TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade?
TV:
saber democratizado
ou
divertimento sem qualidade?
Apresentação do texto no seminário:
A Migração do Audiovisual para o Digital
Apresentação por: António Maneira
Texto original do Professor: Francisco Rui Cádima
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TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade?
Hoje em dia, no mundo ocidental desenvolvido, existe
“uma taxa de penetração de televisores próxima dos
100 por cento”
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TV: e saber democratizado?
“Apesar de reivindicarem sempre mais democracia cultural, as élites
nunca compreenderam que a televisão corresponde em parte a esse
ideal democrático, por dar ao maior número acesso à informação, à
cultura e à diversão. (...) a televisão meteu-lhes medo, pois nela viram
sem fundamento, um elemento de ruptura com os modelos clássicos
de hierarquia cultural e uma ameaça ao seu estatuto de élite”
Dominique Wolton (1999)
“A televisão não é boa nem má, depende do uso que se faça dela.”
Marcelo Caetano
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http://vforvendetta.warnerbros.com/trailer.html
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TV: «objectos de primeira necessidade»
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TV: meio de comunicação de massas
Balanço da presença massificante da televisão de um ponto de vista
sociológico e cultural:
– Mutação no plano da mentalidade e dos comportamentos
– “Miscigenação” ou mesmo aculturação a novos padrões de vida
– Mutações sociais e políticas
– Emancipação da opinião pública
– Espectacularização do real
– Aculturação por “empréstimo”
– Abuso de violência
– Desautorização e desafio de valores tradicionais
– ...
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TV: “cool media”
A televisão ficará para sempre ligada a grandes mutações sociais e
políticas:
• O fim do apartheid na África do Sul
• A conquista pela população negra norte-americana do direito ao voto,
nos EUA
• A queda do muro de Berlim
• O fim da Guerra do Vietnam
“We can program twenty hours of TV in South Africa next week to
cool down the tribal temperature raised by radio last week.
Whole cultures could now be programmed to keep their
emotional climate stable...”
Margaret Mead
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O íntimo e os “reality shows”
Existem três modos de encarar este tipo de programas:
– Denegrir e criticar, ser totalmente contra
– Ponto de vista do telespectador passivo, que contribui para as audiências
– Constatação da existência do problema e necessidade de reflexão
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As novas tecnologias da informação e comunicação
“Poder-se-á crer que as tecnologias, a informática, as
telecomunicações estão de facto a fazer uma nova televisão?”
A ilustrar a capacidade crítica do público, D. Wolton apresentou um
exemplo:
“por ocasião do affaire CNN Tailwind, despoletado pela cadeia americana
de uma falsa reportagem sobre a utilização de gás sarin na guerra do
Vietname, foram imediatamente criados grupos de discussão na Internet
para criticar os “meios de comunicação podres”
(liberation, 5 de Julho de 1998)”
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TV: e poder político
... Nixon teria dado tudo a perder nos famosos debates
Nixon-Kennedy, de 1960. É a famosa questão de ser a forma a
devorar o fundo: esquecemo-nos, em muitos casos, daquilo que foi
dito em benefício da maneira como foi dito…
(...)
Por exemplo, a questão do enquadramento. Pode-se
melhorar - ou destruir - a imagem de alguém que fala em televisão
utilizando essencialmente meios ópticos.
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TV: poder político (continuação)
Para dar uma boa imagem é necessário filmar à altura dos
olhos, sem movimento de câmara, em grande plano ou plano
geral. Com base num estudo feito em 1976 sobre as campanhas
de Helmut Schmidt e Helmut Kohl, na Alemanha, o facto de terem
sido contabilizados 92% dos planos do candidato socialdemocrata «à altura dos olhos», foi suficiente para que os
jornalistas tivessem sido acusados de favorecimento daquele
candidato.
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“Espaço público” e o Canal Parlamento
... canal verdadeiramente aberto e livre, onde o jornalista possa ser, de
facto, uma voz pública em constante diálogo e debate com os
representantes do povo. Um novo canal, para uma outra política, para
um novo país.
“Sem espectáculo não haveria espectadores. A solução agora como
sempre, consiste em partir da necessidade de distracção e
redireccioná-la para programas de qualidade...”
Dominique Wolton
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TV: estudos de recepção
O consumidor/espectador de televisão não é meramente passivo. Um
estudo sobre o impacto dos programas num público crítico implica:
– Análise das práticas de ver televisão e da competência do telespectador
em integrar uma estética da recepção
– Ver como a recepção organiza o texto
– Pensar a recepção como apropriação, ou seja, compreender os efeitos do
ficcional no real de cada espectador.
As actuais sondagens não se destinam a medir a experiência da
audiência, mas apenas a contabilizar o número de telespectadores.
As audiências não medem o que as pessoas retêm, medem apenas o que
vêem.
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TV: estudos de recepção (continuação)
Um inquérito à população da Grande Lisboa no âmbito de um estudo do
Instituto de Ciências Sociais, dirigido porJosé Machado Pais, concluiu as
preferências dos espectadores se distribuiam em:
•
•
•
•
Informação 74,8 %
Telenovelas 41,5 %
Filmes 38,9 %
85% ligava frequentemente o televisor sem saber o que ia ver
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TV: estudos de recepção - qualitativos
“o que se avalia quando se medem as audiências não é o que as
pessoas querem, mas a reacção àquilo que lhes é dado”
Manuel Maria Carrilho (Expresso 5/4/97)
Mais do que saber quantos telespectadores viram um programa importará
saber:
• a razão por que o viram
• a reacção ao que viram
• a disponibilidade para o mundo de coisas que não viram.
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TV: estudos de recepção - qualitativos
Um investigador norte-americano D. Mindich, autor do livro Tuned out, ao
fazer uma análise qualitativa (com uma série de entrevistas e estudos de
caso) do consumo de notícias nos EUA chegou à conclusão, que os
indivíduos, na casa dos 20 anos, estão a receber muito menos as notícias
que os de 30 anos. (O autor refere também um estudo realizado na alemanha
com conlusões semelhantes mas não aborda o resto da Europa. )
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“... more sports to everyone...
Keep them busy and you will keep them happy!
Am I right?”
Capitão dos bombeiros
em Fahrenheit 451
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de François Truffaut
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Qualidade de programação:
• interesse do assunto
• interpretação dos acontecimentos do mundo (se o programa permite
compreender o mundo em que vivemos)
• cultura viva (se permite actualizar conhecimentos)
• cultura tradicional (emissão enriquecedora)
• valor distrativo
• acessibilidade (uma emissão acessível a todos)
• originalidade do assunto
• originalidade da forma
• qualidade da realização
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Papel dos canais públicos e dos canais privados
•
A programação dos canais públicos devem complementar a
programação dos difusores privados numa perpectiva de aumentar a
oferta e a diversidade
•
Fornecer um fórum de discussão de variados assuntos de acordo com
vários pontos de vista
•
Difundir informações e comentários imparciais
•
Contribuir de forma activa para um melhor conhecimento e apreciação
do património cultural
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Resumidamente:
• A comunicação entre as pessoas e os povos está na base das
democracias actuais. Sem comunicação é impossível a criação
de um espaço público e por consequência de opinião pública
• Qualquer meio que facilite a comunicação potencia o
desenvolvimento democrático
• A simples existência dos dispositivos técnicos não é sinónimo
de que sejam bem utilizados ou utilizados para o bem comum
• A televisão continua sob o controlo de poucos, por lhe estarem
associados custos elevados
• Os estudos feitos sobre o panorama da recepção são
principalmente quantitativos e analisam apenas metricamente
as audiências
• Existem poucos estudos realizados sobre o panorama da
recepção do ponto de vista qualitativo.
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Bibliografia:
CÁDIMA, Francisco Rui; TV: saber democratizado ou divertimento sem qualidade?, in Desafios
dos Novos Media, Ed. Notícias, Lisboa, 1999
McLUHAN, Marshall; Understanding Media, (orig.1964) MIT Press,2002
McLUHAN, Marshall; FIORE,Quentin; The medium is the massage, (orig, 1967) Ginko Press
2001
MINDICH, David; tuned out, Why Americans Under 40 Don't Follow the News
Oxford University Press, 2005
SEYMOUR, Kirsty; Guinness book of the 20th century, Guinness World Records 2000
WOLTON, Dominique, E Depois da Internet? Par uma teoria crítica dos novos media, Algés,
Difel, 2000
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