AVALIAÇÃO DO CONSUMO MÁXIMO DE OXIGÊNIO (VO2 MÁX) EM OBESOS
CALEFFI, Camille1
TAGLIETTI, Marcelo2
RESUMO
Introdução: A obesidade é hoje um dos principais problemas públicos de saúde, pois o peso elevado, juntamente com o sedentarismo, está
diretamente relacionado com condições patológicas que causam altas taxas de morbidade e de mortalidade. O VO2 máx é uma variável que deve ser
avaliada e monitorada na população obesa, pois é um importante parâmetro de morbidades associadas, sendo que a quantificação da mais alta
captação de oxigênio por um indivíduo é decorrente da interação dos sistemas respiratório, cardiovascular e muscular. Objetivo: O presente estudo
visa esclarecer conceitos relacionados à obesidade, suas decorrentes alterações fisiológicas e condicionamento físico. Além disso, mostrar quais são
os protocolos mais utilizados para avaliar o consumo máximo de oxigênio em diferentes populações. Metodologia: Realizada uma revisão
bibliográfica, onde a busca por artigos em português e inglês foi pelo acesso on line, sendo que 15 artigos foram selecionados para realizar a análise.
Revisão: Os protocolos encontrados na pesquisa foram variados e adaptações estiveram presentes na maior parte deles. Conclusão: Não foram
encontrados estudos que utilizaram métodos para avaliar o VO2 máx em obesos adultos, dificultando a análise comparativa. Isso demonstra que devem
ser realizados mais estudos que possam trazer mais evidências e contribuir para a elaboração de protocolos e diretrizes direcionadas a população
obesa.
PALAVRAS-CHAVES: Obesidade. Consumo Máximo de Oxigênio. Protocolos.
EVALUATION OF MAXIMUM OXYGEN CONSUMPTION (VO2 MÁX) IN OBESE
ABSTRACT
Introduction: Obesity is now a major public health problem, because the heavy weight, coupled with a sedentary lifestyle, is directly related to
pathological conditions that cause high morbidity and mortality. The VO2 MÁX is a variable that should be assessed and monitored in the obese
population, because it is an important parameter associated morbidities, and the quantification of the highest oxygen uptake by an individual is due to
the interaction of the respiratory, cardiovascular and muscular. Objective: The present study aims to clarify concepts related to obesity, their resulting
physiological changes and fitness. Also, show which are the most used protocols for assessing maximal oxygen consumption in different populations.
Methodology: A literature review was done, where the search for articles in Portuguese and English was by online access, and 15 articles were
selected to perform the analysis. Review: The protocols found in the search were varied and adaptations were present in most of them. Conclusion:
No studies that used methods to assess VO2 MÁX in obese adults were found, making the comparative analysis difficult. This demonstrates that more
studies that could bring more evidence and contribute to the development of protocols and guidelines related at the obese population should be
performed.
KEYWORDS: Obesity. Maximum Oxygen Consumption. Protocols.
INTRODUÇÃO
A obesidade tem sido definida como o acúmulo excessivo de energia corporal na forma de gordura ou tecido
adiposo. Ela pode ser entendida como o desequilíbrio entre o gasto energético e o consumo metabólico, sendo
considerada como uma doença de etiologia multifatorial e caráter crônico (GIBNEY; VORSTER, 2005). A obesidade é
hoje um dos principais problemas públicos de saúde (COUTINHO, 1998). O peso elevado, juntamente com o
sedentarismo, está diretamente relacionado com condições patológicas que causam altas taxas de morbidade e de
mortalidade.
A gordura armazenada na cavidade abdominal exerce efeito mecânico direto sobre a caixa torácica e no músculo
diafragma, restringindo a expansibilidade pulmonar e causando consequentemente, redução dos volumes pulmonares.
(FORTI; IKE, 2000). A função dos músculos respiratórios e a movimentação diafragmática estão alteradas na
obesidade. Devido à ineficácia dos músculos respiratórios, a força muscular e a endurance desses músculos podem estar
reduzidas, quando comparadas às de não obesos (KOENIG, 2001).
Presume-se que a diminuição da capacidade física em pessoas obesas esteja relacionada à limitação na função
ventilatória, o que não deve ser atribuído somente ao excesso de massa corporal, mas também a inatividade física
(KAUFMAN et al., 2007). Indivíduos obesos necessitam de uma maior quantidade de O2 para realizar
uma carga de trabalho quando compara d oa individuos não obesos (WASSERMAN, HANSEN, et al. 1994), isso
porque o aumento de massa corporal requer uma maior troca de energia metabólica (WHIPP e DAVIS, 1984).
O consumo máximo de oxigênio (VO2máx) fornece uma medida da energia máxima utilizada durante exercícios
aeróbicos e da capacidade funcional do sistema cardiorrespiratório (ASTRAND; RODAHL, 2003). Por isso, a
estimativa VO2máx é considerada o fator mais confiável para determinar capacidade aeróbica de um indivíduo. O VO2 máx
depende da interação dos sistemas pulmonar, cardiovascular e muscular. Como nos pacientes obesos esses sistemas
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Acadêmica do Curso de Fisioterapia da Faculdade Assis Gurgacz [email protected]
Professor Orientador do Curso de Fisioterapia da Faculdade Assis Gurgacz [email protected]
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estão comprometidos devido às alterações anatômicas, as patologias associadas e ao sedentarismo, conseqüentemente
essa população têm níveis de consumo máximo de oxigênio abaixo quando comparada com a população com peso
dentro do normal.
Os valores de VO2 máx podem ser obtidos de duas formas: direta, quando os gases da respiração são coletados por
um espirômetro enquanto o indivíduo realiza uma atividade física ou indireta, onde são aplicados protocolos de esforço
submáximo com ergonômetros e posteriormente utilizado uma fórmula matemática para determinar o valor do consumo
máximo de oxigênio. A seleção de um protocolo apropriado para avaliação da capacidade funcional é de fundamental
importância (MCARDLE; KATCH; KATCH, 1992). A massa corporal total afeta o custo de energia na locomoção de
obesos (AYUB; BAR-OR, 2003), assim os resultados da aptidão física em indivíduos com excesso de peso podem
sofrer influência do ergômetro escolhido na avaliação.
O presente estudo tem como objetivo descrever os protocolos e ergonômetros utilizados para avaliar o VO2máx
em indivíduos heterogêneos, especificamente para a população obesa.
MATERIAS E MÉTODOS
Realizada revisão de literatura com estratégia de busca primária sobre os aspectos da obesidade, suas respectivas
alterações no sistema cardiorrespiratório e meios de avaliação do consumo máximo de O2 em diferentes populações.
Esse método possibilita obter um maior conhecimento através de pesquisas já concluídas, melhorando os argumentos e
chegando a maiores conclusões. A busca pesquisou publicações em português e inglês, cujos descritores utilizados
foram: Obesidade, Consumo de Oxigênio, Alterações do Peso Corporal, Esforço Físico, Teste de Esforço e suas
variações na língua inglesa: Obesity, OxygenConsumption, Body Weight Changes, Physical Exertion, Exercise
Test presentes nos seguintes banco de dados: Pubmed, Scielo e LILACS, com limite de data dos últimos 20 anos. A
busca foi realizada pelo acesso on-line, no período de Abril/ 2012 a Maio/2013. Para desenvolver a análise foram
selecionados 15 artigos que atingiram a temática proposta pelo estudo.
Os dados obtidos são apresentados de forma descritiva, possibilitando a avaliação da aplicabilidade da revisão de
literatura, bem como, atingir o objetivo desse estudo, ou seja, revelar as alterações presentes principalmente do sistema
cardiorrespiratório em indivíduos obesos, apresentar os métodos para avaliação do consumo máximo de O2 e
ergonômetros utilizados em diferentes populações, procurando selecionar a melhor forma de avaliar os indivíduos
obesos.
REVISÃO
A obesidade é considerada um acúmulo excessivo de gordura, decorrente do alto consumo metabólico em
desequilíbrio com o gasto energético. Segundo Silva e Mura (2007), a obesidade é hoje um dos maiores problemas da
saúde pública e uma das doenças crônicas não transmissíveis que, epidemiologicamente, mais cresce no mundo. Sua
prevalência vem crescendo acentuadamente nas últimas décadas, inclusive nos países em desenvolvimento, o que levou
a doença à condição de epidemia global. Diante do crescente número de obesos no mundo e segundo dados da
Organização Pan-Americana da saúde, há no mundo mais de um bilhão de adultos com excesso de peso, destes, pelo
menos 300 milhões são obesos (SOARES, 2003). Na população Brasileira com 20 anos ou mais de idade há 38,8
milhões de pessoas (40,6%) com excesso de peso, das quais 10,5 milhões de pessoas são considerados obesos (NUNES,
2004).
É considerada uma doença de caráter multifatorial, pois sua causa abrange diversos aspectos como fatores, que
segundo Pollock e Wilmore(1993), são: genéticos, nutricionais, endócrinos, hipotalâmicos, farmacológicos, a
administração de insulina, glococorticóides e castração e o sedentarismo. Estes fatores levam ao processo de aumento
das células adiposas e também aumento do número dessas células. Assim o tamanho final dos depósitos adiposos
dependeria da interação entre a carga genética, fatores ambientais e hormonais que influenciariam o número e o
tamanho de tais reservas. O sedentarismo e o excesso de peso são problemas interdependentes e que podem ser
combatidos através de um estilo de vida ativo fisicamente. Assim, o acúmulo de tecido adiposo é caracterizado, além de
distúrbios nutricionais, pelo aumento crescente do sedentarismo, comum na população que não pratica atividade física
comprometendo o gasto energético adequado (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2006).
Comparada com a desnutrição existente em países pobres, a obesidade ainda é considerada mais grave, pois seus
efeitos patológicos no organismo levam desde a morte prematura até limitações que prejudicam diretamente a qualidade
de vida dessas pessoas (AULER; GIANNINI; SARAGIOTTO, 2003). Sendo assim, esse distúrbio nutricional é uma das
principais causas de morbidade do país. Além disso, é uma doença que acaba desencadeando patologias associadas,
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prejudicando ainda mais a vida do paciente obeso. Dentre essas doenças associadas podem ser evidentes problemas
articulares como osteoartrite, hipertensão arterial, problemas músculo-esqueléticos, infertilidade e problemas ainda mais
agravantes como doenças coronarianas, aterosclerose, diabetes do tipo 2 e problemas respiratórios como hipoventilação
e apnéia. Distúrbios psicológicos como depressão, ansiedade e baixa auto-estima também são evidentes nessa
população (SLOCHOWER; KAPLAN, 1980).
A obesidade pode ser classificada em exógena, aquela causada pela ingestão calórica excessiva, sendo
responsável por mais de 95% dos casos, ou endógena que tem como causa os distúrbios hormonais e metabólicos.
(CYRINO; NARDO, 1996 e SANDE; MAHÁS, 1991).
O aumento do IMC resulta em acréscimo de massa na parede torácica, bem como na cavidade abdominal,
afetando a expansão do tórax e levando a uma deterioração restritiva da função pulmonar (LADOSKY; BOTELHO;
ALBUQUERQUE, 2001).
Diversos índices podem ser empregados para o diagnóstico da obesidade, porém a padronização mais utilizada
para classificar o excesso de peso é o Índice de Massa Corporal (IMC), o qual avalia o perfil antropométrico-nutricional
de adultos através do cálculo do peso em quilo dividido pela altura ao quadrado. A partir do resultado pode-se
classificar em sobrepeso de 25,0 – 29,9 (Kg/m2), obesidade grau I - moderada 30 a 34,9 (Kg/m2), obesidade grau II grave 35,0 a 39,9 (Kg/m2), obesidade grau III - mórbida > 40,0 (Kg/m2) (ROSENDO, 2005).
A obesidade traz a saúde publica altos gastos sociais e econômicos. O Ministério da Saúde estima que no Brasil
de 2% a 7% dos gastos em tratamentos de saúde são motivados, originariamente, pela obesidade (RIGATTO; ALVES,
2004).
A principal causa de óbitos no Brasil, segundo o Ministério da Saúde, deve-se às doenças cardiovasculares e
respiratórias, que poderiam ser reduzidas em cerca de 30% com a prevenção da obesidade. Esses fatores têm sido
motivos de grande preocupação para o governo. Devido a isso e os demais aspectos já citados, a obesidade deve ser
objeto de estudo da área da saúde, tanto em questões preventivas, melhoria da qualidade de vida e diminuição da
morbidade.
A obesidade gera profundas alterações no sistema respiratório, pois a mecânica respiratória é comprometida
devido ao excesso de tecido adiposo armazenado na cavidade abdominal que acaba comprimindo a caixa torácica e o
músculo diafragma. Portanto o excesso de gordura armazenado na caixa torácica exerce efeito mecânico que restringe a
expansibilidade torácica, com conseqüente redução dos volumes pulmonares (GIBSON, 2000). Devido à ineficácia dos
músculos respiratórios, a força muscular e a endurance desses músculos podem estar reduzidas, quando comparadas às
de não obesos (KOENIG, 2001). Há a diminuição da complacência e conseqüentemente há também a diminuição dos
volumes pulmonares. Todos esses fatores levam a uma sobrecarga inspiratória, aumentando o trabalho respiratório, o
consumo de oxigênio e o custo energético da respiração (ZERAH; HARF; PERLEMUNTER, 1993).
Segundo Leone e Courbon, et al. (2009),a obesidade afeta vários parâmetros fisiológicos respiratórios de
repouso, tais como a complacência, a força neuromuscular, o trabalho respiratório, os volumes pulmonares, medidas de
espirometria, resistência respiratória, capacidade de difusão e troca de gases. Sendo que nessa população a
complacência, a força muscular e os volumes pulmonares são diminuidos, em contra partida a resistência e o trabalho
respiratório são aumentados. (SOOD, 2009).
Segundo Koening (2001), estas alterações fisiológicas são mais acentuadas na posição de decúbito dorsal em
indivíduos obesos em comparação com indivíduos com peso normal por causa do aumento dos efeitos gravitacionais e
ao volume do abdômen.
Para superar a redução da complacência total do sistema respiratório e ineficiência muscular respiratória,
indivíduos obesos acabam respirando de forma mais rápida e superficial. (KEOCHKERIAN; FEKI et al, 2007;
ROCHESTER, 1998). E segundo Perrin (2004), este padrão de respiração é semelhante aos de pacientes com doenças
neuromusculares e lesões músculo-esqueléticas.
O VO2 máx é a melhor variável utilizada para determinar e classificar o condicionamento cardiorrespiratório de
uma pessoa (AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE, 2006). Ele representa a quantidade máxima de
oxigênio que pode ser captado, transportado e consumido pelo metabolismo celular, enquanto uma pessoa desempenha
exercício dinâmico envolvendo uma grande porcentagem da massa muscular corporal. Além disso, é influenciado pelas
variáveis de idade, sexo, hábitos de exercício, conteúdo de gordura no corpo, hereditariedade e estado clínico
cardiovascular. É, igualmente, conhecido como potência aeróbica máxima, por sua medida ser descrita, tanto na forma
relativa como na forma absoluta, em volume de oxigênio (mililitros ou litros) por minuto (KRUEL et al, 2003). A
forma relativa leva em consideração o peso corporal (ml.Kg-1.min-1), sendo esta a mais utilizada pelo fato da
necessidade de energia variar conforme o peso corporal (DENADAI, 1995).
O
excesso
de
gordura
corporal
aumenta
o
gasto
de
oxigênio
e,
portanto,
aumenta
a
carga
cardiorrespiratória
em
uma
determinada
carga
de
trabalho
submáxima,
particularmente no exercício onde o peso do indivíduo influencia. No entanto, o excesso
gordura corporal não parece afeta ra capacidade do sistema cardiorrespiratório para fornecer oxigênio ao músculo ativo
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durante o exercício máximo, pelo menos em indivíduos com até 34% de gordura corporal. (BUSKIRK; TAYLOR,
1987).
O VO2 máx é uma variável que deve ser avaliada e monitorada na população obesa, pois é um importante
parâmetro de morbidades associadas, sendo que a quantificação da mais alta captação de oxigênio (O2) por um
indivíduo é decorrente da interação dos sistemas respiratório, cardiovascular e muscular, pois o consumo máximo de
oxigênio é dependente da captação pulmonar, do transporte pela circulação e da utilização mitocondrial (ARAÚJO,
2002). Devido esta interação, existem fatores intrínsecos a estes sistemas que acabam limitando o consumo máximo de
oxigênio. Dentre estas limitações, Dempsey et al (1999), cita que a diminuição da ventilação pulmonar e o déficit de
difusão causam uma dessaturação e consequentemente diminuem o VO2 máx. Sendo que a ventilação é comprometida
pelas alterações já citadas que prejudicam a expansibilidade e o déficit de difusão é decorrente de um baixo débito
cardíaco, pois a oxigenação depende do bombeamento cardíaco. Essas limitações são evidentes quando os valores de
VO2 máx relativos à massa corporal são observados, sendo que estes são menores em indivíduos obesos quando
comparados aos não obesos (ZANCONATO et al, 1989; GORAN et al, 2000; EKELUND et al, 2004; LOFTIN, et
al,2004).
Tabela
1-
Classificação
do
VO2
máx
de
homens
e
mulheres
em
diferentes
faixas
etárias.
Os valores do consumo máximo de oxigênio podem ser determinados tanto de forma direta, através da análise de
gases inspirados e expirados por meio de um espirômetro, durante um teste de esforço máximo, como de forma indireta,
através da avaliação de determinadas variáveis fisiológicas e físicas coletadas durante um teste de esforço máximo ou
submáximo, cujos valores são inseridos dentro de modelos matemáticos (MCARDLE; KATCH e KATCH, 2002). Os
valores de normalidade são expressos conforme os dados da tabela 1.
O teste ergométrico é um procedimento não invasivo, que pode conferir informações diagnósticas e
prognósticas, além de avaliar a capacidade cardiológica em exercícios dinâmicos (DIRETRIZ DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA SOBRE TESTE ERGOMÉTRICO, 2002). Os testes máximos diretos, envolvendo
a medida dos gases metabólicos expirados são os mais exatos. No entanto, esse tipo de teste, realizado em laboratório,
envolve alguns fatores que inibem sua execução em larga escala e para grandes populações. Dentre estes fatores está o
alto custo do equipamento (GRANT; JOSEPH; CAMPAGNA, 1999). Consequentemente, inúmeros testes indiretos têm
sido desenvolvidos para possibilitar a avaliação do VO2 máx de maneira mais prática e acessível a toda população
(GRANT et al, 1999).
Em 1954, Astrand e Ryming estabeleceram as bases fisiológicas para o método, correlacionando o consumo de
O2 com a freqüência cardíaca a níveis submáximos de exercício. O ano de 1956 pode ser considerado um marco na
evolução da ergometria pela introdução da esteira rolante e o respectivo protocolo para utilização deste novo
equipamento por Robert Bruce. Inicialmente este protocolo era utilizado em pacientes cardiopatas principalmente no
diagnóstico de doença arterial coronariana obstrutiva (ANTÔNIO; LIMA et al, 2001). Porém também havia a
necessidade de avaliar pacientes que não faziam parte do grupo de cardiopatas, e assim surgiram outros tipos de
protocolos com a finalidade de serem aplicados em indivíduos não cardiopatas.
Os diferentes ergômetros foram criados como instrumento para avaliar a base funcional das variáveis
bioenergéticas, que do latim ergos significa trabalho e meter medida (ROSE; RIBEIRO, 1983; NEDER; NERY, 2003).
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Existem diversos ergômetros (bicicleta ergométrica, esteira rolante, banco e ergometria de membros superiores), porém,
a esteira rolante e bicicleta ergométrica são os mais utilizados em testes cardiorrespiratórios.
Usualmente, a esteira rolante e a bicicleta ergométrica são os ergômetros mais utilizados tanto nas crianças como
para adultos, principalmente por reproduzir atividades habituais (NEDER; NERY, 2003). A principal diferença e
desvantagem da esteira rolante estão na necessidade do indivíduo em suportar a massa corporal durante a execução do
teste. A taxa de trabalho ou potência depende teoricamente da massa corporal total sob ação da gravidade, da
velocidade (trabalho horizontal) e inclinação (trabalho vertical) (NEDER; NERY, 2002). Na população em geral, são
encontrados valores de VO2, em média, 10% mais altos na esteira quando comparados com os da bicicleta ergométrica
(HARMANSEN; SALTIN, 1969). Na pratica dos laboratórios clínicos brasileiros nota-se preferência pelos testes
máximos na esteira em detrimento da bicicleta ergométrica; uma das razões alegadas são os maiores valores de VO2máx
encontrados na esteira. Considerando as diferenças hemodinâmicas encontradas nos testes, sugere-se que estas sejam
devidas ao efeito do peso corporal na sua realização e aos grupamentos musculares envolvidos (NEDER; NERY, 2003).
Segundo Milano e Leite (2004), a bicicleta foi um ergômetro que facilitou a execução do teste em indivíduos obesos,
sugerindo assim que, talvez, o obeso apresentasse maiores condições de executar os exercícios físicos e,
consequentemente, proporcionasse maior adesão ao treinamento, quando o ergômetro não necessita suportar o peso
corporal durante a atividade. O teste realizado na esteira rolante apresenta uma menor fadiga muscular localizada, um
movimento mais natural, não necessita de adaptação para o tamanho corporal, apresenta um estresse cardíaco e
ventilatório maior (NEDER; NERY, 2002).
Na literatura existem vários protocolos com diferentes ergômetros que podem ser utilizados no teste de consumo
de oxigênio, porém este deve ter compatibilidade com o perfil do paciente, levando em consideração tanto as condições
quando as limitações do mesmo.
O tempo de teste é outro parâmetro importante na avaliação cardiorrespiratória. Em média o tempo ideal é de 10
± 2 minutos (BUCHFUHRER et al, 1983), teste com tempo menor de 8 minutos apresentam uma sub-estimativa na
medida de VO2 máx, possivelmente devido a limitações de força muscular. Testes muito longos, ou seja, maiores do que
12 minutos, espera-se uma redução do VO2máx provavelmente devido ao aumento da temperatura central, desidratação,
desconforto o fadiga dos músculos ventilatórios. Em atletas ou indivíduos sadios e treinados o protocolo mais utilizado
é o protocolo de Bruce (ARAÚJO, 2000). Porém quando a população apresenta limitações etárias ou patologias, os
protocolos menos intensos devem ser priorizados (PARIDON et al, 2006). Segundo Marcondes (1993), o protocolo de
Balke que utiliza incremento de 1 MET a cada estágio com aumentos leves de elevação da inclinação e velocidade
constante, são preferencialmente utilizados para a estimativa indireta do VO2 em pacientes sem comprometimento
cardíaco.
Assim o protocolo de Balke modificado é o método mais indicado para a população que apresenta obesidade,
doenças crônico-degenerativas ou crianças, por se tratar de uma velocidade constante e menos intensa (3,4 milhas por
hora ou 5,47 Km/h). Nesse protocolo o aumento de carga é realizado pela modificação da inclinação em 2% a cada 3
minutos. O teste termina quando o paciente atinge 9 estágios ou antes, quando o paciente não conseguir realizar o
exercício até o final. Sendo, portanto, compatível com a avaliação de grupos com menor condição cardiorrespiratória ou
que apresentem limitações na amplitude da passada, como é o caso dos pacientes acima do peso (ROWLAND;
VARZEAS; WALSH, 1990). Após a aplicação do teste os valores são repassados para a fórmula matemática: VO2 máx =
(1.75 x inclinação máxima suportada) + 10.6 em ml/kg/min-1, e assim obtido o valor do consumo máximo de oxigênio.
(ARAÚJO, 1986).
Balderrama et al (2007), utilizaram métodos de avaliação de VO2 máx em pessoas de diferentes sexos e idades,
apresentando: 1) um método direto de mensurar o consumo máximo de oxigênio, 2) estimativa através da frequência
cardíaca e 3) um teste de esforço com steps usando gráficos predeterminados. Nesse estudo foi possível verificar que os
resultados dos diferentes métodos variaram, sendo que os métodos indiretos são menos precisos quando comparados
com o método direto, porém estes não são indicados para a população com maior faixa etária, sem treinamento e que
apresentam riscos, sendo, portanto o método indireto mais efetivo quando a população a ser avaliada apresentar
diferentes faixas etárias, que é o caso no estudo. A média da idade dos participantes foi de 43,55 e a média do VO2 máx
encontrado nessa população foi de 31, 3 ml/kg/min-1.
Nemeth et al (2008), em seu estudo sobre teste submáximo em esteira para predizer o VO2 máx em crianças
obesas, utilizaram o Protocolo de Ebbeling (The Ebbeling Treadmill Test), onde entre 2 a 4 minutos a pessoa caminha
na esteira com o intuito de chegar a uma velocidade que ela ache confortável, esta deve ser entre 2 e 4.5 mph e que a
freqüência cardíaca média não ultrapasse 50-70% da freqüência cardíaca máxima obtida pela formula 220-idade.
Caminha-se ao ritmo determinado com uma inclinaçãode 5 por cento por quatro minutos, registrando a freqüência
cardíaca média durante os últimos 30 segundos do teste. Segundo o estudo esse protocolo foi preciso na avaliação do
consumo máximo de oxigênio no grupo de crianças obesas e a média do valor de VO2 máx obtido no estudo foi 24, 51
ml/kg/min-1.
Vianna e Cader et al (2010), estudaram um grupo de pessoas que participaram de um programa de atividade
física por 4 meses e outro grupo que não praticou nenhum tipo de atividade física, foram avaliados antes e após 4 meses
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a pressão arterial, o IMC e o VO2 máx. Para avaliar o consumo máximo de oxigênio foi realizado um teste de caminhada
por 1600 metros, onde o tempo para a realização do percurso foi cronometrado, após a coleta de dados o valor de VO2
máx foi obtido através de um fórmula matemática levando em consideração o peso, tempo de percurso dos 1600 metros,
sexo, idade e freqüência cardíaca final, sendo que o valor da média do VO2 máx do grupo controle foi 21, 7 ml/kg/min-1.
e do grupo que participou do programa foi 29, 1 ml/kg/min-1.
Berndtsson e Mattsson et al (2006), estudaram o consumo máximo de O2 em crianças obesas utilizando um
protocolo com cicloergonômetro onde a carga de trabalho foi variada de acordo com idade e sexo da criança. O VO2 máx
foi estimado a partir da frequência cardíaca e da carga de trabalho usando o nomograma fornecido por Astrand
Ryhming. A pesquisa mostra que as crianças obesas apresentaram valores de VO2 máx relativamente menores quando
comparadas ao grupo controle. Segundo os autores métodos diretos de avaliação do VO2 máx exigem maior aparato e não
são bem aceito por crianças. Por esse motivo, esse protocolo foi escolhido, já que é de fácil aplicação e não necessita de
laboratórios específicos.
CONCLUSÃO
Pode-se considerar que ainda não foram criados protocolos específicos para avaliar o VO2máx na população
obesa, sendo que a maioria dos estudos utilizados para a realização do presente artigo não foram obesos adultos, isso
demonstra que mais pesquisas devem ser feitas para o surgimento de maiores evidências da eficácia de diferentes
protocolos da análise do VO2máx.
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Anais do 11º Encontro Científico Cultural Interinstitucional – 2013
ISSN 1980-7406
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