Nota da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial Recentemente tem sido divulgada em diferentes veículos de imprensa uma nova tecnologia de realização de exames laboratoriais disponível nos EUA, de propriedade da empresa Theranos. A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML), Sociedade de Especialidade Médica reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina e afiliada à Associação Médica Brasileira que representa o profissional médico de laboratório – o Patologista Clínico – vê com satisfação as inovações tecnológicas que resultam em maior segurança aos pacientes e que auxiliam o diagnóstico clínico. Neste caso, no entanto, ressaltamos que não foram publicados, até o momento, informações em veículos científicos que apresentem uma avaliação criteriosa dessa tecnologia e que nos permitam endossá-la ou desaprová-la. A habilitação dos laboratórios clínicos no Brasil segue normativas definidas por agências reguladoras, tais como a Resolução RDC 302/2005 da ANVISA, que define as normas de funcionamento dos exames de laboratórios no país. Ela pontua as questões de qualidade e segurança necessárias nas unidades de coleta e nas áreas de processamento de exames. A SBPC/ML entende que as farmácias brasileiras não atendem às normas vigentes para a coleta de materiais biológicos, não estando, portanto, no momento, habilitadas a realizar coletas e exames laboratoriais e oferecer serviços relacionados a esses exames. As normativas das agências reguladoras destacam, entre outros aspectos, a necessidade de uma Responsabilidade Técnica assumida por profissional habilitado e a necessidade do gerenciamento da garantia da qualidade dos Testes Laboratoriais Remotos (TLR) por um laboratório clínico, incluindo validação e controles internos e externos da qualidade. São considerados Testes Laboratoriais Remotos os exames realizados fora do ambiente do laboratório clínico (à beira do leito do paciente, por exemplo) e que utilizam equipamentos portáteis e/ou semiportáteis para essa finalidade. Nos veículos de imprensa também foram veiculadas notícias comparando preços dessa nova tecnologia com os exames feitos em laboratórios clínicos atualmente. Destacamos que os preços médios divulgados nessas reportagens referem-se aos valores praticados nos Estados Unidos para compra direta pelo consumidor. Além disso, esses preços são superiores aos praticados no Brasil pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no pagamento dos mesmos exames, o que elimina uma das supostas vantagens apresentadas no noticiário. No Brasil, os laboratórios clínicos respondem por apenas 5% dos gastos com saúde mas são responsáveis por 70% das informações para decisão médica. Em sua maioria, os laboratórios clínicos privados possuem relação comercial com as operadoras de saúde, que atuam como intermediárias, e cujas tabelas de preços são bastante defasadas e não sofrem reajustes há mais de dez anos. Outra suposta vantagem divulgada nas notícias sobre o método da empresa Theranos — o uso de poucas gotas de sangue para obter o resultado — não tem fundamento porque a quantidade de sangue colhida nos exames laboratoriais realizados atualmente em todo o mundo é pequena e não prejudica de modo algum a saúde do paciente. O crescimento da utilização dos exames laboratoriais, desde que baseado em evidências científicas, é desejável e tem como causa principal as mudanças demográficas e tecnológicas que estamos vivendo, tais como o envelhecimento populacional, maior acesso à saúde suplementar pelo maior poder de compra da população, novas tecnologias com metodologias cientificamente comprovadas e a medicina preventiva. A Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) representa 1.148 médicos especialistas em exercício, distribuídos em parte das cerca de 15 mil unidades laboratoriais existentes no país. É de grande importância que, ao publicar matérias sobre nossa especialidade, sejamos convidados a participar e contribuir. Criamos e mantemos, desde 1998, o Programa de Acreditação de Laboratórios Clínicos (PALC), que avalia sistematicamente os fluxos de exames e a qualidade dos laboratórios participantes, o que resulta em maior segurança ao paciente e garantia de confiabilidade nos resultados dos exames solicitados pelos médicos. A SBPC/ML também realiza diversos eventos e cursos de educação continuada para os profissionais de saúde relacionados ao laboratório clínico, com o objetivo de mantêlos atualizados em relação às novas técnicas e conhecimentos científicos. Rio de Janeiro, 21 de novembro de 2014 Paula Távora Presidente da SBPC/ML Biênio 2014/2015