A educação e os dialetos televisivos Claudio de Moura Castro Logo que surge a televisão comercial nos Estados Unidos, percebeu-se o seu potencial para educação, sendo criado em Michigan um projeto de escola por TV. Este projeto inaugurou uma longa sequência de fracassos, junto com outras tentativas de trazer a TV (ou outras tecnologias) para as salas de aula convencionais. Não colou. Mas a TV achou outros clientes na educação. Empresas, cursos técnicos e, em geral, programas fora da escola acadêmica. Grande sucesso. Ao longo destes anos, muito se aprendeu. Principalmente, verificou-se que há muitas linguagens ou dialetos televisivos. A forma de expressão varia muito. Imitando cegamente o modelo escolar, a primeira televisão educativa apresentava um professor falando (“talking head”). Até hoje, este ainda é um bom modelo, quando o maior objetivo é economizar nos custos de preparação, sobretudo quando a clientela é pequena ou sofisticada (como é o caso dos cursos de pós-graduação). Mas com o tempo, vão sendo usados mais recursos televisivos. Apesar de questionado, o uso de atores, ao invés de professores, parece haver sido um grande salto. Vêm então os clips mostrando lugares, coisas ou ilustrando conceitos. E as entrevistas. Tudo emprestado da linguagem da televisão comercial. No Brasil e México, a telenovela é uma frondosa fonte de inspiração. Em algumas linguagens mais modernas, a televisão nem ensina e nem explica muito. Ela apenas contextualiza, ilustra, motiva, mostra a importância do tema. Aprender é no livro (estilo BBC). Em algum momento, há um divorcio entre a educação e a cultura, a aula e o entretenimento. O chamado “edutainment” (ilustrado pelo Discovery Channel e The Learning Channel) é escravizado ao IBOP. Ou é interessante e leve ou está fora. Falas de um minuto, nem pensar. Do outro lado, está a TV educativa, com cara de escola, com direito de ser chata, engalfinhando-se com questões difíceis e condenada a um IBOP execrável (O Telecurso 2000 é um raro exemplo de ponte entre educação e “edutainment”). Tudo isso significa uma coisa. Ao tentar trazer educação para a TV, há uma questão fundamental de definir uma linguagem. Que dialeto será usado? Mais audiência ou mais profundidade? Nem operadores privados e nem públicos podem subestimar o alcance das decisões tomadas neste momento.