ESTUDO TERMODINÂMICO DA ADSORÇÃO DE ÁCIDOS CARBOXÍLICOS EM CARVÃO ATIVADO ALESSANDRA F. FREITAS1 MARISA F. MENDES1 GERSON L.V. COELHO1 1- Laboratório de Processos de Separação, Departamento de Engenharia Química, Instituto de Tecnologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, BR 465, Km 07 - 23890-000 – Seropédica - Rio de Janeiro. RESUMO: FREITAS, A. F.; MENDES, M. F.; COELHO, G. L. V. Estudo termodinâmico da adsorção de ácidos carboxílicos em carvão ativado. Revista Universidade Rural: Série Ciências Exatas e da Terra, Seropédica, RJ: EDUR, v. 24, n. 1-2, p. 28-42, jan-dez., 2005. No processo de adsorção ocorre uma acumulação de moléculas (soluto) sobre a superfície do adsorvente. Quando carvão ativado é colocado em contato com o soluto, há um decréscimo de sua concentração na fase líquida e um aumento correspondente sobre a superfície do carvão ativado, até se obter uma condição de equilíbrio. Os principais fatores que influenciam o equilíbrio são a estrutura porosa do sólido, sua heterogeneidade e suas propriedades químicas superficiais. O fenômeno de adsorção também depende das diferenças entre as propriedades químicas do solvente e adsorvato. Neste trabalho, o comportamento da adsorção de ácidos carboxílicos (acético, propiônico e butírico) em carvão ativado foi estudado como uma função da temperatura e da concentração da solução através das isotermas de adsorção e de seus parâmetros termodinâmicos. O objetivo é contribuir com informações relevantes que podem ser utilizadas para auxiliar o tratamento de efluentes contendo ácidos orgânicos. Os parâmetros termodinâmicos tais como variação de entropia (DS), variação de entalpia (DH) e variação da energia livre de Gibbs (DG), foram calculados da inclinação e interseção do gráfico linear de ln KD versus T-1. Os resultados obtidos mostraram que o processo de adsorção dos ácidos acético, propiônico e butírico em carvão ativado é um processo espontâneo e exotérmico, e a quantidade de soluto adsorvido aumenta com a concentração a uma temperatura constante, e diminui com o aumento da temperatura a uma concentração constante. As análises dos resultados de adsorção obtidos nas temperaturas de 298, 303, 313 e 323 K mostraram que os dados experimentais foram bem correlacionados pelos modelos de isotermas de Freundlich e Langmuir. A afinidade entre o carvão ativado (adsorvente apolar) e os ácidos carboxílicos aumenta com o comprimento da cadeia de hidrocarbonetos. Palavras-chave: Ácidos orgânicos, variação da energia livre de Gibbs e variação de entalpia. ABSTRACT: FREITAS, A. F.; MENDES, M. F.; COELHO, G. L. V. thermodynamic studies of fatty acids adsorption on activated carbon. Revista Universidade Rural: Série Ciências Exatas e da Terra, Seropédica, RJ: EDUR, v. 24, n. 1-2, p. 28-42, jan-dez., 2005. In the adsorption process, a molecule (solute) accumulation occurs on the surface of adsorbent. When activated carbon is placed in contact with solute, there occurs a decrease of its concentration in the liquid phase and a corresponding increase on the surface of the activated carbon, until the system reaches a state of equilibrium. The main factors that influence the equilibrium are the porous structure of the solid, its heterogeneity, and the chemical properties of the surface. The adsorption phenomenon also depends on the differences between the chemical properties of the solvent and adsorbate. In this study, the adsorption behavior of fatty acids (acetic, propionic and butyric) on activated carbon was examined as a function of temperature and concentration of the adsorbate through adsorption isotherms and its thermodynamics parameters. The objective is to contribute with information that could be used to assist the treatment of industrial effluents containing organic acids. The thermodynamics parameters, such as entropy variation (DS), enthalpy variation (DH) and Gibbs free energy variation (DG), were calculated from the slope and intercept of the linear plot of ln KD (distribution coefficient) as a function of T-1. The results showed that the adsorption of carboxylic acids on activated carbon is a spontaneous and exothermic process and the amount of solute adsorbed increases with the concentration at constant temperature and decreases with the increase of the temperature at constant concentration. The analysis of the adsorption results obtained at the temperatures of 298, 303, 313 and 323 K showed that experimental data was well represented by the Langmuir and Freundlich isotherms models. The affinity between the activated carbon (non-polar adsorbent) and the fatty acids increase with the length of non-polar hydrocarbon chain. Keywords: Organic acids, Gibbs free energy variation and enthalpy variation. 29 1. INTRODUÇÃO Em geral, o processo de adsorção envolve a acumulação de moléculas de um solvente sobre a superfície exterior e interior (por exemplo, poro) de um adsorvente. Este fenômeno superficial é uma manifestação de interações entre os três componentes envolvidos, adsorvente, adsorvato e solvente. Normalmente, a afinidade entre o adsorvente e o adsorvato é a principal força de interação que controla a adsorção. Entretanto, a afinidade entre o adsorvato e o solvente (solubilidade) também pode influenciar a adsorção. Por exemplo, em soluções aquosas, compostos hidrofóbicos têm baixa solubilidade e tendem a migrar para a superfície do adsorvente (FURUYA et al., 1996). Quase sempre a adsorção em carvão ativado é o resultado de forças atrativas chamadas de van der Waals. Neste caso, o processo é chamado de adsorção física. Quando ocorre o compartilhamento ou troca de elétrons entre o adsorvato e o adsorvente, ocorrendo uma ligação química, a adsorção é denominada química. Na adsorção em fase líquida, as moléculas aderem fisicamente sobre o adsorvente através destas forças relativamente fracas, que são as mesmas responsáveis pela liquefação e condensação de vapores quando no caso da adsorção em fase gasosa. No caso de adsorção física, a natureza do adsorvente não é alterada. A reversibilidade da adsorção física depende das forças atrativas entre o adsorvato e o adsorvente. Se estas forem fracas, a dessorção ocorre com certa facilidade. No caso de adsorção química, as ligações são mais fortes e energia é necessária para reverter o processo. Durante as últimas décadas, a investigação do processo de adsorção em carvão ativado tem confirmado a sua grande potencialidade como uma importante tecnologia de separação e purificação, largamente utilizada em muitos processos industriais que têm como objetivo remover substâncias deletérias ou inconvenientes. Entre uma ampla e variada gama de aplicações, pode-se citar a remoção de impurezas orgânicas e inorgânicas de produtos das indústrias de alimentos, bebidas, farmacêuticas, químicas e petroquímicas. O carvão ativado também tem sido muito utilizado no tratamento de água potável e de efluentes industriais (BEMBNOWSKA et al., 2003; KHAN et al., 1997; KUMAR et al., 2003; LYUBCHIK et al., 2004; WANG et al., 2004; WIDJAJA et al., 2004) e como adsorvente de contaminantes nocivos do ar. A estrutura do carvão ativado é constituída basicamente de microcristais de grafite empilhados numa orientação randômica. Os espaços entre os cristais formam os microporos. Os anéis aromáticos condensados nos cristais de grafite são os responsáveis pelas propriedades hidrofóbicas da superfície microporosa (SNOEYINK & WEBER, 1967, citado por FURUYA et al., 1996). A capacidade de adsorção do carvão ativado não está apenas relacionada com a área superficial e estrutura do poro, mas também com a natureza química dos adsorventes (grupos funcionais na superfície que conferem alta reatividade), adsorvatos e pH das soluções (KARAKAS et al., 2003). Outros fatores que podem afetar a adsorção de modo significativo são a granulometria, teor de cinzas, alta resistência mecânica e o processo de ativação a que o carvão foi submetido (AHMEDNA et al., 1999; PENDYAL et al., 1998), viscosidade e temperatura da fase líquida e o tempo de contato do adsorvente com a solução. Em consideração ao efeito da natureza química do adsorvato sobre a sua adsorção em um sólido, é difícil fazer algumas generalizações, porque a adsorção de alguns adsorvatos depende muito da Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n. 1-2, jan.-dez., p. 28-42, 2005. 30 polaridade do adsorvente. Adsorventes polares tendem a adsorver fortemente adsorvatos polares e fracamente adsorvatos não polares e viceversa. Solutos polares tendem a ser adsorvidos fortemente de solventes apolares (baixa solubilidade) e fracamente de solventes polares (alta solubilidade) e vice-versa (SHAW, 1975). A adsorção em carvão ativado possui algumas vantagens sobre outras tecnologias, como a possibilidade de recuperar o produto puro e reutilizá-lo; alta eficiência de remoção em baixa concentração inicial e reduzido custo de energia (BENKHEDDA et al., 2000). Outra vantagem é que o adsorvente pode ser facilmente separado do líquido tratado ou da corrente de gás, o que permite uma fácil e flexível operação do processo. Embora muitos trabalhos tenham sido realizados nesta área, pouca atenção tem sido dada ao estudo termodinâmico do processo. O principal problema na interpretação dos estudos de adsorção de soluções está na falta de comparação dos dados obtidos pelos diferentes grupos de pesquisa. Isto ocorre devido às diferenças na natureza dos carvões, nas condições dos processos de adsorção e na metodologia escolhida para as análises (LYUBCHIK et al., 2004). Os ácidos carboxílicos são compostos de grande importância de síntese em química fina e farmacêutica, sendo também aplicados como conservantes e desinfetantes na indústria têxtil e dos curtumes. Durante a sua utilização, uma quantidade significativa destes ácidos passa para as correntes de efluentes, acabando nas águas residuais. O objetivo deste trabalho foi estudar o comportamento da adsorção de ácidos carboxílicos (acético, propiônico e butírico) em carvão ativado através de seus parâmetros termodinâmicos, ∆H (variação de entalpia), ∆S (variação de entropia) e ∆G (variação da energia livre de Gibbs), em soluções com diferentes temperaturas e concentrações. Estudo termodinâmico da adsorção de ácidos... 2. MATERIAL E MÉTODOS O adsorvente usado neste trabalho foi o carvão ativado pulverizado 118-90, obtido pelo processo de ativação física a altas temperaturas e doado pelas Indústrias Químicas Carbomafra S.A., (Curitiba–PR). Os reagentes utilizados de grau analítico, ácido acético, ácido propiônico, ácido butírico e hidróxido de sódio, são provenientes da Vetec química fina ltda. Para determinar os parâmetros termodinâmicos, foi conduzida uma batelada de experimentos realizados em triplicata, adicionando-se 25 mL de solução de ácido carboxílico (acético, propiônico ou butírico) de concentração conhecida, previamente preparada e padronizada com mg.L -1 , em NaOH 8,0.10 4 aproximadamente 0,5 (±0,0001) g de carvão ativado em frascos de vidro Erlenmeyer de 125 mL. Em seguida, os frascos foram tampados e colocados em um “shaker” durante quatro horas, tempo previamente determinado para o sistema alcançar o equilíbrio, nas temperaturas de 298, 303, 313 e 323 K. Ao término do período de contato entre o carvão ativado e a solução aquosa do ácido carboxílico, o conteúdo de cada frasco foi filtrado a vácuo (papel filtro quantitativo- J. Prolab Com. de Produtos para Laboratório) e alíquotas do sobrenadante foram retiradas, para serem tituladas com hidróxido de sódio, a fim de se obter a concentração dos ácidos no equilíbrio. O indicador utilizado foi fenolftaleína 0,5%. Os valores dos parâmetros termodinâmicos, ∆H (variação de entalpia) e ∆S (variação de entropia) foram obtidos através do gráfico ln KD versus T-1 utilizando a equação abaixo: ln K D = ∆S ∆H − R RT (1) Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n. 1-2, jan.-dez., p. 28-42, 2005. FREITAS, A.F.; et al. 31 onde KD é o coeficiente de distribuição (cm3.g-1), definido como: (2) sendo Ci a concentração inicial do soluto em mg.L-1, C f a concentração final do soluto em mg.L -1 , V é o volume da solução em mL e m é a massa de adsorvente em g. O valor de ∆G (variação da energia livre de Gibbs) é calculado da relação termodinâmica, ∆G = ∆H − T ∆S (3) Entre os muitos modelos de isotermas de adsorção encontrados na literatura envolvendo soluções aquosas, os dados experimentais de equilíbrio deste trabalho C1f V correlacionados 1 Ci − foram 1 1 com o modelo de K D = = Langmuir e+ o modelo de Freundlich, 0 0 x/m C (4) e (5), b fdescritos x / mm Cabaixox pelas / m Equações respectivamente. ( ) ( ) 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO As Figuras 1, 2 e 3 mostram os resultados dos experimentos, realizados em batelada, da adsorção em carvão ativado, dos ácidos acético, propiônico e butírico, respectivamente. Observa-se que, mantendo-se a temperatura constante, há um aumento na quantidade dos ácidos adsorvidos quando aumenta-se a concentração da solução. O mesmo não pode ser observado com relação ao efeito da temperatura sobre o processo de adsorção. Quando a concentração é mantida constante e a temperatura varia de 298 para 323 K, observa-se um decréscimo na quantidade de soluto adsorvido. CHIANG et al. (1999) observaram comportamento semelhante em relação à influência da concentração ao estudar a adsorção de ácido acético e benzeno em carvão ativo não tratado e tratado com Ba(NO 3 ) 2 e Mg(NO 3 ) 2 , enquanto LYUBCHIK et al. (2004) obtiveram resultado similar em relação à temperatura ao adsorver Cr (III). x log = log k + n log C m (5) onde x é a massa de soluto adsorvida (mg), m é a massa de adsorvente (g), C é a concentração do soluto no equilíbrio (mg.L1 ), b e (x/m)0 são constantes de Langmuir relacionadas à energia e a capacidade de adsorção e k e n são constantes de Freundlich relacionadas à capacidade e intensidade da adsorção. Á c id o a c é tic o a d s o rv id o e m c a r v ã o a tiv a d o ( m g .g -1 ) 1200 (4) 4 -1 1,2.10 mg.L 4 -1 3,0.10 mg.L 4 -1 4,2.10 mg.L 4 -1 6,0.10 mg.L 1000 800 600 400 200 0 290 295 300 305 310 315 320 325 330 Temperatura (K) Figura 1: Quantidade de ácido acético adsorvido em carvão ativado. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n. 1-2, jan.-dez., p. 28-42, 2005. 32 Estudo termodinâmico da adsorção de ácidos... 1400 4 1200 Ácido propiônico adsorvido em -1 carvão ativado (mg.g ) -1 1,5.10 mg.L 4 -1 3,7.10 mg.L 4 -1 5,2.10 mg.L 4 -1 7,4.10 mg.L 1000 800 600 400 200 290 295 300 305 310 315 320 325 330 Temperatura (K) Figura 2: Quantidade de ácido propiônico adsorvido em carvão ativado. 1600 4 1400 Ácido butírico adsorvido em -1 carvão ativado (mg.g ) -1 1,8.10 mg.L 4 -1 4,4.10 mg.L 4 -1 6,2.10 mg.L 4 -1 8,8.10 mg.L 1200 1000 800 600 400 200 290 295 300 305 310 315 320 325 330 Temperatura (K) Figura 3: Quantidade de ácido butírico adsorvido em carvão ativado. A variação de entalpia (∆H) e entropia (∆S) foram calculadas a partir da inclinação e interseção dos gráficos lineares de ln KD versus T-1, representados pelas Figuras 4, 5 e 6. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n. 1-2, jan.-dez., p. 28-42, 2005. FREITAS, A.F.; et al. 33 3,3 3,2 Ln KD 3,1 3,0 2,9 4 -1 2 1,2.10 mg.L (R = 0,9919) 4 -1 2 3,0.10 mg.L (R = 0,9106) 4 -1 2 4,2.10 mg.L (R = 0,9502) 4 -1 2 6,0.10 mg.L (R = 0,8968) 2,8 2,7 3,0 3,1 3,2 3,3 -1 3 3,4 3,5 -1 T 10 (K ) Figura 4: Gráfico semi-logarítmico do coeficiente de distribuição (KD) versus T-1 3,8 3,6 3,4 Ln K D 3,2 3,0 2,8 2,6 4 -1 2 1,8.10 mg.L (R = 0,9691) 4 -1 2 4,4.10 mg.L (R = 0,9325) 4 -1 2 6,2.10 mg.L (R = 0,8957) 4 -1 2 8,8.10 mg.L (R = 0,9869) 2,4 2,2 3,0 3,1 3,2 3,3 -1 3 3,4 3,5 -1 T 10 (K ) Figura 5: Gráfico semi-logarítmico do coeficiente de distribuição (K D) versus T-1 da absorção de soluções de ácido propiônico em carvão ativado. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n. 1-2, jan.-dez., p. 28-42, 2005. 34 Estudo termodinâmico da adsorção de ácidos... 3,8 3,6 3,4 Ln KD 3,2 3,0 2,8 2,6 4 -1 2 1,8.10 mg.L (R = 0,9691) 4 -1 2 4,4.10 mg.L (R = 0,8574) 4 -1 2 6,2.10 mg.L (R = 0,9638) 4 -1 2 8,8.10 mg.L (R = 0,9242) 2,4 2,2 3,0 3,1 3,2 3,3 -1 3 3,4 3,5 -1 T 10 (K ) Figura 6: Gráfico semi-logarítmico do coeficiente de distribuição (KD) versus T-1 da absorção de soluções de ácido butírico em carvão ativado. Os valores obtidos para cada função termodinâmica estão apresentados na Tabela 1. Os valores de DH são negativos, o que indica que a adsorção é um processo exotérmico, o que acontece na maioria dos casos. A variação de entropia está relacionada à variações de ordemdesordem de um sistema. Quanto mais randômico for o sistema, maior a sua entropia. Portanto, os valores positivos de DS indicam que as moléculas dos ácidos carboxílicos encontram-se mais desordenadas no estado adsorvido do que as mesmas moléculas em solução (AKSU & KABASAKAL, 2004). Para todas as temperaturas analisadas, os valores negativos de DG mostram que termodinamicamente há uma redução na energia livre de Gibbs, como esperado para um processo espontâneo. Observa-se também que a variação da energia livre de Gibbs diminui com o aumento da temperatura, mostrando que o processo de adsorção é mais favorável em altas temperaturas, mostrando que o processo de absorção é mais favorável em altas temperaturas. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n. 1-2, jan.-dez., p. 28-42, 2005. FREITAS, A.F.; et al. 35 Tabela 1: Parâmetros termodinâmicos da adsorção do ácidos carboxílicos. ∆G(J.mol-1) C (mg.L-1) ∆S (J.mol-1 K) -1 ∆H (J.mol-1) 298,15 K 303,15 K 313,15 K 323,15 K Ácido acético-Carvão ativado 1,2.104 18,39 -2,33 -5485,37 -5577,32 -5761,22 -5945,13 3,0.104 15,80 -2,96 -4712,33 -4791,30 -4949,26 -5107,21 4,2.104 12,21 -3,69 -3643,64 -3704,68 -3826,77 -3948,85 6,0.104 9,48 -4,52 -2829,89 -2877,27 -2972,03 -3066,80 Ácido propiônico-Carvão ativado 1,5.104 1,75 -8,36 -531,16 -539,93 -557,47 -575,00 3,7.104 6,02 -5,94 -1800,44 -1830,53 -1890,72 -1950,91 5,2.104 8,84 -4,63 -2638,87 -2683,05 -2771,40 -2859,75 7,4.104 0,49 -6,97 -151,74 -154,17 -159,02 -163,88 Ácido butírico-Carvão ativado 1,8.104 8,89 -5,95 -2656,93 -2701,38 -2790,30 -2879,21 4,4.104 7,82 -5,63 -2338,06 -2377,18 -2455,41 -2533,64 6,2.104 6,90 -5,09 -2063,35 -2097,87 -2166,90 -2235,94 8,8.104 0,07 -7,30 -29,11 -29,48 -30,21 -30,94 Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n. 1-2, jan.-dez., p. 28-42, 2005. 36 Estudo termodinâmico da adsorção de ácidos... As Figuras 7, 8, 9, 10, 11 e 12 representam as isotermas de Langmuir e Freundlich da adsorção dos ácidos acético, propiônico e butírico em carvão ativado. 7,0 6,0 -1 (x/m) 10 (g.mg ) 5,0 -1 3 4,0 3,0 2,0 2 298 K (R = 0,9990) 2 303 K (R = 0,9998) 2 313 K (R = 0,9986) 2 323 K (R = 0,9991) 1,0 0,0 0,0 2,0 4,0 6,0 -1 8,0 5 10,0 12,0 14,0 -1 C 10 (L.mg ) Figura 7: Isoterma de Langmuir da adsorção do ácido acético em carvão ativado. 3,2 3,0 Log (x/m) 2,8 2,6 2,4 2 298 K (R = 0,9973) 2 303 K (R = 0,9990) 2 313 K (R = 0,9960) 2 323 K (R = 0,9974) 2,2 2,0 3,8 4,0 4,2 4,4 4,6 4,8 Log C Figura 8: Isoterma de Freundlich da adsorção do ácido acético em carvão ativado. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n. 1-2, jan.-dez., p. 28-42, 2005. FREITAS, A.F.; et al. 37 4,0 3,5 -1 (x/m) 10 (g.mg ) 3,0 3 2,5 -1 2,0 2 298 K (R = 0,9943) 2 303 K (R = 0,9876) 2 313 K (R = 0,9976) 2 323 K (R = 0,9968) 1,5 1,0 0,5 0,0 2,0 4,0 6,0 -1 5 8,0 10,0 12,0 -1 C 10 (L.mg ) Figura 9: Isoterma de Langmuir da adsorção do ácido propiônico em carvão ativado. 3,1 3,0 Log (x/m) 2,9 2,8 2,7 2 298 K (R = 0,9984) 2 303 K (R = 0,9931) 2 313 K (R = 0,9999) 2 323 K (R = 0,9999) 2,6 2,5 2,4 3,8 4,0 4,2 4,4 4,6 4,8 5,0 Log C Figura 10: Isoterma de Freundlich da adsorção do ácido propiônico em carvão ativado. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n. 1-2, jan.-dez., p. 28-42, 2005. 38 Estudo termodinâmico da adsorção de ácidos... 3,5 3,0 2,0 -1 3 -1 (x/m) 10 (g.mg ) 2,5 1,5 2 298 K (R = 0,9810) 2 303 K (R = 0,9917) 2 313 K (R = 0,9845) 2 323 K (R = 0,9910) 1,0 0,5 0,0 2,0 4,0 -1 6,0 5 8,0 10,0 -1 C 10 (L.mg ) Figura 11: Isoterma de Langmuir da adsorção do ácido butírico em carvão ativado. 3,2 Log (x/m) 3,0 2,8 2 298 K (R = 0,9708) 2 303 K (R = 0,9863) 2 313 K (R = 0,9726) 2 323 K (R = 0,9901) 2,6 2,4 3,8 4,0 4,2 4,4 4,6 4,8 5,0 Log C Figura 12: Isoterma de Freundlich da adsorção do ácido butírico em carvão ativado. Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n. 1-2, jan.-dez., p. 28-42, 2005. FREITAS, A.F.; et al. 39 Analisando as figuras apresentados, observa-se que os dados experimentais são bem ajustados aos dois modelos de isotermas, sendo o coeficiente de correlação (R2), aproximadamente igual a 0,99, com exceção dos dados correspondentes à adsorção de ácido butírico em carvão ativado, onde o coeficiente de correlação, em algumas temperaturas, foi inferior a 0,98. Na Tabela 2 encontram-se os valores das constantes das isotermas de Langmuir, (x/m)0 e b, e Freundlich, k e n, que foram calculadas dos gráficos (x/m)-1 versus C-1 e log (x/m) versus log C, respectivamente. Tabela 2: Constantes das isotermas de Langmuir e Freundlich. Langmuir T (K) (x/m)0 (mg.g-1) Freundlich b (L.mg-1) k (L.g-1) n Ácido acético-Carvão ativado 298 4407,81 5,55. 10 -6 0,06 0,90 303 2911,80 8,33. 10 -6 0,08 0,86 313 2639,22 9,00. 10 -6 0,09 0,84 2821,83 -6 0,08 0,86 323 8,11. 10 Ácido propiônico-Carvão ativado 298 303 1363,87 1208,81 3,65. 10 -5 3,79. 10 -5 1,55 1,44 0,59 0,59 313 1305,23 2,87. 10 -5 0,98 0,62 1249,59 -5 1,00 0,61 323 2,94. 10 Ácido butírico-Carvão ativado 298 303 313 323 1943,29 2,13. 10 -5 0,49 0,71 1811,20 2,04. 10 -5 0,75 0,66 2,24. 10 -5 0,98 0,63 2,11. 10 -5 0,61 0,67 1647,72 1591,98 Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n. 1-2, jan.-dez., p. 28-42, 2005. 40 Estudo termodinâmico da adsorção de ácidos... Como a polaridade da superfície do adsorvente também exerce um papel fundamental no processo de adsorção, o caráter polar dos ácidos carboxílicos diminui com o aumento da cadeia de hidrocarbonetos, aumentando assim, a afinidade entre o carvão ativado (adsorvente apolar) e os ácidos. Nesse estudo, o ácido butírico foi o que apresentou maior grau de adsorção em carvão ativado, dada pela relação (x/m) versus Cf (Figura 13). 1600 (x/m) (mg.g-1) 1200 800 400 Ácido acético Ácido propiônico Ácido butírico 0 0 20000 40000 60000 80000 -1 C (mg.L ) Figura 13: Quantidade de ácido acético, ácido propiônico e ácido butírico adsorvidos em carvão ativado a 298 K. 4. CONCLUSÕES Neste trabalho, o carvão ativado apresentou uma grande capacidade de adsorção por ácidos carboxílicos em solução aquosa. Adsorventes polares, chamados hidrofílicos, têm maior afinidade por substâncias polares. Por outro lado, adsorventes não-polares (hidrofóbicos) possuem uma maior afinidade por adsorvatos não-polares. O carvão ativado é classificado como um adsorvente hidrofóbico. Os ácidos carboxílicos têm em suas moléculas pelo menos dois grupos funcionais, o grupo alquila e o grupo carboxila, de forma que o grupo alquila está orientado perpendicularmente à superfície do adsorvente não-polar e o grupo carboxila em direção à solução; o contrário pode ser aplicado aos adsorventes polares. No caso do carvão ativado, como o caráter polar dos ácidos carboxílicos diminui com o aumento da cadeia de hidrocarbonetos, tem-se um aumento da sua capacidade de adsorção. No processo de adsorção dos ácidos carboxílicos em carvão ativado obteve-se a quantificação completa da adsorção com os valores experimentais obtidos e verificase que a capacidade de adsorção diminui com o aumento da temperatura e aumenta com a concentração inicial dos ácidos em solução. Estes comportamentos são esperados uma vez que o processo de adsorção é exotérmico e um aumento na força motriz permite que mais moléculas Rev. Univ. Rural, Sér. Ci. Exatas e da Terra. Seropédica, RJ, EDUR, v. 24, n. 1-2, jan.-dez., p. 28-42, 2005. FREITAS, A.F.; et al. do soluto passem da fase líquida para a superfície do sólido. Contudo, em soluções, a solubilidade do adsorvato no solvente também deve ser levada em consideração. Sabe-se que a capacidade de adsorção de um determinado adsorvente é maior quanto menor for a solubilidade do adsorvato no meio. De acordo com os resultados obtidos, verifica-se que os dois fatores contribuem para a diminuição da adsorção dos ácidos carboxílicos: o processo de adsorção ser exotérmico e o aumento da solubilidade do adsorvato em solução aquosa com o aumento da temperatura. Os dados experimentais de equilíbrio foram bem ajustados aos modelos de isotermas de Langmuir e Freundlich. As constantes de ambas equações, Langmuir e Freundlich, confirmaram o comportamento observado. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AHMEDNA, M.; MARSHALL, W.E.; RAO, R.M. 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