TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? Apresentação do texto no seminário: A Migração do Audiovisual para o Digital Apresentação por: António Maneira Texto original do Professor: Francisco Rui Cádima 1 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? Hoje em dia, no mundo ocidental desenvolvido, existe “uma taxa de penetração de televisores próxima dos 100 por cento” 2 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? TV: e saber democratizado? “Apesar de reivindicarem sempre mais democracia cultural, as élites nunca compreenderam que a televisão corresponde em parte a esse ideal democrático, por dar ao maior número acesso à informação, à cultura e à diversão. (...) a televisão meteu-lhes medo, pois nela viram sem fundamento, um elemento de ruptura com os modelos clássicos de hierarquia cultural e uma ameaça ao seu estatuto de élite” Dominique Wolton (1999) “A televisão não é boa nem má, depende do uso que se faça dela.” Marcelo Caetano 3 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? 4 de 21 http://vforvendetta.warnerbros.com/trailer.html TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? TV: «objectos de primeira necessidade» 5 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? TV: meio de comunicação de massas Balanço da presença massificante da televisão de um ponto de vista sociológico e cultural: – Mutação no plano da mentalidade e dos comportamentos – “Miscigenação” ou mesmo aculturação a novos padrões de vida – Mutações sociais e políticas – Emancipação da opinião pública – Espectacularização do real – Aculturação por “empréstimo” – Abuso de violência – Desautorização e desafio de valores tradicionais – ... 6 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? TV: “cool media” A televisão ficará para sempre ligada a grandes mutações sociais e políticas: • O fim do apartheid na África do Sul • A conquista pela população negra norte-americana do direito ao voto, nos EUA • A queda do muro de Berlim • O fim da Guerra do Vietnam “We can program twenty hours of TV in South Africa next week to cool down the tribal temperature raised by radio last week. Whole cultures could now be programmed to keep their emotional climate stable...” Margaret Mead 7 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? O íntimo e os “reality shows” Existem três modos de encarar este tipo de programas: – Denegrir e criticar, ser totalmente contra – Ponto de vista do telespectador passivo, que contribui para as audiências – Constatação da existência do problema e necessidade de reflexão 8 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? As novas tecnologias da informação e comunicação “Poder-se-á crer que as tecnologias, a informática, as telecomunicações estão de facto a fazer uma nova televisão?” A ilustrar a capacidade crítica do público, D. Wolton apresentou um exemplo: “por ocasião do affaire CNN Tailwind, despoletado pela cadeia americana de uma falsa reportagem sobre a utilização de gás sarin na guerra do Vietname, foram imediatamente criados grupos de discussão na Internet para criticar os “meios de comunicação podres” (liberation, 5 de Julho de 1998)” 9 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? TV: e poder político ... Nixon teria dado tudo a perder nos famosos debates Nixon-Kennedy, de 1960. É a famosa questão de ser a forma a devorar o fundo: esquecemo-nos, em muitos casos, daquilo que foi dito em benefício da maneira como foi dito… (...) Por exemplo, a questão do enquadramento. Pode-se melhorar - ou destruir - a imagem de alguém que fala em televisão utilizando essencialmente meios ópticos. 10 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? TV: poder político (continuação) Para dar uma boa imagem é necessário filmar à altura dos olhos, sem movimento de câmara, em grande plano ou plano geral. Com base num estudo feito em 1976 sobre as campanhas de Helmut Schmidt e Helmut Kohl, na Alemanha, o facto de terem sido contabilizados 92% dos planos do candidato socialdemocrata «à altura dos olhos», foi suficiente para que os jornalistas tivessem sido acusados de favorecimento daquele candidato. 11 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? “Espaço público” e o Canal Parlamento ... canal verdadeiramente aberto e livre, onde o jornalista possa ser, de facto, uma voz pública em constante diálogo e debate com os representantes do povo. Um novo canal, para uma outra política, para um novo país. “Sem espectáculo não haveria espectadores. A solução agora como sempre, consiste em partir da necessidade de distracção e redireccioná-la para programas de qualidade...” Dominique Wolton 12 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? TV: estudos de recepção O consumidor/espectador de televisão não é meramente passivo. Um estudo sobre o impacto dos programas num público crítico implica: – Análise das práticas de ver televisão e da competência do telespectador em integrar uma estética da recepção – Ver como a recepção organiza o texto – Pensar a recepção como apropriação, ou seja, compreender os efeitos do ficcional no real de cada espectador. As actuais sondagens não se destinam a medir a experiência da audiência, mas apenas a contabilizar o número de telespectadores. As audiências não medem o que as pessoas retêm, medem apenas o que vêem. 13 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? TV: estudos de recepção (continuação) Um inquérito à população da Grande Lisboa no âmbito de um estudo do Instituto de Ciências Sociais, dirigido porJosé Machado Pais, concluiu as preferências dos espectadores se distribuiam em: • • • • Informação 74,8 % Telenovelas 41,5 % Filmes 38,9 % 85% ligava frequentemente o televisor sem saber o que ia ver 14 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? TV: estudos de recepção - qualitativos “o que se avalia quando se medem as audiências não é o que as pessoas querem, mas a reacção àquilo que lhes é dado” Manuel Maria Carrilho (Expresso 5/4/97) Mais do que saber quantos telespectadores viram um programa importará saber: • a razão por que o viram • a reacção ao que viram • a disponibilidade para o mundo de coisas que não viram. 15 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? TV: estudos de recepção - qualitativos Um investigador norte-americano D. Mindich, autor do livro Tuned out, ao fazer uma análise qualitativa (com uma série de entrevistas e estudos de caso) do consumo de notícias nos EUA chegou à conclusão, que os indivíduos, na casa dos 20 anos, estão a receber muito menos as notícias que os de 30 anos. (O autor refere também um estudo realizado na alemanha com conlusões semelhantes mas não aborda o resto da Europa. ) 16 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? “... more sports to everyone... Keep them busy and you will keep them happy! Am I right?” Capitão dos bombeiros em Fahrenheit 451 17 de 21 de François Truffaut TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? Qualidade de programação: • interesse do assunto • interpretação dos acontecimentos do mundo (se o programa permite compreender o mundo em que vivemos) • cultura viva (se permite actualizar conhecimentos) • cultura tradicional (emissão enriquecedora) • valor distrativo • acessibilidade (uma emissão acessível a todos) • originalidade do assunto • originalidade da forma • qualidade da realização 18 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? Papel dos canais públicos e dos canais privados • A programação dos canais públicos devem complementar a programação dos difusores privados numa perpectiva de aumentar a oferta e a diversidade • Fornecer um fórum de discussão de variados assuntos de acordo com vários pontos de vista • Difundir informações e comentários imparciais • Contribuir de forma activa para um melhor conhecimento e apreciação do património cultural 19 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? Resumidamente: • A comunicação entre as pessoas e os povos está na base das democracias actuais. Sem comunicação é impossível a criação de um espaço público e por consequência de opinião pública • Qualquer meio que facilite a comunicação potencia o desenvolvimento democrático • A simples existência dos dispositivos técnicos não é sinónimo de que sejam bem utilizados ou utilizados para o bem comum • A televisão continua sob o controlo de poucos, por lhe estarem associados custos elevados • Os estudos feitos sobre o panorama da recepção são principalmente quantitativos e analisam apenas metricamente as audiências • Existem poucos estudos realizados sobre o panorama da recepção do ponto de vista qualitativo. 20 de 21 TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade? Bibliografia: CÁDIMA, Francisco Rui; TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade?, in Desafios dos Novos Media, Ed. Notícias, Lisboa, 1999 McLUHAN, Marshall; Understanding Media, (orig.1964) MIT Press,2002 McLUHAN, Marshall; FIORE,Quentin; The medium is the massage, (orig, 1967) Ginko Press 2001 MINDICH, David; tuned out, Why Americans Under 40 Don't Follow the News Oxford University Press, 2005 SEYMOUR, Kirsty; Guinness book of the 20th century, Guinness World Records 2000 WOLTON, Dominique, E Depois da Internet? Par uma teoria crítica dos novos media, Algés, Difel, 2000 21 de 21