1 Universidade Federal de Ouro Preto Centro de Educação Aberta e a Distância PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS COM FOCO EM RAÇA E GÊNERO CLAUDNEY OTAVIANO DE ARRUDA RACISMO E EUROCENTRISMO: UMA ANÁLISE DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS JUNHO/ 2012 CONSELHEIRO LAFAIETE – MG 2 Universidade Federal de Ouro Preto Centro de Educação Aberta e a Distância PROGRAMA DE EDUCAÇÃO PARA A DIVERSIDADE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE POLÍTICAS PÚBLICAS COM FOCO EM RAÇA E GÊNERO CLAUDNEY OTAVIANO DE ARRUDA RACISMO E EUROCENTRISMO: UMA ANÁLISE DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS Trabalho apresentado à Universidade Federal de Ouro Preto como requisito para a obtenção de Grau de Especialista em Gestão em Políticas Públicas com foco em Gênero e Raça. Orientadora: Amanda Dutra Hot JUNHO-2012 CONSELHEIRO LAFAIETE – MG 3 O que nos parece indiscutível é que, se pretendemos a libertação dos homens, não podemos começar por aliená-los ou mantê-los alienados. A libertação autêntica, que é a humanização em processo, não é uma coisa que se deposita nos homens. Não é uma palavra a mais, oca, mitificante. É práxis, que implica a ação e a reflexão dos homens sobre o mundo para transformá-los. (PAULO FREIRE, 1970) 4 RESUMO Este estudo tem por finalidade fazer uma análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais investigando qual o seu papel no combate ao eurocentrismo e ao racismo. Para alcançar seus objetivos, discorre-se sobre raça, racismo, eurocentrismo, sobre o currículo escolar e o negro, no contexto educacional e sobre a implantação da Lei 10639/03. Como metodologia utilizouse a pesquisa bibliográfica sempre a luz dos conteúdos apresentados na coletânea de livros do curso de especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça – GPP-GeR. Outra fonte importante de pesquisa bibliográfica utilizada foi a apresentada no livro “Superando o Racismo na escola” que nos traz uma reflexão sobre o lugar das tradições africanas na escola e incentiva os educadores a avaliar e ampliar seus conhecimentos sobre o negro, sua cultura, sua história e sobre a própria história do povo brasileiro, além de fornecer aos educadores sugestões de atividades para o trabalho em sala de aula. Também foi feita coleta e análise de dados. Os dados foram colhidos através de questionário (ANEXO A), aplicados em 10 professores e 4 especialistas da rede pública estadual de ensino de Minas Gerais, cujos depoimentos tornaram-se o alicerce deste estudo. A hipótese inicial levantada é que, apesar do avanços tanto nas legislações quanto nas políticas afirmativas, ainda se omite a cultura da etnia negra, valoriza-se o eurocentrismo e estimula-se o racismo nos currículos das escolas brasileiras e que os PCNS pouco contribuíram para o avanço nas discussões sobre o tema apresentado neste projeto. Tal hipótese foi confirmada ao longo do trabalho. Palavras chaves: racismo, eurocentrismo, PCNs, educação 5 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 06 1. RAÇA, RACISMO E EUROCENTRISMO 10 2. NEGRO E EDUCAÇÃO 14 2.1 O currículo escolar e o negro 17 2.2 A Lei Nº 10639/03 22 3. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, EUROCENTRISMO E RACISMO 27 4. ANÁLISE DE DADOS 34 CONSIDERAÇÕES FINAIS 44 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 46 ANEXO A 51 6 INTRODUÇÃO Mesmo sendo a população brasileira composta de 45% de população negra, segundo o IBGE 2010, ainda há uma grande tensão entre a cultura e o padrão estético negro, africano e indígena e o padrão estético e cultural branco europeu. Valoriza-se em demasia a brancura e as nossas raízes européias em detrimento das nossas também raízes africanas e indígenas. A Constituição da República Federativa do Brasil, do ano de 1988, é bem clara quando declara seus pressupostos: (...) assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social (...) (BRASIL, 1988, p. 1). A atual Constituição brasileira tem seus princípios baseados na prevalência dos Direitos Humanos, na tolerância às diferenças e repúdio a quaisquer formas de discriminação. Estes princípios são também garantidos, no campo educacional, através da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Nº 9394/96. Esta lei garante, ao contexto educacional, a especificidade de articular com a diversidade, por meio do respeito às manifestações culturais, bem como elaborar um currículo que atenda às necessidades de todos os envolvidos na relação ensino – aprendizagem. Mas não foi sempre assim. Na primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB, lei 4024 de 1961, tinha-se a determinação de se condenar qualquer tratamento desigual movido por “convicção filosófica, política ou religiosa, bem como quaisquer preconceitos de classe ou de raça”. No entanto, nada mencionava sobre valorização da diversidade étnicoracial. Posteriormente, as demais leis 5.540/68, 5.692/71 e a 7044/82 também se omitiram e ignoraram as reivindicações do movimento negro e os tratados internacionais que já exigiam uma postura mais séria do Brasil e a adoção de medidas que suprimissem as discriminações raciais. 7 A Constituição de 1988 e a LDB de 1996, portanto, avançaram, mas é certo que não conseguiram por si só resolver os problemas brasileiros acabando com a discriminação e racismo visto que não foram seguidas da implantação pelos sistemas de educação de programas e políticas públicas específicas e reparatórias à situação da população negra. Porém, foi mesmo a LDB de 1996 que apresentou o principal elemento qualitativo da transição institucional da educação brasileira: redefiniu papéis e responsabilidades dos sistemas de ensino, concedeu mais autonomia à escola, flexibilizou os conteúdos curriculares e estimulou a qualificação do magistério. Em 2003, a lei 10639 configurou-se como importante aliada na educação de cunho antirracista e anti-discriminatória: tornou obrigatória a inclusão, no currículo das escolas de ensino fundamental e médio (públicas e privadas), o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana, e também instituiu o dia “20 de novembro” como uma data comemorativa no calendário. A referida lei conferiu à Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira maior especificidade no tocante ao ensino de História e Cultura da África e dos afrodescendentes. Para a regulamentação da LDB, o Conselho Nacional de Educação - CNE elaborou o parecer CNE/CP nº 3, de 10 de março de 2004 que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileiras e Africanas e daí surgem os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN, elaborados pelo MEC em 1996, e que serviria de orientador para a construção do currículo escolar. É fato que o Brasil tem caminhado no combate ao racismo e ao eurocentrismo, mas muito ainda precisa ser feito. Vale lembrar que o racismo pode se apresentar de várias formas, desde a mais brutal e institucional forma de racismo - o genocídio e o apartheid, até àquelas bem escondidas que impedem grupos raciais e étnicos de se beneficiarem dos mesmos direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais comuns a outros grupos da sociedade. Diante do exposto, este estudo tem como foco o negro, sua história, sua luta e sua situação atual no contexto educacional, afinal os negros ainda são minorias nas salas de aula. Este projeto, ao focar o negro, teve como objetivo geral analisar os Parâmetros Curriculares Nacionais investigando qual o seu papel no combate ao eurocentrismo e ao racismo. 8 Também apresentou definições para raça, racismo e eurocentrismo e discorreu sobre o currículo escolar e o negro, no contexto educacional. Como metodologia utilizou-se a pesquisa bibliográfica sempre a luz dos conteúdos apresentados na coletânea de livros do curso de especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça – GPP-GeR1. Outra fonte importante de pesquisa bibliográfica utilizada foi a apresentada no livro “Superando o Racismo na escola”2 que nos traz uma reflexão sobre o lugar das tradições africanas na escola e incentiva os educadores a avaliar e ampliar seus conhecimentos sobre o negro sobre o negro, sua cultura, sua história e sobre a própria história do povo brasileiro, além de fornecer aos educadores sugestões de atividades para o trabalho em sala de aula. Os dados foram colhidos através de questionário (ANEXO A), aplicados em 10 professores e 4 especialistas da rede pública estadual de ensino de Minas Gerais, cujos depoimentos tornaram-se o alicerce deste estudo. Para alcançar seus objetivos, este projeto, primeiramente, discorre um pouco sobre a história do negro e do conceito de raça. Em seguida, apresenta algumas definições de racismo e de eurocentrismo e apresenta brevemente o negro no contexto educativo, o currículo escolar e a Lei 10639/03. Posteriormente, parte-se para uma análise dos Parâmetros Curriculares Nacionais, principal objetivo deste projeto, e das respostas dos questionários aplicados a professores e especialistas. A hipótese inicial levantada é que, apesar do avanços tanto nas legislações quanto nas políticas afirmativas, ainda se omite a cultura da etnia negra, valoriza-se o eurocentrismo e estimula-se o racismo nos currículos das escolas brasileiras e que os PCNS pouco contribuíram para o avanço nas discussões sobre o tema apresentado neste projeto. Em nenhum momento, houve pretensão de esgotar o assunto, visto sua amplitude e relevância. O que se quis de fato foi colaborar com a reflexão sobre algo tão polêmico e tão sério já que os afro-descendentes continuam sofrendo discriminações nos espaços escolares e 1 O GPP-GeR é ofertado através da parceria Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM/PR), a Secretaria Especial de Políticas de Produção da Igualdade Racial (SEPPIR/PR), a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC), o Ministério da Educação, o Instituto de Pesquisas Aplicadas- IPEA e o Fundo das Nações Unidas para a Mulher – UNIFEM. 2 MUNANGA, Kabengele. (Org.). Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005. 204p. 9 que para mudar este quadro é preciso mais do que respeito e cumprimento das obrigações curriculares, é preciso uma postura ética e valorativa. 10 1. RAÇA, RACISMO E EUROCENTRISMO Para Munanga (2003, p. 27) “O conceito de raça, tal como o empregamos hoje, nada tem de biológico. É um conceito carregado de ideologia, pois como todas as ideologias ele esconde uma coisa não proclamada: a relação de poder e dominação”. De acordo com as colocações do livro Gênero e Diversidade na Escola, organizado por Andreia Barreto, Leila Araújo e Maria Elisabete Pereira (2009), o racismo é uma doutrina e já foi considerado uma teoria científica e, embora tenha sido contestado pela ciência contemporânea ainda vigora no senso comum. Uma teoria torna-se doutrina, quando ganha força no senso comum e se mantém na vida em sociedade, tanto pela repetição, quanto pela ignorância ou preconceito. É necessário lembrar que ao falarmos de doutrina estamos nos referindo ao tipo de conhecimento que sustenta sistemas religiosos, políticos ou mesmo filosóficos, mas que se opõe à ideia de ciência por não se basear na comprovação científica, mas na repetição de algo aprendido (BARRETO, 2009, p.192). Outro dado importante a ser lembrado é que o racismo veio do racialismo, doutrina protocientifica que pregava que diferenças biológicas eram responsáveis por características psicológicas, intelectuais ou de caráter distinto que tornavam uma raça superior a outra. Até o começo do século XIX, raça foi sinônimo de linhagem. Porém ao longo deste século firmou-se à medida que alguns pensadores usavam as teorias biológicas e evolucionistas para explicar as diferenças entre as espécies de animais e as espécies humanas. No entanto, tais teorias passaram, mais tarde, a serem usadas também para explicar características de fundo moral. Assim, no século XIX: A concepção religiosa cristã da irmandade entre todos os homens e mulheres e a concepção filosófica de que cada pessoa humana estava igualmente apta a “progredir” foram substituídas pela ideia de que a humanidade se encontrava irremediavelmente dividida em tipos raciais, e que esses tipos – em função de suas diferenças inatas e hereditárias – não tinham as mesmas capacidades para “evoluir” culturalmente ou “progredir” socialmente. (HEILBORN, et all, 2010, p. 194). Se não é mais possível sustentar o racismo enquanto teoria científica e dividir os seres 11 humanos em raças, o racismo sobrevive enquanto atitude dos homens. Pois, O racismo é uma doutrina que afirma não só a existência das raças, mas também a superioridade natural e, portanto, hereditária, de uma sobre as outras. A atitude racista, por sua vez, é aquela que atribui qualidades aos indivíduos ou aos grupos conforme o seu suposto pertencimento biológico a uma destas diferentes raças e, portanto, de acordo com as supostas qualidades ou defeitos inatos e hereditários. (HEILBORN, et all, 2010, p. 196) E ainda: O racismo tem sua história, que é tipicamente ocidental e moderna e diz respeito de saber e poder que se estabeleceram tanto internamente `população européia, quanto entre as sociedades européias ou europeizadas e uma grande variedade de outras sociedades e povos. Em ambos os casos, o que o racismo faz é usar as diferenças para naturalizar as desigualdades. (HEILBORN, et all. 2010, p.197) Essed (1991), assim como outros estudiosos, considera duas dimensões do racismo: a dimensão estrutural e a dimensão ideológica ou simbólica. Racismo é uma ideologia, uma estrutura e um processo pelo qual grupos específicos, com base em características biológicas e culturais verdadeiras ou atribuídas, são percebidos como uma raça ou grupo étnico inerentemente diferente e inferior. Tais diferenças são, em seguida, utilizadas como fundamentos lógicos para excluírem os membros desses grupos do acesso a recursos materiais e não materiais. Com efeito, o racismo sempre envolve conflito de grupos a respeito de recursos culturais e materiais (ESSED, 1991, p. 174). Para o autor, o racismo se manifesta por meio de regras, práticas e manifestações individuais, não sendo uma característica de indivíduos. Deste modo, combatê-lo não significa lutar contra os indivíduos, porém opor-ser às práticas e ideologias pelas quais o racismo opera através das relações culturais e sociais. Na ideologia dominante, em geral não se reconhece que o racismo seja um problema estrutural. (...) o termo racismo é reservado apenas a crenças e ações que apóiam abertamente a idéia de hierarquias de base genética ou biológica entre grupos de pessoas. O problema dessas definições restritas de racismo é que elas tendem a fazer vista grossa à natureza cambiante do racismo nas últimas décadas. O discurso do racismo está se tornando cada vez mais impregnado de noções que atribuem deficiências culturais a minorias étnicas. Essa culturalização do racismo constitui a substituição do determinismo biológico pelo cultural. Isto é, um conjunto de diferenças étnicas reais ou atribuídas, representando a cultura dominante como sendo a norma, e as outras culturas como diferentes, problemáticas e, geralmente, também atrasadas (ESSED, 1991, p. 174). No livro “Por uma cultura dos direitos humanos na escola: princípios, meios e fins”, organizado por Keila Deslandes e Érika Lourenço, encontra-se, em nota de rodapé, a definição de raça dada por Guimarães (GUIMARÃES, 2002:50-51): 12 Para Guimarães raça é: “não apenas uma categoria política necessária para se organizar a resistência ao racismo no Brasil, mas também uma categoria analítica indispensável: a única que revela que as discriminações e desigualdades que noção brasileira de “cor” enseja são efetivamente raciais e não apenas de “classe”. Não há raças biológicas, ou seja, na espécie humana nada que possa ser classificado a partir de critérios científicos e corresponda ao que comumente chamamos de ‘raça’ tem existência real. O que chamamos de raça tem existência nominal, efetiva e eficaz apenas no mundo social e, portanto, somente no mundo social podemos também dispensar o conceito de raça? A resposta teórica parece ser bastante clara: primeiro, primeiro quando já não houver identidades raciais, ou seja, quando já não existem grupos sociais que se identifiquem a partir de marcadores direta ou indiretamente derivados da ideia de raça; segundo, quando as desigualdades, as discriminações e as hierarquias sociais efetivamente não corresponderem a esses marcadores; terceiro, quando tais identidades e discfriminações forem imprescindíveis em termos tecnológicos, sociais e políticos, para a afirmação social dos grupos oprimidos” (CAPUTO, PASSO, 2011, 72)3 Ainda, no mesmo livro e citando o mesmo autor, encontras-se: Embranquecimento, diz Guimarães, passou a significar a capacidade da nação brasileira (definida como uma extensão da civilização europeia, em que uma nova raça emergia) de absorver e integrar mestiços e pretos. De acordo com ele, tal capacidade requer sua ancestralidade africana ou índigena. Guimarães (2002) também se refere à relação entre embranquecimento e fé. Para ele, justamente por ser o catolicismo o cimento de uma ordem injusta e desigual, a Igreja Católica não aceita a todos os índios indistintamente. O autor lembra que a Igreja pede fidelidade às crenças católicas e aos costumes europeus e exige o “embranquecimento da alma e da fé”. O que vale aqui para os índios considerados pagãos para a Igreja Católica, certamente vale para os praticantes de cultos afrobrasileiros, com suas narrativas e mitos rituais são considerados, muitas vezes, demoníacos (CAPUTO, PASSO, 2011, p. 73). Para Santomé (1995, p.168-169), o racismo é fruto da história econômica, social, política e cultural da sociedade na qual foi produzido, muitos o usam como justificativa e reforço aos privilégios econômicos e sociais dominantes. Para ele, são numerosas as formas - consciente ou oculta - pelas quais o racismo aflora no sistema educacional. (SANTOMÉ, 1995) É importante para este estudo as definições também de etnocentrismo e eurocentrismo. Etnocentrismo defini-se por um visão ou avaliação que um grupo faz de outro baseada apenas em seus próprios valores, modelos, referências e padrões. Tal avaliação é feita através do ponto de vista específico, portanto preconceituosa. Nasce daí a dificuldade em pensar a diferença. 3 Citado em nota de rodapé por: CAPUTO, Stela Guedes; PASSO, Mailsa Carla. Práticas narrativas da diáspora africana: notas sobre o papel da escola na valorização da diversidade. (61-80). In: DESLANDES, keila; LOURENÇO, Érika. org.: Por uma cultura dos direitos humanos na escola: princípios, meios e fins. Belo Horizonte, MG: Fino Traço, 2011. p. 72. 13 Já o eurocentrismo remete a idéia de que a Europa e seus elementos culturais são referência no contexto de composição de toda sociedade. Tal idéia acabou por menosprezar inúmeras culturas de civilizações que contribuem para a diversidade sociocultural do mundo, principalmente daquelas nações que foram colonizadas pelos europeus a partir do século XV. Para Samir Amin (1994) o eurocentrismo é a crença generalizada de que o modelo de desenvolvimento europeu-ocidental seja o desejável para todas as sociedades e nações. Discutir os conceitos de raça, racismo, eurocentrismo e etnocentrismo torna-se importante no contexto escolar visto que nos permite pensar sobre nossas próprias atitudes diante das pessoas com as quais convivemos e se não temos nós mesmos investido em práticas eurocêntricas. 14 2. NEGRO E EDUCAÇÃO As poucas abordagens sobre as trajetórias educacionais dos negros no Brasil, revela uma tendência que perdurou durante muito tempo na produção historiográfica brasileira, um eurocentrismo histórico. Infelizmente, no Brasil, esta problemática ainda permanece, principalmente no que refere à história da educação brasileira que não tem contemplado a multiplicidade dos aspectos da vida social e da riqueza cultural do povo brasileiro4 (SANTOS, 2012) D e acordo com Santos (2012), pesquisas recentes sobre o tema comprovam a presença de crianças negras no sistema oficial de ensino já entre o final do século XIX e o início do século XX. Souza, ao estudar os sete primeiros grupos escolares instalados em Campinas, no período de 1897 a 1925, identifica "a presença de crianças negras em fotografias de turmas de alunos de diferentes grupos escolares e em diferentes épocas" (SOUZA,1999, p.118). Os mecanismos oficiais que desde o Império até o início da República impediram o acesso dos negros à instrução pública eram, sobretudo, de natureza legislativa. No artigo “Escolarização da População Negra Entre o Final do Séc. XIX e o Início do Séc. XX”, Rosemeire Souza (2012) traça um percurso da legislação brasileira referente ao acesso e permanência do negro na educação brasileira como se vê nos próximos parágrafos. A Constituição de 1824, restringiu o acesso à escola formal somente aos cidadãos brasileiros. Essa restrição automaticamente interditava o ingresso da população escrava ao sistema oficial de ensino, visto que, a grande maioria dos escravos era de origem africana. A Reforma de Couto Ferraz, pelo Decreto 1.331/1854, estabeleceu a obrigatoriedade e gratuidade da escola primária para crianças maiores de 07 anos, inclusive libertos, desde que provenientes de família com algum recurso. No entanto, não seriam admitidas crianças com moléstias contagiosas nem escravas. Essa reforma, além de associar (implicitamente) às crianças escravas às doenças contagiosas não previa nenhum tipo de instrução destinada aos adultos. 4 SANTOS, Rosemeire. Escolarização da População Negra Entre o Final do Séc. XIX e o Início do Séc. XX. In.: http://www.webartigos.com/artigos/a-escolarizacao-da-populacao-negra-entre-o-final-dosec-xix-e-o-inicio-do-sec-xx/8027/#ixzz22Q7wkrv8. Acesso em 10/06/12. 15 Após a abolição da escravatura (1888), várias tentativas são realizadas para regulamentar o ensino público brasileiro. A Reforma de Benjamin Constant, no Decreto nacional nº 981/1890, estabeleceu a introdução da disciplina "Moral e Cívica", uma nítida tentativa de normatizar a conduta moral da sociedade após a libertação dos escravos. No decreto nº 982/1890, foram estabelecidas outras medidas proibitivas, punitivas, centralizadoras e elitistas, tais como: não permissão aos alunos de ocuparem-se na escola da redação de periódicos, permissão de intervenção policial em casos de agressão ou violência e a expulsão dos culpados, nomeação direta pelo governo federal dos diretores das escolas públicas. A Reforma de Epitácio Pessoa, sob o decreto nº 3.890/1901, aprovou a criação de instituições de ensino superior fundadas pelos governos estaduais e iniciativas particulares. Os novos cursos possuíam o mesmo status do sistema federal e suas matrizes de diferenças sócioculturais. A Reforma de Rivadávia Corrêa, através do Decreto nº 8.659/1911, concedeu maior autonomia aos diretores que instituíram taxas e exames para admissão no ensino fundamental e superior. A Reforma de Carlos Maximiliano, pelo Decreto nº 11.530/1915, tentou sistematizar o ensino oficial através da criação do Conselho Superior de Ensino. Apesar desta tentativa, o ensino primário que continuou a cargo dos estados, permaneceu extremamente precário. A Reforma de João Luís Alves sob o Decreto nº 16.782/1925, também conhecida como Lei Rocha Vaz, restringiu o número de vagas nas escolas secundárias e superiores que passaram a ser determinadas pelo próprio governo. Observa-se que as reformas educacionais dos séculos XIX e XX, embora sob signo aparente da universalização, democratização e gratuidade do ensino, não criaram condições reais aos negros recém-egressos do cativeiro de vencerem as dificuldades do passado e incluírem-se efetivamente no universo da escolarização, muito pelo contrário, algumas delas por estarem baseadas em critérios econômicos, como a Reforma de Rivadávia, agravaram mais ainda a exclusão sócioeducacional dessa população. 16 Mas, não foram somente os obstáculos legais que impediram o acesso e/ou a permanência da população negra no sistema oficial de ensino. Pesquisas nos mostram como dificuldades enfrentadas no cotidiano da vida escolar foram tão pertinentes quanto os fatores oficiais. Ao lado de uma legislação oficial que não engendrava condições dignas de acesso e permanência nas escolas (dificuldade em adquirir vestimentas e materiais escolares, abandono da escola para contribuir com o sustento da família, falta de consciência de uma população ex-egressa do cativeiro da importância da educação), somava-se o duro, e difícil cotidiano de preconceito e discriminação nas escolas, que tanto quanto e/ou muito mais contribuíram para o afastamento de grande parcela da população negra do processo de ensino até os dias atuais. Sabe-se que durante o século XX e neste século XXI luta-se pela igualdade de gênero e étnico-racial e também pelo respeito à diversidade. Na contramão, ainda temos atitudes e convenções discriminatórias. O IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2010) revelou mais uma vez, apesar de uma tímida melhora, a situação de exclusão da população negra à educação. Segundo as pesquisas, os negros ainda tem menos acesso à educação. O percentual de jovens brancos de 18 a 24 anos de idade que cursavam o ensino superior em 2009 era de 62,6%, entre os jovens negros o percentual era de 28,2% e para os pardos, o percentual era de 31,8%. Em relação à população de 25 anos ou mais, com o ensino superior concluído, a pesquisa revela um crescimento na proporção de negros, em 1999, 2,3% e em 2010, 4,7%. Entre os pardos passou de 2,3% para 5,3%. No mesmo período, o percentual de brancos com o ensino superior concluído passou de 9,8 para 15%. No ano de 2009, a população branca de 15 anos ou mais tinha, em média 8,4 anos de estudo, enquanto entre os negros a média era de 6,7 anos. Para Munanga (2005), Não precisamos ser profetas para compreender que o preconceito incutido na cabeça do professor e sua incapacidade em lidar profissionalmente com a diversidade, somando-se ao conteúdo preconceituoso dos livros e materiais didáticos e às relações preconceituosas entre alunos de diferentes ascendências étnico-raciais, sociais e outras, desestimulam o aluno negro e prejudicam seu aprendizado. O que explica o coeficiente de repetência e evasão escolar altamente elevado do alunado negro, comparativamente ao do alunado branco. (MUNANGA, 2005, p. 16) 17 Para este autor, o alto índice de evasão e repetência de alunos negros na escola é causado pela situação sócio-econômica dos pais mas muito também pela falta de memória coletiva, da história, da cultura e da identidade dos alunos afro-descendentes, apagadas no sistema educativo baseado no modelo eurocêntrico. Para Afonso (2012), há muitas desigualdades marcantes no ambiente escolar tanto em razão de raça/cor, quanto a sexo, orientação sexual, etc. e muitas crianças e adolescentes na escola precisam enfrentar o cotidiano repleto de preconceitos e intolerâncias os quais “impactam o seu desenvolvimento e interferem na qualidade da sua aprendizagem e futuramente, na sua inclusão no mundo do trabalho, da política, da cultura, enfim, na vida da sociedade”. (AFONSO, 2012, p. 8) Percebe-se, pois, que para entender o racismo mais do que uma discussão teórica é preciso que haja uma séria reflexão sobre nossos próprios valores, crenças e comportamentos e sobre o efeito deles em nossa vida. Para Silva (1998), a escola é um importante agente articulador de mudanças. E afirma: (...) é urgente o resgate da auto-estima das pessoas negras. A educação tem um papel fundamental nessa tarefa de reconstrução da auto-imagem da mulher e do homem negros. Nossas crianças precisam conhecer sua história e é tarefa da escola ensinar a história do povo negro. É imprescindível superar as mentiras das histórias oficiais, que mais atrapalham do que ajudam. É imperativo que esta história seja ensinada por pessoas que, verdadeiramente, conheçam a história do povo negro. É preciso que o estudo sobre a História da África integre os currículos das escolas do 1º. ao 3º. Graus (SILVA, 1998, p. 34). Desde modo, percebe-se que uma mudança nas relações inter-raciais, numa cultura de respeito à alteridade, com mais justiça e tolerância ao outro, necessariamente, passa pela escola. 2.1 O CURRÍCULO ESCOLAR E O NEGRO A aprendizagem escolar está diretamente vinculada ao currículo, organizado para orientar, dentre outros, os diversos níveis de ensino e as ações docentes. Por currículo entende-se neste projeto: 18 (...) entendemos o currículo como o projeto que preside as atividades educativas escolares, define suas intenções e proporciona guias de ação adequadas e úteis para os professores, que são diretamente responsáveis pela sua execução. Para isto, currículo proporciona informações concretas sobre o que ensinar, quando ensinar, como ensinar e quando, como e o que avaliar (COLT, 1987, p. 15) Sobre o currículo escolar brasileiro, vale lembrar que: No Brasil existem preocupações com a organização do Currículo no processo de escolarização desde os anos 20, quando o Movimento da Escola Nova, por meio de Anísio Teixeira, Fernando de Azevedo e M. B. Lourenço Filho, influenciados pelo pensamento de Dewey e Kilpatrick; promoveram reformas em diversos estados brasileiros. Naquele momento, os primeiros questionamentos são dirigidos aos processos de escolarização da época para contestar seu caráter elitista, reducionista e etnocêntrico5. (LEMES, 2012) Vê-se que a preocupação com a visão de mundo eurocêntrica, branca, católica e masculina ligada ao currículo escolar não é algo recente. Mesmo assim, ainda tem-se no Brasil um currículo eurocêntrico, no tocante a diversidade cultural, social, étnica, religiosa etc. Para Gonçalves e Silva (2007), o currículo, sempre (...) privilegiou a cultura branca, masculina e cristã, menosprezou as demais culturas dentro de sua composição do currículo e das atividades do cotidiano escolar. As culturas não brancas foram relegadas a uma inferioridade imposta no interior da escola; concomitantemente, a esses povos foram determinadas as classes sociais inferiores da sociedade (GONÇALVES; SILVA, 2007, p. 23). Para se conquistar uma educação anti-racista é preciso zelar pelo respeito à diferença, à diversidade e não se isentar do compromisso com os mais necessitados e fragilizados. Pode-se observar que a cultura dos afro-descendentes continua sofrendo discriminações nos espaços escolares, para mudar este quadro é preciso mais do que respeito e cumprimento das obrigações curriculares , é preciso uma postura ética e valorativa. O currículo, pensado em toda a sua dinâmica, não se limita aos conhecimentos relacionados às vivências do educando, mas introduz sempre conhecimentos novos que, de certa forma, contribuem para a formação humana dos sujeitos. Nessa perspectiva, um currículo para a formação humana é aquele orientado para a inclusão de todos no acesso aos bens culturais e ao conhecimento (LIMA, 2006). 5 In: LEMES, Sebastião de Souza. A organização do currículo e a escola democratizada: pistas históricas e perspectivas necessárias. < http://www.pead.faced.ufrgs.br/sites/publico/eixo5/organizacao_escola/modulo2/saber_mais.pdf. > Acesso em 02/02/2012. 19 Um currículo elaborado pela escola deve pois ser pensado coletivamente e precisa enfrentar os desafios que a diversidade cultural nos traz. A partir da temática da diversidade, a escola é chamada a enfrentar o desafio da diferença e do cruzamento de culturas. Ela precisa acolher, criticar e colocar em debate as diferentes manifestações culturais, diferentes saberes, diferentes óticas, ser-fazer dos educandos. A educação para a diversidade traz como pressupostos fundamentais o compromisso em denunciar a arbitrariedade por parte de políticas curriculares cristalizadas que insistem em priorizar a dimensão positivista e cientificista do currículo, não contribuindo de forma eficaz para a inserção de temas culturais que não estão contemplados no currículo oficial. (ONOFRE, 2008) Assim, teremos um currículo a serviço da diversidade. Como a diversidade é característica da espécie humana nos saberes, modos de vida, culturas, personalidades, meios de perceber o mundo, o currículo precisa priorizar essa universalidade. A instituição escolar não pode isentar-se do seu compromisso enquanto propiciadora de formas acolhedoras da diversidade (LEME, 2012). Para Silva (1995, p. 195) as narrativas contidas no currículo, explícita e implicitamente, corporificam noções particulares sobre conhecimento, sobre formas de organização da sociedade, sobre os diferentes grupos sociais. Elas dizem qual conhecimento é legítimo e qual é ilegítimo, quais formas de conhecer são válidas e quais não o são, e o que é imoral, o que é bom e o que é mau, o que é belo e o que é feio, quais vozes são autorizadas e quais não o são. Para Sacristán (1995, p. 83): Os padrões de funcionamento de escolarização tendem à homogeneização. A escola tem sido e é um mecanismo de normalização”. E ainda “a escola tem se configurado em uma ideologia e em seus usos organizativos e pedagógicos, como um instrumento de homogeneização e de assimilação à cultura dominante (SACRISTÁN, 1995, p. 84). Ora, é o currículo que norteia as ações pedagógicas, no entanto, por muitas vezes, não contempla a demanda escolar e sua heterogeneidade. Ainda é possível se deparar com a supervalorização de um currículo eurocêntrico que não contempla a diversidade cultural, social, étnica, religiosa etc. Para Gonçalves e Silva (2007) o currículo sempre (...) privilegiou a cultura branca, masculina e cristã, menosprezou as demais culturas dentro de sua composição do currículo e das atividades do cotidiano escolar. As culturas não brancas foram relegadas a uma inferioridade imposta no 20 interior da escola; concomitantemente, a esses povos foram determinadas as classes sociais inferiores da sociedade (GONÇALVES, SILVA, 2007, p. 25). Fruto da educação jesuítica, no período colonial brasileiro, ainda estima-se em demasia elementos pertencentes à cultura européia em nosso currículo. Quanto ao livro didático, Santos ( 2001, p. 103), ressaltou que por volta da década de 1980, pesquisadores identificaram conteúdos discriminatórios que apareciam nos livros didáticos utilizados pelos alunos. Os estereótipos remetiam a submissão e a inferioridade: imagens das mulheres negras eram sempre caricatas, com lenço na cabeça, brinco de argolas e traços animalizados; as mulheres negras eram sempre “cuidadoras”, sem família, numa brutal referencia à “ama-deleite”; o trabalho era sempre associado a atividades não qualificadas (pedreiros, domésticas etc.); a invisibilidade da população negra, pois, apesar de representar 44% da população, em meio a multidão aparecia apenas um negro; os negros como sinônimos de escravos. Enquanto isto, o inverso era eram atribuído aos brancos (SANTOS, 2001, p.103). Silva (2005, p. 21) destaca que o livro didático é meio de dispersão de preconceitos: (...) no livro didático a humanidade e a cidadania, na maioria das vezes, são representadas pelo homem branco e de classe média. A mulher, o negro, os povos indígenas, entre outros, são descritos pela cor da pele ou pelo gênero, para registrar sua existência (SILVA,2005, p. 21). Rosemberg (2003), citando pesquisas de Pinto (1981) e Silva (1988) destaca que os estudos feitos entre os anos de 1980 e 1990, que analisaram representações contemporâneas no negro nos textos e nas ilustrações, demonstraram um quadro de depreciação sistemática de personagens negros, associada a uma valorização sistemática de personagens brancos. A partir da implantação do processo de avaliação, em 1996, do processo de avaliação pedagógica dos livros inscritos no PNLD - Programa Nacional do Livro Didático percebe-se a preocupação com conteúdos racistas nos livros didáticos. Entre os critérios de avaliação de 97 e 98, tínhamos “Os livros não podem expressar preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação”. Já para 1999 e 200: Em respeito à Constituição brasileira e para contribuir efetivamente para a construção da ética necessária ao convívio social e à cidadania, o livro didático não poderá: veicular preconceitos de origem, cor, condição socioeconômica, etnia, 21 gênero e qual- quer outra forma de discriminação; fazer doutrinação religiosa, desrespeitando o caráter leigo do ensino público. Qualquer desrespeito a esses critérios é discriminatório e, portanto, socialmente nocivo (BRASIL, 2000). Com certeza, a inclusão destes critérios de avaliação dos livros didáticos pode e deve ser considerada um avanço pois acaba por colaborar com a implantação de um currículo menos racista já que ainda para muitos educadores e alunos o livro didático ainda é a maior fonte de formação e informação. . Pelo que foi visto até aqui pode-se afirmar que as práticas curriculares quando não pensadas coletivamente e a partir da diversidade reproduzem o saber de um grupo dominante o qual manipula o conhecimento e os saberes com base na afirmação de uma hegemonia racional, colocando em desvantagem as minorias desprivilegiadas dos bens culturais. Quando a escola não aceita a flexibilidade do currículo, materializa mais uma vez esta prática. Ora, refletir sobre o currículo é, pois, de suma importância para uma educação anti-racista que prima pelo respeito e à diversidade e à diferença. Afinal, corre-se o risco de, dependendo do lugar de onde se está, e das posições ideológicas, pode-se influenciar e materializar um currículo que ou contemple os ditames e normas das legislações educacionais ou assume e transpareça a vida dos educandos, suas habilidades e competências ou ainda ora um oura outro. Passos e Caputo (2012) acreditam que a escola tem papel fundamental nesta tarefa: Cremos que seja possível para a escola contribuir para esta discussão, cumprindo seu papel de mediadora, assumindo-se como um espaço-tempo de emergências, de polifonia de vozes e de uma multiplicidade de práticas e sujeitos que visibilizam tensões, contradições. Estão presentes nas políticas para a normatização da educação nacional as diferentes vozes dos diferentes sujeitos sociais: os especialistas, os educadores, os movimentos sociais e suas reinvidincações. Vozes dialogantes, em tensão, que configuram uma arena de disputas e interesses dos diferentes campos de poder, nos quais múltiplos interesses estão em jogo e colocados, obviamente, de forma hierárquica. (PASSOS, CAPUTO, 2012, p. 77) No entanto, pode-se depreender também que para a implementação de um currículo consistente de combate ao racismo, sexismo e seus derivados na educação é necessário que as práticas discriminatórias sejam reconhecidas e estudadas no cotidiano escolar e seus efeitos nocivos sejam conhecidos/reconhecidos pelos envolvidos no processo educacional. 22 2.2 A LEI Nº 10.639/03 A Constituição Federal, em 1988, já anunciava como objetivo “promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, e quaisquer outras formas de discriminação”. (BRASIL, 1988, p. 3). Mas 1996 foi um marco para a educação brasileira. Seria neste ano compilada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), nº 9.394/ 96. Consonante à Constituição, a LDB ratifica a importância das ações transdisciplinares, no tocante ao resgate da cultura popular e à valorização da pluralidade cultural. Uma das frações mais expressiva da lei, referente à questão da diversidade encontra-se em seu artigo 26, o qual regula os currículos escolares a possuírem uma base nacional comum, a ser complementada por uma base diversificada que atenda às exigências das características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. O parágrafo quarto expressa bem a questão: § 4º. O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia. (BRASIL, 1996) Para Paola Gentile, em um artigo na revista Nova Escola: O pouco caso com a cultura africana se reflete na sala de aula. O segundo maior continente do planeta aparece em livros didáticos somente quando o tema é escravidão, deixando capenga a noção de diversidade de nosso povo e minimizando a importância dos afro-descendentes. (GENTILE, 2005, p. 42). Assim, para que houvesse o resgate da história da África e do negro, as instituições educacionais deveriam adequar seus conteúdos programáticos e neles inserir o estudo da África e dos africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional. Deste modo, a lei 10.639/ 03: 23 (...) altera a Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afrobrasileira” (BRASIL, 2006). Esta lei ratifica mudanças na LDB, acrescentando-lhe os artigos 26-A, 79-A e 79-B e insere, no calendário letivo, o dia 20 de novembro como “Dia Nacional da Consciência Negra”. Ao tornar obrigatório o ensino de história da África e da cultura afro-brasileira em todas as escolas de Ensino Fundamental e Médio ressalta-se a importância de uma ação pedagógica na inserção dos valores referentes à História da África, da cultura afro-brasileira tanto na dimensão ontológica quanto epistemológica da formação do educando. O parecer Nº CNE/CP 003/2004 “Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Africana”, surgiu para regulamentar a 10.639/03, cumprindo o estabelecido na Constituição Federal: “O ensino de História do Brasil levará em conta as contribuições da diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro” (BRASIL, 1988). Com este objetivo: O parecer procura oferecer uma resposta, entre outras, na área da educação, à demanda da população afrodescendente, no sentido de políticas de ações afirmativas, isto é, de políticas de reparações, e de reconhecimento e valorização de sua história, cultura, identidade. Trata, ele, de política curricular, fundada em dimensões históricas, sociais, antropológicas oriundas da realidade brasileira, e busca combater o racismo e as discriminações que atingem particularmente os negros. Nesta perspectiva, propõe A divulgação e produção de conhecimentos, a formação de atitudes, posturas e valores que eduquem cidadãos orgulhosos de seu pertencimento étnico-racial – descendentes de africanos, povos indígenas, descendentes de europeus, de asiáticos – para interagirem na construção de uma nação democrática, em que todos, igualmente, tenham seus direitos garantidos e sua identidade valorizada (BRASIL, 2004). Segundo este parecer a “educação das relações étnico-raciais impõe aprendizagens entre brancos e negros, trocas de conhecimentos, quebra de desconfianças, projeto conjunto para construção de uma sociedade, justa, igual, equânime. (BRASIL, 2004, p. 6) Em seqüência a essas orientações, várias regiões brasileiras buscaram formas de se adequar a este novo seguimento. Os números apontam as desigualdades entre brancos e negros na 24 educação, portanto apontam também a necessidade de políticas específicas que revertam o atual quadro. De acordo com Maria Luíza Heilborn, coordenadora geral do CLAN – centro LatinoAmericano em sexualidade e Direitos Humanos, no módulo 1 das publicações do curso de especialização em Gestão de Políticas Públicas – GPP-GeR: (...) o país ocupa o segundo lugar em população negra no mundo e tal segmento apresenta índices inaceitáveis de desigualdade sócio-racial, apesar do Brasil contar com uma importante tradição de movimentos sociais que tem lutado por denunciar e corrigir diversas iniqüidades sociais (CEPESC, 2010, p. 12). Sabe-se que as ações desenvolvidas até o momento não deram conta de reverter esta situação. Para Passos e Caputo (2012), sobre as leis 10639/03 e 11645/08 (que ampliou a Lei 10639/03 também para os povos indígenos): É preciso que seja lembrado, sempre, que as referidas leis não surgiram espontaneamente, como se houvera em um dado momento histórico o aparecimento de uma consciência em favor da valorização desses povos pelos homens que fazem as leis, as homologam e trabalham para sua implementação. Essas duas leis são o resultado de lutas históricas dos movimentos sociais – representados, nesse caso, pelo Movimento Negro – que tiveram como bandeira de luta a legitimação desses povos e dessas culturas. (...) A legislação oferece nesse momento a oportunidade de a escola assumir o papel de Dinarzarde neste processo, enunciando para a sociedade o quanto essas histórias não são menores nem menos importantes. Elas representam as vozes de uma significativa parcela da população que, como vimos, muitas vezes são negadas no ambiente escolar como modelo ético e estético.(p. 69-70) Sabe-se que a partir da implementação da Lei 10.639, em 2003, o MEC iniciou uma série de atividades no esforço de fortalecer temática étnico-racial e de gênero. Destaca-se o Programa Diversidade a partir da constituição da Secretaria de Educação Continuada Alfabetização e Diversidade – SECAD em janeiro de 2004 e da criação de uma Diretoria de Diversidade e Cidadania e de uma Coordenação Geral de Diversidade e Inclusão Educacional. No entanto, as ações com o tema valorização da cultura afro-brasileira - com o recorte de gênero - e o combate ao racismo nos sistemas é realizado apenas por uma secretaria que integra o MEC, a SECAD: formação de professores, realização de estudos e pesquisas, realização de Fóruns Estaduais e produção e distribuição de livros sobre o tema. 25 Há também parcerias com outra instituições como com a Secretaria de Educação Superior SESU, dando origem ao programa UNIAFRO, que contou com a inflexão de organizações do movimento negro, sobretudo dos Núcleos de Estudos Afro-Brasileiros - NEABs. Outras ações mostram-se pontuais com a Secretaria de Educação Básica - SEB, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira - INEP e a Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica - SETEC. O MEC, a partir da SECAD, passa a desenvolver várias dimensões de uma política pedagógica da diversidade, que culmina com o estabelecimento de parcerias com os sistemas de ensino, por meio de apoio técnico, recursos humanos e financeiros, para a solidificação das alterações decorrentes da Lei nº 10.639/03. Em 2002, uma experiência-piloto sob o título Projeto Diversidade na Universidade – Acesso à Universidade de Grupos Socialmente Desfavorecidos, surgia como resposta ao processo de organização e de realização da III Conferência Mundial Contra o Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Formas Correlatas de Intolerância (2001), cuja pauta explicitava a necessidade de implementação de políticas de ações afirmativas e destacava a educação como chave para a ruptura do racismo estrutural brasileiro, o MEC, por meio de um contrato de empréstimo entre a União e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) . No âmbito das desigualdades raciais, o MEC, por intermédio da SECAD, passa a desenvolver ações de elaboração e de implementação de políticas públicas educacionais em prol do acesso e da permanência de negros e negras na educação escolar em todos os níveis – da educação infantil ao ensino superior –, considerando ainda as modalidades de educação de jovens e adultos e a educação em áreas remanescentes de Quilombos. As ações do MEC visam combater o racismo institucional, bem como o racismo individual, por meio de uma ampla política que considere cinco eixos estruturantes da política educacional: formação de professores; formação de gestores; elaboração e distribuição de material didático e paradidático; currículo escolar e projeto político-pedagógico. Além disso, o MEC constrói o Plano de Desenvolvimento da Educação – PDE, que prevê uma mudança na agenda do Ministério. O documento norteador do Plano apresenta um esvaziamento conceitual da temática e dos objetivos a serem alcançados. Considerando a persistência e abrangência do racismo na sociedade brasileira, o seu combate deveria se configurar como um eixo estruturador das 26 políticas educacionais. O documento faz referência apenas à necessidade de uma educação própria para as populações de áreas remanescentes de quilombo. Deixa, contudo, de considerar o racismo, e as desigualdades raciais, com o recorte de gênero na educação como elementos presentes em toda a sociedade brasileira, conseqüentemente em todo o sistema nacional de ensino. Atender à especificidade da educação quilombola é necessário e é parte do dever do MEC. Porém não significa atentar para a necessidade de um trabalho em prol da eliminação do racismo e da discriminação em todo o país (CAVALLEIRO; MARQUES, 2008, p. 1). . Vale lembrar que no combate ao racismo e ao erurocentrismo dos fatores são essenciais: a lei e políticas públicas que as efetivem, uma precisa ser seguida da outra. É importante ressaltar aqui também que: O resgate da memória coletiva e da história da comunidade negra não interessa apenas aos alunos de ascendência negra. Interessa também aos alunos de outras ascendências étnicas, principalmente branca, pois ao receber uma educação envenenada pelos preconceitos, eles também tiveram suas estruturas psíquicas afetadas. Além disso, essa memória não pertence somente aos negros. Ela pertence a todos, tendo em vista que a cultura da qual nos alimentamos quotidianamente é fruto de todos os segmentos étnicos que, apesar das condições desiguais nas quais se desenvolvem, contribuíram cada um de seu modo na formação da riqueza econômica e social e da identidade nacional (MUNANGA, 2005, p. 16) Para Munanga (2005) é certo que não poderão existir leis no mundo que por si só dêem conta de reverter este quadro preconceituoso que prejudica a formação do verdadeiro cidadão e a educação de todos os alunos, em especial os membros dos grupos étnicos, vítimas do preconceito e da discriminação racial. Porém, uma educação de qualidade deve oferecer aos educandos a possibilidade de questionar e desconstruir os mitos de superioridade e inferioridade entre grupos humanos que foram introjetados neles pela cultura racista na qual foram socializados. 27 3. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS, EUROCENTRISMO E RACISMO Os parâmetros Curriculares Nacionais surgiram com o objetivo de estabelecer uma referência curricular e apoiar a revisão ou a elaboração da proposta curricular de estados e municípios e consequentemente das escolas integrantes do sistema de ensino. César Coll, pesquisador espanhol, foi consultor do MEC na elaboração dos PCN’s para o Ensino Fundamental. Coll baseou seus trabalhos nas teorias de Piaget, Vigotsky, Ausebel e Buner. Em seu livro Psicologia e Currículo, Coll(2003) ressalta que a elaboração de uma Proposta Curricular deve ser concreta, operacional, flexível e fácil de ser utilizada, em um período razoável de tempo. O projeto curricular formulado deve ser concreto, garantindo continuidade através da estruturação ordenada e coerente de cada disciplina, respeitando as diferenças de cultura locais (ou regionais), bem como os diferentes níveis ou etapas da escolarização considerada obrigatória. Além disso, o modelo proposto deve ser flexível em relação às exigências epistemológicas dos conteúdos abordados (língua materna e estrangeira, matemática, Ciências, Estudos Sociais, Artes, tecnologia, educação Física, etc.). Entende-se por epistemologia: estudo crítico dos princípios, hipóteses e resultados das Ciências já construídas, e que visa determinar os fundamentos lógicos, o valor e o alcance objetivo delas. A proposta deve ser baseada no modelo aberto de currículo, de modo que tenha flexibilidade suficiente de adaptação em função do acelerado ritmo de transformação dos tempos atuais, bem como se adaptar às características gerais dos alunos em questão. Para Coll (2003) três aspectos dever ser considerados imprescindíveis: Relacionar o currículo a projetos sociais e culturais dentro do contexto social. Isto equivale dizer que o currículo não deve ser apenas de natureza puramente técnica. O currículo também deve viabilizar a concepção construtivista: como se ensina e como se aprende; e Insistir na atenção à diversidade de capacidades, interesses e motivação dos alunos, dá ênfase ao conceito de Inteligências Múltiplas, que está diretamente relacionado às propostas construtivistas. (COLL, 2003, p. 25) 28 E também: A elaboração de um projeto curricular pressupõe a tradução, em relação à funcionalidade, de três princípios considerados básicos: ideológicos; pedagógicos; e psico-pedagógicos. Portanto, o currículo é um elo entre a declaração dos seus princípios e objetivos gerais, bem como uma prévia prescrição de sua aplicação operacional; a teoria educacional e a realidade do aluno e do meio ambiente que o cerca - o que irá gerar a prática pedagógica observável no dia a dia; e o planejamento educativo e a ação pedagógica entre o que se prevê, ou seja, o que é prescrito, e o que realmente acontece em sala de aula. Os componentes do currículo podem agrupar-se em quatro capítulos: o que ensinar; quando ensinar; como ensinar; o que, como e quando avaliar. O Projeto Curricular deve ser igualmente levar em consideração cada um dos estágios de desenvolvimento segundo Piaget. Deve-se levar em conta o que o aluno é capaz de aprender sozinho e o que necessita da ajuda do professor. O ensino deve ser eficaz e fazer significado para o aluno. (COLL, 2003, p. 26) O processo de elaboração dos Parâmetros Curriculares Nacionais também contou com a colaboração de propostas curriculares de Estados e Municípios brasileiros e também houve uma análise dos currículos oficiais e das informações relativas a experiências de outros países, realizada pela Fundação Carlos Chagas. Teve como subsídio o Plano Decenal de Educação, pesquisas nacionais e do exterior, estatística sobre o desempenho dos alunos do ensino fundamental e experiências de sala de aula divulgadas em encontros e seminários. De acordo com o MEC, os PCN seriam uma referência elaborada para o bem das escolas que encontrariam uma referência na definição dos planejamentos. Era apenas necessário que cada escola fizesse as adequações às suas peculiaridades. Os PCNs foram organizados em 10 volumes, cada compêndio aborda um conteúdo das áreas de conhecimento, podemos constatar que cada volume traz em si os objetivos do conteúdo abordado que proporcionam maior facilidade para que este se efetive no contexto educacional. Sabe-se que foi a partir de 1996, com a Lei de Diretrizes e Bases da educação Brasileira (LDB), nº 9.394/ 96, que o Brasil passou a ter nos currículos escolares uma base nacional comum que deveria ser complementada por uma base diversificada que atendesse às exigências das características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela. Ganha força aí a história do negro, ao que a LDB diz em seu artigo 26: 29 § 4º. O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e européia. (BRASIL, 1996) Assim, a LDB ressaltou, conforme já pregava a Constituição Brasileira, a importância das ações transdisciplinares, o resgate da cultura popular e à valorização da pluralidade cultural. No entanto, ainda havia uma lacuna: não houve especificidade no que se refere a um currículo que contemplasse conteúdos de diversas culturas. A prática continuou descontextualizada. Na tentativa de resolver tal problemática foram implantados, em 1997, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), composto de 10 livros, sendo o 10º intitulado “Pluralidade Cultural e Orientação Sexual”. Encontra-se na introdução do tema pluralidade cultural: A temática da Pluralidade Cultural diz respeito ao conhecimento e à valorização de características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e à crítica às relações sociais discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal. (BRASIL, 1997, p.121. Souza (2001) afirma que (...) parte dos debates sobre a questão racial, desde o início dos anos 1980, foi materializada nos PCNs – Pluralidade Cultural. Creio ter sido uma tentativa de evidenciar as diferenças culturais e raciais, integrando-as ao currículo e atendendo às reivindicações do movimento negro. (SOUZA, 2001, p.54) Assim, os PCNs são uma proposta de articulação dos conteúdos de modo contextualizado com a realidade de cada região do país, ou seja, levam à valorização das riquezas de uma região, de um povo, bem como o resgate e a preservação de costumes e tradições. Vale ressaltar que isto é fruto também das (...) intervenções do Movimento Negro, seu empenho em trazer o tema à mesa de discussão da Educação no país e suas incansáveis iniciativas no que diz respeito à pesquisa e à divulgação do assunto. (NASCIMENTO, 2001, p.123) Os temas transversais dos Parâmetros Curriculares incluem Ética, Meio ambiente, Saúde, Pluralidade cultural e Orientação sexual. Eles expressam conceitos e valores fundamentais 30 à democracia e à cidadania e correspondem a questões importantes e urgentes para a sociedade, presentes sob várias formas na vida cotidiana. Segundo os PCNs, no território nacional brasileiro convivem cerca de 210 etnias indígenas, junto com uma imensa população formada pelos descendentes de povos africanos e um grupo numeroso de imigrantes e descendentes de povos de vários continentes. Este dado ressalta a importância da temática. Gonçalves (2004), lembra que: A temática da pluralidade cultural diz respeito ao conhecimento e á valorização das características étnicas e culturais dos diferentes grupos sociais que convivem no território nacional, às desigualdades socioeconômicas e a crítica às relações discriminatórias e excludentes que permeiam a sociedade brasileira, oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer o Brasil como um país complexo, multifacetado e algumas vezes paradoxal. (GONÇALVES, 2004, p.72) De acordo com os Parâmetros: Para viver democraticamente em uma sociedade plural é preciso respeitar os diferentes grupos e culturas que a constituem [...] O grande desafio da escola é investir na superação da discriminação e dar a conhecer a riqueza representada pela diversidade etnocultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, valorizando a trajetória particular dos grupos que compõem a sociedade. Nesse sentido, a escola deve ser local de diálogo, de aprender a conviver, vivenciando a própria cultura e respeitando diferentes formas de expressão cultural. (BRASIL, 1997, p. 3) Pautados na Lei de Diretrizes e Bases da educação, a discussão a respeito da pluralidade que envolve o país deve passar a ser tratada nas escolas, procurando agir conforme propõe o próprio documento: O grande desafio da escola é reconhecer a diversidade como parte inseparável da identidade nacional e dar a conhecer a riqueza representada por essa diversidade etnocultural que compõe o patrimônio sociocultural brasileiro, investindo na superação de qualquer tipo de discriminação e valorizando a trajetória particular dos grupos que compõe a sociedade. (BRASIL, 1998) Os PCNs lembram o que aqui foi tão discutido o fato de a escola ainda se omitir frente a pluralidade cultural brasileira criando uma expectativa de homogeneidade cultural e aceitando 31 o mito da democracia racial onde prevalece a idéia de um Brasil sem diferenças. A crença predominante é de um brasileiro constituído por misturas de raças onde todos são aceitos e valorizados. Nas escolas costuma-se hierarquizar as culturas tomando a cultura branca européia como padrão. Em geral, as escolas se omitem frente à pluralidade cultural adotando uma perspectiva de homogeneidade cultural, de um Brasil sem diferenças, silenciando-se sobre discriminações que ocorrem socialmente. Os PNNs surgem em opoisção, ao propor que a escola fortaleça a cultura de cada grupo social e étnico promovendo seu conhecimento e valorizando-o para fortalecer a igualdade, a democracia e a cidadania. Os PCN sobre a pluralidade cultural indicam como objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes de compreender a cidadania como participação social e política, adotando atitudes de solidariedade, de cooperação, de repúdio às injustiças e de respeito ao outro. Propõem-se estimular os alunos a desenvolver empatia com os discriminados, repudiar discriminações baseadas em diferenças de raça, etnia, classe social, crença religiosa e sexo. Enfatiza-se a importância de se conhecer e valorizar a pluralidade cultural brasileira procedente das diferentes etnias, culturas, e grupos sociais que convivem no Brasil. Também é solicitado aos docentes e alunos que analisem e critiquem as relações sociais discriminatórias e que se afirme a diversidade como traço fundamental na construção da identidade nacional brasileira. O respeito ao outro, seja ele quem for, ou quanto for diferente de nós, é sublinhado. Para Silva (2000) os PCNs sobre a pluralidade cultural, ao proclamarem a existência da diversidade e da diferença, tendem a naturalizá-las, cristalizá-las e essencializá-las, ou seja, tendem a tornar a diferença um fato da vida social. Recomenda-se o respeito e a tolerância para com a diferença e a diversidade social. Para o autor, isso implica que não nos atentemos para o fato que as diferenças são determinadas, isto é, produzidas socialmente, e estão relacionadas ao poder. Para Lopes (2008) os PCN - valorizam os saberes locais na medida em que são ponto de partida para a assimilação do patrimônio cultural da humanidade, mas tratam as diferenças 32 culturais como diferenças psicológicas, desconsiderando os aspectos sociológicos. Sendo assim, os PCN procuram homogeneizar, garantir uma equidade social e mascaram as desigualdades econômicas, sociais e culturais das crianças. O tema pluralidade cultural “é justificado por se considerar que a vida democrática exige o respeito às diferenças culturais” e, apesar de os PCN fazerem referências às diferenças de gênero e aos deficientes, o enfoque central é nas características étnicas, o que entra em desacordo com o próprio objetivo dos PCN, que visam posicionar-se também contra discriminações baseadas em diferenças de classe social, crenças, sexo e outras características individuais e sociais (p.70-71). Em 1999, “para preencher o vazio da desinformação e corrigir a distorção de valores que encerra (BRASIL, 2009, p. 7) o Ministério da Educação publica o livro “Superando o Racismo na Escola” . De acordo com o então Ministro da Educação Paulo Renato Souza6, no prefácio da obra lê-se:. Adotados deste 1997, os PCN foram preparados pelo Ministério para orientar os professores das redes estaduais e municipais na montagem de currículos adequados às peculiaridades regionais e culturais do Brasil. A partir dos PCN, os docentes podem desenvolver em sala de aula temas que permitem formar o cidadão consciente, possibilitando ao aluno ampliar seu horizonte existencial, cultural e crítico por meio das próprias matérias regulares do currículo. A esse recurso pedagógico deu-se o nome de temas transversais. Enquanto aprendem História ou Geografia ou Português, por exemplo, os alunos receberão informações que alargam sua compreensão sobre temas como: Ética, Meio Ambiente, Pluralidade Cultural, Saúde e Orientação Sexual. Os critérios de escolha desses assuntos levaram em conta a urgência social, a abrangência nacional, a possibilidade de melhorar o ensino e a aprendizagem e a contribuição que os estudos oferecem para o entendimento da realidade, de forma a encorajar a participação social. (SOUZA, 2005, p. 7) E ainda: Através dos Parâmetros, os alunos são levados a compreender a cidadania enquanto participação social e política; a posicionar-se de modo crítico e construtivo; a conhecer características sociais, materiais e culturais do país; a identificar e valorizar a pluralidade cultural; a posicionar-se contra a discriminação cultural, social, religiosa, de gênero, de etnia, dentre outras. Os PCN permitem também ao estudante se perceber integrante e agente transformador do ambiente, identificando seus elementos e interações possíveis, contribuindo para melhorá-lo. Possibilitam ao aluno desenvolver a percepção de si, a confiança nas próprias capacidades e o sentido de preservação física e mental; a utilizar diferentes linguagens; a consultar diversas fontes de informação e a questionar a realidade, formulando problemas e soluções. (SOUZA, 2005, p.8) 6 SOUZA, Paulo Renato de. Prefácio à primeira edição ( p 7-8). In.: MUNANGA, Kabengele org. Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005. 204 p. 33 No entanto, a elaboração dos PCNs não foi suficiente para que o trabalho em sala de aula com a diversidade fosse efetivamente realizado. Souza destaca que “o texto não está integrado, não há corpo de idéias que ajudem a orientar e justificar as ações propostas”. (SOUZA, 2001, p.55). Para Lopes (2005), “quando a finalidade é construir a cidadania numa sociedade plurietnica e pluricultural. como é o caso da sociedade brasileira, é preciso que se tenha presente um elenco de objetivos com os quais se deve trabalhar” e a autora cita os PCNs como uma referência que nenhum professor pode desconhecer. Para ela, a proposta pedagógica elaborada coletivamnte pela escola deve preocupar-se com a valorização das pessoas, povos e nações, num combate permanente às idéias preconcebidas e às situações de racismo e discriminação com que nos defrontamos no dia-a-dia. Vale destacar também que os PCNs são um parâmetro e não uma Lei, dessa forma não obrigam ninguém a inserir a temática na sala de aula. 34 4. ANÁLISE DE DADOS Este projeto investigou, através de questionário (ANEXO A), 10 professores, sendo 2 de História, 2 de Língua Portuguesa, 2 de Artes, 2 de Ciências e 2 de Geografia e 4 especialistas em educação todos da rede pública estadual de ensino no período de 10 de maio de 2012 a 10 de junho de 2012. O objetivo foi verificar como está sendo aplicada nas escolas e Lei 10.639/ 03. Para a análise os professores serão identificados por P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7, P8, P9 e P10 e as especialistas por E1, E2, E3 e E4. As respostas que ilustram esta análise foram escolhidas aleatoriamente, porém de acordo com os objetivos propostos e nem todas as respostas foram apresentadas aqui visto que se apresentaram muito repetitivas. Ao analisar as repostas dadas percebeu-se que para 100% dos entrevistados a Lei 10.639/ 03 não é respeitada e que 20% não sabiam nem mesmo do que ela tratava. “Esta lei nunca foi adequadamente aplicada”. (P1) “Nunca ninguém me cobrou que ela fosse aplicada, às vezes falam, mas sem grandes cobranças. A correria do dia a dia é tanta e o currículo é tão extenso que nos esquecemos de fazer alguma atividade pontual”. (P2) “Eu nunca me preocupei com isto, pois acredito que não é uma questão específica da minha área de atuação”. (P4) “Para falar a verdade, a gente acaba se esquecendo de fazer alguma coisa.” (P6) “Como tantas outras leis, não temos formação adequada para um trabalho consistente. Fica tudo por força da boa vontade de cada um. (P8) “Em minha formação profissional, não tive conhecimento desta lei, o que sei foi passado em reuniões na escola, mas não vejo cobrança na implantação”. (P 10) “Conheço a lei e faço o que posso em sala de aula para implantá-la, mas o trabalho é muito só e pouco resultado alcança”. (P 7) 35 “Sempre falamos nas reuniões pedagógicas e pedimos aos professores no início do ano para trabalhar em todas as disciplinas, mas poucos acabam fazendo alguma coisa”. (E2) “Conhecer eu conheço e sei que fala sobre a cultura dos africanos, dos negros no Brasil. No entanto, acho que a lei não é cumprida como deveria”. (E 4) “Sim, eu conheço e sei sobre o que se trata.” (E3) Percebe-se, claramente, estranheza por parte dos educadores ao tratar do assunto, que a escola precisa urgentemente refletir sobre uma educação anti-racista. As questões não são abordadas ou são abordadas superficialmente, mas é urgente que a discussão aconteça: os educandos precisam discutir tais temas e problematizá-los, entender a complexidade das relações raciais, o porquê do racismo, das discriminações e porque elas acontecem. Todos afirmaram que as atividades sobre ensino da História e Cultura da África e dos afrodescendentes giram sempre em torno das festividades do dia 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, e das que são trazidas pelo livro didático e que por ventura geram discussões em sala sobre o assunto. Outros ainda destacaram que outras vezes são levadas as salas de aula discussões sobre a cultura africana oriundas de alguma notícia publicada pelos meios de comunicação ou de alguma festividade realizada na cidade. Sabe-se que a obrigatoriedade do ensino da história africana ainda encontra obstáculos para implementação efetiva visto que a obrigatoriedade não trouxe consigo o conhecimento imediato. Pode-se notar que pouco ainda se sabe e que os livros didáticos pouco ou nada contribuem para o alcance deste conhecimento. A implementação já teve boas conquistas, mas ainda engatinha como se vê nos depoimentos abaixo: “No dia 20 de novembro, a escola realiza alguma festividade, mas acho que é só isto que se faz.” (E 1) 36 “Quando o livro didático traz algum texto sobre os africanos aproveito para refletir um pouco com os alunos e, às vezes, eles mesmos trazem alguma questão e promovem uma discussão. Além disso, tem o dia da Consciência Negra.”(P6 ) “Em minha disciplina nunca fiz nada específico, apenas já ajudei os demais professores nas festividades do dia da consciência negra.”(P9) “Acredito que ficamos só no dia da consciência negra mesmo”.(E4) “Às vezes, a escola convida um grupo de capoeira para fazer uma apresentação, mas não se fala nem mesmo sobre a origem da capoeira ou sobre a contribuição dos africanos para nossa cultura. Acho que não cumprimos a lei”. (P7) “Pouco ou quase nada é feito pelas escolas em geral, pelo menos nas que já trabalhei. Muitas nem comemoram o dia da consciência negra ou da abolição da escravatura.”(P 3) Percebe-se que o pouco caso com a cultura africana se reflete na sala de aula. O segundo maior continente do planeta aparece em livros didáticos somente quando o tema é escravidão, deixando “capenga” a noção de diversidade de nosso povo e minimizando a importância dos afro-descendentes (GENTILE, 2005, p. 42). No Brasil, embora se afirme a neutralidade, o que se vê é uma série de pretextos e prerrogativas acerca da aceitação do negro e de seus valores. As lembranças das tradições africanas acabam se reduzindo a um ato folclórico, geralmente, voltados às músicas, às danças e à religiosidade. O que vemos em nossas escolas é um conceito estereotipado de uma África – País; e assim a “carga negativa que esse país possui no imaginário social brasileiro subsidia e fundamenta os estereótipos racistas diariamente veiculados sobre afrodescendentes no Brasil” (NASCIMENTO, 2001, p.120). Ressalta-se as palavras de Santomé (1995) que afirma que a única cultura que as instituições acadêmicas costumam rotular como tal é a construída a partir das classes e grupos sociais com poder – e com sua aprovação. Dessa forma, o idioma e a norma linguística que a escola exige 37 é a dos grupos sociais dominantes, a literatura daqueles autores e autoras que esses mesmos grupos valorizam, a geografia e a história dos vencedores, a matemática necessária para proteger suas empresas e negócios. Deste modo, o que está sendo reproduzido nos espaços educativos por muitos educadores é justamente a cultura dominante que assimilaram durante anos de sua própria formação e, portanto, consideram referencial para o currículo. Ora, um sistema educacional que quer recuperar as culturas negadas não deve promover discussões apenas uma vez ao ano, durante datas comemorativas. Elas são importantes e precisam ser lembradas, mas tais temáticas necessitam percorrer todo o ano letivo. Quando indagados sobre cursos de capacitação sobre como trabalhar em sala de aula na aplicação da Lei 10.639/ 03, 60% responderam que nunca participaram de nenhuma capacitação: “Como tantas outras leis destinadas na educação, elas são criadas e pouco ou nada é investido na sua aplicação ou fiscalização”. (P 2) “Já fiz um curso semi-presencial, mas quando a gente chega na escola a realidade é outra. Não há material didático específico e o currículo anda tão extenso que nada se faz na prática”. (P4) “Já fiz alguns cursos, quando terminaram andei empolgada, mas a empolgação deu logo lugar a rotina e nada fiz”.(P8) “Já me ofereceram cursos, mas com tantas aulas é inviável”(P10) “Ando meio preguiçosa para cursos de capacitação, eles fogem de nossa realidade. Na prática, quase nada funciona. Se me ofereceram não lembram.”(P3) No entanto, os entrevistados mostram-se conscientes da importância da lei para o contexto educacional: 38 “É claro que a Lei 10.639/ 03 é importantíssima, mas os governantes deste país precisam entender que quem está aqui em baixo, lidando com as questões reais que envolvem o racismo, somos nós, professores, e, na prática, a questão é muito difícil, falta-nos formação”. (P 5). “A Lei é importante, pois regulamenta o que sempre pregou a Constituição: a igualdade de direitos e deveres. No entanto, nós precisamos de mais do que uma lei, precisamos de bons livros didáticos, de formação, de condições adequadas para se trabalhar em sala. Não temos recursos nem para cópias de textos, quanto mais para pesquisa e variedade de material didático para se trabalhar questões tão polêmicas. Precisamos de mais apoio em sala de aula e de mais confiança no trabalho contra o racismo, algo que ainda não temos.” (P 4) “Não nego a relevância da lei, mas o Brasil é um país com muitas leis, mas com pouco fiscalização e pouco recursos para se garantir o cumprimento delas. É fácil empurrar ao professor mais uma tarefa, difícil é estar em sala todo dia lidando com bulling, racismo e toda forma de preconceito. Não fomos preparados para isto.” (P 2) “A lei por si só não garante nada. Quem fiscaliza? Quem orienta? Quem colabora? Acho que ninguém, tem sido um trabalho solitário e com poucos resultados. (P 9) “Importante a lei é, mas se não houver mais apoio nada dará resultado”. ( P3) “A lei é mais que importante, é fundamental. Mas ainda falta muito para que se torne realidade. (E2). Percebe-se que, apesar de muito se falar, pouco ainda foi feito para que o resultado apareça em sala de aula. O professor ainda está desamparado principalmente devido a falta de capacitação e material didático. Quanto ao currículo e aos livros didáticos, destaca-se: “Os livros ainda são eurocêntricos apesar de já virmos estampadas algumas imagens de negros sorrindo e freqüentando lugares e cargos antes típicos dos brancos”. (P 2) 39 “Fiquei intrigada com o questionário e fui analisar o meu livro didático com o olhar proposto nas questões. Não tenho dúvida: não há um trabalho que valorize a diversidade de raças, culturas, religiões, etc. É uma pena.” (P6). “Não há negros nos livros didáticos. Quando aparecem são em situações de discriminação, desvalorização ou meramente ilustrativa. A história do negro foi apagada, é muito difícil reverter este quadro. (P 10) Quanto aos Parâmetros Curriculares, o discurso parece coincidir com a prática: Os PCNS foram jogados nas mãos dos professores, sem que houvesse uma reflexão sobre eles, deste modo nada trouxeram de concreto. (P5) Recebi meus PCNs, tentei ler, mas diante de tantas atribuições eles foram engavetados. Ao meu ver, nada contribuíram para o combate ao racismo. (P 6) Como tantos outros documentos, os PCNs foram entregues aos professores e ficaram nisto. Nada trouxeram que pudesse contribuir positivamente para a nossa prática. (P 8) Quando os PCNs foram criados muito se falou sobre eles, mas há tempos foram esquecidos, portanto não vejo como ele pode ter contribuído para as discussões sobre as temáticas racismo, preconceito, diversidade, etc. (E1) Sei que há um PCN específico sobre a diversidade cultural e já li um pouco sobre o assunto, mas acredito que não há grandes contribuições visto que a discussão sobre os PCNs há muito já não fazem parte das reuniões pedagógicas. (P1) Diante do exposto percebe-se que, embora os professores tenham conhecimento, mesmo que superficial das questões propostas para análise, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que o combate ao racismo seja uma realidade em sala de aula. Para Munanga (2005), ao tomarmos consciência da nossa realidade, é possível reconhecer que tanto os livros e outros materiais didáticos quanto as relações sociais no ambiente escolar estão carregados de conteúdos viciados, depreciativos e preconceituosos quanto aos povos e culturas 40 não pertencentes ao mundo ocidental. Deste modo, alguns professores seja por despreparo ou por preconceito não sabem valer-se de situações flagrantes de discriminação e fazer dela uma um momento pedagógico de reflexão e reconhecimento do imenso valor da nossa cultura. Na maioria dos casos, praticam a política de avestruz ou sentem pena dos “coitadinhos”, em vez de uma atitude responsável que consistiria, por um lado, em mostrar que a diversidade não constitui um fator de superioridade e inferioridade entre os grupos humanos, mas sim, ao contrário, um fator de complementaridade e de enriquecimento da humanidade em geral; e por outro lado, em ajudar o aluno discriminado para que ele possa assumir com orgulho e dignidade os atributos de sua diferença, sobretudo quando esta foi negativamente introjetada em detrimento de sua própria natureza humana. ( MUNANGA, 2005, p. 15) Silva (2005) lembra que o livro didático ainda é para muitos alunos e professores fonte importante de leitura e informação e talvez até a única. Por isto é inaceitável que ainda haja os problemas apontados pela autora: O livro didático, de um modo geral, omite ou apresenta de uma na simplificada e falsificada o cotidiano, as experiências e o processo históricocultural de diversos segmentos sociais, tais como a mulher, o branco, o negro, os indígenas e os trabalhadores, entre outros. Em relação à população negra, sua presença nesses livros foi marcada pela estereotipia e caricatura, identificadas pelas pesquisas realizadas nas duas últimas décadas. A criança negra era ilustrada e descrita através de estereótipos inferiorizantes e excluída do processo de comunicação, uma vez que o autor se dirigia apenas ao público majoritário nele representado, constituído por crianças brancas e de classe média. (SILVA, 2005, p.22) Para a mesma autora, quando o livro didático veicula estereótipos que expandem uma representação negativa do negro e uma representação positiva do branco, ele expande a ideologia do branqueamento, que se alimenta das ideologias, das teorias e estereótipos de inferioridade/superioridade raciais, que se conjugam com a não legitimação pelo Estado, dos processos civilizatórios indígena e africano, entre outros, constituintes da identidade cultural da nação (SILVA, 1989, p 57). Para Cardoso (2005, p. 10), lembra que os livros didáticos não só devem estar isentos de qualquer conteúdo racista ou de intolerância como também devem conduzir a uma reflexão sobre as contribuições dos diversos grupos étnicos para a formação da nação e da cultura brasileiras. Ciente da necessidade de formar e conscientizar o educador a Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM/PR), a Secretaria Especial de Políticas de Produção da Igualdade Racial 41 (SEPPIR/PR), a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC), a Secretaria de Educação a Distância (SEE/MEC), O Bristish Council e o Centro Latino-Americano em Sexualidade e Direitos Humanos (CLAM/IMS/UERJ) ofereceram em parceria o curso de Gênero e Diversidade na Escola – Formação de Professoras/ES em Gênero, Sexualidade, Orientação Sexual e Relações Étnico-Raciais que escrava: ... que professoras, professores e demais profissionais da educação fortaleçam o papel que exercem de promotores/promotoras da cultura de respeito a garantia dos direitos humanos, da equidade étnico-racial, de gênero e da valorização da diversidade, contribuindo para que a escola não seja um instrumento da reprodução de preconceitos, mas seja espaço de promoções e valorização das diversidade que enriquecem a sociedade brasileira. (HEILBORN, et all, 2009, p. 10) Além deste curso, também foi criado um curso de especialização em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça/ GPP-GeR ofertado através da parceria Secretaria Especial de Políticas para Mulheres (SPM/PR), a Secretaria Especial de Políticas de Produção da Igualdade Racial (SEPPIR/PR), a Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade (SECAD/MEC), o Ministério da Educação, o Instituto de Pesquisas Aplicadas- IPEA e o Fundo das Nações Unidas para a Mulher – UNIFEM. O objetivo deste é: Formar profissionais aptos/as a atuar no processo de elaboração, monitoramento e avaliação de programas e ações que possam assegurar a transversalidade e intersetorialidade de gênero e raça em todas as políticas públicas. Desta maneira, o curso está voltado à formação de lideranças preocupadas com as reivindicações e expectativas de setores tradicionalmente excluídos (CEPESC, 2010, p. 12). Estes são exemplos de iniciativas que visam capacitar e formar professores para atuação tanto na sala de aula quanto no meio social. Quando professores e especialistas foram indagados sobre se ainda há racimos nas escolas a resposta foi unânime “sim”. Sim, ainda que disfarçadamente. Alguns chamam de bulling, mas para mim é racismo. Os meninos e meninas negras ainda tem dificuldades em se relacionar com a maioria dos outros alunos. Se a situação econômica for boa relacionamento tende a ser melhor, mas se for ruim, a coisa piora. ( P2) 42 Sim, e muito. São discriminados pelo cabelo, pelo cheiro do suor, pela classe econômica, recebem apelidos.( P5) Sim, porém muitos temem os processos judiciais e então o fazem mais disfarçadamente.(P10) Sim, no entanto, não é tão visível quanto já foi um dia. (E2) Sim, ainda há piadinhas de deboche e dificuldades de relacionamento no grupo, principalmente entre adolescentes. (P 7) Sim, os professores relatam sempre casos de piadas em sala e dificuldades de relacionamente. Alguns alunos negros sabem dessa dificuldade e eles próprios se afastam do grupo. É um pena, mas é a verdade.(E 4) Sim, embora os negros sejam talvez maioria na escola em que trabalho. Há sempre brigas e reclamações sobre alguém me chamou disso ou daquilo e a gente percebe a dificuldade dos professores em lidar com o problema. Na minha opinião, nem mesmo os professores conseguiram se livrar ainda de práticas racistas. Por mais que preguem o contrário, quando a situação é real, nãos abem como agir. (E 2) Sim, sempre discutimos isto em reuniões, e sei que o simples dia da consciência negra não será capaz de mudar esta realidade. É muito difícil, acho que historicamente nunca conseguimos de forma plena, não são leis e punições que vão mudar isto, é preciso que as pessoas reflitam mais e se coloquem no lugar do outro. Os negros também ainda tem dificuldade de se assumirem negros. No dia da consciência negra fazemos um desfile da beleza negra e muitos meninos e meninas não querem desfilar e dizem: “não sou negro”. É rascimo, não é? Não assumem sua raça. Outros debocham quando alguém com a cor mais clara que desfilar e assume suas origens negras. (P3) Para Deslandes (2012) não se pode banalizar a violência ou considerar os pequenos gestos de preconceito e discriminação como inofensivos: 43 Produzir um distanciamento frente a esse cotidiano, capaz de torná-lo mais estranho e menos familiar, é fundamental. É assim que conseguimos perceber – ou, como propõe Miskolci (2009), para “fazer de conta” que não percebemos -, atitudes discriminatórias, ofensivas, constrangedoras e mesmo práticas violentas com relação a mulheres, negros, pobres, homossexuais, dentre outras categorias nas quais se veste o preconceito e que determinam o sofrimento e, finalmente, o aniquilamento moral e intelectual daqueles que são continuamente violentados no ambiente escolar. É assim, ainda, que conseguimos “desinvizibilizar”, dar voz e romper com o padrão homogeneizante normativo dominante, deixando de ser cúmplices daquilo que se pode chamar de uma pedagogia do insulto na escola (Junqueira, 2009: 17), constituída de piadas, “brincadeiras”, ofensas, apelidos, xingamentos, humilhações, exclusões, insinuações, expressões que desqualificam e tantos outros poderosos mecanismos usados para silenciar e dominar simbolicamente as minorias sociais. E, pior, fazê-lo num ambiente onde se deveria, contrariamente, estimular o desenvolvimento da curiosidade e da autoestima inerentes a todo processo de ensino-aprendizagem (DESLANDES, 2011, p. 104-105). No prefácio da edição de 1999 do livro Superando o racismo na escola, Fernando Henrique Cardoso, então presidente da República, faz uma colocação pertinente sobre a necessidade do diálogo e do estudo para o combate ao racismo na escola: Racismo e ignorância caminham sempre de mãos dadas. Os estereótipos e as idéias pré-concebidas vicejam se está ausente a informação, se falta o diálogo aberto, arejado, transparente. Não há preconceito racial que resista à luz do conhecimento e do estudo objetivo. Neste, como em tantos outros assuntos, o saber é o melhor remédio. Não era por acaso que o nazi-facismo queimava livros. Mas não é só por isso que o tema do racismo e da discriminação racial é importante para quem se preocupa coma a educação. É fundamental, também, que a elaboração dos currículos e materiais de ensino tenha em conta a diversidade de culturas e de memórias coletivas dos vários grupos étnicos que integram nossa sociedade. É obrigação do Estado a proteção das manifestações culturais das culturas populares, indígenas e afro-brasileiras, bem como dos demais grupos participantes de nosso processo civilizatório. Essa obrigação deve refletir-se também na educação (CARDOSO, 1999, p. 10). Assim, percebe-se a importância do trabalho com temas transversais em atividades pedagógicas, utilizando-se da interdisciplinaridade para que constantemente esses temas sejam abordados em sala de aula. A prática cotidiana poderá contribuir para formação social dos alunos como cidadãos críticos e atuantes, visto a urgência social desse temas tratados para resolução de problemas atuais da sociedade moderna. 44 CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante do exposto, neste estudo, concluiu-se que é urgente e necessário o resgate da história do negro como forma de se combater o racismo e enfrentar o eurocentrismo ainda presentes em nosso dia a dia. A escola tem papel imprescindível para que se superem as mentiras das histórias oficiais, que muito atrapalharam na construção da autoestima das pessoas negras. Mas esta história precisa ser ensinada por pessoas que, verdadeiramente, conheçam a história do povo negro. A História da África precisa integrar verdadeiramente os currículos das escolas. A inclusão da História da África e da Cultura Afro-Brasileira nos currículos escolares torna-se meio de afirmação da identidade do povo negro e caminho para uma educação anti-racista. Os esforços pela implementação da Lei nº 10.639/03 sobre a inclusão da História da África e Cultura Afro-Brasileira no ensino fundamental e médio já estão sendo visualizados, mesmo que timidamente, embora os educadores investigados ainda se sintam despreparados/as para trabalhar tais questões. Para isto Sacristán (1995) considera imprescindível mudar os métodos pedagógicos e propiciar outra formação docente, estimulando uma perspectiva cultural que abarque a complexidade da cultura e das experiências humanas. Afinal, o currículo deve ser construído coletivamente e cada sujeito envolvido e comprometido com o processo educativo deve se sentir responsável por sua implementação. Um currículo que busque a valorização e o respeito à diversidade precisa partir da mudança nas intenções daquilo que se quer transmitir aos educandos. É preciso rever as práticas educativas que continuam priorizando a cultura dominante nas salas de aula, com conteúdos que apresentam a visão de determinados grupos sociais. Se após a aprovação da Lei 10.639/03 (BRASIL, 2003), surgiram tímidas iniciativas por parte de secretarias, educadores, gestores e sociedade civil, o maior desafio ainda é colocar essa Lei em prática, de maneira eficaz e adequada, na vida e no cotidiano das escolas brasileiras. 45 Enfim, o compromisso com uma educação anti-racista e inclusiva, no sentido do respeito e acolhimento ao outro, com suas diferenças e limitações, passa pela responsabilidade que cada ator social, seja ele educador, aluno ou gestor, deve ter com a eliminação das atitudes discriminatórias existentes nas relações interpessoais dentro da escola. Diante de tudo que foi exposto confirma-se a hipótese inicial de que os Parâmetros Curriculares Nacionais pouco contribuíram para o combate ao racismo e ao eurocentrismo. Sem força de lei, os PCNs não conseguiram atingir seus objetivos, pois não foram acompanhados de políticas públicas consistentes e nem de formação continuada dos educadores. Todavia, mesmo que Parâmetros Curriculares Nacionais que deveriam servir de orientador para a construção do currículo escolar, não tenham dado conta de apresentar adequadamente, de modo fundamentado, a problemática racial, a escola e os educadores tem outras fontes valiosas para buscar conhecimento e discutir a problemática como inúmeras publicações de estudiosos, leis, publicações de órgãos oficiais, etc. Não vale a desculpa de que não se pode fazer por falta de informação. Cabe, pois, a cada profissional da educação dar a sua contribuição neste trabalho. Lembrando que este passa, primeiramente, pela discussão do currículo e pela postura política, ética e comprometida com a educação de qualidade que cada um deve assumir no ambiente escolar. Para finalizar, fica a palavra do ex-Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, divulgada no prefácio no livro Superando o Racismo na Escola a qual muito contribui para esta reflexão final: A superação do racismo ainda presente em nossa sociedade é um imperativo. É uma necessidade moral e uma tarefa política de primeira grandeza. E a educação é um dos terrenos decisivos para que sejamos vitoriosos nesse esforço. (CARDOSO, 2005, p. 10) Ficam aos que se interessam pela temática e, principalmente, aos educadores, uma pergunta: “que currículo temos apresentado a nossos alunos”? e a afirmação de Lopes (2005) “O Brasil precisa de professores dispostos a fazer a revolução das pedagogias. Cada um de nós está convocado a entrar nesse grupo. (LOPES, 2005, p. 200) 46 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AFONSO, Lúcia. Taxa de alfabetização é desigual entre negros e brancos, diz IBGE. In: <http://www1.folha.uol.com.br/saber/1007322-taxa-de-alfabetizacao-e-desigual-entre-negrose-brancos-diz-ibge.shtml>. Acesso em 15 de junho de 2012. AMIN, Samir. Eurocentrismo: crítica de uma ideologia. Lisboa: Dinossauro, 1994. BRASIL. Ministério da Educação. Programa nacional do livro didático: histórico e perspectivas. Brasília: MEC, 2000 BARRETO, Andreia, et all. (Org.). Gênero e Diversidade na Escola: Formação de professoras/ES em Gênero, Orientação Sexual e Relações Étnico-raciais, Livro de conteúdo. Versão 2009. Rio de Janeiro: CEPESC; Brasília: SPM, 2009. BRASIL.Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, Centro Gráfico (promulgada em 05/10/1988),1988. _________. Indagações sobre currículo. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag4.pdf.> Acesso em 02/02/2012. _________. 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A difusão da escola primária em Campinas, In: NASCIMENTO, T. A Q. R. et. all. Memória da educação. Campinas: Ed. Unicamp, 1999. 51 ANEXO A 1) Você conhece a Lei 10236/03? Sabe sobre o que ela trata? 2) Esta lei é aplicada em sua escola? Quando e como? 3) Em que momentos você e os demais professores e especialistas da escola trabalham com a cultura africana? 4) Em sua opinião, qual a importância desta lei? 5) Você já participou de cursos de formação e ou capacitação? 6) Em sua opinião, o racismo e o etnocentrismo estão presente na escola? De que forma? 7) Os livros didáticos, os Parâmetros Curriculares Nacionais e o currículo escolar favorecem o trabalho contra o racismo e o etnocentrismo? Como?