .enquanto foi noticiado o encerramento do terceiro piso do hoel. Esta decisão foi tomada após os empregados terem reivindicado melhorias de vencimentos que, em principio, lhes haviam sido concedidas. Porém, a parte caricata da questão está em a decisão haver sido tomada na Africa do Sul, onde se encontram os «patrões» do hotel, e -para onde, naturalmente, serão canalizados os lucros do mesmo. Esta uma situação que precisa ser revista e devidamente esclarecida. Também no Hotel Girassol cerca de 50 empregados estão em risco de serem despedidos, após terem cotseguido uma melhoria de vencimentos na ordem dos cem por, ento, Câsb esta' hipótese se venha a confirmar, e devido a alegado e incomportável aumento de despesas, o referido hotel deverá passar a funcionar apenas .como «residenci6l'. Ao que parece, estas medidas estão, em parte, a ser fundamentadas na crise que a indústria hoteleira atravessa presentemente, crise essa que assenta em vários factores é que, também é facto, desde há muito era prevista atendendo à não existência de uma verdadeira "política de turismo. MOVIMENTOS SINDICALISTAS Paralelamente aos movimentos 'reivindicativos, os trabalhadores tomam consciência da importância de se organizarem em sindicatos livres, por forma a que o seu trabalho possa ser prestigiado e conseguidas melhorias salariais e sociais. Neste momento, assume especial importância a actividade desenvolvida pelos funcionários do Estado, com vista. á criação do seu sindicato livre. Várias foram as reuniões já efectuadas e os pontos aprovados, nomeadamente no que se réfere à criação das secções «Dós Delegados», «Atribuições das Comissões dos Delegados» e «Pré-ýindical». Também no sector das Obras Públicas se têm realizado várias reuniões, tendo em vista renovar e restituir o prestigio daqueles Serviços onde, segundo foi afirmado numa reunião, reina o «clima fascista». Algumas das reuniões decorreram em clima de agitação. .A par do aprovação de alguns pontos respeitantes a reivindicações do pessoaI com menores vencimentos, foram postos à discussão vários- outros pontos, nomeadamente no que se refere a inquérito a possIveis responsáveis com a consequente exonèração dos mesmos, constituição de comissões directivas e de vigilância e admissão urgente de técnicos jovens. Por outro lado, o pessoal do Montepio de Moçambique, reunido em Assembleia-Geral, deliberou por aclamação aderir ao Sindicato dos Bancários, encontrardo-se presentemente a respectiva comissão pr6-Sindicato a accionar os necessários -meios para uma rápida sindicalização de todos os trabalhadores. *, e PAGINA 9 ESPECIAL PARA DONAS DE CASA * ants ira um detergente As 3 condições mais imnportantes Par mEtegft de icôs elrs ropa ser considerado excepcional. Sde mâãquinas de lavar 1 rouP ACCAO BIOLOGICA P OXIGENIO ACTIO ip ESPUMA CONTiROLADA 0 quee a acao biolgica É a resultante da accão das. enzimas contra as nõdoas de suor. manchas de ovo, sangue, urina e outras. As enzimas devoram a sujidade! E o oxígenio activo O oxigénio activo; branqueia, desinfecta, destrõl as causas do contágio e elimina os maus cheiros. A oxidação suave, natural, proteje as fibras têxteis e desencade todos os tipos de tecidos. E a espuma controlada Todos os detergentes tém espuma. Alguns maisoutros menos No detergente para máquinas de lavar, a espuma tem que ser produzida por medida e controlada, pois em demasia prejudica as máquinas. A espuma controlada serve de lubrificante para o escorregamento das peças de roupaumas sobre as outras, evitando o desgaste prematuro das mesmas. PAGINA 10 Ao inicíarmos a publicação de um dossior sobre a famigerada PIDE/DGS, não podemos deixar de registar aqui uma explicação necessária. Entendemos que 6 urgente desmontar não s6 esse nefando aparelho de repressão fascista, mas principalment, a ideia, comum entre algumas camadas da população, de que tal organizaçío teve nos territ6rios africanos um papel diferente do que sempre desempenhou em Portugal - e não faltava mesmo quem lhe átribuisse alguns méritos. Esta inagem tem de ser confrontada com a realidade, que 6 de facto bastante diferente: a PIDE/DGS era uma máquina de repressão inu-' mana e hedionda, impla'cvel, que não escolhia as suas vítimas pela cor da pele e que contava entre os seus algozes irmãos de raça de todas as suas vítimas. Na realidade, se o maior contingente das suas vítimas era constituído por moçambicanos negros, negros se contavam igualmente entre os seus piores carrascos, se m u i t o s moçambicanos brancos foramn torturados e vítimas de repugnantes sevícias e perseguições, brancos foram os seus mais tenazes torturadores. Não pretendemos também com estes traba- lhos que se desencadeie uma «caça às bruxas». Mas entendemos que as autanticos responsáveis pela nefasta actividade da organização sejam real e efectivamente chamados 4 responsabilidade, sujeitos a um julqamento imparcial e, sempr, que for o caso, justamente punidos. . . PÁGINA 11 3 A FERROS GA OU NO ESTRANGEIRO A /maior parte dos agentes da extinta Pl11*DG8 ainda sencontram à solta. Embora as su act v k já estejam sob o controlo das Forças Armadas, apenas 3 elementos se encontram detidos, dos quais 30 em prisão domiciliária e os três restantes a ferros. Para um total que não atinge as oito centenas de agente. o número de polícias políticos detidos 6 realmente irrisório, não nos tendo sido possível por outro lado, obter os seus nomes e o quantitativo exacto dos pide. em efectividade de serviço em Moçambique. ,Para além do extraordinariamente grande mas 'indeterminado número de informadores, cujo* nomes-e* desconhecem, toda esta situação já permitiu a fuga dos. principais obreiros das torturas, prisões e campos de concentração tipo nazi, arquitectados para impor e servir um dos mais sinistros sistemas coloniais fascistas em Africa. Milhares de vítimas que verteram o seu sangue pelo povo clamam contra a livre circulação desses agentes da tortura e da morte - contra todos sem excepãopara bem do futúro desta terra. Texto: CALANE DA SILVA Fotos: RICARDO RAIG. PAGINA 12 Inspector Santos Correia, dirigente da famigerada PIDEI /DGS em Moçambique, pôs-se pm fuga tendo. sido visto na África do Sul. Consta ter partido para o Brasil. A partir do dia 26 de Abril e logo que a nova máquina militar se pôs em funcionamento para o cumprimento integral do Programa das Forças Armadas, foram dadas aos agentes da PIDE/DGS em Portugal ordens para se apresenta-rem nos quartéis mais Próximos, enquanto por outro lado as fronteiras eram guarnecidds por tropas para deter a impedir a fuga dos pides e tmbém a de muitos outros indiv duos a soldo ou coniventes dos crimes do regime fascista. Mesmo assim sabe-se que durante aquele período centenas de agentes conseguirtm fugir, pelo que se estipulou um prazo rigido para a sua entrega, ameaçando-os com a publicação das suas fotografias nos jornais. A popul_ção colaborou activanente na captura dos pides em fuga forçando muitos' deles à entrega imediata. Em Moçambique o problema tomou logo desde o inicio um outro cariz., A D.G.S. no território moçambicano e por especial incumbência do regime colonial fascista, estava estritamente ligada às operações militares em curso, o que retardou o processo de desmantelamento daquela sinistra organização, detentora dos arquivos de valor e segredos especificamente militares. Digaýse em abono da verdade que essa transferência de funções para os militares foi, ou tem sido, demasiado lenta se atendermos ao facto de que durante tal período esses mesmos agentes e seus informadores à solta nas cidades e nos campos, foram os principais orquestradores de situações de confronto social propício ao recrudescimento da violência entre negros e brancos, havendo a apontar como exemplo aigumas muiiesi-i tações pró-D. G. S. na cidáde da Beira e os massacres do Inchope. SITUAÇAO ACTUAL DOS AGENTES DA PIDE/DGS Muito embora a referida transferência de funções, principalmente nas áreas .operacionais tenha de levar, certo tempo, uma vez que as Forças Armadas estão a organizar o P.I.M. (Policia de lnformação Militar) julga-se que por essa mesma razao haveria mais possibilidade de não deixar DI escapar os licia politicc No entani imprensa di bique tem vários agei res têm destacado aéreo do i da cidade de ter orde naquela ár «Tempo» bém terei fuga o i Correia, o trão, o insp pes, figura das, nomea< renço Marq PAÃGINA 13 SMONTA-SE LENTAMENTE DAS FORCAS ARMADAS Inspector António Vaz, ex-director-ger'al da PIDE/DGS. Foi visto ultimamente em Joanesburgo. Passaira há tempos à ýreforma e trabalhava num emprega do Grupo Champalimaud, da qual se demitiu. agentes da po1,. o, e conforme a ária de Moçamrindo a anunciar ntes e inspectofugido,. tendo-se a fuga em táxi nspector Sabino, de Tete, acusado enado massacres sa. constatou tomn-se posto em nspector Santos inspector Lonector Gomes Los bem conheci:amente -em Louues. O número de inspectores em Moçambique não ultrapassava as duas dezenas, não nos ,tendo sido--informa4 do quantQs destes se encontram detidos. Conforme pudemos constatar, as detenções dos elementos da PIDE/DGS são efectuadas «conforme a gravidade da suspeita, que há sobre crimes cometidos». De Porto Amélia e, por aquele motivo, já foram detidos e enviados para Lourenço Marques sete pides, cujos nomes também não nos foram revelados. A população de Moçambique, ínsciente de que enquanto estiverem agentes da D.G.S. na rua a sua liberdade -se - encontra- ameaçada, interroga-se sobre a situação e das responsabilidades das fugas já empreendidas ou a empreender por alguns daqueles criminosos. Por outro lado, no mistério das avenidas das cidades e vilas de Moçambique milhares de informardores, cuja responsabilidade em alguns crimes é manifesta, continuam na sombra protectora do anonimato, que só ..os próprios agentes poderiam denunciar.. O LEIO AINDA NAO ESTA MORTOI Este & o primeiro capítulo do nosso «dossier» sobre a famigerada , PIDE/DGS em Moçambique. E s p e r a m o s. completá-lo com mais dois outros trabalhos, que darão uma ideia da tenebrosa actuação daquela policia política nesta terra, para que não subsistam dúvidas sobre o aspecto criminoso de toda aquela sinistra organização policial fascista. A maior parte das torturas e crimes de morte são ópia fiel do que a Gestapo e os SS hitleriana fartam rAGINA 14 Inspector Gomes Lopes, visto por testemunhas oculares na Suazilândin e actualmente ao que ~rece na Alemanha,. nos campos de concentração nazis na Alemanha e nos paises ocupados durante a H Grande GuerrL A completar este primeiro capitulo do referido dossier 'inserimos uma cartadenúncia do ex-preso politico E. Ionwana, que nos alerta com nomes e factos referentes & PIDE, e cujo titulo «O leão ainda não está a minha vida durante os morto l» é por demais signi- três anos e um mês nas ficativo. Eis o teor da carta: masmorras da tenebrosa Hoje, segunda-feira, vi-me PIDE/DGS. Posso afirmar obrigado a traçar umas li- com a minha voz erguida nhetas para o jornal que bem ao alto que durante V. Ex.' dirige. Apoiado pe- o tempo acima citado vivi los meus companheiros de maus e bons momentos. Infância que me sugeriram Bons na medida em que comandar umas «lascas» no nheci bons camaradas e, jornal, relatando o que foi maus momentos em que conheci os chamados «olheitos» e «ouvidos» do chefe, que à mínima palavra considerada antipatri6tica, corriam e denunciavm-nlos ao seu chefe. Meus Senhores e Minhas Senhoras, a vida na _Machava nao era um paraíso, mas sim um inferno na terra. lá o ffeu camarada de reclusão o Manuel 33 DOS SOB o ITES DETIDOS ACHAM-SE ... E[ DE PRISÃO DOMICILIARIA ' Inspector Sabino, que fUgiu de Tete num táxi aéreo, desconhecendo-se o paradeiro. Estará na Rodésia? Este elemento é acusado de crimes hediondos contra o povo moç~mbicano. dos Santos Pereira Van-Dúmem homem a quem rendo as minhas homenagens frisou este ponto. Partindo do princípio que eu que traço estas linhas, fui preso tinha 17 anos de idade, mas podem ter a certeza absoluta que não escapei à tortura da palmatória, do *chicote, de ajoelhar no pau com as mãos estendidas, devo frisar que não escapei às bofetadas do senhor agente de 1.' classe Aires Moreira, jamais esquecerei os socos que me foram dirigidos pelo guarda de raça negra o senhor Francisco Langa, com o posto de guarda de 1.' classe dos quadros da PIDE/DGS. Nunca.- mas nunca, esquecerei sehýýespancamentos que nos etr dirigidos pelos' senhores agentes Barata, Simões, Tapadinha, Moreira e pelos guardas Cardoso, Alves, conhecido pela alcunha de Marracuene, Carneiro, Flora, Dinis e Mendes. Não esquecerei aquela figura chamada Ilidio dos Santos, um Aires Moreira, um Semblano, este último que matou o Zacarias a sangue frio. A «dieta» não é de perdoar, os 18 dias sem comer nem beber, não são dossier de se arquivar, as algemas que me foram postas pelo guarda Alves quando eu ia para o Hospital, doentinho de míorrer, não esquecerei!! O Subinspector Gonçalves, secretário -do ex-inspector adjunto da PIDE/DGS Manuel dos Santos Corieia, não esquecerei as suas «obras». A comida racionada e mal feita, que até os cães da minha casa não comem, não é problema, de se meter numa gaveta. A temível cela disciplinar onde o individuo que lá entrava não sabia donde nascia o sol nem as horas do dia o -X» na porta da cela, sinal de «dieta» por uns 15 dias são coisas para se meditar. Até me custa acreditar que vivemos dentro de uma era de Democracia. O negro moçambicano foi e continua a ser o mais explorado da África. Não tenhamos dúvidas meus senhores, mas é clara, foi obra dos salazaristas que ainda continuam à solta. Meus senhores, onde está a democracia? Pergunto eu! Olhem, ainda ontem encontrei-me com o agente Lemos, um dos yerdugos da tenebrosa PIDE/DGS, e, não me esqueço que foi ele que esteve na origem da morte do Pastor Protestante Zedequias Manganhela. É um ultraje e um atentado às nos sas consciências. Vejo-me na contingência de declaPÁGINA 16 0$R OTRDS-ATE QUANDO? Em ima: Inspector Lontrãao, figura si2istra e muito conhecira tanto em Angela como em, Moçsambique. Também se pôs em fuga , Em baio: Gilberto Campos, outro elemento da PIDE/DGS. Não se sabe se se encontra detido ou no estrangeiro. rar que a Junta de Salvação Nacional ainda não contentou o povo do caniço, que foi o mais visado pela repressão fascista e, também alguns europeus liberais, inclusive os Democratas de Moçambique, visto os 'PIDES ainda continuarem à solta. A prisão de todos os agentes, colaboradores e demais pessoas ligadas a este tenebrosa organização, é urgente e impõe-se, para que não seja traído o povo de Moçambique. Porque não houve nenhum elemento activo da DGS que não tenha praticado crimes con-" tra a Humanidade, até o simples servente daquela tenebrosa corpõração era um algoz. Lembram-se do Joaquim Piçarra Sabino, e dos actos praticados por ele e pelos seus homens? Lembrem-se de que andam por aí muitos Sabinos, muitos Santos Correias e é necessário que essa gentalha vá visitar a Machava, o Tarra fal ou Caxias mas como hóspedes Petmanentes. Afianço-vos. meus senhores de .que nunca haverá unidade racial, nem o velho chavão do multirracialismo enquanto os PIDES continuarem ¿( solta, Podem ter acerteza absoluta de que essa gentinha representa um perigo para uma sociedade. democrática. O que eu e nós queremos não é a morte dos PIDES por fusilamento nem julgamentoq em tribunais plenários ou administrativos, mas sim, um julgameno em,. que os jurados sèjam: todosi quantos passaram pelas mãos tenebrosas da PIDE/DGS. E, mesmo assim eles têm medo, fogem como cães medrosos, come foi o caso do Inspector Sabino, de Tete, tão pesada é a sua consciência que até têm medo do povo que disseram sempre defender. Mais uma vez friso que quero que se faça uma justiça democrática que selam julgados como seres humanos e tenham a possibilidade de se defenderem. Eu não tenho um mínimo de ódio para com o «senhor» Aires -Moreira, nem contra alguns «bufos» do Dionisio e AImeida que levaram eu e os meus companheiros até ao Caxias de Moçambique, onde alguns dos meus companheiros foram condenados a penas que iam de quatro a cinco anos de prisão. t bom nãO, esquecer que um Dais democrático não se faz com ódio nem vinqanças, mas sim com amor e carinho. " wma seguranca inabalaveL. na base dumavida serena Companhia de Seguros MUNDIAL E CONFIANCA DE MOcAMBIQUE 7moda nova!' A moda ,Jeanscomeçou em Saint-Tropez e depois pegou! Actualmente em França, Inglaterra, Jugosidvia, Hong-Kong e nas lojas Saks, na Quinta Avenida, Atlanta, Beverly Hills, Boston ou Chicago, nos Estados Unidos, os "Jeans'simples ou enfeitados com bordados e dppliqués são a grande moda. 99W 9 Veja já, a classe da linha welwitschia Av. Antõnio Enes, 946 o pronto a vestir em L. Marques! CAFRICA 74.25 Padre José Martens, superzor da Missão de Inhaminga. Nas rugas do seu rosto jovem, todo o sofrimento dum povo. (Foto de Rui Pacheco). MASSACRE EM MQÇ AMBIQUE "EU ~/i -o TEMROR, DE. INHAMINGA" 'Há centenas de Wiriamus em Moçambique e desde Janeiro a Mar-o oram massacradas umas quinhentas pessoas em" Inhaminga. lso afirmou-nos o padre José Martens, sdperior da Missão de Inhaninga, que se Viu obrigado a abandonar a Africa para testemunhar o que viu e ouviu. «Quinhentos é o meu cálculo- precisou - mas os negros falam de milhares». Saído de lMloCambique em 26 de Abril, a sua voz ainda vem marcada pelos gritos dos torturados, pelo medo de 35 mil pessoas fugidas para o mato, pelas dores que lhe vincaram sulcos na face e toldaram o brilho dos olhos azuis. Veio à Europa com uma missão: continuar a luta pela defesa dos direitos do seu povo africano, agora já não nas escolas do mato mas nas redacções da Imprensa mundial. Para quê? Para que se tome consciência dos abismos a que pode conduzir uma guerra contra a libertação dos povos, criando circunstâncias de sçlvajaria e de medo que levam as pessoas a ýcometer monstruosidades inadmissíveis no seu estado, normal. Culpados? Pois há èulpados, aqueles que são responsáveis nelas circunstâncias em que o povo e os soldados se encontram. «Os soldados são os nossos soldados,diz-nos o padre Martens - rapazes normais com família que amam, noivas para casar, juventude para viver. Todos nós temos culpa daquilo, como povo inteiro que não evitou a guerra. O que é triste é que apenas meia dúzia de cristãos e marxistas tenham conseguido ver isto a tempo. Os verdadeiros culpados dos massacres sio Os exploradores do trabalho africano, os maniacos das glórias pátrias, os bispos que sabiam e não quiseram falar, os brancos que não querem perder pri-vilégios e também aqueles comandantes militares e chefes de posto que, mal chegados a África, se julgam deusinhos èom direito de vida e de morte sobre os negros. Os principais culpados não são os so1dadinhos que executam ordens ou actuam debaixo do medo e do terror são os pides e todos aqueles que actuam a frio.» Apressou-se a declarar-nos o padre Martens que não o anima qualquer sentimento anti-português. O que está em causa é a guerra colonial sustentada hoje pelos potugueses, utilizando processOs semelhantes aos que foram utilizados pelos holandeses na guera da Indonésia. AC)ÇAO PSICOLÓGICA DA FRELIMO Os primeiros ataques em força da Frelimo ao quartel de Inhaminga deram-se em 23 de Janeiro, mas já nesse mês vários comboios da Trans-Zambezia R a i 1 w a y s (TZR) tinham sido atingidos e, desde fins de Julho,, diversas acções armadas haviam sido conduzidas pelos guerrilheiros contra 'objectivos estratégicos. As prisões e torturas foram a resposta sobre a população. Mas a Frelimo já estava na zona desde os fins de 1970, num persistente trabalho de mentalização. Pelo menos desde que, nesta data, o Governo fez conhecer o projecto de alargamento do Parque da Gorongosa, o que implicaria o desalojamento compulsivo de muitas aldeias de africanos. Militantes da FreHmo, alguns deles ori dos desta região, infiltraram-se entre os descontentes explorando a sua revolta. E assim a revolta alastrou do Parque da Gorongosa para o Norte, até à linha férrea internacional da Trans.Zambezia Railways, onde se situa o PÁGINA 20 centro ferroviário de Inhaminga, vila com uma popula. ção de oito mil africanos e 1100 europeus, num concelho com cerca de 45 mil habitantes. O missionário descreve-nos os métodos psicológicos da Frelimo para cativar o povo, de resto facilitados, porque -diz-nos-a Frelimo é do povo, é o próprio povo. Há episódios desta táctica psicológica realmente interessan. tes. Outro missionário contou-nos alguns. Um dia entraram dois mo. ços na loja duma aldeia do mato e, enquanto o empregado, negro lhes servia duas cervejas, travou-se este simpies diálogo: -Olá, sabes o que é a Fre. limo? ¥.-$A ouvi mais ou menos, mas não sei bem.-respondeu o moço. -Olha, a Frelimo somos nós! E agora vai dizer ao teu patrão que a Frelimo passou aquil Dito isto, sumiram-se no mato, mas na mesma tarde já toda a gente sabia que a Frelimo estava na aldeia e todos os brancos da zona começaram a tremer. A outra história pode não ser tão objectiva mas os ne. gros contam-na já como uma «legenda» reveladora do prestigio da Frelimo. Um dia, perto de Inhaminga, os guer. rilheiros montaram uma em. boscada num sitio muito aper. tado. Passou um camião cheio de tropa e logo trinta frelimos cercaram o camião, de metralhadora em punho. Tão rápida foi a operação que os soldados nem tiveram possibilidade de saltar do camião e ficaram gelados de medo, enquanto, o motorista, desesperadamente, tentava uma manobra impossível para fazer marchaatrás Foi então que os frelimos, sem disparar um tiro, desataram a rir e deixaram Os soldados em paz. Mais tarde explicaram a história pelas aldeias. «N6s que. ríamos provar-lhes - diziam eles- que podemos dominar Moçambique Inteiro e que até somos capazes de nos dominarmos a nós». Verdadeira ou não, é assim que Os negros contam a' façanha, para maior prestigio dos guerrilheiros. Ao fim de três anos de mentalização política e reivin. dicativa, toda a zona de Inha. minga está completamente infiltrada pela Frelimo, a qual se apresenta ao povo como um movimento de libertação. CONDIÇÕES DE EXPLORAÇÃO As condições de exploração dos africanos eram terreno fácil para os militantes da Frelimo e, por isso, o sucesso do movimento estava há muito assegurado. Os 400 quilómetros de linha férrea da TZR foram construídos com sangue negro, há cinquenta anos. Os salários dos trabalhadores das serraões e da TZR não passavam de 180$00 por mês, antes da eclosão da guerra. Nas serrações de Cheringoma, uma das zonas mais ricas em toda a Africa em madeiras preciosas, os negros trabalhavam, vestidos com um saco enfiado, e partiam das aldeias às 4 horas da manhã em camiões apinhados. O imposto de palhota era de 290$00 por ano, sob pena de trabalho forçado para os que se desleixassem no pagamento. Embora suspenso o trabalho forçado em 1961, a verdade é que os administradores continuam a usar de todas as arbitrariedades para arregimentarem trabalhadores, à custa de uma comissão paga pelos fazendeiros e donos das serrações. O missionário contou-nos, a este respeito, uma histõria recente: Há duas semanas, apresentaram-se à porta do posto dois moços africanos pedindo certidão de nascimento para tirarem o bilhete de identidade. Mas como não tinham em dia o pagamento do imposto de domicilio (cerca de 300$00), o chefe de posto mandou-os trabalhar para aserração. Com todo o requinte acrescentou: «Já agora, primeiro que tudo, vocês vão ali encher-me o tanque de água!». E os rapazes não tiveram outro remédio, mas pode-se imaginar a revolta que sentiram! Não longe de Inhaminga, a Sena Sugar arregimentou 30 mil negros para trabalharem nas plantações do açúcar, em circunstâncias tais que, durante o ano de 1973 e apesar da repressão, os trabalhadores desencadearam quatro greves importantes. Os de Inhaminga não foram arregimentados desta feita, mas estavams sujeitos ao mesmo. Os negros nunca esquecerão terem sido espoliados das terras que os missionários ensinaram a cultivar (a partir de 1957). Depois das terras preparadas, os brancos Iam á administração e conseguiam facilmente dois ou três mil hectares, abrangendo terras já arroteadas pelos negros. (Grande parte destes negros eram empregados da TZR que tinham fora da vila as suas pequenas plantações). A FRELIMO E OS BRANCOS Nestas circunstâncias, foi fácil à Frelimo apresentar-se çomo libertadora da opressão. Todo o trabalho político precede a acção armada, e esta só se revela quando a população se mentalizou. Os próprios negros dizem que a Frelimo ainda não fez ir pelos ares os cabos eléctricos e as condutas de água da cidade da Beira porque não tem pressa nem preparou ainda a população negra. De resto- insistem os homens da Frelimo- há. em Moçambique muitos brancos que não terão de sair, porque não são culpados dos crimes contra os negros. Mas os pides, os patrões das serrações, Os bispos comprometidos, os fazendeiro5 exploradores e toda a gente que roubou não tem outra coisa a fazer senão partir. Os militantes da Frelimo dizem assim ao povo: «Moçambique é grande e tem riqueza para todos, os brancos não prec. sam de sair, mas nós fare. mos a escolha». A escolha já começou: salvo alguns enganos (como a morte daquele maquinista do comboio da Beira, cuja mor. te consternou os negros de Inhaminga) os atentados dos guerrilheiros atingiram apenas os brancos exploradores, os denunciantes, os que têm amantes negras e mesmo alguns régulós que, depois de avisados, persistem em colaborar com as tropas portuguesas. E o missionário comenta: se os brancos fossem tão lúeidos .como -os africa. nos, se tratassem os negros como estes são capazes de tratar os brancos, não haveria problemas, porque este povo é amigo dos brancos que o respeitam, sente-os como gente sua, não olha para a cor da pele. Sorriem-se com os desmandos dos brancos, como um adulto sorri de uma criança que faz disparates. «Mzungo não pensa» (o branco não pensa) dizem, abanando a cabeça com pena. Mas eles sabem muito bem quem são os «Jorges Jardins»comentou o missionário. AS TORTURAS Os -sofrimentos da populaçâo de Inhaminga começaram no final de Julho de 1973, como em pormenor se descreve no relatório dos missionários. O padre Martens recorda: eu vi o terror de Inhaminga. Era a varrer nas lojas, nas aldelas. Era a Pide, eram os soldados, eram as milícias, eram os cípaios. As duas prisões foram-se enchendo de suspeitos, mas a Pide não conseguiu prender um único guerrilheiro porque o povo nunca os denuncia nem mesmo debaixo de tortura. Nos últimos dias de Dezembro, é preso o régulo Pangacha, surpreendido co m elementos suspeitos. É um chefe nativo de 45 anos muito estimado em toda a região. Foi levado para o quartel de Inhaminga mas a Frelimo quis ilbertá-lo desencadeando o primeiro ataque em força às instalações militares, depois de ter enviado ao comandante um ultimato escrito em .portugués, inglês e chissena .(a língua nativa). Durante o ataque, os soldados fizeram fogo sobre a prisão, morrem alguns presos mas Pangacha nada sofreu. Continua sob vigilância apertada, sua filha Sebastiana, jovem cristã recém-casada, que vem ao quartel trazer-lhe co. mida. Em 6 de Março, são abatidos pela Pide cinco suspeitos da Frelimo durante uma festa organizada por um cabo-verdiano desertor do PAIGC que se instalara como colabora-dor da Pide entre os traba. lhadores de uma serração. Entre os mortos estão dois filhos de Pangacha,. que este se negou a reconhecer. Sebastiana, chamada depois e não sabendo da recusa do pai identifica os cadáveres dos Irmãos A morta, ao lado do pai, que entretanto fica ferido e é sepultado vivo. Não conseguindo p i s t a s através dos adultos tortura. dos, a ýPide prende crianças de sete e oito anos que também são torturadas e fornecem Indicações. Um dos métodos de tortura baseia-se sela-se em choque eléctricos aplicados nos ouvidos e nou. tros pontos sensíveis com uma máquina inventada pelo caça. dor Faria, conhecido como informuador da Pide. Mas em muitos casos, reforça-se mes. mo a resistência dos tortura. dos, para quem a morte é semente de libertação do povo inteiro. Um rapaz de 14 anos, liberto depois das tor. turas disse-nos o padre como exemplo - chega à al. deia e declara: «agora nunca mais tenho' medo dos mzungos». Por, seu lado, a população branca estimulada pelas recentes manifestações da Beira, pressiona as autoridades a toJ mar medidas cada vez mais drásticas: exigem a expulsão dos padres, blindagem dos comboios, helicópteros para acompanharem ai formações ferroviárias, limpeza da zona. O pessoal branco da TZR entra em greve, a população é compelida a residir na vila sem poder sair para as plantações. Fora dos limites da vila, fugidos no mato estão mais de 35 mil negros e tudo o que mexe é abatido (são ordens oficiais). Mas também nos disse o padre Martens que toda a gente simpatiza com a Freilmo, que as aldeias estão todas minadas pela sua mentalizaç-o, até ao Dondo, a 30 km da Beira. Impressionante aparelho militar e de repressão policial (mais de 1500 homens), mas o que os negros mais temem é a população branca. O ESPIRITO DOS MISSIONÁRIOS Finalmente em 19 de Mar. ço, os missionários retiram, como já tinham feito sessenta padres da Beira, 11 de Nampula, 30 de Tete, e ante. cipando-se a outras equipas missionãrias que se preparam para sair de Moçambique. Porquê? Porque são amigos dos negros e por isso suspeitos das autoridades, porque estas os isolam do povo, porque não querem mais sujeitar-se aos compromissos impostos por um sistema de missionação apoiado no colonialimo do Acordo Missionário. Voltarão um dia? O padre Martens não duvida, mas adianta que o missionário já não volla a ser o que foi até agora, há toda uma reformulação, a fazer do papel da igreja ,-na sociedade nova de Moçambique. «Há excepções, deixámos lã alguns amigos» diz-nos o padre Martens. E os brancos? Sairão os culpados, os que fingiram patriotismo para disfarçarem a vóntade de não perder a vida que levavam «Os chica. cas» peles de tambor) assim chamados pelos negros que não lhes reconhecem mais valor do que uma pele seca. Ainda sobre os massacres. Valerá a pena divulgar factos tão repugnantes? O missio, nário não hesita agora, É precisoque se saiba até onde, pode descer o «bicho-ho. mem», para que compreendam os seus excessos e a repulsa que estes provocam nos oprimidos. Para que se acabe a guerra quanto antes e se faça tudo para evitar condições de guerra que levam as pessoas a descer abaixo das feras do mato. Uma última palavra de compreensão: Vai ser preciso muito tempo e muito esforço dos portugueses para recuperar os soldados- intervenientes nos massacres. É um trabalho que Portugal tem de começar imediatamente, colhendo a lição de outra guerras coloniais. E contou-nos que os psiquiatas holandeses detectam ago. ra, entre os antigos combaentes da guerra da Indonésia, traumatismos psíquicos graves provocados pelo medo no mato e pelas atroci. dades então cometidas. Também nós -aqui lança. mos, mais uma vez, este grito de alarme: Quando é que esta guerra acaba? Quando é que se vislumbra uma saida para negociações e cessar-fogo? Ainda que se saiba que outros problemas políticos, relacionados com a pró. pria independência dos ne. gros, talvez obriguem a manter em Africa forças de segurança portuguesas aliadas aos movimentos de liberta.cão. a força crescer duma técnica jc impulsionadora. Estruturas Metálicas Carroçarias Caixilharia Metálica Grades e Poitões Perfis Metálicos Tectos Falsos ~Casas Pré-fabricadas Serralharia Civil Reservatórios Metálico s te )vem, JAIME MENA E SILVA, LDA. Av. do Brasil, 1319 Caixa Postal, 2626 Telefone,733360 Lourenço Marques-Moçambique PÁGINA 2. IGUALDADE DE DIREITOS AOS DOS COLEGAS DO ENSINO OFICIAL - reivindicam centenas de estudantes do ensino particular em manifestação ordeira «Queremos a oficializaçao do ensino particular com os mesmos direitos do ensino oficial» - reivindicaram, e reivindicam, centenas de alunos dos colégios do ensino particular, concentrando-se frente aos edi'fcios dos órgãos da Informação para «darem conhecimento público da sua legitima aspIração». A concentração, ocorrida na tarde de 31 de Maio passado, teve início frente ao Rádio Clube de Moçam'bique, onde várias dezenas de estudantes se reuniram em ambiente ordeiro mas exultante', («Os colégios, unidos, jamais ser&o vencidoei") ostentando diversos cartazes com os seguintes dizeres: «Pedimos a oficializaçáo, queremos a igualdade». .Igualdade de direitos, queremos justiça». «Queremos os mesmos direitos», «Justiça para todos: também temos direitos» e «Por um ensino livre». Dois elementos da comissão composta para estabelecer diálogo com os representantes dos órgãos da Informação revelaram-nos que depois de várias e inúteis tentativas no sentido de conseguirem que as suas rei~ vindicações fossem atendidas, resolveram con entrar-se para, publica e manifestarem a sua' disò,dância sobre a injustiça e a desigualdade de que enferma a sua situqção docente. Soubemos ainda que uma outra comissão apresentou, há dias, o problema ao Secretário Provincial de Educação - nomeado pelo antigo regime - que, em virtúde do «actual momento». não soube ou não quis dar andamento à petição que lhe foi entregue pelos alunos do ensino particular: «O Secretário Provincial de Educação não sabe o que há-de fazer. Assim, vai «acumulcmdo» * tudo, enquanto nós vamos continuando à esper,-..», afirmaram-nos, alguns jovens. estudantes. A, comissão eleita para representar os estudantes do ensino particular entregou pessoalmente no Rádio Clube de Moçambique é nas Redacções dos jornais, o texto da petição onde são apresentadas as suas ý'eivindicações. O TEXTO DA PETIÇAO DOS ALUNOS DO ENSINO PARTICULAR É o seguinte o texto da petição dos alunos do ensino particular: «Os alunos do ensino particular pretende- pacífica e ordeiramente, apresentar alguns pontos que, injustamente, -os diferenciam dos seus colegas do ensino oficial o oficializado. Assim, chamam a atenção de quem de direito para o seguinte: 1. Qualquer que seja a média final que tenham obtido nos seus -estudos, ver-se-ao obrigados à prestação de exames, enquanto que cs seus colegas do ensino oficial e oficializado serão dispensados dos mesmos exames, bastando-lhes, para isso, ter média final de 12 valores no quinto ano. 2. Sabe-se que no ensino particular as turmas são menores, pelo que o rendimento -obtido será, evidentemente, maior do que o do ensino oficial. 3. Por outro lado, muitos alunos vêem-se obrigados a recorrer ao ensino particular em virtude de no oficial não haver vagas. 4. Nas provas orais, enquanto os alunos internos são examinados pelos seus professores e no seu p6prio ambiente, s do ensino particular prestam provas perante jurio que inteiramente desconhecem a capacidade do aluno, pelo que muitas ves* bons alunos são reprovados. S. Também acontece habitualmente que, no d corre' das provas escritas. kalu. nos do ensino oficial declarani que o professor não ensinou a matéria relativa a certas perguntas - não respondem, mas a cotação 4 considerada por completo. 40 ouno do ensino particu3w pxige-ase-lhe o conhecimento inteiro do todos os programas. 6. Outro ponto importante é o de os alunos do ensino oficial terem ensino praticamente gratuito. an passo que os do ensino particular se vêem obrigados ao pa. gamento de uma elevadIa mensalidade. Assim, pedem que a sua situaçao seja revista e que beneficiem dos mesmos di,reitos dos seus colegas do ensino oficial., Também s alunos maiores que frequentam escolas particulares desejam ser abrangidos pelas mesmas regalias, desde que apresentem prova de ter frequentado o ensino particular durante o ano lectivo.» A petição é subscrita por dezenas de assinaturas. UMA OUTRA PETIÇAO Embora a margem, de certo modo apenas, com as reivindicações acima transcritas, mas no fundo correlacionadas, foi-nos entregue, por vários alunos presentes -naquela concentraçao, um outro texto, referindo diversos pontos «que reputamos profundamente injustos e para os quais pedimos a atenção das entidades competopt -',no sentido d ep~ c-eder «&r urgente ~unirfzação dos colégios». Eis a seguir, os mencionados pontos: -1. O facto de os alunos dos colégios bem organizados serem, muitas' vezes, mais intensamente preparados do que os pr6prios alunos do ensino oficial. 2. A situação clararneaite injusta dos alunos dos eolgios impedidos de oficialização por, nas localidades correspondentes, existirem escolas ou liceus oficiais. Caso concreto: os alunos de colégios da Namaacha isentam-se de exames; os- de Lorenço Marques - a 78 quilómetros... - têm de se submeter a exames. 3. O risco de os alunos que as circunstancias forcem a recorer ao i ensino particular não encontrarem, de futuro, nesta modalidade, a necessária segurança. pois tais desigualdades abalam a estrutura económica dos colégios, já de si sem qualquer protecção, pela fuga para o ensino .oficial ou oficidalizado. 4. Os problemas que resultam para o Estado pelo afluxo de alunos ao ensino oficial ou oficializado, dada a carência de-professores. instalações e estruturas que não podem rapidamente firmar-se, Mas apenas improvisar-se. 5. No caso particular do Ultramar tais problemas são de maior acuidade, pois a e i a de um eficiente ensno a rticular permite «espaços agos» no ensino oficial e- a consequente abertura aos estudantes das elaçses economicamente dêbeis'»' QUASL A MARGEM Problema de capital importância, o ensino - oficial e particular- terá de ser totalmente reformado e reestruturado, de forma a evitarem-se - e futuramente imppedirem-se - injustiças táo flagrantes como as apresentadas pelos alunos do ensino particular. essa, de resto, a preocupação dominante do actUal Ministro da Educação do Governo Provisório. Entretanto, e como, ao que saibamos, no ensino moçambicano não foram ainda introduzidas quaisquer medidas tendentes a coarctarem os resquícios fascistas que por lá continuam a circular livremente, espalhando a confusão e revoltando os espíritos, temos conhecimento de que nos diversos estabelecimentos de ensino da capital e provavelmente de Moçambique - certos professores, aproveitando-se da sua posição de «mestres», estão a minar, com -palavrinhas mansas», o espírito da Revolução de 25 de -Abril, fazendo uso da sua experiência demag6gica, durante largo anos ao serviço do fascismo, deformando em vez de formar a mentalidade de milhares e milhares de jovens. Neste sentido, daqui apelamos para os representan' tes em Moçambiéiue do Movimento das Forças Armadas e da Junta de Salvação Nacional, a fim de tomarem uma rápida e enérgica posição face as manobras contrarrevolucionárias e perigosamente reaccionárias de vários professores, tanto mais graves por estarem a envolver a juventude, futura responsável pelos caminhos da liberdade finalmente ao alcance de todos. ROBERTO CORDEIRO 'C'H ISSA NO UM homem que .quer a verdade "CONTINDO A APOIAR A FRELIMO" Quem fez esta escultura avó? Perguntará assustado um menino negro que ainda não nasceu e que não sentirá já a guerra, a fome e a opressão. Foi um artista do povo chamado CHIISSANO que lutou para também nos dar a Liberdade. Um homem valente, puro e bom. A sua maior arma eram as obras que lhe sairam das mãos. Coisas terríveis que feriram os olhos do Mundo. Por um insondável capricho d1o Destino a 2.1 exposição das obras de Chissano, em Lisboa, seria inaugurada a 25 de Abril. O artista-combatente encontrou nessa manhã na rua a expressão máxima de um Povo conquistando a Li. ''rdade. Com ele tivemos uma longa conversa da qual extraímos sobretudo, para os nossos leitores, as suas declarações. Colhido de surpresa em Lisboa, Chiss*no foi testemu. nha ocular dos acontecimentos. Perguntámos-lhe a que horas se deu conta do levantamento militar? «Eu vou-te explicar tudo. Eu estava em casa de uma amiga e tocou o telefone ás 4.30 da madrugada. Ela correu e atendeu o telefone. Disseram-lhe: houve uma revolução aqui em Portugal. E pôs o auscultador perto do rádio que estava a transmitir a noticia. Eu procurei ter calma e aguardei. As 9 saí de casa para ir preparar a exposição que se inaugurava nesse dia. Mas não pude lá chegar porque aquela zona estava cercada pela tropa. Voltei a casa mas sal logo. Andei a assistir e a ver tudo. * vontade, sem problemas. Assisti no Carmo à entrega do Marcelo Caetano. Há noite regressei a casa e no dia seguinte continuei a ver tudo que se passava.» Do que sentiu fazendo parte de um Povo que derrubou o fascismo disse-nos: «Eu, dou um grande abraço aos Portugueses. Fiquei muito satisfeito porque vi a grande alegria deles. Quando digo os meus irmãos, não é de cor é de sangue.» E acrescenta: «Ê que da primeira vez que cá estive pensava que o Povo andava alegre. Afinal eu es. tava enganado. Agora é que sei que a partir do dia 25 é que estão muito alegres. O meu desejo é continuar a ser bom. Não nos esquecemos que era capaz de a gente estar com grande alegria. Se há «um milhão» que está alegre há «outro milhão» que não está alegre. O meu agrado era que «os dois milhões» estivessem alegres. É isso que eu apoio.» Sobre o futuro de um Mo. çambique novo, Chissano dei. xa.nos a sua opinião: «2 pái, vou.te dizer uma coisa. Não vais desconfiar nada de mim. Segundo, pede desculpa para a gente nesta fase de Moçambique. Eu sou um que olha Moçambique com muito cuidado. Se há 24 africanos que olham muito Moçambique em pura união, comigo são 25. Eu posso ler o jornal, ouvir a rádio e as pes soas, ver a televisão, tud. Eu sou uma pessoa que ama a verdade e enquanto eu não chegar lá no dia 19 eu não posso dizer a verdade daquilo que sinto Mas há uma coisa que te vou dizer. Eu continua a apoiar a FRELIMO. A FRELIMO tem que fazer como o Spinola fez. Depois se resolve pá. Há brancos, há chineses, há mulatos, há pretos. Porque não é só o br~lico que pode Ir embora. HÁ muitos pretos que hão-de' ir presos. Pelos crimes que também fizeram.» Quisemos saber se tinha já alguma linha de acção eng!obando outros camaradas artistas: «Nunca tive unidade em reuniões. Eu tenho reuniões na rua, sózinho, ouvindo as pessoas. Como se entendem, como se tratam. Para mim é suficiente Dizer que vou fazer, que vou prometer, que vou arranjar, isso para mim não é nada.» E referindo-se aos recentes partidos políticos em Moçambi que. «Aqueles que estão fazendo agora aqueles movimentos para a independência não são eles que hão-de tomar o poder. É mentira. Esses são oportunistas. Mas se isso acontecesse eu era capaz nessa altura de arranjar o meu partido. Eu não quero ser membro do Governo. Eu não quero nada: Eu quero é trabalhar a minha arte, livre, alegre, mais nada. Não quero ser polícia, nem orde. nança, nada. Quero a verdade.» Mais adiante, «0 que é que tu sentias se eu che. gasse a tua casa e me desses cama, lençóis, mesa, comida, tudo e passado algum.tempo eu te dissesse que também mandava lá em casa. Ficavas satisfeito? Eu não digo que os brancos que lá estão têm que ir embora. Têm os seus negócios. Se houver algum capaz de ser ministro pode ser. Mas não é eles dizerem que são naturais de lá. É uma coisa à força, estás a compreender. Por isso apoio a guerra se não houver acor. do. Pode a gente acabar séculos de anos. Eu ofereço o meu filho também para lu. tar na FRELIMO. Temos é que chegar. a acordo, entendes. Se é uma coisa á força então vamos, pronto. Moçamýique precisa dos brancos. Mas muitos moçambicanos não precisam daqueles brancos que roubaram 'os meus bisavós, os meus avós, os meus, pais e eu que ainda sou roubado.» E nota o facto de ra altura de regressar a Moçambique ter de apresen. tar 30 contos em escudos europeus tendo ou não vendido as suas obras. Caso contrário implica prisão. E como até à data devido ao retraimento provocado pelos acontecimentos pouco vendeu, está na contingência de ter que pagar novo transporte das peças para Lourenço Marques. Dissemos-lhe que neste momento as coisas se modificaram e que por certo agora não será assim. Retorquiu: «Ainda tenho o golpe das feridas. Enquanto não chegar a Moçambique não posso dizer que está como Portugal.» LUIS FILIPE BATISTA de Luís Filipe Batista Na hora em que um Portugal ressuscitado se lança na construço 'das bases para uma verdadeira democracia, no momento em que milhões de Portugueses identificados com o Movimento das Forças Armadas desmantelam os últimos redutos do poder fascista existem ainda sobretudo em Africa grupos reaccionários que tentam perigosamente desvirtuar o espirito do Programa apresentado pela Junta de Salvação Nacional. E é pena que assim seja porque o sangue inútil não vai torna, irreversível o direito do Povo à Liberdade. O Povo recebeu-o no dia 25 de Abril. O Povo conquistou-o ine. quivocamente no 1.o de Maio. As noticias chegadas a Lisboa da «azáfama» política em Moçambique provocam certas apreensões. É natural que certo sector da minoria branca juntamente com um número reduzido de negros e mestiços se sinta logicamente ameaçado na viragem para um novo tipo de vida. Mas que o pânico esconda a verdade e se refugie em posições que só irão agravar uma solução que se pretende justa, isso não. O Povo Livre saberá escolher o seu caminho. Mesmo com a lucidez ,ue longos decénios procuraram distorcer. 1 SUPER HARPIC EFERVESCENTE Super Harpic limpa e desinfecta duma só vez. Próprio para sanitas e tanques sépticos, Super Harpic efervescente, elimina os germes rapidamente. Use Super Harpic no seu lar. Super Harpic efervescente a preferência da moderna i de casa. INTEIR ADAPT. *A MORTE DE AMILCAR CABRAL DOSSIER gI8SSRUl - 2: A opíressão, a violência, a necessidade de resistir pela luta armada, a guerra, o sangue e d morte quotidiana dão lugar ao diálogo: as negociações de paz entre o Governo -Português e o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) prosseguem em Londres, Pela primeira vez em muitos séculos de uma hist6ria comum, dois povos podem finalmente, olhar-se de frente e, partindo de um DOSSIER APRESENTADO CARLOS ALEXANDRE desejo de paz desde sempre partilhado por ambos, iniciam a construção de um futuro mais justo e mais digno. Para o povo guineense isto é o culminar de 13 anos de esforços no sentido de ver reconhecido o seu inálienável direito à independência e :à autodeterminação. Por isso se bateu sem esmorecer desde 3 de Agosto de 1961. Para o povo português o entabular desse dilogo foi mais um passo em direcção E COLIGIDO POR '5 w PÁI A O Depois da tomada do campo «Guiledje» pelas forças do PAIGC, um soldado iça umu bandeira com as cores do Partido >%nto ao momnumento aos mortos portugueses, sobre ,o qual foi colocado um retrato do líder assassinado do PAIGC, Amílcar Cabral. à concretização dos objectivos de democracia e liberdade que soube conquistar e consolidar a partir de 25 de Abril de 1974. Conversaç6es que tudo indica serão encetadas em breve com os movimentos de libertação de Angola e Moçambique, constituirão, com essa finalidade, outras importantes etapas. Só então, em toda a acepção da palavra, sé poderá falar num povo português prestes a ser livte. Na verdade, um povo que oprime, um povo submetido a uma estrutura de domínio colonialista que oprime outros povos, não é nem pode ser um povo livre. Acabado o fascismo é ainda necessário destruir o colonialismo. RECORDANDO AMILCAR CABRAL «Quando Marcello Casta.. no tomou o poder de Sala&ar, ele poderia ter terminado com as guerras coloniais mas não o quis fazer. Estamos certos que esta missão será levada a cabo pelo povo portuguas pelos seus trabalhadores e camponeses. pelos seus jovens, pelos seus intelectuais progressistas e anticolonialistas. de facto por todos aqueles que verdadeiramente amam e respeitam Portugal e que sabem que lutar contra a guerra colonial significa salvar Portugal do sofimento, da ruína e do perigo de perder a sua independincia que a guerra constitui.. agora mais do que nunca começamos a compreender, foi um dos mais destaca.dos heróis da luta de libertação de Guiné-Bissau. Seu nome era Amilcar Cabral e a sua obra, de uma lucidez e verdade a que não estávamos habituados em português, constitui não só um decisivo instrumento de luta para todos os povos subdesenvolvidos do mundo, como um dos mais importantes contributos à teoria política contemporânea. Podemos estar certos que a sua memória e a verdade revolu"cionária das suas análises teóricas profundamente enraizadas na prática estarão muito concretamente presentes nas conversações que agora serão , iniciadas em Londres. Recordar agora seu nome é um imperat de justiça. Lembrar os t mos em que ele tão lucic mente equacionou o sig ficado terrível e desgaslaý da guerra colonialista que Portugal se envolveu longo da última década t a importância de um av que não pode nem deve ignorado por ninguém. É também "por isso c TEMPO hoje reabre, c documentos inéditos na prensa de língua portug sa, o longo processo da morte na noite de 21 Janeiro dê 1973. Trata com efeito, de um assa nato a que não foi all a PIDE/DGS mas que ,m concretamente foi caus por um colonialismo PAGINA 31 sentia cada vez mais em perigo o seu domínio. Acrescente-se que com Amilcor Cabral não morreu a distinção que ele e o seu povo em armas sempre souberam estabelecer entre o governo colonial fascista de Salazar-Caetano e um Portugal oprimido e amordaçado. E é esta certeza, sublinhada pelo facto de a GuinéBissau se ter já declarado como república independente - reconhecida oficialmente por grande número de países e organiações internacionais - que estão- talvez na base das razões que tão prontamente levaram os dirigentes do PAIGC, em representação do povo guineense, a aceitar o convite para negociações que um novo e consciente Governo Português formulou logo após ter assumido o poder. Paralelamente ao dossier sobre a morte de Amilcar Cabral, incluimos excertos do relatório da famosa visita da Missão Especial da Organização das Nações Unidas à Guiné, em Abril de 1972. Trata-se de um documento oficial daquela organização agora igualmente pela primeira vez publicado na imprensa -de língua portuguesa. O «COMPLOT» CONTRA AMILCAR CABRAL Após a morte de Amilcar Cabral, o quinzenário Afrique-Asie foi o único jornal internacional autorizado pela Guiné ti proceder a um inquérito local sobre o conjunto de circunstâncias e as peripécias que culminaram com aquele crime. Em Conakri, um dos seus enviados especiais, Aquino de Bragança, viveu durante três semanas com os dirigentes do PAIGC então reunildos com os comandantes do interior e seguiu de perto os trabalhos da comissão de inquérito preliminar durante a qual foram interrogadas 465 pessoas. Quarenta ,e três destas pessoas foram acusadas de participaçãao activa; nove foram acusadas de complicidade; e 42 consideradas como suspeitas. Eis o relato dos acontecimentos conforme feito por Aquino de Bragança na edição de 19/2/73 de Afrique Asie: A 15 de Janeiro último, Amilcar Cabral, Secretário-Geral do PAIGC, voltava a Conakry vindo de Accra, onde tinha assistido a uma reunião do Comité de Libertação da O.U.A. Graças à ajuda fraterna do -Partido e do Governo da Guiné (Conakry), os. combatentes do P.A.I.G.C. dispõem livremente de uma base na Guiné, -com serviços, residências e facilidades portuárias para a sua frota. Nesse dia porém, chegando a Conakry, Cabral constata com surpresa que um dos navios do P.A.I.G.C. que deveria fazer rota para Guiné-Bissau com um carregamentõ de -armas para as regiões libertadas, se encontra ainda no seu ancoradouro. Convoca o comandante Joaquim da Costa, que deveria comandar a vedeta. «- Por que razão .não executaste as directivas do Conselho de Guerra?» pergunta-lhe Cabral. «- Os motores não estão em condições» - responde J. da Costa. «- Não percamos tempo» - diz o secretário-geral «Os comandantes do interior esperam por estas armas para desencadeaíqm uma ofensiva decisiva.» Na realidade a acção traidora estava já iniciada. Da Costa fazia parte do «complot». Esperava directivas do seu cúmplice Inocêncio Kany, outro comandante de vedeta. J. da Costa já sabia qual iria ser a sua missão. Com efeito, em princípios de 1973, que segundo os colonialistas portugueses seria um ano decisivo, já todos os dados estavam lançados. A D.G.S./P.I.D.E. tinha, há já alguns anos, começado a trabalhar no sentido de engajar agentes guineenses e introduzi-los no movimento de resistência. Aventureiros, prisioneiros recuperados, antigos militantes fatigados e descontentes... 'Sem dúvida, eles não so numerosos em" relação à massa de bombatentes e seus quadros. O que é grave, é que alguns tinham ascendido a postos essenciais, a responsabilidades importantes. O que é ainda mais grave é que eles tinham conseguido iludir a confiança da Direcção do Partido e do seu Secretário-Geral. FARÓIS NA NOITE Na tarde, desse sábado de 20 de Janeiro, Joaquim Chissano, membro do Comité Executivo da Frelimo, de passagem em Conakry, dava uma conferência na Escola de Quadros do PAIGC. Naturalmente este acontecimento iria reter ao anoitecer um grande número de militantes e responsáveis. Cabral, entretanto não poderia estar lá. Assistia com a esposa a uma recepção na Embaixada da Polónia. 'Aíistides Pereira, seu adjunto, também não estava na conferência. Ficara no seu gabinete onde esperava o regresso de Cabral, previsto para as 23 horas. Foi pouco antes desta hora que Cabral acompanhado da esposa, Ana Maria, deixou a embaixada da Polónia, ao volante *do Volkswagen que ele próprio conduzia. O .militante africano estava particularmente calmo, essa noite. Os últimos comunicados das frentes interiores confirmavam que as tropas do PAIGC conservavam a iniciativa dos combates. As recentes modificações efectuadas na estrutura da Direcção do Partido pelo Comité Executivo da luta, reunido em Boké (Guiné Conakry), iriam permitir que se desse um novo impulso à ofensiva. A última reunião 'da O.U.A. tinha s'do favorável aos combatntes guineenses. E, sobretudo, a Assembleia Popular que acabava de ser eleita nas zonas libertadas iria proclamar a sua soberania na Guiné, Numerosos Estados ,'africanos e não africanos tinham prometido um reconhecimento, imediato. A estrada de Ratoma está tranquila e o Volkswaqen avança na noite. A residência já está à vista. Mas repentinamente, o condutor é atingido pelos faróis de uma viatura. Cabral espanta-se e reconhecendo um jeep do Partido, pára o seu carro e désce. -«O que se. pass?» Três homens saem da viatura militar e apontam as suas armas ao secretáriogeral. -O que parece dirigir a operação, é bem conhecido de Cabral. Trata-se de Inocêncio Kani, um veterano que tinha sido um dos comandantes da marinha e que depois tivera certos problemas... -«Segue-nos» - diz tnocêncio. Cabral recusa-se e chama a guarda que deveria estar a vigiar a sua residência .e ninguém responde. Nabonia, conhecido por Batia, membro da guarda pessoal do secretário-geral, tinha informado os conjurados do programa da noite. Eles sabem que Cabral está só, que Pereira o espera no seu gabinete e que os outros militantes estão retidos na conferência dos moçambicanos. - «Sobe» - repete Inocêncio - «Sendo, levc&-te-emos à força». Um dos agressores avança com uma corda. - «No me levarão à força» - diz Cabral. "Nunca ninguém conseguiu amordaçarme... E nunca aceitei que amordaçassem ninguém... É \Precisamente por isso que lutamos, para rÔmI per as mordaças..." O medo e a desorientação desenham-se no rosto de Kani. Mas já é tarde. Ele hesita um instante, depois levanta a sua arma e atira Atingido pelo fogo, Cabral verga-se e cai na estrada sangrando abundantemente. Inocêncio Kani disparou pora o ar, sem dúvida, para informar os seus c<plices do desenrolar dos aontecimentos. Entretanto na estrada onde cresce uma poça de sangue, Cabral tenta erguer-se. O homem ainda não está morto. O chefe ainda está lúcido. Dirigindo-se aos dois homens que estão imóveis fala pela última vez. «ACABA COM! ELEI» - «Porquê, camaradas? Se existem divergências é necessário discuti-las-- O Pairtido ensinou-nos ... - «Como? Ainda falas?» - Ruge Kani que repentinamente faz um sinal: PAGINA Uý .Acaba com *lei Depresa.' Uma rajada curta. CaÉral atingido na cabeça torna a cair. Morto. Ana Maria, aterrorizada e impotente, seguiu toda a cena, do carro onde tinha ficado. - Trá-la para a «Montanha. - ordena Kani. A «Montanha» é a prisão do PAIGC. O jeep parte a toda a velocidade. Outras acções tinham já sido iniciadas. Pouco antes das 23 horas, os conjurados apossaram-se de surpresa de Aristides Pereira, secretário-geral adjunto, o qual trabalhava no seu gabinete. Foi Mamadou N'Diaye em pessoa, membro dos Serviços de Segurança e chefe dos guardas, quem o agarrou e imobilizou. E enquanto vários presos - responsáveis importantes pela sedição - são libertados, enclausuram Ana Maria e outros dirigentes fiéis, entre os quais Vasco Cabral e José Araújo. - «Vocês serão fusilados às seis horas da manhã,,dizem os agressores. Naquele momento, eles tinham muitas outras coisas a fazer, embora o seu plano já tivesse começado a falhar. As ordens eram no sentido de não matar Cabral, mas sim raptá-lo e levá-lo para Bissau. E o tiros deviam ter certamente sido ouvidos nalgum sitio. Inocêncio retoma a direcção da operação. Aristides Pereira, imobilizado, tinha sido transportado numa viatura que se dirigiu para o porto. Todos os veículos do PAIGC .têm um'a placa especial (F.F.) que lhes permite segundo um acordo com os dirigentes de Conakry circular livremente. As barreiras formadas pelas brigadas da polícia e da milícia da Guiné, são franqueadas sem demora. Inocêncio Kani, chega por sua vez ao porto e constata que as ordens estão a ser executadas. Aristides Pereira é transferido para a vedeta n. 4-comandada por Joaquim da Costa - o qual prepara aparatosamente um grupo de homens armadbs e um barco de reboque carregado de armamento. O assassino de Cabral toma o comando da vedeta n.'- 7 e deixa o porto, seguido pela vedeta n.° 5. A frota faz-se ab largo. Os serviços do porto guineense conhecem-no bem e não lhe embargam a passagem. Entretanto em terra, o barulho dos tiros tinha com efeito sido ouvido, O coman. dante Osvaldo Vieira, mem- bro do Conselho de Guerra, que reside não longe dali pega na sua arma e sai para o local. Chega também uma enfermeira. Ela encontra o corpo de Amilcar Cabral. O pulso já deixou de bater. - cEI est morto - comunica ela. Encontram no chão os óculos do dirigente e um papel, uma carta que começara a escrever para a sua filha.., e algumas notas para uma obra que Cabral preparava. Nesse momento vai chegando muita gente, e entretanto, terminada a conferência moçambicana, a assistência vai tomando cònhecimento do caso. Reina uma certa confusão. Apenas duas horas depois, Ana Maria Cabral e os seus dois companheiros seriam libertados. Mas, desde as 23,30 horas, o presidente Ahmed Sékou Touré está informado. Um pouco mais tarde, quando Óscar Oramas, -embaixador de Cuba, telefona ao presidente para lhe dizer que tinha sabido do assassinato de Cabral, o seu interlocutor responde que com efeito, já estava ao corrente. Primeiro reflexo: Sékou Touré dá ordens à direcção do porto para interditar todas as partidas. Mas, respondem-lhe os responsáveis que três vedetas do PAIGC já tinham partido. Touré dá ordens para que sejam perseguidas e aprisionadas. Ao mesmo tempo, com uma rapidez exemplar, as forças guineenses isolam a capital. A meia noite Conakry está fotalmente isolada. O e'xército está de alerta nas fronteiras. As forças aéreas estão em missão. São depois os -Mig» de uma patrulha,e os «Radares de vigilância» que vão descobrir do alto os barcos fugitivos ao largo de Bouké. As vedetas rápidas de Conakry, avisadas, põem-se no encalço. As cinco da manhã abordam os fugitivos e conduzem os barcos para o estuário do rio Nunes na Guiné Conakry próximo de Bouké. É dada voz de prisão a da Costa,' Inocêncio e seus homens. - 'Onde está A.xistides Pereira?» - perguntam-lhes. -«Ele já se encontra algures nas zonas libertadas da Guin6-Bissau» - respondem os traidores com afrontamento. As autoridades da -Guiné não se deixam convencer. Está lá o comandante José Pereira, responsável pela região frontal da Guiné-Bis<:a, que acompanhou o governador da região. Decidem então revistar os navios de acompanhamento também aprisionados, os quais contêm um carregamento de armas. Perto do meio dia, encontram enfim num subporao Aristides Pereira, amarrado e amordaçado, as mãos gangrenadas. Este confirma que os seus raptores lhe tinham dito que tinham a intenção de o oferecer de «presente» às -autoridades portuguesas de Bissau. A MANOBRA DESCOBERTA Porém, o «complot» tem muitas facetas. Rapidamente se chega à conclusão de que o objectivo era muito mais vasto. Voltemos à noite dramática de 20 para 21 de Janeiro:, enquanto os acontecimentos prosseguem no mar e na cidade, um grupo de conspiradores fazse conduzir junto do presidente Sékou Touré. Nesse grupo encontram-se nomeadamente Mamadou Touré, conhecido por Momo, Aristides Barbosa, João Tomás e Soares da Gama, três personagens que tinham sido eliminados do PAIGC há vários meses. Momo e 4Aristides Barbosa tinham estado na prisão até essa noite trágica, acusados de traição. Tinham sido liburtados pelos assassinos de Cabral. João TomáS, acusado de entendimento com os portugueses, tinha sido condenado a dez anos de trabalhos forçados e depois amnistiado por ocasião do 5.° aniversário do Partido. Soares da Gama, em liberdade provisória, esperava julgamento por um caso de corrupção. A meia noite, o grupo conduzido pelo -chauffer» Sana Kassama, apresentou-se no gabinete do presidente Touré. Foi Momo o porta-voz: .-«Viemos dar parte ao responsável supremo da revolução, que acabamos de assumir as nossas responsabilidades. Era necessário afiastar C.abral, matá-lo se necessário para salvar o nosso pais. Os militantes de base, os. comandantes do interior, delegaramn-me para assegurar a direcção do PAIGC.» Sékou Touré tem um ,ar grave. O «complot» monstruoso afigura-se-lhe claro. -'Não vos quero ouvir por agora» - diz ele. E marida convocar de. urgência Samora Machel, Presidente da Frelimo que se encontra em Conakry em. visita 'oficial, os embaixadotes amigos da Argélia, M. Zitoni, e de Cuba, M. Óscar Oramas. Momo insiste: - 0O que se ~pqou esta noite. ora antes de mais nada. pra me libertar da prisão'... -«'J¿ vo 1 diSe: que. ao vos poderia o~cuta agora. Esperai.» - Cortou o,presidente com uma voz acutilante, Os-tactos estão já cnsumados, Cabral :está morig, a cidade isolada, o, mar j:echado, "os principais conspiradores presos. , a hora ,do ajuste, de contas e também da aprendizagem dos ensinamentos que é necessário coordenar e revelar à-Africa e ao mundo inteiro. E foi assim, que por iniciativa do presiderite Sékou Touré, a 21 de Janeiro alguns minutos ap6s a meia noite, uma comissão de inquérito preliminar se reuniu em Conakry«. Dela faziam parte os responsáveis da FRELIMO, de, Partido Democrático da Guiné (PDGD) aos quais se juntaram os embaixadores de Cuba e da: Argélia. Mais tarde, a comissão seria alargada a outros países. Os traidores, desmascarados, iriam falar :durante doze horas sem interrupção. É certo que os principais 'acusados negavam todo o conluio com os portugueses. Mas os outros acabaram por confessá-lo. A confissão de Valentino Mangaa .pôs a nu o plano maquiavélico da PIDE/DGS. Ele estabeleceu der maneira precisa o processo de organização e aplicação de diversos métodos de subversão- visando, nãa a eliminação do ,secretário-geral do PAIGC em si, mas a liquidação do movimento. -Ele explica,, com efeito que as autoridades coloniais portuguesas .tinham tido, com ele a seguinte conversa:, - .Portugal está pronto a dar aos negros da Guiné-Bissau a independência, nas seguintes 'condições: - Primeiramente, que o PAIGC seja suprimido. - Em segundo lugar,. qe todos os caboverdianos seiam excluídos- de todo o movimento *nacionalista, porque os portugueses pensam conservar as ilhas de Cabo Verde, que constituem para eles e seus aliados uma base estratégica de importância capital., - Assim, os negros devem desembaraçar-se de todos os mestiços, após; o que Portugal constituirá um- governo com os que tiverem cumprido eficazmente esta missão. E as forças portuguesas conservando-se nas ilhas de Cabo Vede darão ,aos negros da Guiné-Bissau todo a cooperaçao para assegurar a sua protecção.' Mangana ýprecisou quO certos responsáveis foram XIMO 1 1wnd i mento IýI, 4 -,o, pn, ýisen 2 'a >2"a"a< 'ai» a >'a'a 2 ½ >'aa'a~-> ~<> ,> < ~ 2''aaaa,2>< 'a 'a' '~"a'aa~ '2 a' 'a" 'a'' a' a -~ a a' ai <>> 'a a'->' 2 'a? $ , 2' 2'' 2'~2' a' «2' 4a'2'~ $ ->~> a' ½2' a-~"~ 22' <'<2' 'a' 2 "a 2' 2>2' >22' a' 'ai 2' 2" 'a" a' 2'' 2< ««a -a'<2', 22 'a', <2' ''a/a' <2'> >2>2 a' "a-ai '2'i~ 2' >2 a' "a> < i aia 'a 'a 2' ~» a' a-> <2 a' 'a <<"a 2' 2' aa'>2' a' a' 'a' 2<'a>', "a' a'a 'a 'a 'a, <'a. i' 2~ 2 aaa2'a' 2' 2">2' 'a a a' a >2'> 'a 'a 'a 'a 2' a a'a'< ia, 'a >'a' ~ 2' >,$ «2' <'aí a '<"2 2a'a' <""2< «' -'a -a 2 a a~'a a' a 2' 2 2,~ <2'> ''"a" 'aia ai i2,<y 'a -; 2' 2 2' a' 2"' -> 2' <a< '2' 'a" 2 a «"a' 2' 'a <~2' -a a 'a'a'<' 2' <~<>2' a <a' 2' a > 'a> 'a 'a 2' ««'a' "a a' <'a 2' 2' ia a' 2'-?,>>~,', a>-. a'2->-22'~'a> 'a' 'a ' a ~44~'"" ~>a, ~ 'a '<~ 2' a->' V DULO FLTR LA L 1/ . 1 COM DUPLO FILTRO sensíveis a estas promtessas dos colonialistas e consequentemente, organizaran-se tendo em vista a execuçao da tarefa que lhes era pro'"psta. Foi então que se orýganizaram infiltrações nas fileiras do 'PAIGC. Agentes (negros) 'da PIDE/DGS apresentavam-se frequentemente como desertores do exército ç:olonial, sendo também utilizados para o mesmo efeito, nacionalistas comprados. Este depoimento de Mangana é confirmado e completado pelo- Lansana Bangura, outro desmascarado à última da hora, que explicou os, detalhes de um plano de' agressão preparado contra a -República da Guiné e as Repúblicas da Tanzânia e Zâmbia. Previa-se o fomento de desordens nos três pai-ses, através da acção subVersiva traidora de pessoas infiltradas no PAIGC, FRELIMO e MPLA. Pela cohfusâo assim criada no interior dos três países, visavam-se também ataques aéreos, marítimos e terrestres. Ao mesmo tempo, as forças portuguesas deveriam desencadear uma grande ofensiva nas zonas liberta-, das, em Bissau, Angola e Moçambique. O ano de 1973 era considerado segundo a estratégia portuguesa/ como o ano decisivo para a liquidaçao dos movimentos de libertdçâo nacional. Foi depois a vez de Nene. um do$ responsáveis pelas telecomunicações da PAIGC. Entre a espada e a parede, admite que já comunicara com Bissau pela rádio, anunciando a liquidação do «homem grande» (Cabral). As --suas declarações contêm a prova irrefutável de que os conjurados eram totalmente manipulacios, pelos: serviços portugueses, e que Mamadou Touré era o seu delegado em Conakry. Um outro traidor, Nabonia, conhecido por Batia, era membro da guarda pessoal de Cabral. Foi ele quem forneceu aos assassinos o programa da noite fatal. Agora, está positivamente desnorteado. Disfrutara desde sempre, da confiança de Amilcar Cabral. Foi ele quem pediu que as suas declarações fossem registadas; citou os nomes dos seus ,cúmplices e precisou sobre as ligações com os serviços secretos portugueses. No dia seguinte, após ter tomado o pequeno almoço sob vigilância e juntamente com os seus co-réus, Batia pede para ,ir à casa de banho. Ao aproximar-se de 4jma sentinela, atira-se ines,peradamente sobre *o miliciano, derrubando-o, e com uma rapidez de relâmpago apodera-se da arma, um fusil «AK2» e volta-a sobre si mesmo, atirando. Morreu no hospital. Inocêncio Kani, o assassino de Cabral, também preso no mar,: com os 21 homens que estavam sob seu comando, procurou, incoerentemente justificar-se: - «tei Cabral no momeonto em que elo tentava sacar de uma arma, metendo a mao no bolso. (Ora precisamente nesse dia; Cabral nâo estava armado). Nfio erm intenço minha. matá-lo.» O seu móbil? t necessário procurá-lo na sua vida agitada: Sempinarista, pertenca às fileiras do movimento desde o desencadeamento da luta armada. Tinha grandes responsabilidades, mas após alguns anos de luta, o homem » esmorecera; já não estava à altura da sua missâo. Foi Cabral, que em 1967, com a sua verdadeira ânsia em salvar homens, insistiu para que Inocêncio fosse encarregado de tarefas de menor responsabilidade, coocando-o na parte de reforço da malrinha do PAIGC. Nessa altura, é enviado para a Academia Naval Soviética como estagiário; no regresso, chefia o comité tripartido que dirige a Marinha e entra para o Comité Executivo da Luta. OS VERDADEIROS CONSPIRADORES A queda de Inocêncio dá-se em 1971. É excluído do Comité Executivo por unanimidade e ao mesmo tempo, suspeito de ter participado na venda de um motor naval. Inocêncio nega as acusações, e é aberto um inquérito suplementar. Cabral, confia-lhe provisoriamente o comando de uma vedeta. Tal é o homem que o iria matar. Ele não é senão o braço armado pelos conspiradores; o braço que era manejado pelo principal executante, Mamadou Touré, o Momo, há 18 meses enviado para há 18 meses enviado para Conakry, por Bissau. Este antigo caixeiro, que conta hoje 33 anos, foi membro do Comité Central do PAIGC antes do inicio da luta armada. A 13 de Março de 1962, Momo é preso pela PIDE numa tabanca em Bissau. Era então activo e corajoso, responsável pela 3.' zona da capital e agente de ligação com a Direcçâo, já na altura em Conakry. Julgado sumariamente por um tribunal militar português, Momo é condenado a oito anos de trabalhos for-" çados e enviado para o sinistro campo do Tarrafal na ilha de S. Tiago no arquipélago de Cabo Verde. É lá que encontra um perPÁGINA 33 sonagema que vaiÍ -desempeýnhar um papel decisivo na. sua futura carreira de... traidor: trata-se de Aristides Barbosa, de 30 anos, um agente português infiltrado no Tarrafal para ganhar a confiança dos nacionalistas. Perito em acção psicológica, Barbosa é muito activo e desenvolve um trabalho intensivo de educação política, de luta contra o analfabetismo, entre os detidos provindos do PAIGC que se encontram no campo. Depressa se torna amigo de Momo, e consegue recrutá-lo para os serviços secretos portugueses. .Amnistlados» em 1970, MomQ ~ Aristides Barbosa Momo 9 Aristides Barbosa regressam a Bissau para se porem à disposição das autoridades portugues's; e é em Bissau que Momo renova os seus contactõs com *o mais importante personagem do caso: Rafael Barbosa (homónimo de Aristides Barbosa sem no entanto ser seu parente). Quem é este último? Como e porquê este antigo presidente do PAIGC se rendeu aos portugueses e aceitou participar do complot»? Filho de pai caboverdiano e de mãe guineense, R. Barbosa, conhecido por Zain Lopes, foi contramestre dos trabalhos públicos, assim que aderiu ao PAIGC nos primeiros tempos de luta, Amíl 4Cabríl, secretdsio-geral do PAIGC, asassinado em 31-1-78. Foi em breve colocado na presidência do pequeno Comité Central de então. Era de certo modo umi posto honorifico, não se podendo contudo negar que Barbosa foi um chefe histórico. Era corajoso, activo, e antigo companhei'o de armas de Amilcar Cabral. Em 1962 é preso pelos portugueses. Dutante sete anos, o seu comportamento na prisão parece exemplar. Porém, em 1969, vem a «amnistia", e eis-que ele se ride & política de colaboração com o ocupante a chamada «política para uma -Guiné melhor», pelos colonialistas. Com efeito, o que na realidade se passara ,tinha sido uma «recuperação» de .Rafael Barbosa, durante o tempo de prisão. Tinha-lhe sido prometida a chefia dos destinos do Pais, logo que este fosse tornado «autónomo» no contexto da comunidade portuguesa. E segundo tudo leva a crer, tinham-no deixado interpretar isto como uma possibilidade de ser ele a conduzir um dia o seu pais à «independência», concebida sob o controlo neocolonial de Lisboa, na condição de se renunciar das ilhas de Cabo Verde É com esta intenção que a PIDE/DGS constitui em BissaU uma organização secreta, chamada Frente Unida de Libertação .(FUL) sob a direcção de Rafael Barbosa. Com Rafael Barbosa, Momo estabeleceu sob a chefia e controlo dos serviços secretos portugueses, ob detalhes mais minuciosos do «complot» que seria destinado a destruir a Direcção do PAIGC; os traidores «assumi-la-iam» por sua vez, para depois negociar com Lisboa a «independência» de Guiné-Bissau. Para isso, era necessário que Momo e o seu cúmplice Aristides Barbosa, regressassem a Conakry, se infiltrassem no seio do PAIGC e recrutassem partidários entre os corruptos e os ambiciosos; mais tarde, com o apoio de numerosos «desertores» que se deveriam entregar ao PAIGC às ordens dos serviços secretos portugueses e preparar e executar o plano traçado. Foi isto que Momo e o seu cúmplice fizeram em Agosto de 1971. - -Queriam prender-me novamente» - apregoava Momo, desde a sua chegada a Conakry para justificar a sua presença inesperada. Cabral recebeu-o de braços abertos e enviou-o a repousar num país socialista. Por seu lado, Morn , ao falar da sua vida no Tarrefal na Escola de Quadros do Partido, concluía por um elogio a Rafael Barbosa, «homem Integro». Dizia ele: -«É- certo que Rafael Barbosa fez declarações a favor -dos portugueses, mas em condições difíceis. Elas não devem ser tomadas à lera, pois que melhor do que ninguém eu sei que ele eodtinua a ser o patriota que sempre foi.» Esta tentativa de reabilitar o ex-presidente do Partido, o qual tinha sido anteriormente severamente condenado pelos militantes, teve oefeito de uma bomba. Cabral, poém, não foi inteiramente crédulo. Disse: «Rafael foi um homem cora. joso. Conheço-o bem, o seu comportamento na prisão foi -muito digno. Porém, torna-se necessário tirar a limpo esta situação ambígua, antes de tomar uma posiçao definitiva em relação ao seu caso.» Mas Momo continuou ,a sua acção desmobilizadora de subversão. Momo é .Malinka e muçulmano. Aos responsáveis Fulas e' Mangingas qué constituem a minoria muçulmana, ele dizia que os Balantas aliados aos caboverdianos são um perigo para o Islão. O CHEFE DOS GUARDAS Em reuniões muitas vezes semiclandestinas, ~Momo opunha os guineenses aos caboverdianos: "Se Cabral não teimasse em libertar Cabo Verde, após dez anos de luta, estou certo que Portugal renunciaria a Guiné-Bissau e nós seríamos independentes...» Finalmente desmascarado pelos serviços de segurança do PAIGC em Junho de 1972, ele é preso ao mesmo tempo que o seu cúmplice e colaborador próximo Aristides Barbosa. Momo confessou nessa altura ter contactado, entre 'outros, o Inocêncio Kani e o Inácio Soares da Gama, dois responsáveis pela Marinha do PAIGC com o fim de destruir a direcção d6 Partido. Mas estes dois últimos negaram categoricamente as «calúnias de um traidor que queria desacreditar a marinha». Acreditou-se neles, tanto mais que se tratava de oficiais que combatiam há muito tempo, de armas em punho contra o ocupante português. E depois sabia-se bem que Momo, querendo semear a confusão, já acusara vários outros camaradas absolutamente ilibados. Detidos na «Montanhçi» aguardando a conclusão do seu processo, Momo e Aristides Barbosa prosseguiam, não obstante, os preparativos do golpe., Os seus'contactos ' com Bissau e com os seus cúmplices são mantidos graças à ajuda do chefe dos guardas;, Mamadou N'Diaye. COMO FOI CONCEBIDO E ORGANIZADO O «COMPLOT» CONTRA AMILCAR CABRAL O dia X estava, inicialmente previsto para 15 de Dezembro. Foi no entanto modificado e alterado para 20 de Janeiro devido à partida de Cabral para assistir à reunião da OUA em Acra e à incerteza que havia quanto ao seu regresso a Conakry. O inquérito trouxe à luz diversos nomes de implicados na concepção e organização do "complot, contra Amilcar Cabral mas hoje torna-se evidente os principais responsáveis pertenciam a um sector da PIDE/DGS encarregado de missões de responsabilidade a nível internacional sob direcção directa do Major Silva Pais, o director daquela policia fascista agora desmembrada. OS PRINCIPAIS EXECUTANTES Rafael Barbosa: antigo presidente da PAIGC, comprado pela nova estratégia neocolonial portuguesa. Mamadou Touré (Momo): antigo membro do Comité Central do PAIGC, antes do desencadeamento da luta armada. Infiltra-se na base, bh.~ 1 ~dd DOSSIER GUINE DISSAU do PAIGC, em Conakry em 1971, após ter-se rendido às teses portuguesas. Desmascarado epreso pelo PAIGC em 1972. Aristides Barbosa: agente português da PIDE infiltrado no campo de concentração do Tarrafal para ganhar a confiança dos detidos nacionalistas. Desmascarado e preso (com Momo) pelo PAIGC em 1972. João Tomás: membro do PAIGC desýe, a sua criação, membro d6 Comité Central e Sindicalista até à sua prisão em Kundara, região fronteiriça ao Norte da República- da Guiné, pelos serviços de segurança do PAIGC, sobre a acusação de conluio com os portugueses. Condenado a dez anos de reclusão, e depois amnistiado em 1972. Soares da Gana: membro do PAIGC desde o inicio da luta armada, comandante de operações na Frente Sul, antes de ser destituído do seu, comando. Comissário político da Marinha até Agosto de 1971, e depois afastado por um caso de corrupção. Estava em curso ,um inquérito a seu respeito. Mamnadou NDiaye: antigo comandante do PAIGC em diversas frentes durante vários anos; duas vezes ferido gravemente, tratado, em hospitais de países socialistas. A sua condição física não lhe permitia assumir tarefas de combate; foi transferido p!a os serviços de segurança que Aristides Pereira dirigia pessoalmente. Parece actuahnente difícil explicar a sua venda ao inimigo., Koda Ncbonia (Batia): membro da guarda pessoal de Cabral. Suicida-se após ter feito uma confissão complta. Valenting Mangana: agente dos serviços portugueses desde o momento da sua «deserção» do exército colonial. Graças à cumplicidade de Soares da Gama, vê-se promovido a comandante-adjunto da vedeta n.' 5. Nene: um dos responsáveis pelas telecomunicações do PAIGC. Colabora estreitamente, com os conspiradores nos seus contactos regulares com Bissau.., Inocêncio Kani: lazendo parte do PAIGC desde a sua formação. Membro do Comité Executivo da Luta, é excluído em 1971 por um voto unãnime, e desapossado da sua participação no comité tripartido que dirigia a marinha. Assume depois o comando de uma vedeta. É este quem vem a matar Cabral. UMA ESTRATÉGIA GLOBAL -'Podemos ter uma ideia exacta de uma manobra diabólica do imperialismo contra a Revolução da Guiné-Bissau e das ilhas de Cabo Verde, um empreendimento criminoso que não visava apenas matar o combatente Amilcar Cabral, mas que tinha objectivos mais profundos, com consequéncias políticas inestimáveis. Posso mesmo' dizer que esta manobra não visava unicamente a Guiné-Bissau e as ilhas de, Cabo Verde, mas uma estratégia global tendia a consolidar a investida imperialista eqn ,Africa. -Mas esta manobra malogrou-se completamente. Devemos antes de tudo, como africanos, render uma homenagem à Revolução Guineense e ao Presidente S,ékou Touré, pelo conjunto de medidas que imediatamente tomou paa poder esmagar a acção perpetrada pelos imperialistas portugueses. Devemos dizer também que a nível de frenite, a luta não tó contínua, mas que após o* final desta semana, intensificou-se consideravelmente.> (M. Mohamed Benyahia, enviado especial do presidente Boumediene às exéquias de Amilcar Cabral.) OS TRÊS GRUPOS DA CONSPIRAÇAO Três grupos, a níveis diferentes, participaram na execução do -complotE: 9 O primeiro grupo era composto por antigos militantes do periodo pré-revolucionário do PAIGC, recrutados pelos serviços secretos portugueses em Bissau. O seu líder era Rafael Barbosa antigo presidente do PAIGC. O seu principal executante era Mamado.p Touré (Momo). *, O segundo grupo compreendia elementos do PAIGC que viviam em Conakry, os quais, corrompidos ou esmorecidos pela guerra tinham-se tornado presas fáceis para os recrutadores dos agentes portugueses. Entre eles: o assas.sino de Cabral, Inocência Kani, N'Diaye, Tomás, Soares da Gama, e Nabonia, etc. O terceiro grupo compreendia os especialistas indígenas 'em contra-guerrilha, formados nos melhores centros da NATO, e que se infiltraram no PAIGC como «desertores do exército colonial». PRMEIRAS TENTATIVAS O «complot» de 20 de Janeiro, que viria a custar a vida a Amilcar Cabral, não foi o primeiro organizado pelos serviços secretos portugueses contra o secretáriogeral do PAIGC. Vários outros o precederam, mas a vigilância dos serviços de segurança do Partido tinha permitido desmascará - 'os sempre a tempo. Antes de 20 de Janeiro, Cabral tinha sido poupado à morte num atentado à bazuca, numa das suas passagens por Dakar. Se esta tentativa não se tivesse gorado, o plano dos conspiradores, visando liquidar a actual direcção do PAIGC, não se teria modificado. A sua execução seria apenas antecipada.:. Sekou Tour6: «Esmagijuemos as pontas de lança do ImperIalismo em Africa» Para ser claro o imperialismo é frio, lógico, racional, absolutamente coerente na defesa dos seus interesses próprios os quais se resuinem na pilhagem e violação dos povos. Face a esse imperialismo, como reage a África? Ela ,está dividida: Primeiramente o imperialismo tinha em Africa numerosas pontas de lança, tais, como a administração colonial fascista e racista da África do Sul, Rdé_sia ecolónias portuguesas... Em seguida, o imperialismo conseguiu «manbrar certos governos africanos e bloquear os seus povos na realização da respectiva so, berania, na disposição livre dos recursos naturais, no exercício das suas responsabilidades com vista ao futuro. Incontestavelmente o imperialismo conseguiu encaminhar o neo-colonialismo para os nossos países já independentes mas 'não soberanos nem responsáveis UMA NOVA CATEGORIA. DE HOMEN' Daqui res,l a que os governos aesses países, objectivamente Lie comportam como aliados do imperialismo... Mas é igualmente justo que aqui, tal'c<,,no no caso dos países ainda sob dominação colonial, os povos não restaram inactivos, e que, sem a acção várias desses governos neo-colonialistas, reconsideram Já seriamente a sua posição... Enfim, devemos observar que em -África, o imperialismo tenta criar uma 5." colund em todos os países que escapam à sua. dominação. Tomemos como , exemplo o caso da República da Guiné: ai o imperialismo tentou destruir o regime popular guineense pela acção conjunta da sua 5.- coluna e dos bandidos e mercenários de todas as raças que interferiram na repelente manobra de agressão militar contra nós, a 22, 23 e 24 de Novembro .de 1970 em Conakry e a. 25 e 26 de Novembro de 1970 em Kongara e Gaoual. Assim se apresenta a África vitima da sua divisão, uma África que nalguns dos seus territórios faz o jogo do imperialismo através de alianças condenáveis, mas também, uma África cujos povos cada vez mais conscientes e determinados, se comprometem ro luta decisivr contra o imperialismo e todos os seus lacaios.. já que <a luta de liberto-' ção não é Uma tarefa fácil, à medida que as dificuldades vão surgindo, nós temos que fazer face a uma nova categoria de homens: os desertores... Vindos do campo inimigo inúmeros desertores se juntam a nós. Podemos agrupálos em duas categorias: a) Os que por ideal ou coplvicção, por terem tomado consciência de que a causa do colonialista não é justa nem nobre, seguem a voz da razão e o sentido da " História. b) Os que fingem, os verdadeiroý camaleões, os agentes do inimigo disfarçados de amigos. Como distingui-los, e qual a atitude a tomar em relaçao a eles? Assim se põe o problema. Primeiramente, convém esclarecer (e isto é justo) que aqueles que se juntam às nossas fileiras por livre opção, por posição política e ideológica não devem ser chamados desertores na acepção de traição, venda e desonra que geralmente esse termo comporta. Esta categoria de homens abandonou uma causa injusta/,a do colonizador, para abraçar uma causa historicamente justa, a do colonizado. Estes homens devem ser plenamente integrados e associados ao nobre e justo combate pela libertação do povo. Outros há, porém, que abraçando aparentemente a causa justa, estão totalmente a soldo do inimigo. Eles são o verme que penetra no movimento para o devorar interiormente e desagregar. Esses têm um trabalho de térmite.. Se eles operarem em terreno ideologicamente sólido, depressa serão desmascarados e aniquilados; mas se porém, trabalharem em terreno virgem, terão oportunidade de fazer um bom trabalho para a inimigo que os utiliza. Daqui, a necessidade de minar o terreno contra o inimigo, educando política e ideologicamenteos homens, informando-os, mantendo-os em vigilância constante, endurecendo-os. Poderemos juntar a esta última categoria (os falsos desertores), aqueles antigos camaradas que começaram pol provar coragem na luta, conquistando por isso uma larga audiência no seio das massas, as quais continuam a acreditar neles mesmo depois destes homens se terem Vendido ao inimigo. Isto sucede quáhdo esses antigos camaradas são feitos prisioneiros pelo inimigo e sofrem uma lacvagem ao cérebro; ao serem libertados podem tornar-se agentes dos colonialistas, fazer o seu jogo, desmobilizar os militantes servindo-se da sua influência anterior. Deve exercer-se pois uma grande vigilância a estas duas categorias de homens. Não devem ser directa e li,vremente postos em contacto com o grosso das tropas, porque i podem cultivar insidiosamente um ódio e hostilidade ferozes, 'esultantes de um plano metodicamente dirigido pelo inimigo. Sendo um dos princípios sobre os quais se apoia a dominação «dividir para reinar», é frequente o imperialismo, por intesmédio destes indivíduos, convencer os combatentes provindos de certos etnias que compõem a nação, que ele está pronto a outorgar a independência ao seu grupo, se ele se separar das outras etnias. Geralmente estes elementos infiltrados servem-se do. estado de ignorância dos homens em presença, ignorância essa resultante da dominação colonial, que sabiamente a criou, organizou e manteve o obscuraAtismo ao nível do colonizador para melhor o explorar. POR UMA LINHA DE MASSAS ... Eis porque, paralelamente à luta de libertação e para evitar que aqueles que detêm as armas, as voltem contra o povo, é necessário empreender uma vasta e profunda campanha de educação e instrução, de luta contra o analfabetismo, escolhendo resolutamente a linha de massas e apoiando-se na sua cultura briginal, a cultura própria do Povo. Aqui, as línguas nacionais serão uma arma terrível contra o imperialismo, se ao serem restauradas, elas forem 'escritas e utilizadas para alfabetizar todo o povo. Um Movimento de Libertação que negligencie a. educação permanente das massas, a sua organização sobre bases ideológicas sólidas, avançará mais lentamente e dará mais oportunidades ao inimigo... SAMORA MACHEL: «0 verdadeiro sentido de um- ASSASSINIO IGNÓBIL» - Atingindo o PAIGC. atingindo a Guiné-Bissau, atingiriam não só a República da Guiné como também Moçambique e Angola. Destruindo o combate do PAIGC, isolariam em certa medida a Revolução Guineense e disporiam 'de mais electivos e material para o combate em Moçambique e Angola. Eis o verdadeiro sentido do ignóbil e odioso assassinato de Ailcar Cabral. Mas é a este nível também que devemos dizer que o inimigo foi abatido. O combate prossegue, o PAIGC de Amilcar Cabral mantém-se, a linha política mantém-se, em'ora não tenha sido um homem más um gigante, aquele que mataram. É importante para nós, tirarmos as nossas lições... Após cada derrota, o inimigo responde com novos métodos e novas tácticas. Énos necessário encontrar a fórmula para impedir as manobras inimigas, detectá-las a partir do embrião, e esmagá-las. Para isso, dispomos da arma decisiva: temos o povo do nosso lado; eles não têm nem jamais terão o povo... Não se trata de um combate -individual do homem metido consigo pr6prio, é um combate de massas, no qual nos entregamos à critica popular e à auto-critica, para que a sua força nos^ purifique, nos torne conscientes da via a seguir, nos encha de. ódio contra os valores negativos e a velha sociedade. Logo que descuramos este processo, por um lado a implantação de estruturas populares do poder político, económico e social, e por outro, o combate pela aquisição de uma nova mentalidade e de um novo comportamento, abrimos .as portas a sérias contradições no nosso seio. Surgirão descontentamentos: todos os que ambicionam explorar o povo, substituir o colonialismo, opor-se-nos-ão. Companheiros da primeira hora, que em princípio aceitam os fins populares da nossa luta, mas que, na prática, recusam o combate interno para modificar os seus valores e hábitos, afastar-se-ão de nós a ponto de desertar ou mesmo trair. Os sucessos atingidos no plano militar, a sensação de eminência da vitória, aceleram o processo de descontentamento do punhado de elementos frustrados nas suas ambições e gostos corrompidos. Assim se cria pois a abertura das nossas fileiras, por onde o inimigo colonialista e imperialista penetra. As forças reaccionárias, os elementos descontentes verão na aliança com o inimigo a salvaguarda dos seus interesses mesquinhos- e antipopulares: o inimigo, com esta aliança encontra opor- tunidade de ouro para perpetrar um golpe mortal à Revolução. O «CASO» DOS CABOVERDIANOS Comentando os resultados do inquérito realizado em Conakry por Aquino de Bragança, o grande sociólogo francês Jacques Vignes referiu o significado que a morte de Amilcar Cabral poderia ter tido se o movimento de libertação de _.Guiné-Bissau não tivesse já ultrapassado a fase da simples teoria e união em redor de um «líder». A certa altura, e referindo-se concretamente ao chamado «caso», dos caboverdianos no interior do PAIGC, escreve: A força de Amilcar Cabral foi precisamente ter conseguido impôr no mundo inteiro a imagem da força e coesão do seu movimento. Para todos os observadores de boa fé, não havia a mínima dúvida: o PAIGC era verdadeira e totalmente representativo do povo gu.neense. Ele era o único in-' terlocutor com o qual se podia contar para entabular negociaçoes que o conduzissem à independência da Guiné-Bissau. Fomentando o seu «complot», não é somente o secretário-geral do PAIGC que os portugueses procuravam eliminar. Eles procuram igualmente incutir nos espíritos esta certeza. E é por isso que é indispensável voltar-se sobre certos aspectos essenciais do -caso, porque convém tomar consciêncio do facto de que com a morte-de Cabral não se dissipa um grande mito; mas para lá de uma. acçao criminosa levada a cabo pox um punhado de homen#, é a realidade guineense tal como Cabral a descrevia que se afirma uma vez mais. Primeiramente os conjurados. , Aquino Bragança explica quem eles são, com se puderam pr em acção, nâc sem levantar algumas dúvidas, pois que vários de entre eles tinham provocado suficientes suspeitas para que se achasse necessário prendê-los o tempo necessário para instruir o seu processo e esclarecer o seu comportamento. Mas quem se admirará do "facto de existirem homens capazes de trair o movimento com o qual estão comprometidos? Quanto *mais longa, áspera e difícil é uma luta, mais ela, desgasta os que o suportam, É necessária uma força de carácter pouca comum para sustentar durante anos acções de guerrilha e acções 4 A'ritides Per eira, 49 anos, Secretário-Geral da PAIGC. DOSSIER GUINÉBISSAU PAGINA 37 clandestinas. Todos aqueles que participam em lutas de libertação sabemt-no perfeitamente. O inimigo também o sabe, aliás ele espera a mínima abertura que lhe possa permitir trazer para o seu campo um dos adversarios a fim de o utilizar em seguida. E quanto mais a luta se desenvolve, mais :iumenta o número de, partidáriòs, mais o sistema se torna vulnerável e sujeito a infiltrações de maus elemen. Um movimento de libertaçáo poderá recusar-se d' receber um desertor qUe se lhe apresente? Mas um Povo é um Povo. É rrecessário aceitá-lo com todos os seus componentes. Não se poderá reconhecer como sendo nossos apenas os heróis. Mas ao mesmo tempo, e apesar de todas as precauções tomadas, corre-se o risco de abrir. as portas à traição. Cabral sabia isto, assim como sabia que não era possível evitar de todo, este risco. Este guerrilheiro endurecido tinha um sentido de amizade e' um respeito pelo homem, que constituia ao mesmo tempo a sua força e a sua fraqueza. Aqueles que prepararam a sua morte sob a capa de lealdade sem limites, souberaim pcrleitamenie explorar essa fraqueza. E depois, há o famoso caso dos cabo-verdeanos, avivado pelas circunstâncias. Um velho caso. O arquipélago de Cabo Verde, situado ao largo. das costas da Guiné-Bissau é constituído por quinze ilhas de diferente importância numa superfície total de 4 930 km2 e tendo uma população de cerca de 200 000 pessoas, na maioria mestiços (65%), coabitando com n e g r o s (30%) e uma pequena minoria port.iguesa (5%). A este respeito convém referirmo-nos a um terrível mito: segundo ele, os caboverdeanos constituiriam uma verdadeira aristocracia no interior 'do império português em Africa. Na realidade, 90% dos habitantes das ilhas são rurais (por vezes semi - camponeses e semi- pescadores), com um nível de vida extremamente baixo: o que produzem é insuficiente para cobrir o conjunto das recessidqdes. A maior parte de entre eles são analfabetos. Porém, não é menos ver'dade que existe nas ilhas de Cabo Verde uma pequena camada social relativamerite privilegiada que o governo português utilizou frequentemente na qualidade de funcionários subalternos nas suas outras colõnias e em particular na Guiné-Bissau. Daqui advém uma certa tensão que apareceu entre as populações locais e estes «mestiços» abusivamente assimilados aos colonizadores. Era esta tensão étnica que Amílcar Cabral iria durante anos de incessante acção politicia, tentar fazer desaparecer, tal como faz.a para reduzir as oposições tribais cuidadosamente fomentadas pela adinistração portuguesa -no seio do território da Guiné. O SENSO POLITICO DE SÉXOU TOURÉ Filho de pai cabo-verdeano e de mãe guineense Cabral tinha a posição ideal para assegurar a unidade. Uma das principais' directiv as do iseu combate foi recusar sempre quadros racistas que se preocupavam em manter o baixo nível das populações. É facto que talvez pela sua origem e popularidade conseguiu que caboverdeanos e guineenses independentemente de todas as particularidades étnicas, vivessem em conjunto na luta dirigida pelo PAIGC. Para Cabral, era inconcebível abandonar as populações de Cabo Verde à voracidade portuguesa. Não se transige perante a unidade de um povo. Aceitar a independência da Guiné sem as ilhas seria menosprezar o trabalho de decénios pela libertação dos habitantes dessas ilhas. O autor destas linhas conserva uma recordação preciosa da entrevista que teve . em 1964 em Argel com Amilcar Cabral sobre este problema. Nessa altura o secretário geral do PAIGC contava já poder levar um dia a luta às próprias ilhas, onde clandestinamente o Partido estava já solidamente organizado. Mas ele sabia como essa etapa seria difícil de realizar dada a situação geográfica do arquipélago, a falta de água, a relativa exiguidade das terras, e a concentração das populações nalguns pontos. Presentemente em 1973, já que no continente a maior pcrte do Pais estava já libertada, tornava-se ainda mais possível encarar este' género de acção; eis uma razao mais que suficiente7 para que Lisboa interviesse, tentusse reacender a questão entre guineenses de Cabo Verde e guíneenses do continente, incitando alguns elementos à traição, com a promessa de uma possível independência, isto na condição de se eliminar Cabral, designado como obstáculo para a negociação, e de se renunciar ao arquipélago, uma base estratégica que deveria fosse como fosse permanecer território portuguêo. Um belo programa na verdade. Desmantelar o PAIGC num dos aspectos mais positivos da sua. ideologia, o aspecto da Unidade Popular, e ao mesmo tempo liquidar outro aspecto importante d e s t a ideologia, queé o seu conteúdo fundamentalmente socialista, dizendo aos traidores que seriam instalados nas poltronas da neo-burguesia futura. Desgraçados! Eles já se imaginam ministros ou altos funcionários no contexto de uma independência outorgada. Ao diabo com Çabo A organização que imediataýmente antecede a formação do Partidio Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde foi um movýimento clandestino constituído em Bissau em 1953. Fundado por um grupo de intelectuais que estudara em Portugal, esse movimento auto-intitulara-se Movimento para a Independência Nacional da Guiné (MING) e defendia teses de teor vincadamente nacionalista. Em breve se concluía pela sua ineficácia prática. Tratava-se de um grupo divorciado das massas e enfronhado em meras declarações de princípio sem qualquer relação com a realidade concreta do território. Em 1956, descontentes com o rumo que as suas ideias iniciais afinal traduPÁGINA 39 Numa zona libertada na parte oriental do territóro "da Guiné-Bissau, reuniu-se, de 18 a 22 de Julho de 1973,. o 2.' Congresso do PA.I.G.C., com a presença dos seus principais dirigentes, 'a fim de ser criado um. secretariado permanente do Partido. À frente de duas bandeiras do P.A.I.G.C. e da fo¿o de Amílcar Cabral (secretáriogeral, assassinado em 21-1-73) Verde. ao diabo com a Revolução1 Eles querem instalar-se enfim nos palacetes de Bissau para disfrutar dos múltiplos privilégios que certamente não irão faltar! Não terão eles tido consciência da fragilidade disto tudo? Melhor ainda: tinham sido enviados, o golpe estava dado; indo falar a Sékou Touré, estavam convencidos, aliás insensatamente, que este cobriria a sua traição reconhecendo-os como os novos dirigentes do PAIGC e deixando assim que Lisboa instalasse quase publicamente a sua antena em Conakry. Acreditariam eles, que a' sua manobra tinha a menor hip6tese de sucesso? Que &o Presidente da Guiné fecharia os olhos abandonando os dirigentes legítimos do Movimento? A este Movimento nunca ele tinha negado a sua ajuda no sentido de não sacrificar as esperanças dos homens e das mulheres da Guiné - Bissau. Assim sendo os traidores provaram um desconhecimento total da verdadeira personalidade de Sékou, e da acuidade do seu senso político; se não é possível fazer-lhes esta acusação que procuravam eles apresentando-se a meio da noite na Presidência da República? Tudo poderia ter acontecido se Sékou não provasse a sua vigilândia costumeira retendo os seus interlocutores, reunindo imediatamente uma verdadeira comissão de inquérito composta pelos mais acreditados observadores internacionais presentes em Conakry, tomando todas as medidas úteis para bloquear a situação, prender os culpados e perseguir os fugitivos. Uma coisa é incontestavelmente certa: uma vez mais, o governo português não atingiu os seus objectivos. A sua conspiração foi desmantelada os seus complots esmagados; porém, tanto na Guiné Conakry como na Guiné-Bissau os que lutam pela liberdade não viram as suas posições em perigo. Acontece que eles perderam A. Cabral, que todos nó- o perdemos, e ai está uma coisa de que aqueles quc o conheceram se lamentam, e não perdoarão nunca aos que directa ou indirectamente foram os au:or-s do seu assassinato. Jacques Vignes ziam, parte do mesmo grupo de intelectuais resolve tundar um novo partido para lutar contra o colonialismo e pela independência. Agora com o apoio de artesãos e trabalhadores manuais de Bissau fundam o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) que destemidamente se lança num trabalho de politização dos operários urbanos Depois da supressão sangrenta das greves que desencadeara em Julho e Agosto de 1959 e do massacre de Pdjiguiti, o partido reune secretamente em Bissau, em Setembro, e fáz a sua auto - critica. Amilcar Cabral, tirando a. conclusão do que fora discutido, afirma que «as áreas urbanas eram da fortalezas do colo-. nialismo onde as demonstrações e exigências eram nao só ineficazes, mas ofereciam um alvo fácil à repressao e destruiçao pelas autoridades coloniais». A organização política das vastas massas camponesas do território passou assim a ser o seu objectivo imediato. Muito embora, o s e u quartel general clandestino continuou a ser em Bissau onde, secretamente, o número de aderentes operários continuava a aumentar. Em Julho de 1961 o PAIGC publica a primeira exortação à unidade* de todas as organizaç§es anti-colonialistas da G u i n é. Entretanto, de um mero corpo de teses nacionalistas africanas, a ideologia do partido com6çava a tornajse nitidamente revolucionária. Isto ia contra os intereses de algumas outras dessas organizações, como a Frente Unida de Libertação da Guiné e Cabo Verde (FUIL) que não aceitou esse apelo à unidade e, numa acção perfeitamente aventureirista, se 1 a n. ç a numa acção armada na noite, de 17 para 18 de Julho de 1961, com base em Dakar e contra São Domingos. Os ataques são sustidos pelo próprio, governo do Senegal e a FUL deixa de desempenhar qualquer nova actiVidade de vulto. Em 3 de Agosto de 1931, o PAIGC lança-se na acção directa, numa primeira fase que inclui o apelo às deserções, à recusa do pagamento de impostos, ã sabotagem ' seleccionada. Em Janeiro de 1963, são lançadas as primeiras acções 'rmodas, no Sul. Um dos mais notáveis fundadores e primeiro secretário - geral do PAIGC, Amilcar Cabral era caboverdiano por nascimento e qUineense por parte do pai. Formara-se em agronomia na Universidade de Lisboa tendo trabalhado como técnico em Angola e na Gu iné. Assassinado em vésperas do seu partido declarar a independência da Guiné-Bissau foi substi-: tuido por Vasco Cabral, seu irmão, e por Aristides Pereira na liderança do PAICGC. Molas a prova dos nove Resistentes. Fabricadas por medida. As molas de folha Molaço são a resposta adequada Fa.ri..das a exigências especiais. * po encomda São duma resistência fora de vulgar a medida devido ã sua extensão e distensão. da sua exigência, Maleãveis e flexiveis. . da sua necessidade. à prova de choque. A prova dos nove! h-tLa=o, Lda, Apoadsnv!Caixa Postal 4183 Lda. Lourenço Marques (DAFRICA 73-69 PÁGINA 40 DOCU E SE;SASOAL LISTA OFICIAL DiSIIBIUDOS POlITiCO DOS "TACHOS" ,PELO, PODER * AS MAIS DESTACADAS FIGURAS DO ANTIGO REGIME NA ENGRENAGEM DA CORRUPÇÃO * VÁRIOS «PATRIOTAS» DE MOÇAMBIQUE NA LISTA -DO nosso enviado eçpecial RUI CARIAXANA O documento que publicamos a seguir é uma lista oficial dos «delegados do Governo» e «administradores por parte do Estado» junto das maiores empresas privadas, públicas e semi-públicas portuguesas. A sua simples leitura dispensa comentários: os favores do poder político do antigo regime, através dos quais ele conspguia as mais «sinceras» adesões, revela-se inteirinho aos nossos olhos, confirmando aquele dito segundo o qual em Portugal o que era bom era ser «ex-ministro». A maior parte destes cargos, cujos ocupantes inais não faziam do que receber o cheque ao fim do mês, eram pagos ao nível da centena de contos, a 1 g u n s mesmo mais. Num pais onde o próprio Governo brandia o «slogan» de sermos «um pais pobre» é uma pesada ironia. Eis, por ordem alfabética das empresas, a lista dos favores políticos do regime sala'arista, com Os nomes dos f( ,izes contemplados: ADMINISTRADORES EMPRESAS DELEGADOS DO GOVERNO POR PARTE DO ESTADO - Amoníaco Portuguès -Aquitaine de Moçambique-Comp." de Petróleos, SARL. - Banco de Angola - Banco de Fomento Nacional --Banco Nacional Ultramarino - Banco de Portugal -Beral Tin e WolFram (Portugal), SARL .-Cabinda Gulf Oil Company Eng. N. Azevedo Coutinho Com. O. Baptista Borges Dr. F. Alves Machado (ex-Secretário de Estado do Comércio) Dr. M. Tarujo de Almeida (ex-Subsecretário Estado Orçamento) Eng.~ J. Torres Campos Dr. Nuno Morgado Dr. Mário de Oliveira (ex-ministro de Estado Adjunto na P. Conselho) Prof. Eng."" Daniel Barbosa .(ex-ministro Ind. e Eng.) Dr. M. Santos Loureiro Dr. L. Pereira Coutinho Dr. J. Dias Rosas (exMinist. Econ. e Finan,) Prof. Nuno Espinhosa Gomes da Silva Prof. Dr. A. Pinto Barbosa (ex-Minist. Finanças) Dr. Jacinto Nunes (ex.Subsect. Est. Orçamento) Coronel Themudo Barata Eng.- F. Ferreira Martins m ------------EMPRESAS DEEADSD GOVERNO ADMINISTRAD)ORES DELEGAOS DoPOR PARTE 1>O ESTADO - Caixa Geral de Depósitos Créditb e Previdência - Combustíveis Industriais e Domésticos, SARL - CIDLA -Companhia de Cabinda -Comp." Caminhos de Ferro de Benguela - Comp., Caminhos de Ferro Portugueses - Comp." Carnes de Angola - CON. CAR - Comp., Carris de Ferro de Lisboa - Comp., Celulosa Ultram. Portug. - Comp.« Colonial de Navegação - Comp., Diamantes de Angola - Comp., Diamantes do Oeste de Angola, SARL - OESTEDIAM - Comp.* Eléctriça Alentejo e Aigarve - Comp., Eléctrica das Beiras - Comp., de Electricidade de Macau - Comp.ý Fosfatos de Angola, SARL - Comp.^ Geral Crédito Predial Portuguás - Comp., Hidroeléctrica do Norte de Portugal - CHENOP - Comp.. Manganés de Angola -Comp., Minas de Ouro de Penedonó Comp., Mineira do Lobito - Comp., de Moçambique Comp." Nacional de Diamantes, -SARL - DLNACO Eng." A. Costa Macedo Dr. A. Ribeiro da Canha Eng., A. Gonçalves Rato Cont. Almit A. Morgado Belo Dr. J. A. Teixeira Canedo D. Hen. Carvalho Costa Dr. Jorge da Fonseca Jorge Dr. A. d'Amaral Marques Lopes Dr. A. J. Mota Veiga (ex-Minist Esí Adjt na P. Conselho) Prof. Dr. Pires Cardoso (ex-minis Interior) Dr. José Nascimento Neves Dr. José Beleza (ex.Subs. Est. do Or çamento) Eng:, Vasco Leônidas (çx-Secret. Est Agricultura) Dr. Aníbal Oliveira Dr. A. Franco Nogueira (ex-Mmnist Neg. lstr.) Gen. A. Andrade e Silva (ex.Minist Exército) Dr. F. Neto de Carvalho (ex-Ministr, Saúde) Cor. F. Oliveira Valença Eng., Manuel F Maia dpo Vale Eng., Júlio Mendes Gameiro ConL Alm. J. Henrique Jorge Cont. AIm. V. Lopes Alves (ex.Minist. Ultramar) Dr. J. Calvet Magalhães Manuel Guilherme Veiga Com. Joaquim Morais Alves Dr. Pais d'Assunção Dr. Correia Montenegro Coronel F. da Costa Freitas Dr. J. V. Paulo Rodrigues (ex-SUbs Est. da P. C.) Dr. Joaquim Manuel Manso Mendonç1 Eng. Pedro de Pessoa de Carvalho Dr. Félix Bernardfno Freitas Veloso Dr. José Francisco Rodrigues Cap. Frag. Eduárdo Serra Brandão Dr. L. Góis Fernandes Figueira Insp. Paulo Paixão Barradas PÁGINA 43 DEEGDO DOGVEN ADMINISRADOIWS EM .E AO PRESGVERN POR PARTE DO ESTADO *-Comp." Nacional de Navegação -Comp.* Nacional Petroquímica - Comp., de Pesca e Congelação de Cabo Verde - CONGEL - Comp.* Petróleos de Angola PETRANGOL - Companhias de Petróleos de Moçambique- ANMERCOSA -Comp., dos Petróleos de Timor Cont° Alm. A. Monteiro de Barros Eng., J. Canto Moniz Eng.<, Décio Teixeira dos Santos Eng.' Luls Anibal Sá Fernandes Cap. Frag. José Soares de Oliveira hcar Diogo de Carvalho E ADMINISTRAD)ORES EMPRESAS, DELEGADOS DO ÜAOVERNOP A POR PARTE DO ESTADO - Cop. ipelne oçamicaa d - Comp., Pipeline Moçambicana da Rodésia - Comp," Portuguesa de Celulose -Comp.* Portuguesa de Electricidade - Comp., Portuguesa de Rádio Mar. coni - Comp., Pozolana de Cabo Verde - Comp., Reunidas Gás e Electricidade - Comp., Seguros de Crédito - Comp." Ultramarina de Diamantes - Comp., da Zambézia - Consórcio Mineiro de Diamantes - CONDIAMA Distribuidora de, Combustíveis, MO. ÇACOR -Empresa Carborífica do Douro, SARL -Empresa. Hidroeléctrica Alto Alen. tejo - Empresa Hidroeléctrica do Coura - Empresa Hidroeléctrica Serra da Estrela - Empresa Insular de Electricidade - Empresa Mineira do Alto Ligonha - Esso Exploration Guiné, -Inc. - sso Exploration and Production Portugal; lnc. - Hidroeléctrica Alto da Catumbela -Hidrocarbonetos de S. Tomé e Príncipe - HIDROCARBO RDOES - Internacional de Exploração de Diamantes, SARL - DIVERSA -Metropolitano de Lisboa - Mines et Industries, S. A. -Mozambiqpe Amoco Ol Comp, - Mozambique Gulf Oi Company -Nitratos de Portugal Dr. Serafim Silveira Júnior Gen. Arnaldo Schultz J. de Aguiar Monteiro Eng." Antõnio Costa Macedo Dr. Luis Pereira Coutinho Eng.1' Filipe Paiva Brandão Eng.« José Jorge de Pinho Eng.° Dinis Agostinho Silva Dr. A. Osõrlo Vaz Eng.o Luís Moura Vicente Brig. Vitor Novais Gonçalves Eng.* António Costa Macedo Eng.o Fernando Soares Seixas Eng.o Fernando Camilo Teixeira Dr. Mário Fonseca Roseira Gen. Horácio Sã Viana Rebelo (ex. -Ministro da Defesa Nacional) Eng.o Ivo Gonçalves Dr. J. Oliveira Campos Eng.o Manuel Amaro da Costa (exSub, do Fomento Ultramarino, das Obras Públicas e Sec. da Indústria) Dr. Pedro Reis Prof. Rodrigues Queiró Dr. José Manuel da Costa Eng.o José Diogo d'Albuquerque d'Orey Dr. Antônio Alves Caetano Dr. Luis Cantos Fernandes Dr. António Monteiro Pais Dr. José Carlos Moreira Eng., Mário Rodrigues Carvalho Coronel Rebocho Vaz Eng., 'José Aguiar Monteiro Comp. Portuguesa de Electricidade Gen. Carlos Nascimento e Silva Dr. António Medeiros Patrício Dr. Raul da Silva e Cunha Araúio Eng., Jorge Júlio Mestre Insp. Sup. Jeremias Godinho Dr. António Augusto de Almeida Cap. José Diogo Ferreira Martins PÁGINA 45 -EMPRESAS - Pirites. Alentejanas, SARL - Radiotelevisão Portuguesa -SACOREX - Soe. Cone. Exp. de Petróleos em Portugal - Sacor Marítima - Sheli Prospex Portuguesa, SARL - Siderurgia Nacional, SARL - Soe. Agrícola Pátria e Trabalho - Soe. Algodoeira de Fomento Colo. nial - Soe. Anónima Concessionária da Refinação~dos Petróleos em Portugal, SARL Soc. Anônima Electra deI Lima - Soe. dos Armadores de Pesca em Angola - Sociedade dos Armadores de Pesca de Moçambique - ARPEM Soe. Comercial e Industrial de Moagem - SOCIMOL Soe. Desenvolvimento e Turismo da Ilha do Sal -.Sociedade Eléctrica do Oeste Sociedade Estoril - Sociedade Hidroeléctrica do ftévuè Sociedade Marítima de Transportes Frigoríficos - TRANSFRIO - Sociedade d4 Estudos e Financia. mentos Uítramarinos - SONEFE Sociedade Nacional de PetróleosSONAP -.Sociedade Phillips Petroleum Com. pany Portugal --SOe. Portuguesa de Exploração de Petróleos - ANGOL - Soc Portuguesa de Lapidação de Diamantes - Sociedade Portuguesa -de Navios Cisternas TRANSNAVI - Soe. Portuguesa ^de Navios Tanques SOPONATA - Soe. Portuguesa Petroquímica - Soe. Portuguesa de Refinação de Petróleos - PETROSUL -,. Soe. Reunidas de Fabricações Metá. licas - SOREFAME -TOTAL-Compagnie Mricaine de Petroles -Transportes Aéreos PortugusesTAP -Trans.Zambézia Railway Comp. - Turistela - Turismo da Serra da Estrela, SARL -União Eléctrica Portuguesa. -UEP DELEGADOS DO GOVERNO Eng., António Costa Macedo Eng.o Antônio Costa Macedo Dr. Nuno Cabral Basto Eng." Pedro Cabral Moncada Eng." Antônio Costa Macedo Dr. Carlos Costa Cont. Alm. Joaquim Carvalho Com. Antônio Santos Gaspar Eng.?.. Ricardo Ferreira Martins Dr. Clemente Iogeiro (ex-Ministro da Saúde) Dr. Eduardo Santos Silva Coronel Armando Paschoa Dr. João C. L. C. de Freitas Cruz Cap. Frag. Rui do Carmo Fernandes Dr. Fezas Vital Gen. Kaulza Oliveira de Arriaga (ex. -Sec. de Estado da Aeronáutica) Gen. José Augusto Cõsta Álmeida Cap, Frag. Rui do Carmo Fernandes Cap. Frag. Alfredo de Oliveira Eng.o António Costa Macedo Gen. Venánclo Deslandes Eng.- F. Soares Carneiro ADMINISTRAD)ORES POR PARTE DO ESTADO Eng., Francisco Limpo de Faria Dr. Ramiro Valadão Dr. Jaime Loureiro Dr. Vasco Nunes da Silva Eng., Eduardo Gomes Cardoso Luis Franco Ricardo Dr. José Araújo Novo Prof. João Costa Leite (Lumbrales) Eng., Duarte Freitas do Amara] Dr. Eduardo Correia Guedes Dr. António da Cruz Barreto Dr. Manuel Ramos de Sousa Dr. Ramiro Alves Figueira Eng.o AlVaro Roquele Prof. Luis Teixeira Pinto Dr. Alvaro Henrique Go'uvcia e Meio Eng." Celso Câmara Pestana Gen. David dos Santos Eng., Jorge Meio Vieira Eng., José da Cruz Morais Dr. Armando Elisio Morais Rocha Prof. Eng." António Barreto Dr. Antonio Pires de Lima Dr. V. Braga 'Paivão Eng." José Canto Moniz (ex:Minist Comunicações) Eng., J. M Cardoso Ferreira Dr. José Carlos Ferreira Eng., Fernando Marques Videira Dr. Jorge Feiner da Costa Dr. Joaquim Correia da Silva Dr. Manuel Cruz Alvura Dr. Mário Rogeiro Dr. Mário Rogeiro PAGINA 40 DESP RIF{ . VAMOS REVER A Agora sim, agora está em curso (ainda que muito lentamente) a criação de condições indispensáveis para o estudo ,da revisão do Diploma Legislativo n.o 3043, de 19 de -Novembro de 1970 que, como se sabe, regula as actividades desportivas em Moçambique. Que não todas, pois uma tal mocidade Portuguesa (agora extinta) e o Instituto do Trabalho gozam de uma certa autonomia (toda, não é?). Acerca de tão importante matéria temos por necessário ordenar todo relativo àquele apenas por faze portanto, consti de ensinamentos por se intuir d espírito burguê que tem domina< de Moçambique pará «élites» ou espectadoras Sumariamente de enunciar a condições que de momento es rápido andame ções, caminho a ,REGULAMENTAÇà O o processo tes das relormus de base. assunto, não Assim, evidentemente que er história e, sem embargo de outras sutuir recolha gestões julgadas mais pertis, mas ainda nentes, e visando alcançar lo mesmo o os primórdios para se inis e sectário ciar o estudo da revisão do lo o desporto já referido diploma, será de: talhando-o a) Extinta que foi a Mopraticantes cidade Portuguesa (masculina e feminina - era esquigostaríamos sita esta separação), como Igumas das se impunha, deve igualmennos pareceu te ser dissolvida a Liga dos star a pedir Antigos Graduados da M. P. nto e solu- (também com empenhamenencetar an- tos no desporto). DAS ACTIVI[ b) Integrar a actividad desportiva do Instituto d Trabalho nas associaçõE desportivas. c) Anular imediatamente prática do disposto, no art 51.' (e seus parágrafos), d Diploma Legislativo n.' 304 de 19 de Novembro de 1971 O teor daquele artigo é seguinte: «Art.' 51.0 - 1. As -ele ções para os corpos gerei tes serão sempre feitas p< escrutínio secreto. Em Moçambique, em matéria desportiva, tudo na mesma como alesma que o mesmo será dizer: tudo como dantes quartel general em Abrantes. Situação que atesta bem as raizes aqui lançadas pela filosofia do regime político agora deposto. De facto na dita actividade desportiva nada aconteceu. Na imprensa -s, mesmos títulos, o mesmo objectivo de servir o processo a alienatrio da competição com absoluto desprezo por, um desporto sem trofétis nem desejos de vas gl6rias. A mesma preocupação mútua, o, mesmo veículo de satisfação de vaidades. Na rádio Idem, com o processo envolvido nas exigências do mercantilismo com a agravante de nem sempre haver a preocupação de qualidade. Tudo está parado neste feudo. Não há, ainda, frestas para o arejamento. Veja-se: No dia 3 do corrente mês de Maio um dos matutinos da capital moçambicana e do seu capital - publicava na página desportiva um anúncio do Instituto do Trabalho respeitante a um tal desporto corporativo. Mais: Que saibamos- nenhum clube ou associação se lembrou que os (seus) corpos gerentes em exercício não foram livremente eleitos dado que os nomes votados nas assembleias estavam sujeitos à aceitação ou não do G.G. (art.° 51.' do D.L. 3043, de 9.11.70). Entretanto se não se passou coisa alguma no sentido ou de tendência progressista, surgiu com um certa surpresa (pelo men para nós) um comunicac da Associação Provincial ( de Futebol de Moçambiqu dando nota do seguinte: «A Direcção da Associ< ção Provincial de Futebol d Moçambique, perfeitamen identificada com o program da Junta de Salvação Naci nal e dados os condicon lismos que presidiram à su escolha, põe à disposiç8 das Exmas. Associaçõ s Di: tritais, como sócios elÉitore os lugares para que forcu designados. 'e i'~ .&.,.~ #$i544~~,~ K~ - ,. . ~7; ~, ~.. 5 DESPORTIVAS EM MOÇAMBISUE '2. As eleições estão sujeitas a homologação do Governador-Geral eý só prodjizem efeito depois, de comunicada pelo C.P.E.F. ou suas delegações a declaração da homologação haver sido concedida. 3. A competência para conceder a homologação... 4. Os indivíduos eleitos... d) Dissolver quaisquer comissões administrativas que porventura possam estar a gerir os destinos de clubes ou associações, quer elas tenham sido impostas quer tenham apenas sido sancionadas (o caso dos, actuais corpos gerentes da Associação Provincial de Futebol de Moçambique). e) Considerando que a existência do já citado art.' 51.° do DL. n, 3043, de 19-11970 terá impedido òu pode impedir a livre escolha de dirigentes desportivos, ficam os clubes e associações em posição, se assim o entenderem, de proceder a novas eleições para a totalidade dos corpos gerentes ou simplesmente para algum(s) lugar(es). f) Actualizar a nomenclatura de algumas associações e campeonatos para, pelo menos,._evitar o ridículo de, ,por exemplo, termos «campeonatos provinciais do Estado.» Parecem-nos ser estas, em principio, as Condições necessárias para se começar o estudo para a revisão daquele documento. Obviamente, e em nosso entender, alguns dos desportistas interessados neste PAGINA 47 tão importante caso lerao de reflectir em termos de não enjeitar a quota parte de responsabilidade do passado. Estamos a recordar algumas das posições' algo demagógicas então assumidas que remeteram o caso para um beco sem salda (no qual entraram com alguma ingenuidade uns quantos que aceitaram constituiremse em comissões para a, então pedida revisão). Claro, ninguém fez qualquer revisão e também, de então para cá, os cpntestatários silenciaram o assunto. O tal «remédio santo» que, como em tempo dissemos, -o C.P.E.F., e cremos que a Secretaria Provincial de Educação, aplicaram democratican~nte e com êxito (para si). Como então dissemos por várias vezes - na imprensa e na rádio - o caminho a seguir primeiramente teria sido o pugnar-se pela realização e pelo cumprimento, do que ali - no D. L. 3043 era oferecido e nunca foi dado ou inteiramente satisfeito. Alcançados os direitos ali conferidos partir-se-ia para uma escalada de contestações visando novas metas. Nada se fez se não perder tempo numa prova inequívoca do processo que movimenta o desporto em Moçambique - um desporto de 9' para «élites» na maioria dos casos. De resto as não «élites» que a ele têm tido acesso, por regra funcionair apenas, e só, como engrenagem da maquineta que entretem uma minoria desprezando as necessidades gimnodesportivas da maioria das gentes moçambicanas. E aqui fica mais uma achega para a elaboração de uma agenda de trabalhos para reformar o emburguesado desporto moçambicano. Agostinho de Campos EM DESPORTO TUO NA MESMA A DirecçãoTemos de confessar, na verdade, não perceber o porquê desta . decisão, abstraindo, naturalmente, o facto de não duvidarmos dos sentimentos da APFM para com a JSN. Lá que os dirigentes da APFM .ponham agora os seus cargos à disposição dos filiados da mesma (as .associações distritais) é uma coisa; agora que aleguem o facto de terem sido eleitos com condicionalismos não nos parece procedimento correcto por estas razões: Os actuais dirigentes do futebol de Moçambique tiveram perfeita consciência dos «condicionalismos que presidiram à sua escolha», no entanto não só aceitaram voluntariamente desempenhar os cargos como ainda' aceitaram livremente o sancionamento superior de uma eleição (a sua) com condicionalismo. E mais, logo se dedicaram ao trabalho, etc. Não percebemos pois tão singular atitude. Qual o fim? Bem, deixemos este equívoco e passemos a outros casos e situações que atestam a paragem e uma certa habilidade do desporto local em querer manter um «statu quo» que apenas interessa a uma minoria de moçambicanos. Mas continuemos. Por aqui e por ali subsistem nomenclaturas ao serviço do desporto que s6 recordam um passado (ainda recente) que não deixou saudades. De resto,* bastaria a circunstância de esse passado de quase meio século apenas nos ter legado um dsporto mdilocr. e um ospectáculo desportivo enganador para hoje constituir afronta a existência de umas certas designações e títulos em instalações desportivas e provas, até porque elas foram produto de. circunstâncias do momento de então e nunca como verdadeiro tributo de homenagem a serviços prestados ao desporto pelas individualidades distinguidas. Muito há a fazer em desporto. UM BAPTISMO CERTO E NA HORA "ESTADIO DOS FERROVIARIOS" Logo que triunfante, em 25 de Abril findo, o Movimento das Forças Armadas, em Portugal, seguiu-se, loglaamente, o desmantelar de quanto constituia pontos de apoio do quase cinquenten" o e odiado rogime. Também logo foi gahando vulto a ideia de ríformar certos top6nimos. Lá e c& Prova. velmente óm 4.mais paraelas. Não, não havia de ser. Ora daqui já nos apercebemos que logo ganhou vulto o pensaménta de rebaptizar o chamado «Está-dio Salazar»; na verdade o «Estádio do Ferroviário», na Machava (perto de L. Marques). A ideia vai, logicamente, ganhando vulto, e terá o seu breve andamento ou cairá de madura pois cada vez, cada minuto tem menos sentido aquela nomenclatura. Entretanto apontam-se nomes para o verdadeiro baptismo do Estádio. Quanto a nós só vimos um que possa congregar agora, amanhã e sempre os ddsportistas em geral - Estúdio dos Ferroviários. props toi ...Dais algum.a coisa Lamentamos a não saída na semana passada, destc já habitual secção desporti va, até pelo motivo de E poder supor que a dita ac(. vidade ( desportiva ) nc actual conjuntura, perdeu c seu interesse,' nada signili. ca, não tem qualquer expressão. O que nem é verdade pois no desporto subsiste todo um esquiema sei. horizontes por dpor demáiadc burgués e sectarista. Aindc se anunciam tacontecimento (na imprensa e na rádio) para o «íEstádio Salazar» e mesmo actividades do desporto corporativ). O que terá acabado, por força das circunstâncias (e quem sabe se com algumas mágoas) foi aquela história ridicula e caricata do toma-a-taça. levaa-taça improvisos e subsidios. Mas muito bem, qui e agora queremos referir que fomos dos primeiros a Iamentar a não sciçda -do tempo-desportivo, não pelas razões atrás apontadas mas ainda por assim não termos podido cumprir o programa traçada para o concu so dos «Desportistas mais populares de Moçambique» (para os leitores desta revista). Reconheçamos porém ter sido um atraso que em nada alterou o processo de eleição e a verdade final, Assim, noutro lado, o leitor éncontrará os resultados da penúltima contagem feita sendo que, na próxima semana contaremos oferecer os resultados finais de um concurso que não foi conduzido - insistimos no pormenorde molde a tentar influenciar o leitor. Foi um concurso inteiramente livre. PÁGINA 49: OS LEITORES DO «TEMPO» ELEGERAM OS (SEUS) «MAIS POPULARES» 1oSF SIVEIDA E ISABEL SANTOS uma escolha livre e certa Feita a última contagem dos votos recebidos para a eleição dos praticantes de desporto mais populares de Moçambique - por parte MASCULINOS 1o- JOSE SILVEIRA atleta do Ferroviário 2.o - FERNANDO MOREIRA basquetebolista do Ferroviário 3- CARLOS SERRA nadador do Ferroviário dos leitores do, «Tempo» -, temos que se classificaram nos três primeiros lugares, nos ditos lugares de honra, os seguintes praticantes: FEMININOS 1._ ISABEL SANTOS atleta da Académica 2.0 - CLÓ BOTELHO DE MELO nadadora do D. L. M. 3.0 - CRISTINA PEREIRA nadadora do Ferroviário Aqui ficam pois os grandes vencedores desta votação dos nossos leitores José Silveira e Iscibel Santos foram considerados «OS MAIS» do desporto moçambicano. Os nossos parabés aos vencedores. Na próxima ediçáo contamos poder publicar a classificação final, revelando mais pormenores acerca deste concurso que, de certa maneira, se inseria numa tradição (embora deliberada e conscientemente a tivéssemos quebrado nalguns pormenores - o que ainda nos José Silveira, atleta do Ferroviário, o vencedor do nosso concurso parece ter valorizado mais os triunfos de José Silveira e Isabel Santos). Cremod dizer que, de futuro, ta: bém teremos de refundir este tipo de concurso muito embora, insistimos, já nos tenhamos antecipado um pouco. Concluímos renovando os parabéns aos vencedores que o foram, afinal, não apenas do agrado dos leitores da «Tempo» mas são ainda, estamos certos, de igual agrado de muitíssimos desportietas. E até à próxima semana. PÁGINA 50 BRANCOS E NEGROS DE MOCAM BIOE A MESMA PATRIA EO MESMO DESTINI voto do dr. Domingos Arouca que analisa em entrevista ao «Tempo» o actual momento potco Preso em Lourenço Marques, em Maio de 1965, acusado de ser militante da Freli. mo, o dr. Domingos Arouca foi encarcerado durante oito anos nas prisões do colonialismo. Liberto em Junho de 1973, foi-lhe fixada residência em Inhambane, sua terra natal. Após o 25 de Abril, amigos e conhecidos esperam o seu regresso a Lourenço Marques e houve até quem o sugerisse para GovernadorGeral de Moçambique. Em Inhambane, onde pretende permanecer, ele não está no entanto alheio ao actual momento político de Moçambique. Fomos encontrá-lo em Inhambane, cultivando a sua propriedade, semeando paimeiras, rodeado pelos seus. Calmo e sorridente, numa atmosfera de afabilidade e simpatia, o dr. Domingos Arouca aceitou falar à nossa reportagem: PROFUNDA VIRAGEM DA HISTÓRIA -Qual é a sua opinião, dr. Arouca, sobre o actual momento político Moçambicano? - Acho que Moçambique ainda não pode ter neste momento as mesmas razões de euforia que assistem, e com razão, a Portugal. Pelo contrário, sinto-me até bastante apreensivo com o, rumo que Os acontecimenos pare. cem tomar. Efectivamente, decorrido um mês após o histórico golpe de Estado Militar, temos a sensação de que tudo permanece na mesma, salvo pequenos pormenores, ainda que com alguma relevância política, mas que não são suficientes para nos dar uma Imagem evolutiva coeEntrevista de Maria Pinto de 56 PÁGINA 5; PROFUNDA VIRAGEM DA HISTORIA QUE EXIGE DE NOS PRUDENCIA E SI rente e tranquilizadora dos factos. Por exemplo, a maior parte dos reacclonárlos e entidades comprometidas até à ponta dos cabelos com o 'regime derrubado continuam a dirigir os serviços públicos, pressionando e Intimidando os funcionários deles dependentes, procurando até travar e sapar a marcha para a democracia, mesmo que para tanto tenham que se rotular tardiamente de «¿democratas». Mas até quando? Muitos discursos, é certo, muita dispersão de esforços, alguns ataques a nível pessoal, mas o tão proclamado e desejado sentido constru. tivo parece quase ausenteda maioria dos manifestos e proc~lamaes que em catadupa têm inundado a Imprensa e a Rádio. Tenho a consciência, aliás como todos nós, de nos encontrarmos numa profunda viragem da História, tanto mais perigosa quanto é certo, que alguns não a sabem ou não a querem contornar com a prudência e -serenidade que o momento exige. É fácil cometer erros, mas -difícil repar4-los. Por absurda que pareça a fórmula, dá-me a ideia de que a atitude mais consentânea com a situação é a de uma expectativa construtiva. PAGINA 53 * DIZEM-SE AGORA DEMOCRATAS INIDADE Expectativa, até porque não estão ainda em Jogo todas, as pedras que hão-de preencher o nosso xadrez político; Construtiva, porque é supremo dever de cada Moçambicano contribuil com uma achega de civismo, de bom-senso e de respeito e compreensão mútua. Esta ultima, mais necessária agora do que nunca. - Acha que os oito anos de prisão fascista-colonialista que sofreu, concorreram de algum modo para alterar a sua maneira de encarar os problemas de Moçambique? - É óbvio que um longo cativeiro Iroduz sempre lesões na alma do encarcerado, mormente quando ele resulta de um profundo embate ideológico, como é o meu caso. Todavia, é no sofrimento prolongado que o homem adquire o estoicismo necessário para suportar as forças adversas que jparecem apostadas na sua destruição, sendo igualmente do sofrimento que brota a maturidade e o espírito de tolerância para com os erros e ideias dos outros. Sinto, na minha qualidade de ex-prisioneiro poli.tico, que devo ser tanto mais tolerante para com os outros, quanto menos q foram para comigo. Não representa esta atitude a dádiva cristã da «outra face», mas o reconhecimento. de que nenhuma vida social é possível na base de «olho por olho, dente por dente», sobretudo nesta encruzilhada em que os extremistas e os fanáticos não cessam de usar uma linguagem de força, numa tentativa de intimidar os tolos. De resto, a linguagem de força reflecte quase sempre fraqueza e medo. No entanto, devo acrescentar que uma tolerância excessiva à escala territorial é susceptivel de causar os mesmos males que uma violência sem freio. Por isso, entendo que os autores de certas opressões físicas ou psíquicas e de injustiças gritantes devem ser chamados com a maior brevidade possível a prestar contas dos seus actos à sociedade, antes que se esca. pem pelas malhas. Toda a gente sabe o que foram os crimes da PIDE/DGS, .mas parece, no entanto, esquecer-se que está instituição não foi a única a cometê-los, como também não foram certamente criminosos alguns dos seus membros, embora estes muito raros. A justiça hí.de ser cega e isenta para ser justa., Há informadores moçambicanos que causalam mais mal a Moçambique que alguns funcionários brancos da PIDE/DGS, o que,' além de ser, extremamente grave, se torna repugnante por haverem apoiado uma instituição odiosa que oprimia o seu próprio povo. Há ainda a acrescer que muitos administradores, salvo raras e honrosas excepções, levaram a cabo contra os moçambicanos crimes verda. deiramente hediondos. Mas há mais e multo mais. Para exemplo, citarei o caso de muitos directos e chefes de serviços públicos que passavam o tempo a enviar confidenciais à PIDE/DGS acerca de atitudes ou palavras inteiramente alheias ao serviço, de subordinados seus. Muitos deles ainda se encontram em exercício e dizem-se agora «democratas»!!! Assim, torna-se desnecessário e urgente desmantelar toda a máquina da PIDE/ /DGS, seus afins, como os serviços de Centralização e Coordenação de Informações e outros, assim como grande parte da engrenagem administrativa, pois todos eles colaboravam intimamente entre si para cilindrar. o cidadão moçambicano. O saneamento há-de ser total e completo. * BRANCOS E NEGROS Com certeza que o doutor já reparou que inúmeros brancos estão receosos com a imprevisível (ou previsível) seqýuência dos acontecimentos. Quer dizer-nos o que pensa acerca dos fundamentos desse receio? -Só a tremenda incógnita em relação a um futuro que parece muito próximo pode explicar tamanhos receios. Tudo o que posso dizer é que todos os moçambicanos se devem mostrar à altura das suas responsabilidades, sabendo respeitar os outros para que possam igualmente merecer o repeito e a segurança que procuram e à qual tém indiscutível direito, dado que a violência só gera violência e se extingue a si própria, quando alimentada pelo ódio e pela intolerância. Entretanto, todos temos de nos mentalizar no sentido de que não serão fáceis Os tempos que se avizinham, pois o leite e o mel não brotarão expontáneamente mas com o esforço de todos os moçambicanos e daqueles que realmente elegeram Moçambique como sua pátria. Com efeito, para a gigantesca tarefa do desenvolvimento harmonioso deste pais em todos os seus sectores, serão absorvidas, em sobra, todas as energias humanas disponíveis. Todos os homens vão ser necessários para tio imperiosa obra, que só poderá ser levada a cabo com êxito se, brancos e negros, vencendo velhos ressentimentos e estúpidos preconceitos enraizados compreenderem a tempo que têm em comum a mesma pátria e o mesmo destino histórico, consequências naturais da sua livre opção nesta viragem histórica. * INDEPENDÊNCIA TOTAL E COMPLETA - Como encara o futuro governo de Moçambique? - Pondo desde já de parte as veleidades de alguns políticos reaccionários e os utopismos de muitos «democratas» da Undécima hora, entendo que o futuro governo de Moçambique deverá revestirse de autenticidade plena. Com isto pretendo significar que tal governo deverá ser constituído de uma maioria negra, representando efectivamente pelo número, como também pela sua qualidade, os milhões de negros, filhos deste pais. Porém, como já tive ocasião de referir atrás, penso que todos os homens de boa vontade, independentemente da sua raça, serão chamados a colaborar na construção do novo pais, de acordo com a sua experiência, méritos profissionais e honestidade comprovada, pondo-se definitivamente cobro ao sistema institucionalisado do «compadrio», da «cunha» e da «panelinha», se me é permitido utilizar termos tão chãos para classificar uma das causas mais profundas do marasmo e angústia política a que Moçambique foi arrastado. -E quanto à forma do Estado? -0 momento não é para sofismas, pelo que lhe direi o que penso sem tergiversar. Assim, sou pessoalmente a favor de um Estado verdsdeiramente soberano com a bandeira de Moçambique a flutuar no espaço, símbolo do inicio de uma nova era his. tórica para o país. Independência total e completa, pois vejo ,com desconfiança as ,federações, que facilmente degeneram no neo - colonialismo. * VISITA AO MALAWI - Quais os motivos que originaram a sua recente visita ao Malawi? -Havia-me sido feito convite para visitar aquele pais, há mais de três meses; contudo, nenhuma data me pareceu melhor e também ao Presidente Banda, do que a do dia das celebrações naciomais, o «Kamuza-Day>», que teve lugar no passado dia 14. Escusado referir que esta visita foi não, só oportuna como também muito útil, até porque há todo o interesse em conhecer -um pais de independência recente. £omo . sempre acontece, houve múltiplas e variadas interpretações, algumas entrando até pelo absurdo, com as quais se pretende explicar os ou[ ASE DIZEM "DEINCIATAS" E -OS 0iO5u.. a minha viagem, que só para os outros foi nesperada. Os povos moçambicanas e inalawiano são dois povos Irmãos que outros dividiram à mesa do Congresso de Berlim. Acho que devem manter um convívio autenticamente fraternal. , FRELIMO - Consta com certa insis. tência que o doutor teria em mente a formação de um novo grupo político. Quer dizer-nos algo sobre o assunto? - Posso assegurar-lhe que neste momento tal boato não tem o menor fundamento, até porque nunca tive, nem tenho, quaisquer pretensões a liderança nem ambições poli. ticas pessoais. Acontece, porém, que as minhas ideias, por vezes, se identificam em alguns aspectos com este ou aquele agrupamento, pois não tenho pretensões de descobrir caminhos nunca antes trilhados na panorãmica política moçambicana. Apenas sei que sou coerente com os meus Ideias, Os quais possuo desde a primeira hora em que tive consciência que vivia num pais oprimido por um pais igualmente oprimido. Inevitavelmente, esta tão 'simples e ljpear posição colocou-me logo de acordo com milhões de meus irmãos de raça, combatentes silênciosos ou activos, na sombra ou às claras, e com muitos dos meus conterrãneos pelo nascimento ou pelo coração, de raça branca, que desde sempre encararam de frente as rea. lidades políticas prementes e as opções decisivas que esta terra exige. Sempre que forem necessárias e úteis as minhas ideias, o meu esforço construtivo e até o meu sacrifício, encontrar-me-ão pronto a dar o melhor que puder e souber, até porque já o fiz há dez anos, quando muitos dos meus conterrâneos se escondiam nas tocas do medo e da comodidade oportunista. E tenho vindo sempre a fazê-lo. Mas isso não me conduz necessariamente à liderença política, que não ambiciono, nem desejo, pois sou fundamentalmente um homem do lar, um chefe de família e um profissional de foro que até ama a vida, rural. Aliás se me decidisse a formar um novo grupo político, neste momento, praticaria um acto manifestamente impolitico, que apenas serviria paar dividir, confundir e enfraquecer o nosso povo, à velha maneira romana. Ora, eu entendo que neste momento a união de todos os moçambicanos é mais necessária do que nunca, assim como entendo igualmente que o povo já sabe que é a FRELIMO o seu Partido Válido. --Quais os os seus projectos futuros? - Intensificar a plantação de coqueiros na minha propriedade. nôs pomoS a técnica ao serviço do trabalhador Por um futuro garantido e justo integrámos o computador na nossa equipa de especialistas-homens e máquina, dando o seu melhor, garantem um plano queservindo no presente, responderá no futuro pelos-desejos da sua empresa. Dê ao seu trabalhador a tranquilidade e a segurança de Futuro que justamente lhe cabem-O SEGURO DEGRUPO (P d rdfo.,m-a, opIt -i poroorto o ooboto.oo r.oultantu do h ~valid...) consulte o noss computador! nauticus COMPANHIA DE SEGUROS NAUTICUS OGUiO MAIS SEGURO MOMENTO POLITICO OS LEITORES OPINAM Em face do elevado número de cartas que começámo' a receber de toda a parte contendo opidktes e apreciações ao momento que vivemos, fiel ao ldeário de uma verdadeira sociedade aberta e democrática, resolvemos abrir estas páginas de diálogo sobre, tudo quanto cada. um, respeitando as regras do jogo, entenda dever manifestar. As cartas e artigos publicados nesta secção são, pois, da responsabilidade dos seus autores e não vinculam, nem representam, as ideias e opiniões de quem dirige este jornal e nele trabalha. Senhor Director, Em primeiro lugar, desejo antecipadamente agradecer a V. Exa. a publicação destas honestas linhas que, por sinal, são escritas com tinta da mesma cor A honestidade pode ser a melhor conduta, mas um homem deve tentar primeiro ser tudo o que puder, mesmo assim nunca se conhece por completo, até que se tenha que _repartir com ele qualquer ganho. O maior mérito do homem consiste em determinar, na medida do possível, as circunstâncias e nunca deixar que as cir. cunstãncias o determinem a ele. 0 crime é uma hidra de muitas cabeças, uma medusa, que se reproduz por um dos tentáculos perdidos. Não é altura para se lavar a roupa suja, devido à falta de sabão, o momento, é para se passar a ferro a roupa que estiver lavada porque a suja lava-se depois. Acredite, Sr. Director, que; neste momento, vagueiam a cada esquina muitos tentáculos perdidos a querer reproduzir vidas novas. Toda esta minha prosa vem a propósito da honestidade e lealdade manifestada publicamente pelo sr. José Aguiar e Sousa, gente grande no Caminho de Ferro, devido à sua lealdade e honestidade como servidor do Estado. Como aderiu à Junta de Salvação Nacional, mercê da sua honestidade, que quer continuar, segundo afirma, é altura de poder informar, através da Imprensa de Moçambique, quem denunciava os funcionários dos Caminhos de Ferro que eram considerados como de ideias su:versivas e obrigados a abrirem fichas na falecida PIDE (graças a Deus e que lá se conserve). E também, quem prestava informações políticas para efeitos de concursos. Por- exemplo eu fui obrigado a ir à PIDE em 1956, preencher uns papéis que era para ficar registado na «falecida» porque era um homem de idéias subversivas porque tinha uma filha chamada Lénia portanto era simpatizante da Rússia, isto foi-me dito por um agente já falecido e porque a minha filha Ilda tinha este nome, era considerado simpatizante da Alemanha Oriental. Tudo isto foi um espectáculo, uma comédia dramática. Eu, .que me considero com o curso superior de analfabeto, com estágio, que nunca tive peso para deslocar o fiel da balança política Nacional sou considerado perigoso. . fantástico! Graças a Deus, nunca fui da falecida situação, nem de Partido nenhum que ela criou, muito menos seria «soldado do tacho». Se aderisse, conforme Os tubarões queriam tinha uma posição melhor que à ,que tenho hoje, pelo menos correspon. dente aos anos de aeviço. Como eu, deve haver outras tantas vitimas a marcar passo no mesmo terreno há uma série de anos. Como em todos os serviços do Estado, havia no Caminho de Ferro, uma auténtica Gestapo e desgraçado daquele que lhe caísse nas malhas, era o fim. Se não queimaram os dossiers da falecida PIDE, deve haver a relação dos nomes no quadro de honra, assim como a ficha das suas vitimas para o primeiro repouso. Naquele tempo, «a justiça era uma casa vaga que raramente se alugava» aqui, ali e acolá. Apesar de pobre em instrução sou rico em história sobre a vida interna dos Caminhos de Ferro, mas a história é uma velhota que se repete sem cessar - no conjunto das outras histórias que ainda, não foram incluídas nas vestes dessa velhota. A velhota tem direio à aposentação, deviam agora começar uma nova história na nova concepção da vida para que cada um tenha direito ao que merece sem ser necessário conquistar favores nem simpatias dos chefes, se não for assim, ora bolas!.... digo ora bolas, não sou a favor das torturas mas sou adepto do deprezo, por isso, ora bolas!!! Ao sr. José dos Santos Aguiar e Sousa, como outros, honestamente iguais, não devia ser autorizada a sua transferância, devido à sua leal honestidade. Amigos verdadeiros não se conseguem com tal processo. Napoleão tentou fazé-lo,. mas, pas no seu último encontro com Josefina disse «Josefina, tenho sido mais afortunado do que qualquer outro homem na terra; no entanto, nesta hora, sois a única pessoa no Mundo em que posso confiar». Os historiadores duvidam se ele teria razão, falando assim se ele poderia confiar nela. O falecido Alfredo Adler, famoso psicólogo vianense escreveu um livro intitulado «O que a vida deve significar para si» onde se lê «o individuo que não se interessa pelo seu semelhante é o que tem as maiores dificuldades na vida e causa os maiores males aOs outros. Há entre tais individuos que se verificam todos os fracassos humanos». As palavras de Adler são tão ricas em significação que utilizadas no caso presente definem bem «os soldados do tacho». Desejo a todos «os soldados do tacho» e às sua leais e honestas adesões que antes sofreram colapsos cardíacos multas melhoras e que justiça lhes seja feita, pelas suas vitimas e pela liberdade a bem de todos e da Nação. Aproveito- a oportunidade para juntar, um soneto, que não tem metrificação mas que tem o peso de 48 anos de torturas ao serviço desses malditos. Agradecendo antecipadamente o favor da publicação desta minha carta, aprc sento a V. Exa. os protestos da minha el vada consideração e estima, sou, Antónlo dos Santos (Beira) REUNIÃO FASCISTA SOB A CAPA DA DEMOCRACI> Sr. Director, Como funcionário do quadro dos CTI em Lourenço Marques, fui convidado assistir a uiia reunião dos funeionário do quadro e contratados dos mesmos seg viços, realizada pelas 17.30 horas de 8 d1 corrente no salão de festas da pgiróquia dý Munhuana. Fiquei naturalmente muito satisfeit, - até porque tinha também multas rei vindicações a fazer- e logo me prontifi quei a assistir ã aludida reunião a favo da liberdade de direitos, e de expressãc com vista à recuperação, segundo depreen di e achei oportuno, dos legítimos inte resses de todos os funcionários lesados isentos de qualquer liberdade ou autono mia responsável, pelo anterior regime fas cista, aliás ainda alinhado, segundo tud leva a crer, pela presente Direcção do, CTTM, bem como pela maior parte do, funcionários superiores o dos seus se quazes «tachistas» qyle, infelizmente, pro liferam. Todavia, fiquei desiludido, bem com< um bom número de colegas que mostra ram a sua surpresa profunda e muit desagrado perante as primeiras palavra do apresentador das normas que deverian vigorar em tal reunião com vista a um futuro encontro dos representantes ént#c escolhidos, de cada classe, com o Directoi provincial dos CTT, a fim de tratar «cor dialmente» dos dois seguintes e princ pais assuntos: 1 - Promoção imediata dos funcionário$ com concurso; 2- Pleno direito a3 gozo de licença gra. ciosa. Seguidamente, uma vez seleccionados os representante de cada classe de serviçq nos CTT, seriam interrogados todos os presentes sobre quem concordaria ou discordaria com este ou aquele ponto jul gado positivo des§es referidos dois assuntos apenas, considerados erroneamente do interesse geral e imediato de todos Os funcionários. Na realidade, as perguntas que foram feitas aos presentes sobre os referidos temas haviam sido prévia e definitivamente respondidas pela comissão organizadora, cuja consultora técnica não dava azo a que alguém formulasse opiniões diferentes a fim de serem posteriormente apresentadas à Direcção. E asim alguém perguntotu qual era afinal o verdadeiro motivo dessa reunião, pelo que o orientador informou que iam ao sr. Director para apresentar tais problemas e, sobretudo-, note-se! manifestar-lhe o seu apoio e lealdade, acrescentando que se ele não manifestasse o devido interesse então pedir-lhe-lam licença para apelar à Junta, de Salvação Nacional.... Alguém, entretanto, propós que tais assuntos deviam-ser debatidos na imprensa, tendo o apresentador respondido que não convinha mostrar aos de fora os males que havia por dentro.... A certo passo, porém, o orientador do programa em causa interrompeu, sensivelmente muito preocupado e entristecido, para anunciar o seguinte, de que alguém lhe dera entretantp conhecimento: «Ao contrário do que se recomendara a princípio com vista á.:boa ordem e disciplina que devem presidir a esta reunião, ia acontecendo um incidente que poderia ser muito grave: Um colega nosso convidou pelo 'telefone um repórter da imprensa diária a assistir a esta reunião.... Vejam lá com que cara ficaria amanhã o nosso Director o abrir o jornal e ler a reportagem de tudo quanto aqui foi dóbatido'...», * Com tal insinuação muitos poucos aplaudiram, e a grande maioria ficou calada, deveras perplexa, talvez por cobardia, talvez por conveniência, mas alguns mais destemidos protestaram, alegando que mais valia que se fizesse uma manifesta. ção através da imprensa falada e escrita, 'uma vez que agora a expressão era livre e que o momento assim exigia ... - Apoiado! Bravo! -E uma ruidosa salva de palmas ecoou por todo aquele salão, não porque fossem muitas, mas realmente entusiastas. Entretanto, certos funcionários deram o seu parecer, aliás quase todos contraditórios ao actual regime de autenticidade, igualdade e liberdade que a Junta de SalJ vação Nacional em muito boa hora recuperou e restituiu, intacto, ao Portugal Novo, muito embora com, esta sã democracia se procurassem identificar.... Foi quando alguns dos novos paladinos da liberdade que tiveram a necessária coragem para proclamar a verdade incontestada, começaram, indignados, mas ordeiramente, a abandonar a, sala, apenas porque chegaram à conclusão que era escusado dar ouvidos a quem tanto evidenciava ainda, apesar de tudo, a tirania dum fascismo de sinistra memória e de triste história, visando não a igualdade mas apenas e sobretudo os interesses das classes directivas e mais privilegiadas, em detrimento do trabalhador humilde. Considero assim tal reunião desprovida de qualquer interesse superior para a grande maioria dos funcionários que, como eu, lutam com os mais diversos problemas, que ali nem sequer foram abordados. Pois que todos se unam, sem receio, para uma reivindicação imparcial!..... Falo em nome de todos aqueles que aderem inteiramente à verdadeira democracia, implantada pelas gloriosas Forças Armadas Portuguesas. Um Funcionário dos CTT CARTA DE CHAMADA A Junta de Salvação Nacional, na delinição de princípios e nas medidas já tomadas, tem corroborado a linha de raciocínio que o General Splnola desenvolve em «Portugal e p Futuro». No que toca ao Ultramar, o preconizado no livro veio ao encontro dos naturais anseios de uma grande parte da população já que, para quem vive e tra,balha nos territórios ultramarinos, a sua ambição natural é ter voz e voto em plano de igualdade com quem vive e trabalha no Portugal europeu, Também a solução final proposta, de uma comunidade de nações, uma Pátria de nações, ligada por substracto e interesse comuns, é de inteira coerência se tivermos em mente a complexidade étnica e geográfica do conjunto nacional. De facto, se a existência do subs. tracto e a ocorrência de interesses gerais é fonte de coesão, também cada um dos territórios possui e tende a acentuar uma feição própria, mercê de problemas e contextos diferentes em múltiplos campos e, bem assim, de vivência e culturas que se edificam na amálgama de elementos diversos, criando mentalidades peculiares. Tudo isto afasta uma tese integracionista radical, mas em nada contraria a possibilidade de uma coligação Intima, de uma frente única que, uma vez estabelecida nos âmbitos do direito e da liberdade universalmente reconhecidos, permitiria admitir, inclusivamente, uma participação efectiva do Bsil. Sendo este o plano, .a sua concretiza. ção, para além de implicar fases transitórias, exige que a representação das massas populares seja livre e judiciosamente atribuída às instituições próprias. Ora não é gratuitamente que, ao longo de quase meio século, as decisões e deliberações tenham sido aberta -ou camufladamente impostas; não é inconsequentemente que, nesse mesmo período, se tenham obstruído ou vedado os direitos de associação, expressão e acesso a uma informação verdadeira não é irrelevantemente que, há 13 anos, existe uma situação de guerra na Africa portuguesa. Não. Estas - e outras causas-entravaram a natural integração de etnias e culturas, motivaram o alheamento das responsabilidades colectivas, consentiram numa grave ausência de formação política. Daqui que, neste estado de coisas, um referendo hoje levado a efeito, apenas iria colher os reflexos de opiniões apressadamente informada§ e construidas. Tendo várias alternativas em presença, a opinião pública necessita de calmamente as penetrar, debater e ponderar. A criação e consolidação de uma mentalidade política deve ser a tarefa primordial do Governo português. Trabalho que 'exige tempo: tempo para amadurecimento. Todavia, Os manifestos dos partidos socialista e comunista recentemente vinnão se dispõem a conceder, ao futuro dos a público, indicam que estes grupos governo, o prazo que se julga indispensável para estabelecer as condiçoes que permitam, aos mais directps interessados, intervir no debate sobre a questão ulramarina convenientemente prepara. dos. Logo que a Junta, no cumprimento do seu esquema, entregue os destinos do pais aos órgãos .entrçtanto constituídos, os pontos de vista até ao momento por ela anunciados, concernentes a me, didas futuras, ganham a expressão singela de meros conselhos ou advertências. Esta situação, de acordo com o previsível, yerificar-se-á a breve trecho, e, temos de admitir a possibilidade de aqueles grupos políticos alcançarem posição majoritária na próxima assembleia constituinte. E nós? Nós, todos aqueles portugueses que vivemos no -Ultramar e queremos dêsenvolver a nossa sociedade multirracial? Pois corremos o risco de, mais uma vez, ter um problema que nos respeita a ser tratado e orientado por entidades para as quais o Ultramar não tem outro valor que o de tema político. Claro que o acordo a realizar entre um governo socialista português e os «gruposo nacionalistas» africanos, ficaria repleto de garantias de segurança e estabilidade para as gentes das várias etnias, naturais ou radicadas, que desde a eclosão do terrorismo se têm manifestado portuguesas. Claro! Mas temos ainda frescas as garantias que os fiéis a uma Argélia Francesa obtiveram no acordo de Evian e como elas foram «honradas» pelo governo da Argélia independente.. Perante a gravidade da situação, é indispensável e urgente que nós, os portugueses do Ultramar que queremos preservar o. desenvolver a nossa sociedade multirracial, nos unamos em organizações políticas capazes dc uma ac ividade constante, incansável e organi. zada para, lutando com todas as arma que a liberdade nos concede, promovei a informação e o diálogo democrático e impedir a hegemonia e ditadura. ídeológica, sobre o Governo Central a constituir, daqueles que advogam a imediata entrega dõ Ultramar às organizações terroristas. Que estas linhas sejam uma CARTA DE CI-AMADA. De chamada aos postos. JOÃO MARCO CRIADOS DOMÉSTICOS Senhor Director: Agradeço o favor da 'publicação desta carta em que peço a atenção de quem de direito para o problema dos serviçais domésticos. Diversas classes trabalhadoras têm aproveitado a viragem política para apresentar as suas reinvidicações. Multas são justíssimas outras completamente loucas. No en*+.nto talvez não haja nenhuma tão necessitada de protecção como a dos criaMOMENTO POLiTICO dos domésticos. A começar por que os rapazes chegados à cidade são levados a procurar empregos sem futuro, mais próprios para raparigas, pelas dificuldades em serem admitidos em fábricas ou empregos. Não trazem dinheiro que permita adquirir um Bilhete de Identidade pois nem mesmo têm meios de subsistência. Alguns nunca tentaram arranjar o Bilhete de Identidade no receio de serem chamados para o serviço militar, o que deixaria os seus familiares sem a sua protecção material. Poderia ainda referir-me à quase impossibilidade de um homem preto conseguir emprego depois de cumprido o serviço militar, mas não posso desviar.me do intento com que vim. Os orçamentos caseiros dificilmente podem fazer face à carestia de vida, au. mentando o pessoal nesse sentido. Dir-me-ão que se caminha para uma redução do número de criados. Concordo, o que aliás é universal e inevitável. Não me preocupa ter que fazer mais pelo meu ambiente familiar, o que me está a preo. cupar há muito é a vida dos meus criados. Nunca pude abordar este assunto sem que me deitassen olhares paternais e, no entanto, é óbvio que uma Previdência -Social aos serviçais domésticos é indis. pensável. Enumeraria um sem ,fim de razões para lembrar as -dificuldades que um criado chefe de família tem que enfrentar para manter a sua casa e familiares: --Poderei começar pelos horários que não permitem que um homem veja os seus filhos menores,. E digo ver porque sal de madrugada e regressa á noite -Esse regresso á noite é por demais conhecido como um risco de vida quase permanente, devido aos tenebrosos «mabandidos» que tornam o dia a dia numa insegurança tremenda. * -A renda dessas casas -- duas divi-, s5es de caniço -. que ficam a 300$00 men. sais. Situadas a cerca de 8 Km da cidade, com autocarros a 9$00 diários, das cercanias de casa até à periferia ca, eidade. Isto é - longe do local do trabalho. E temos de conc,rdar que deve ser desagradável fazer essa distância em jejum. -A família fica nos subúrbios- e tem que enfrentar diariamente os preços e pesos muito «especiais» em relação aos da cidade. -Se o .chefe de família adoece o quadro é tão negro que não me referirei senão ao que um pobre doente piora para provar que é pobre. A estas pioras virão juntar-se as que as noites de vigília por uma senha para a consulta ríos hospitais do Estado. trazem. - Poderá um criado doméstico aspirar a férias? E a reforma? Há muitos patrões que lhas dão, mas a maioria não o pode fazer. Permita Deus que seja, muito breve. mente possível uma Previdência . Social eficaz neste campo. Até porque os nossos criados, nem na terra, poderão acabar os seus dias em sossego. Vejamos esse lado da vida -destes homens: -Já aqui em Lourenço Marques não podem pagar o imposto pelas vias competentes. Terão que correr o risco de serem roubados e mandar o imposto para a terra porque, se não o fizer, um dos familiares trabalhará dois meses na maèhamba do régulo. Ficará encarcerado durante a noite e as alfaias e alimentação serão fornecidas pelos familiares do «contribuinte». - Aliás, como ajuda ao régulo, isto su. cede sistematicamente, todos os mses, por três dias. Assim como essa ajuda organiza-se numa sociedade em que devem ser entregues galinhas e OVOs todo§ os meses porque, não havendo nada disto terão que haver 15$00. E é aqui que a ajuda em latas de cafanha de caju, entre. gues ao régulo, lhe permitem ter um automóvel para seu uso exclusivo. - A colocação de postos telefónicos implica 75$00 por casa, que nunca viu uni telefone, nem verá, pois fica na casa do régulo a quilómetros. --Tão fácil colecta sugere a ideia de unia anibuláncia, por exemplo. Serão 20$00 por pessoa maior de doze anos. Mas será muito difícil que têm caminhos que nem a cam.ioes dão passagem. - Agora pergunto como poderá o pobre homem quçixar-se ao régulo do cantineiro que: - Entre outras habilidades, compra o amendoim a 20$00 cada lada se trocar por cobertores, visto que essa lata Valerá 60$00 caso o mesmo vendedor passar a comprador; Se a lata de caju vale 50$00 a troco de roupas, mas apenas 30$00 a troco de dinheiro; Se Os produtos alimentares são declarados -bons para preto mesmo deteriorados; Se o ponteiro da balança recua sempre que o cantineiro se afasta..., e nunca mais acabariam as queixas. E pergunto se poderá queixar-se ao régulo, se os seus problemas só poderão interromper os inúmeror negó. cios do régulo, mediante o pagamento adiantado de 150$00? E posso garantir que tudo isto é verdade, pelo m.enos em Banguza. Já fui demasiado longa, esperando ao menos ter sido suficientemente esclarecedora das condições de ,vida daqueles que nos servem diariamente. Pelo menos são um exemplar, impar de paciência infinita e de doçura de carácter para nos servirem nas nossas tão boas condições de vida, em confronto diário com as dos 'seus familiares. Gostaria de ter eco em quem possa fazer muito por melhorar tais condições. M. C. S. T. (Uma dona de casa de Lourenço Marques) TERRENOS PARA CONSTRUÇÃO Senhor Director: Como todos nós sabemos que V. Exa. sabe apreciar e expor as coisas como deve ser, e como também sabemos que a Fazenda precisa de dinheiro, lembrei-me de lhe apresentar e pedir a sua intervençã para o seguinte: Desde alguns anos que me tenho dcdi cado a transaccionar terrenos nesta cidad de que se faziam as respectivas escritura na maioria, logo a seguir: Desde que foi publicado o Diploma U< gislativo n., 148/72 em à0 de Dezembri de 1972, que estabelece que o vendedo de terrenos para construção tem de paga á Fazenda a taxa de 20% sobre a difE rença entre o valor -por que foi sisadi e a avaliação que a Fazenda fizer, valo: que consideram lucro, - pois a Fazend; agora avalia certos terrenos por muit< mais que o preço que são vendidos -movimento de escrituras de compra e ven da de terrenos para construção na cidadi e arredores quase que parou 100%, poi: estou convencido que há centenas di transacções de terrenos num valor tota talvez, de centenas de milhares de conto que estão em contratos de promessa d compra e venda e com procuração do vendedores para os promitentes compra dores os irem passando de mão em mã, sem fazerem escritura e assim sem paga rem a sisa dos mesmos à Fazenda, certa mente na ordem de dezenas de milhare de contos, pois o vendedor entende muito bem que não deve pagar os 20, à Fazenda ainda com o agravante de el avaliar como bem entende para que referido imposto seja maior, e o compra dor pensa da mesma maneira e toca passar com promessa de venda a outr, que fará o mesmo ou irá construir cor procuração'do primeiro, vendendo depoi os andares em nome deste fugindo assiíi á tal taxa de 20% e assim passando pagar 5% de sisa em vez de 10%. Como V. Exa vê, quem fica a perdei é a Fazenda, o que não aconteceria si não fosse o referido imposto, numa alturn que muito fica por fazer 'por falta d, verba, pois estou convencido que se ta imposto for anulado muitas centenas d, escrituras se farão a seguir e dezenas 4 milhares de contos de sisas entrarão n, Fazenda, pois embora possam fugir ã r( ferida taxa, prefeririam arrumar 1og, com as escrituras, não o fazendo só pO que dói. Estou certo que V. Exa. também nâá concordará com tal taxa, pois toda a IMarques conhece V. Exa. como imparcia e justo naquilo que escreve para público, pelo que deixo este assunto seu critério na certeza que a sua pen não deixará de apresentar este caso pi blicamente chamando a atenção das ent dades competentes no sentido de se anulado o referido Diploma. Certament a Fazenda poderá dizer algo sobre o se efeito negativo após a sua publicação. Queira aceitar os meus sinceros cumpr mentos e me subscrevo com muita cons deração De V. Exa. Albino dos Santos Braga __ Li ",KARINGANA UA KARINGANA" «Karingana na Maringana» é o título do 'livro de poemas de José Craveirinhà que dei-. xou a clandestinidade e apareceu recentemente à venda, numá edição da «Académica». Acerca do poeta e do homem, que é Craveirinha, escreveu, em 1963, o dr. Rui Baltazar: «Vamos assentar num ponto: o poeta CraveirInha, que é o homem Craveirinha a realizar-se artistl camente, situa-se numa dimensão diferente da nossa, quase sempre hostil ou pelo menos indiferente ao outro Ilado do muro que habitamos e onde assentam seus frágeis alicerces as nossas complacinlas, a tragédia e vil renúncia de que é feito o nosso viver quotidiano>. «Karingana ua karingana», com capa e vinheta de José Craveirinha (Filho), apareceu nos escaparates numa altura em que o seu autor se encontra em Dar-es-Salaam para conversações a nível no-oficial sobre Moçambique, com Os dirigentes da Frelimo, e mereceu #os responsáveis pela edição algumas ameaças, por parte de certo sector do público da capital. O novo Presidente da República francesa Valéry Giscard d'Estaing teve recentemente um importante encontro com o Chanceler alem&o Helmut Schmidt, em Paris. Na imagem, um aspecto do encontro dos dois «leaders», que durou dois dias. O DepOsito de bagagens d9 Aeropor'to Gago Coutinho, em Lourenço Marques, encontra-se superlotado. De tal modo que a bagagem começa já a ocqpar toda a varanda exterior do edifício. Terá isto alguma relação com o alegado êxodo de gente que, receosa do prõximo futuro, pensa abandonar Moçambique? e * ~ 1 O golpe de estado em Portugal tamb6m teve as suas repercuss5es na *klca do SuL Na imagem, um aspecto de uma concena de estudantes na entrada da Universidade de Wltwatersrnd. em Joanesburgo. onde decorreram manifestações e discursos durante todo o dia 28 do Maio e em que repetidisemas vezes foi proclamado aos estudantes que a Jfrica do Sul tinha urgentemente do seguir o exemplo de Portugal. e BASQUETEBOL Disiputou-a em Lourenço Marques o cam.ponat nacional\ de basquetebol no qual estiveram interessados os campe6es da Metr6pole (5. L. Benfica) de Angola (F. C. de Luanda) o os dois primeiros do campeonato de Moçambique (Sporting o MalhangcIne, ambos de Lourenço Marques). A prova foi emotiva, com os seus excessos dentro e fora do rectãngulo, bem de acordo com a 6ptica do desporto que se desenvolveu ao longo das últimas d6cadas. O triunio final veio a caber ao Malhangalene - pela primeira vez - o que reuniu muitos aplausos e foi (ainda) motivo para todo um desbobinar *da costumada fraseologia e que tanto tem contribuído para a situação presente do fen6meno, isto sem embargo do real merecimento do tiunfo do popular clube daquele barroý de L M. II EMBAIXADA MOÇAMBICANA REGRESSOU DE DAR-ES-SALAM Regressou Jã a Loureno Marques a embaixada moçambicana que se deslocou a Dar-es-Salaam a fim de contactar com os dirigentes da Frente de Libertação de Moçambique. Aquele grupo de simpatizantes da Frelimo era composto por Josefarte Machel, Rui Nogar, Jos Craveirinha.. Malangatna Valente, Rogério Njawane e Matias Mboa. A chegada daqueles elementos ao Aeroporto Gago £outinho verificou-se cerca das 21 horas desta úlima terça-feira, estando à sua espera uma pequena multidao que entoou um hio alusivo ao mesmo tempo que vitoriava a Frelimo e Samora Mahel. Sobre o resultado dos contactos estabelecidos que visavam o inicio das conversações entre Portugal e â Frente de LibertadÃo de Moçambique, os portavozes do gupo limitaram-se a afirmar que «tudo tinha corrido bem e que a viagem foi bastante <tU». Foi também informado ao Jornalista da «Tempo» que durante a permanência em Dar.es.Salaam o grupo tinha estabelecido contacto directo com o Governo de Lisboa, que eomo se verificou, originou de imediato o inieo do dilogo para a paz na capital de ZAmbia, Lusaka. e MISSÃO COMERCIAL AO JAPÃO CONTACTE-NOS SERVIÇO COMERCIAL Edilicio dos Orgamismos Econ6micos, Praça 7 de Março, 8. andar.. Caixa Postal 1831. telelone 27204 Lourenço Marques SECRETARIA PROVINCIAL DE COMÉRCIO E INDOTRI0A ESGOTOU-SE EM POUCAS -HORAS O OLTIMO NOMERO DA NOSSA REVISTA O público, ávido a ansioso, formou longas bichas junto dos postos de venda da nossa revista, esgotando-a, rapidamente em poucas horas, apesar de novo aumento da nossa tiragem. As imagens reportam-se. uma, ao vivo interesse com que o povo, em plena rua, lia atentamente o último número da «TEMPO» e, na outra, uma das várias «bichas» formadas imediatamente após ter sido posto à venda. Ao registarmos o facto. fazómo-lo no apenas com o -natural orgulho de quem se sente tao amplamente preferido mas, sobretudo, por sentirmos que o nosso trabalho vai ofectivamente de encontro às aspirações do Povo Moçambicano, bemnecessitado, neste momento, da urgente e válida campanha de esclarecimento e politiz«ço que lhe foi recusada ao longo de meio século. NOVO PREÇO A PARTIR DA PRÓXIMA EDIÇÃO Forçada por imperativos que são estranhos à sua vontade, mas que conhecidos de toda a gente 1e. que etio na base de decisões semelhantes, a Adminis-tr94ão "do «Tempo» vê-se obrigada a aumentar o preço de venda da Revista em 50% a partir do próximo número. O fenómeno toínou-se universal nos' últimos meses: depois dos jornais diários moçambicanos, os jornais de Portugal aumenitarem o seu preço de 66%, o mesmo acontecendo com diversos seman ários, como o nossò prezado, colega «Expresso», que há duas semanas se viu igualmente forçado a 'subir de 50% o seu preço. Esta nossa decisão. foi retardada até aos limites do possível. Mas o preço do papel, que há poucos meses ainda andava -pelos 8 contos a tonelada é agora por nós adquirido a mais de 18 contos cada toneleada, os salários de todo o pessoal tiveram de acompanhar a até agora imparável inflaç6o (só a última revisão salarial custará mais de 4 mil contos por ano) e a premente necessidade de uma mais ampla cobertura dos acontecimentos, agora que a imprensa é finalmente livre, nao nos deixaram outra alternativa. «Tempo» vai passar assim a custar 1550Q. Esperamos que os nossos leilores compreendam esta inelutável decisão e prometemos, pela nossa parte, fazer mais e melhor pela nossa Revista e por Moçambique. e COMBOIO DA PR.OTAL Por lapso. no anúncio referente ao Comboio da Protal publicado no nosso Suplemento dedicado à FACIM. saiu que1 areceita se destina à Obra do ZÉ DOS POBRES, quando de facto reverte a, favor da CASA DO GAIATO. m . . . . .G.I. . .3 ENTRE A UTOPIA E O REALISMO AI por Moçambique fora - e o ien6mono estende-se igualmente a Portugal uma onda de reivindicaçõos dos trabalhadores que, em muitos casos, se transforma em situação de greve. -Entre nós mais do que em Portugal. onde se fez uma implantação rápida dos sindicatos e estes começaram quase imediatamente a funcionar em moldes correctos, estes movimentos podem definir-se por aquilo que em linguagem sindical se costuma designar por greves «selvagens». Ora a greve é uma forma de luta, um processa legal e democrático, universalmente reconhecido, de as classes trabalhadoras se anteporem ao poder económico que, som os mecanismos deste tipo, se torna senhor absoluto de todas as situações, procurando obter. através delas, mais justas condições de trabalho e salários, numa palavra, uma mais equilibrada distribuição da riqueza nacional. Mas uma orma de recurso, a última a dever ser utilizada, pois numa sociedade livro há outros meios de pressão e de luta - o s6 quando se esgotam esses meios a greve 6 utilisada. intenso e quase sempre justo movimento reivindicativo que surgiu entre n6s com o destampar da opressão, por mais compreensiva e aberta que seja a nossa atitude - e todos temos de entender a pressa com que as pessoas desejam ver restabelecido um mínimo de justiça social-, não pode deixar de merecer uma séria meditação. Na realidade, começa por ser meridiano e evidente que não ao podem resolver, 10 mil problemas ao mesmo tempo e que não se poderá fazer, em 48 horas ou 49 dias, aquilo que todos consentimos - todos temos as nossas responsabilidades na longa noite fascista por que acabamos de passar, pois a repressão e o medo não explicarão á luz da história a abulia cobarde de tantos milhões de homens dominados meio século por uma clique que jogou sempre na nossa incapacidade de reagir à intimação - que não se 'tenha feito em 48 anos. Esta 6 uma utopia que pode custa muita desilusão e amargura, e, curto prazo. CONTECE que muit raciocionar e a termos de oposiça bar que estamos revolução social que paralelo na revolução e que opôr-se, neste refiro, é criar dificulda luta. a gente aparece a actuar ainda em 0o, sem se apercediante de uma só achará talvez cultural chinesa, sentido a que me dos ásua própria Por outro lado, não é menos evidente que todas as reivindicações, sejam elas as mais justas e pertinentes, não poderão nuncc. exceder a capacidade da economia moçambicana, a qual, não só incipiente e em graves dificuldades, servida por estruturas obsoletas e Inadequadas, não poderá parar e, em muitos casos, não estará em condições de suportar um tratamento de choque como o que se esboça no quadro dos actuais movimentos reivindicativos. É outra ilusão que sã correrá quem não estiver atento., E U sei que a miragem de uni rápido aumento de salários, num pais pobre, ainda por cima saqueado e pauperizado por uma adminlstração incompetente, corrupta e elitista, tem uma força terrivelmente fascinante. Também estou 'certo de que, em alguns sectoreq ou actividades de maior rentabilidade, não será difícil nem inviável fazer comportar às estruturas económicas correspondentes o justo preço dessas legitimas aspirações. Mas estou igualmente convicto de que, em muitos outroas, forçar de imediato, som uma profunda dinamização e reconversão estrutural, uma subida sensível de custos salariais poderá desencadeaer uma crise económica grave, com todo o seu cortejo de tensões, falências, desemprego, etc. Numa palavra, fazer o jogo da reacção, abrir o caminho &s ainda arreigadas nostalgias da «ordem» e dos «governos fortes", que todos sabemos onde nos levdm. OR tal preço parece-me que ninguém. a não ser os contra-revolucionários, quererá cobrar, de corrida e em tumulto, os dividendos de uma revolução que só agora ainda começou. O recurso Indiscriminado à greve selvagem», em que grupos e grupinhos, numa espécie de circuito fechado reivindicam muitas vezes pequenos interesses imediatos, desligados no contexto geral, é, neste momento e neste pais, sangrado por uma guerra -colonial de 11 anos e por uma administração económicofInanceira que roça pelo descalabro, uma arma de dois gumes que pode ferir gravemente' aqueles que a manejam. Cada vez que pára uma fábrica, duas fábricas, que empresas e inatituições entram em colapso, que os trabalhadores do campo * da cidade paralisam esta ou aquela actividade, não é apenas o poder económico, o patronato ou as grandes empresas que são afectadas:.6 também a economia moçambicana e, em última análise, os que, quantas vezes manipulados por oportunistas e aventureiros, fazem as greves. 5 grandes patrões do Chile deram-nos uma boa lição, que devemos ter sempre presente, com a sua luta tenaz e o seu obstrucionismo ao bem intencionado mas ingénuo programa de justiça social de Salvador Aliene, não hesitando mesmo, como hoje está provado, em fomentar greves o tensões económicas, que lhes custaram algum dinheiro, mas que eles sabiam, os iria conduzir ao «stato que» anterior. O general António Spnola,,, tal, como os elementos mais responsáveis dc M.F.A. e do próprio Governo Provisórir têm multiplicado os seus alertas sobre este problema que pode comprometer a própria revolução e que está já, neste momento, com as actividades produtivas a funcionar a meio gás, a comprometer a produção e a riqueza nacionais. Nas palavras .do Prof. Palma Carlos, era "necessário pôr fim a excessos que a libertação de um povo sufocado durante quase meio século subitamente fez explodir», pois «uma revolução faz-se num dia, uma alteração de estruturas sociaí é6obra que exige longõ estudo e ponderação.» EPOIS da paz, a reconstrução naci. D nal tem de ser o objectivo mais premente, aquele de que depende a verdadeirà solidificação das liberdades que agora temos, mas que não conquistámos. e que eu desejo não nos tirem a lucidez indispensável para esta hora alta, mas grave, que vivemos.ç Temos de ter todos consciência desta situação. O próprio Alvaro CunhaL afli nal um homem profundamente sensato, que não come criancinhas nem atira bombas, tem repetido as condpnações públicas destas greves e relvindicações em magsa, «que não servem os intores, as dos trabalhadores- e que, come afirmou há dias a um Jornal alemãoj «significativamente têm sido bem acolhi das pelo patronato * até pelos fascisOtQi» palavra de ordem tem de ser justi çq A mas também e principalmente tra. R balho. Temos de produzir primeiro para depois dividir melhor * mais justamente («de um bolso vazio não se pode tirar nada», realmente) e na me* talização desta tarefa tém um papel importante a dõsempenhar os novoi chefes políticos desta Terra, os daquI como os de Portugal, que, agora livrei terão de optar entre a demagogia e responsabilidade. Se nesta hora de euforia, liberdade e bem fundadas esperanças, estas pala vras não agradarem a muita gente, bu troco conscientemente o risco de parecer menos popular pela miragem de uma ilusão para que não estou disposto a arrastar ninguém. RUI CARTAXANA CAFRICA 74.10 *Z4fr' o . ,.u - fLnl x .. . '1