Em busca da borboleta amarela
Não sou um aficionado por borboletas, mas minha alma lírica não deixa
de queimar perante a sua representação poética. A borboleta amarela... sim,
ela será o meu guia durante as crônicas de Cachoeiro de Itapemirim. Então,
preciso encontrá-la.
Ainda é manhã, calço meu tênis e saio de casa em busca da pequena
borboleta amarela. Vou caminhando atento, olhando para o alto, à procura de
meu ideal. E nessa procura, encontro gente que espera o ônibus para ir ao
trabalho, encontro gente voltando da labuta, encontro gente que vai fazer as
compras do mês, encontro gente que varre a calçada. Mas, nada de borboleta.
E neste caminhar, deparo-me com as brincadeiras e risos dos alunos
que estão indo para a escola, prontos para mais um dia de aula. Mais à frente,
vejo senhoras que rumam calmamente a seu destino, para pedir a bênção dos
céus sobre a cidade. Estou em frente a um paradoxo, mas não da borboleta
amarela.
Continuo meu caminho, e logo chego à praça da cidade. Observo tudo
atentamente, os bancos, o chafariz, o palácio Bernardino Monteiro pensei que
no coração da cidade eu fosse encontrá-la. Um coração que pulsa forte, em
ritmo acelerado, com o ir e vir das pessoas, meio que sem direção, querendo
alcançar seus objetivos diários. Não vejo nenhuma calmaria, nenhum casal de
namorados no banco. Também não vejo nenhuma borboleta.
Após andar tanto, o desejo de encontrar a graciosa borboleta amarela ia
crescendo dentro de mim, e meio que inconsciente, fui caminhando em frente.
Dobrei esquinas e atravessei ruas. Eu estava em pé diante da velha estação da
cidade, que guardava, fiel e silenciosamente, sua gloriosa história. Mas,
parecia que somente eu estava deslumbrado com a estação. Pessoas
passavam sem ligar, outras esperavam o ônibus do outro lado, preocupados
com os minutos de atraso.
Queria ir embora, seguir em frente, mas quando olhei de novo para a
estação, vi a alma de todas as pessoas que foram confiadas a ela. Tinha gente
conversando, tinha gente namorando, tinha gente trabalhando... e por um
momento, pensei que tivesse visto o trem das seis, mas era só o ônibus que
acabara de chegar. As almas voltaram para as entranhas do prédio, e quando
eu olhei para frente, vi um pequeno lampejo de luz. Poderia ser, sim, a minha
borboleta amarela que eu tanto procurava. Apressadamente, fui em direção ao
local onde eu tinha visto a luz, mas não encontrei nada. Minha euforia começou
a cessar, então decidi voltar para casa.
Cheguei a casa com um sentimento de fracasso. Passei o dia em busca
de uma borboleta e não consegui encontrá-la. Tomei um banho, já era noite.
Não tinha vontade de fazer mais nada, então, arrumei a minha cama e apaguei
a luz. Deitado, na penumbra do quarto, revendo todo o meu dia, procurei o
motivo da minha falha.
Nesse momento, meu coração começou a bater mais forte e eu comecei
a suar frio, pois finalmente, ali no meu quarto, havia encontrado a minha
borboleta amarela. Ela sempre esteve comigo, dentro de mim. Ela era o reflexo
da minha alma, e quando posso vê-la, é porque ainda posso sonhar. A minha
borboleta tem as cores da minha cidade e com ela posso descobrir, no
cotidiano, a beleza do simples, que encanta minha alma, "porque sou de
Cachoeiro com muito prazer".
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