PONTO DE VISTA
NA PRODUÇÃO DE TEXTO
Ponto de vista
Ponto de vista constitui o ângulo a partir do
qual o autor observa, sente e analisa um
determinado problema. Assim como na
composição de uma história a escolha do foco
narrativo é decisiva para a organização do texto,
na dissertação o ponto de vista é um requisito
fundamental para a organização e seleção das
idéias.
Digamos que você fosse tratar do seguinte
assunto: a televisão. Você pode tratar desse
assunto a partir de vários pontos de vista:
Esses são alguns
dos muitos pontos
de vista possíveis a
partir dos quais se
pode desenvolver o
assunto a televisão.
Ao escrever uma
dissertação, o autor
deve selecionar um
ponto de vista para
tratar do assunto.
Veja isso no texto a
seguir.
A televisão, apesar de nos trazer uma imagem
concreta, não fornece uma reprodução fiel da realidade. Uma
reportagem de tevê, com transmissão direta, é o resultado de
vários pontos de vista: 1) do realizador, que controla e
seleciona as imagens num monitor; 2) do produtor, que
poderá efetuar cortes arbitrários; 3) do camera man, que
seleciona os ângulos de filmagem; finalmente de todos
aqueles capazes de intervir no processo de transmissão.
Por outro lado, alternando sempre os doses (apenas o
rosto de uma personagem no vídeo, por exemplo) com cenas
reduzidas (a vista geral de uma multidão), a televisão não dá
ao espectador a liberdade de escolher o essencial ou o
acidental, ou seja, aquilo que ele deseja ver em grandes ou
pequenos planos. Dessa forma, o veículo impõe ao receptor a
sua maneira especialíssima de ver o real.
Sodré, Muniz. A comunicação do grotesco.
Petrópolis, Vozes, 1977.
Nesse texto, o autor, para
tratar
da
televisão,
selecionou um ponto de
vista: a relação entre a TV
e a realidade.
Escolha do ponto de vista
Qualquer assunto pode ser analisado a
partir de diferentes pontos de vista. Vamos
supor que você queira escrever a respeito do
assunto violência. Existem diferentes pontos de
vista possíveis para tratar deste assunto. Veja a
seguir alguns deles.
Ao escrever um texto, o autor, depois de ter
determinado o assunto, escolhe, dentro desse assunto
um ponto de vista que pode ser mais geral ou mais
específico, de acordo com o objetivo do texto.
No texto a seguir, cujo assunto é violência, o autor
escolheu um ponto de vista bem específico: o êxodo
rural como uma das causas da violência nas grandes
cidades.
É importante observar que todo o texto está
relacionado somente a este ponto de vista específico,
que constitui o objetivo do texto.
Assunto: Violência.
Ponto de vista: O êxodo rural como uma das causas da
violência nas grandes cidades.
O êxodo do campo e o inchaço das cidades
Acredita-se que o inchaço das cidades,
conseqüência do acentuado êxodo rural das últimas
décadas, constitui um fator importante para a análise da
violência. Entre 1980 e 1985, a população brasileira
cresceu à taxa anual de quase 3%. O país deu um salto
de 70,9 milhões de pessoas em 1960 para 119 milhões
em 1980. A explosão populacional foi acompanhada pela
rápida urbanização. A população das cidades subiu de
27,9% do total de habitantes em 1960 para 50,6% em
1980. A alta taxa de nascimentos no campo - 6,4% contra
uma taxa urbana de 3,6% - contribuiu para o êxodo rural
de cerca de 1 milhão de pessoas por ano. Em 1985, as
previsões já indicavam que esse padrão migratório
poderia produzir 11 milhões de desempregados urbanos
até 1990.
Frente à realidade de salários extremamente baixos e
de condições de vida quase subumanas, alguns
trabalhadores rurais engajaram-se na luta do Movimento
dos Sem-Terra, pela posse da terra concentrada nos
latifúndios - cerca de 170 milhões de hectares que
permanecem inexplorados. No entanto, a maioria
abandonou a agricultura, trocando-a pela busca de
empregos urbanos, que depois constatava inexistirem.
Assim, diante da falta de uma política agrária que
permita a fixação do homem do campo em condições
dignas, as cidades acolhem levas de trabalhadores rurais,
muitas vezes atraídos pela imagem de uma sociedade
rica a que julgam poder ter acesso. Mas, chegando à
cidade, eles logo perdem a sua identidade. A família se
desfaz na vida das favelas ou cortiços. (Em 1993, a cidade
de São Paulo registrava cerca de 3 milhões de pessoas vi-
vendo de modo subumano, em favelas ou cortiços.) A
necessidade de subsistir separa marido, mulher e filhos. O
homem parte para o trabalho aleatório, da mão-de-obra
não-especializada ou do subemprego; as mulheres
buscam serviço nas casas de famílias ricas; e as crianças
vão para as ruas, para servir de pasto às quadrilhas de
ladrões, de traficantes e de aliciadores para a prostituição.
Bicudo, Hélio. Brasil cruel e sem maquiagem.
4. ed. . São Paulo. Moderna, 1994.
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