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Pai apita
Ser mãe é maravilhoso, claro que sim, mas não é tudo. Saber dividir a bola e deixar o pai
participar do jeito dele (e não do seu!) é tão importante para seu filho quanto tudo o que você
faz. Filho precisa dos dois, de pai e mãe. E isso é sério. Pronta para dividir essa bola?
Chegou a hora, ou melhor, já passou da hora dos pais reivindicarem o direito de exercerem
seu mandato. Quando o filho nasce, nós, mães, assumimos as tarefas cotidianas como leoas e
às vezes não deixamos ninguém chegar perto. Você amamenta, troca a fralda, escolhe as
roupas, leva o bebê para tomar o banho de sol, carrega para o pediatra. Ufa! Cansa... E você
esqueceu que, nesse corre-corre, pode contar com um grande aliado: o pai. Embora a gente às
vezes não reconheça, ele é tão importante na vida das crianças quanto nós mesmas e deve,
sim, participar do dia a dia delas.
Algumas mães reclamam que o pai não participa, mas a verdade é que a maioria não
deixa. Normalmente, por uma falsa ideia de que só ela pode cuidar direito das necessidades do
filho. E, quando permite o acesso do pai, ela checa depois todas as coisas que foram feitas por
ele.
“A mãe desenvolve durante a gestação e nos primeiros anos de vida da criança um vínculo
de apego grande, muitas vezes superprotetora. Isso acontece, principalmente, na gestação do
primeiro filho. Os cuidados maternos ficam muito exacerbados porque a mãe não confia o filho
à outra pessoa, nem mesmo ao pai”, diz Ana Lúcia Gomes Castello, psicóloga clínica e
consultora do Hospital Sabará, mãe de Renata e Roberta.
Júlia Corrêa Lázaro se encaixa perfeitamente nesse perfil. A mãe de Otávio e Davi fazia
tudo sozinha na época em que os meninos eram bebês. Cortava as unhas, dava banho e
comida, levava e buscava na escola, colocava-os para dormir. Daniel, o marido, não tinha aval
para executar nada. Hoje, sempre que faz algo, é supervisionado e ela não deixa os meninos
saírem sozinhos com o pai, nem para ir ao mercado. “A única vez que o deixei dar banho,
quando cheguei ao banheiro, o Otávio estava com o rosto a 1 milímetro de água, quase morri
de susto”, conta, apavorada. Já aconteceram situações em que Julia pediu para o pai trocar os
meninos e ele colocou roupas de festa para as crianças descerem ao playground. “Ele é muito
distraído e eu sou perfeccionista. Acho que ninguém irá fazer tão bem como eu”, diz Júlia.
Daniel se defende: “A Júlia é muito superprotetora e fico indignado de não poder levar os
meninos à padaria!”
Mãe leoa
A superproteção inicial é instintiva. A mãe quer ter a cria por perto e garantir que nada de
errado vai acontecer com a sua prole. Porém, é saudável e importante para a criança o
relacionamento com o pai. Essa versatilidade tira a criança de uma versão moldada, afinal cada
um tem um estilo diferente para cada atividade. “A relação exclusiva faz com que, muitas
vezes, a mãe desenvolva vínculos que podem prejudicar o desenvolvimento emocional da
criança”, ressalta Ana Lúcia Castello. Nesse contexto, muitos pais se abstêm. Quando os pais
insistem na participação, essa superproteção materna pode ser menor.
O banho do pai não será dado do mesmo jeito que que o da mãe, mas isso não significa
que será ruim. Os pais são homens e, portanto, têm um modo masculino de lidar com o filho,
mais direto e às vezes menos superprotetor. A criança pode ir se acostumando com essa forma
nova e alternativa de cuidados, tendo a opção de escolher como prefere e isso poderá
incomodar a mãe.
É um grande aprendizado para o pai participar dessa rotina também. Bruno Freitas, pai da
recém-nascida Carolina, ajuda a esposa Fabiana a dar conta do recado. Participa dos banhos,
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troca as fraldas e acompanha as mamadas da madrugada. Para completar, ele ainda a elogia,
o que é o máximo, já que essa é uma época em que vivemos descabeladas e com olheiras!
Aliás, esse cansaço todo é mais um motivo para que o apoio e a participação do pai sejam
fundamentais. “Além do que, é saudável para a futura criança haver um ‘intruso’ na relação
perfeita do bebê com a sua mãe”, diz a psicóloga Antonia Gomides Femenias, filha de Gabriel
e Jeronima.
Pai que participa
Sair mais cedo do trabalho para jogar com os filhos, escovar seus dentes ou coloca-los
para dormir: quando esse tipo de iniciativa parte do homem, a mãe costuma se sentir mais
segura. Em contrapartida, quando o pai se acomoda, ela invade o espaço dele e não o deixa
intervir. “Mães leoas acabam criando pais folgados, o que não é saudável para o futuro da
família”, acredita a psicóloga Antonia.
Um bom começo para assegurar a presença do pai, sem assustar a mãe, é a divisão de
tarefas. A mãe dá o banho, o pai seca. A mãe amamenta, o pai coloca para arrotar. E assim
por diante.
Daniele Garcia, filha de Fátima e José, já começou essa preparação antes mesmo de ser
mãe. Ela pretende engravidar daqui um ano, mas já divide as tarefas da casa com o marido de
acordo com a preferência, e acredita que isso ajudará quando o bebê chegar. Hoje, o marido
Leonardo é responsável por lavar a louça e arrumar a casa. Ela por lavar e passar a roupa e
fazer a comida. O cachorro é responsabilidade dos dois. “Com essa dinâmica já teremos um
ritmo quando o bebê chegar”, acredita.
Simone Varon, mãe de Patric e Nicole, sempre teve o marido, Michel, ao seu lado dividindo
as tarefas. “Tem coisas que o pai tem mais facilidade e gosta mais. Assim, facilita definir o que
cada um faz. Desde o primeiro dia, o Michel deu banho no Patrick, então essa ficou sendo uma
tarefa dele. Logo de cara já me falou: eu não gosto de colocar para dormir. Então, pronto:
essas tarefas estavam definidas”, conta ela.
Além da ajuda cotidiana, Michel deu todo o suporte quando Simone voltou à vida agitada
no trabalho, que lhe exigia muito, inclusive viagens. Depois que Patrick fez 2 anos, ela
começou a viajar por mais de duas semanas, a trabalho, para o outro lado do mundo. “Quando
Patrick era menor, o Michel tinha certa insegurança, mas ficava com ele mesmo assim”,
lembra.
Um estudo realizado em Yale (USA), sobre famílias nas quais os homens exerciam o papel
principal nos cuidados com os filhos, mostrou que esses não só se desenvolveram bem, como
tiveram boas performances nos estudos e melhores desempenhos sociais do que aqueles que
foram criados só com as mães.
Foi-se o tempo em que o pai era apenas o provedor da família, responsável por trazer o
dinheiro para casa e tinha uma postura fria e distante, enquanto a mãe amorosa zelava pela
família, pela casa e era responsável pelos cuidados dos filhos. Hoje os papéis se misturam,
ainda bem. O velho ditado popular que diz “mãe é mãe”, também vale para os pais.
Consultoria
Ana Lúcia Gomes Castello, mãe de Renata e Roberta, é psicóloga clínica e consultora de Psicologia do
Hospital Sabará
Antonia Gomila’Femenias, filha de Gabriel e Jeronima, é psicóloga.
Revista Pais&filhos – agosto de 2013.
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