V DOMINGO DA PÁSCOA – ANO C Evangelho: João 13, 31- 35 Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros. Irmã Vanda Bisato O novo mandamento Esse texto é um testamento. Um personagem ilustre antes de morrer reúne seus filhos e pronúncia às últimas palavras, à maneira de testamento espiritual. Mais que ato puramente jurídico, o testamento é uma despedida, na qual se ajuntam as lembranças e se cruzam conselhos. O Evangelho de São João, para este domingo, apresenta-nos o mandamento novo de Jesus: «Como eu vos amei, amai-vos também uns aos outros». Não é fácil cumprir este mandamento que Jesus nos manda viver. Quando Judas saiu, Jesus disse: Agora, a glória do Filho do Homem é revelada, e a glória de Deus é vista por meio dele. E se a glória de Deus é revelada por meio dele, então o próprio Deus revelará a glória do Filho do Homem. E Deus fará isso agora mesmo. Meus filhos, não vou ficar com vocês por muito tempo. Vocês vão me procurar, mas eu digo agora o que já disse aos judeus: Vocês não podem ir aonde eu vou. Eu lhes dou este novo mandamento: “Amem uns aos outros. Assim como eu os amei, amem também uns aos outros”. Se tiverem amor uns pelos outros, todos saberão que vocês são meus seguidores. Desenvolvimento do Evangelho Esse Evangelho refere-se ao momento em que, após ter anunciado a traição de Judas, Jesus fala de sua glorificação como realidade presente, unida à sua paixão. Esses fatos, O afastarão de seus discípulos, mas antes de deixá-los, assegura a sua presença através do amor. Remetendo-nos ao contexto histórico, o amor é visto de diferentes formas: No judaísmo amar o próximo era amar os membros de sua comunidade, respeitar os estrangeiros que vivessem na vizinhança e praticar filantropia; já no mundo grego amava-se, quem estava longe e não o próximo, pois quem está longe não incomoda e este amor é colocado menos à prova. Na liturgia de hoje, o novo na proposta de Jesus não é o amor, pois este mandamento Ele já havia ensinado. É o “novo mandamento “ que ensina a forma de amar com a intensidade que Ele sempre amou, sem impor condições ou esperar algo em troca. É preciso amar em Jesus, por Jesus e com Jesus, amor este que Ele demonstra de uma forma especial amando seu próprio traidor e se doando por todos até às últimas consequências na morte de cruz. Uma comunidade onde reina o verdadeiro amor é uma comunidade justa e fraterna. Isto parece ser uma utopia, um sonho, pois o homem dificilmente consegue amar com essa grandeza. Ninguém quer sacrificar seus interesses em benefício do outro, nos dias de hoje, e o que se vê são injustiças, guerras, fome, abandono, enfim violência de todas as formas, e diante disto, todos se sentem incapazes, achando mais fácil acreditar que não se pode fazer nada. Uma pessoa sozinha não pode mesmo fazer muito, mas Jesus faz uma aliança com seu povo, e sempre que se ama verdadeiramente não se ama sozinho, pois Jesus ama junto. Este é o legado deixado por Ele, o sentido de sua missão, a orientação mais importante para seus seguidores que ainda não estão preparados para a missão, mas que ao receberem o Espírito Santo, serão capazes de uma missão semelhante à de Jesus. Se observarmos bem, a instrução de Jesus, neste momento, não é para amar a Deus ou a Ele, e sim ao próximo, pois amando ao próximo ama-se verdadeiramente ao Pai e ao Filho. Conclusão Para finalizar, uso palavras que foram ditas por Santo Agostinho: Aquele que ama o seu próximo com um amor puro e espiritual, quem amará nele senão Deus? É este amor que o Senhor quer separar da afeição puramente natural, ao acrescentar: "Como eu vos amei". Que é que Ele amou em nós, senão Deus? Não Deus como nós o possuímos já, mas tal como Ele quer que o possuamos quando "Deus for tudo em todos". O médico ama os doentes por causa da saúde que quer dar-lhes, não por causa da doença. "Assim como vos amei, amai-vos uns aos outros". Foi para isso que Ele nos amou: para que, por nossa vez, nos amássemos uns aos outros. O amor que Cristo revelou não é um sentimento vazio e indefinido. É a essência da vida, a essência do cristianismo. Mais ainda, é a essência do próprio Deus: “Deus é amor”. Portanto, quando proclamamos que o amor deveria ser posto como base da convivência humana, podendo substituir e dispensar todas as leis, não estamos descambando no ridículo. Apenas estamos afirmando que Deus deveria ser posto como base da convivência humana.