O IMPÉRIO DO CONSUMO “Não somos ricos pelo que temos, mas sim pelo que não precisamos ter.” Emmanuel Kant A afirmativa desse renomado pensador combina inteiramente com a resposta dos Espíritos à questão 926 do Livro dos Espíritos, quando Allan Kardec pergunta se a civilização, criando novas necessidades, não é a fonte de novas aflições e eles afirmam: “Os males deste mundo estão na razão das necessidades artificiais que criais para vós mesmos (...)O mais rico é aquele que tem menos necessidades”. Este ensinamento está contido na quarta parte do Livro dos Espíritos, justamente dentro de capítulo Felicidade e Infelicidade Relativas – talvez com recomendações que não atendem às nossas expectativas de alcançar a felicidade de modo fácil, sem muito esforço, como nos prometem certos livros que circulam no mercado... E mais, os Espíritos ainda nos asseguram, na q.921, que “na maioria das vezes, é o homem o artífice de sua própria infelicidade”(q.921)... E o que se observa no mundo atual, de forma generalizada, é exatamente isso – como nós mesmos, e com que afinco, construímos nossas dificuldades, dores e sofrimentos em função de ainda nos aferramos a um conceito equivocado de felicidade, colocando-a na quantidade de coisas, de bens; em status transitórios e muitas vezes indevidos apesar de considerados notórios e invejáveis; na beleza física, ainda que conseguida a um custo extremamente doloroso para a organização física, importante ferramenta evolutiva enquanto aqui encarnados... Há uma parte da humanidade que, apesar de minoria, edifica seu poder e glória sob o guante do consumo (podendo ou não, endividando-se de uma ou de outra forma), escrava da aparência e da ostentação, acumulando montanhas de superficialidades e personalismos, destituída de fundamentos que a possam sustentar, cultuando valores invertidos, quando não, pervertidos também. Lamentavelmente, dispondo hoje de tecnologia de alto nível, de meios de propagação de informações e fatos praticamente instantânea, ainda estamos utilizando esses poderosos meios de disseminação de cultura e conhecimentos de forma inescrupulosa e irresponsável. Inescrupulosa sim, irresponsável sim, a partir do momento em que não se tem o cuidado de analisar, do ponto de vista ético-moral, o conteúdo do que está sendo difundido, além do método de que estão se servindo para atingir as criaturas ser o da superexcitação dos sentidos, da sensualidade, da enaltação do ego, do egoísmo, da vaidade e do orgulho desenfreados, através da repetição insistente de frases e imagens valorizando sistemas e conceitos absolutamente em desacordo com o equilíbrio e o bem-estar social da humanidade. Sabemos todos que estamos atravessando um período de transição – muito tem sido falado sobre essa fase, e desde as épocas mais remotas... Sabemos também que tais períodos são dificultosos e trabalhosos. Mesmo dentro dos ensinamentos doutrinários espiritistas, na Gênese – Capítulo XVII – em Sinais Precursores – item 57, Kardec assinala com extremas previsão e compreensão quanto à característica desses sinais que “quando chegar o momento, os homens serão advertidos pelos índices precursores. Tais sinais não estarão nem no sol, nem nas estrelas, mas no estado social e nos fenômenos mais morais que físicos”. Somos obrigados a concordar plenamente com nosso mestre espírita, pois é o que vimos constatando já há algum tempo – a par as naturais transformações e abalos fisiológicos sofridos pelo planeta em determinadas épocas, em razão de sua adaptação a novas condições geofísicas, o que vem impactando as criaturas de um modo geral e se destaca cada vez com mais evidência é o crescimento dos níveis de violência, de corrupção em todas as escalas, de condutas absolutamente discordes dos valores morais e fraternos, mesmo aqueles em seus patamares mais inferiores. Todavia, nós também sabemos que se trata de uma etapa planejada, em que colhemos o resultado da aplicação do nosso livre-arbítrio individual e do livre-arbítrio da humanidade como ser coletivo: aprendemos, na Gênese, Capítulo XVIII, em Sinais dos Tempos – item 12, que “a humanidade é um ser coletivo no qual se operam as mesmas revoluções morais que em cada ser individual”; e aprendemos ainda, em Obras Póstumas, Capitulo Questões e Problemas – Expiações Coletivas, que somos responsáveis de modo coletivo por determinadas circunstâncias, sem perdermos, no entanto, a nossa responsabilidade individual. Assim, o que nos cabe, possuidores de tantos e claros ensinamentos, é zelar atentamente pela nossa postura mental e as nossas atitudes, matéria fluídica e densa que impregna toda a psicosfera em que nos movimentamos todos, encarnados e desencarnados. Já são passados quase dois mil anos desde a tão conhecida e pouco praticada recomendação do mestre maior, Jesus de Nazaré: VIGIAI E ORAI – e não orai e vigiai como passou a ser propalado: sem vigilância de pensamentos e atitudes nossas orações não atingirão níveis mais elevados... Doris Gandres – RJ – set.2012 – email [email protected]