Artigo de Revisão Evidências sobre a utilização de arginina na resposta de marcadores inflamatórios em pacientes com câncer de cabeça e pescoço: uma Revisão Evidence on the use of arginine in response to inflammatory markers in patients with head and neck cancer: a Review Resumo Introdução: Pacientes com câncer de cabeça e pescoço frequentemente desenvolvem perda de peso importante no perioperatório. Nas últimas duas décadas, o estado inflamatório observado em pacientes oncológicos vêm ganhando destaque na literatura científica, uma vez que representa um dos principais fatores associados à caquexia. Diante deste cenário, os farmaconutrientes vêm demonstrando possuir a capacidade de modular a resposta imunológica e inflamatória, reduzir complicações no pós-operatório e taxa de mortalidade. Entre os nutrientes com ações específicas, podemos ressaltar a arginina. Objetivos: Revisar a literatura científica sobre a utilização de arginina na resposta de marcadores inflamatórios, além de conhecer suas ações benéficas ou não, dosagens mais adequadas e tempo de utilização em pacientes com câncer de cabeça e pescoço. Métodos: Foram identificados 14 estudos utilizando a base de dados do PubMed, destes 5 ensaios clínicos randomizados e controlados preencheram os critérios de inclusão e constituíram a amostra. Resultados: As dietas enterais enriquecidas com arginina não mostraram benefícios quando comparada a dieta padrão, segundo os valores de marcadores inflamatórios (Proteína C-reativa, Interleucina-6 e Fator de necrose tumoral - alfa). Conclusão: novos estudos são necessários para determinar qual a forma ideal de suplementar arginina nos pacientes com câncer de cabeça e pescoço (por via oral, enteral ou parenteral), o momento certo de realizar a nutrição imunomoduladora (No período pré-operatório, pós-operatório ou perioperatório), além da dosagem e o tempo de utilização mais adequado a ser utilizado nessa população. Tiago Campos Armentano 1 Carlos Magno de Marce Rodrigues Barros 2 Abstract Introduction: Patients with head and neck cancer often develop significant weight loss during perioperative period. In the last two decades, the inflammatory state observed in cancer patients are gaining substantial importance in the scientific literature since it has been related as one of the main factors associated to cachexia. Given this scenario, pharmaconutrients have shown the ability to modulate immune and inflammatory response, reducing postoperative complications and mortality. Among nutrients with those specific actions it can be highlighted arginine. Objectives: Literature review on arginine use related to inflammatory markers response, to show its benefits - if any- and appropriate dosage and duration of use in patients with head and neck cancer. Methods: There were found 14 studies on PubMed database where 5 randomized controlled trials met inclusion criteria’s and constituted the sample. Results: arginine-enriched enteral nutrition showed no benefit when compared to standard diet, if compared inflammatory markers´ such as C-reactive protein, interleukin-6 and tumor necrosis factor - alpha values. Conclusion: further studies are needed in order to determine an ideal form of arginine supplement in patients with head and neck cancer (oral, enteral or parenteral), an appropriate occasion for immunomodulatory nutrition (In the pre-operative, post-operative or perioperative) and dosage/duration more suitable for this particular population. Key words: Head and Neck Neoplasms; Arginine; Enteral Nutrition. Descritores: Arginina; Neoplasias de Cabeça e Pescoço; Nutrição Enteral. Introdução Pacientes com câncer de cabeça e pescoço frequentemente desenvolvem perda de peso importante no perioperatório1,2. As causas são multifatoriais, e muitas vezes estão associadas a sintomas como anorexia, fadiga, xerostomia, disfagia, odinofagia, náuseas, vômitos, diarreia e/ou constipação, maximizando o risco nutricional, morbidade e mortalidade3. No Brasil segundo o Instituto Nacional do Câncer 1)Especialista em Terapia Nutricional pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro- UERJ. Nutricionista da Terapia Nutricional do Hospital Vital. 2)Doutor em Biociências Nucleares pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro- UERJ. Professor Adjunto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Instituição: Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro - UNIRIO. Rio de Janeiro / RJ – Brasil. Correspondência: Tiago Campos Armentano - Av. Pasteur, 296 – URCA - Rio de Janeiro – TJ – Brasil - CEP: 22290-240 – E-mail: [email protected] Artigo recebido em 02/08/2013; aceito para publicação em 26/03/2014; publicado online em 31/03/2014. Conflito de interesse: não há. Fonte de fomento: não há. Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.43, nº 1, p. 57-62, janeiro / fevereiro / março 2014 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 57 Evidências sobre a utilização de arginina na resposta de marcadores inflamatórios em pacientes com câncer de cabeça e pescoço: uma Revisão. (INCA), as estimativas para o ano de 2012 serão válidas também para o ano de 2013 e apontam a ocorrência de aproximadamente 518.510 casos novos de câncer. Em relação aos tumores que acometem a cavidade oral, laringe e sistema nervoso central, estima-se respectivamente um número de 14.170, 6.110 e 9.270 casos novos em indivíduos de ambos os sexos4. Nas últimas duas décadas, o estado inflamatório observado em pacientes oncológicos vêm ganhando destaque na literatura científica, uma vez que representa um dos principais fatores associados à caquexia do câncer5. Esta síndrome é complexa, sendo também caracterizada por perda de peso progressiva, anorexia, astenia, imunossupressão, alterações hormonais (como leptina, neuropeptídeo Y, melanocortina, grelina, galanina, insulina, colecistoquinina e endorfina) e na taxa metabólica basal, além de anormalidades no metabolismo de carboidratos, lipídios, proteínas e líquidos6. Em relação aos marcadores inflamatórios alterados, podemos citar entre os principais o fator de necrose tumoral alfa (TNF-alfa), interleucina 1 beta (IL-1beta), interleucina 6 (IL-6) e proteína C-reativa (PCR). As principais consequências metabólicas do aumento destes marcadores inflamatórios são a diminuição da ingestão alimentar e aumento da lipólise, proteólise, gasto energético basal, concentrações de insulina, glucagon e cortisol7,8,9,10. Diante deste cenário, os farmaconutrientes vêm demonstrando possuir a capacidade de modular a resposta imunológica e inflamatória, reduzir complicações no pós-operatório e taxa de mortalidade. Entre os nutrientes com ações específicas, podemos ressaltar a arginina, glutamina, nucleotídeos e ácidos graxos da família ômega 3. Entretanto, o efeito do tratamento varia dependendo da forma de intervenção, população estudada e qualidade metodológica dos estudos11. A arginina é classificada como um aminoácido condicionalmente essencial para os humanos. Em situações de estresse metabólico, ela deixa de ser sintetizada em quantidades suficientes pelo organismo e Armentano et al. seus níveis plasmáticos tornam-se reduzidos12,13. Alguns ensaios clínicos mostraram que, a suplementação dietética de arginina é capaz de melhorar a resposta das células T14, reduzir as taxas de crescimento tumoral15, além de aumentar o tempo de sobrevida de pacientes com câncer16. Portanto neste artigo, destacaremos a importância da utilização de arginina na resposta de marcadores inflamatórios em pacientes com câncer de cabeça e pescoço. Métodos Foram incluídos nesta revisão de literatura, ensaios clínicos randomizados e controlados em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, em que a arginina foi utilizada como intervenção em qualquer dosagem, podendo ou não estar associada a outros nutrientes. O período de busca foi preferencialmente por artigos publicados nos últimos 10 anos, em idiomas português, inglês e espanhol. As palavras-chave foram: arginina (arginine), cabeça e pescoço (head and neck), nutrição enteral (enteral nutrition), neoplasias (neoplasias) e cirurgia (surgery). Em relação à base de dados consultada, utilizou-se o PubMed. Apenas foram utilizados para análise do estudo, artigos científicos que abordavam o tema marcadores inflamatórios. Resultados e Discussão Consultando as bases de dados do PubMed, foram identificados 14 ensaios clínicos. Destes, 9 estudos foram excluídos (8 por não avaliarem marcadores inflamatórios e 1 por utilizar critério diferenciado). Sendo assim, 5 ensaios clínicos randomizados e controlados preencheram os critérios de inclusão e constituíram a amostra (Figura 1). Na Tabela 1 se encontra o desenho do estudo realizado. Na avaliação dos ensaios clínicos foi observado que todos os pacientes receberam suporte nutricional por via enteral, sendo este realizado por dieta enteral Ensaios clínicos potencialmente relevantes n = 14 Estudos excluídos Não avaliaram marcadores inflamatórios: n = 8 Utilizou um critério diferente na análise dos marcadores inflamatórios: n = 1 Ensaios clínicos randomizados e controlados n=5 Figura 1. Fluxograma com estágios da obtenção dos estudos envolvendo ensaios clínicos e controlados sobre o uso de arginina na resposta de marcadores inflamatórios em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, Rio de Janeiro, 2013. 58 R���������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.43, nº 1, p. 57-62, janeiro / fevereiro / março 2014 Evidências sobre a utilização de arginina na resposta de marcadores inflamatórios em pacientes com câncer de cabeça e pescoço: uma Revisão. Armentano et al. Tabela 1. Desenho do estudo envolvendo ensaios clínicos randomizados e controlados sobre o uso de arginina na resposta de marcadores inflamatórios em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, Rio de Janeiro, 2013. Estudo Critérios de inclusão De Luis, 200317 Perda de peso (5-10% em 6 Pacientes com insuficiência renal meses) e câncer em cavidade oral ou hepática, infecção ativa, doença ou laringe. autoimune, tratamento a base de esteroides e bem nutridos (Perda de peso < 10% em 6 meses). Perda de peso (5-10% em 6 Pacientes com insuficiência renal ou meses), câncer em cavidade oral hepática, infecção ativa, tratamento ou laringe e níveis de IL- 6 (> 5 pg/ a base de esteroides e bem nutridos (Perda de peso < 10% em 6 meses). ml). Perda de peso (5-10% em 3 Pacientes com insuficiência renal ou meses) e câncer em cabeça e hepática, doença autoimune, infecção ativa, tratamento a base de esteroides. pescoço. Pacientes com diagnóstico de Pacientes com insuficiência renal câncer em cavidade oral ou laringe. ou hepática, infecção ativa, doença autoimune, tratamento a base de esteroides, suplementação nutricional recente. Pacientes com diagnóstico de Pacientes com insuficiência renal ou câncer em cabeça e pescoço. hepática, doença autoimune. De Luis, 200518 De Luis, 200819 Casas, 200820 Felekis, 201021 Critérios de exclusão Desfechos Peso, parâmetros bioquímicos. Índice de Massa Corporal (IMC), Parâmetros bioquímicos. Peso, parâmetros bioquímicos. Peso, parâmetros bioquímicos, complicações clínicas, tolerância à nutrição, tempo de internação hospitalar. Marcadores imunológicos, complicações maiores e menores. Tabela 2. Características do suporte nutricional de ensaios clínicos randomizados e controlados sobre o uso de arginina na resposta de marcadores inflamatória em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, Rio de Janeiro, 2013. Estudo Nº de Grupos grupos De Luis, 200317 2 De Luis, 200518 2 De Luis, 200819 2 Casas, 200820 3 Felekis, 201021 2 Controle Intervenção Pós-operatório Dieta enteral Dieta enteral com padrão arginina (12,5 g/dia) e fibras alimentares. Pós-operatório Dieta enteral Dieta enteral com padrão arginina (12,5 g/dia) e fibras alimentares. Pós-operatório Dieta enteral Dieta enteral com padrão arginina (17 g) e fibras alimentares. Pós-operatório Dieta enteral 1. Dieta enteral com padrão arginina; 2. Dieta enteral com arginina, RNA e ácidos graxos ômega-3. 1. Pós- operatório 1. Dieta 2. Dieta enteral com 2. Pré e Pósenteral arginina, RNA e ácidos operatório padrão graxos ômega-3. Ingestão energética alvo 32 kcal/kg/dia 1.7 g ptn/kg/dia Duração média em dias de suplementação Pré-op Pós-op 20 dias Requerimentos - 20 dias 35 kcal/kg/dia 1.8 g ptn/kg/dia - 21 dias Fórmula de HarrisBenedict com fator estresse (1.4) 1.5 g ptn/kg/dia - 14.5 dias 5 dias 8 dias Requerimentos Ptn: Proteína; RNA: Ácido ribonucléico. isoenergética e isonitrogenada-padrão (grupo controle) ou dieta enteral enriquecida com arginina (grupo intervenção). É importante ressaltar que, a nutrição imunomoduladora ofertada aos pacientes apresentava outros componentes, dentre eles fibras alimentares, ácido ribonucléico e ácidos graxos ômega-3, os quais podem ter interferido em alguns resultados obtidos nesses ensaios. Três estudos informaram a dose de arginina utilizada, que variou entre 12.5 e 17g/dia. O tempo de uso do suporte nutricional no pós-operatório foi em média de 8 a 21 dias. Entretanto, um ensaio também utilizou a nutrição de forma suplementar no préoperatório por apenas 5 dias (Tabela 2)17,18,19,20,21. As características dos pacientes quanto ao gênero, idade e estado antropométrico se apresentaram de forma similar nos 5 estudos (total de 190 indivíduos), refletindo a homogeneidade da amostra. Em relação à avaliação antropométrica apenas se considerou o peso corporal e o índice de massa corporal (Tabela 3) 17,18,19,20,21. Em casos de câncer, existe uma tendência de perda de Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.43, nº 1, p. 57-62, janeiro / fevereiro / março 2014 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 59 Evidências sobre a utilização de arginina na resposta de marcadores inflamatórios em pacientes com câncer de cabeça e pescoço: uma Revisão. Armentano et al. Tabela 3. Características dos pacientes (Pré-intervenção) quanto ao gênero, idade e estado antropométrico dos ensaios clínicos randomizados e controlados sobre o uso de arginina na resposta de marcadores inflamatórios em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, Rio de Janeiro, 2013. Controle (Sexo: M/F) 18 (1/17) 15 (3/12) 23 (19/4) Estudo De Luis, 200317 De Luis, 200518 De Luis, 200819 Casas, 2008 15 (15/0) Felekis, 201021 20 (18/2) 20 Intervenção (Sexo: M/F) Idade (anos +/- Sd) Controle Intervenção Peso (kg) Controle Intervenção IMC (kg/m²) Controle Intervenção 18 (1/17) 14 (2/12) 18 (16/2) Grupo 1: 15 (13/2) Grupo 2: 14 (14) 59.3 +/- 10.5 63.1 +/- 12.7 69.2 +/- 12.9 69.1 +/- 13.7 24.1 +/- 4.2 24.1 +/- 2.8 63 +/- 11.6 60,7 +/- 11.6 Não declarou 20 (18/2) 61.3 +/- 9.3 60.5 +/- 10.6 69.4 +/- 12.8 68.6 +/- 15.5 24.9 +/- 2.8 54.2 +/- 13 Grupo 1: 59.6 +/- 9 Grupo 2: 50 +/- 13.7 66.4 +/- 10 63.2 +/- 3.9 61 +/- 3.8 Não declarou 26.2 +/- 4.7 24.6 +/- 3.5 24.5 +/- 4.8 Grupo 1: 63.9 +/- 9.8 Não declarou Grupo 2: 67.9 +/- 14.9 Não declarou M: masculino; F: feminino; IMC: índice de massa corporal; Sd: desvio padrão. peso acelerada, devido a um aumento do estado hipercatabólico dos pacientes internados, que geralmente evoluem para caquexia. Para corroborar esta afirmação, Waitzberg et al.22 em um estudo multicêntrico, avaliaram 4000 pacientes adultos em 25 hospitais integrados à rede do Sistema Único de Saúde (SUS). Dessa amostra, 804 pacientes (20,1%) eram portadores de câncer e na avaliação do estado nutricional 533 pacientes (66,3%) apresentavam algum grau de desnutrição. A explicação para isso está relacionada a um aumento dos processos de gliconeogênese e beta-oxidação, que decorrem em uma perda significativa dos compartimentos proteicos e lipídicos6. Embora haja esta tendência, os estudos de De Luis et al.17,18,19 mostraram que os pacientes iniciaram o suporte nutricional apresentando estado de eutrofia quando avaliados ambulatorialmente. Os ensaios de Casas et al.20 e Felekis et al.21 não utilizaram este parâmetro para análise dos pacientes. Outra variável a ser discutida é a idade desses pacientes, que por serem idosos desenvolveriam mais facilmente alterações do estado nutricional, propensão esta que não foi observada nestes ensaios clínicos. Marcadores Inflamatórios Proteína C-reativa (PCR) Avaliando os níveis de PCR dos pacientes com câncer de cabeça e pescoço no pré e pós-operatório, foi observada redução dos níveis séricos de PCR em ambos os grupos, controle e de intervenção. Sugere-se a partir deste resultado que, a fórmula enteral enriquecida com arginina não trouxe benefícios quando comparada a dieta padrão (Tabela 4)17,18,19. Casas et al.20 utilizaram 3 grupos em seu estudo: controle (dieta enteral padrão), intervenção 1 (dieta enteral com arginina) e intervenção 2 (dieta enteral com arginina, RNA e ácidos graxos ômega-3). Foi encontrado um aumento de PCR nos 3 grupos após duas semanas da cirurgia. No trabalho de Felekis et al.21 dividiram os pacientes em apenas 2 grupos: controle que no pós-operatório recebeu dieta enteral isoenergética e isonitrogenada e o de intervenção que no pré e pósoperatório recebeu dieta enteral com arginina, RNA e ácidos graxos ômega-3. A suplementação no grupo intervenção foi realizada por 5 dias no pré-operatório e em ambos os grupos por 8 dias no pós-operatório, porém não houve diminuição nos níveis de PCR. Interleucina- 6 (IL-6) No estudo de De Luis et al.18 participaram da amostra 14 pacientes (grupo intervenção com dieta enteral enriquecida com arginina- 12,5 g) e 15 pacientes (grupo controle com dieta enteral padrão), os dois grupos receberam suplementação no pós-operatório em média por 20 dias. Antes e após (6º dia) a cirurgia, os níveis de IL-6 foram monitorados e se observou uma redução nos valores dessa interleucina em ambos os grupos. De Luis et al.19 também utilizaram um desenho de ensaio parecido ao estudo anterior, contudo o grupo intervenção recebeu em torno de 17 g de arginina por dia e foi encontrado uma redução nos níveis de IL-6 nos dois grupos (controle e arginina) (Tabela IV). Em contrapartida, De Luis, et al.17; Casas, et al.20; Felekis et al.21 por meio de diferentes metodologias de estudos, não encontraram redução nos valores de IL-6 nos grupos avaliados. Fator de Necrose Tumoral- alfa (TNF- alfa) Os valores de TNF- alfa não mostraram mudanças estatísticas significativas em nenhum grupo (Tabela 4)17,18,19,20,21. 60 R���������������������������������������������� Rev. Bras. Cir. Cabeça Pescoço, v.43, nº 1, p. 57-62, janeiro / fevereiro / março 2014 Evidências sobre a utilização de arginina na resposta de marcadores inflamatórios em pacientes com câncer de cabeça e pescoço: uma Revisão. Armentano et al. Tabela 4. Parâmetros imunológicos avaliados nos ensaios clínicos randomizados e controlados sobre o uso de arginina na resposta de marcadores inflamatórios em pacientes com câncer de cabeça e pescoço, Rio de Janeiro, 2013. TNF-alfa (pg/ml) Controle Intervenção Pré-op 8.8 Pré-op 4.6 Pós-op 5.8 De Luis, 200317 Pós-op 5.1 NS Pré-op 6.98 Pré-op 7.28 Pós-op 6.11 De Luis, 200518 Pós-op 5.6 NS Pré-op 10.3 Pré-op 103.3 Pré-op 105.1 Pré-op 32.8 Pré-op 38.35 Pré-op 8.1 PCR, TNFPós-op 8.9 Pós-op 61.9 Pós-op 53.2 Pós-op 6.8 Pós-op 15.6 Pós-op 8.0 De Luis, 200819 alfa, IL-6. NS P < 0.05 P < 0.05 P < 0.05 P < 0.05 NS Pré-op 1 Pré-op 1 Pré-op 1 14.7 17,14 35.33 Pós-op 1 Pós-op Pós-op 1 Pré-op 15.49 46.78 Pré-op 19.63 1 14.01 Pré-op 55.09 35.57 PCR, TNFPós-op 42.34 Pré-op 2 27.2 Pós-op 23.6 Pré-op Pós-op 87.11 Pré-op 2 Casas, 200820 alfa, IL-6. NS Pós-op 2 NS 2 21.39 NS 49.66 44.33 Pós-op Pós-op 2 NS 2 25.17 36.79 NS NS Pré-op Pré-op Pré-op Pré-op Pré-op Pré-op 2.5 1.6 3.1 3.5 1.6 1.5 PCR, TNFPós-op Pós-op Pós-op Pós-op Pós-op Pós-op Felekis, 201021 alfa, IL-6. 3.8 2.9 4.1 7.0 2.7 2.9 NS NS NS NS NS NS IL-6: Interleucina 6; PCR: Proteína C reativa; TNF-alfa: Fator de necrose tumoral alfa. Pré-op: Pré- operatório; Pós-op: Pós-operatório. P < 0.05: Estatisticamente significativo. NS: Não significativo estatisticamente. Estudo Parâmetros PCR (mg/dl) imunológicos Controle Intervenção Pré-op 105.9 Pré-op 152.9 PCR, TNFPós-op 43.6 Pós-op 68.9 alfa, IL-6. P < 0.05 P < 0.05 Pré-op 103.6 Pré-op 134.5 PCR, TNFPós-op 43.8 Pós-op 75.3 alfa, IL-6. P < 0.05 P < 0.05 IL-6 (pg/ml) Controle Intervenção Pré-op 22.8 Pré-op 16.3 Pós-op 9.9 Pós-op 35.6 NS NS Pré-op 22.8 Pré-op 20.35 Pós-op 9.9 Pós-op 6.7 P < 0.05 P < 0.05 Considerações Finais Baseado nos ensaios clínicos randomizados e controlados analisados, a utilização de arginina não mostrou benefícios em relação aos valores de marcadores inflamatórios (PCR, IL-6 e TNF- alfa) em pacientes em tratamento de câncer de cabeça e pescoço. Além disso, a forma utilizada de suplementação com arginina para esses pacientes foi por suporte nutricional via enteral, sendo o seu tempo médio de utilização entre 8 a 21 dias no pósoperatório. Todavia, novos estudos são necessários para determinar qual a forma ideal de suplementar arginina nesses pacientes (por via oral, enteral ou parenteral), o momento certo de iniciar a nutrição imunomoduladora (no período pré-operatório, pós-operatório ou perioperatório), além da dosagem e o tempo de utilização mais adequado a ser utilizado nessa população. 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