Trabalho 424 COMPLEXIDADE DA FARMACOTERAPIA EM IDOSOS NA ATENÇÃO BÁSICA EM SAÚDE Rogério Dias Renovato1, Márcia Regina Martins Alvarenga2, Odival Faccenda3, Introdução:A complexidade da farmacoterapia é um dos principais fatores que levam à não-adesão ao tratamento, e seu construto teórico está relacionado ao número de medicações e à freqüência da dosagem1. A complexidade da farmacoterapia pode ser assim definida: consiste de múltiplas características do regime prescrito, incluindo, pelo menos, o número de diferentes medicações no esquema, o número de doses por dia, o número de unidades de dosagem por dose, o número total de doses por dia e as relações da dose com a alimentação1. A avaliação da complexidade da farmacoterapia em idosos têm sido realizada por vários estudos 2-4 . Em um desses estudos, verificou-se que pacientes com maior complexidade do regime tendem a possuir redução funcional e/ou na função cognitiva, que, por sua vez, afetam a habilidade para auto‐administrar o medicamento. Além disso, a complexidade é relacionada com percepções, habilidades e circunstâncias individuais, o que aparenta relativamente simples para uma pessoa pode ser complexa para outra 4. No Brasil, a complexidade da farmacoterapia também tem sido objeto de pesquisa principalmente em farmácias comunitárias, e envolvendo pacientes diabéticos por exemplo1,5,6. Objetivo: avaliar a complexidade de farmacoterapia em idosos atendidos por equipes da Estratégias de Saúde da Família, em Dourados, MS. Metodologia: Estudo de corte transversal, tendo como local do estudo 29 Equipes da zona urbana de Dourados, MS. Os sujeitos da pesquisa foram pessoas com idade igual ou superior a 60 anos, de ambos os sexos, assistidas pelas ESF. O sorteio dos idosos foi aleatório e proporcional ao tamanho das ESF para determinar o número de pessoas em que o questionário seria aplicado. A coleta de dados foi realizada pelos acadêmicos bolsistas de iniciação científica que foram capacitados para esse estudo. Foram entrevistados 282 idosos no total. Os dados sociodemográficos foram obtidos através da Ficha A do Sistema de Informação de Atenção Básica (SIAB). A avaliação da complexidade do tratamento medicamentoso empregou o Índice de Complexidade da Farmacoterapia (ICFT) ou Medication Regimen Complexity Index, instrumento validado para o português brasileiro1. Esse instrumento é dividido em três seções, onde a primeira corresponde às informações sobre as formas de dosagens, a segunda sobre as freqüências das doses e a última é para informações adicionais como horários específicos, uso de alimentos, entre outras. Cada seção é pontuada e o índice de complexidade é obtido pela soma dos pontos das três seções (escore total). A classificação Farmacêutico, Doutor em Educação, Docente do Curso de Enfermagem da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) – [email protected] 2 Enfermeira, Doutora em Enfermagem, Docente do Curso de Enfermagem da UEMS – [email protected] 3 Matemático, Pós-doutorado em Educação, Docente do Curso de Ciências da Computação – [email protected]. 1 1825 Trabalho 424 da complexidade foi estabelecida em: baixa complexidade (escore menor que 4), moderada complexidade (escore entre 4 e 11), elevada complexidade (escore maior que 11). Pesquisa vinculada ao Projeto “Implantação de um sistema de informação para avaliação e monitoramento das necessidades sociais e de saúde de idosos em situação de vulnerabilidade social”, com apoio financeiro da FUNDECT. Resultados: As características sociodemográficas dos idosos entrevistados foram: sexo masculino 85(31,1%), sexo feminino 197(69,9%); idade de 60 a 69 anos 112 (39,7%), idade de 70 a 79 anos 123(43,65%), idade de 80 anos e mais 46(16,3%); viúvo 110(39,0%), união consensual 138(48,9%), separado 18(6,4%), solteiro 15(5,3%); analfabeto 131(46,5%), 1 a 4 anos de estudo 125(44,3%), mais de 4 anos de estudo 25(8,9%); católico 169(59,9%), evangélico 103(36,5%), outras religiões 02(0,6%), não tem religião 06(2,1%); quanto ao arranjo familiar, acompanhado 245(86,9%), sozinho 36(12,8%). Os dados acima referem-se a 281 idosos, visto que não foi encontrado no sistema informações sobre um individuo da pesquisa. As doenças mais citadas foram: hipertensão arterial 211(74,8%), problemas de coluna 129(45,7%), diabetes 77(27,3%), osteoporose 66(23,4%), distúrbios digestivos 59(20,9%), depressão 48(17,0%) e 46(16,3%) idosos relataram outras patologias. Com relação ao uso de medicamentos diariamente, 264 (93,6%) afirmaram que sim, sendo que destes, 33 (11,7%) tomam apenas um medicamento, 52 (18,4%) tomas dois medicamentos diferentes, 46 (16,3%) idosos tomam até três, 36 (12,8%) tomam até quatro medicamentos e 97(34,3%) usam cinco ou mais tipos diferentes de medicamentos por dia. Em relação ao ICFT, 63(22,3%) dos idosos apresentaram baixa complexidade, 148(52,5%) com moderada complexidade e 71 (25,2%) com elevada complexidade. Em estudo realizado na atenção básica em município do Rio Grande do Sul, o escore do ICFT maior que 11 (elevada complexidade) foi encontrado em 63 sujeitos de 336 pacientes entrevistados, sendo apenas 59 idosos7. Pesquisa realizada em 570 idosos portugueses, a média do ICFT foi de 11,98. A elevada complexidade também foi encontrada em pesquisa realizada com 95 pacientes diabéticos, com a média de ICFT em 15,71. Conclusão: A avaliação da complexidade de farmacoterapia é um recurso importante na pesquisa e na prática clínica, visto que fornece informações relevantes sobre os elementos do tratamento medicamentoso, e possíveis correlações com a adesão terapêutica. A moderada e elevada complexidade encontradas corroboram a implementação de ações de cuidado voltadas ao uso de medicamentos, a fim de reduzir a vulnerabilidade dos idosos. Implicações para a Enfermagem: Considerando que o uso de medicamentos requer ações interdisciplinares, a utilização de instrumentos que auxiliam a compreender o uso de medicamentos no cotidiano dos idosos, como o ICFT, requer da Enfermagem ações mais sistematizadas para atenuar possíveis riscos relacionados à farmacoterapia, atuando de modo colaborativo e cooperativo com os demais profissionais de saúde. 1826 Trabalho 424 Descritores: uso de medicamentos, saúde do idoso, atenção básica em saúde. Área temática: Políticas e práticas em Saúde e Enfermagem Eixo Temático: A pesquisa de enfermagem no processo de cuidar e educar: interdisciplinaridade, transculturalidade e difusão do conhecimento. Referências 1- Melchiors AC, Correr CJ, Fernández-Llimos F. Tradução e validação para o português do Medication Regimen Complexity Index. Arq Bras Cardiol. 2007; 89(4):210-218. 2- Griffiths R, Johnson M, Piper M, Langdon R. A nursing intervention for the quality use of medicines by elderly community clients. Int J Nurs Pract. 2004;10(4):166-76. 3- Johnson M, Griffiths R, Piper M, Langdon R. Risk factors for an untoward medication event among elders in community-based nursing caseloads in Australia. Public Health Nurs. 2005; 22(1):36-44. 4- Schlenk EA, Dunbar-Jacob J, Engberg S. Medication non-adherence among older adults: a review of strategies and interventions for improvement. J Gerontol Nurs. 2004; 30(7):33-43. 5- Aldrigue RFT, Correr CJ, Melchiors AC, Pontarolo R. Análise da Completude de Prescrições Médicas Dispensadas em uma Farmácia Comunitária de Fazenda Rio Grande ‐ Paraná (Brasil). Acta Farm Bonaerense. 2006; 25(3):454‐9. 6- Correr CJ, Melchiors AC, Rossignoli P, Fernández‐Llimós F. Aplicabilidad del estado de situación en el cálculo de complejidad de la medicación en pacientes diabéticos. Seguim Farmacoter. 2005;3(2):103‐11. 7- Fröhlich SE, Zaccolo AV, Silva SLC, Mengue SS. Association between drug prescribing and quality of life in primary care. Pharm World Sci. 2010; 32:744-751. 8- Soares MAMS. Avaliação da terapêutica potencialmente inapropriada no doente geriátrico [tese). Lisboa: Universidade de Lisboa; 2009. 1827