_________________________________ IV SIMPÓSIO NACIONAL ESTADO E PODER: INTELECTUAIS ________________________ 8 a 11 de outubro de 2007 Universidade Estadual do Maranhão São Luís/MA A IMIGRAÇÃO JAPONESA NO PARÁ E A CONSTRUÇÃO DO IMAGINÁRIO SOCIAL ACERCA DOS IMIGRANTES JAPONESES Alfredo Jorge Hesse Garcia Neto (graduando pela UFPA) Resumo: Este projeto tem como objetivo a pesquisa acerca da imigração japonesa no Pará, particularmente se concentrando na variação das construções de percepção do “outro”, isto é, de como se constrói uma idéia do imigrante japonês como um contribuinte benéfico da nação, para logo em seguida tratá-lo como o “Perigo Amarelo”, durante o período de 1935, considerado o final do auge da imigração de japoneses no Brasil, a 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial . Pretende-se , com esta pesquisa, entender todo o processo do imaginário social sobre o imigrante japonês, tanto pelo lado positivo como pelo negativo, bem como analisar os efeitos que tais construções causaram no dia-a-dia do imigrante japonês. Introdução Existem muitos trabalhos acerca da imigração japonesa no Brasil, e mesmo vários que tratam da questão da alteridade envolvendo esse aspecto, com relatos de defesas em congresso da imigração nipônica,e ataques na imprensa contra. Entretanto, é uma percepção minha que , ao menos em todos os trabalhos por mim lidos, existe uma lacuna de trabalhos sobre este assunto no que se refere ao período total da 2ª Guerra Mundial, particularmente no que diz respeito ao Campo de concentração de Tomé-Açu. O porquê disso ainda deve ser averiguado, embora seja de nossa opinião que o principal fator é a falta de fontes escritas. Mas o ponto principal é a necessidade de um estudo adequado acerca deste fator, considerando não só 1 _________________________________ IV SIMPÓSIO NACIONAL ESTADO E PODER: INTELECTUAIS ________________________ 8 a 11 de outubro de 2007 Universidade Estadual do Maranhão São Luís/MA documentos da sociedade que marginaliza esse imigrante, mas também um inside dos próprios imigrantes, considerando os depoimentos orais a serem coletados, bem como as fontes escritas. Transformações na visão do imigrante japonês De início, o imigrante é recebido como a solução de diversos problemas brasileiros,particularmente no quesito mão-de-obra agrícola. È claro que há algumas divergências nesse sentido, havendo mesmo reuniões em congresso nacional para discutir a “questão amarela” (como nos informa Jeffrey Lesser em sua obra A negociação da identidade nacional), mas nada que afetasse seriamente os fluxos migratórios , muito pelo contrário. Na época (a saber, 1935) , o Japão passava por sérios problemas, tanto de ordem agrária (a falta de terras para plantio), como populacionais (o sempre crônico problema de espaço do Japão). Além disso, o Brasiul em si não concebia seriamente interromper tal fluxo migratório, por ainda enxergar o japonês, provindo de nação rica não européia, como um modelo para ser seguido. Naturalmente, as coisas mudaram com o advento da 2ª guerra mundial. Os relatos coletados falam de um quebra-quebra generalizado e da queima das casas nipônicas em Belém, e da transferência destes imigrantes para o campo de concentração de Tomé-Açu, exceto os que trabalhavam com Juta. Ao que parece, estas demonstrações de agressividade xenofóbica foram exclusivas das grandes cidades, visto terem sido os entrevistados, quase todos do interior do Pará, muitos claros ao dizer não terem sofrido nenhuma agressão séria. Mas o fato é que foi desconstruída a imagem do Imigrante japonês trabalhador e honrado, para ser posta no luigar uma imagem de uma ser traiçoeiro e perigoso, alcunhado “o perigo amarelo”. 2 _________________________________ IV SIMPÓSIO NACIONAL ESTADO E PODER: INTELECTUAIS ________________________ 8 a 11 de outubro de 2007 Universidade Estadual do Maranhão São Luís/MA Com o fim da segunda guerra, no Pará, recomeçou quase que imediatamente a construção do imigrante esforçado, demonstrando um fenômeno intrigante que merece, e está sendo, estudado a fundo. Metodologia de pesquisa O eixo metodológico desta pesquisa baseia-se na História Oral, a partir da coleta de depoimentos (através de entrevistas). Seguindo o conceito de História Oral do Professor Raul Osório Vargas, que entende a mesma como “uma experiência viva, um ato humano onde a busca e a descoberta permeiam o trabalho do oralista na via para superar o pretendido objetivismo”, não almejamos, em absoluto, a exatidão dos fatos nos relatos orais a serem coletados. Antes, as próprias impressões dos imigrantes, por inexatas que sejam, são o alvo principal destas entrevistas, visto ser o objetivo destes depoimentos justamente entender as impressões dos imigrantes japoneses acerca do que acontecia ao seu redor, no período em questão. Teoricamente, seguimos o conceito de “História dos marginais” de Jean Claude Schmidt, tal como ele escreveu no artigo de mesmo nome. O conceito de marginalidade a ser adotado, bem como a idéia da expulsão e subseqüente reintegração dos imigrantes japoneses da sociedade brasileira, casa perfeitamente com o que Schmidt diz acerca do que ele entende por marginalidade, Nas suas palavras: “(...) A priori, várias noções podem ser distinguidas [acerca dos fenômenos de marginalidade]: a de marginalidade, que implica um estatuto mais ou menos formal no seio da sociedade e traduz uma situação que, pelo menos teoricamente, pode ser transitória; aquém da marginalidade, a noção de integração (ou reintegração) que indica a ausência (ou perda) de um estatuto marginal no seio da sociedade; e , ao contrário, além, a noção de exclusão, que assinala uma ruptura – as vezes ritualizada- em relação ao corpo social.” [Destaque em negrito nosso] 3 _________________________________ IV SIMPÓSIO NACIONAL ESTADO E PODER: INTELECTUAIS ________________________ 8 a 11 de outubro de 2007 Universidade Estadual do Maranhão São Luís/MA Embora o autor, no artigo em questão, utilize tais conceitos para analisar a Europa Ocidental do século XI ao XVIII, acreditamos ser possível utilizar-se desses mesmos conceitos na análise da expulsão e reintegração na sociedade dos imigrantes japoneses no Brasil. Foi feita também, a nível de complementação, a análise de documentos oficiais da época estudada, nominalmente ofícios que circularam nos distritos policiais, despachos que tenham vindo direto do gabinete do Interventor Magalhães Barata, e afins. Descobriu-se uma certa preocupação do Estado com esses imigrantes, havendo mesmo ordens de seguir imigrantes previamente soltos de prisões, fato compreensível se analisarmos a época em questão (Segunda Guerra). Há também indícios de uso dos imigrantes em Belém como mão-de-obra ilegal, visto haver documentos questionando a eficácia do Departamento de Registro de Estrangeiros , no que concerne A fiscalização de fábricas e oficinas. Também foram analisadas obras que contenham o depoimento dos imigrantes japoneses , falando de suas experiências de vida durante a época trabalhada, bem como jornais e revistas de época locais, para se entender as visões que a sociedade tinha acerca destes imigrantes, representada pro meios diversos, sejam artigos ou cartuns. REFERÊNCIAS DOCUMENTOS BORBA, Osório. “Don’t remember...”, artigo publicado no jornal Estado do Pará, em 06/01/1944, nº 11.334 Livro de registro de estrangeiros, período 1938-1973, fundo segurança pública, volume nº 554 Ofícios da Polícia Civil, acerca da Comissão de inquérito sobre os estrangeiros ilegais, datados respectivamente de 12/07/1940, 01/08/1940 e 09/09/1940, Fundo Segurança pública, volume nº 555. 4 _________________________________ IV SIMPÓSIO NACIONAL ESTADO E PODER: INTELECTUAIS ________________________ 8 a 11 de outubro de 2007 Universidade Estadual do Maranhão São Luís/MA Despachos do Interventor, especificamente o de número 2574, no Fundo “Gabinete do Interventor”. BIBLIOGRAFIA BENEDICT, Ruth. O Crisântemo e a Espada. 3ª Edição. São Paulo: Editora Perspectiva, 2002. SILVA, Orlando Sampaio. O Japonês em Santa Isabel do Pará: Estudo SócioCultural sobre Japoneses em uma área rural da Zona Bragantina. CERU: Centro de Estudos Rurais e Urbanos, série Cadernos, nº 11 - 1ª série. USP/Universidade de São Paulo. Setembro de 1978 Livro Comemorativo 70 anos da imigração japonesa na Amazônia. OHASHI, Paulo Toshio. Cruzeiro do Sul cintila no céu com luz da verdade. Edição comemorativa de 73 anos do autor. WOORTMAN, Ellen. Japoneses no Brasil/ brasileiros no Japão: tradição e modernidade. Revista de Antropologia (USP), São Paulo, v. 38, n. 2, p. 7-36, 1996. GONÇALVES, Eduardo Batista. O complô amarelo: Representações do imigrante japonês na Imprensa Paraense 1938 – 1945. (TCC – apresentado ao Departamento de História da UFPA – Campus Belém, para obtenção do título de Bacharel e Licenciatura Plena em História), 2000. Mimeo. DA CUNHA, Manoel Alexandre Ferreira; NETO, Francisco Rodrigues da Silva. Migração e formação de identidade: o caso “japonês” no Pará-BR.. Trabalho apresentado no 2ª Seminário Internacional - Educação Intercultural, Gênero e Movimentos Sociais: Identidade, Diferença e Mediações LESSER, Jeffrey. A negociação da identidade nacional: imigrantes, minorias e a luta pela etnicidade no Brasil. Trad. Patrícia de Queiroz C. Zimbres. São Paulo: Editora da UNESP, 2001, 344 p. TSUNODA, Fusako. Canção da Amazõnia. Francisco Alves, Rio de Janeiro, 1988. THOMPSON, Paul. The voice of the past. Oxford University Press, 2000 SILVA NETO, Francisco Rodrigues da. A formação da identidade nikkei no Pará-Brasil. Monografia apresentada ao Departamento de História da 5 _________________________________ IV SIMPÓSIO NACIONAL ESTADO E PODER: INTELECTUAIS ________________________ 8 a 11 de outubro de 2007 Universidade Estadual do Maranhão São Luís/MA Universidade Federal do Pará, para obtenção do grau de Bacharel e Licenciatura Plena em História, 2003 SILVA NETO, Francisco Rodrigues da. Os japoneses no Pará: um estudo sobre a construção de identidades. Dissertação apresentada para obtenção do grau de mestre em Ciências Sociais, 2007. BURKE, Peter. Variedades de História Cultural. São Paulo- Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 2000. DEPOIMENTOS Toshio Ohashi Kikuchi Mizuko Kiyoko Harada Isao Sawada Paulo Onuma 6