Avaliação de tecnologias visando ao reuso de efluentes Nº 8 • Setembro• 2004 Caro leitor, Neste número apresentamos a tecnologia de adsorção em carvão ativado que tem como vantagem a capacidade de remoção de orgânicos solúveis refratários sem o emprego de produtos químicos. A desvantagem desta tecnologia está na geração de resíduo pelo uso do carvão ativado em pó e a necessidade de regeneração do leito quando aplicado carvão ativado granular. O estado da arte foi elaborado pela Química de Petróleo Pleno Priscilla Florido, responsável pela seleção e avaliação dos carvões disponíveis no mercado e acompanhamento dos resultados na unidade-piloto. Maiores informações podem ser obtidas com Priscilla: [email protected], Tel: (21) 3865-4827. Equipe CENPES/PDEDS/BTA Vânia Santiago (coordenação) Priscilla Florido, Eduardo Sabóia, Rodrigo Suhett, Ana Paula Torres, Mara Machado, Adriana Valente, Fernando Campos e Hudson Torquato (contratados) REGAP Eloisia Coelho, Cláudia Zanette, Mauro Souza Abast-Ref/AER Tsutomo Iwane, Fátima Ferreira Engenharia Heleno Almeida, Eduardo Ferreira, Montserrat Carbonell SMS corporativo Antônio Peres Operação: Oto, Ângelo, Fabrício Kátia, Fabiana (contratados) Clientes participantes: REVAP: Kayano, Celso Scofield REPLAN: Tadeu Furlan, Bentaci LUBNOR: Romino Ayres Adsorção em carvão ativado O carvão ativado proporciona a adsorção de uma ampla gama de compostos orgânicos dissolvidos, presentes em efluentes, sendo empregado como pré-tratamento da osmose inversa, na remoção de carga orgânica refratária aos processos biológicos e na redução da toxicidade crônica decorrente da presença de substâncias orgânicas não biodegradáveis. O fenômeno da adsorção integra e completa muito bem a depuração biológica, pois se aplica a moléculas com peso molecular maior que 100, pouco solúveis, pouco polares e também pouco biodegradáveis. Quando aplicado em conjunto com o tratamento biológico, o processo agrega a vantagem da regeneração biológica do carvão, pela metabolização das substâncias adsorvidas, liberando novamente a superfície do carvão para nova adsorção. Fatores que afetam o processo: A adsorção é afetada pelas características do carvão (distribuição e volume dos poros, área superficial) e condições operacionais (vazão, tempo de contato, pH, temperatura, pressão, concentração do contaminante e teor de sólidos suspensos no afluente). Na tabela 1 são apresentados outros fatores que influenciam na adsorção. Tabela 1: Fatores que afetam a adsorção Para compreender o fenômeno da adsorção em carvão ativado é necessário conhecer as propriedades físico-químicas do material adsorvente. Para o carvão ativado em pó as propriedades mais importantes são: filtrabilidade e densidade, enquanto na forma granular são a dureza e o tamanho das partículas. As propriedades do carvão ativado vão influenciar a taxa e a capacidade de adsorção sendo necessário levá-las em conta na seleção e na avaliação da performance do carvão. 1 Efluentes Hídricos: Resultados em P&D • Nº 8• Setembro • 2004 Isoterma de adsorção: A capacidade de interação do adsorvente para um soluto é controlada pelo equilíbrio de fase. Em sistemas simples pode-se traçar uma curva de concentração do soluto na fase sólida em função da concentração do soluto na fase fluída. Essas curvas são chamadas de isotermas de adsorção e são dependentes da temperatura. Há vários tipos de isotermas, existindo vários mecanismos e equações propostas. A isoterma de Freundlich é caracterizada por uma aproximação monotônica a uma quantidade limite de adsorção que se presume corresponder à formação de uma monocamada. Matéria prima: As matérias primas típicas utilizadas na produção de carvão ativado são: carvão mineral, casca de côco, madeira e lignita. A estrutura das placas grafíticas, para cada material, são apresentadas na ilustração 1. Ilustração 1: Estruturas de diferentes materiais A escolha do material mais apropriado dependerá da aplicação e do custo efetivo. Cada matéria prima utilizada confere ao carvão ativado características e aplicações específicas. O carvão betuminoso, de origem mineral, normalmente apresenta bom desempenho, já o carvão de casca de côco apresenta melhor desempenho em baixas concentrações de contaminantes. O carvão ativado com madeira e lignita, como matéria prima. apresenta boa Ilustração 2 – Origem da matéria prima velocidade de adsorção. Os poros de difusão governam o processo de adsorção que é a etapa mais lenta. O processo de adsorção é regido por interações entre adsorvente (carvão ativado) e adosorbato (contaminante) e são normalmente descritas pelas Forças de Dispersão de London (Forças de van der Waals). Processos de fabricação de carvão granular: No processo de fabricação os carvões podem ser aglomerados e não-aglomerados. Os carvões aglomerados apresentam no processo de fabricação uma etapa de pulverização seguida da adição de um agente ligante, moagem e seleção por peneiras para posterior ativação. O processo de aglomeração permite modificar a estrutura do carvão para melhor ativação e adsorção, obtendo-se uma ativação uniforme, superfície rígida e poros de transporte adicionais que aumenta a eficiência de difusão. Os poros de transporte atuam como canais de distribuição dentro da estrutura, são espaços amplos onde não há adsorção, apenas o transporte do líquido. Os carvões não aglomerados, como, por exemplo, o carvão casca de côco, apresentam estrutura não uniforme com superfície externa frágil e uma parte central do grão com um centro rígido onde ocorre pouca ou nenhuma ativação. Processos de ativação: Existem dois tipos de ativação do carvão, a ativação química e a ativação física. A ativação química é geralmente usada para carvões de origem vegetal, a base de madeira, que sofrem impregnação com um agente desidratante, geralmente ácido fosfórico, a elevadas temperaturas (500 – 800 ºC) para ser carbonizada e ativada. A ativação química gera poros mais abertos, adequados para a adsorção de moléculas grandes. A ativação física ou a vapor é mais utilizada para carvões a base mineral e de casca de côco já carbonizada. A ativação é feita à temperatura de 800 – 1100ºC em presença de vapor d’água. A ativação a vapor gera microporos bem adaptados para a adsorção de compostos orgânicos e/ou minerais em fases líquida e gasosa. Alta área superficial: Estruturalmente o carvão ativado apresenta alta porosidade, com área superficial superior a 1100 m2/g. A dimensão dos poros do carvão varia de 10 a algumas centenas de Angstrons, demonstrando uma alta superfície de contato disponível para adsorção. Priscilla Florido Química de Petróleo Pleno 2