NOÇÕES ACERCA DA HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO LIMA, Rosilene de – UEM [email protected] MACHADO, Maria Cristina Gomes – UEM [email protected] Eixo Temático: História da Educação Agência Financiadora: Não contou com financiamento Resumo O presente trabalho visa abordar algumas temáticas acerca do ensino e da pesquisa que vem sendo desenvolvidos em História da Educação, tais como: a constituição da História da Educação no Brasil e a História da Educação e Fontes. Considera-se de suma importância o estudo acerca da constituição da História da Educação no Brasil, tendo em vista que esta se consubstancia em uma disciplina acadêmica presente nos atuais currículos dos cursos de Pedagogia. Portanto, merece um aprofundamento no sentido de se compreender suas contribuições no âmbito educacional, sobretudo no que se refere ao ensino e a pesquisa nesse campo disciplinar. Toma-se como referência o debate realizado na área e se busca tecer comentários que possam levantar o anseio de uma maior investigação em torno da estruturação da disciplina, por meio da explanação dos movimentos que vem sendo realizados ao longo do tempo para a consolidação da História da Educação. Num segundo momento, aborda-se a questão da documentação em estudos de História da Educação. Procura-se ressaltar a questão da “revolução documental” e suas implicações não apenas no que concerne a seleção das fontes a serem utilizadas nas pesquisas, mas na forma de tratamento das mesmas, observando-se a desmistificação dos documentos. Para tanto, observa-se a autonomia do historiador na escolha de suas próprias fontes. Para tanto, é necessário que se crie um método de pesquisa, de exploração de cada documento em si e do conjunto dos documentos. Consideram-se ambos aspectos fundamentais para a compreensão dos contornos que a disciplina de História da Educação possa apresentar Palavras-chave: História. História da Educação. Documentação. Fontes. Introdução A preocupação com os encaminhamentos dados ao estudo em História da Educação tem sido evidente na atualidade. Segundo Nunes e Carvalho (1993), muitos pesquisadores 4033 conceituados, apreensivos com a questão da Historiografia1 da Educação têm investigado, com objetivos diversos, a produção existente neste campo. Saviani (1983), Cunha (1984), Nagle (1984), Warde (1984) e Lopes (1986) são exemplos citados pelas autoras. Pode-se citar como uma das preocupações presentes entre os estudiosos o fato de ter se tornado comum a pesquisa acerca da educação brasileira se guiar por um viés político, abordando a educação no período colonial, no Império e na República, conforme explicita Saviani (2004). Todavia, muitas são as críticas concernentes ao estudo da educação brasileira ligado a fatores externos como a economia, por exemplo, cuja preocupação era o desenvolvimento do país. De acordo com Neves (2005), desde 1990, o ensino e a pesquisa na disciplina de História da Educação vêm alcançando novo status entre os pesquisadores da área educacional. Temas tradicionais, tais como: a formação da sociedade colonial e a educação jesuítica (15491759); o Iluminismo português e as Reformas Pombalinas (1759-1822); a instituição do Estado Nacional e a instrução pública durante o primeiro reinado (1822-1831); o Segundo Reinado e a elaboração dos sistemas de ensino (1840-1889); entre outros, estão sendo retomados sob diferentes óticas de investigação. Temas diferenciados estão mais visíveis aos olhos dos pesquisadores em História da Educação, como os citados pela supracitada autora (NEVES, 2005, p. 13): • • • • • • • história das instituições escolares; história da educação da mulher brasileira; importância dos métodos pedagógicos para a consolidação do Estado e da Nação Brasileira; escola e cultura escolar; arquitetura e prática do cotidiano escolar; história da educação infantil brasileira; história da disciplina de História da Educação. Evidencia-se, tendo em vista os temas acima expostos, que o leque de questões, os quais abarcam de forma global o ensino e a pesquisa em História da Educação, tem tomado 1 De acordo com Le Goff (2003, p. 12) a Historiografia é um ramo da História, enquanto Ciência, que estuda seu próprio movimento histórico. “[...] a própria ciência histórica é colocada numa perspectiva histórica com o desenvolvimento da historiografia, ou história da história.” Assim, entende-se a Historiografia da Educação como a História da História da Educação. 4034 proporções expressivas. Nesse sentido, verifica-se, primeiramente, a pertinência em abordar algumas temáticas acerca do ensino e da pesquisa que vem sendo desenvolvidos em História da Educação, tais como: a constituição da História da Educação no Brasil – buscando tecer comentários que possam levantar o anseio de uma maior investigação em torno da estruturação disciplina; e, num segundo momento, analisa-se a importância da documentação em educação – procurando evidenciar alguns aspectos considerados relevantes na seleção e tratamento das fontes. Consideram-se, ambos de suma importância para a compreensão dos contornos que a disciplina de História da Educação possa apresentar. Considerações sobre a Constituição da História da Educação no Brasil Considera-se de suma importância o estudo acerca da constituição da História da Educação no Brasil, tendo em vista que esta se consubstancia em uma disciplina acadêmica presente nos currículos atuais dos cursos de Pedagogia. Portanto, merece um aprofundamento no sentido de se compreender suas contribuições no âmbito educacional, em especial no que se refere ao ensino e a pesquisa nesse campo disciplinar. É relevante, na elaboração desse estudo, que se tenha clarificada a noção de disciplina, uma vez que “Desde que se compreenda em toda a sua amplitude a noção de disciplina [...], a história das disciplinas escolares pode desempenhar um papel importante não somente na história da educação, mas na história cultural” (CHERVEL, 1999, p.184). Disciplina, em linhas gerais, pode ser definida como as relações de subordinação do aluno ao mestre ou ao instrutor (FERREIRA, 1999). Chervel a denomina como “um modo de disciplinar o espírito [...] dar métodos e regras para abordar os diferentes domínios do pensamento, do conhecimento e da arte”, e incumbe “[...] ao historiador a tarefa de definir a noção de disciplina ao mesmo tempo em que faz a sua história” (CHERVEL, 1990, p.180). Como nos remete Neves (2005, p. 15), pautada em estudos de Le Goff, “[...] não se entende mais a História como ciência do passado”, mas como a “ciência da mutação e da explicação dessa mudança” (NEVES, 2005, p. 15). Já “educação”, segundo a autora, é um termo desafiador pela diversidade de seus significados. Assim, é perceptível a difícil tarefa de se definir História da Educação. Enquanto especificidade da História, segundo Nunes e Carvalho (1993), a História da Educação é visualizada em meio ao movimento de reação do positivismo em oposição à 4035 metafísica, na tentativa de obter um estatuto científico para as ciências sociais. Para as autoras, essa localização da História da Educação tem sido relativamente aceita, justificando o conteúdo conservador existente na formação dos professores. Isso revela que a História da Educação configurou a profissão docente, pois “[...] se apresenta como um saber especializado, presente e legitimador do processo que separou a função docente do conjunto das demais funções desempenhadas pelas famílias e comunidades” (NUNES & CARVALHO, 1993, p. 12). De acordo com Neves (2005), a História da Educação foi criada como especificidade da História. Já levantou e tem levantado inúmeros debates acerca do seu processo de criação e consolidação. Conclui que “Atualmente, é consenso o entendimento de que a História da Educação se construiu como parte da Filosofia da Educação” (NEVES, 2005, p. 16) e nos apresenta um estudo acerca dos fatores, apontados por muitos pesquisadores, responsáveis por essa aproximação. O primeiro fator apresentado por Neves (2005) gira em torno da questão de que apesar de ser criada como especificidade da História, a História da Educação teve um maior desenvolvimento no terreno da Educação. Como ciência que estuda a educação tem-se a Pedagogia, que por sua vez se utiliza do terreno da Filosofia para construir a história dos pensadores da Educação, ou seja, a história das idéias. Como confirmam Vidal e Faria Filho (2003), a História da Educação, como campo disciplinar, esteve durante muito tempo lado a lado com a Filosofia. Como disciplina nos cursos de formação de professores, a História da Educação obteve um aspecto mais formativo. Esse é o segundo fator, apresentado por Neves (2005), que contribuiu para a aproximação da História da Educação com a Filosofia. Os conteúdos ministrados nos cursos de formação tinham como objetivo a preservação dos ideais humanos e permanência dos valores morais (NUNES, 1996). Para Nunes, a historiografia da educação produzida no Brasil para os cursos de formação de professores “[...] é a expressão do registro de permanência dos valores de uma civilização cristã” (NUNES, 1996, p. 70). Assim, a História da Educação se estabeleceu como uma ciência secundária, assistente da Pedagogia, enquanto outras ciências, tais como a Psicologia, a Sociologia e a Biologia eram utilizadas para explicar o fenômeno educativo (NEVES, 2005). O terceiro aspecto destacado por Neves (2005) é a questão da diversidade de formação e do perfil dos intelectuais envolvidos com a disciplina. A autora faz menção a diversos 4036 autores que contribuíram com o desenvolvimento da História da Educação brasileira tornando-se leituras obrigatórias nesse campo de conhecimento, tais como: Peixoto, Moacyr, Azevedo, Santos, Anísio Teixeira, Gilberto Freire, Mário de Andrade, Carlos Drummond de Andrade, entre outros grandes intelectuais. Entretanto, são formados nas mais diversas áreas do conhecimento: Medicina, Direito, Religião, entre outros, ou seja, o campo da História da Educação no Brasil não tem se constituído pelas mãos dos historiadores da educação. Frente a tal constatação, essa questão foi objeto de preocupação entre os historiadores da educação da contemporaneidade. Assim, em meados da década de 1980 começa a ganhar visibilidade um movimento de debates e revisão historiográfica que questiona os padrões dominantes da pesquisa produzida em História da Educação, tendo em vista a insatisfação com os mesmos (CARVALHO; SAVIANI; VIDAL, 2006). É em meio a esse movimento de revisão crítica que, de acordo com Carvalho, Saviani e Vidal (2006), se dá a organização de alguns pesquisadores e professores universitários, no âmbito da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação (ANPEd), em um Grupo de Trabalho (GT) “[...] destinado a promover a aproximação dos historiadores da educação de todo o país, constituindo-se como espécie de fórum permanente de discussão de questões historiográficas.” (CARVALHO; SAVIANI; VIDAL, 2006, p. 1), cujo principal objetivo foi “[...] assegurar dinâmicas de discussão de temas, questões, categorias de análise e procedimentos metodológicos, com a finalidade de rever, articular e incentivar a produção historiográfica sobre educação”. (CARVALHO; SAVIANI; VIDAL, 2006, p. 1). O GT acima mencionado, não somente aproximou os historiadores da área educacional ao expandir o movimento de revisão crítica da historiografia dominante, como desempenhou um papel de difusor da nova produção historiográfica. Esta estava se desenvolvendo nas grandes Universidades, propagando-a aos demais centros de ensino e pesquisa e reconfigurando-a, delineando assim, um novo perfil, de novos temas, questões, procedimentos de pesquisa e perspectiva de abordagem (CARVALHO; SAVIANI; VIDAL, 2006), além de reforçar o movimento de consolidação da História da Educação como campo disciplinar. A nova configuração da Historiografia da Educação teve impulso significativo pelo Grupo de Trabalho História Educação, o qual se empenhou em três principais orientações no desenvolvimento de suas pesquisas: a problematização entre historiografia educacional e fontes; as relações entre gênero e educação; a historicidade do lugar de produção da prática 4037 historiográfica – essa fortemente marcada pela vertente francesa da Nova História Cultural, abrindo investigações acerca de temas ainda não estudados e ampliando os interesses dos historiadores da educação (CARVALHO; SAVIANI; VIDAL, 2006). Entre os mais diversos temas investigados pelos pesquisadores do GT História Educação – um dos principais responsáveis pela constituição da História da Educação no Brasil – dar-se-á destaque nesse trabalho à questão que permeia a documentação em educação, considerada de suma importância no que concerne a seleção e o tratamento que o historiador lhe dará. História da Educação e Fontes Ao se pensar em História logo nos voltamos ao passado. Como constata Lopes e Galvão (2001, p. 77) “Em sua inteireza e completude, o passado nunca será plenamente conhecido e compreendido; no limite, podemos entendê-lo em seus fragmentos, em suas incertezas”. Desse modo, por mais que o pesquisador se esforce em aproximar-se ao máximo de uma verdade acerca do passado, sempre ficam “escondidos” alguns pedaços da história (LOPES; GALVÃO, 2001). Entretanto, de que forma é possível reconstruir a História? De acordo com Lopes e Galvão (2001), os historiadores da educação, com o alargamento dos temas abordados em História da Educação e, consequentemente, a ampliação do uso das fontes, buscam reconstruir a história, incorporando a idéia de que por meio dos traços ou vestígios não apagados podem descobrir algo sobre as antigas sociedades. Mas que traços são esses? Para as autoras, o que pode trazer a tona esses vestígios são as fontes, consideradas matéria-prima fundamental do historiador. Diante do exposto, cabe questionarmos qual o papel das fontes em relação ao historiador? Porque fazer das fontes uma discussão central no debate com a historiografia? A esse respeito, Nunes e Carvalho (1993) nos esclarecem com veemência: Por um motivo simples: os historiadores da educação dependem, nas suas investigações, não apenas das questões formuladas dentro de certas matrizes teóricas, mas também dos materiais históricos com que podem contar. Não fazemos bons trabalhos na área sem respeitar a empiria contra a qual lutamos; e todos já nos deparamos com a dificuldade de recolher fontes impressas e arquivísticas, geralmente lacunares, parcelares e residuais. Apesar dessas dificuldades, é justamente no manuseio crítico das fontes que o pedagogo ganha distância necessária para olhar de 4038 uma nova maneira a pedagogia, tornando-se, pela sua prática e pelo seu projeto, um historiador (NUNES; CARVALHO, 1993, p. 22-23) Sobre esse aspecto, é perceptível em Nunes (1993), uma forte preocupação no que se refere ao estudo das Fontes. Avalia-se de fundamental relevância que os historiadores da educação se empenhem em um estudo mais aprofundado acerca da relação entre historiografia e fontes. A autora considera de suma importância que ocorra uma ampliação da concepção de fonte em História da Educação, fator que remete a questão da constituição do próprio campo dessa especificidade da História. Em linhas gerais, o que pode ser considerado fonte na História da Educação? Segundo Lopes e Galvão (2001), quando observamos as origens das palavras, o conceito que se apresenta para fonte, como no Inglês – levantar-se, surgir, elevar-se, aparecer, sair, ou no francês – nascente, água que surge, origem, percebemos que o mesmo se relaciona a uma idéia de caráter espontâneo, o qual as fontes trabalhadas na historiografia não tem, pois, [...] o material com que trabalha o historiador, e que em algum momento passou a ser chamado de fonte, está, ao mesmo tempo, disponível e indisponível. As fontes estão aí, disponíveis, abundantes ou parcas, eloqüentes ou silenciosas, muitas ou poucas, mas vemos, pelos trabalhos que são realizados, que existem. Mas estão também indisponíveis porque, inicialmente, é preciso que aquele que se propõe ao trabalho vá atrás delas e só faça isso se tiver um problema ou, no mínimo, um tema. De saída, o que determina o que serão as fontes é exatamente isso: o problema problematizado (LOPES; GALVÃO, 2001, p. 78-79). Nesse sentido, observa-se a autonomia do historiador na escolha de suas fontes, tendo como base o objeto que pretende estudar, pois o material que selecionará deverá ser capaz de responder suas perguntas ou orientá-lo para essa finalidade. É importante se ter consciência de que esse material, selecionado pelo historiador, antes de chegar a suas mãos, fora selecionado por aqueles que o produziram, pelos que o conservaram ou destruíram, intencionalmente ou não, por aqueles que o organizaram em arquivos e ainda pelo próprio tempo (LOPES; GALVÃO, 2001). A História, da maneira como era construída, considerava a fonte como sendo um material para escrever a História, pautada em documentos escritos, palpáveis, “oficiais”. Com os novos encaminhamentos que vem sendo dado ao seu estudo esse conceito tem se 4039 modificado ao longo do tempo, fazendo com que os pesquisadores entendam como insuficientes para se compreender alguns aspectos fundamentais apenas o uso das fontes oficiais. De acordo com Lopes e Galvão (2001), Lucien Febvre é um autor que faz uma argumentação firme sobre essa questão, tendo em vista que defende: [...] que se pode fazer a história com tudo o que, sendo do homem, depende do homem, depende do homem, serve para o homem, exprime o homem, significa a presença, a atividade, os gostos e as maneiras de ser do homem. [...] no limite, todo documento é mentira, na medida em que só tomamos conhecimento daquilo que o passado quis que fosse memorável. (LOPES; GALVÃO, 2001, p. 80). Observa-se, todavia, novamente a autonomia do historiador em buscar, da maneira que melhor lhe atender, as fontes que considera serem suficientes ou que melhor lhe encaminhem para a maior aproximação possível da verdade sobre o passado do objeto que estuda. Em outras palavras, o tema ou problema do pesquisador é que norteará, sobremaneira, a escolha das fontes que este irá utilizar. Se por um lado, o pesquisador tem mais autonomia, por outro os obstáculos para a realização da investigação também aumentam, pois, por muitas vezes, ocorre a destruição das fontes, visto que a prática de arquivos não é igualmente valorizada por outras áreas. Uma ilustração simples da dificuldade que os historiadores enfrentam, por exemplo, é o fato de ser habitual tanto as escolas quanto os alunos, descartarem os materiais do ano letivo anterior, o que implica na falta da matéria-prima do historiador, a fonte. Muito embora, a “revolução documental”, como coloca Lopes e Galvão (2001), tendo avivado novos conceitos acerca do estudo da História e das fontes e marcado de modo expressivo o campo da História da Educação, muitos pesquisadores insistem na utilização das fontes oficiais. Mesmo abordando novos temas e analisando o objeto de estudo por novas perspectivas, recorrem a esse tipo de arquivo. Certamente que não acreditam no documento como um todo, um detentor da verdade, mas procuram problematizar essas fontes, tendo em vista que “[...] o valor do objeto que tem em mãos ou que procura virá da relação que poderá ser estabelecida entre outros objetos identificados pela pesquisa com a sua problemática central.” (LOPES; GALVÃO, 2001). É relevante lembrar que essas novas fontes que vêm sendo incorporadas nas pesquisas da atualidade, têm sido muitas vezes transformadas no próprio objeto de pesquisa: “A imprensa pedagógica, o livro escolar, o caderno do aluno, o mobiliário, o uniforme, por 4040 exemplo, [...] seus usos, as transformações por que passaram ao longo do tempo – passam a interessar, pois dizem também sobre o passado educacional.” (LOPES; GALVÃO, 2001, p. 82). Entretanto, a “revolução documental” trouxe implicações não apenas no que concerne a seleção das fontes a serem utilizadas nas pesquisas, mas na forma de tratamento das mesmas. Esse alargamento tem provocado uma enorme ampliação da memória histórica (LE GOFF, 2003). Nesse contexto, os documentos, em educação, precisam ser considerados na sua mais ampla acepção, sejam eles escritos, ilustrados, imagéticos, transmitidos pelo som ou de outra maneira qualquer (NUNES; CARVALHO, 1993). A desmistificação do documento é cada vez mais evidente. Procura-se problematizá-lo, questioná-lo. É a partir disso que, aos olhos de Lopes e Galvão, realmente se inicia a produção da História: O ponto de partida não é, desse modo, a pesquisa de um documento, mas a colocação de um questionamento. Mesmo quando a idéia de um tema vem de uma descoberta arquivista, somente quando o historiador faz perguntas se inicia a produção da História. O documento em si não é História, não faz História (LOPES; GALVÃO, 2001, p. 91-92). Assim, quanto mais perguntas forem elaboradas, mais explorado é o documento, mais História é construída. As perguntas ao documento é que lhe darão sentido e, por conseguinte, sentido à pesquisa. Deste modo, uma fonte nunca se esgota, pois a História é sempre reescrita sob novos olhares, novos questionamentos, novos sentidos, de acordo com o problema proposto pelo pesquisador/historiador (LOPES; GALVÃO, 2001). O historiador, diante desse novo olhar para as fontes, passa por várias exigências na realização de seu trabalho. A paciência é uma delas. É preciso persistir na busca, passar horas, dias ou semanas para se encontrar uma determinada frase, um vestígio de algo que se estuda, algo que possa dar uma significação ao objeto do pesquisador (LOPES; GALVÃO, 2001). A pluralidade de fontes é um fator enriquecedor da pesquisa historiográfica, pois quanto mais documentos o pesquisador obtiver, mais possibilidades se têm de descobri-los, compreendê-los e, consequentemente, produzir mais conhecimentos, ou seja, quanto mais relações/associações o historiador conseguir estabelecer entre o documento e seu objeto, mais rica se torna a pesquisa (LOPES; GALVÃO, 2001). Esse confronto que o historiador estabelece entre suas fontes, pode também auxiliar no controle da sua subjetividade ante a 4041 pesquisa. Para tanto, é necessário que se crie um método de pesquisa, de exploração de cada documento em si e do conjunto dos documentos. Este tem sido um desafio para os historiadores da educação. Considerações Finais Tendo em vista a amplitude das temáticas acima abordadas, considera-se realizado um esboço de um dos principais objetivos desse trabalho, a saber, o de explanar algumas noções acerca do estudo em História da Educação. Evidencia-se que por meio do estudo, no que tange à constituição da História da Educação, é perceptível a desconstrução de uma maneira de pesquisar ligada à Filosofia, ao passo que se constitui uma História da Educação de forma mais autônoma, investigativa, que leva em conta uma amplitude de temáticas e não fica presa aos limites chamados temas tradicionais. Outro aspecto importante é a questão da documentação em educação, na qual se destaca a seleção e o tratamento dado às fontes utilizadas para a realização das pesquisas. Essas colocam novos desafios aos historiadores, merecendo uma atenção especial no sentido das metodologias de exploração que cada uma exige. Conforme verificado, quanto mais perguntas o pesquisador é capaz de fazer sobre o documento que está observando, mais possibilidade terá de explorá-lo. Assim, fica no presente trabalho, um convite a um aprofundamento das questões aqui explicitadas, tendo em vista as contribuições que essas podem exercer na consolidação da História da Educação. REFERÊNCIAS: CARVALHO, Marta Maria Chagas de; SAVIANI, Dermeval. & VIDAL, Diana. Sociedade Brasileira de História da Educação: Constituição, Organização e Realizações. São Paulo, jul, 2006. Disponível em: <http://www.sbhe.org.br/novo/index.phparq=arq_historico&tit ulo=H ist%C3%B3rico> Acesso em: 15/11/2008 CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria & Educação, Porto Alegre, n. 2, p. 177-229, 1999. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Dicionário Aurélio Eletrônico - Século XXI. Nova Fronteira, nov/1999. Versão 3.0 4042 LE GOFF, Jacques. Memória. In: ______ História e Memória. 5. ed. Campinas, SP: UNICAMP, 2003, p. 419-476. LOPES, Eliane Marta Teixeira; GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História da Educação. Rio de Janeiro: DP&A, 2001. NUNES, Clarice; CARVALHO, Marta. Historiografia da Educação e Fontes. Cadernos ANPED. Porto Alegre, n. 5, p. 7-64, 1993. NUNES, Clarice. Ensino e historiografia da educação: problematizações de uma hipótese. Revista Brasileira de Educação, São Paulo, n. 1, p. 67-79, 1996. NEVES, Fátima Maria. História da Educação no Brasil – Considerações historiográficas sobre a sua constituição. In: ROSSI, E. R.; RODRIGUES, E.; NEVES, F. M. (Org.) Fundamentos históricos da educação no Brasil. Maringá: EDUEM, 2005. SAVIANI, Dermeval. O legado educacional do “longo século XX” brasileiro. In: SAVIANI, D. et al. (org.) O legado educacional do século XX no Brasil, Campinas: Autores Associados, 2004. p. 11-57 VIDAL, Diana Gonçalves; FARIA FILHO, Luciano. História da Educação no Brasil: a constituição histórica do campo (1880 – 1970). Revista Brasileira de História, v. 3. n. 45. São Paulo, jul, 2003.