EXPOSIÇÃO DE FOTOGRAFIA A EUROPA EM FRAGMENTOS, DAQUI ATÉ ALI DE SEGUNDA A SEXTA-FEIRA - DAS 9H ÀS 19H SÁBADOS - DAS 9H ÀS 13H EDUARDO REBELO Av. Marquês de Pombal, 22-B, 2700-571 AMADORA Tel.: 21 498 94 00 Fax: 21 498 91 01 Endereço electrónico: [email protected] Internet: www.estc.ipl.pt ESCOLA SUPERIOR DE TEATRO E CINEMA 22 DE ABRIL A 6 DE MAIO DE 2008 Fragmento Escrito Após um ano em viagem em vários países da Europa Central, de Leste e Balcãs, chegam até nós as marcas fragmentárias de um sonho. Fotografias, bilhetes, escritos e pequenas notas são o passe de embarque para uma experiência única, pessoal e intransmissível, contudo partilhável. Para além de dar a ver e conhecer tais fragmentos, esta exposição transporta em si o intuito de evidenciar – através da arte – as proximidades e semelhanças entre os vários países de uma Europa pluricultural, dinâmica e progressivamente mais una. República Checa, Áustria, Alemanha, Grécia, Turquia, Sérvia, Hungria, Polónia, Eslováquia, Eslovénia, Macedónia, Bulgária, Holanda, Suiça, França e Espanha providenciam o caminho do rito de passagem fora das fronteiras da viagem mítica do herói. Mais que uma experiência de ver, uma absorção dos sentidos pelos sentidos, de cidade em cidade, rua em rua, em longos caminhos sob forma de busca incessante de um silêncio que sempre existiu afinal, sito nas mais profundas camadas da dimensão interior do ser. As imagens que nos chegam resultam da persistência nessa busca do ser e do sentir na existência. Eduardo Rebelo tem 24 anos e é aluno finalista do curso de Cinema na área de Imagem na Escola Superior de Teatro e Cinema. Cracóvia, 29/12/06 Serenidade Pensamos bastante durante os momentos de silêncio que encontramos entre milhares de palavras e descobrimos no seio de tantos sons e imagens, toques efectivos e trocas mudas, rostos e olhares infinitos que se perpetuam na finitude do ser. Com eles construímos a percepção e a teia dogmática da ideologia que no jazigo da cronologia, desejamos eterna. Tantos e incomensuráveis são os movimentos básicos desta transcendência, que nos encontramos repletos de um Tudo vazio e um Nada preenchido, sem mesmo saber ao certo nem o Todo nem a sua ausência. Assumimos como facto irrevogável que a existência é plena e real e que portanto, nessa realidade concreta, existimos também. A crença de Ser parece ser sustentada pela consciência, e a presença dessa noção parece possível pela identificação e assimilação de padrões através da memória, que funcionando como registo da percepção, assimila livre e subjectivamente, o que é percepcionado, independentemente da via de absorção pela qual essa informação é anexada. Demolimos a crença e o que a sustenta quando somos habitados pela Dúvida, que funcionando como forca motriz do conhecimento – e por consequência da consciência – cria o paradoxo de Existir Não Existindo e Não Existir Existindo. A Dúvida permite o coabitar destas duas dimensões do Ser dentro de um só organismo, transportando-o para uma realidade, paralela ao inegável dogmatismo. Poderíamos assumir, portanto, que Não Existem Certezas. Mas por nem mesmo termos como Correcto e Absoluto o facto das Certezas Não Existirem, poderíamos concluir que Nada é Absoluto. Contudo, visto não sabermos o que é o Nada ou o Absoluto, talvez nem mesmo esse facto possa algum dia vir a ser uma conclusão. Assim, não tendo sequer como certo se sabemos saber o que quer que seja, não só não podemos dizer que Não Sabemos Nada como não sabemos o que saberíamos mesmo se soubéssemos algo. Mais ainda, ao ser uma imposta restrição ao Homem, o Não representa tanto um incontornável condicionalismo como apresenta a possibilidade de uma dimensão paralela, onde nem o Homem, nem a Dúvida, nem a Negativa, nem a Existência, têm lugar. Essa dimensão poderá ser o Sonho. Portanto, começo. Como é fácil nos apaixonarmos. Por segundos, por instantes, por eternidades. Mas como é difícil – ou complicado, ou pouco provável, ou não sabemos bem o quê – amar seja quem ou em que forma. Somos habitados por esse sentimento único, pessoal e intransmissível, que todos podemos sentir mas que ninguém pode explicar. O Amor será antes de mais egoísta, porque existe em primeira instância de nós para nós. Somos nós que o sentimos, dentro de nós. Por outro ser, naturalmente, mas mesmo isso não deixa de ser a projecção que nós próprios fazemos desse movimento ou a forma como encaramos essa troca de Energias, Vibrações e Fluxos. Sendo que ele pode existir sem ser correspondido – ou assim o cremos pelo menos – talvez isso ajude a demonstrar este não mais que ponto de vista ou posição sobre o sentir e sobre a emoção. Depois, existem tantas formas de amar que acabamos por ter a percepção de que tão pouco sabemos o que é o amor, mesmo após tantas tentativas. Que nada de errado se apresenta em não conseguir apenas em não tentar, portanto, tentamos. Amamos. Não amamos. Não sabemos se amamos. Não sabemos se queremos saber nem se queremos amar. Tão pouco sabemos se queremos saber o que é o amor ou se será possível sabê-lo, portanto, partilhamos. Sentimos. Sabemos que sentimos. Sabemos que queremos continuar a sentir e cada vez mais, por tão verdadeira ter sido a entrega e tão poderosa a sua manifestação. Sabemos que nunca soubemos ao certo o que sentimos em cada momento, portanto, acreditamos. Nós existimos. Porque sentimos, acreditamos que existimos. Ao acreditar que algo existe e consequentemente que nós também existimos, sentimos. Por sentir, não apenas acreditamos na existência e no sentimento, como na própria crença, portanto, duvidamos. Nós não existimos. Não por nos termos reinventado, o que de facto acontece a cada instante do sentir, mas por nunca termos existido. Não somos mais que a projecção que outros fazem sobre nós, nem tão pouco mais do que a percepção que temos sobre o nosso próprio sentir, portanto, sonhamos. Sonhamos ser. Não por acreditar, ou por sentir ou existir, mas porque podemos, mesmo sem saber como ou porquê. Somos o sonho de nós próprios ou o nosso próprio sonho, portanto, somos algo, mesmo sem saber ser o quê.